UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE BIOLOGIA DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DESENVOLVIMENTO DE UM ÍNDICE MULTIMÉTRICO RÁPIDO BASEADO NA COMUNIDADE DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS PARA AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE ECOLÓGICA DE RIACHOS DO COMPLEXO GUAPIAÇU- MACACU, RJ. RENATA BLEY DA SILVEIRA DE OLIVEIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ecologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Ecologia). RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL FEVEREIRO DE 2009 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO/UFRJ INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA-PPGE CX.POSTAL 68.020 – ILHA DO FUNDÃO CEP: 21941-590 – RIO DE JANEIRO – RJ – BRASIL TEL./FAX: (21) 290-3308 TEL.: (21) 562-6320 Desenvolvimento de um índice multimétrico rápido baseado na comunidade de macroinvertebrados bentônicos para avaliação da integridade ecológica de riachos do complexo Guapiaçu-Macacu, RJ. RENATA BLEY DA SILVEIRA DE OLIVEIRA Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em ecologia da universidade federal do rio de janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de mestre em ciências biológicas (ecologia). defendida em 19 de fevereiro de 2009 APROVADA POR: ________________________________________________ Dr. Darcilio Fernandes Baptista, FIOCRUZ. (Orientador) ________________________________________________ Dra. Erica Pellegrini Caramaschi, UFRJ. ________________________________________________ Dr. Adriano Sanches Melo, UFRGS. ii FICHA CATALOGRÁFICA OLIVEIRA, RENATA BLEY DA SILVEIRA Desenvolvimento de um índice multimétrico rápido baseado na comunidade de macroinvertebrados bentônicos para avaliação da integridade ecológica de riachos do complexo Guapiaçu-Macacu, RJ. [Rio de Janeiro] 2009 xiii+ 107p. 29,7 cm (Instituto de Biologia/UFRJ, M.Sc., Ecologia, 2009) Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, PPGE 1. biomonitoramento 2. macroinvertebrados 3. subamostragem 4.índices multimétricos iii À minha família pelo exemplo e amor incondicional, ao Gustavo pelo incansável apoio e carinho e ao meu orientador pela dedicação e confiança. iv “A filosofia está escrita nesse grandioso livro que se mantém continuamente aberto perante os nossos olhos (quero dizer, o Universo), mas não se pode entendê-lo se primeiramente não se cuida de entender a língua e conhecer os caracteres em que está escrito. Está escrito em linguagem matemática, e os caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem as quais é impossível entender humanamente alguma palavra; sem estes meios é caminhar em vão num obscuro labirinto". Galileo Galilei “Na longa história da humanidade (e dos outros animais também), aqueles que aprenderam a colaborar e improvisar foram os que prevaleceram”. Charles Darwin v AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais, Cristina e Guilhermino, que me concederam inesgotável apoio e um amor sem tamanho, que são e serão sempre meus exemplos de vida. Agradeço aos meus avós, que são minha inspiração e minhas enciclopédias vivas da ciência do viver. Aos meus irmãos, Patrícia e Felipe, meus amores, meus amigos de sempre. À minha tia, Lúcia, pelo carinho de sempre e pelas risadas impagáveis. Agradeço ao Gustavo, meu companheiro de tantos anos, por todo o amor, carinho, apoio e dedicação nessa longa caminhada que é nossa vida juntos. Que esse seja apenas o início de um longo e lindo caminho. Agradeço às minhas amigas Camila, Diana, Renata Maria e Alessandra por me aturarem e me apoiarem nos momentos difíceis e por me ensinarem o significado da palavra amizade. Agradeço à equipe do LAPSA/FIOCRUZ, que me ajudou no árduo trabalho de triar e identificar os quase 30.000 macroinvertebrados trabalhados nessa dissertação: Thiago, Carla, Roberta, Ana, Priscila. Um agradecimento extremamente especial para Carolina Milhorance e Riccardo Mugnai. Sem vocês esse trabalho simplesmente não seria possível. Muitíssimo obrigada. Mas o agradecimento mais importante dessa dissertação vai para o meu orientador e amigo. Darcilio será sempre meu exemplo de profissional, por confiar em seus alunos e lhes conceder asas sem medo de perdê-los e sem deixar de orientá-los. Muito obrigada por tudo, não tenho nem palavras. Agradeço ao CNPQ pelo apoio financeiro ao projeto. À CAPES e à FAPERJ pelas bolsas durante o mestrado. Aos Professores Jorge Nessimian e João Leal pelos comentários enriquecedores para esse trabalho. Ao PPGE, à Márcia e à Sueli por todo apoio logístico. RESUMO Dentre as ferramentas empregadas no biomonitoramento, os índices multimétricos têm ganhado destaque em programas rotineiros de monitoramento biológico, sendo ferramenta padrão em países como EUA, Alemanha, França e Áustria. A força da abordagem multimétrica está na habilidade de integrar informações dos vários aspectos de uma comunidade biológica para fornecer uma classificação geral da degradação, sem perder a informação proveniente das métricas individuais. O desenvolvimento desse tipo de índice é baseado na comparação entre áreas livres de influência humana, consideradas como referências, e áreas sujeitas a impactos da atividade humana. As formas mais utilizadas de desenvolver índices multimétricos estão dispostas no presente trabalho, fornecendo uma explicação objetiva das etapas necessárias para o desenvolvimento do índice. O presente trabalho tem como objetivo desenvolver um índice multimétrico rápido utilizando a comunidade de macroinvertebrados bentônicos baseado em um protocolo rápido para viabilizar a aplicação da ferramenta. O trabalho foi realizado em 33 riachos de montanha de primeira à sexta ordem do complexo hidrográfico Guapiaçu-Macacu, em diferentes altitudes. Na primeira etapa foi testado um procedimento de subamostragem por quadrats que deve conferir rapidez à aplicação do índice sem prejudicar a eficiência e a base científica do mesmo. Os resultados mostraram que o aparato desenvolvido para a subamostragem funciona adequadamente e garante aleatoriedade do procedimento. A comunidade presente em 6 quadrats mostrou-se bastante similar em estrutura e composição à amostra completa de 24 quadrats e as métricas possuem valores semelhantes quando calculadas com a subamostra de 6 quadrats e com a amostra completa. Métricas calculadas com a comunidade de 6 quadrats foram capazes de diferenciar impactos de diferentes intensidades. É então sugerida a utilização de uma amostra de 6 quadrats da bandeja desenvolvida, com um mínimo de 200 organismos identificados. Na segunda etapa, foi desenvolvido um Índice Multimétrico para avaliação da integridade de riachos do complexo Guapi-Macacu (IMGM) com base em subamostras de 6 quadrats, seguindo a indicação dos testes para determinação do esforço de subamostragem. Trinta métricas potenciais foram testadas quanto as suas sensibilidades aos distúrbios e quanto a sua redundância entre si. As métricas selecionadas para compor o IMGM foram: riqueza de famílias, riqueza de famílias de Trichoptera, diversidade de Shannon com famílias, %Plecoptera, %Ephemeroptera+Plecoptera+Trichoptera %Molluca+Diptera, %fragmentadores, Chironomidae/Diptera e Hydropsychidae/Trichoptera. Todas elas requerem apenas identificação em nível de família com exceção de % de fragmentadores. Essas métricas foram testadas quanto a sua correlação com gradientes de impacto e gradiente altitudinal através de análise multivariada. O IMGM foi testado em riachos que não foram utilizados para o desenvolvimento do índice e apresentou sensibilidade aos diferentes níveis de impacto com resultados semelhantes a aqueles apresentados por um índice de avaliação de habitat. O IMGM apresentou também estabilidade temporal em seus valores finais. Os resultados mostram que a aplicação de um protocolo de subamostragem que afere rapidez ao protocolo sem prejudicar a eficiência da ferramenta desenvolvida é viável metodologicamente. O IMGM é um índice com relativa rapidez de aplicação e sensível aos diferentes impactos presentes na bacia dos rios Guapiaçu-Macacu. Essa ferramenta viii pode ser disponibilizada para os gestores da bacia para auxiliar nas medidas de manejo e conservação dos córregos e rios da região. ix ABSTRACT Multimetric Indices are nowadays the most popular tool for biological integrity assessment in inland aquatic ecossistems. They constitute the standard tool in biomonitoring programs in USA, Germany, France and Austria. The biggest advantage of this approach relies on its ability to integrate diferent aspects of the biological community to provide a general impact classification without losing the individual informations provided by the metrics that compose the index. Developing this kind of index involves comparing areas without human influence, considered as references, and areas with strong human influence. The current approaches to develop a multimetric index will be explained in this study. This work aims to develop a multimetric index based on a rapid assesment portocol using the benthic macroinvertebrate comunity. We used data from 33 mountain streams of first to sixth order in the Guapiaçu-Macacu basin. The first step was to assess a subsampling protocol and tray that should speed up the application of the index without harms to the index efficiency and sensitivity. Results showed that the tray developed for subsampling works adequately and assures the randomness of the procedure. The benthic comunity found in a 6 quadrats subsample was very similar to that found on the complete sample of 24 quadrats. Metrics showed similar values when calculated with the 6 quadrats subsample and with complete sample. The results suggest the use of a 6 quadrats subsample, with the minimum number of 200 specimes in the subsample. A multimetric index for assessing biotic integrity of streams in Guapiaçu-Macacu basin (IMGM) using the 6 quadrats subsample was developed. Thirty metrics were tested for their sensitivity to disturbance and redundancy. The metrics selected to compose the x IMGM were: family richness, Trichoptera family richness, Shannon diversity using family level, %Mollusca+Diptera, %Plecoptera, %Shredders, %Ephemeroptera+Plecoptera+Trichoptera, Chironomidae/Diptera and Hydropsychidae/Trichoptera. Metrics’s relation to stress and natural gradientes were tested using multivariate analyses. IMGM was validated using data from streams that were not used for the index construction and showed sensitivity to different disturbance degrees. IMGM also presented temporal stability in its final results. Results assured the applicability of a subsampling protocol for developing a multimetric index without loss of relevant ecological information and index sensitivity. IMGM is relatively fast to apply once it is based on a subsampling protocol and most of its metrics require only family level identification. This tool is ready to be used by water managers in streams integrity assessment and conservation activities. xi SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL....................................................................................................01 1. DESENVOLVIMENTO DE ÍNDICES MULTIMÉTRICOS PARA UTILIZAÇÃO EM PROGRAMAS DE MONITORAMENTO BIOLÓGICO DA INTEGRIDADE DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS....................................................................................................................05 1.1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................06 1.1.1. Definição e origem dos índices multimétricos.....................................................06 1.1.2. Vantagens e desvantagens dos índices multimétricos..........................................08 1.1.3. Exemplos de aplicação em programas de biomonitoramento..............................10 1.2. DESENVOLVIMENTO DO ÍNDICE................................................................................12 1.2.1. Definição da área de aplicação do índice..............................................................14 1.2.2. Seleção do gradiente de degradação.....................................................................16 1.2.3. Padronização do procedimento de coleta, triagem e identificação.......................19 1.2.4. Identificação das métricas potenciais...................................................................21 1.2.5. Seleção das métricas centrais................................................................................24 1.2.6.Definição dos limites para classificação e pontuação das classes de qualidade....29 1.2.7. Formação do Índice...............................................................................................34 1.3. AMPLIAÇÃO DA ÁREA DE APLICAÇÃO DO ÍNDICE.......................................................36 1.4. CONCLUSÃO..............................................................................................................38 2. DEFINIÇÃO DO ESFORÇO DE SUBAMOSTRAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM ÍNDICE MULTIMÉTRICO RÁPIDO BASEADO NA COMUNIDADE DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS .................................................................................................................40 2.1.INTRODUÇÃO............................................................................................................41 2.2.OBJETIVOS................................................................................................................45 2.3. MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................46 2.3.1. Coleta dos organismos.........................................................................................46 2.3.2.Procedimento de subamostragem.........................................................................47 2.3.3. Análise dos dados................................................................................................48 2.4. RESULTADOS...........................................................................................................52 2.5. DISCUSSÃO..............................................................................................................60 2.6. CONCLUSÕES...........................................................................................................64 xii 3. DESENVOLVIMENTO DE UM ÍNDICE MULTIMÉTRICO RÁPIDO BASEADO NA COMUNIDADE BENTÔNICA PARA AVALIAR A INTEGRIDADE ECOLÓGICA DE RIACHOS SERRANOS NO COMPLEXO HIDROGRÁFICO GUAPIAÇU-MACACU, RJ. ....................................................................................................................................66 3.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................67 3.2.OBJETIVOS............................................................................................................70 3.3. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................70 3.3.1. Área de estudo..................................................................................................70 3.3.2. Coleta, triagem e identificação dos organismos...............................................72 3.3.3. Análise dos dados.............................................................................................74 3.4. RESULTADOS........................................................................................................78 3.5. DISCUSSÃO...........................................................................................................86 3.6. CONCLUSÕES........................................................................................................89 DISCUSSÃO GERAL................................................................................................... 91 CONCLUSÃO GERAL.................................................................................................. 93 BIBLIOGRAFIA GERAL................................................................................................95 xiii Introdução Geral INTRODUÇÃO GERAL No Brasil, tradicionalmente, a avaliação da qualidade da água de rios tem sido baseada somente nos parâmetros físicos, químicos e microbiológicos, sem considerar a capacidade do ecossistema de sustentar a vida aquática. Essas análises fornecem apenas uma resposta pontual e momentânea, sendo extremamente importante a integração destes resultados com as características biológicas do ecossistema (Rosenberg & Resh 1993). O biomonitoramento surge nesse contexto como uma ferramenta central para o gerenciamento dos recursos hídricos e a conservação da fauna aquática (Karr & Chu 2000). O monitoramento biológico vem sendo empregado como ferramenta de avaliação da integridade em diversos países. No Brasil, a percepção de que a dimensão biológica deve ser incorporada como ferramenta de monitoramento rotineiro teve reflexo na legislação brasileira em 2005, quando em um parágrafo da Resolução CONAMA 357/05 aparece uma indicação da possibilidade do uso da biota como bioindicadora para avaliação da qualidade dos ambientes aquáticos. Para que o biomonitoramento possa ser implementado como ferramenta padrão é necessário realizar estudos de base, sobre a taxonomia e ecologia das espécies e sobre a comparação de diferentes metodologias de avaliação para definição de protocolos. O momento é de gerar o arcabouço teórico e metodológico para que programas de monitoramento biológico possam ser viáveis e exeqüíveis na prática em um futuro próximo no Brasil. Os Estados Unidos da América (EUA) e a União Européia (UE) possuem programas de biomonitoramento baseados em índices multimétricos desenvolvidos com base em protocolos padronizados de coleta e tratamento das amostras, com uso de subamostragem para 2 reduzir o esforço de aplicação dos mesmos (Barbour et al. 1999, AQEM 2002). Os índices multimétricos têm ganhado força nos últimos anos por representar uma ferramenta altamente aplicável em diversas condições, com diferentes organismos e por fornecer resultados que são facilmente compreendidos por um público mais amplo. No contexto de desenvolvimento e teste de metodologias, o presente trabalho teve como objetivo desenvolver um índice multimétrico baseado em um protocolo rápido utilizando a comunidade bentônica para avaliar a integridade de riachos montanhosos no complexo Guapiaçu-Macacu. O primeiro capítulo traz uma revisão sobre os índices multimétricos, apresentando as diferentes formas e etapas de seu desenvolvimento e um histórico de aplicação da ferramenta no mundo. Como os índices multimétricos têm sido desenvolvidos em diferentes locais foi realizada uma compilação dos métodos utilizados nos diferentes trabalhos, com os desafios a serem enfrentados em cada um dos passos do processo. Em última instância essa revisão pode ser considerada um guia metodológico para orientar o desenvolvimento desse tipo de ferramenta. O segundo capítulo traz uma avaliação do procedimento de subamostragem com a determinação do esforço necessário para permitir o desenvolvimento de um índice multimetrico rápido e eficiente. Além disso o capítulo traz um teste do aparato desenvolvido para a subamostragem. Essa etapa de estudos de comparação e teste de metodologias para encontrar a melhor relação custo-benefício que permita a aplicabilidade da ferramenta sem perda de rigor científico é essencial para o desenvolvimento de um protocolo de aplicação do monitoramento biológico. O terceiro capítulo apresenta o desenvolvimento do índice multimétrico, com o teste de diversas medidas biológicas e utilização de alguns testes comentados no primeiro capítulo. 