Atrativos Turísticos e Patrimônio Cultural: O Olhar do Poder Público
e da Comunidade Local no Município de Jaguarão - RS1
Mariciana Zorzi – Aluna do Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural da
Universidade Federal de Pelotas.2
Fábio Vergara Cerqueira – Professor do Departamento de História e Antropologia da
Universidade Federal de Pelotas.3
Resumo
O presente trabalho busca apresentar a relação que se estabelece entre os principais
atrativos turísticos municipais e a percepção de patrimônio cultural por parte da
população local, do município de Jaguarão- RS. A análise sustenta-se nos dados gerados
a partir de três instrumentos de pesquisa, a saber: questionários, desenhos e entrevistas.
Os questionários foram aplicados junto à população local do município, os mesmos
compondo o Banco Cultural do Programa Regional de Educação Patrimonial –
Memoriar. Os desenhos foram produzidos pelos educandos durante o terceiro encontro
do Programa Memoriar e a entrevista foi realizada com o Secretário de Cultura e
Turismo de Jaguarão. Através deste trabalho, foi possível averiguar a necessidade da
participação das comunidades durante o planejamento e a gestão do turismo.
Palavras-chave: Turismo; Patrimônio Cultural; Poder Público e Jaguarão/RS.
Introdução
A gestão do patrimônio cultural no Brasil e no mundo vem sendo tema de
debates, conferências e ainda objeto de pesquisas que permeiam diferentes campos de
pesquisa, tendo como objetos a preservação, a identificação e a valorização de bens
1
Trabalho apresentado ao GT “Turismo e cultura” do VI Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL –
Caxias do Sul, 9 e 10 de julho de 2010.
2
Bacharel em Turismo. Aluna do Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de
Pelotas/RS. Bolsista CAPES.e-mail: [email protected].
3
Doutor em Arqueologia. Professor do Departamento de História e Antropologia do Instituto de Ciências Humanas
da Universidade Federal de Pelotas/RS. e-mail:[email protected].
culturais e naturais que de alguma forma despertam o sentimento de pertencimento em
determinadas comunidades e grupos sociais.
O turismo, diante deste processo, possui elementos e impactos importantes para
serem debatidos, estudados e analisados, uma vez que age de forma ambivalente frente
ao patrimônio cultural presente nos destinos turísticos, independentemente do nível de
desenvolvimento dessa atividade.
A utilização de bens culturais e naturais como atrativos ou recursos turísticos é
uma prática corriqueira em cidades que possuem bens naturais e culturais passiveis de
serem visitados. A grande problemática gira em torno da escolha, que pressupõe uma
exclusão, do planejamento e gestão dessa escolha e ainda o envolvimento e a
participação ativa da comunidade local durante esse processo.
A proposta deste trabalho surge a partir da experiência de campo junto ao
Programa Regional de Educação Patrimonial – Memoriar, o qual resulta do convênio4
“Arqueologia e Educação Patrimonial na Região Sul do Rio Grande do Sul”, firmado
entre o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia do Instituto de
Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas (LEPAARQ/ICH/UFPEL) a
Votorantim Celulose e Papel (VCP)
A partir do contato com a realidade escolar, durante a realização dos encontros,
foi possível visualizar a relação entre população local, principalmente educandos e
educadores da rede pública municipal, com seu patrimônio cultural. Diante dos dados e
do entendimento teórico dos temas - patrimônio cultural e turismo - este trabalho busca
apresentar a relação que se estabelece entre os principais atrativos turísticos municipais
e a percepção de patrimônio cultural por parte da população local, no município de
Jaguarão, situado na fronteira com o Uruguai.
Patrimônio, turismo e planejamento
O abandono da conceituação elitista de patrimônio foi fundamental no processo
de reconhecimento da diversidade cultural, nele passou-se a incluir as noções de
paisagem, de conjuntos históricos, de sítios naturais e construídos, bem como os
conceitos de biodiversidades, de coleções, de práticas culturais tradicionais ou
4
O convênio foi firmado em 2005, em cumprimento a legislação relativa à obtenção da licença ambiental,
abrangendo as cidades de: Aceguá, Arroio Grande, Bagé, Candiota, Capão do Leão, Cerrito, Jaguarão, Herval, Hulha
Negra, Pedras Altas, Pedro Osório, Pinheiro Machado e Piratini, as quais fazem parte da área de plantio da VCP.
presentes, de conhecimento e de experimentação, relembrada e expressa no caminho do
desenvolvimento histórico.
