A - 30 CMYK 30 • Brasília, quarta-feira, 23 de agosto de 2006 • CORREIO BRAZILIENSE CIDADES Amigos de sangue Pacientes, cães de grande porte fazem doações para salvar cachorros doentes ou machucados Monique Renne/Especial para o CB - 17/8/06 MANUAL DO DOADOR ✔ O cachorro deve ter porte grande, com peso acima de 40kg. São raças como pastor alemão, são bernardo, doberman, dogue alemão, labrador. ✔ O animal precisa ter mais de 2 anos de vida. ✔ Como o cachorro não é anestesiado antes do procedimento, ele precisa ser dócil. Não é recomendado coletar sangue de animais ferozes. ✔ Antes de doar, é preciso submeter o cão a um exame de sangue, para checar se ele tem alguma doença. PARA FACILITAR AS COLETAS DE SANGUE A CADA TRÊS MESES, EIKE, UM DOGUE ALEMÃO, MORA NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: ALIMENTAÇÃO REFORÇADA PARA CUMPRIR A TAREFA CAROLINA CARABALLO DA EQUIPE DO CORREIO C A AMERICAN FOX HOUND PRECISOU DE SANGUE: CADELA SOFRE DE DOENÇA TRANSMITIDA PELO CARRAPATO Cuidados nhum dos dois pode doar sangue — geralmente porque já passaram por alguma coleta há pouco tempo —, o veterinário apela para um dos cinco Doar sangue não é tarefa para qualquer cachorro. Apenas os maiores de 2 anos e de grande porte podem se habilitar. O mastiff inglês Braham preen- A - 30 om apenas três anos de vida, Eike tem profissão. Ele é doador de sangue, carreira que merece dedicação exclusiva do dogue alemão. A cada três meses, ele passa por uma coleta. Para ficar mais perto dos cães que ajuda a salvar, o cachorro mora em um hospital veterinário. E recebe alimentação reforçada para repor proteínas e sais minerais perdidos. De resto, a vida de Eike é igual à de qualquer outro jovem de sua raça — ele gosta de brincar, adora um cafuné e é muito amigável. Ter doadores de sangue fixos é prática cada vez mais adotada pelas clínicas veterinárias. Isso porque o tabu que cerca a doação feita por seres humanos se repete quando o protagonista é um cachorro. De acordo com o veterinário Pérsio Cláudio Montebello, os donos acham que o animal pode pegar alguma doença ou até mesmo morrer. “Há uma enorme falta de informação”, lamenta. “É difícil conseguir alguém que deixe seu cão doar sangue.” Para evitar perda de vidas entre os pacientes que precisam de transfusão, Pérsio prefere criar dois cachorros no hospital só para o serviço — Eike e Max, um golden retriever. Quando ne- cachorros que cria em casa. “Quando chega ao ponto de o animal precisar de sangue, a transfusão deve ser feita com urgência. Não dá para perder tempo”, argumenta Pérsio. É o caso de Campeira, uma american fox hound de 8 anos que viajou de Cristalina, em Goiás, para Brasília às pressas, só para receber sangue. Ela sofre de uma hemoparasitose, doença que ataca o sangue e é transmitida pelo carrapato. “A transfusão de sangue também é prática comum em cirurgias de trauma”, informa o veterinário. “Por mês, no entanto, apenas dois ou três cachorros que passam por aqui precisam receber sangue. Essa demanda pequena nos impede de ter um banco de sangue, porque há muita perda de material por falta de uso.” che os dois pré-requisitos básicos de um doador. Ele tem 4 anos e pesa 95kg. Sozinho, consegue encher uma bolsa de meio litro de sangue a cada três meses. “Fazemos de cinco a 10 transfusões de sangue por mês. É uma prática mais comum do que as pessoas imaginam”, observa Carlos Henrique. “Montar um banco de sangue é realmente complicado. Mas temos que manter um animal de grande porte morando no hospital para atender os casos urgentes.” A coleta é feita sem anestesia — o animal precisa ser dócil e a clínica bem equipada, com pelo menos três profissionais participando do processo. O sangue é retirado de uma veia de maior calibre, normalmente a jugular, localizada no pescoço do animal. “O fluxo sangüíneo precisa ser bem intenso para evitar que o sangue coagule”, explica Carlos Henrique. Os cachorros têm mais de 40 tipos sangüíneos diferentes. No entanto, a chance de haver uma resposta anafilática — ou seja, a não aceitação do sangue doado — é mínima. “Há poucos estudos sobre o assunto e não sabemos a porcentagem de rejeição em transfusões”, conta o veterinário. “Mas, como precaução, a transfusão deve ser feita de maneira lenta. Dessa forma, dá tempo de reverter qualquer rejeição que possa acontecer.” ✔ O dono do animal deve verificar se a clínica veterinária usa materiais descartáveis na coleta do sangue, para evitar transmissão de doenças. ✔ Além do veterinário, a clínica precisa oferecer outros dois profissionais para acompanhar o procedimento. É preciso garantir que o animal fique imóvel para evitar que se machuque com a agulha. ✔ Entre uma coleta e outra, é preciso fazer um intervalo de 60 a 90 dias. É o tempo necessário para que o organismo do cão reponha o sangue retirado. ✔ Para ajudar a repor as proteínas e sais minerais perdidas na coleta de sangue, o dono pode alimentar o cachorro com ração específica para filhotes durante cerca de 30 dias. CMYK