3 O índice foi também testado quanto à sua funcionalidade em detectar impactos ambientais e sua estabilidade temporal. Os três capítulos juntos representam um avanço no conhecimento dos índices multimétricos como ferramenta padrão para estabelecimento de um protocolo de bioavaliação que seja rápido e, portanto, exeqüível, mas que possui também rigor científico. Além disso, o resultado final é a geração de uma ferramenta de avaliação que já pode ser utilizada pelos gestores da bacia Guapiaçu-Macacu. 4 Capítulo 1 5 1. Desenvolvimento de Índices Multimétricos para utilização em programas de monitoramento biológico da integridade de ecossistemas aquáticos 1.1. Introdução 1.1.1. Definição e origem dos índices multimétricos Há 27 anos, quando o monitoramento da qualidade da água era feito principalmente através de parâmetros físico-químicos, Karr (1981) desenvolveu um Índice de Integridade Biótica (IIB). Este índice era designado para quantificar características das comunidades de peixes para avaliar a integridade biótica de rios. A “integridade biótica” pode ser definida como “a capacidade de um ecossistema de manter uma comunidade de organismos equilibrada, integrada e adaptativa, possuindo diversidade e organização funcional semelhantes às áreas que conservam o habitat natural da região”. Nesta definição, Karr & Dudley (1981) incluíram a noção da aplicabilidade regional do conceito, o que hoje é um desafio a ser enfrentado nos processos de desenvolvimento de ferramentas para o biomonitoramento. Desde então os IIBs baseados na comunidade de peixes se tornaram uma ferramenta padrão para monitoramento de rios e lagos. Todos os continentes possuem adaptações de índices multimétricos (Hughes & Oberdorff 1999). A maioria das adaptações do modelo original de Karr foi realizada para rios (Araújo et al. 2003, Hued & Bistoni 2005, RodríguezOlarte et al. 2006, Ferreira et al. 2007). No entanto, a idéia se propagou também para diferentes ecossistemas, como lagos (Lyons et al. 2000, Drake & Pereira 2003), recifes (Jameson et al. 2001) e estuários (Puente et al. 2008). A utilização de macroinvertebrados bentônicos para o desenvolvimento de índices é extremamente comum atualmente, 6 especialmente para avaliação da integridade de rios e riachos (Barbour et al. 1996, Klemm et al. 2003, Böhmer et al. 2004, Moya et al. 2007). Além disso, outros organismos passaram a ser utilizados como bioindicadores para o desenvolvimento dos índices, como pássaros (Bryce et al. 2002), anfíbios (Hughes et al. 2004), macrófitas aquáticas (Miller et al. 2006), perifíton (Hill et al. 2003) e fitoplâncton (Lacouture et al. 2006). No Brasil, existem três trabalhos publicados que apresentam desenvolvimento de índices multimétricos: (1) para macroinvertebrados em riachos (Baptista et al. 2007); (2) para peixes em rios (Araújo et al. 2003, Bozzeti & Schulz 2004). Um índice multimétrico considera os efeitos de múltiplos impactos e agrega medidas biológicas individuais em um único valor que pode ser usado para avaliar a condição geral de um local (Hering et al. 2006). Essas medidas biológicas são comumente chamadas de métricas e podem ser definidas como uma característica ou um processo mensurável de um sistema biológico que se altera em valor ao longo de um gradiente de influência humana (Karr & Chu 1999). As métricas devem apresentar respostas previsíveis da biota com o aumento do distúrbio, sendo ele proveniente de um único fator de impacto ou dos efeitos cumulativos da influência humana em função dos usos múltiplos da água. O desenvolvimento de índices multimétricos é baseado na comparação entre áreas que refletem as condições mais próximas do natural (referência) e áreas impactadas (teste). Essa abordagem é chamada de a priori, uma vez que é preciso definir antecipadamente os critérios que separam estes dois grupos. A definição das áreas de referência vem sendo assunto de muita discussão, especialmente em função do avanço da influência humana e a consequente escassez de áreas prístinas. 7 Recentemente, com os índices multimétricos caracterizando as ferramentas mais utilizadas em programas de monitoramento biológico, surgiram muitas discussões acerca de seu uso apropriado (e.g. Karr & Chu 1999, Norris & Hawkins 2000). As questões que tem levantado maiores discussões são: Quando e como as métricas devem ser modificadas ou substituídas em um IIB? Quantas métricas são necessárias para compor um índice? Como o processo de desenvolvimento dos índices pode se tornar menos subjetivo (Whittier et al. 2007)? Nesse contexto, esta revisão busca levantar as diversas formas de desenvolvimento de índices multimétricos, considerando os diferentes grupos biológicos utilizados como biomonitores, buscando comparar as diferentes abordagens e apresentar os novos caminhos que a literatura recente traz para tornar a utilização destes índices uma ferramenta ainda mais robusta. 1.1.2. Vantagens e desvantagens dos índices multimétricos A força da abordagem multimétrica está na habilidade de integrar informações dos vários aspectos de uma comunidade para fornecer uma classificação geral do nível de degradação do ecossistema, sem perder a informação proveniente das métricas individuais. As métricas devem ser baseadas em conceitos ecológicos sólidos e representar processos complexos do ecossistema, permitindo a avaliação de funções ecológicas. A utilização de métricas de diferentes naturezas pode permitir a avaliação qualitativa além da quantitativa, uma vez que uma métrica individualmente pode ser capaz de qualificar a origem do impacto. Em princípio, índices multimétricos podem ser aplicados em diferentes tipos de ecossistemas (rios, lagos, brejos, florestas) e para diferentes elementos da qualidade biológica 8 (peixes, macroinvertebrados, macrófitas aquáticas, fitoplâncton, anfíbios), sendo uma ferramenta flexível que aumenta a comparabilidade entre os diferentes sistemas de avaliação. Os custos de implementação da abordagem multimétrica vão depender dos protocolos de coleta, triagem e identificação, que devem ser altamente padronizados para garantir a estabilidade do índice. O primeiro passo para o desenvolvimento dos critérios biológicos é o estabelecimento de metodologias padronizadas que requerem muitos estudos prévios de teste e comparação de procedimentos metodológicos (Simon 2000). A maioria dos sistemas de bioavaliação multimétrica utiliza protocolos de avaliação rápida (Rapid Bioassessment Protocols), que asseguram a aplicabilidade do método por apresentarem protocolos detalhados e definidos de todas as etapas da avaliação biológica. No entanto, muitos requerem identificação em nível de gênero, o que aumenta os custos para implementação (Bonada et al. 2006). Os índices multimétricos são desenvolvidos a partir de uma amplitude de pontos definidos a priori, portanto seu bom funcionamento somente é garantido em áreas com as mesmas características da área para a qual ele foi construído. Isso torna sua aplicação restrita a ecorregiões, bacias hidrográficas ou tipos de rios. Para minimizar esse efeito, trabalhos recentes têm buscado desenvolver índices em escala continental, modelando a variação natural e tentando fazer com que o índice consiga diferenciar o impacto da variabilidade natural (Pont et al. 2006). Esse tipo de metodologia usando modelagem é utilizada, de forma geral, para aumentar a área de aplicação de índices previamente desenvolvidos e dependem de um banco de dados com muitos pontos amostrais e longa série temporal (Pont et al. 2006). 9 1.1.3. Exemplos de Aplicação em Programas de Biomonitoramento Os índices multimétricos são utilizados em dois dos maiores programas de biomonitoramento em larga escala: (a) nos Estados Unidos da América, onde as agências de proteção ambiental estaduais (EPA) realizam o monitoramento de rios, lagos e reservatórios e (b) na maioria dos países da União Européia, que se organizaram recentemente em uma iniciativa para normatizar protocolos padronizados de monitoramento biológico utilizando índices multimétricos. Nos EUA, em 1972, foi lançado pelo congresso o “Clean Water Act” que apresentava o objetivo de restaurar e manter a integridade física, química e biológica das águas da nação (Karr 1999). Isso trouxe a consciência da necessidade de programas eficientes de levantamento biológico devido à rapidez da degradação dos recursos hídricos. Foi então que se criou um esforço no sentido de coletar, analisar e interpretar dados biológicos para permitir ações de monitoramento, controle e mitigação do impacto. Com isso surgiu a iniciativa da criação dos Rapid Bioassessment Protocols (Protocolos de Bioavaliação Rápida) que tinham como base desenvolver: 1) procedimentos rápidos, porém com validade científica, para levantamento biológico; 2) relatórios científicos que permitissem entendimento por leigos e gestores; 3)resultados rápidos que viabilizassem as decisões de manejo (Barbour et al. 1999). Nos EUA, as agências de proteção ambiental possuem domínio estadual, tendo cada uma suas leis e diretrizes. Em 1985 foi realizado um grande levantamento para verificar quais estados já possuíam algum sistema de biomonitoramento e quais eram os métodos mais utilizados (Carter & Resh 2001). O RBP I (Plafkin et al. 1989) foi criado com base nos procedimentos de algumas destas agências. Atualmente existe o RBP III que agrega 10 informações e métodos de mais agências, apresentando protocolos para macroinvertebrados, peixes e perifíton e englobando as mais variadas métricas utilizadas nos diferentes estados. Apesar da tentativa do RBP de padronizar os procedimentos dos diferentes estados, ainda há algumas divergências principalmente no que concerne forma de coleta, triagem e identificação dos organismos entre as agências estaduais (Carter & Resh 2001). Em termos de análise e interpretação dos resultados, a grande maioria dos estados utiliza o conceito de métricas e índices multimétricos. Em 1997, uma nova tentativa de normatizar protocolos de bioavaliação surgiu com o EMAP (Environmental Monitoring and Assessment Program), um programa que visa fazer um levantamento da condição ecológica das águas superficiais dos EUA e encorajar todos os estados a utilizar a mesma metodologia proposta nesse programa, para que avaliações futuras sejam ecológica e estatisticamente comparáveis em escala nacional (Stoddard et al. 2005). O EMAP apresenta protocolos para a avaliação biológica da integridade de riachos (Stoddard et al. 2005), de rios grandes (Lazorchak et al. 2000) e de lagos (Baker et al. 1997), sendo que todos utilizam índices multimétricos como ferramenta padrão para a avaliação. Em Dezembro de 2002 foi publicada uma diretiva pelo congresso europeu (EU Water Framework Directive) visando normatizar diversos aspectos da política de gestão de recursos hídricos na Europa. O grande avanço desta iniciativa foi a obrigatoriedade de implementação do monitoramento biológico que deverá guiar medidas de restauração e manejo em ecossistemas aquáticos. Para atingir esse objetivo a União Européia financiou diversos projetos de pesquisa que buscassem desenvolver sistemas de biomonitoramento que preenchessem as expectativas da nova lei. Um destes programas foi o AQEM (Desenvolvimento e teste de um programa de avaliação integrada da qualidade ecológica de 11 rios e riachos na Europa usando macroinvertebrados bentônicos) um projeto que buscou desenvolver um sistema de monitoramento baseado em macroinvertebrados bentônicos e índices multimétricos em 8 países europeus (Hering et al. 2004). Em 2006 foi criado mais um programa (STAR - Padronização das Classificações de Rios) que busca a intercalibração dos índices multimétricos dos diferentes países através da intercalibração das métricas comuns (Buffagni et al. 2006). Atualmente, 13 países da União Européia utilizam sistemas de biomonitoramento baseados na abordagem multimétrica de forma rotineira (Sandin & Verdonschot 2006). Fora os programas dos Estados Unidos da América e da União Européia, apenas iniciativas locais, em pequena escala, conseguiram desenvolver índices multimétricos e aplicá-los como ferramenta de biomonitoramento. Em muitos locais, o maior desafio ainda está na etapa política de implementação de medidas práticas para o manejo dos recursos hídricos. No Brasil, a ausência de legislação específica para o biomonitoramento retira o caráter de obrigatoriedade desses procedimentos, minimizando sua importância para o sucesso de planos de manejo das águas do país. 1.2. Desenvolvimento do índice Desenvolver um índice multimétrico robusto e eficiente requer a seleção de atributos mensuráveis que forneçam sinais relevantes e confiáveis sobre os efeitos biológicos da influência humana. Esses atributos, tratados aqui como métricas, devem ser sensíveis a uma variedade de fatores físicos, químicos e biológicos que se alteram nos ecossistemas com a influência humana, tendo ainda que apresentar facilidade de mensuração e interpretação (Karr & Chu 2000). Essas métricas devem refletir os diversos aspectos que regem uma comunidade biológica, avaliando questões de estrutura, diversidade e composição. 12 No entanto, o desenvolvimento de uma ferramenta como um índice multimétrico deve considerar aspectos cruciais que acontecem bem antes da etapa de seleção das métricas propriamente dita (Figura 1.1). O trabalho começa em uma escala mais ampla, com a definição da área de aplicação do índice, a classificação do ecossistema alvo e a escolha das áreas de referência. Não existe uma só maneira de realizar este trabalho. Na verdade existem diversas formas de se desenvolver um índice multimétrico. O procedimento clássico para o desenvolvimento do índice está ilustrado na figura 1.1. Entretanto, recentemente, muitas abordagens novas têm surgido com a finalidade de aumentar a eficiência, a área de aplicação e a robustez dessa ferramenta. As etapas serão apresentadas separadamente em seguida, mostrando as diversas formas em que cada uma delas pode ser cumprida. Classificação a priori das áreas de referência Coleta dos organismos e de dados do habitat – Protocolo de campo Testar e confirmar a classificação a priori utilizando análises multivariadas com a matriz Lista de táxons com abundâncias Cálculo das métricas Teste da variância da métrica Índice Multimétrico Análise do gradiente de stress Testes Complemen tares Definição das classes de qualidade e da pontuação das métricas Não Exclusão da métrica Sim Exclusão das métricas redundantes (correlação > 0,7 ou 0,8) Sim Teste de sensibilidade: Métrica com correlação significativa com gradiente de impacto/ Teste Box- Plot - é capaz de separar áreas de referência de impactadas ? Não Exclusão da métrica 13 Figura 1.1: Esquema das etapas do desenvolvimento de um Índice Multimétrico (adaptado de Hering et al. 2006) 1.2.1. Definição da área de aplicação do índice O desenvolvimento de um índice exige um sistema de classificação do corpo d’água para selecionar as áreas nas quais o funcionamento das métricas será avaliado. Sendo assim, os índices multimétricos possuem aplicabilidade regional, com definição da área de abrangência do índice a priori. Tais áreas podem ser inicialmente classificadas de acordo com características geográficas, físicas e químicas, utilizando parâmetros que sejam minimamente influenciados por atividades humanas. No entanto, refinamentos posteriores podem ser realizados através de dados biológicos. O objetivo desta classificação é criar grupos de pontos que irão minimizar a variância interna do grupo e maximizar a variância entre os mesmos (Barbour et al. 1999). O resultado disso pode ser a determinação de ecorregiões, tipologias ou ainda a utilização da bacia hidrográfica como unidade para aplicação do índice. Nos EUA, a abordagem utilizada é a separação dos recursos hídricos por ecorregiões que são divididas de acordo com critérios geomorfológicos, geológicos, topográficos, climáticos, de altitude e de vegetação (Omernik 1995). Esta divisão pode apresentar diversas escalas, desde uma escala pouco refinada até uma altamente detalhada. No estado da Florida, por exemplo, existem cinco níveis de refinamento em que o mais refinado apresenta até 20 sub-ecorregiões. No entanto, a escala utilizada pela EPA deste estado para o monitoramento biológico é o de nível 3, com três ecorregiões (Figura 1.2). Este grau de refinamento é suficiente para garantir a precisão dos 3 índices, um para cada ecorregião, sem comprometer a eficiência do programa de monitoramento. 14 Figura 1.2: Definição de ecorregiões no estado da Florida, EUA. (A) Nível 3 – refinamento médio, com 3 ecorregiões. (B) Nível 5 – alto refinamento, com 20 sub-ecorregiões. (Fonte: USEPA – www.epa.gov) Na Europa, de forma geral, os rios são separados por tipos e não por ecorregiões. Hering et al. (2004) definem “tipo de rio” como sendo uma “entidade artificialmente delineada, mas com significado ecológico, com variações internas bióticas e abióticas limitadas e que se diferencie em aspectos bióticos e abióticos de outros tipos de rio”. Para programas que objetivam a avaliação de rios e riachos, como é o caso do AQEM, esses mesmos autores sugerem que a definição do tipo de rio deve ser baseada nas condições de referência, próximas ao natural. A classificação é feita, na maioria das vezes, apenas com base em fatores químicos e físicos. Na diretiva do quadro de águas Europeu são propostos dois sistemas para classificação: (A) a tipologia é baseada na ecorregião definida por Illies (1978), tamanho do rio, com base na área da bacia, geologia da bacia e altitude (0-200 m, 200-800 m, >800 m; (B) cinco fatores obrigatórios (altitude, longitude, latitude, geologia e tamanho do rio) e quinze fatores facultativos (profundidade média, distância da fonte, composição do substrato, etc) (Sandin & Verdonshot 2006). O sistema AQEM utiliza trinta tipos de rios diferentes 15 distribuídos em seus oito países participantes. No entanto análises posteriores com a matriz biológica mostraram que poderiam ser considerados apenas três grandes grupos: rios de montanha, de planície e mediterrâneos (Sandin & Verdonshot 2006). No Brasil não existem ainda trabalhos publicados de divisão de ecorregiões ou tipologias com fim de monitoramento de corpos d’água. No Brasil, as iniciativas de desenvolvimento de programas e ferramentas de biomonitoramento são baseadas na bacia hidrográfica como unidade de aplicação (Baptista et al. 2007, Marques & Barbosa 2001, Araújo et al. 2003, Bozzetti & Schulz 2004, Ferreira & Casatti 2006). Isso se deve em grande parte ao fato de que as bacias hidrográficas são também a unidade de gerência dos rios, devendo possuir, cada uma, seu próprio comitê gestor. Os trâmites políticos e legais para desenvolver programas de biomonitoramento em conjuntos de bacias, respeitando a separação dos biomas por exemplo, ainda são grande obstáculo neste processo. Nesta etapa de definição da área de abrangência do índice é preciso ter cuidado com a relação custo-benefício entre diminuir a área de abrangência do índice e a garantia de resultados mais robustos, uma vez que uma área de atuação extremamente restrita pode reduzir a viabilidade da aplicação da ferramenta em termos de gestão política do recurso. É importante pensar qual o grau de refinamento realmente necessário para viabilizar a implementação de um sistema de biomonitoramento rotineiro. 