Nesse sentido, o patrimônio cultural5 é concebido atualmente a partir de um
conceito amplo que engloba tanto o ambiente natural quanto o cultural, como um
artifício no sentido do fortalecimento de uma pertença a um espaço simbólico,
atribuindo uma transcendência a determinados símbolos culturais que atestam o caráter
singular de uma determinada comunidade (BOMFIM & ARGÔLO, 2008).
O patrimônio cultural se manifesta e é ativado em diferentes níveis da
sociedade e do território. Como por exemplo, no interior de um grupo religioso, étnico,
político, da família, numa comunidade, no município, numa região, no estado, no país e
no mundo. Nesse sentido quando se fala de patrimônio, é necessario situar a construção
simbólica dos grupos sociais em um determinado espaço. Para Meneses (2006) a cidade
é um artefato, produzido no interior das relações sociais, um campo de conflitos e de
forças, sendo que o artefato é o produto dessa força e ao mesmo tempo é seu vetor, o
que permite a sua reprodução.
Diante disso, se abordam aqui, três aspectos imprescindíveis que estão
estritamente relacionados à construção do patrimônio cultural como fato social: a noção
de valor, a noção de poder e pertencimento e a noção de preservação. Toda escolha
pressupõe uma exclusão, e a escolha do que é patrimônio para um indivíduo depende
necessariamente da noção de valor que esse atribui a um determinado bem.
“Diversidade implica identidades, no plural, fluidas e em mutação, pertencimentos
múltiplos, parciais e contraditórios, conflitos e interesses em confronto” (FUNARI &
CARVALHO, 2005, p. 37).
A seleção de determinados bens é justificavel na medida em que é necessário
entender a lógica social e a dinâmica do tempo e do espaço no processo histórico.
Contudo, não podemos preservar todo meio ambiente, natural e cultural ou, ainda,
impedir todas intervenções antrópicas modificativas, o que poderia, de certa forma,
barrar o desenvolvimento social e econômico (SOUZA FILHO, 1999).
Encontrar o equilíbrio durante o processo de reconhecimento, preservação e
manutenção de um determinado bem considerando as suas diferentes significações é
uma prática complexa, para Fonseca (2005), uma política de preservação vai muito além
de um conjunto de atividades visando à proteção material de bens culturais.
O conhecimento adquirido e a apropriação dos bens culturais por parte da
comunidade constituem fatores indispensáveis no processo de conservação integral ou
preservação sustentável do patrimônio. Nesse sentido, a educação patrimonial se
configura como um instrumento capaz de fortalecer os sentimentos de identidade e
pertencimento da população residente, e ainda, de estimular a luta pelos direitos, bem
como o próprio exercício da cidadania.
Assim como as recomendações internacionais, a legislação brasileira,
representada pela Portaria nº 230 do IPHAN, em seu artigo 6 inciso 7, insere a educação
patrimonial como etapa fundamental dos estudos da arqueologia preventiva, durante o
processo de obtenção da licença ambiental. Desta forma, a educação patrimonial deveria
ser conduzida de modo a contemplar a pesquisa, o registro, a exploração das
potencialidades dos bens culturais e naturais no campo da memória, das raízes culturais
e da valorização da diversidade.
As experiências que ocorrem durante a viagem também se colocam como
variadas e situacionais, duas pessoas podem interpretar e experimentar diferentemente
um mesmo objeto e essa é a essência do turismo, proporcionar múltiplos olhares.
