UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIADE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIADE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE O USO DO FUTEBOL PARA CRIANÇAS COMO MEIO EDUCACIONAL EM COMUNIDADES DESPROVIDAS FINANCEIRAMENTE POR: CLAUDIO BARBERAM DE MOURA ORIENTADOR: PROFESSOR MARCO ANTÔNIO CHAVES CO-ORIENTAÇÃO: PROFESSORA CRISTIE NOVAES CAMPELO Rio de Janeiro, 19, junho de 2001 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE O USO DO FUTEBOL PARA CRIANÇAS COMO MEIO EDUCACIONAL EM COMUNIDADES DESPROVIDAS FINANCEIRAMENTE POR: CLAUDIO BARBERAM DE MOURA Trabalho Monográfico apresentado como requisito para obtenção do Grau de Especialista em Psicomotricidade. Rio de Janeiro, 19, junho de 2001 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO Capitulo Página I. O PROBLEMA.......................................................................................................06 • • • • Definição do Problema Justificativa Os objetivos desta pesquisa Definição de Termos II. REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................13 • • • • • • • • • • • Realidade da criança pobre Agressão no meio social Desenvolvimento Moral Desenvolvimento da Socialização Origem da Socialização "Eu" e as Relações Sociais Estruturação do "Eu” Características Sociais das Crianças por Faixa Etária Implicação da Prática da Atividade Física-Esportiva A Socialização Através do Jogo "Escolinha" de Futebol Jogo "Lúdico" III. METODOLOGIA...........................................................................................37 PLANO PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTOE INTEGRAÇÃOSOCIAL PARA CRIANÇAS CARENTES ATRAVÉS DO JOGO DE FUTEBOL • • • • • • • Introdução Objetivo Geral Objetivos Específicos Metodologia Metodologia Funcional Integrativa Metodologia e sua aplicação Avaliação do Plano IV. CONCLUSÕES.....................................................................................................43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. ............................45 LISTA DETABELAS..................................................................................................47 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar, a Deus. Num segundo momento a todos que participaram no incentivo da construção deste trabalho, como a minha namorada Julia, aos meus pais e, em especial meus orientadores Marco Antônio Chaves e a Prof. Cristie de Moraes Campelo como minha co-orientadora, que manteve contato comigo, me dando auxilio e mostrando-se sempre preparada e bem disposta à colaborar. Quero deixar a todos o meu muito obrigado. RESUMO O presente estudo objetiva elaborar uma Proposta de Atividade na Área de Educação Física, utilizando o futebol de campo como meio de desenvolvimento e integração social de crianças desfavorecidas economicamente. Assim sendo, busca-se, na primeira parte do trabalho, embasamento teórico por meio de uma revisão de literatura nas áreas de sociologia desportiva, psicologia e desenvolvimento social da criança, abordando: A Educação Física sob a ótica do desenvolvimento, a realidade da criança pobre e seu desenvolvimento social, a implicação da prática da atividade física esportiva no desenvolvimento social da criança e a socialização através do futebol. Optei pela aplicação da Metodologia Funcional Integrativa, cujo objetivo primordial situa-se no prazer através da atividade lúdica. Com base nos estudos teóricos desenvolvidos, elaborei um Plano Proposta de Atividades, tendo o futebol como fator de socialização, acompanhado de algumas sugestões, cuja finalidade é sensibilizar e resgatar o compromisso do poder público com objetivo da neutralizar problemas que norteiam nossa sociedade. CAPITULO I O PROBLEMA Introdução • Definição do problema No contexto social o esporte é considerado como um meio capaz de congregar e reunir multidões, razão pela qual os meios de comunicação têm divulgado constantemente como sendo o grande fenômeno social da década (LYRA FILHO, 1983). Muitas vezes, a Educação Física tem se utilizado do esporte de forma imediatista, com um discurso voltado para o desenvolvimento global do ser humano, quando, na verdade, o esporte vem sendo praticado objetivando a performance física e técnica. Sua prática é um fim; não um meio para a formação do homem. Ao profissional de Educação Física, cabe superar esta visão e incorporar novas posturas, com a finalidade de resgatar o esporte como meio educativo comprometido com os princípios de transformação social. Em vista deste fato, procurou-se elaborar um estudo, fundamentado em alguns autores, acerca do esporte (futebol) como meio educativo para crianças e a contribuição que esta atividade, quando bem canalizada, poderá trazer para o indivíduo em sua vida adulta e em seu relacionamento harmonioso com o meio ambiente. A escolha pelo futebol aconteceu, por ser um esporte bastante difundido no País, estar enraizado culturalmente e envolver simultaneamente um grande grupo, podendo ser praticado em qualquer área livre. Portanto, com base na importância sociocultural do esporte, que ultrapassa os objetivos meramente motores, tentaremos contribuir para melhorar a relação social de crianças do sexo masculino, pertencentes ao morro da Santa, Niterói (RJ). Nesta comunidade há um grande grupo de crianças que praticam o futebol em escolinhas e ruas orientadas com base em métodos tradicionais. Isso parece refletir em um comportamento "egoísta" na criança, pois esta não demonstra interesse em trabalhos coletivos e práticas esportivas que não estejam ligadas ao jogo e a competição. E ainda, quando trabalham em grupo, não há um relacionamento participativo com críticas e sugestões, respeito mútuo, colaboração, afetividade, etc. A escolinha de futebol existente no Morro da Santa, está ligada a associação de moradores do mesmo, tendo como orientadores pessoas desprovidas de uma formação acadêmica, o que lhes daria melhor capacitação para este trabalho. Enfim, há com o quê se preocupar, romper com o tradicional e proporcionar à estas crianças novas perspectivas, estimulando-as à uma postura crítica e um melhor relacionamento social. • Justificativa Nos primeiros anos de vida a criança se desenvolve dentro da sua própria comunidade. Observa-se, geralmente, que a criança carente de laços afetivos dos pais, busca essa relação na rua e em áreas livres, dentro da própria comunidade, normalmente num clima de violência, na maioria das vezes subnutrida, o que poderá em vários casos específicos trazer sérias conseqüências para o seu desenvolvimento. Assim como a família, a escola pode ser um grande agente educativo e social da criança dentro de sua realidade. No entanto, em nossa realidade nem todas as crianças têm acesso à sala de aula, e quando tem, as escolas possuem carência de espaço físico, de material e profissionais que não estão comprometidos com a transformação desta realidade. A Educação Física deve, através do envolvimento de seus profissionais, primar pelo trabalho que busca o desenvolvimento