1.2.2. Seleção do gradiente de degradação – Definição das áreas de referência É imprescindível, para o desenvolvimento de um índice, que o conjunto de dados abranja um gradiente de impacto incluindo áreas minimamente impactadas (Referências) e áreas altamente degradadas (Teste). Um gradiente de estresse ambiental idealmente deve 16 apresentar dados de locais sob todas as intensidades de distúrbios (Bom, moderado, ruim, altamente degradado) (Hering et al. 2006). Esse gradiente pode ser contínuo ou dividido em classes de qualidade. Uma vez que o foco principal do biomonitoramento é a avaliação do efeito da atividade humana, estimar a condição biológica na ausência desta interferência é um passo fundamental. A definição da condição de referência vem sendo amplamente discutida e permanece controversa (Stoddard et al. 2006). Em geral, o conceito de “condição de referência” é largamente utilizado para descrever o padrão contra o qual a condição a ser avaliada será comparada. Stoddard et al. (2006) sugerem que o termo geral “condição de referência” seja substituído por termos mais específicos como: condição de referência para integridade biológica, condição minimamente impactada, condição de menor impacto. Essa divisão pode auxiliar principalmente em casos onde áreas prístinas ou perto de naturais não existem mais e o conceito de condição de referência precisa ser relativizado. Os critérios e os métodos para determinação das áreas de referência são muitos. No entanto quase todos os métodos incluem em alguma instância o julgamento de um profissional com experiência. Este pode ser um critério subjetivo, mas em muitos casos, se associado a outros critérios, pode ser um ótimo estimador da condição de referência. Essa classificação pode ser baseada em aspectos de uso da terra, qualidade físico-química e qualidade e disponibilidade de habitat. Por outro lado, critérios quantitativos são importantes no sentido de diminuir a subjetividade da classificação (Stoddard et al. 2006). Para determinar a condição de referência, em diversos programas de monitoramento biológico, valores críticos de parâmetros como pH, demanda de oxigênio, concentração de oxigênio, nitrogênio total, percentual de urbanização com relação à área total, extensão de 17 mata ciliar, dentre outros, são estabelecidos. Estes valores críticos só podem ser estabelecidos quando se conhece bem as variações naturais dos parâmetros em condições prístinas e impactadas. Stoddard et al. (2006) criticam a utilização da biota residente como critério para definição de área de referência devido à questão da circularidade, uma vez que é preciso evitar qualquer noção pré-concebida da estrutura da comunidade de áreas “tipicamente” de referência. O mais importante da definição das áreas de referência é descrever toda a variabilidade natural presente em locais na ausência da interferência humana utilizando critérios independentes e pouco subjetivos, que garantam precisão da avaliação. A biota será posteriormente avaliada pelos índices de integridade biótica. Tanto os sistemas AQEM (europeu) quanto RBP (EUA) valorizam bastante a caracterização do habitat físico como importante ferramenta na determinação da classificação dos locais de coleta. No RBP para rios é sugerido um Protocolo de Avaliação Visual do Habitat (Barbour et al. 1999) que avalia parâmetros como: largura da vegetação marginal, presença de dispositivos de retenção no leito, grau de assoreamento do leito, presença de construções potencialmente poluidoras, etc. Este protocolo fornece uma pontuação final que pode ser um dos valores críticos utilizados na classificação dos locais. Kaufmann et al. (1999) descrevem conceitos e procedimentos analíticos para caracterização do habitat físico em rios e fornecem métodos para calcular medidas e índices de gradiente, sinuosidade, estabilidade do substrato, complexidade do habitat, estrutura da vegetação ripária, interação entre canal e vegetação marginal. Medidas como estas refletem de forma fiel os distúrbios de habitat decorrentes principalmente do desmatamento e ocupação das margens, podendo constituir bons parâmetros para definição de áreas de referência. 18 1.2.3. Padronização do procedimento de coleta, triagem e identificação Os dados provenientes do procedimento de campo, triagem e identificação devem ter qualidade suficiente para permitir inferências sobre a condição biológica do ecossistema. A chave para isso é definir um protocolo rígido, que garanta a precisão e acurácia das informações provenientes de diferentes grupos responsáveis por esta etapa (Haase et al. 2004). O sucesso do monitoramento biológico depende principalmente de medidas precisas dos organismos indicadores em campo (Karr 1999). Neste momento, é importante definir o artefato utilizado para coleta, o número de réplicas, os habitats que serão amostrados, etc. Para esta definição é importante ter em mente que o artefato de coleta deve ser adequado para cada circunstância encontrada. Por exemplo, é difícil utilizar um coletor que funciona bem em pequenos riachos em rios de grande magnitude e portanto devem ser estabelecidos diferentes protocolos de coleta. Quanto aos habitats coletados deve-se pensar que a amostra deve refletir a diversidade dos mesmos, sendo importante incluir na amostra os organismos característicos dos diversos microhabitats do ecossistema. Em situações em que há desmatamento pontual por exemplo, os organismos de corredeira serão menos afetados do que os organismos de remanso, que normalmente dependem da formação de bolsões de folhiço para sua alimentação. Outros fatores influenciam a qualidade de uma avaliação e devem receber atenção adequada: definição do procedimento de subamostragem, tamanho mínimo de amostra e resolução taxonômica (Karr 1999). A subamostragem é uma operação padrão em programas de biomonitoramento que agiliza o procedimento de triagem e identificação, principalmente com macroinvertebrados, diminuindo o tamanho da amostra a ser processada. Nos EUA, a 19 maioria dos estados utiliza a subamostragem com Contagem de Número Fixo (CNF), na qual se tria aleatoriamente um número determinado de indivíduos da amostra. Esse tamanho mínimo de amostra costuma variar entre 100 e 500, sendo que a maioria utiliza de 100 a 300 indivíduos (Carter & Resh 2001). Na Europa, a subamostragem é feita, em geral, por área, utilizando “quadrats” como subamostras. Diversos trabalhos vêm discutindo a questão da subamostragem (Doberstein et al. 2000, Lorenz et al. 2004, Clarke et al. 2006). Neste tipo de abordagem, é de extrema importância a realização de estudos antes do início do monitoramento para verificar qual o tamanho mínimo de subamostra requerido para garantir o bom funcionamento das métricas e do índice. A questão da resolução taxonômica é tópico de interesse em estudos de zoologia e ecologia em geral, mas o crescimento da utilização de insetos e algas em avaliações de qualidade de água aumentou a importância do entendimento das perdas e ganhos associados à utilização dos diferentes níveis taxonômicos. A identificação em nível de espécie não é sempre possível, principalmente devido ao conhecimento limitado da taxonomia de diversos grupos e da limitação prática de tempo e dinheiro. Bailey et al. (2001) revisaram diversos trabalhos com diferentes níveis de identificação e sugerem que o nível de gênero, para macroinvertebrados e algas, é suficiente para garantir a consistência das métricas e a avaliação correta da qualidade ecológica. No entanto, esta avaliação deve ser feita de acordo com a circunstância de cada programa de monitoramento. Em suma, os protocolos de amostragem, triagem e identificação podem afetar de várias formas o sucesso de esforços de biomonitoramento e a habilidade dos métodos em detectar diferentes níveis de influência humana. No entanto, o protocolo analítico de seleção das métricas é mais importante do que os protocolos de campo e laboratório (Karr 1999). O 20 mais importante é que o procedimento em campo e em laboratório seja organizado e padronizado, visando gerar dados com resolução suficiente para detectar os efeitos das atividades humanas. É importante que se considere nessa etapa, o balanço entre o benefício da precisão dos métodos de coleta e triagem e o custo, em termos de tempo e dinheiro, desse processo. Haase et al. (2004) realizaram um estudo comparativo entre diferentes protocolos de amostragem, triagem e identificação de macroinvertebrados e demonstraram que os protocolos mais simples, porém bem padronizados, podem gerar resultados tão confiáveis quanto os gerados por protocolos mais complexos. 1.2.4. Identificação das métricas potenciais no contexto de índices, uma métrica é uma característica da biota que muda de forma previsível com o aumento da influência humana, apresentando necessariamente correlação significativa com o gradiente de degradação ambiental. Uma métrica útil precisa apresentar os seguintes atributos: (a) ser ecologicamente relevante para o grupo biológico em estudo e para os objetivos do programa de monitoramento; (b) ser sensível ao estresse e fornecer uma resposta que pode ser distinguida da variação natural. O objetivo de utilizar métricas múltiplas é agregar a informação disponível sobre diferentes aspectos das comunidades aquáticas (Barbour et al, 1999). Todas as métricas que apresentem estas características são potenciais e devem ser testadas. As métricas costumam ser classificadas em 4 categorias: riqueza (medidas de diversidade), composição (medidas de abundância relativa), funcionais (medidas de hábito e alimentação) e tolerância (medidas de sensibilidade à perturbação). É aconselhável o uso de 21 métricas de todas as categorias no índice final, para que os diversos elementos e processos da comunidade sejam representados. A tabela 1.1 apresenta exemplos dos diferentes tipos de métricas para peixes, macroinvertebrados bentônicos, macrófitas e perifíton. Tabela 1.1: Exemplos dos diferentes tipos de métricas para peixes, macroinvertebrados, macrófitas e perifíton (adaptado de Barbour et al. 1999) Métricas de Riqueza • No total de spp. nativas • Diversidade (ShannonWeaver, Margalef) PEIXES MACROINVERTEBRADOS MACRÓFITAS PERIFÍTON • No. total de táxons • No. EPT táxons • Diversidade (Shannon, Margalef) • No. total de spp. • No. total de gêneros • Diversidade • No. total de táxons • No. de táxons de diatomáceas Métricas de Composição • Tamanho populacional • Estrutura etária da população • % de spp. pioneiras • • • • % EPT %Chironomidae %Plecoptera %Diptera • Cobertura de spp. terrestres • Cobertura de spp. anfíbias • Cobertura de spp. flutuantes • % de diatomáceas vivas • %similaridade na comunidade Métricas de Tolerância • No. e identidade de spp. tolerantes • % de ind. com tumores, doenças, anomalias Métricas Funcionais • % Onívoros • % Carnívoros de topo • No. de spp. reófilas • % Táxons dominantes • Índices sapróbicos • No. táxons sensíveis • • • • • % sp. Dominantes • No. spp. tolerantes • No. de sp. Submersas • No. de spp. Flutuantes • %Diatomáceas tolerantes • % Táxons sensíveis • %Diatomáceas aberrantes • Clorofila a • % Saprobiontes • % Eutróficos %Raspadores % Filtradores %Predadores %Fragmentadores É importante salientar que diversos trabalhos, principalmente nos trópicos, demonstraram que métricas referentes a grupamentos funcionais de macroinvertebrados podem falhar em detectar a perturbação humana (Thorne & Williams 1997, Moya et al. 2007). Isso pode ser explicado pelo fato que macroinvertebrados em rios e riachos neotropicais apresentam tendências generalistas. Isso significa que se um recurso associado a um grupamento trófico específico diminuir com o distúrbio, os macroinvetebrados podem compensar utilizando um outro recurso disponível. Sendo assim, a falta de previsibilidade desse tipo de métrica faz com que elas, muitas vezes, não possam ser utilizadas no índice 22 final. No entanto, as respostas dos grupamentos funcionais parecem mudar de acordo com tamanho de rio, biogeografia e tipo de interferência humana (Karr 1999), sendo necessário um estudo local para avaliar a sua funcionalidade. Sandin & Johnson (2000) realizaram um trabalho para avaliar o poder estatístico das métricas em detectar impactos, bem como seus coeficientes de variação espacial e temporal. De forma geral, os resultados mostraram que as métricas de riqueza parecem apresentar maior poder e menor coeficiente de variação, sendo consideradas as melhores para detecção de impactos de menor intensidade. Antes de passar para a etapa seguinte, que inclui testes estatísticos mais específicos, as métricas potenciais devem passar por análises críticas simples. Por exemplo, a inclusão da métrica “deformidade morfológica em Chironomidae” pode ser inútil se não houver disponibilidade de equipamento e/ou tempo no programa de monitoramento para analisar tal característica. Deve ser considerado também o nível taxonômico requerido pela métrica, uma vez que métricas baseadas em espécies requerem alto esforço para identificação. Além disso, as métricas devem ser compatíveis com a metodologia de coleta utilizada (Hering et al. 2006). As métricas potencias podem ser consideradas inadequadas se: (1) possuem alta variabilidade temporal e/ou espacial, não permitindo a diferenciação entre influência humana e variação natural; (2) possuem amplitude de variação muito pequena (mínimo de 0 - 2) que diminua a variação e apresentem muitos zeros na população de áreas de referência; (3) não apresentem correlação significativa com gradiente de degradação. É preciso salientar que nem todas as métricas apresentam relação monotônica com o gradiente de estresse. Métricas como “biomassa total” ou “riqueza total de táxons” podem apresentar valores maiores em 23 situações de níveis intermediários de poluição orgânica. Esse comportamento reduz a previsibilidade de resposta das métricas, diminuindo assim sua funcionalidade. Essa primeira avaliação da correlação da métrica com o gradiente de degradação é muitas vezes pouco valorizada. No entanto, é essencial para poupar trabalho nos procedimentos posteriores. Essa avaliação pode ser feita com correlações simples ou com matrizes de correlação. A forma mais utilizada é através de coeficientes de correlação de Spearman, uma vez que os dados provenientes de monitoramento biológico raramente apresentam distribuição normal (Hering et al. 2006). Entre os diversos estudos da área, o que varia bastante é o parâmetro utilizado para representar o gradiente de perturbação do ambiente. Alguns trabalhos utilizam índices que avaliam a integridade física do habitat (como o Structure index alemão) (Hering et al. 2006) ou valores de pontuação de protocolos de avaliação visual do habitat. Em matrizes de correlação de Spearman normalmente são incluídas as diversas métricas que se deseja testar e uma ampla gama de parâmetros que visam caracterizar a integridade do habitat e a qualidade química da água (i.e. % de área florestada da bacia, % de área de ocupação urbana da bacia, densidade demográfica da bacia, extensão da vegetação marginal, pH, nutrientes dissolvidos, turbidez, índices de qualidade de substrato, etc). Esse mesmo procedimento pode, e deve, ser utilizado para avaliar a correlação das métricas com medidas da variabilidade natural, como largura do rio, inclinação do canal, profundidade média do rio ou lago e vazão do rio. Métricas da comunidade de peixes, por exemplo, são comumente correlacionadas com parâmetros associados ao tamanho do rio, o que pode atrapalhar a sensibilidade destas métricas em mensurar e distinguir o impacto (McCormick et al. 2001). 24 1.2.5. Seleção das métricas centrais Existem diversos procedimentos para a escolha das métricas que irão formar o índice. Neste trabalho será apresentado primeiramente o passo-a-passo mais comum utilizado na maioria dos trabalhos. Posteriormente, serão apresentados novos testes que estão sendo inseridos neste procedimento para aumentar a confiabilidade dos resultados e a área de aplicação do índice. Até esta etapa as métricas já sofreram dois testes de validação: (1) teste da variabiliadade (amplitude), tendo que apresentar uma distribuição de valores não muito pequena e não muito grande e (2) correlação com gradiente de perturbação (positiva ou negativa). Nesta fase, as métricas serão avaliadas em mais duas etapas: (3) sensibilidade, para verificar o poder de discriminação entre área de referência e área fortemente impactada e (4) teste de redundância. Análises gráficas utilizando Box-and-whiskers plots são as ferramentas mais comuns para avaliar a capacidade das métricas de discriminar entre os diferentes graus de degradação (Barbour et al. 1996, Barbour et al. 1999, Karr & Chu. 1999). A análise gráfica neste caso é particularmente interessante porque é possível determinar em que extensão a métrica é mais sensível, bem como caracterizar o seu tipo de resposta (Vlek et al. 2004). Esta comparação é feita entre uma distribuição dos valores da métrica em um conjunto de áreas de referência e em um conjunto de áreas severamente impactadas. O grau de sobreposição entre os quartis das distribuições é o que avalia a sensibilidade da métrica (Figura 1.3). Segundo Barbour et al. (1996) as métricas podem apresentar cinco comportamentos com relação a sua sensibilidade (Figura 1.3). As métricas consideradas sensíveis são aquelas nas condições 3 ou 25 2, ou seja, com nenhuma sobreposição dos quartis ou com apenas pequena sobreposição dos quartis sem sobreposição das medianas. Figura 1.3: Avaliação da sensibilidade das métricas de acordo com Barbour et al (1996). Os quadrados pequenos representam as medianas e as caixas representam a distribuição interquartil das métricas (quartis 25 -75 %). Portanto, as métricas que apresentarem nenhum ou mínimo grau de sobreposição entre os quartis na comparação entre áreas de referência e impactadas podem ser consideradas sensíveis o suficiente para discriminar impactos na área estudada e poderiam passar para a próxima etapa de teste. No entanto, alguns estudos apontam para a necessidade da confirmação da análise gráfica com uso de testes para garantir que as distribuições são estatisticamente diferentes. Alguns trabalhos aplicam Análise de Variância univariada após transformação de dados (Whittier et al. 2007) outros utilizam teste U de Mann-Whitney (Baptista et al. 2007). Se a diferença de fato for significativa, as métricas podem então ser consideradas sensíveis. As métricas não devem apresentar informações redundantes, sendo portanto, necessário testar a correlação entre elas. Isso pode ser feito utilizando uma matriz de 26 correlação e o coeficiente de Spearman. Essa matriz deve conter, de preferência, somente valores das áreas menos impactadas para evitar a eliminação de métricas que são correlacionadas somente porque suas respostas ao