O que queremos dizer por “experiências”? As experiências são processos
individuais e coletivos. São sempre processos sócio-históricos, dinâmicos e
complexos. As experiências não são simplesmente ações, fatos pontuais, mas
elas têm uma consistência de dinamismo e de complexidade. As experiências
estão sempre em movimento e em toda experiência intervêm muitos
elementos (...) (HOLLIDAY, 2006, p. 228).
A escolha de bens culturais para a construção da atratividade turística, de uma
região ou cidade, é um processo que envolve diferente atores e setores do sistema
turístico, mas principalmente está relacionado às políticas públicas municipais. Em
alguns casos, percebe-se que existe um descompasso entre a imagem turística de um
território, utilizada na sua promoção, e o que de fato compõe o conjunto de símbolos,
significados e costumes de uma determinada comunidade. De acordo com Vaquero
(2006), esse fato ocorre, pois os recursos turísticos estão relacionados à identidade
turística, sendo que essa nem sempre demonstra a identidade local.
Assim pensando, a atividade turística passa necessariamente pela questão da
cultura local e regional. Reforça a necessidade de compreender as suas peculiaridades,
admirar a complexidade e estimular a participação da comunidade. O morador não deve
5
De acordo com Souza Filho (1999, p.51): É nítida a tendência a mudar o adjetivo para cultural, em substituição a
histórico, artístico, paisagístico ou outros, já que a palavra abrange os demais com a vantagem de não limitar o bem a
estar na condição de turista na sua própria cidade, ele precisa fazer parte do sistema
turístico local.
É necessário, então, avaliar as possibilidades de adequação do patrimônio
cultural para novos usos e funções, bem como administrá-lo conforme as funções que
desempenha. A essência está, portanto, nas experiências e interpretações que o
patrimônio cultural enquanto atrativo turístico pode proporcionar aos diferentes
públicos.
Metodologia
Os dados6 apresentados nesse artigo integram o Banco Cultural do Programa
Memoriar realizado no município de Jaguarão. O Banco Cultural7 constitui-se não só de
uma fonte de pesquisa disponível para a comunidade acadêmica e para população local,
como também um instrumento importante para a realização dos cinco encontros8, pois a
pesquisa sobre o patrimônio cultural sustenta-se na interpretação de fontes diversas, de
natureza escrita, oral, visual e material.
Optou-se pela utilização do questionário como instrumento de pesquisa, pois o
objetivo da coleta de dados era abranger o maior número de pessoas possível, uma vez
que o patrimônio cultural compreende múltiplos e diferentes tipos de bens. Foram
aplicados
questionários
sobre
um
universo
da
população,
estimado
em
9
aproximadamente 0,6% do seu total . A escolha da amostragem por estratificação em
gênero, idade e escolaridade foi casual, com pessoas que freqüentavam diferentes
espaços, como praças (Figura 1), eventos municipais, escolas, estabelecimentos
comerciais, órgãos públicos e até mesmo residências.
A primeira etapa do questionário, que corresponde às perguntas fechadas de
múltima escolha, direcionou-se ao entendimento da concepção, da posse e da
sua relação com fatos históricos, com critérios estéticos, etc.
6
Cabe salientar que a sistematização e a análise dos dados ocorreram durante a realização desta pesquisa.
7
Cada cidade abrangida pelo Memoriar possui um banco de dados, denominado Banco Cultural, formado pelo
histórico do município, pelos dados gerados a partir dos questionários e da história oral, pelo registro fotográfico de
manifestações culturais, de prédios, locais de lazer, símbolos, paisagens, etc., e ainda pelas produções dos professores
e educandos desenvolvidas durante as atividades e dinâmicas dos encontros.
8
O Programa Memoriar é formado por cinco encontros. O primeiro e o segundo encontros são realizados com os
professores da rede municipal, o terceiro encontro é realizado com os educandos e professores das escolas tendo
como objetivo a sensibilização para a valorização e preservação do Patrimônio Cultural local, através da apresentação
do Teatro de Fantoche, da realização da Dinâmica do Objeto e do Desenho do Patrimônio. O quarto encontro tem
como tema a arqueologia, apresentada a partir de atividades lúdicas para os educandos com o objetivo de
contextualizar a história local e prática arqueológica. O quinto é uma avaliação dos encontros e das atividades
realizadas.