integral do homem, rompendo com os conteúdos que super valorizam os aspectos meramente motores; o "fazer por fazer". Conforme SEYBOLD ( 1980 ) e BEE ( 1984 ), através do desafio, em busca de atingir um objetivo proposto pela própria criança, com a finalidade de avaliar rendimento e "performance", o menos hábil vivência suas incapacidade de forma improdutiva, obstruindo o fator motivação, gerando uma autorealização negativa. A Educação Física formal, da maneira como se apresenta, pouco contribui para a ação Educativa-Social da criança, estimulando-a a competir, contrariando com isso, o espírito lúdico e a espontaneidade de movimentos, assim como o gosto pela prática da atividade física. Prosseguindo neste sentido, supõe-se que a busca do gesto mecânico e automático, o ensino diretivo, orientado unicamente para o rendimento físico, tolhe as potencialidades educativas da Educação Física. ( SEYBOLD, 1980; OLIVEIRA, 1985; DIECKERT et alii, 1986 ). Verifica-se no discurso que não há uma ênfase maior no desenvolvimento do ser humano, enfatiza-se o aperfeiçoamento dos gestos técnicos, nos exercícios estereotipados, caracterizando a alta diretividade dos seus orientadores. Isto evidencia a prática pedagógica de certos professores e dirigentes, orientada por uma concepção predominantemente comportamentalista em busca da vitória a qualquer custo. No esporte de rendimento é imprescindível o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das potencialidades em suas amplitudes máximas. Entretanto, é importante ressaltar que deve haver uma coerência na preparação de base, tratando-a em sua totalidade (Esporte-Educação) evitando-se assim uma especialização precoce que contraria o desenvolvimento gradativo e social do ser humano. LE BOUCH (1983, p.37) afirma que "a socialização não consiste em atribuir normas à realidade social que é, às vezes, exercida sob forma de alienação, modismo" A Socialização deve ser construída sobre bases racionais e de reflexão num processo evolutivo, porque seus fundamentos são afetivos e ligados à imagem do corpo do ser humano. Para GO TANI et alii (1988, p.129), aos 13 anos os meninos são menos sociáveis, cultivam uma ou duas amizades íntimas, dizem interessar-se pelas meninas, mas não andam com elas. As meninas são bem críticas com relação às amigas, considerando isto como um componente importante na amizade. É nesta faixa etária que menosprezam os meninos da mesma idade, achando-os imaturos, interessando-se pelos mais velhos. Partindo do entendimento acerca do comportamento relacionado com cada fase da criança, pretende-se com este estudo elaborar uma proposta para, através do futebol, promover uma melhor relação social entre crianças do sexo masculino pertencentes às escolas ligadas à comunidade do Morro da Santa, na Martins Torres, Niterói (RJ), buscando uma melhor formação destas como ser humano. • Os Objetivos desta pesquisa são apontados como: 1- Romper com modelos tradicionais de ensino-aprendizagem nas escolinhas de futebol que estejam ligadas ao Morro da Santa, no bairro Martins Torres, Niterói (RJ). 2- Elaborar uma proposta de Educação, através do futebol, visando incentivar a consciência crítica, a colaboração, o respeito mútuo e a participação de todos. 3- Oportunizar à criança novas formas de se trabalhar o esporte, sobretudo o futebol. • Definição de termos: APRENDIZAGEM SOCIAL: É o conhecer, o saber, o tornar-se consciente e, se necessário o modificar das regras sociais. Em oposição ao "Se comportar socialmente" não é postulada nenhuma norma social positiva, mas, trata-se de experimentá-la num contexto social e, então, decidir-se consciente e livremente, sobre sua adoção e/ ou modificação. A aprendizagem social somente ocorrerá quando os alunos participarem conscientes no processo de aprendizagem, ajudando-o com diferentes e variadas formas de comportamento e participação (Geist e Weicht, apud BRACHT, 1992, p.80). COMUNIDADE: A comunidade, no sentido mais amplo da palavra, é a convivência e a cooperação de pessoas em uma unidade, que as colocam em relação (relação social) à comunidade em um sentido mais restrito. PARTICIPAÇÃO: É fazer política e esta depende da percepção das relações sociais de poder percebidas. Participar é uma prática social na qual os interlocutores detêm conhecimentos que, apesar de diferentes, devem ser integrados. O conhecimento não pertence apenas a quem passou pelo processo de educação formal; ele é inerente a todo ser humano. Participar é repensar o seu saber em confronto com outros saberes. (TENÓRIO et alii, 1995, p.77). JOGO: É um fenômeno social que ultrapassa os limites fisiológicos, o jogo não discrimina, antes, envolve a todos, visando sobretudo o "Ser" (CANFIELD, 1985). LAZER: Vem do latim "1aziere" Ser você mesmo / desenvolver - se como é" ( COSTA, 1981) EDUCAÇÃO: É a ação consciente do indivíduo na sociedade. (TENÓRIO et alii, 1995, p. 81). SOCIALIZAÇÃO: Para GAELZER (1986), é "um processo através do qual o indivíduo obtém qualidades de um ser social. Consequentemente, o indivíduo estará apto para desempenha um papel aceitável na sua vida social e irá interagir com a sociedade de acordo com padrões culturais e códigos de comportamento". CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA Nesta última década, a Educação Física vem sofrendo um processo de crise em busca de uma concepção transformadora, com a finalidade de se afirmar no contexto acadêmico. Conforme MEDINA (1990, p.35), a Educação Física precisa entrar em crise. Precisa questionar criticamente seus valores. Precisa ser capaz de justificar-se a si mesma e procurar a sua identidade. É preciso que seus profissionais distinguam o educativo do alienante, o fundamental do supérfluo de suas tarefas. É preciso sobretudo, discordar mais, dentro, é claro, das regras construtivas do diálogo. É preciso um melhor entendimento das possibilidades da Educação Física, para estimular a "participação", em busca do desenvolvimento e do crescimento desta disciplina. LAPIERRE e AUCOUTURIER (1984) propõem por meio de concepção não humanista nas atividades físicas, que se apresente programas centrados nos interesses da criança oferecendo-lhe alternativas de auto-realização e bem-estar social. FERREIRA (1984) E OLIVEIRA (1985), concluíram que a Educação Física, como fator educativo, deveria preparar não só atletas, mas a criança para ser inserida na sociedade como cidadã segura e confiante no futuro, o que leva a transformação de toda uma sociedade. Os mesmos autores afirmam ainda, que se torna necessário no ensino da Educação Física, manter o equilíbrio entre os aspectos cognitivo, afetivo, social e psicomotor, pois eles são indissociáveis no desenvolvimento do homem. A isso, acrescenta-se os hábitos adquiridos de maneira informal, o trabalho em equipe, o espírito de cooperação, a disciplina, o cumprimento do dever, o apelo à imaginação, à razão e ao bom gosto. Segundo Harper et alii, apud BRACHT (1992, p.77), na escola não se adquire apenas conhecimento, mas aprende-se também uma série de valores de comportamento. Muitos