estresse co-variam. Whittier et al. (2007) consideram que um par de métricas é redundante se apresentar coeficientes de correlação de Spearman maiores que 0,7 ou menores que -0,7. Hering et al. (2006) utilizam como limite o coeficiente de correlação de 0,8. Diante de um par de métricas redundantes, os critérios para escolher uma delas são os mais variados. Hering et al. (2006) excluem a métrica que apresentar maior correlação geral com as outras métricas da matriz. Whittier et al. (2007) propõem a exclusão da métrica que tiver apresentado menor sensibilidade no teste anterior, selecionando a que apresenta maior F (do teste F) ou o menor p. A abordagem tradicional de desenvolvimento de índices multimétricos considera que as métricas aprovadas nos testes descritos acima podem integrar um bom índice multimétrico. No entanto, literatura mais recente sugere que testes complementares são necessários para aumentar a acurácia e a precisão dos índices, bem como para aumentar sua estabilidade espacial e temporal (Moya et al. 2007, Whittier et al. 2007). Sendo assim, serão apresentados a seguir três testes complementares: (5) teste da estabilidade temporal das métricas; (6) teste da relação entre sinal e ruído (Signal-to-Noise) e (7) Correlação com gradientes naturais. É importante que o índice possa ser utilizado em diferentes estações do ano, portanto, sendo necessário que as métricas sejam estáveis temporalmente. Em clima temperado, onde as estações são bem marcadas e muitas vezes a comunidade muda muito ao longo do ano, nem sempre é possível utilizar as mesmas métricas ao longo do ano todo. Além disso, nem todos os programa de monitoramento biológico realizam coleta em mais de uma estação. No 27 entanto, é possível testar a estabilidade temporal das métricas com análises simples, em um procedimento semelhante ao teste de sensibilidade das métricas. Para essa finalidade, é necessário coletar a biota nos mesmos locais, em diferentes épocas de um mesmo ano e realizar uma análise gráfica utilizando os valores das métricas como um Box-&-Whiskers Plots associado a um teste para verificar a significância da diferença. Para assumir que a métrica é temporalmente estável, a diferença entre os valores das mesmas nas diferentes estações não deve ser significativa (Figura 1.4). Baptista et al. (2007) testaram em riachos de Mata Atlântica a estabilidade das métricas selecionadas em três épocas do ano e verificaram que todas possuíam relativa estabilidade ao longo do ano (Figura 1.4). Figura 1.4: Verificação da estabilidade temporal das métricas em pequenos riachos da Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro (adaptado de Baptista et al. 2007) A relação Sinal/Ruído é a taxa de variação entre os pontos de coleta (Sinal) e a variância de visitas repetidas ao mesmo ponto (Ruído, que inclui tanto a variação natural quanto erros amostrais). Este recente tipo de avaliação é utilizada em programas de monitoramento nos EUA que já possuem um banco de dados grande com longa sequência 28 temporal e consiste em uma medida da repetibilidade ou precisão de uma métrica (Whittier et al. 2007). Uma relação Sinal/Ruído igual a 1 significa que uma métrica apresenta a mesma variabilidade interna de um ponto (com o tempo) e entre os locais de coleta (no espaço), portanto não é capaz de distinguir bem entre os locais de coleta. É preciso salientar que este é um teste que necessita de bancos de dados grandes e robustos e que pode ser severo demais para dados de áreas pequenas e com pequena série temporal. Whittier et al. (2007) rejeitam apenas as métricas que provoquem muito ruído, rejeitando aquelas com valores de S:R menores que 3, ou seja, aquelas em que a variância interna do ponto no tempo é maior ou igual a 1/3 da variância entre os pontos. Em programas de monitoramento de larga escala, que abrangem grandes áreas, com muitos pontos de avaliação, aparece o problema da heterogeneidade espacial. Algumas métricas podem ser correlacionadas com gradientes naturais da paisagem e é preciso avaliar essas relações sem o efeito covariante da influência humana. Esses gradientes naturais podem incluir parâmetros como temperatura, altitude, tamanho do rio, área da bacia hidrográfica, inclinação, área do espelho d’água em lagos, etc. Para isolar o efeito desses gradientes naturais é possível corrigir as métricas que se correlacionem significativamente com as variáveis naturais. Essa não é uma abordagem ainda muito comum, mas diversos trabalhos vêm apontando para a necessidade dessa avaliação na tentativa de aumentar a área de aplicação dos índices (Oberdorff et al., 2001, Oberdorff et al. 2002, Pont et al. 2006, Whittier et al. 2007). Pont et al. (2006) apresentaram uma ousada tentativa de desenvolver um único índice para todos os países europeus participantes do AQEM a partir de modelagens das métricas em função dos gradientes naturais. 29 1.2.6. Definição dos limites para classificação e pontuação das classes de qualidade As métricas podem representar uma variada gama de características biológicas, incluindo riqueza de táxons, tolerância à poluição, composição taxonômica e hábitos alimentares. Os valores brutos das métricas não podem ser diretamente utilizados para calcular o índice, pois diferem na amplitude de seus valores, unidades e na sua relação com o gradiente de impacto. Os valores das métricas devem então ser convertidos em números sem unidade para permitir que sejam combinados em um único valor final do índice. Através deste procedimento as métricas são normalizadas para a mesma amplitude de variação e, ao mesmo tempo, são avaliadas em relação a sua sensibilidade ao impacto humano (Böhmer et al. 2004). Diversos métodos de padronização de valores de métricas já foram descritos e a escolha desse método pode influenciar a sensibilidade final do índice, uma vez que as distribuições dos valores originais das métricas podem ser alteradas (Blocksom 2003). Sendo assim, a relação entre os valores das métricas e o gradiente de distúrbio pode ser enfraquecida ou fortalecida pelo método escolhido no processo de pontuação. Poucas pesquisas foram feitas no sentido de avaliar diretamente a influência desta etapa de padronização das métricas na habilidade final de mensuração do índice. Blocksom (2003) apresenta um detalhado estudo sobre esta etapa do “metric scoring”, tratado aqui como pontuação ou padronização de métricas, comparando métodos diferentes de realizar esta etapa. Os métodos de pontuação das métricas podem diferir em função do tipo de escala utilizada (discreta ou contínua) e em função do rigor utilizado na definição dos valores esperados para as áreas de referência. Originalmente, a pontuação e normalização das métricas era feita de forma discreta, atribuindo um valor 5 aos valores da condição de 30 referência, valor 3 para aqueles com um desvio médio do valor esperado para áreas naturais (intermediários) e um valor 1 para situações com grande desvio em relação a expectativa (Karr & Chu 1999). Atualmente diversos programas de biomonitoramento ainda utilizam índices desenvolvidos a partir de padronização discreta das métricas. No entanto tem se buscado a utilização de quatro ao invés de apenas três categorias. Neste procedimento é importante notar que as métricas podem responder positiva ou negativamente a um gradiente de impacto. Sendo assim, é preciso estabelecer critérios para duas situações diferentes: métricas que decrescem com aumento de impacto (chamadas também de métricas de pontuação positiva) e métricas que crescem em valor com aumento do impacto (métricas de pontuação negativa). Os critérios devem funcionar de forma inversa nessas duas situações. A Figura 1.5 mostra dois exemplos de padronização de métricas de forma discreta. O primeiro (A) mostra a forma utilizada por Barbour et al. (1996) que consiste em uma pequena adaptação do modelo original de Karr (1981). Estes autores utilizaram a distribuição da freqüência de todas as suas áreas de referência como base para o estabelecimento de critérios de pontuação. Eles estabeleceram, para métricas que decrescem com impacto, que o percentil 25 deve ser utilizado como divisor da categoria de maior pontuação chamado de “limite superior”. Para métricas que crescem com intensificação do impacto é utilizado o percentil 75 como limite superior e a valores abaixo dele é atribuída a maior pontuação. A pior pontuação (1) é atribuída aos valores que não entram na distribuição das áreas de referência. O segundo exemplo foi desenvolvido na EPA-OHIO (EUA) em 1987 e leva também em consideração apenas a distribuição dos valores da métrica nas áreas de referência. No entanto, esse modelo utiliza quatro categorias de pontuação ao invés de três. Isso deve atribuir 31 ao índice um pouco mais de refinamento e pode fornecer um resultado mais rico para a interpretação biológica. A dinâmica da pontuação é realizada através da definição do limite superior da distribuição dos valores de áreas de referência (75 no caso de métricas que decrescem com impacto e 25 no caso das que crescem) e posterior divisão do restante da distribuição em três partes iguais. Este segundo passo é realizado considerando a distribuição de todos os pontos de coleta e não mais somente as áreas de referência. Exemplos do método DISCRETO de padronização de métricas (A) Barbour e colaboradores (1996) * * Valor da métrica Decresce com Impacto 75 5 25 Valor da métrica Aumenta com Impacto (B) Ohio EPA (1987) * * 75 6 1 3 5 * 75 Valor da métrica Decresce com Impacto * 4 25 75 10 25 2 3 * 1 25 * * 0 10 * Limite superior = 25º percentil (áreas de referência) Limite superior = 75º percentil (áreas de referência) Áreas Impactadas Áreas de Referência Limite superior = 75º percentil das áreas de referência Figura 1.5: Exemplos de métodos discretos no processo de padronização das métricas para montagem de um índice multimétrico Já a pontuação contínua é dada a partir da escolha de limites superiores e inferiores que representam a expectativa do valor da métrica, baseados na distribuição dos valores da mesma. Os valores observados entre os limites estabelecidos são pontuados de forma contínua como frações do valor esperado. Normalmente esses valores são escalonados em amplitudes de 0 a 1, 0 a 10 ou 0 a 100 através de interpolação linear com os limites da distribuição. Em 32 métricas que decrescem com impacto, o menor valor (0) é obtido através do percentil 5 dos valores nas áreas impactadas e o maior valor (1, 10 ou 100) equivale ao percentil 95 dos valores das áreas de referência. Para métricas que aumentam com impacto, o contrário é realizado. A utilização dos percentis 5 e 95 é importante para a exclusão de eventuais valores extremos que prejudiquem a correta interpretação da métrica. A Figura 1.6 mostra dois exemplos de padronização contínua de métricas. O primeiro exemplo (A) mostra o cálculo realizado por Klemm et al. (2003) que resulta em métricas variando de 1 a 10. A fórmula utilizada é a mais comum entre os trabalhos que utilizam padronização contínua de métricas e muitos índices vêm sendo recalibrados utilizando esse tipo de pontuação das métricas (Hughes et al. 1998). O segundo exemplo é de um índice desenvolvido para rios pequenos da Virginia (EUA). Para esse cálculo devem ser utilizados os valores de todos os pontos de coleta e não somente os dados das áreas de referência. Na fórmula não é considerado o limite inferior da distribuição e as métricas são normalizadas já na fórmula, resultando em métricas que variam de 0 a 100. Exemplos de método CONTÍNUO de padronização de métricas (A) Klemm et al. (2003) (B) TetraTech (EPA – Virginia) (2000) Valor da métrica observado x 100 Valor da métrica observado – Limite Inferior X 10 Limite Superior – Limite Inferior Métricas que decrescem com impacto: - Limite superior = 75º percentil das áreas de referência - Limite inferior = 25º percentil das áreas impactadas Métricas que crescem com impacto: - Limite superior = 25º percentil das áreas de referência - Limite inferior = 75º percentil das áreas impactadas Limite Superior Métricas que decrescem com impacto: - Limite superior = 95º percentil de todos os pontos de coleta - Limite inferior = zero Métricas que crescem com impacto: - Limite superior = 5º de todos os pontos de coleta - Limite inferior = 100 ou máximo possível 33 Figura 1.6: Exemplos de métodos contínuos no processo de padronização das métricas para montagem de um índice multimétrico. Atualmente, a maioria dos trabalhos utiliza métodos contínuos de padronização das métricas (Hughes et al. 1998, McCormick et al. 2001, Klemm et al. 2003, Hering et al. 2006, Whittier et al. 2007). Blocksom (2003) comparou diferentes métodos de pontuação das métricas e aponta que os métodos contínuos baseados na distribuição de todos os pontos e não só nas áreas de referência conferem maior sensibilidade e estabilidade ao índice. Os resultados indicaram também que a escolha do método de padronização afeta mais a variabilidade do índice que sua sensibilidade ao gradiente de estresse. A normalização das métricas é um procedimento crucial no desenvolvimento de um índice multimétrico que garante a possibilidade de agregação das métricas em um só valor final. Essa agregação simplifica a informação fornecida pelo índice e facilita o manejo, uma vez que um único valor do índice pode apontar para a ação necessária. No entanto, a exata natureza dessa ação (restauração, tratamento de efluentes, mitigação) não é determinada pelo valor final do índice e sim pela análise das métricas que o compõem (Barbour et al. 1999). 1.2.7. Formação do índice O valor que um índice multimétrico fornece para um determinado ponto de coleta é a soma dos escores das métricas e vai depender fortemente da etapa de seleção e normalização das métricas, uma vez que depende do número de métricas escolhidas e da amplitude de variação das mesmas. Essa soma das métricas pode ser subdividida em várias categorias que devem corresponder a diferentes níveis de degradação. 34 McCormick et al. (2001) desenvolveram um índice multimétrico para áreas de altitude do oeste dos EUA e optaram por pontuar suas nove métricas de forma contínua fazendo com que variassem de 1 a 10. Para agregar as métricas em um único índice variando de 0 a 100, eles somaram o valor de cada uma das nove métricas, multiplicado por 1,1. Böhmer et al. (2004) também normalizaram suas métricas de forma contínua, fazendo com que elas variassem de 0 a 1. O valor do índice final nesse caso foi a média aritmética das métricas normalizadas, criando 5 classes de qualidade cada uma com 0,2 de amplitude. Os autores argumentam que se há no índice final um mesmo número de métricas de cada tipo (riqueza, composição, tolerância, funcional), o índice pode ser calculado pela média aritmética dos valores das métricas. No entanto, se há uma desproporção dos tipos de métricas no índice final, podem ser aplicados fatores que atribuem diferentes pesos às métricas para que cada grupo de métrica tenha a mesma influência no valor final do índice multimétrico. No caso de métricas padronizadas de forma categórica a agregação também vai depender do número de métricas que compõem o índice e do número de escores atribuídos. Por exemplo, se forem atribuídos escores 5, 3 e 1 e o índice possui dez métricas, o maior valor possível é 50 (10x5) e o menor é 10 (10x1). Isso fornece uma amplitude de 40 que deve ser subdividida nas classes de qualidade desejadas. Baptista et al. (2007) desenvolveram um índice multimétrico para rios de montanha da Serra dos Órgãos (RJ) onde foram selecionadas seis métricas que foram padronizadas de forma discreta utilizando scores 5, 3 e 1. A variação final do índice foi de 6 a 30 e essa amplitude foi dividida em 4 classes de qualidade. A divisão entre as classes de qualidade deve ser realizada mantendo a mesma amplitude de variação para cada classe. 35 Hering et al. (2006) descrevem a formação de um índice multimétrico impactoespecífico, que deve ser utilizado para avaliar apenas um tipo de distúrbio como, por exemplo, poluição orgânica. O procedimento geral é basicamente o mesmo, no entanto em todos os passos deve-se separar as variáveis ambientais e as métricas que respondem especificamente aos diferentes tipos de distúrbio. Isso gera uma lista de métricas centrais para cada tipo de impacto, que devem então ser normalizadas e combinadas como já descrito acima. O resultado fornecido pelo índice multimétrico pode ser facilmente interpretado, o que é tido como grande vantagem dessa forma de bioavaliação. No entanto, é preciso atenção nessa interpretação para que se possa distinguir os parâmetros que estão gerando as respostas observadas, ou seja, para avaliar a que tipo de distúrbio as métricas estão respondendo. É necessária avaliação constante da sensibilidade e estabilidade temporal do índice para evitar erros de interpretação. É possível que ao longo do tempo e espaço as métricas tenham que ser reajustadas ou até trocadas em função da variabilidade natural inerente aos ecossistemas e/ou em função de disponibilidade de conhecimentos taxonômicos do grupo bioindicador utilizado. 1.3. Ampliação da área de aplicação do índice – Modelagem das métricas Uma grande dificuldade em identificar quais métricas respondem melhor ao impacto humano é que essas métricas também apresentam padrões de variação natural. Sendo assim, é necessário muitas vezes avaliar se a métrica apresenta correlação com um gradiente natural e ajustá-la antes de analisar sua relação com o gradiente de impacto (Moya et al. 2007). Isso normalmente não é realizado no desenvolvimento de índices multimétricos (Marques & Barbosa 2001, Silveira et al. 2005), o que, apesar de não invalidar o índice desenvolvido, reduz a sua confiabilidade. Sendo assim, para que o índice possua aplicação nas mais variadas 36 condições naturais (eg. altitude, tamanho do rio, área da bacia) é preciso ajustar as métricas para garantir que essas estejam respondendo ao gradiente de impacto e não às variações naturais. Esse limite metodológico tem sido corrigido em muitos novos índices multimétricos que procuram incluir diversas fontes de variações regionais na estrutura da comunidade e nas condições naturais (Oberdorff et al. 2002, Pont et al. 2006, Moya et al. 2007). Em muitos trabalhos, se observa que as métricas para comunidades de peixes possuem correlação forte com a área da bacia. McCormick et al. (2001) realizaram a normalização das métricas para uma bacia de 100 km2 a partir do seguinte procedimento: é calculada a equação da regressão das métricas com a área da bacia (área em km2 transformadas por log10) somente para as áreas de referência. Depois, essa equação da regressão para as áreas de referência é aplicada para todos os pontos e são calculados os resíduos para cada ponto. Assim, determinase o valor esperado para uma área de referência em uma área padronizada de bacia de 100 km2 e aplica-se essa constante para todos os resíduos. Isso resulta em todos os valores das métricas sendo positivos. É possível realizar esse tipo de correção por resíduos para os mais diversos parâmetros, como altitude, inclinação, tamanho de rio, entre outros, no entanto essa análise deve ser feita individualmente para cada métrica e para cada fator de correção. Trabalhos mais recentes apresentam uma metodologia para correção das métricas em relação a diversos parâmetros de variação natural ao mesmo tempo através da criação de um modelo preditivo baseado em regressão múltipla (Oberdorff et al. 2002, Pont et al. 2006, Moya et al. 2007). Pont et al. (2006) apresentam um índice único planificado que pode ser utilizado em toda a Europa. O índice é resultado de uma modelagem das métricas em relação a diferentes variáveis naturais, (e.g. altitude, geologia, inclinação), usando modelos de regressão múltipla e utilizando os valores dos resíduos das métricas para a montagem do 37 índice. Esse procedimento aumenta a eficiência do índice em detectar alterações menores provocadas por atividade humana e potencializa seu uso por permitir aplicação em maior escala geográfica (ver Tejerina-Garro et al. 2005 para discussão sobre o assunto). 