9
Segundo o último censo do IBGE (2007), o município de Jaguarão possui 27.944 hab.
salvaguarda do patrimônio cultural. A segunda etapa possibilitou respostas livres, uma
vez que as perguntas abertas solicitavam que a pessoa citasse três exemplos de
patrimônio no âmbito local e global, além de eleger um símbolo para sua cidade.
Este levantamento de dados, relativo à percepção da noção de patrimônio
cultural, foi complementado por outro instrumento de análise, os desenhos produzidos
pelos educandos (Figura 2) de duas escolas municipais da cidade de Jaguarão, durante a
realização do terceiro encontro do Programa Memoriar.
Os educandos recebiam uma folha cartolina, sendo orientados a desenhar, em
grupo ou individual, o que para eles significava patrimônio cultural. Durante a
realização do mesmo, a equipe questionava-os a respeito do que estavam desenhando,
como por exemplo: De quem é essa casa? Quem são essas pessoas? Por que você
desenhou uma ponte? O relato dos educandos nesse caso foi de extrema importância
para a análise, uma vez que não valem as coisas, valem as palavras ditas sobre as coisas.
Em alguns desenhos pode-se perceber mais de uma temática, isso porque os
educandos nem sempre desenhavam em conjunto, mesmo compartilhando a mesma
folha. Sendo assim, ora os desenhos mostraram-se como uma composição formada por
uma única temática, ora como uma exteriorização individual inserida em um desenho
em grupo, por isso não necessariamente o número de composições correspondem ao
número de elementos desenhos pelos educandos.
Em relação ao entendimento das políticas públicas de planejamento e gestão
dos bens culturais/naturais, dos atrativos turísticos e do levantamento desses, optou-se
pela realização de uma entrevista semi-estruturada com o Secretário de Cultura e
Turismo de Jaguarão.
Figura 1: Aplicação de questionários.
Fonte: Acervo Programa Memoriar.
Figura 2: Produção do desenho.
Fonte: Acervo Programa Memoriar.
O município de Jaguarão
O município de Jaguarão é conhecido por suas belas portas e pelos exemplares
da Arquitetura Eclética do centro da cidade, com frisos e marquises, no qual são
apresentadas características formais, linguagens, sistema e técnicas que são resquícios
de diferentes estilos arquitetônicos. (...) Um grande patrimônio de construção da
segunda metade do século XIX e início do século XX, com exemplares de várias
linguagens arquitetônicas. Um acervo que merece o cuidado da preservação como um
todo (OLIVEIRA & SEIBT, 2005, p. 13).
Dois fatores contribuem para o desenvolvimento do turismo no município: o
patrimônio arquitetônico preservado e diversificado e sua localização estratégica.
Atualmente, o fluxo turístico de Jaguarão está estritamente relacionado aos
Free shops da cidade uruguaia de Rio Branco, principalmente aos finais de semana e
feriados. Porém, a maioria dos turistas, mesmo passando por Jaguarão, não conhece os
seus principais atrativos, uma vez que seu destino principal é o turismo de compras na
cidade vizinha:
”(..) temos um turismo de compras aqui em Jaguarão, em Jaguarão não, Rio Branco. Na
verdade eu enxergo isso ai aqui como um todo. Jaguarão e Rio Branco não são coisas diferentes,
há um rio que nos une e uma ponte que nos separa, melhor, há um rio e uma ponte que nos une”
(SECRETÁRIO DE CULTURA E TURISMO, 2009).
Nesse sentido, duas problemáticas intrínsecas se colocam: a necessidade da
integração entre Jaguarão e Rio Branco, se tratando de vários aspectos, dentre eles o
desenvolvimento do turismo e a fixação do turista que passa por Jaguarão.
Os atrativos turísticos municipais apresentados aqui foram elencados a partir de
uma pesquisa no site do município10 e com base na entrevista realizada com o Secretário
de Cultura e Turismo Prof. Carlos José Azevedo Machado11.