destes valores são impostos por certas práticas acadêmicas que provocam o aprendizado "de cada um por si", da competição, promovendo desta forma o individualismo sem que as pessoas se apercebam disso, que é extremamente prejudicial ao desenvolvimento educativo da criança. Na escola estes valores podem ser determinados pelo esporte, como relata Parlebas, apud BRACHT (1992, p.78), quando afirma que através desta prática impõe-se todo o dispositivo oficial da instituição esportiva: federações, regulamentos, calendários de encontros, cerimônias, sanções, instâncias de autoridades, dirigentes, árbitros e capitães de equipes. Participar do torneio esportivo eqüivale a reconhecer, implicitamente, uma tal autoridade. Isso pode ser percebido nas aulas de Educação Física, quando o conteúdo trabalhado é o esporte. O professor privilegia alguns em detrimento de outros, de maneira direta ou indireta através da sua prática pedagógica. Exemplo claro desta divisão: quando um professor permite ou pede a dois alunos que "tirem" os times. Deve-se romper com esta prática e incentivar a participação de todos, pois só assim poderemos buscar o desenvolvimento do homem integral. • Realidade da Criança Desfavorecida Economicamente Em uma comunidade pobre observa-se que dentro do ambiente familiar, bem como em seu próprio grupo, a criança vive uma realidade, muitas vezes sofrida e desajustada. Normalmente é forçada a trabalhar desde cedo e, geralmente, em excesso, para auxiliar na manutenção do lar. Procedendo assim, nota-se que devido a permanência por longas horas ausentes dos pais e da família, a criança demonstra carência de afeto e proteção. Normalmente essa necessidade gera agressões físicas e verbais. Embora o pensamento anterior seja genérico, as famílias que vivem em ambientes carentes, conseguem manter uma vida familiar estável e organizada, almejando algo melhor para si e seus filhos. Segundo SAWREY e TELFORD (1979) "a falta de dinheiro torna-se desvantagem real quando ligada a atitudes de apatia, resignação e falta de esperança". MUSSEN et alii (1977) afirmam que a pobreza e a desvantagem sociocultural implicam, de maneira típica, em anomalias nos padrões de vida familiar, subnutrição ou má alimentação, falta de educação, incompetência vocacional, má assistência médica e altas taxas de uso de drogas, de delinqüência e criminalidade urbana. As conseqüências pessoais dessas condições são, freqüentemente, a apatia, a falta de esperança, a resignação ou o ressentimento e a revolta. Ainda para MUSSEN et alii (1977), a criança do nível sócio-econômico baixo tende a estar pouco preparada para entrar no ambiente escolar tradicional e progredir. Observa-se na Escola, a necessidade de adaptação escolar à realidade da criança, com programas inovativos e de enriquecimento verbal e cultural que consignam recuperá-la em seu próprio ambiente, ou seja, deve-se construir a partir da Escola a forma de se trabalhar os conteúdos, envolvendo nesta construção todos os membros que compõem esta entidade: alunos, professores, diretores, coordenadores e voluntários da comunidade. A comunidade da criança pobre busca alternativas para aspirar e desenvolver o conceito de vida estável e pessoa digna e formando sobre estes conceitos uma idéia geral. Eles se encerram em certas aplicações sobre a educação e a atuação dos professores, bem como sobre a prática e as políticas educativas. SAWREY e TELFORD (1979) preconizam a necessidade de despertar a consciência de que as escolas, as salas de aula e as relações entre aluno e professor devem estender-se em relação aos valores, aspirações e esperanças da comunidade, sub-culturas e contextos sociais amplos em que funcionam. Portanto, observa-se que a carência e a dependência econômicas, não podem ser tratadas puramente em termos de renda baixa e falta de bens materiais. Os educadores e o poder público precisam estar sensíveis à preparação das crianças para a vida e desta forma coibir os problemas que afligem nossa sociedade. • Agressão no meio social Segundo MUSSEN (1977), o registro das agressões humanas se estende por toda a história do homem, desde os primórdios da civilização até os vários conflitos e revoltas que marcaram o século vinte. Guerra, assassinatos, combates e destruição da propriedade: Estes fenômenos se estendem até os nossos dias com alto índice de delinqüentes, com agressões físicas e verbais. O mesmo autor atribui à agressão como sendo um componente da autodestruição do ser humano e seu ambiente, e um fato social fortemente influenciado pela ausência dos pais e fatores culturais, apresentando dois componentes fundamentais de agressão: agressão instrumental e impulso agressivo. Para o autor, "a agressão instrumental é um padrão de comportamento apreendido que pode ser modificado através de procedimentos adequados de reforço e extinção". De acordo com SOUZA (1975), "impulso agressivo é a conversão da tensão no plano orgânico; converte a tensão psicológica em sintomas fisiológicos, tais como: dores de cabeça, taquicardias, náuseas, etc." BANDURA, apud BEE (1984, p.291), definem a agressão como "o comportamento que resulta numa injúria pessoal ou na destruição da propriedade". Ressalta-se as conseqüências da ação, e não a intenção do autor. FESHBACH et alii, apud BEE p.291, ao contrário, assinalam a intenção de ferir uma pessoa. Deste ponto de vista, a agressão é geralmente definida como qualquer ação que pretende danificar alguém ou alguma coisa. • Desenvolvimento Moral BEE (1984, p.327) define desenvolvimento moral como "o conjunto de regras internalizadas e culturalmente definidas que governam o comportamento humano". O desenvolvimento moral envolve a criação de um conjunto de padrões morais servindo de guia para avaliar suas próprias ações, assim como o comportamento dos outros. Para melhor compreensão será assim subdividido: a. Comportamento Moral: É a "internalização dos padrões morais", levando a criança a agir de uma determinada maneira (PIAGET, 1977). Entretanto, Mowrer, apud BEE (1984), entende que o comportamento é definido a partir da "internalização das regras", usando a punição como forma de condicionamento. Cada vez que a criança tem um mau comportamento ela é punida imediatamente. Bandura e Walter, apud BEE (1984, p.329), entendem que a criança tanto aprende as regras básicas do bom ou mau comportamento pelo ensinamento dos pais, como pela observação do comportamento dos mesmos. Portanto, os pais são os principais modelos seguidos pelos filhos. Se os pais dizem uma coisa e fazem outra, apresentando um comportamento inconstante, os filhos também terão comportamento inconstante. Parke, apud BEE (1984, p.331), através de pesquisa, constatou que tanto a punição, quanto a observação do modelo e a correção dos pais no momento correto, exercem papel importante na definição do comportamento a adotar em termos de valores morais. Partindo destas afirmações, observa-se que a presença dos pais para o desenvolvimento moral é muito importante, não somente na participação com a comunicação verbal, mas