1.4. Conclusão O desenvolvimento de índices multimétricos envolve diversas etapas nas quais devem ser sempre considerados critérios que garantam acurácia, precisão e aplicabilidade do índice. Durante o processo de elaboração do índice deve-se considerar as especificidades da área em questão e do grupo biológico utilizado para escolher os métodos adequados em cada etapa, levando em conta que a ferramenta deve ser exeqüível no contexto de um programa de biomonitoramento de rotina. As metodologias descritas acima vêm sendo constantemente discutidas, modificadas e a literatura recente traz novas etapas que devem ser incorporadas no processo de elaboração da ferramenta. Os índices multimétricos são largamente utilizados em diversos programas de biomonitoramento e vêm sendo adaptados e desenvolvidos em pequena escala em diversos locais que ainda não possuem programas efetivos de bioavaliação. Um bom índice multimétrico pode ser desenvolvido no tempo hábil de uma tese de mestrado e pode representar um princípio da iniciativa de programas de monitoramento e conservação da integridade de ecossistemas aquáticos. No Brasil, onde o biomonitoramento não é obrigado por lei, muitas vezes é a falta da ferramenta, e não necessariamente a falta de vontade política, que faz com que o monitoramento da qualidade da água continue sendo feito exclusivamente com base nos parâmetros físico-quimicos. O monitoramento biológico representa uma profunda mudança no pensamento porque põe a vida, e não as características químicas, no centro das questões do manejo das águas. Esta é uma mudança de paradigma da qualidade de 38 água para a integridade ecológica dos ecossistemas aquáticos e é urgente a sensibilização do poder público e da comunidade para a grande importância dessa mudança de conceito. O monitoramento biológico deve ser considerado hoje ação primordial para a manutenção dos recursos hídricos, uma vez que a biota é o melhor indicador da relação dos humanos com a água. Se nós entendermos bem essa relação, podemos medir nossas ações para garantir a conservação da integridade dos recursos hídricos no planeta que é absolutamente crucial para a manutenção da vida (Karr & Chu 2000). Nesse contexto, os índices multimétricos ganham força por representar uma ferramenta altamente aplicável em diversas condições e por fornecer resultados que comunicam a um público mais amplo. A comunicação efetiva das condições dos sistemas biológicos para os diversos setores da sociedade pode transformar o biomonitoramento de um exercício acadêmico e restrito, em uma ferramenta efetiva para o manejo e a conservação dos corpos hídricos (Karr 1999). Nesse contexto, é preciso que haja um esforço conjunto no sentindo de desenvolver as ferramentas necessárias para o estabelecimento de um programa protocolado de biomonitoramento da integridade ecológica dos ecossistemas aquáticos. Essa iniciativa deve envolver estudos de comparação de metodologia básica, como ferramentas de coleta, protocolos de campo, tipologia de ecossistemas, ecorregiões, etc. As dimensões continentais do Brasil exigem que sejam desenvolvidos diferentes protocolos de biomonitoramento nas diferentes áreas. No entanto, as iniciativas em menor escala, como estaduais ou regionais, podem ser um grande avanço para a implementação de programas de bioavaliação. No contexto do monitoramento biológico, nosso papel, como pesquisadores no momento, é gerar as ferramentas e colocá-las a disposição para uso do poder público e benefício da sociedade e da vida em geral. 39 Capítulo 2 40 2. Definição do esforço de subamostragem para o desenvolvimento de um índice multimétrico rápido baseado na comunidade de macroinvertebrados bentônicos 2.1. Introdução O monitoramento biológico é um dos componentes principais na gestão de recursos hídricos e para a conservação da integridade ecológica dos ecossistemas aquáticos (Karr 1991, Rosenberg & Resh 1993, Karr & Chu 1999). Nesse contexto, os protocolos de avaliação rápida têm sido desenvolvidos como ferramentas simples e de baixo custo de aplicação para avaliar a saúde dos ecossistemas aquáticos (Plafkin et al. 1989). Esses protocolos combinam equipamentos de campo simples e baratos com técnicas de processamento otimizado de tratamento das amostras em laboratório. Na América latina o interesse pela aplicação do monitoramento biológico vem crescendo e, consequentemente, foram realizados diversos trabalhos para desenvolver ferramentas nos últimos anos (Araújo et al. 2003; Bozzeti & Schulz 2004; Baptista et al. 2007; Moya et al. 2007). No entanto, são ainda escassos ou inexistentes estudos que visam o teste de metodologias, comparando diferentes maneiras de execução das diferentes etapas envolvidas no desenvolvimento de protocolos de bioavaliação (Buss & Borges 2008). Para aplicação do biomonitoramento, atualmente, existem diversas metodologias e protocolos, dentre os quais os índices multimétricos têm recebido destaque e são utilizados como ferramenta padrão nos Estados Unidos de América (EUA) e na União Européia (UE). A abordagem multimétrica, diferentemente de outras abordagens, permite a integração de informações dos vários aspectos de uma comunidade para fornecer uma classificação geral do 41 nível de degradação do ecossistema, sem perder a informação proveniente das métricas individuais. Apesar de existirem índices multimétricos já desenvolvidos em muitos países, e utilizados nos programas de biomonitoramento, ainda não há consenso quanto à problemática que envolve a questão da relação custo-benefício das simplificações dos métodos que se fazem necessárias para tornar uma ferramenta aplicável, minimizando a perda de rigor científico (Cao et al. 1998, Karr 1998, Stroom & Richards 1999). As simplificações de métodos para definir um protocolo de bioavaliação aplicável podem ser realizadas em diferentes etapas do processo, como por exemplo a resolução taxonômica e o uso de dados qualitativos ao invés de quantitativos (Melo, 2005). No entanto, a subamostragem é a simplificação mais utilizada na prática, principalmente na utilização de macroinvertebrados e algas como bioindicadores. Haase e colaboradores (2004) realizaram um estudo comparativo entre diferentes protocolos de amostragem, triagem e identificação de macroinvertebrados e demonstraram que os protocolos mais simples, porém bem padronizados, podem gerar resultados tão confiáveis quanto os gerados por protocolos mais complexos. Nos protocolos de avaliação biológica dos EUA e da UE é recomendada uma metodologia que implica um grande esforço na fase de coleta de amostras para que essas representem toda a heterogeneidade de habitats e, consequentemente, toda a diversidade de organismos e posterior subamotragem para que apenas parte dos organismos sejam identificados (Barbour et al. 1999, AQEM 2002). Os conflitos de como realizar a subamostragem e qual o esforço ótimo no sentido de acelerar a avaliação sem comprometer a validade ecológica da resposta são assuntos recorrentes na literatura (Barbour & Gerritsen 1996, Countermanch 1996, Doberstein et al. 42 2000, Nichols & Norris 2006). A subamostragem pode, por exemplo, ser realizada em campo ou em laboratório. Nichols & Norris (2006) compararam o procedimento de triagem dos organismos no campo dos organismos com o de subamostragem em laboratório evidenciando diferenças de avaliação final. Do ponto de vista metodológico, existem duas formas de realizar a subamostragem em laboratório: por contagem de número fixo e por área. A subamostragem por número fixo estabelece previamente o número de indivíduos que serão identificados. Barbour & Gerritsen (1996) defendem este procedimento, argumentando que o objetivo principal de um programa de biomonitoramento é avaliar a condição dos locais, e isso pode ser perfeitamente obtido através da contagem de um número fixo de indivíduos, mesmo que sejam excluídos alguns táxons mais raros. Para a utilização da contagem de número fixo há ainda controvérsia relativa à quantidade de espécimes a serem utilizados. Alguns trabalhos evidenciaram que um número mínimo de 100 espécimes são suficientes para avaliar a condição ecológica (Barbour & Gerritsen 1996, Vinson & Hawkins 1996) contanto que a amostra represente a diversidade de organismos do local. Protocolos de avaliação rápida dos EUA (Plafkin et al. 1989, Barbour et al. 1999) recomendam tradicionalmente a subamostragem pela contagem de número fixo (tanto em campo como em laboratório). Doberstein e colaboradores (2000) fazem uma análise comparada de tamanhos de subamostras e revelaram a fragilidade de amostras muito pequenas. Nesses protocolos de amostragem por número fixo o número mínimo de organsimos recomendado para garantir eficiência de avaliação varia entre 100 (Somers et al. 1998, Barbour et al. 1996), 200 (Norris et al. 1995, King & Richardson 2002) ou mais de 300 (Doberstein et al. 2000). Lorenz e colaboradores (2004), utilizando simulações de diversos 43 tamanhos de subamostras, indicam a utilização de no mínimo 300 indivíduos para evitar instabilidade das métricas do índice e fornecer resultados confiáveis para avaliação. Countermanch (1996), no entanto, argumenta que uso de número fixo de organismos destrói qualquer consistência de tamanho de amostra, e faz com que se perca a informação de riqueza por unidade de amostra, além de perder a estimativa da densidade de táxons por unidade de amostra não permitindo a comparação entre áreas com diferentes níveis de integridade ecológica. A subamostragem por área garante a aleatoriedade do procedimento, tornando-o menos subjetivo e menos sujeito às variações inerentes à mudança de equipe. A subamostragem por área é procedimento padrão sugerido pelo programa europeu denominado “Desenvolvimento e teste de um programa de avaliação integrada da qualidade ecológica de rios e riachos na Europa usando macroinvertebrados bentônicos” (AQEM), no qual são utilizadas bandejas divididas em setores, denominados de quadrats e é então triado 25% da amostra total com um mínimo de 500 espécimes (Hering et al. 2004). Um dos maiores problemas associados à subamostragem, em geral, é a questão da riqueza de espécies, que é relacionada à área analisada, variando de forma assintótica devido ao fenômeno da relação espécie área representado pela curva do coletor. Sendo assim, é sempre esperado que com aumento de área analisada se obtenha uma riqueza maior de espécies. Clarke e colaboradores (2006) estudaram o efeito da subamostragem diretamente nas métricas de diferentes tipos e verificaram que a precisão das medidas baseadas na riqueza de táxons é afetada pelo tamanho da subamostra. As métricas baseadas em abundâncias relativas são menos dependentes do número de espécimes contados na amostra. 44 Estudos que relacionam diretamente a precisão das métricas com o tamanho das subamostras são de extrema importância uma vez que esta é diretamente relacionada ao custo de aplicação e que as métricas são a base da avaliação biológica dos programas de biomonitoramento que utilizam índices multimétricos. A instabilidade das métricas pode ter consequência direta no resultado prático da avaliação e, consequentemente, do manejo e conservação dos ecossitemas (Lenat & Barbour 1994). Sendo assim, são necessários estudos de comparação de metodologias para encontrar a melhor relação custo-benefício que permita a aplicabilidade da ferramenta, sem perda de rigor científico. A subamostragem é um procedimento, largamente utilizado nestes protocolos, que permite a avaliação de uma parcela da amostra coligida em campo que represente a heterogenidade e diversidade dos habitats amostrados. No entanto esta técnica permanece controversa e em fase de discussão nos países que as utilizam em seus programas de biomonitoramento (Barbour & Gerritsen 1996; Countermanch 1996; Somers et al. 1998; Doberstein 2000; Lorenz et al. 2004). 2.2. Objetivos O objetivo do presente trabalho é estabelecer um procedimento de subamostragem de macroinvertebrados bentônicos para o desenvolvimento de um índice multimétrico para avaliação da integridade ecológica de riachos montanhosos. Os objetivos específicos são: (a) verificar a eficiência do aparato de subamostragem desenvolvido (b) estudar a relação entre a riqueza de macroinvertebrados e a área amostrada; (c) verificar a influência do tamanho da subamostra em medidas biológicas de diferentes tipos; (d) definir o esforço mínimo, em 45 número de quadrats, necessário para o estabelecimento de um protocolo padrão de avaliação biológica baseado em índices multimétricos. 2.3. Materiais e Métodos 2.3.1.Coleta dos organismos Para esta avaliação da subamostragem e definição do esforço necessário para o posterior desenvolvimento do índice multimétrico, foram utilizados dados de 6 riachos considerados como áreas minimamente impactadas (Referências). A amostragem foi realizada na estação chuvosa, no mês de Janeiro de 2007. Os riachos estão localizados na bacia dos rios Macacu e Guapimirim, uma área de Floresta Ombrófila densa, pertencente ao domínio da Mata Atlântica, na Serra do Mar, estado do Rio de Janeiro (Tabela 2.1). Os critérios para definição de áreas de referência a priori foram: protocolo de avaliação visual de habitat com condição ótima ou boa; mais de 75% da área da bacia acima do ponto de coleta florestada; oxigênio dissolvido acima de 6 mg/L; coliformes fecais/100 mL <10. Para o procedimento de coleta utilizou-se um método do tipo multi-habitat, com coleta proporcional à disponibilidade do substrato no trecho do rio estudado. Foi utilizado amostrador do tipo kick com malha de 500µm. A amostra era composta de 20 retiradas, correspondentes a uma área amostral total de 20 m2 de substrato, sendo que cada um correspondia a um (1) m2 de subsrato coligido. A amostra foi unificada e conservada em etanol 80%. Nos 6 riachos estudados a coleta foi realizada pela mesma equipe e buscou-se máxima padronização do procedimento. 46 Tabela 2.1: Caracterização dos 6 riachos coletados Longitude (geo/wgs84) 42o 35’ 8.28’’ W Latitude (geo/wgs84) 22o 25’ 3.37’’ S Ótima 42o 59’ 57’’ W 22o 29’ 36.4’’S 80 Ótima 42o 44’ 16.70’’W 22o 24’ 59.9’’ S 1 1220 Ótima 42o 59’ 47.48’’ W 22o 28’ 2.54’’ S E 1 1100 Boa 42o 34’ 17.04’’ W 22o 22’ 46.3’’ S F 3 90 Boa 42o 45’ 31.37’’ W 22o 26’ 7.95’’ S Rios Código Ordem Altitude (m) Rio do Andrew A 2 930 Protocolo de Avaliação Visual Ótima Rio Soberbo B 3 100 Rio Manoel Alexandre Rio Iconha C 4 D Tributário Macacu (Rio da Placa) Rio do Gato 2.3.2. Procedimento de subamostragem O presente trabalho considerou a subamostragem por área e para isso foi desenvolvido um aparato de subamostragem, de dimensão total 64x36 cm, dividido em 24 quadrats (Figura 2.1). Cada quadrat mede 10,5x8,5cm, com área de aproximadamente 90 cm2. Figura 2.1: Bandeja de Subamostragem. As amostras foram lavadas em laboratório na bandeja do aparato de subamostragem para a retirada do material mais grosseiro, como folhas grandes e galhos. Após isso, a bandeja foi preenchida com cerca de 15 litros de água e o material homogeneizado por 1 minuto para assegurar a distribuição uniforme de toda a amostra na superfície da bandeja. A água foi 47 removida da bandeja e os separadores de alumínio posicionados gerando os 24 quadrats. O material correspondente a cada quadrat foi retirado e acondicionado em sacos plásticos. Esse procedimento foi repetido para os 6 pontos amostrais resultando em 144 subamostras (24 x 6). Considerando que cada amostra de um rio representa 20 m2 de substrato coletado, cada quadrat equivale então a 0,83 m2 (20/24) e a aproximadamente 4,2% da amostra total coletada. Cada quadrat foi então triado para retirada de todos os organismos presentes e os organismos identificados, com auxílio de microscópio estereoscópio, em nível de gênero (exceto as ordens Lepidoptera, Hemiptera e Diptera que foram identificados em nível de família). Neste trabalho este conjunto de táxons será tratado como Unidades Taxonômicas Operacionais (UTOs). Neste processo de trabalho foi contabilizado o tempo de processamento (triagem e identificação) de cada quadrat, para verificar o ganho, em termos de tempo e, consequentemente os recursos economizados pelo procedimento de subamostragem. 2.3.3. Análise de dados Com finalidade de indicar qual procedimento de subamostragem e qual esforço deverá ser utilizado para garantir a aplicabilidade sem perder o rigor científico do índice multimétrico foi realizada a análise dos dados com o objetivo de verificar cinco aspectos: (a) se o procedimento e o aparato de subamostragem garantem a distribuição aleatória dos organismos, evitando ao máximo que organismos não sejam amostrados por falha no procedimento de homogeneização da amostra; (b) qual o esforço necessário, em termos de riqueza de táxons, em número de quadrats, para garantir a avaliação correta desse aspecto da comunidade; (c) como as medidas biológicas, métricas, são influenciadas pelos diferentes tamanhos de subamostras; (d) quão similares, em termos de composição e estrutura são 48 diferentes tamanhos de subamostras (e) testar se o esforço determinado pelas análises anteriores confere sensibilidade às medidas biológicas para detectar alterações na comunidade. Para verificar se o procedimento de subamostragem utilizado e o aparato desenvolvido garantem a distribuição aleatória dos organismos, descartando assim a possibilidade de erros metodológicos, foi utilizada a distribuição de Poisson, calculando um Índice de dispersão com posterior teste de X2. Se o padrão de distribuição dos táxons na bandeja for de fato aleatório, a distribuição de Poisson é o descritor estatístico apropriado para os dados (Krebs 1998). Para testar se os táxons possuem distribuição aleatória nos quadrats foi realizado um teste pelo Índice de Dispersão (Krebs 1998). O Índice de dispersão é calculado através da razão entre a variância observada e a média observada. É então aplicado um teste de Quiquadrado bi-caudal, considerando a hipótese nula que os dados seguem a distribuição de Poisson. O X2 é calculado através da multiplicação do valor do índice de dispersão pelo número de graus de liberdade (n-1). Existem duas possíveis direções de desvio do Índice de dispersão. Se os organismos forem uniformemente distribuídos, a variância será bem menor que a média e o Índice de dispersão se aproximará de zero. Se os organismos estiverem agregados, a variância observada será maior que a média e o Índice de dispersão será bem maior que 1 (um) (Krebs 1998) (Figura 2.2). Portanto, a distribuição aleatória dos organismos acarreta em um Índice de dispersão em torno de 1. Considerando α=0,05, e 23 graus de liberdade, os valores de X2 , nesse caso, devem estar entre 11 e 37 para que a hipótese de distribuição aleatória possa ser aceita. 