Jaguarão possui dois roteiros turísticos oficiais até o momento. O primeiro
apresenta a história da cidade e seus principais pontos turísticos. O segundo, criado em
10
http://www.jaguarao.com.br/prefeitura/page11.
Possui licenciatura em Filosofia e especialização em Lógica e Filosofia da Ciência. Está no cargo desde janeiro de
2009.
11
2005, pelo Projeto Turismo na Costa Doce12 do SEBRAE/RS, tem como temática o
Ecletismo Arquitetônico no Sul e abrange 39 construções inventariadas do Centro
Histórico do município.
A percepção de patrimônio cultural a partir da população local
Os dados apresentados aqui resultam da análise dos desenhos produzidos no 3º
encontro do programa Memoriar, pelos educandos de duas escolas municipais13. Foram
analisados também os dados gerados a partir da sistematizados dos 175 questionários
aplicados junto à população local14, nas praças da cidade, nos órgão públicos, nas
escolas, no comércio e nas edições XIX e XX da Fenovinos15.
No total foram produzidas 31 composições pelos educandos das escolas
inseridas no programa. De acordo com o Quadro 1, pode-se perceber que a Ponte
Internacional Visconde de Mauá foi o bem patrimonial mais desenhado, seguida da
Antiga Enfermaria Militar16 e da bandeira do Brasil17.
Destaca-se aqui, um desenho produzido na Escola Castelo Branco (Figura 3),
pois nele estão presentes os três bens mais citados nos questionários: a Ponte
Internacional Mauá, a Antiga Enfermaria Militar e o Museu Carlos Barbosa. Nesta
ilustração há ainda a figura de um casal dançando e a Igreja do Divino Espírito Santo.
Figura 3: Desenho produzido pelos educandos da E.M.E.F. Castelo Branco.
Fonte: Acervo Programa Memoriar.
12
O Projeto Turismo na Costa Doce busca incentivar o turismo através da elaboração de roteiros em 13 municípios
da região sul do Estado, desde 2002.
13
Em Jaguarão a aplicação do programa atuou na E.M.E.F Castelo Branco, na zona urbana e E.M.E.F Lauro Ribeiro
na zona rural abrangendo as turmas de do 1º ao 4º ano do ensino fundamental.
14
Os questionários forma aplicados durante o ano de 2007 e 2008.
15
A Fenovinos é um dos eventos mais tradicionais da ovinocultura, que reúne produtores e expositores do estado e
dos países vizinhos.
16
Durante a descrição dos desenhos pelos educandos, alguns contavam histórias de fantasmas que segundo eles
habitam a Antiga Enfermaria Militar.
A categoria casa apresentou-se sob a forma de diferentes discursos: os
educandos a relacionavam com a sua própria casa; com a casa que gostariam de ter e
com os prédios históricos da cidade. Quando perguntávamos a eles o que estavam
desenhando, alguns educandos categorizavam os patrimônios desenhados: “Essas
pessoas estão dançando, então é patrimônio imaterial, aquela ali é a Enfermaria que é
um patrimônio material” (DIÁRIO DE CAMPO, 2008).
Os bens desenhados que apresentaram menor incidência, os outros (20), estão
relacionados aos elementos presentes na natureza, tais quais: pássaros, nuvens, sol,
peixes, estrelas, água, terra, bem como pessoas em diferentes contextos. Nesta categoria
também se inclui o desenho que representa uma lenda da cidade18, ilustrada na Figura 4.
Elementos desenhados
Antiga Enfermaria Militar
Bandeira do Brasil
Casa
Cerros
Igreja do Divino espírito Santo
Igrejas
Museu Carlos Barbosa
Outros
Personagem de desenho animado
Ponte Internacional Mauá
Quantificação
7
4
3
3
2
3
3
20
2
8
Quadro 1: Elementos desenhados pelos educandos no 3º encontro do programa Memoriar.
Fonte: Pesquisa Direta, 2009.
Figura 4: Desenho produzido pelos educandos da E.M.E.F. Lauro Ribeiro.
