ID: 58541218 26-03-2015 Tiragem: 34477 Pág: 15 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 15,87 x 30,05 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 FERNANDO VELUDO/NFACTOS Aplicação informática, lançada ontem no Porto, foi apadrinhada por Figo e pela infanta Elena Onze passos para salvar vidas no teclado de um smartphone Saúde Alexandra Campos Gratuita, a aplicação para smartphone é um guia com 11 passos básicos que ensina a fazer massagem cardíaca e a usar um desfibrilhador Será que, se a aplicação CPR11 estivesse generalizada em Portugal, o atleta que morreu no fim-de-semana na meia-maratona de Lisboa teria conseguido sobreviver? A perturbante pergunta é feita pela ex-atleta olímpica Aurora Cunha, depois da apresentação, no Porto, de uma aplicação para smartphones que explica como actuar em casos de paragem cardiorrespiratória durante a prática desportiva. O ex-jogador de futebol e candidato a presidente da FIFA Luís Figo e a infanta Elena de Espanha apadrinharam ontem o lançamento da “app”, na Faculdade de Medicina do Porto. Desenvolvida em Portugal e Espanha pela Fundação Mapfre em parceria com a FIFA, a aplicação é o primeiro passo da campanha Joga Seguro e pode ajudar a salvar vidas, acreditam os seus promotores. Enfático, Luís Figo defendeu mesmo que “a precaução da morte súbita está agora ao alcance de todos” e o secretário de Estado do Desporto e Juventude, Emídio Guerreiro, fez questão de acentuar: “São 11 passos que ficam à disposição no nosso telemóvel para podermos intervir numa situação de emergência.” Parece, de facto, simples e o download é gratuito: a CPR11 permite a qualquer pessoa aprender (através de mensagens simples e vídeos curtos e explicativos) o que fazer quando alguém é vítima de paragem cardíaca, desde manobras de reanimação ao uso de um desfibrilhador. O objectivo é justamente o de transformar esta “app” numa ferramenta de aprendizagem, graças aos vídeos que explicam, por exemplo, como colocar a pessoa em melhor posição (com a boca para cima), como fazer a massagem cardíaca correctamente e como e quando fazer a respiração boca a boca e como usar o desfibrilhador, equipamento que actualmente é obrigatório em todos os estádios e em vários recintos, como os centros comerciais. “Os primeiros dois a três minutos são fundamentais”, explicou Hélder Pereira, cirurgião ortopédico, que é director de pesquisa clínica num dos dois centros médicos que desenvolveram a aplicação, a Clínica do Dragão (Portugal) e a Ripoll y De Prado (Espanha). “Queremos ensinar a linguagem da medicina de emergência”, acrescentou. Quando a CPR11 foi apresentada em Espanha no final de 2014, o jornal El País antecipava que, se hoje todo o mundo do futebol sabe o que é CR7 (uma espécie de marca registada para designar um dos melhores jogado- res do mundo, Cristiano Ronaldo), em breve muitos estariam “familiarizados” com este acrónimo muito parecido. Nos primeiros dias em Espanha, a CPR11 (reanimação cardiorrespiratória, em inglês) chegou “a 25 milhões de pessoas através das redes sociais”, garantem agora os responsáveis por esta iniciativa. Acreditando que este é o caminho, sobretudo para chegar aos jovens, que são conquistados basicamente através da tecnologia, os promotores lembraram que casos como o do futebolista húngaro Miklós Fehér (que morreu em pleno jogo em 2004) foram na altura fundamentais para sensibilizar a sociedade para o problema da morte súbita que muitas vezes surge ligada à prática desportiva. O problema é que a maior parte ainda ignora o que fazer, perante uma situação deste tipo. A ideia é difundir a mensagem entre os mais de 300 milhões de futebolistas federados, mas os promotores querem chegar “ao maior número de pessoas possível”. Vale a pena o investimento, acreditam. “Na maioria dos casos de paragem cardíaca súbita, em cerca de 80% a situação é perfeitamente reversível”, explicou o cardiologista e professor da Faculdade de Medicina Ovídeo Costa, sublinhando que a morte súbita cardíaca é a principal causa médica de morte em atletas. Na última década, de acordo com um levantamento da FIFA, só no mundo do futebol ocorreu praticamente um caso por mês.