49 Valor do Qui-Quadrado P a d rã o a g re g ad o ão d r rio P a at ó e al P a d rã o U n ifo rm e G ra us d e L ib e rad a de Figura 2.2: Valores críticos do teste de QuiQuadrado do Índice de dispersão para α=0,05 e n<101 (adaptado de Krebs 1998). A análise da suficiência amostral em termos de riqueza foi realizada primeiramente através do método proposto por Pielou (1977), denominado de curva do coletor, considerando a riqueza acumulada com o aumento de um quadrat na amostra. A ordem de disposição dos quadrats, utilizados para a construção da curva do coletor, foi determinada através de aleatorização dos dados. Foram calculadas as médias e os desvios padrões para a riqueza acumulada em cada quadrat em UTO e em família nos 6 riachos. A análise pela curva do coletor é limitada por depender da abundância geral de cada uma das 6 amostras, portanto, para eliminar o efeito da diferença de abundância total na riqueza, foram realizadas análises de rarefação para os 6 pontos. Foi realizada uma curva de rarefação para cada um dos pontos considerando amostras de 100 a 1600 espécimes, para verificar a riqueza esperada para cada um desses tamanhos de subamostras. Os valores de riqueza esperada obtidos pela análise de rarefação permitiram avaliar o potencial incremento da riqueza de táxons com o aumento do número de espécimes incluídos na subamostra. A fim de verificar o efeito do tamanho da amostra nos diferentes tipos de métricas foram consideradas sub-comunidades de 4, 6, 8, 12 e 24 quadrats, geradas aleatoriamente por 50 mecanismos de reamostragem com reposição. Para cada um foi calculado o valor das seguintes métricas: Riqueza Total, Riqueza em Famílias, Riqueza de EPT e Diversidade de Shannon (métricas de diversidade); % Diptera, % Plecoptera, % Coleoptera e %EPT (métricas de composição); % Filtradores e % Fragmentadores (Métricas funcionais); Índice Biótico Estendido (IBE-IOC) (Mugnai et al. 2008) e Baetidae/Ephemeroptera (métricas de tolerância). Os valores das métricas foram então comparados através de gráficos de BoxPlots. Foi realizada uma análise de similaridade para verificar quão parecidas com a amostra total de 24 quadrats são subcomunidades de diferentes tamanhos. O procedimento foi realizado para cada rio separadamente. Em cada riacho, subamostras com 2, 4, 6, 8, 10, 12, 16, 18, 20 e 22 quadrats foram geradas aleatoriamente e foi verificada a similaridade de cada uma delas com a amostra total de 24 quadrats. Por esta finalidade, foram utilizados os seguintes índices de similaridade: Morisita (dados de abundância), Bray-Curtis (dados de abundância transformados de log10(x+1)) e Sorensen (dados de presença/ausência). Foi realizado um gráfico com as médias das similaridades encontradas nos 6 riachos. Para avaliar se o esforço determinado através dos testes anteriores seria suficiente para conferir sensibilidade às medidas bioindicadoras em detectar alterações na comunidade foram utilizados dois grupos independentes de riachos considerados intermediários e pobres (fortemente impactados) pelo protocolo de avaliação visual adaptado do utilizado pelas agências de proteção estadual dos Estados Unidos da América (EPA-EUA). Foi utilizado o mesmo esforço em todas as triagens e foram utilizadas, então, medidas que deveriam detectar diretamente a perturbação como riqueza total e o IBE-IOC. 51 2.4. Resultados A abundância total das amostras variou de 1684 a 2722 indivíduos, enquanto a abundância média por quadrat variou de 70 a 114. O riacho com maior abundância apresentou também a maior riqueza e o riacho com menor abundância apresentou a menor riqueza. A abundância média por sub-conjuntos de quadrats foi obtida através de diferentes combinações aleatórias dos quadrats com subsequente obtenção da média (Tabela 2.2). Tabela 2.2: Distribuição das abundâncias e riquezas nos quadrats dos 6 riachos estudados. Rio do Andrew Rio Soberbo Rio Manoel Alexandre Rio Iconha Rio da Placa Rio do Gato Médias Abundância Total 2435 2193 2722 2663 1684 1939 2272,667 Abundância média por quadrat Desvio Padrão 101,4583 91,375 114,125 110,9583 70,16667 80,79167 94,812 24,92769 20,16845 27,81978 28,95045 20,36977 18,15867 23,399 Abundância média em 4 quadrats Abundância média em 6 quadrats Abundância média em 8 quadrats Abundância média em 12 quadrats Riqueza Total (UTOs) 421 405 485 482 295 319 401,166 709 595 770 699 434 479 614,333 890 777 994 926 562 603 792,000 1332 1117 1413 1345 839 909 1159,167 57 52 61 58 45 50 53,833 O teste do Índice de dispersão e posterior Qui-quadrado para verificar se os organismos estão distribuídos na bandeja de subamostragem de forma aleatória foi realizado para todos os táxons em nível de família, considerando os 24 quadrats nos 6 riachos. Os resultados resumidos estão apresentados na tabela 3 e mostram que a maioria das famílias de macroinvertebrados consideradas apresentam distribuição aleatória, semelhante à de Poisson nos 24 quadrats. O Índice de dispersão médio variou em torno de valores pouco maiores que 1 nos 6 riachos. 52 Tabela 2.3: Resultados do teste de Qui-Quadrado do Índice de dispersão para α=0,05 e n=24 Número total de famílias Rio do Andrew 33 Número de famílias que não apresentaram distribuição aleatória 4 Índice de Dispersão médio 1,10 Rio Soberbo Rio Manoel Alexandre Rio Iconha 30 32 2 4 1,28 1,28 35 4 1,26 Tributário Macacu 31 3 1,11 Rio do Gato 33 1 1,10 Descrição das famílias com distribuição não-aleatória. % famílias distribuídas aleatóriamente Lutrochidae, Elmidae, Baetidae, Odontoceridae Helicopsychidae, Odontoceridae Elmidae, Sericostomatidae, Helicopsychidae, Chironomidae, Chironomidae, Elmidae, Sericostomatidae, Helicopsychidae Empididae, Calamoceratidae, Simuliidae Helicopsychidae 88% 94% 92% 88% 87% 97% A análise de curva do coletor foi realizada para a fauna de macroinvertebrados identificada em UTOs (figura 2a) e em família (figura 2b). As curvas mostram a média e o desvio padrão da riqueza acumulada em cada quadrat nos 6 rios. Uma análise visual do gráfico permite evidenciar que a partir do sexto quadrat a riqueza acumulada começa a apresentar tendência de estabilização. 55 30 a 50 28 Riqueza acumulada em famílias Riqueza Acumulada (UTOs) 45 40 35 30 25 b 26 24 22 20 18 16 20 14 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Quadrats Quadrats(1 (1aa24) 24) 24 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11Quadrats 12 13 14(115 16 17 18 19 20 21 22 23 24 a 24) Quadrats (1 a 24) Figura 2.3: Curvas de esforço amostral mostrando média e desvio padrão dos 6 pontos amostrados. (a) acúmulo de riqueza em UTOs e (b) acúmulo de riqueza em famílias. 53 Como pode ser verificado na tabela 2.2, as abundâncias foram diferentes entre os pontos, e isso implica diferenças em riquezas, com aumento das mesmas em função do número de espécimes na amostra. A curva de rarefação realizada considerou comunidades com 100 a 1600 organismos nos 6 pontos amostrais. A figura 3 mostra os valores absolutos das riquezas esperadas em UTOs, em cada riacho para cada tamanho de amostra. A linha de bolas pretas indica as médias. Tendo em vista que a abundância média de 6 quadrats foi de 614 espécimes (tabela 2.2), pode-se considerar então que 600 espécimes equivalem a 6 quadrats. A figura 2.4 mostra que um incremento de 1000 espécimes na amostra corresponde a um aumento de cerca de 6 UTOs em média. Riqueza esperada (UTOs) 60 50 40 30 20 10 0 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Número de indivíduos (tamanho da amostra) Figura 2.4: Riqueza esperada pela análise de rarefação em comunidades de diferentes tamanhos nos 6 riachos. Círculos pretos representam valores médios. A análise realizada para avaliar o efeito direto do tamanho de subamostra nos valores das medidas biológicas que poderiam compor um índice multimétrico foi realizada através da definição de conjunto de subamostras constituídos respectivamente de 4, 6, 8, 12 e 24 quadrats. Os resultados são apresentados através de Box-Plots considerando as medianas e os percentis 25-75% dos valores das métricas nos 6 riachos em cada uma dessas subcomunidades geradas aleatoriamente (figura 2.5). 54 A figura 2.5a mostra as métricas relacionadas à riqueza e diversidade. As métricas que medem apenas riqueza (total, de família e de Ephemeroptera/Plecoptera /Trichoptera) parecem ser as mais afetadas pelo tamanho da subamostra, uma vez que a diferença entre o valor da métrica para 4 e 24 quadrats é maior do que no caso das outras métricas. As métricas de abundância relativa (figura 2.5b), % EPT, % Díptera, %Coleoptera e %Plecoptera, se mostraram estáveis ao longo dos diferentes tamanhos de subamostras, não apresentando variação entre elas. A figura 2.5c representa a abundância desses grupamentos funcionais em relação a abundância total (%Filtradores e % Fragmentadores). Ambas apresentaram estabilidade em seus valores ao variar do tamanho da subamostra, demonstrando que a proporção desses organismos se mantém independente do tamanho da subamostra. Na figura 2.5d é possível observar duas métricas consideradas avaliadoras da tolerância. A primeira, o IBE-IOC, é um índice biótico baseado nas tolerâncias dos diferentes gêneros e famílias de macroinvertebrados bentônicos princincipalmente em relação à qualidade química da água. Ele varia de 0 a 14 e quanto maior seu valor, melhor a qualidade da água, sendo assim ele por si só é uma medida de uma das dimensões da integridade biótica. A partir de 6 quadrats a comunidade já obtem pontuações muito semelhantes no índice. A medida Baetidae/Ephemeroptera também é uma medida direta de tolerância porque mede a relação entre a família mais tolerante dos efemerópteros e a abundância total da ordem. Assim como em todas as medidas de abundância relativa, não foi observada diferença significativa entre os diferentes tamanhos de subamostras. 55 3.4 65 A1 3.2 Diversidade de Shannon (UTOs) 60 Riqueza (UTOs) 55 50 45 40 35 A2 3.0 2.8 2.6 2.4 2.2 30 2.0 25 4 6 8 12 4 24 36 34 32 6 8 12 24 Número de Quadrats Número de Quadrats 32 A3 30 A4 28 Riqueza de EPT Riqueza (Famílias) 30 28 26 24 26 24 22 22 20 20 18 18 16 16 4 6 8 12 14 24 4 6 Número de Quadrats 0.65 0.60 8 12 24 Número de Quadrats 0.13 B1 0.12 0.55 B2 0.11 0.50 % Plecoptera % EPT 0.45 0.40 0.35 0.10 0.09 0.08 0.30 0.07 0.25 0.06 0.20 0.15 4 6 8 12 0.05 24 4 Número de Quadrats 0.7 0.6 8 12 24 0.40 B3 0.35 0.5 B4 0.30 % Coleoptera % Diptera 6 Número de Quadrats 0.4 0.3 0.25 0.20 0.2 0.15 0.1 0.10 0.0 0.05 4 6 8 12 Número de Quadrats 24 4 6 8 12 24 Número de Quadrats 56 0.024 0.12 0.022 0.10 C1 0.020 C2 0.018 0.016 % Filtradores % Fragmentadores 0.08 0.06 0.04 0.014 0.012 0.010 0.008 0.02 0.006 0.004 0.00 0.002 0.000 -0.02 4 6 8 12 4 24 6 14.5 14.0 12 24 1.2 D1 1.0 Baetidae/Ephemeroptera 13.5 13.0 12.5 IBE-IOC 8 Número de Quadrats Número de Quadrats 12.0 11.5 11.0 D2 0.8 0.6 0.4 10.5 0.2 10.0 9.5 0.0 4 6 8 12 24 Número de Quadrats 4 6 8 12 24 Número de Quadrats Figura 2.5: Avaliação da variação dos valores das métricas entre diferentes tamanhos de subamostras: métricas de riqueza e diversidade (A1, A2, A3 e A4), métricas de composição (B1 B2, B3 e B4), métricas tróficas (C1 e C2), métricas de tolerância (D1 e D2). A análise de similaridade realizada demonstrou que as comunidades com 4 quadrats já apresentam altos valores de similaridade com a amostra total de 24 quadrats pelos três índices utilizados (Figura 2.6). Os desvios-padrões não foram assinalados no gráfico porque todos foram menores que 0,01. Para o índice de Morisita mesmo a subamostra de menor tamanho apresentam similaridade de 98% com a amostra total. O índice de Bray-curtis apresentou os menores valores de similaridades, no entanto apontou que uma subamostra de 4 quadrats já possui 70% de similaridade com a amostra total. 57 Similaridade média (6 riachos) 1.1 1 0.9 0.8 0.7 0.6 Morisita 0.5 Bray-Curtis 0.4 Sorensen 0.3 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Número de Quadrats na subamostra Figura 2.6: Valores da média de similaridade entre a amostra total (24 quadrats) e subamostras de tamanhos crescentes. Os resultados das análises anteriores mostram que a comunidade de macroinvertebrados encontrada em 6 quadrats é similar à encontrada na amostra completa dos 24 quadrats em termos de estrutura e composição. A análise das métricas mostra que, mesmo as medidas de riqueza, possuem valores semelhantes quando calculadas com a subamostra de 6 quadrats e com a amostra completa.. Para testar se realmente uma amostra de 6 quadrats é capaz de servir como base para um programa de biomonitoramento foi realizada uma comparação direta entre as 6 áreas de referência consideradas nesse estudo e 6 áreas intermediárias e fortemente impactadas de conjuntos de dados independentes. A avaliação da intensidade do impacto foi realizada através do protocolo visual de habitat e de análises físico-químicas. A comparação foi realizada através do cálculo de 4 medidas diretas do impacto que são frequentemente incluídas em índices multimétricos ou representam por si só um índice (IBE-IOC) (Figura 2.7). A distribuição dos dados não foi considerada normal pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Foi realizado um teste de Mann-Whitney para verificar a significância da diferença e confirmar se realmente há distinção entre as diferentes classes de impacto. 58 As 4 medidas avaliadoras consideradas, calculadas para uma comunidade de 6 quadrats, apresentaram sensibilidade alta para detectar as diferenças entre as classes de impacto. Mesmo a classe intermediária, que muitas vezes apresenta distúrbios sutis, foi diferenciada pela comunidade de 6 quadrats. 60 16 14 50 12 Riqueza em UTOs 40 IBE - IOC 10 30 8 6 20 4 10 Ref x Int - *p=0,016 Int x Pob - *p=0,045 2 0 REF INT 0 POB REF 3.5 INT POB 1.2 3.0 1.0 2.5 0.8 2.0 % Diptera Diversidade de Shannon Ref x Int - *p=0,005 Int x Pob - *p=0,005 1.5 0.6 0.4 1.0 Ref x Int - *p=0,02 0.5 Ref x Int - *p=0,02 0.2 Int x Pob - *p=0,01 Int x Pob - *p=0,03 0.0 0.0 REF INT POB REF INT POB Figura 2.7: Comparação entre valores de medidas de impacto (métricas) utilizando a comunidade encontrada em 6 quadrats em áreas minimamente impactadas (REF), com distúrbios de intensidade média (INT) e fortemente alteradas (POB). Valores de p referentes ao teste de Mann-Whitney. Foi contabilizada a realação homem/tempo para o processamento das amostras por uma pessoa com experiência de 1 ano em triagem e identificação de macroinvertebrados. Os resultados são apresentados na tabela 2.4. 59 Tabela 2.4: Custo médio de tempo de processamento das amostras de macroinvertebrados definida pela relação homem/tempo. Tempo médio de triagem (horas) 6 Quadrats 24 Quadrats Tempo médio de identificação (horas) 6 Quadrats 24 Quadrats Total (horas) 6 Quadrats 24 Quadrats Amostra de área de referência 2,5 10 1,5 6 4 16 Amostra de área impactada 2 8 1 4 3 12 2.5. Discussão Resultados de monitoramento biológico com macroinvertebrados bentônicos são largamente dependentes de: 1) método de coleta aplicado no campo, (2) método de triagem no laboratório e número de organismos avaliados e (3) resolução taxonômica utilizada (Lorenz et al. 2004). Para ganhar precisão e permitir comparação entre os dados é preciso padronizar todos esses procedimentos (Haase et al. 2004). Um método de biomonitoramento adequado para ser aplicado no manejo dos recursos hídricos deve ter um custo/beneficio, em termos de investimento de recursos humanos e financeiro versus qualidade da informação cientifica, melhor possível. Para tanto, os protocolos devem ser simplificados em algumas ou em todas as etapas. Os programas de biomonitoramento baseados em índices multimétricos buscam a simplificação dos protocolos nas fases posteriores, utilizando a técnica da subamostragem, seja por número fixo ou por área (Barbour et al. 1999, AQEM 2002). É, no entanto, extremamente recomendado que se realizem estudos prévios para determinação do tamanho ótimo de subamostra necessário para garantir a funcionalidade das ferramentas de avaliação. Esses estudos devem ser realizados caso a caso, uma vez que os resultados podem variar de 60 acordo com o tipo de ecossistema, com a fauna utilizada, com o aparato e procedimento de coleta dos organismos e de subamostragem. No modelo utilizado no programa AQEM é realizada a subamostragem por área (AQEM 2002), utilizando uma bandeja semelhante realizadaa usada para esse trabalho. No entanto, não foram encontrados na literatura internacional trabalhos que comprovem a funcionalidade desse aparato, garantindo que o mesmo não adiciona tendências aos resultados. Nesse trabalho o aparato de subamostragem utilizado foi testado utilizando a distribuição de Poisson como parâmetro, verificando através do Índice de dispersão e posterior teste de X2, se a distribuição dos organismos era de fato aleatória no espaço. A análise foi realizada com os organismos identificados em nível de família para padronizar a resolução taxonômica. No pior dos casos, 88% das famílias se encontravam distribuídas aleatoriamente. Na tabela 4 é possível verificar que as famílias Odontoceridae e Helicopsychidae aparecem em mais de um caso como famílias que não apresentaram distribuição aleatória. Os organismos dessas famílias constróem casas de areia e por isso devem estar no fundo da bandeja, na fração mineral que é mais difícil de ser propriamente homogeneizada. A distribuição agrupada dos organismos podem ser devido à eventos estocásticos ou à presença de determinados substratos que funcionariam como abrigos para os organismos. Como, na maioria dos casos, os organismos se encontraram aleatoriamente distribuídos na bandeja de subamostragem, considera-se que o aparato funciona bem, atribuindo pouca ou nenhuma tendência aos resultados de avaliação. A utilização da técnica de subamostragem é particularmente controversa quando se trata de avaliar a riqueza dos ecossistemas (Vinson & Hawkins 1996). Os resultados do presente trabalho mostram que de fato há um aumento de riqueza inerente ao aumento do 61 tamanho da amostra, no entanto é preciso verificar se esse aumento deixa em algum momento de ser significativo em relação à riqueza total efetiva. A análise de rarefação mostrou que um incremento de 1000 indivíduos (de 600 para 1600) acarreta em um aumento de, em média, 5 unidades taxonômicas. Nijboer & Schmidt-Kloiber (2004) mostraram que a exclusão de táxons com baixa abundância, que teriam grande probabilidade de serem excluídos pelo processo de subamostragem, altera o funcionamento de medidas de avaliação de impacto e podem comprometer o resultado da avaliação. O presente trabalho, no entanto, demostra que a subamostra com 6 quadrats foi capaz de conferir sensibilidade às métricas como mostrado na figura 2.4. Com relação às medidas de riqueza, alguns autores argumentam que considerar medidas de riqueza na determinação de esforço de subamostragem não é o ideal devido ao crescente aumento de espécies em função da área. Clarke e colaboradores (2006) apresentam argumentos a favor da verificação da influência do tamanho da subamostra diretamente nas medidas de avaliação de impacto com as métricas que formarão um índice multimétrico ou índices propriamente ditos. A avaliação realizada no presente trabalho forneceu resultados coerentes com os da literatura (Lorenz et al. 2004, Doberstein 2000, Clarke et al. 2006). As métricas de riqueza apresentaram maior variação com diminuição do tamanho da subamostra considerada, como esperado. As métricas de abundância relativa foram as mais estáveis, provando indiretamente que a amostra está bem distribuída ao longo da bandeja e que as proporções de abundância se mantém. Segundo Lorenz e colaboradores (2004), as métricas de abundância absoluta devem ser evitadas e substituídas por abundâncias relativas uma vez que o tamanho da subamostra por si só limita a possibilidade de abundâncias maiores. 