também para espelhar na criança um ser humano com o comportamento equilibrado e ajustado socialmente. b. Sentimento Moral: Para BEE (1984, p.333), é a sensação que a criança experimenta após a execução de uma determinada ação de forma errônea, e sabendo que vai receber punição, isto a deixa insegura, com sentimento de culpa. c. Julgamento Moral: Na concepção de PIAGET (1977), julgamento moral situa-se como ato de: "definir o que é certo e o que é errado". Esta definição é dada com base no conjunto de valores, atitudes e normas que a criança internalizou. BEE (1984, p.337), citando Piaget e Kohebe, diz que existem teorias afirmativas de que a criança inicialmente desenvolve uma moralidade baseada nas experiências vividas no seu ambiente. Posteriormente, ela "desenvolve uma moralidade mais individual baseada nas normas e regras sociais", que podem mudar de acordo com o meio e a situação. Em comunidades carentes, as experiências vivificadas pelas crianças na primeira infância (até 3 anos), muitas vezes é bastante conturbada, trazendo como conseqüência, modelos que podem resultar em comportamento desajustado e desequilibrado no meio social. O desenvolvimento moral harmonioso da criança certamente contribuirá para uma boa formação do homem e um bom entendimento do jogo, pois suas características exigem lealdade, obediência e determinação, elevando ainda mais estas valências morais à aceitação nas atividades em equipe. • Desenvolvimento da Socialização Origem da Socialização: De acordo com MUSSEN et alii (1977), a criança ao nascer precisa ser alimentada, abrigada, protegida e cuidada. Esse cuidado alimentar, uma dependência dos outros, é que constitui o fenômeno da integração social. A criança não nasce socializada, ela, a princípio, nada sabe sobre direitos dos outros e seus deveres. Cabe, portanto, à sociedade organizar formas de preparar a criança socialmente contribuindo em sua formação como ser humano. • "Eu e as Relações Sociais" Desde o nascimento, embora a criança seja aparentemente passiva, laços afetivos são estabelecidos entre elas e as outras pessoas. GO TANI et alii (1988, p.124). Observa-se que esses laços afetivos vão evoluindo, na medida que a criança se desenvolve, através dos canais de comunicação. Com o decorrer do tempo nota-se que a criança se torna cada vez mais independente, tomando consciência de si mesma como ser humano distinto e em busca da auto afirmação. Para GO TANI et alii p.124, este é um processo em que a criança vai se "individualizando" e "socializando", constituindo uma esfera única de desenvolvimento. Com base nesta afirmativa propuseram a seguinte subdivisão: - Grupos Primários: correspondem ao "Ciclo Familiar Universal" ou às crianças da mesma idade. Observa-se neste grupo que a criança aprende um grande número de atitudes sobre o padrão cultural. É, portanto, no ambiente familiar que a criança tem oportunidade de formar sua personalidade, a ter respeito pelos mais velhos e a demonstrar lealdade com os menos capazes. - Grupos Secundários: caracterizam-se por relações mais casuais, clube social e grupo organizado de atividades recreativas e brincadeiras. Observa-se a relação pessoa a pessoa fora do contexto familiar. - Grupos Terciários: são os de caráter eventual, quando se encontram casualmente na rua, praças e parques. GO TANI et alii (1988, p.125), propõem ainda os seguintes aspectos relacionados com a interação: a. Interação Interna: os elementos do grupo interagem entre si, segundo a estrutura do próprio grupo. b. Interação Externa: os grupos podem responder como unidade e assim interagir com os outros. Esta interação poderá sofrer variações quanto à forma de se expressar, pode colaborar ou competir, bem como participar. c. Interação Grupal: os grupos interagem dentro de si com a divisão dos subgrupos, com outros grupos; caracteriza-se pelos mutirões, manifestações comunitárias e com, etc... • Estruturação do "Eu" Para GO TANI et alii (1988, p.123), o "Eu" é o meio de uma pessoa na sua totalidade, incluindo certos componentes de análise de vida interna, o que só a própria pessoa tem acesso e pode conhecer diretamente. O "Eu" é uma composição de pensamento e sentimentos, constituintes da a consciência que uma pessoa tem da sua existência individual, sua percepção do que possui, sua idéia de quem é com respeito às suas características, qualidades e propriedades. Observa-se o conjunto de relações de pensamentos e sentimentos, medo e fantasias, e a maneira de agir a respeito de seu próprio valor. Gesell, apud GO TANI et alii (1988, p.123/124), apresenta alguns aspectos dirigidos a crianças de diferentes idades, apresentando o seguinte depoimento: - Percebe-se que os limites do "Eu" de uma criança desenvolve-se com uma rigidez espantosa, o bebê chora, visualiza partes do seu corpo, têm percepções térmicas, agarra objetos, sorri para as pessoas, em particular para a sua mãe, ouve ruídos, e, em determinado momento, começará a chamar a si mesmo pelo seu nome, a usar pronomes eu, mim, vocês, nosso. Com todas essas e muitas outras experiências, vai constituindo um quebra cabeça interior de atitudes com características próprias. - O "Eu" se desenvolve, e a força desse desenvolver vai moldando organicamente o "Eu" de uma criança logo a partir da primeira infância. - Aos 5 anos a criança tem uma clara percepção de sua própria identidade. O seu "Eu" psicológico é a totalidade e essência dessa individualidade, que só a própria criança é capaz de experimentar, mas não é uma entidade fixa; é um produto de desenvolvimento, um misto de permanência e mudanças. Obs.: A criança conserva-se fiel à sua natureza intrínseca na qual a estrutura é o "Eu". Conforme GO TANI et alii (1988, p.124), do nascimento aos 5 anos, constitui-se uma etapa reveladora das características fundamentais do desenvolvimento do "Eu". - Aos 5 anos, a criança mostra-se independente, porém uma grande imitadora do comportamento adulto. - Aos 6 anos, faz de si o centro do universo, caracterizando uma busca de auto-afirmação. - Aos 7 anos, começa a perceber corporalmente o seu potencial, condição que faz com que se volte fortemente para o seu "Eu" psicológico. - Aos 8 anos, comunica-se com toda espontaneidade, buscando contatos com crianças da mesma idade e até com pessoas mais velhas. É a busca da interação grupal. - Aos 9 anos, volta-se novamente para uma atitude de interiorização significativa, pois a vontade que demonstra em aprender ou aperfeiçoar determinadas habilidades é sinal de que caminha para uma auto-dependência, autocrítica e auto-motivação. - Aos 12 anos, inicia uma reação de atitude madura e aceitável dentro do contexto social, mostrando, em determinados momentos, regressão e atitudes anteriores. Ainda conforme GO TANI et alii p.124, aos 13 anos, como aos 7, interioriza-se, porém, agora em função dos pensamentos, para voltar, aos 14 anos, comunicativa, numa atitude de "Eu" definido, esforçando-se para se ajustar. - Aos 15 anos, explora seu "Eu" em relação às suas idéias e às opiniões alheias, para, aos 16 anos, dar claros sinais de