17
É importante salientar, que os desenhos forma produzidos durante a semana da pátria, o que de certa forma
influenciou a escolha dos educandos.
18
O nome Jaguarão, segundo o imaginário popular, originou-se de uma lenda que conta a existência de um animal
que rondava as margens do rio, chamado na linguagem indígena de JAGUA-RU, que significa: Jaguar (onça) grande.
Em Português o aumentativo seria: Jaguarão.
Fonte: Acervo Programa Memoriar.
Em relação ao perfil dos 175 respondentes do questionário, 85 (48%) eram do
sexo feminino e 80 (46%) do sexo masculino, sendo que 10 pessoas (6%) não
responderam a pergunta. Em relação à escolaridade, percebe-se através da Tabela 1
que, 65 (37%) possuíam Ensino Médio Completo e 46 (26%) possuíam Ensino
Fundamental Completo.
Tabela 1: Escolaridade dos respondentes dos questionários de Jaguarão.
Escolaridade
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Não Respondeu
Nunca Estudou
Total
Número Absoluto
7
46
23
65
4
17
11
2
175
Percentual
4%
26%
13%
37%
3%
10%
6%
1%
100%
Fonte: Pesquisa Direta, 2009.
De acordo com a Tabela 2, a faixa etária predominante dos respondentes está
entre 22 a 60 anos, representada por 80 pessoas (46%) e a faixa etária de 13 a 21 anos
composta por 79 pessoas (45%).
Tabela 2: Faixa etária dos respondentes dos questionários de Jaguarão.
Faixa Etária
0-12 anos
13-21 anos
22-60 anos
Mais de 61 anos
Não Respondeu
Total
Número Absoluto
1
79
80
11
4
175
Percentual
1%
45%
46%
6%
2%
100%
Fonte: Pesquisa Direta, 2009.
Conforme o Quadro 2, a noção de patrimônio cultural eleita por 164
respondentes (45%) está relacionada aos monumentos, praças, prédios antigos, túmulos
e objetos de arte. A categoria, bens naturais, patrimônio arqueológico e patrimônio
imaterial, apresentaram-se de forma equilibrada, do ponto de vista percentual, foram
representadas respectivamente por: 65 (18%), 62 (17%) e por 54 (15%). Em menor
escala, 16 (4%) está a idéia de patrimônio atrelada a posses como: dinheiro, jóias,
imóveis, carros, terras, etc.
Alternativas
a) Monumentos; praças; prédios antigos; túmulos;
objetos de arte;
b) Artefatos arqueológicos (de pedra, cerâmica, metais,
louça, vidro, osso, etc.)
c) Danças; hábitos alimentares; músicas;
d) Bens naturais (cachoeiras; vertentes; acidentes
naturais);
e) Dinheiro, jóias, imóveis, carros, terras...
NR
Respondentes
164
62
54
65
14
2
Quadro 2: Noção de patrimônio cultural demonstrada pelos respondentes de Jaguarão.
Fonte: Pesquisa Direta, 2009.
Monumentos; praças; prédios antigos; túmulos;
objetos de arte
4% 1%
18%
15%
45%
Artef atos arqueológicos (de
pedra, cerâmica, metais, louça, vidro, osso, etc.
)
Danças; hábitos alimentares; músicas
17%
Bens naturais (cachoeiras; vertentes;
acidentes naturais)
Dinheiro, jóias, imóveis, carros, terras, etc.
Gráfico 1: Noção de patrimônio cultural demonstrada pelos respondentes de Jaguarão.
Fonte: Pesquisa Direta, 2009.
Na questão que solicitava aos respondentes que citassem três exemplos de
patrimônio cultural de sua cidade (questão 5), 4 pessoas não citaram os três exemplos de
patrimônio e 17 pessoas não citaram nenhum.
Os bens mais citados foram: a Ponte Internacional Mauá (80), o Museu Carlos
Barbosa (77), a Antiga Enfermaria Militar (54), a Praça Dr. Alcides Marques (38), o
Teatro Esperança (36), a Casa da Cultura (21), os prédios antigos (19), a Prefeitura
Municipal (15) e a Igreja Matriz Divino Espírito Santo (11).