62 Foi possível verificar que a partir de 4 quadrats o acréscimo de unidades amostrais (quadrats) acarreta em pouco incremento em termos de similaridade da subamostra com a amostra total. O índice de Morisita, que é pouco sensível ao tamanho de amostra e é considerado por Wolda (1981) como o melhor índice de similaridade para comparar comunidades biológicas, aponta similaridades altíssimas entre as subamostras de apenas 2 quadrats e a amostra total. Isso confirma o resultado observado da estabilidade das métricas de abundâncias relativas, uma vez que as similaridades altas refletem composições semelhantes entre os tamanhos de subamostra e a amostra total. O manual do protocolo de avaliação rápida dos EUA (Barbour et al.1999) indica a subamostragem em laboratório com a retiradada de material dos quadrats até que seja alcançado o número de 200 espécimes. Já o manual do AQEM europeu (AQEM, 2002) indica a retirada de 4 quadrats ou até que seja alcançado mínimo de 500 espécimes. Considerando todas as análises anteriores, e a comparação com os dados da literatura de estudos realizados em outros locais (Lorenz et al. 2004; Doberstein 2000; Clarke et al. 2006), sugere-se o uso de 6 quadrats, que somam 25% da amostra, com a condição de alcançar o número mínimo de 200 espécimes. Caso em 6 quadrats não seja alcançado o número mínimo, outras unidades devem ser retiradas até que se alcance. O número de 200 espécimes é o mínimo requerido para manter a estabilidade e o bom funcionamento das métricas (Lorenz et al. 2004). A análise realizada para verificar se uma amostra de 6 quadrats é capaz de gerar dados robustos para a avaliação biológica comparando áreas com diferentes intensidades de impacto mostrou que esse tamanho de amostra é suficiente para aplicação em programas de biomonitoramento. No geral, esse é o teste mais importante porque avalia diretamente a eficiência desse tamanho de amostra em diferenciar áreas impactadas de áreas de referência. 63 O índice IBE-IOC é por si só uma ferramenta de avaliação e fornece uma classificação do local de coleta em categorias de diferentes níveis de impacto. Um erro amostral que acarrete em perda de sensibilidade do índice pode então significar um erro de avaliação e direcionar de forma errada as medidas de manejo necessárias. O fato de que ele, na análise comparativa entre áreas de referências, intermediárias e impactadas, foi sensível com uma comunidade de 6 quadrats indica que esse tamanho de subamostra não afeta a sensibilidade dessa ferramenta. A subamostragem de 6 quadrats resulta em economia de aproximadamente 12 horas no processamento de amostras de áreas minimamente impactadas. Essa economia de 12 horas resulta em uma perda, nesse caso, de em média 6 UTOs e um universo de em média 55 táxons e em pouca ou nenhuma alteração no funcionamento das métricas de um índice. Isso aumenta em quatro vezes o número de riachos que podem ser avaliados em uma campanha amostral. 2.6. Conclusões Para que programas de biomonitoramento possam ser aplicados com sucesso é necessário primeiro se definir a qualidade da informação necessária para que os dados coletados alcancem essa demanda. Por isso estudos de comparação de métodos são extremamente importantes no processo de construção de ferramentas de monitoramento biológico. O presente estudo visou estabelecer que a utilização da subamostragem para o desenvolvimento de um índice multimétrico rápido para riachos montanhosos do complexo hidrográfico Guapiaçu-Macacu é viável metodologicamente. Os resultados mostraram que a comunidade de macroinvertebrados presente em 6 quadrats é bastante similar à comunidade 64 presente na amostra total de 24 quadrats. As métricas calculadas apresentam estabilidade ao longo dos diferentes tamanhos de subamostras analisados. Sendo assim, o trabalho indica a utilização de 6 quadrats, aleatoriamente designados, com o mínimo de 200 espécimes. O custo em termos de tempo do processamento de uma mostra de 6 quadrats ainda é alto, no entanto é a melhor relação custo-benefício, que garante a robustez científica da ferramenta de avaliação da integridade ecológica de riachos. No contexto da proposta de uma ferramenta rápida que viabilize a aplicação de programas de biomonitoramento a utilização desse tipo de simplificação se faz absolutamente necessária. Concluímos que o método subamostral testado atende à otimização do processo de desenvolvimento de um índice multimétrico rápido para a bacia hidrográfica dos rios Macacu, Guapiaçu e Guapimirim e potencialmente passível de ser aplicada em riachos de outras bacias da Serra do Mar no estado do Rio de Janeiro. 65 Capítulo 3 66 3. Desenvolvimento de um índice multimétrico rápido baseado na comunidade bentônica para avaliar integridade ecológica de riachos serranos no complexo Guapiaçu-Macacu (RJ) 3.1. Introdução A integridade ecológica dos ecossistemas lóticos nos domínios da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro está sob forte pressão antropogênica e encontra-se ameaçada por fontes não pontuais de poluição, distúrbios físicos no habitat e desmatamento. Em geral, as autoridades públicas brasileiras responsáveis pela política de controle dos ecossistemas aquáticos praticam somente o monitoramento empregando análises químicas e físicas da água. No entanto, para a realização de avaliações eficientes, é de fundamental importância a aplicação de análises integradas da qualidade da água, unindo as repostas das metodologias tradicionais de avaliação aos aspectos biológicos do sistema (Metcalfe 1989; Rosenberg & Resh 1993). Reconhecendo o grave estado de degradação dos ambientes aquáticos, algumas universidades, institutos de pesquisas e agências estaduais de proteção ambiental brasileiras, têm promovido estudos para aumentar nossa habilidade de mensuração das condições ecológicas de integridade dos ecossistemas aquáticos através do biomonitoramento, em especial, utilizando as comunidades de macroinvertebrados (Junqueira et al. 2000, Araújo 2003, Bozzetti & Schulz 2004, Silveira et al. 2005, Baptista et al. 2007, Mugnai et al. 2008) Programas de monitoramento biológico dos ecossistemas aquáticos foram criados a partir do sistema sapróbico desenvolvido por Kolkwitz & Marsson (1909), que estabeleceu a base conceitual para a construção de outros métodos de biomonitoramento. Até o final da 67 década de 80, os índices mais populares eram aqueles baseados no sistema de escores, tais como, o Biotic Condition Index, Biological Monitoring Working Party, Índice Biótico Estendido, entre outros (Metcalfe 1989). Recentemente, o desenvolvimento de índices multimétricos baseados numa classificação a priori tem recebido prioridade em vários países (Barbour et al. 1999). Este esquema de bioavaliação, proposto originalmente por Karr (1981) para peixes e adaptado por Plafkin e colaboradores (1989) para macroinvertebrados, é baseado no estabelecimento de condições de referência que são comparadas com os locais impactados. Recentemente, a Europa tem procurado normatizar a utilização de índices multimétricos, seguindo as proposições definidas por uma nova diretiva no quadro de águas europeu. Para isso a Comunidade Européia formulou um projeto propondo o desenvolvimento de índices multimétricos baseados na fauna de macroinvertebrados (AQEM). Os sistemas tem sido intercalibrados entre os países no sentido de gerar um sistema integrado de avaliação da qualidade ecológica de diferentes tipologias de rios na Europa como um todo (Hering et al. 2004). Um índice multimétrico considera os efeitos de múltiplos impactos e agrega medidas biológicas individuais em um único valor que pode ser usado para avaliar a condição geral de um local (Hering et al. 2006). Essas medidas biológicas são comumente chamadas de métricas. Estas podem ser definidas como uma característica ou um processo mensurável de um sistema biológico que se altera em valor ao longo de um gradiente de influência humana (Karr & Chu 1999). As métricas devem apresentar respostas previsíveis da biota com o aumento do distúrbio, sendo ele proveniente de um único fator de impacto ou dos efeitos cumulativos da influência humana em função dos usos múltiplos da água. As métricas ainda devem apresentar facilidade de mensuração e interpretação (Karr & Chu 2000). 68 A força da abordagem multimétrica está na habilidade de integrar informações dos vários aspectos de uma comunidade para fornecer uma classificação geral do nível de degradação do ecossistema, sem perder a informação proveniente das métricas individuais. A utilização de métricas de diferentes naturezas pode permitir a avaliação qualitativa além da quantitativa, uma vez que uma métrica individualmente pode ser capaz de qualificar a origem do impacto. No entanto, os índices multimétricos são desenvolvidos a partir de uma amplitude de pontos definidos e classificados a priori, portanto seu bom funcionamento somente é garantido em áreas com as mesmas características da área para a qual ele foi construído. Isso torna sua aplicação restrita a ecorregiões, bacias hidrográficas ou tipos de rios. O desenvolvimento de uma ferramenta como um índice multimétrico deve considerar aspectos cruciais que acontecem antes da etapa de seleção das métricas propriamente dita. O trabalho começa em uma escala mais ampla, com a definição da área de aplicação do índice, definindo tipos de rios ou ecorregiões, escolha do protocolo de coleta, triagem e identificação e ainda estabelecendo os critérios que determinarão a classificação a priori dos rios em classes de impacto (Hering et al. 2006). A utilização da avaliação biológica como ferramenta para monitoramento da integridade de ecossistemas é obrigatória na maioria dos países desenvolvidos. No Brasil, a resolução CONAMA 357 de 17 de março de 2005 diz que a qualidade dos ambientes aquáticos poderá ser avaliada por indicadores biológicos, quando apropriado, utilizando-se organismos e/ou comunidades aquáticas. Essa resolução representa um avanço importante, mas ainda não regulamenta a obrigatoriedade do uso de monitoramento biológico para a classificação dos corpos d’água no Brasil. O desenvolvimento de ferramentas de avaliação é 69 crucial para viabilizar a criação de programas de monitoramento biológico e possibilitar a regulamentação do biomonitoramento. 3.2. Objetivos Este trabalho tem como objetivo principal desenvolver um Índice Multimétrico de Avaliação Rápida, utilizando a comunidade de macroinvertebrados aquáticos para riachos serranos do complexo hidrográfico Guapiaçu-Macacu, no estado do Rio de Janeiro. Os objetivos específicos são: (a) realizar o levantamento da macrofauna bentônica em áreas de referências e sujeitas a distúrbios ambientais, em três faixas altitudinais: baixa (20 – 200 m); média (200 – 800m) e alta (acima de 800 m); (b) definir um protocolo padronizado das diferentes etapas de desenvolvimento de um índice multimétrico para assegurar comparabilidade com índices construídos posteriormente para outras áreas. 3.3. Materiais e Métodos 3.3.1.Área de estudo A área de estudo consiste em parte do trecho central da Serra do Mar, correspondente à bacia dos rios Guapimirim, Guapiaçu e Macacu (Complexo hidrográfico GuapiaçuMacacu), no domínio de Mata Atlântica, no estado do Rio de Janeiro (Figura 3.1). A subbacia do Guapimirim-Macacu faz parte do complexo hidrológico da bacia da Baía da Guanabara e da área do Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar e é responsável pelo abastecimento de cerca de 2,5 milhões habitantes dos municípios de Cachoeiras de Macacu, Guapimirm, Itaboraí, São Gonçalo e Niterói. A bacia possui uma área de drenagem de cerca de 1640 km² (JICA,1994). 70 A área inclui trechos de áreas de Reservas Naturais (Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Reserva Estadual de Guapimirim e Parque Estadual dos Três Picos) (Figura 1). O clima da área varia do tropical Af (na escala de Koppen) nas partes mais baixas ao mesotérmico brando Cfb nas áreas acima de 1200m, com verões brandos (média simples do mês de fevereiro entre 15°C e 28°C) e invernos frios (Média simples do mês de julho abaixo de 16°C) (sítio do Instituto Estadual de Florestas/RJ). Os riachos estudados variam de primeira à sexta ordem e todos são considerados como riachos de montanha. Figura 3.1: Localização do complexo hidrográfico Guapiaçu-Macacu no Estado do Rio de Janeiro. Pontos azuis indicam áreas de referências, vermelhos áreas impactadas e amarelas áreas intermediárias. 71 3.3.2. Coleta, triagem e identificação dos organismos A coleta para o desenvolvimento do índice foi realizada nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2007, durante a época chuvosa. Foram amostrados 33 riachos, sujeitos à diferentes intensidades de impacto, divididos em três faixas altitudinais: abaixo de 200m, entre 200 e 800m e acima de 800m (Tabela 3.1). Os riachos foram classificados previamente em três classes de intensidade de impacto: áreas minimamente impactadas (Referências; 15 riachos); áreas sujeitas a distúrbios sutis (Intermediárias; 6 riachos); e áreas fortemente impactadas (Pobres; 12 riachos). O desenvolvimento do índice foi baseado na comparação entre 12 áreas de referência e 12 áreas impactadas distribuídas no gradiente altitudinal entre 0 e 800m. As três áreas de referência na faixa altitudinal mais alta e as 6 áreas intermediárias foram utilizadas somente para o teste do índice. Foi realizada uma segunda coleta no mês de Julho, em 10 riachos coletados no verão, para o teste do funcionamento do índice na estação seca. Os riachos dessa bacia estão sujeitos a diferentes fontes de perturbação, com intensa urbanização e despejo de esgoto in natura. A maioria dos riachos coletados apresenta influência de múltiplos impactos, químicos e físicos. A classificação a priori dos riachos nas três classes de impacto foi realizada a partir de visitas prévias aos locais, com aplicação de um Índice de Avaliação Visual (IAV) de habitat adaptado do modelo utilizado pelas agências de proteção ambiental dos EUA (Barbour et al. 1999). O IAV avalia aspectos da vegetação marginal, do leito do rio e a disponibilidade de substratos para colonização pela fauna, fornecendo um valor final de avaliação do habitat como um todo. Além disso foram utilizadas ferramentas de geoprocessamento para verificar a porcentagem de cobertura vegetal nos trechos dos riachos estudados, análises microbiológicas 72 e ainda parâmetros físico-químicos relacionados ao impacto, como oxigênio dissolvido, sólidos dissolvidos (TDS) e condutividade. Tabela 3.1: Localização geográfica dos riachos, faixa altitudinal e que se encontram e pontuação obtida no Índice de Avaliação Visual. Código Ponto REF B1 REF B2 REF B3 REF B4 REF B5 REF B6 REF M1 REF M2 REF M3 REF M4 REF M5 REF M6 REF A1 REF A2 REF A3 INT B1 INT B2 INT B3 INT M1 INT M2 INT M3 POB B1 POB B2 POB B3 POB B4 POB B5 POB B6 POB M1 POB M2 POB M3 POB M4 POB M5 POB M6 Rio do Alojamento Rio do Gato Rio Manoel Alexandre Rio Caneca Fina Rio do Estreito - Dirley Poço da Caninana Rio Valério 1 Cachoeira Sete quedas Rio do Andrew Estreito – Rio do Prefeito Rio da granja Monte Olivetti Rio Soberbo - PARNASO Rio Iconha Tributário Macacu 1 Tributário Macacu 2 Rio Mariquitas Rio Corujas Funchal. Rio Valério 2 Tributário Macacu 3 Boca do Mato Canal da veterinária Estreito Rio Soberbo - Guapi Rio Duas Barras Rio Soarinho Rio Branco Tributário Macacu 4 Quiz – centro Macacu Rio Macacu (posto) Rio Souza Rio Souzinha Rio Boa Vista Faixa Altitudinal (m) <200 <200 <200 <200 <200 <200 200-800 200-800 200-800 200-800 200-800 200-800 >800 >800 >800 <200 <200 <200 200-800 200-800 200-800 <200 <200 <200 <200 <200 <200 200-800 200-800 200-800 200-800 200-800 200-800 IAV 16 / Ótima 16 / Ótima 16,6 / Ótima 19,4 / Ótima 18,3 / Ótima 19,6 / Ótima 19 / Ótima 17 / Ótima 19,6 / Ótima 19,2 / Ótima 19,4 / Ótima 19,1 / Ótima 20 /Ótima 19 /Ótima 19,4 / Ótima 13,2 / Boa 9/ Regular 11 / Boa 12,3 / Boa 12,9 / Boa 12,1 / Boa 2,7 / Ruim 1,4 / Ruim 3,7 / Ruim 3,8 / Ruim 4,9 / Ruim 3,8 / Ruim 2,5 / Ruim 2,1 / Ruim 4,8 / Ruim 5,7 / Regular 2,4 / Ruim 5,3 / Regular Longitude (geo/wgs84) Latitude (geo/wgs84) 42o 44’ 15.35’’ W 42o 45’ 31.37’’ W 42o 44’ 16.70’’ W 42o 56’ 43.69’’ W 42o 51’ 26.23’’ W 42o 59’ 50.07’’ W 42o 9’ 27.78’’ W 42o 37’ 51.29’’ W 42o 35’ 8.28’’ W 42o 48’ 51.87’’ W 43o 0’ 44.87’’ W 42o 59’ 57.42’’ W 42o 59’ 47.48’’ W 42o 34’ 17.04’’ W 42o 33’ 50.98’’ W 42o 43’ 47.81’’ W 43o 0’ 6.39’’ W 42o 50’ 17.81’’ W 42o 38’ 48.63’’ W 42o 35’ 26.30’’ W 42o 37’ 12.62’’ W 42o 58’ 55.29’’ W 42o 47’ 7.08’’ W 42o 58’ 58.01’’ W 42o 45’ 6.79’’ W 42o 44’ 10.26’’ W 42o 44’ 14.62’’ W 42o 38’ 51.55’’ W 42o 39’ 27.21’’ W 42o 38’ 49.93’’ W 42o 38’ 8.83’’ W 42o 38’ 2.28’’ W 42o 38’ 42.22’’ W 22o 25’ 18.91’’ S 22o 26’ 7.95’’ S 22o 24’59.93’’ S 22o 28’ 59.99’’ S 22o 28’ 50.81’’ S 22o 29’ 40.16’’ S 22o 25’ 9.69’’ S 22o 24’ 48.35’’ S 22o 25’ 3.37’’ S 22o 25’ 14.14’’ S 22o 30’ 34.84’’ S 22o 29’ 36.41’’ S 22o 28’ 2.54’’ S 22o 22’ 46.36’’ S 22o 23’ 2.55’’ S 22o 26’ 10.86’’ S 22o 31’ 25.38’’ S 22o 26’ 55.01’’ S 22o 25’ 56.33’’ S 22o 24’ 49.07’’ S 22o 25’ 0.70’’ S 22o 31’ 25.56’’S 22o 27’ 53.38’’ S 22o 32’53.93’’ S 22o 28’ 27.18’’ S 22o 36’ 52.95’’ S 22o 34’ 25.54’’ S 22o 27’ 59.16’’ S 22o 27’ 57.45’’ S 22o 27’ 0.54’’ S 22o 26’ 25.16’’ S 22o 26’ 27.84’’ S 22o 28’ 18.19’’ S O procedimento de coleta considerou as amostragens do tipo multi-habitat, com coleta proporcional à disponibilidade do substrato no trecho do rio estudado. Para a amostragem foi considerado um trecho de aproximadamente 20 vezes a largura do rio. Foi realizado um total de 20 retiradas de substrato em cada trecho de riacho que foram unificadas e consideradas como uma única amostra. Cada retirada representa 1m2 de substrato coletado, totalizando 20m2. As amostras foram conservadas em etanol 80%. 73 Em laboratório as amostras foram lavadas para retirada do material mais grosseiro em peneiras de malha 500µm e foram colocadas na bandeja de subamostragem. Após homogeneização foram sorteados 6 quadrats para retirada do material, formando uma subamostra (vide capítulo 2). A subamostra era então triada para retirada de todos os organismos presentes. Os organismos foram identificados em gênero, exceto Diptera, Hemiptera e Lepidoptera que foram identificados em nível de família com auxílio de chaves taxonômicas. Para padronizar os níveis de identificação taxonômica os gêneros/famílias serão tratados aqui como unidades taxonômicas operacionais (UTO). 