independência e autoconfiança (Gessell, 1978; Knobel e Aberastury, 1983; apud GO TANI p.123-124). Portanto, percebe-se a importância que deve ser dada a cada estágio da criança, para que se possa colaborar de forma positiva na formação da sua personalidade. Para PIAGET (1994, p.61), a personalidade começa no fim da primeira infância (8 a 12 anos) com a organização autônoma das regras, dos valores e a afirmação da vontade, com a regularização e a hierarquização moral das tendências. Ainda para o mesmo autor, a personalidade existe a partir do momento em que se forma um "programa de vida". Esta construção só deve ocorrer no nível do adolescente, pois supõe o pensamento formal e as construções reflexivas de cada indivíduo. • Características Sociais das Crianças por Faixa Etária No entender de BOHME (1985), as principais características de cada faixa etária assim se relacionam: 0 a 2 anos - durante este período a criança está diretamente ligada à família. Os estímulo que ela recebe vem dos pais e outras pessoas que encontram-se no lar. Observa-se que esta é a base para o comportamento social posterior. 2 a 5 anos - percebe-se que na interação social são egocêntricas, embora gostem de estar no meio de outras crianças. Evidenciam a comunicação verbal, passando de palavras a frases completas. Começam a interiorizar a ação, contar o que pensam e o que fazem, tendo o adulto como modelo. 6 a 8 anos - começam a se associar formando grupos de comunicação de amiguinhos entre meninos da mesma faixa etária, respeitando o direito do outro. Os jogos têm regras, começam a dissociar seu ponto de vista dos outros. Normalmente gostam de vestir-se como os companheiros. Começam a situar- se nos grupos dos quais participam. Preocupam-se com a realidade, gostam de jogos e brincadeiras. 9 a 11 anos - aumenta o gosto pela participação no grupo, colaborando realmente nas suas atividades, onde encontram a sua afirmação e segurança pessoal. Geralmente gostam de participar de jogos e competições livres ou organizadas. Discutem orientadamente, são capazes de andar sozinhos e começam a enfrentar os adultos. 12 a 14 anos - maior interesse por atividades sociais, maior participação no grupo, acatando as determinações do grupo (vestimenta, vocabulário e posturas). Identificam-se fortemente com as pessoas do mesmo sexo. Valorizando entre os meninos o líder do grupo, os chefes, os descuidados, o mais arrojado. Para PIAGET (1994, p.58), até os 12 anos, as operações da inteligência infantil são, unicamente concretas, isto é, só se referem à própria realidade e, em particular, aos objetos, suscetíveis de serem manipulados e submetidos a experiências efetivas. Após os 11 ou 12 anos, torna-se possível o pensamento formal, ou seja, as operações lógicas começam a ser transpostas do plano manipulação concreta para o das idéias, expressas em linguagem: a linguagem das palavras ou dos símbolos matemáticos etc. (PIAGET, 1994, p.59). Percebe-se que desde o início do desenvolvimento psicomotor inicia-se o processo de interação. É nesta relação e comunicação com outrem que o ser humano se realiza. Na visão de LE BOUCH (1983, p.39), a criança pode identificar uma imagem equilibrada e que lhe dá satisfação. Ela será um membro cooperador, ativo dentro do grupo. Nota-se que a maneira mais eficaz de buscar a participação da criança dentro do processo social é integrá-la no grupo e desenvolver suas aptidões individuais, estimulando a participação em uma atividade de cooperação dentro do jogo coletivo, desde que sejam respeitados sua faixa etária e o nível de desenvolvimento e, portanto, as características destas duas variáveis. • Implicação da prática da Atividade Físico Esportiva A socialização e o interesse pela atividade física pode iniciar-se no contexto familiar, entretanto, se o ambiente familiar gera conflitos, insegurança e punições, as crianças normalmente tornam-se desajustadas e, possivelmente, encontrarão dificuldades de interação a outros grupos. Logo, a família deve exercer uma participação efetiva de acompanhamento no desenvolvimento global da criança. Esta receberá influências de uma liderança positiva quando os pais são ajustados, equilibrados e demonstram interesse pelo esporte. Normalmente, os filhos são incentivados a participar de uma determinada atividade esportiva. Para MUSSEN (1977), num sentido muito geral, a criança vive em dois mundos sociais: o de seus pais e outros adultos e o de seus companheiros. No que se refere aos pais, a primeira competição se desenvolve pela busca da afeição paterna. Se houver duas ou mais crianças no lar será, quase sempre, inevitável a ocorrência de certa rivalidade a partir de um ou dois anos de idade. No entanto, observa-se a importância dos pais e dependência das crianças e a necessidade e aspirações no que esta busca do poder e da tentativa de superioridade representa: a falta de estrutura, mesmo porque a criança não tem ainda a capacidade de abstração e poderá ser canalizada para a auto-dependência, buscando a auto-realização. Quanto à ação da criança nas atividades físico-esportivas em grupo, desenvolve geralmente seu lado competitivo. São sempre atividades intensas e alegres, dando margem à participação ativa ou passiva. Logicamente, as atividades mais ativas sobressaem pela sua própria dinâmica de movimento. Sabe-se porém, que estas atividades são um fator motivante a mais, tornandose alvo das atenções. Isso pode ter uma influência negativa sobre àquelas crianças mais tímidas, retraídas ou introvertidas, por não estarem preparadas para o fracasso. Não sabendo superá-lo poderão até se desinteressar por completo das atividades esportivas. Entretanto, torna-se necessário, oportunizar a criança à participação, mas, respeitando o seu desenvolvimento fisiológico e sua capacidade de abstrair. Estimular a participação em atividades variadas, mas sempre com caráter lúdico, pois só assim a criança poderá encontrar maior satisfação individual e/ou coletiva. De acordo com Dietrich, apud BRACHT (1992, p.75), se for seguida a "literatura especializada até o fim dos anos 60, descobre-se uma relativa concordância nas declarações sobre as funções sócio-educativas do esporte em geral e dos jogos esportivos em especial", com a auto-afirmação e o reconhecimento das regras de competição. O respeito pelas regras constitui um sentimento de responsabilidade, sendo educativo no que se refere ao cavalheirismo e à sinceridade para trabalhar com o próximo. Entretanto, nos últimos anos, têm surgido críticas sobre o valor da função sócio-educativa do esporte. Cavalcanti, apud BRACHT (1983), argumenta que o esporte é um mundo inteiramente artificial, controlável, destinado a proteger a criança, desfavorável aos seus interesses, às vezes bloqueando os seus impulsos naturais e poderá desviá-la da realidade esportiva definida de motivações artificiais e de movimentos formais, no qual é extremamente valorizada a aceitação e o aprendizado das regras. Para Weigelt, apud BRACHT (1992, p.76), as condições ou necessidades do esporte de alto nível, ou seja, aquele