Alguns bens foram citados em menor escala, e se diferenciam da concepção de
patrimônio enquanto somente um prédio histórico ou monumento, e se aproximam da
face imaterial do patrimônio. Como exemplos podem-se citar: o CTG, o gaúcho, o
trabalho artesanal com lã, as danças típicas, o cotidiano na fronteira, a cultura regional e
a história da cidade.
Dois outros bens foram citados, também em menor escala: as casas tombadas e
os pontos turísticos da cidade, que nos remete a idéia de que o patrimônio está atrelado
a bens legitimados, reconhecidos a ponto de serem tombados ou transformados em
atrativos turísticos.
Em relação à questão 7, que solicitava que o respondente citasse três exemplos
de patrimônio cultural de forma geral, 19 pessoas não citaram os três exemplos e 18 não
responderam a questão. Os bens mais citados como patrimônio cultural a nível global
foram: A Ponte Internacional Mauá (46), os museus (36), a Antiga Enfermaria Militar
(35), o Cristo Redentor (28), as praças (25), os prédios antigos (24), a Casa de Cultura
de Jaguarão (16) o Museu Carlos Barbosa (14) e o Teatro esperança (11).
Com base nesses dados pode-se perceber que dentre os bens mais citados como
patrimônio cultural geral, estão os bens localizados em Jaguarão, sendo que a Ponte
Internacional Mauá foi a mais citada em ambas as questões (5 e 7). Três categorias
aparecem como amplas, sem especificação de nome ou localização: os museus, as
praças e os prédios antigos, que se configuram como espaços distintos e que podem ter
sido citados com base em diferentes motivações.
Nesta questão pode-se perceber, em sua maioria, a noção de patrimônio
atrelada aos monumentos e á arquitetura, e em menor escala aos costumes da cultura
regional, como por exemplo: a culinária, as danças típicas, a arte, o CTG, o gaúcho, a
linguagem, a literatura, a tradição, a fronteira Brasil-Uruguai, o chimarrão e a música.
Ainda na questão 7, observou-se que os respondentes citaram locais que
recebem um grande fluxo de turistas, tanto no Brasil como em outros países. No caso
dos atrativos turísticos brasileiro, foram citados os situados no Rio de Janeiro: Pão de
Açúcar e o Corcovado, já em outros países, a Torre Eiffel (França) e o Portão de
Brandemburgo (Alemanha). Pode-se observar também, que alguns bens citados nesta
questão são os bens inscritos na Lista de Patrimônio da Humanidade, com destaque para
as Zonas das Pirâmides de Gizé, em Dahchur (Egito), citadas por 10 pessoas e a Grande
Muralha (China) por 6 pessoas.
Além disso, há bens citados nesta questão, que aparecem como sendo cidades,
ou seja, a cidade no seu todo é considerada patrimônio cultural, que é o caso de
Gramado, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Pelotas, Caxias do Sul, Esteio, Ribeirão Preto,
São Paulo e Rio Grande.
Com base no Quadro 3 é possível visualizar que todos os atrativos turísticos
administrados pelo poder público foram citados no questionário como sendo patrimônio
cultural local (questão 5), sendo a Ponte Internacional Mauá o atrativo mais citado (80).
Dentre os mais citados destacam-se também o Museu Carlos Barbosa (77) e a Antiga
Enfermaria Militar (54). O Mercado Público, possivelmente pelo seu atual estado de
conservação e uso, apresentou-se como sendo o atrativo turístico que menos foi citado
como exemplo de patrimônio local.
Atrativos Turísticos
Ponte Internacional Mauá
Museu Carlos Barbosa
Antiga Enfermaria Militar
Praça Dr. Alcides Marques
Prédio do Teatro Esperança
Prédio do Antigo Fórum (Casa de Cultura)
Igreja Matriz do Divino Espírito Santo
Igreja Imaculada Conceição
Rua das Portas
Rio Jaguarão
Mercado Público Municipal
Nº de citações
80
77
54
38
36
21
11
8
7
6
3
Quadro 3: A relação entre os principais atrativos turísticos de Jaguarão e os bens culturais/naturais
citados nos questionários.
