Assentos infantis voltados para traseira de automóvel são recomendados para crianças com menos de 4 anos de idade Dr. Michael J. Monteiro, Dra. Elizabeth A. Watson O problema clínico Este artigo explora a razão pela qual é mais seguro que crianças pequenas viagem em um assento infantil voltado para trás até que elas completem 4 anos de idade. Em muitos países, é imposto por lei que crianças abaixo de uma determinada altura ou idade (1 m 35 cm ou 12 anos, no Reino Unido) utilizem retenções infantis apropriadas para seu peso, enquanto viajam em um carro. Isto reduz significativamente a morbimortalidade. [1] Assentos infantis europeus para carro são classificados como grupo 0+ (desde o nascimento até 13 kg, sendo todos virados para trás) e grupo 1 (9 a 18 kg, frequentemente voltados para frente, mas também podem ser para a traseira). Actualmente, muitas crianças são trocadas de um assento voltado para trás, para um virado para frente, ao atingir 9 kg (8 meses de idade para um menino no percentil 50). [2,3]. No entanto, é crescente o número de provas de que é mais seguro que crianças pequenas viajem em assentos voltados para a traseira do carro até os 4 anos de idade.[2-8] As provas para a mudança O tamanho relativamente grande da cabeça e as diferenças na anatomia da coluna cervical, em crianças pequenas, [5] podem levar a uma excessiva distensão ou, até, transecção da medula espinhal se a criança sofrer um acidente frontal, caso esteja em um assento virado para frente. [4-6] Quanto mais jovem for a criança, menor é a força de colisão necessária para causar trauma espinhal. [4] Nos assentos infantis voltados para a traseira do carro, a cabeça, o pescoço e a medula espinhal ficam completamente alinhados e o choque se distribui por todas essas partes do corpo de maneira homogénea. [3,6-8] Além disso, os assentos traseiros dos carros são locais mais seguros para as crianças do que o banco da frente. [9] Entretanto, a maior parte dos assentos infantis virados para trás pode ser colocada no banco da frente do carro, caso não haja airbag activo. Um estudo retrospectivo envolvendo 870 crianças com menos de dois anos de idade analisou a protecção oferecida por assentos voltados para a traseira do carro, comparada às retenções dos assentos infantis virados para frente. [3] A conclusão foi que os primeiros são mais eficazes na protecção de crianças até os 23 meses de idade para todos os tipos de colisões (odds ratio 1,76, intervalo de confiança de 95% 1,40 a 2,20). Questionários e observações da vida real têm demonstrado que 70 a 75% das crianças suecas com menos de três anos de idade viajam em assentos voltados para a traseira do carro. [10] Dados suecos apoiam o emprego deste tipo de assento infantil para automóveis. [2,7] De 1999 até 2006, quatro crianças de até 4 anos de idade, retidas neste tipo de assento, faleceram. Os óbitos foram decorrentes de incêndios, afogamentos ou de colisões extremas, não estando relacionados com o tipo de assento infantil. [2] Durante o mesmo período, seis crianças com menos de 4 anos de idade, em assentos infantis voltados para a dianteira dos carros, faleceram. Três desses óbitos seriam potencialmente evitáveis caso as crianças estivessem em assentos virados para trás. [2] Não há comparações directas entre os dois tipos de assento, uma vez que os voltados para frente não são utilizados na Suécia. Análises retrospectivas de de todos os acidentes graves reportados à seguradora Volvo, de 1976 a 1996, incluíam 421 crianças em assentos voltados para trás e 950 crianças, nos virados para frente. O efeito redutor de traumas dos referidos assentos foi de 96% e de 77%, respectivamente. [7] Estes dados da vida real são corroborados por testes de acidentes e simulações numéricas, que apoiam o emprego dos assentos voltados para trás até os 4 anos de idade. Um estudo realizou 31 testes de acidentes frontais com manequins de crianças com 12 meses, 18 meses e três anos de idade, retidos nos assentos americanos e europeus voltados para trás e para frente. [8] Todos os do primeiro tipo resultaram em gravidade significativamente menor de trauma de pescoço e tórax, em comparação com os voltados para frente; e os assentos europeus virados para a traseira do carro apresentaram menor risco de lesão. [8] Outro estudo conduziu simulações numéricas comparando um manequim de criança de três anos de idade retido em ambos os tipos de assentos. [11] Este descobriu que as forças na parte superior do pescoço e os critérios de trauma cervical poderiam ser bastante reduzidos pelo emprego de um assento voltado para trás. A conclusão encorajou fabricantes a fazerem com que estes tipos de assentos sejam adequados para crianças até 4 anos de idade. Barreiras para a mudança Muitos pais e profissionais de saúde podem não estar cientes de que é mais seguro manter crianças nos assentos virados para a traseira do carro pelo maior tempo possível ou de que existe este tipo de cadeira também para pré-escolares. Alguns pais podem considerar a transição do assento voltado para trás ao virado para frente como um progresso. Em muitos países europeus é mais difícil, e pode ser muito mais dispendioso, obter assentos do grupo 1 voltados para a traseira do carro do que os do mesmo grupo, mas virados para frente. Na América do Norte, não há o tipo de assento em questão que seja adequado para crianças acima de 15,9 kg. Preocupações que os pais podem ter quanto ao uso dos assentos virados para trás em crianças maiores incluem as náuseas relacionadas com o movimento e o conforto e segurança das pernas da criança. No entanto, a perna está entre as regiões do corpo mais frequentemente lesadas nas crianças sentadas em cadeiras viradas para frente. [6] Assentos infantis do grupo 1, voltados para a traseira do carro, possuem modificações para fornecer espaço para as pernas. Não há evidências publicadas comparando traumas de membros inferiores ou náuseas entre estes dois tipos de assentos. Como mudaríamos a nossa prática? Profissionais de saúde devem advertir quanto à maior segurança de assentos virados para trás do que a dos voltados para frente, para crianças até os 4 anos de idade. [2,3,6-8,10,11] Sempre recomendar que os pais e responsáveis sejam ensinados a instalar qualquer assento infantil para automóveis em seu próprio carro por um funcionário treinado do local onde a cadeira foi comprada ou por um agente de segurança rodoviária. A consulta pediátrica de revisão com seis a oito semanas de idade e consultas médicas são as oportunidades ideais para este aconselhamento. Se os pais não possuem os assentos do grupo 1 voltados para a traseira do carro, eles deveriam ser aconselhados a manter as crianças nas do grupo 0+ até os limites máximos de peso e altura para a cadeira. A American Academy of Pediatrics recomenda que “para a protecção ideal, se o assento de segurança do carro acomodar crianças viradas para trás até limites maiores de peso, a criança deve permanecer nesta posição até atingir este limite, desde que o topo de sua cabeça esteja abaixo do topo da traseira do assento.” [12] Fabricantes e revendedores precisam aumentar a disponibilidade de assentos virados para trás para crianças acima de 9 kg. A indicação actual para variação de peso utilizada para assentos infantis europeus para automóveis pode sugerir que, no caso de crianças com mais de 9 kg, assentos virados para frente são tão seguros quanto os voltados para trás. Os fabricantes poderiam cooperar com as agências governamentais europeias para aprimorar esta indicação. Elizabeth A. Watson, médica generalista1, Michael J. Monteiro, médico especialista2 1Sunny Meed Surgery, Woking GU22 7EY, 2Departamento de Cirurgia Oral e Maxilofacial, Royal Surrey County Hospital, Guildford GU2 7XX