que visa a competição, a performance e o melhor rendimento são semelhantes às condições de uma sociedade de estruturação autoritária. Na sociedade moderna, a valorização do "status quo" e a estratificação social são conseqüências da elitização da educação, saúde e infra-estrutura básicas de sobrevivência. No esporte, não poderia ser diferente e a elitização continua atuando nos vários setores esportivos. O maior número de programas de iniciação desportiva, é desenvolvido em clubes, atuando diretamente com classes mais favorecidas socialmente, na maioria dos casos reforçando cada vez mais a elitização. No entanto, os conteúdos esportivos devem evidenciar outros objetivos alcançáveis com esse processo de desenvolvimento. • A Socialização Através do Jogo Como se referiu anteriormente, socialização significa o processo de transmissão de comportamentos socialmente esperados. Mais especificamente, a socialização para o desempenho de determinado papel social envolve a aquisição de capacidades (habilidades) físicas e sociais, valores, conhecimentos, atitudes, normas e disposições que podem ser apreendidos dentro de um ou mais grupos sociais. Na visão de SEYBOLD (1980, p.14), a comunidade de jogo é uma comunidade "natural", isto é, nascida da atividade em si e não forçada, o jogo é o modelo e a meta de agrupamento. Dá a cada integrante, seu "espaço" para mover-se, a sua função e as regras do jogo determinam certos limites. Para OLIVEIRA (1985), o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Alcança e ultrapassa esses limites, caracteriza uma função social, isto é, encerra um determinado sentido para quem o pratica. Como se pode observar, existem pontos comuns entre os autores anteriormente citados representados pela caracterização da função socializante através do jogo. A socialização, portanto, simboliza a cooperação dentro de um grupo, que constitui a fase da participação, atingindo a solidariedade e respeito em uma atividade coletiva. Huizinga, apud OLIVEIRA (1985), interpreta o jogo "como um dos elementos fundamentais da cultura humana, definindo-o como toda ação livre que se desenvolve dentro de certos limites de tempo e espaço, não fazendo parte da vida ordinária e que, contendo algo de incerto, cria a ordem e estimula a socialização". Observa-se, como parte de uma cultura, que o meio natural e espontâneo pode contribuir na preparação da educação da criança e de maneira informal estimular a busca pela ascensão social. Portanto, o jogo é uma forma de se exercitar, talvez a única que abrange o ser humano na sua totalidade. Para LYRA FILHO (1973), as palavras gregas que exprimem os jogos não envolvem as competições e os concursos. Os gregos "tiveram razão ao estabelecerem entre a competição e o jogo uma diferença não apenas lingüística". O fato lúdico não prepondera na competição, mas no jogo, considerado simplesmente como uma distração, um brinquedo ou um divertimento. Dietrich, apud BRACHT (1992, p.81), caracteriza o aprendizado social como objetivo principal a ser buscado no jogo esportivo. O autor faz uma análise das interações nos jogos desportivos, utilizando a seguinte diferenciação de conceitos: "a) ação social que aparece com efeito racional e de ação respectiva ao trabalho; b) ação social como compromisso comunicativo e de ação à interação". A seguir será abordado dois itens, que classificam duas correntes distintas quanto ao desenvolvimento e às metodologias utilizadas no aprendizado do futebol, principalmente em equipes de iniciação: 1. Metodologia Funcional Integrativa (MFI); 2. Metodologia Tradicional (MT). Na Metodologia Funcional Integrativa (MFI), as aulas serão estruturadas com a participação ativa dos alunos não só na execução mas também nos aspectos de planejamento e decisões prévias sobre a aula. Durante a realização das atividades, será feito uma paralisação para discussões, reflexões e propostas para continuidade da aula Estas paralisações deverão ocorrer tantas vezes quantas forem necessárias no decorrer da aula. Toda atividade dada em aula será concluída com uma avaliação e o planejamento da aula seguinte. • Procedimentos do Professores: (...) a ação do professor deve buscar um clima de aceitação mútua entre ele e os alunos, um clima de liberdade responsável, e congruência, criando uma situação de confiança e otimismo. O professor deve, também, imprimir ampla flexibilidade ao desenvolvimento do conteúdo. (BRACHT 1992, p.88). Segundo o mesmo autor, a Metodologia Tradicional (MT) foi considerada como sendo a metodologia comumente utilizada nas aulas de futebol em escolinhas e Educação Física na Escola. A ação do professor se caracteriza pela diretividade e o objetivo principal é a busca da aprendizagem de destreza, ou seja, dos gestos técnicos. (BRACHT 1992, p. 92). Nota-se que o esporte que visa apenas o rendimento técnico, com o objetivo de participação em competições esportivas, normalmente adota a metodologia tradicional, visando resultado imediato, bem como a elitização através da técnica. • Escolinha de Futebol Esporte-Competição As "Escolinhas" de iniciação esportiva no Brasil tem se apresentado geralmente como cumprimento de etapas e de acordo com os interesses e aspirações dos políticos diretores, dos professores e dirigentes de clubes. Observa-se que. muitas vezes, isso faz com que o futebol, dentro da Escola, não encontre o seu espaço, pois não é valorizado como elemento educativo, talvez por estar sendo trabalhado em várias Escolas e clubes, visando os aspectos meramente motores, fazendo do indivíduo um simples objeto de estudo, o que aqui é entendido como metodologia tradicional. Geralmente, o objetivo das Escolinhas de futebol é a formação de atletas, objetivando resultados através de rendimento físico e técnico em busca de vitórias a qualquer custo. A criança para ingressar em uma escolinha de iniciação ao futebol, necessariamente tem que apresentar uma boa capacidade física, grandes qualidades motoras e enfrentar algumas barreiras, tais como: • Elitização: o esporte competição é elitizado em sua essência, valorizando assim o mais hábil, tornando-se uma especialização precoce. A criança, neste caso, somente é valorizada quando é capaz de produzir. • Competição: para ingressar em uma escolinha é uma verdadeira competição e normalmente, dentro do grupo, a tendência de uma rivalidade entre as crianças é muito grande, visto que as exigências de ser destaque dentro de contexto são motivações intrínsecas para busca da efetivação na equipe. • Rigidez: o esporte competição é dotado de autoritarismo e muitas vezes alienante dentro de uma ordem rígida, através de orientadores desqualificados, descomprometidos com o desenvolvimento integral da criança. • Violência: existe muita incoerência neste segmento, com a realização de competições visando apenas vitórias e troféus mediante regras superadas e não adaptadas ao nível das crianças. Desta forma, recorre-se à violência para neutralizar os desníveis técnicos a táticos, muitas vezes obedecendo as ordens dos próprios dirigentes e técnicos. Considerando, então, a