Fonte: Pesquisa Direta, 2009.
Considerações Finais
Os resultados desta pesquisa não consistem em uma conclusão a respeito do
patrimônio cultural e do sistema turístico presentes no município de Jaguarão. São
apenas considerações iniciais de uma complexa relação entre ambos.
Procurou-se então, apresentar de que forma o patrimônio cultural e o turismo
interagem, tendo como base os aspectos teórico-conceituais, as diretrizes globais de
preservação e participação social e os dados gerados a partir da experiência educativa
do Programa Regional de Educação Patrimonial – Memoriar, no estudo de caso deste
trabalho.
A partir dos dados analisados neste trabalho, foi possível identificar que a
noção predominante de patrimônio cultural tem suas bases na concepção material monumentos, praças, prédios antigos, túmulos e objetos de arte; no entanto, a que se
considerar que a ampliação de tal concepção tende a ocorrer progressivamente, sob
influência da mídia, das políticas públicas e da educação. Em relação ao patrimônio
imaterial, destacaram-se os bens citados referentes ao tradicionalismo e ao cotidiano do
pampa gaúcho.
A partir da sobreposição dos bens patrimoniais mais citados nos questionários
com os principais atrativos elencados neste trabalho, evidenciou se que existe uma
correlação entre os dados. Os bens mais citados são os atrativos mais visitados. Sendo
assim, apontam-se algumas problemáticas para outros estudos: os atrativos turísticos,
por serem visados pela mídia e pela iniciativa pública e privada, tornam-se bens
patrimoniais para a população local? Ou, inversamente, o patrimônio cultural local, pelo
seu valor simbólico, transforma-se em atrativo turístico? E, ainda: qual é a influência da
mídia no reconhecimento de um bem enquanto patrimônio cultural?
O patrimônio cultural, diante do exposto acima, configura-se como um espaço
de experimentação e interpretação, tanto para quem está em contato com o mesmo
diariamente (a população local), quanto para quem o busca através do turismo (o
turista). Assim, o patrimônio não somente é um recurso capaz de gerar divisas, como
também um espaço de sociabilização e educação.
Referências
BOMFIM, Natanael Reis; ARGÔLO, Djaneide Silva. Relação entre atratividade
turística, apropriação do território e patrimônio: uma contribuição para o
planejamento sustentável do turismo na Bahia. Revista Brasileira de Pesquisa em
Turismo. v.2, n.3, 2008, p. 41 – 53. Disponível em:
<http://www.revistas.univerciencia.org/turismo/index.php/rbtur>. Acesso em: 24
mai.2009.
FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da
política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ; Brasília: IPHAN,
2005.
FUNARI, Pedro Paulo; CARVALHO, Aline Vieira. O Patrimônio em uma
perspectiva crítica: o caso do Quilombo dos Palmares.Diálogos, DHI/PPH/UEM,
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Lista de Figuras
Figura 1: Aplicação de questionários.
Figura 2: Produção do desenho.
Figura 3: Desenho produzido pelos educandos da E.M.E.F. Castelo Branco.
Figura 4: Desenho produzido pelos educandos da E.M.E.F. Lauro Ribeiro.
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Lista de Gráficos
Gráfico 1: Noção de patrimônio cultural demonstrada pelos respondentes de
Jaguarão.
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Lista de Quadros
Quadro 1: Elementos desenhados pelos educandos no 3º encontro do programa
Memoriar.
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Quadro 2: Noção de patrimônio cultural demonstrada pelos respondentes de Jaguarão. 11
Quadro 3: A relação entre os principais atrativos turísticos de Jaguarão e os bens
culturais/naturais citados nos questionários.
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Lista de Tabelas
Tabela 1: Escolaridade dos respondentes dos questionários de Jaguarão.
Tabela 2: Faixa etária dos respondentes dos questionários de Jaguarão.
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Atrativos Turísticos e Patrimônio Cultural: O Olhar do Poder