afirmativa oriunda do congresso "A Crise no Futebol Brasileiro", (Brasília, 1988), que diz: "Há falta de consciência política, como uma manifestação de cidadania de todos os integrantes do Sistema Desportivo Nacional", tem-se como conseqüência: a) a manifestação dos grupos dominantes sobre os grupos dominados; b) alienação sociocultural: Dirigente, atletas, técnicos, árbitros; c) educação como referencial às ciências políticas. Baseados nas considerações anteriores no Plano-Proposta contido nesse estudo, pretendemos: Coibir a violência e estimular a participação maior das crianças e moradores da comunidade dentro do contexto educacional. Quanto à Mudanças de Ordem Técnica sugeres-se: • Construção das regras de acordo com a realidade da criança. • Aumentar significamente o número de substituições. Isso irá refletir positivamente em uma maior participação de crianças nos jogos, já que um time de futebol é composto por (11) onze jogadores apenas e várias escolinhas possuem um número bem superior de integrantes. • Melhor qualificação das arbitragens e cursos periódicos de orientação nas federações, para possíveis discussões acerca de adaptações feitas nas regras. • Número limitada de faltas por equipe e jogadores, resultando daí em substituições. • Atualização dos técnicos, bem como, técnicos qualificados trabalhando nas equipes de base (iniciação). • Tentativas de inovação: cobrança de laterais com o pé; para tentar com isso dar mais dinâmica ao jogo, tornando-o mais agradável. • Mudança com relação à organização das equipes e metodologia de trabalho aplicativa. Enfim, as mudanças devem romper com o tradicional, ou seja, não exigir da criança preferencialmente o rendimento e os resultados positivos, devemos lembrar que o erro faz parte do processo ensino-aprendizagem. O esporte deveria ser o mediador entre as lutas sociais, mas a metodologia tradicional aplicada ao futebol opõem-se a esse pressuposto. Fica restrita ao repassamento do aprendizado através dos gestos técnicos e das regras configuradas. Entretanto, não se pode apenas educar a criança para o futebol, porém, há uma necessidade de educar a criança através do futebol, utilizando-se de uma metodologia funcional integrativa, caracterizada pelo espírito lúdico do esporte, oportunizando a criança a se transformar em um ser crítico e ativo dentro da comunidade e torná-la um elemento condutor e participativo no crescimento e desenvolvimento social em seu meio. (BRACHT 1983). • "Escolinha" de Futebol como Jogo "Lúdico" A Escolinha de Futebol como jogo "Lúdico" tem por objetivos: • Oportunizar a criança construir (adaptar) as regras do jogo de futebol. • Desenvolver a auto-realização. • Incentivar e motivar as crianças visando a sua participação em atividades recreativas. • Massificar o futebol, oportunizando a participação de todos. Discutir as regras, para uma possível adaptação à realidade da criança e à sua capacidade de aprendizagem, estimulando o respeito à essas normas e a responsabilidade de segui-las esperando tornar o jogo de futebol, lúdico, e, um meio de educação e preparação para a vida, buscando coibir a violência no contexto social. É possível, através de um trabalho de conscientização, junto às crianças participantes do projeto, estimular a participação em decisões e lutas populares, noções da cidadania e uma melhor integração social. Portanto, com base no exposto procurou-se relatar a realidade de uma criança carente, definindo agressão e o comportamento dessa criança, enfatizando os aspectos do desenvolvimento moral e social e caracterizá-lo em suas diferentes faixas etárias. Foram discutidos seu desenvolvimento social, suas relações sociais e as aplicações da atividade físico-esportiva sob dois aspectos distintos, apontando a Metodologia Funcional Integrativa, como meio de promover uma melhor relação social das crianças. Esta revisão permitiu uma melhor compreensão e dimensão do problema através de um referencial teórico para que fosse possível elaborar uma proposta de educação através do jogo. CAPÍTULO III METODOLOGIA PLANO PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO E INTEGRAÇÃO SOCIAL PARA CRIANÇAS ATRAVÉS DO JOGO DE FUTEBOL DE CAMPO. • Introdução O despertar para este trabalho sobre o relacionamento social da criança, originou-se nas aulas de Educação Física na Escola de 1º e 2º Graus "Leopoldo Fróes", localizada no Bairro Largo da Batalha, Niterói, RJ, onde se encontra um grande número de crianças pobres, refletindo sensivelmente em agressões múltiplas, evidenciando um índice considerável de violência nesta comunidade. Freire e Medina, apud OLIVEIRA (1985), enfatizam o papel do educador com a função socializante em preparar as crianças como agentes transformadores, de um sistema superado e não passivos reprodutores e seguidores de um sistema alienante. Com base no exposto, pretende-se através da participação da comunidade, alunos (crianças) e profissionais da área de educação, desenvolver atividades lúdicas e educativas, utilizando o futebol de modo integrativo e assim estimular o interesse pelo coletivo, pelas decisões em conjunto, pelo respeito as opiniões e sugestões diversas. Pretendemos colaborar para uma transformação da atual realidade, que contraria tudo isso, alienando e tornando as crianças, cada vez mais, meros reprodutores e seguidores do atual sistema. • Objetivo Geral Apresentar aos líderes comunitários, associações de bairro, secretarias municipais e estaduais uma proposta de atividade na área de futebol, utilizando a metodologia funcional integrativa, como uma forma de melhorar o relacionamento entre crianças no meio social. • Objetivos Específicos • Proporcionar à criança meios para a sua auto-realização; • desenvolver o espírito cooperativista na criança; • incentivar e motivar as crianças pelas realizações e participação em atividades recreativas grupais; • buscar alternativas para o desenvolvimento social harmonioso; • proporcionar atividades comunitárias, por meio de palestras e filmes educativos; • integrar os diversos segmentos do bairro ao processo de convivência social de seus moradores. • Metodologia Primeiro momento: reunião com os líderes comunitários, Escola e Câmara Municipal, para expor o Plano-Proposta. Segundo momento: reunião com as crianças, a serem envolvidas nesta prática de ensino, para planejamento das aulas a serem dadas. Terceiro momento: aulas práticas com momentos de paralisação e discussão acerca das tarefas propostas. Quarto momento: aulas teóricas, vídeos e palestras, com reflexões, problematizações e sugestões. Quinto momento: avaliação, que será feita a cada aula com planejamento da aula seguinte, levando sempre em consideração as críticas e as sugestões dos alunos. Deixa-se claro que, periodicamente, serão feitas reuniões com a comunidade para avaliação do Plano Proposta sob o aspecto de sua execução prática/teórica. • Metodologia Funcional - Integrativa Esta metodologia está fundamentada basicamente: 1º) No conceito recreativo de educação do gesto desportivo, que propõe o ensino dos esportes, através de séries metodológicas de jogos (Alberti e Rothemberg, 1976: Dietrich et alii, 1978, apud BRACHT, 1983) 2º) Na análise de integração nos jogos realizada por Knut Dietrich, apud BRACHT (1983). Nesta análise, o autor ressalta que para ocorrer a aprendizagem social não pode simplesmente, ser imposto aos alunos um jogo ou um esporte previamente normatizado e regulamentado, mas que essa regulamentação deva ser o produto de interação, discussões, reflexões, com a criação de papéis representativos pelos próprios alunos; 3º) Na ação pouco manipulativa do professor, ou seja, em um nível mínimo de diretividade, portanto, dentro de uma concepção mais humanística de educação. • Metodologia e sua Aplicação a) Será feito um trabalho de conscientização da comunidade em geral, principalmente da clientela envolvida, buscando uma reflexão dos problemas que afligem a comunidade, estabelecendo, assim, uma escala de prioridades e uma possível relação destas, com o trabalho e o esporte. b) Promover festivais de futebol, com caráter recreativo e educativo nas Escolas e áreas livres da comunidade c) Valorizar a participação e a responsabilidade mútua bem como aqueles que contribuírem para o trabalho comunitário d) Oportunizar à criança o conhecimento das regras, da história do futebol, dos fundamentos técnicos e noções do jogo, estimulando sempre a consciência crítica. A seguir são apresentados alguns quadros relacionados com o Plano Proposta e estimativas de modo geral. ( ver, lista de tabelas) • Avaliação do Plano Será feita por meio de questionários aplicados junto aos moradores da comunidade, bem como nas Escolas, antes, durante e depois da realização do projeto, em relação aos fatores socialmente observáveis, listados a seguir: FATORES OBSERVÁVEIS: − Agressão física e verbal, no lar, no ambiente escolar e no jogo, bem como na comunidade; − Lealdade no jogo e na comunidade; − Interação no lar, na Escola, no jogo e na comunidade; − Amizade, respeito, cooperação e honestidade; − Liderança e companheirismo; − Participação em outras atividades extra-jogo; − Participação na elaboração das regras e sua aceitação com críticas e sugestões. Este indicadores servirão para nortear as perguntas e questões que comporão o questionário. CAPÍTULO IV CONCLUSÕES Com base na revisão de literatura pode-se concluir ser possível desenvolver um trabalho junto à comunidade, lar e escola, onde, por meio do jogo recreativo, certamente, poder-se-à contribuir de maneira significativa para uma melhor relação social entre as crianças e a comunidade. Conclui-se, ainda, que o futebol trabalhado junto à criança, com caráter recreativo, participativo e educativo, poderá proporcionar benefícios para um maior número de participantes e com isso possibilitar maior integração social. O esporte trabalhado apenas com o objetivo de formar atletas, exerce uma função segregadora, ou seja, seleciona alguns em detrimento dos demais. Isso, na maioria das vezes, causa um clima de competição entre os integrantes de uma Escola ou "Escolinha" de futebol, sustentando e aumentando cada vez mais um clima de desrespeito mútuo, falta de colaboração e trabalho em equipe. Será possível, com este estudo, vivificar estes problemas ligados à prática esportiva tradicional, em especial o futebol, e, intervir com sugestões e atividades, proporcionando a abertura de possibilidades de participação igual à todos. Enfim, não se pretende aqui tornar as crianças meras reprodutoras de conteúdos e formas de ensino, mas respeitar o seu desenvolvimento normal, segundo os autores citados neste estudo, proporcionando a elas vivificar, através do futebol experiências coletivas e individuais variadas, a fim de ampliar não só o conhecimento ligado ao esporte (jogo) mas à formação do homem e sua relação com o meio social em que vivem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEE. H. A (1984).Criança em Desenvolvimento. São Paulo: Haper & Row. BRACHT, Valter. (7 (2): 62-68, jan. 1986). A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo capitalista. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de Ciências do Esporte. DIECKERT, J. et alii. (1986). Elementos e princípios de Educação Física: Uma Antologia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico. FERREIRA, V. L. C. (1984).Prática da Educação Física no 1º Grau: modelo de reprodução ou perspectiva de transformação. São Paulo: Ibrasa. GO TANI ET ALII. (1988).A Educação Física uma Abordagem Desenvolvimentista. São Paulo: EDUSP. HUNT, J. M. (1975, p. 11-35). As aplicações das mudanças nas condições sobre o desenvolvimento intelectual infantil. In: WITTER, R. P.; PATTO, M. H. S. et alii. Privação Cultural e Desenvolvimento. São Paulo: Pioneira. LAPIERRE, A. & AUCOUTURIER, B. (1984). Fantasmas corporais e prática psicomotora. SãoPaulo: Manole. LE BOUCH, Jean. (1983). A Educação pelo Movimento: a Psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas. LYRA FILHO, João. (1973). Introdução à Sociologia dos Desportos. Rio de Janeiro: Record. MEDINA, João Paulo. (1983). Educação Física cuida do corpo e mente: bases para a renovação e transformação da Educação Física. Campinas: Papirus. MUSSEN, P. H. ET ALII (1977). Desenvolvimento e personalidade da criança. São Paulo: Harbra. OLIVEIRA, V. M (1985). Educação Física Humanista. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico. PIAGET (1977). Julgamento Moral. Rio de Janeiro: Forense. D'AMORIM, Maria Alice Magalhães & Silva, Paulo Sérgio Lima (1994). Seis Estudos de Psicologia.. Rio de Janeiro: Forense Universitária. RAPPAPORT, Clara Regina et alii. (1981). Psicologia do desenvolvimento: idade préescolar. São Paulo: EPU. SAWREY, J. M. & TELFORD, Charles W. (1979). Psicologia Educacional. Trad. De Antonio F. Carpinteiro. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos. SEYBOLD, A. (1980) Educação Física - Princípios Pedagógicos. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico. SOUZA, E. P. (1975). Desenvolvimento Organizacional: casos e instrumentos brasileiros. São Paulo: Edgar Blucher. TENÓRIO, F. G. ET ALII. (1995.) Elaboração de Projetos Comunitários Abordagem Prática. Cedac: Loyola. VAGO, T. M. & Souza, E. S. (1997). Trilhas & Partilhas. Belo Horizonte: GEC LISTA DE TABELAS ESTIMATIVAS QUADRO 1 - Recursos Humanos N.º de ordem 01 02 03 04 Discriminação Profissional de Educação Física Assistente Social Estagiários (acadêmicos de Ed. Física) Auxiliares de serviços gerais Quantidade 02 01 02 04 QUADRO 2 - Recursos Materiais Permanentes N.º de ordem Discriminação Quantidade 01 02 03 04 05 Balança Antropométrica Mesa Cadeira Máquina de Datilografia Bebedouro 01 01 02 01 01 QUADRO 3 - Recursos Materiais de Consumo N.º de ordem 01 02 03 04 05 06 07 08 09 Discriminação Bolas de borracha Bolas de Futebol "Mirim" Jogos de camisa Bombas de encher bola Apito Cordas Pranchetas Canetas Papéis Quantidade 20 10 02 02 04 10 04 04 2 resmas QUADRO 4 - Instalações Necessárias N.º de ordem 01 02 03 Discriminação Campo de Futebol ou "Área Livre" Quadra Sala ou área coberta Quantidade 01 01 01