3.3.3. Análise dos dados Os dados foram analisados em três etapas: (a) verificação da classificação a priori dos riachos coletados; (b) escolha das métricas para formar o índice; (c) construção e validação do índice. Para verificar se os dados biológicos da comunidade de macroinvertebrados confirmaram a classificação a priori nos três grupos de impacto considerados (Referências, Intermediárias e Impactadas) foi utilizada uma Análise de Similaridade (ANOSIM; Clarke 1993) com uma matriz de dados quantitativos. Essa análise relaciona a distância dentro dos grupos com a distância entre os grupos pré-determinados (Melo 2005). É utilizado um indicador chamado R que varia de -1 a 1, com os valores próximos a 0 indicando nenhuma distinção entre os grupos. A análise foi realizada no programa PAST (Hammer et al. 2001) utilizando o índice de distância de Bray-Curtis. A significância do valor de R foi computada pela permutação das amostras dos diferentes grupos, formando novos grupos aleatoriamente, repetida 10.000 vezes. 74 As seguintes métricas foram calculadas: riqueza total em UTO, riqueza em famílias, riqueza de gêneros de Plecoptera, número de táxons de Ephemeroptera, número de táxons Ephemeroptera em família, número de táxons Trichoptera, número de táxons de Trichoptera em família, riqueza Ephemeroptera+Plecoptera+Trichoptera (EPT), Riqueza EPT em famílias, diversidade de Shannon, diversidade de Shannon em família, % Coleóptera, % Ephemeroptera, % Plecoptera, % Díptera, % Trichoptera, % Odonata, % EPT, Equitabilidade (Shannon/logS em família), Abundância de Mollusca+Díptera (MOLD), %MOLD, Índice Biótico Estendido-IOC Hydropsychidae/Trichoptera, (Mugnai et abundância al. 2008), Chironomidae, Baetidae/Ephemeroptera, Chironomidae/Díptera, % raspadores, % fragmentadores, % filtradores. A seleção das métricas para o desenvolvimento do índice multimétrico (IM) foi realizada em quatro etapas: (1) Box-Plots para cada uma das medidas biológicas calculadas comparando os valores nas áreas de referência com os valores nas áreas impactadas, para verificar se há sobreposição nas distribuições dos valores nos dois grupos, bem como a direção e intensidade da resposta com aumento do impacto; (2) verificar a significância da diferença dos seus valores entre áreas de referência e impactadas através do teste de MannWhitney (teste de sensibilidade das métricas ao impacto); (3) teste de redundância entre as métricas validadas e (4) escolha das métricas através de critérios práticos para aplicação do índice, como, por exemplo, o nível de resolução taxonômica requerido para aplicação da medida. O teste de sensibilidade das métricas através da comparação de seus valores nas áreas de referência e nas áreas impactadas é imprescindível para assegurar que as distribuições dos valores nessas áreas são significativamente diferentes e aferir a capacidade da métrica em 75 perceber esse tipo de perturbação. A significância dessa diferença foi testada pelo teste nãoparamétrico de Mann-Whitney, uma vez que em nenhum dos casos há homogeneidade de variâncias para uso de métodos paramétricos. As métricas consideradas válidas pelo teste de sensibilidade podem ser redundantes entre si, representando uma resposta a um mesmo parâmetro ambiental de forma semelhante. Para evitar que métricas redundantes sejam incorporadas ao índice foi realizada uma análise de correlação de Spearman no programa PAST (Hammer et al. 2001). É importante verificar a relação das métricas selecionadas com variáveis ambientais e com possíveis gradientes naturais. No presente estudo o gradiente natural mais importante era o de altitude, uma vez que os riachos pertencem a um mesmo tipo, com características geomorfológicas semelhantes. Para estudar a relação das métricas selecionadas como as variáveis de impacto e com a altitude foi realizada uma Análise de Componentes Principais (ACP), no programa Statistica 7.0, utilizando a matriz biológica e as variáveis ambientais como variáveis ativas e as métricas como variáveis suplementares. A análise foi realizada com uma matriz de correlação com coeficiente r de Pearson como índice de semelhança. As variáveis ambientais consideradas foram: Índice de Avaliação Visual (IAV), condutividade (uS/cm), sólidos totais dissolvidos (TDS; mg/l), alcalinidade total (mg/l CaCO3), coliformes fecais/100ml e altitude (m). Foram utilizados todos os locais coletados (33) e os organismos identificados em nível de família. Após seleção das métricas, seus valores brutos não podem ser diretamente utilizados para o cálculo do índice, pois diferem na amplitude de seus valores, unidades e na sua relação com o gradiente de impacto. Os valores das métricas devem, então, ser convertidos em números puros, padronizados, para permitir que sejam combinados em um único valor final 76 do índice. A padronização das métricas foi realizada através de um método contínuo, sugerido por Blocksom (2003) como sendo um dos melhores métodos de padronização, aumentando a sensibilidade e estabilidade do índice. Esse método foi originalmente utilizado por Klemm e colaboradores (2003). O método utiliza a distribuição dos valores das métricas em áreas de referência e impactadas e os parâmetros são diferentes para métricas cujos valores crescem ou decrescem com aumento impacto (Figura 3.2). Valor da métrica observado – Limite inferior Limite superior – Limite inferior Métricas cujos valores decrescem com aumento do impacto Limite superior = 3º quartil dos valores nas áreas de referência Limite inferior = 1o quartil dos valores nas áreas impactadas X 10 Métricas cujos valores crescem com aumento do impacto Limite superior = 1º quartil dos valores nas áreas de referência Limite inferior = 3o quartil dos valores nas áreas impactadas Figura 3.2: Fórmula para a padronização das métricas cujos valores decrescem (esquerda) e crescem (direita) com aumento do impacto. O índice construído foi aplicado para avaliação de seu funcionamento nas áreas consideradas sujeitas a níveis médios de degradação e nas três áreas de referência localizadas na faixa altitudinal mais alta que não foram utilizadas para o desenvolvimento do índice. O valor obtido pelo índice multimétrico foi comparado com o valor do IAV para verificar a coerência dos resultados fornecidos pelos dois métodos através de uma correlação de Spearman. Além disso, o índice foi testado nos 10 riachos coletados na estação seca. O resultado do índice para os mesmos rios nas duas estações foi comparado por análise gráfica e por um teste-t pareado realizado no programa PAST com os dados transformados por log10. 77 3.4. Resultados A Análise de Similaridade (ANOSIM) realizada com as abundâncias dos macroinvertebrados nos 33 pontos de coleta previamente divididos em três grupos de impacto, apontou uma distância grande entre os grupos das áreas de referência e das áreas impactadas (R=0.6179), mostrando que a fauna é realmente diferente em composição e estrutura nos dois grupos. As áreas consideradas intermediárias apresentaram distância maior das áreas de referência do que das áreas impactadas, evidenciando que a fauna já se econtra fortemente alterada pelos impactos. Os valores de p representam a probabilidade dos grupos não serem diferentes, com α=0,95 os valores de p menores que 0,05 são considerados significativos. Os resultados estão dispostos na tabela 3.2. Tabela 3.2: Valores de R da Análise de Similaridade (ANOSIM). Entre parênteses estão os valores de p do teste de significância do R. Referências Intermediárias Referência Intermediárias 0.4469 (p=0.006) 0.6179 (p<0.001) 0.2291 (p=0.0482) Impactadas Foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney para testar a significância da diferença da distribuição dos valores das métricas nas áreas de referência e nas áreas impactadas. Esse teste de sensibilidade mostrou que a maioria das medidas é sensível às diferenças entre as áreas de referência e as impactadas, apresentando diferença altamente significativa (tabela 3.3). A tabela abaixo apresenta as métricas calculadas divididas em grupos que classificam os tipos de cada uma delas. 78 Tabela 3.3: Resultado do teste de sensibilidade das métricas calculadas. Teste U de MannWhitney. Métricas Potenciais Diversidade Riqueza Total Riqueza em família Num. Táxons Plecoptera Num. Táxons Ephemeroptera Num. Táxons Ephemeroptera em família Num. Táxons Trichoptera Num. Táxons Trichoptera em família Riqueza EPT Riqueza EPT em familia Diversidade Shannon-wiener Diversidade Shannon-wiener em Familia Composição % Coleoptera % Ephemeroptera % Plecoptera % Diptera % Trichoptera % Odonata % EPT Equitabilidade (Shannon/logS em família) MOLD (abund de Mollusca + Diptera) %MOLD Tolerância IBE-IOC Baetidae/Ephemeroptera Hydropsychidae/Trichoptera Abund. Chironomidae Chironomidae/Diptera Trófica % raspador % fragmentador % Filtrador Resposta esperada com aumento do impacto TESTE DE SENSIBILIDADE diminuir diminuir diminuir diminuir diminuir U 0.00 3.00 0.00 15 38 p <0,001 <0,001 <0,001 0,001 0,054 (NS) Validade Válida Válida Válida Válida - diminuir diminuir 3.5 4 <0,001 <0,001 Válida Válida diminuir diminuir diminuir diminuir 0.00 0.5 0.00 6 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Válida Válida Válida Válida diminuir variável diminuir aumentar variável variável diminuir diminuir 13 39 0.00 12 27 37 10 30 <0,001 0,0532 (NS) <0,001 <0,001 0,01 0,0502 (NS) <0,001 0,017 Válida Válida Válida Válida Válida Válida aumentar 44 0,119 (NS) - aumentar 13 <0,001 Válida diminuir aumentar aumentar aumentar aumentar 0.00 67 18 33 18 <0,001 0,795 (NS) 0,002 0,032 0,002 Válida Válida Válida Válida variável variável variável 12 13 69 <0,001 <0,001 0,8852 (NS) Válida Válida - A análise de correlação utilizando o coeficiente de Spearman realizada com todas as métricas consideradas válidas pelo teste de Mann-whitney mostrou que as métricas que pertencem ao mesmo tipo (diversidade, composição, tolerância e tróficas) apresentam de forma geral alta correlação (coeficiente de correlação Spearman>0,70; p<0,001). A seleção das métricas que se seguiu objetivou selecionar no mínimo duas métricas de cada tipo que não 79 se correlacionassem entre si, com exceção do grupo de métricas tróficas, do qual foi escolhida somente uma das três métricas. De um grupo de métricas consideradas redundantes eram escolhidas primeiramente aquelas que apresentassem os menores valores de p do teste de Mann-whitney, que distinguiriam melhor as áreas de referência das áreas impactadas. Depois foram escolhidas aquelas que apresentavam a menor dificuldade de implementação, ou seja, aquelas que fossem em nível de família e não de gênero. As métricas de riqueza em família foram extremamente correlacionadas com as métricas de riqueza em gêneros. Por exemplo, a riqueza de UTO apresentou coeficiente de correlação Spearman=0,910 (p<0,001) com a riqueza de famílias. As métricas selecionadas após os testes acima foram riqueza de famílias, riqueza de família de Trichoptera, diversidade de Shannon com famílias, %Plecoptera, %EPT. %MOLD, %fragmentadores, Chironomidae/Diptera, Hydropsychidae/Trichoptera e estão dispostas na figura 3.3. 80 30 2.8 10 28 2.6 9 24 Riqueza de famílias 22 20 18 16 14 12 10 8 Diversidade de Shannon com famílias Riqueza de famílias de Trichoptera 26 8 7 6 5 4 3 2 6 1 4 2 POB 2.2 2.0 1.8 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0 REF 2.4 REF POB 70 REF POB REF POB REF POB 120 18 60 16 100 14 50 12 80 8 6 % MOLD % EPT % Plecoptera 40 10 30 60 20 40 4 10 2 20 0 0 -10 -2 REF 0 REF POB 16 1.1 14 1.0 12 0.9 POB 1.2 10 8 6 4 2 Hydropsychidae/Trichoptera Choronomidae/Diptera % fragmentadores 1.0 0.8 0.7 0.6 0.5 0.8 0.6 0.4 0.2 0.4 0.0 0 0.3 -2 REF POB -0.2 0.2 REF POB Figura 3.3: Box-plots das métricas selecionadas após teste de sensibilidade e redundância. Os retângulos marcam a distribuição entre os 1º e o 3º quartis, os pequenos quadrados marcam as medianas, os círculos indicam os pontos considerados extremos e as barras apontam os valores máximos e mínimos. (REF = áreas de referência e POB= áreas fortemente impactadas). Através da análise de componentes principais (ACP) foi possível verificar a relação entre as métricas (%Plecoptera, %EPT, %MOLD, Hydropsychidae/Trichoptera, Chironomidae/Díptera, %fragmentadores, riqueza em famílias, riqueza Trichoptera em famílias e índice de diversidade de Shannon), as variáveis de impacto (IAV, condutividade, 81 TDS, alcalinidade total, coliformes fecais em 100mL) e a altitude. As variáveis relacionadas à medição de impacto e as métricas são fortemente relacionadas com o eixo 1, que explica 71,78% da variação total (Figura 3.4; Tabela 3.4). Todas as variáveis e métricas foram mais correlacionadas com o eixo 1 do que com o eixo 2, exceto a altitude. A análise gráfica das variáveis na figura 3.4a mostra que as métricas cujos valores aumentam com impacto estão juntas às variáveis ambientais que também aumentam com impacto. As métricas cujos valores diminuem com aumento do impacto estão na direção oposta do eixo 1 e relacionadas à variável IAV que também diminui com impacto. A altitude apresentou correlação mais fraca e positiva com o eixo 1, o que indica que, de maneira menos intensa, também tende a se relacionar negativamente com impacto. A figura 3.4b mostra que as áreas impactadas e as áreas de referência encontram-se separadas pelo eixo 1 enquanto a separação entre as áreas de diferentes faixas altitudinais só foi clara para as áreas da faixa mais alta. 2.5 1.0 2.0 P B6 P B5 1.5 1.0 Hydro/Trichopt. Shannon-famílias Coliformes fecais Chiro/Dipt. 0.0 % EPT % MOLD IAV Riq.famílias %Plecop. Tricho.famílias %fragmentadores TDS/Condut. -0.5 Alcalinidade total F a to r 2 : 1 3 .2 6 % Fator 2 : 13.26% 0.5 R B2 P B4 I B2 I B3 P B2 R B3 R B1 I B1RIB5 P B1 P M1 M1RRB4M4 P M3 R M1 R B6 R M2 R M5 I M3 0.5 0.0 P M5P M6 P M2 P M4 -0.5 R M3 I M2 RRA3A2 R A1 -1.0 -1.5 R M6 P B3 -2.0 -2.5 Altitude -1.0 -1.0 -0.5 0.0 Fator 1 : 71.78% 0.5 1.0 -3.0 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 Fator 1: 71.78% 82 Figura 3.4: Resultados da ACP – Fatores 1 e 2. Linhas contínuas indicam variáveis suplementares e pontilhadas indicam variáveis ativas. (a) Plano fatorial mostrando as variáveis (b) plano fatorial mostrando os riachos – R:áreas de referência; I: áreas de impacto intermediário; POB: áreas fortemente degradadas – B:<200m; M: 200 a 800m; A: >800m Tabela 3.4: Autovalores e porcentagem de explicação da variação dos eixos, e coordenadas das variáveis ambientais e das métricas utilizadas para a ACP Fator 1 2 3 Coordenadas das variáveis IAV Condutividade TDS Alc. Total Coliformes fecais Altitude *%Plecoptera *% EPT *%MOLD *Hydropsychidae/Trich. *Chironomidae/Diptera *% fragmentadores *Riqueza em família *riqueza trichoptera família *Shannon_H Família Auto valor 4.3066 0.7957 0.4752 Fator 1 0.8026 -0.946 -0.946 -0.8911 -0.8460 0.5012 0.6784 0.683 -0.679 -0.517 -0.4432 0.6013 0.7154 0.6930 0.7384 % Total 71.77 13.26 7.9216 Fator 2 -0.038 -0.178 -0.176 -0.349 0.1903 -0.757 -0.179 0.0233 -0.094 0.2856 0.0674 -0.269 -0.096 -0.163 0.2039 As 9 métricas selecionadas foram padronizadas pelo método descrito na figura 3.2. A tabela 3.5 apresenta os valores utilizados para essa padronização. Os valores das métricas padronizadas variaram de 0 a 17,10. Para que as métricas variassem de 0 a 10 foi realizada uma interpolação simples considerando o valor máximo obtido como 10. Para que o índice multimétrico variasse de 0 a 100 pontos, as pontuações individuais de cada uma das 9 métricas foi multiplicado por 1.1. O índice multimétrico desenvolvido foi denominado Índice Multimétrico Guapiaçu-Macacu (IMGM) 83 Tabela 3.5: Valores máximo e mínimos absolutos, quartis e valores máximos e mínimos padronizados das 9 métricas selecionadas. 0 15,6670 1o quartil Referências 8,4198 0 3o quartil Impactadas 0,1262 0,2770 65,9010 33,9099 52,6927 8,2704 27,0639 1,7992 12,9733 0 14,3030 2,2297 8,3623 0 0,4187 0 17,1040 Riqueza em família Riqueza Trichoptera Famílias Shannon_H Familia %MOLD 4,0000 32,0000 23,0000 27,5000 11,7500 18,0000 4,9206 12,8571 1,0000 9,0000 5,0000 6,0000 1,0000 3,0000 0 16,0000 0,3520 2,6580 2,1605 2,5190 1,1066 1,8562 5,3399 10,9841 6,7130 99,7220 14,4000 24,5975 41,6955 89,1789 1,4099 11,0279 Hydropsychidae/ Trichoptera Chironomidae/Di ptera 0,0270 1,0000 0,2629 0,62100 0,7651 1,0000 0 13,1907 0 0,9790 0,3470 0,7393 0,8099 0,9392 0,6712 15,8600 Mínimo %Plecoptera % EPT % Fragmentador Máximo 3o quartil Referências 12,3837 1o quartil Impactadas Valor mínimo padronizada 0 Valor máximo padronizada 12,6514 O índice foi dividido em 5 classes de qualidade cada uma com um intervalo de 20 pontos (Figura 3.5). A cada uma das classes foram atribuídas cores para facilitar a interpretação visual e diagramação gráfica de resultados de programas de biomonitoramento. 0 Vermelho Laranja Muito Ruim Ruim 20 Verde Azul claro Regular 40 Azul escuro Boa 60 Muito Boa 80 100 Figura 3.5: Classificação final do índice multimétrico IMGM O procedimento para aplicação do índice é realizado em 4 etapas: (1) o cálculo das 9 métricas selecionadas; (2) padronização das métricas utilizando as fórmulas fornecidas na tabela 3.2 e os valores do quartis fornecidos na tabela 3.5; (3) valores abaixo de 0 devem ser considerados 0 e acima de 10 devem ser considerados 10; (4) multiplicação do valor de cada uma das métricas padronizadas por 1.1; (5) soma dos valores das métricas para obtenção do valor final do índice. 84 O índice foi aplicado nas áreas intermediárias e nas áreas de referência da faixa altitudinal acima de 800 m coletadas no verão e nas áreas de referência e intermediárias coletadas no inverno. A tabela 3.6 mostra os resultados da avaliação pelo índice multimétrico e a classificação a priori pelo IAV. A correlação de Spearman mostrou que os valores do IMGM estão altamente correlacionados com os valores do IAV (coeficiente de correlação de Spearman = 0,8567; p<0,001). Há situações em que a vegetação marginal e o leito do rio se encontra relativamente inalterado mas há um despejo pontual de algum poluente químico, por exemplo. Nesses e em outros casos os resultados encontrados pelo IAV e pelo IMGM seriam discrepantes, demonstrando a importância do uso da biota para avaliação da integridade ecológica do ecossistema. Tabela 3.6: comparação dos resultados da aplicação do IMGM em riachos que não foram utilizados para montagem do índice com seus valores de IAV Nome do Rio Valor IMGM Classificação IMGM (Muito Ruim/Ruim/Regular/Boa/Muito Boa – 5 classes) IAV (Ruim/Regular/Boa/ Ótima – 4 classes) Verão INT B1 Rio Mariquitas 53.2843 Regular 13,2 / Boa INT B2 Rio Corujas 30.17966 Ruim 9/ Regular INT B3 Funchal. 42.33722 Regular 11 / Boa INT M1 Rio Valério 2 68.7797 Boa 12,3 / Boa INT M2 Tributário Macacu 3 69.49247 Boa 12,9 / Boa INT M3 Boca do Mato 36.35667 Ruim 12,1 / Boa REF A1 Rio Iconha 85.22442 Muito Boa 20 /Ótima REF A2 Tributário Macacu 1 71.56651 Boa 19 /Ótima REF A3 Tributário Macacu 2 74.06686 Boa 19,4 / Ótima Rio Manoel Alexandre 81.17637 Muito Boa 15,6 / Ótima Inverno REFB3-I REFB4-I Rio Caneca Fina 79.74582 Boa/Muito Boa 19,6 / Ótima REFM4-I Estreito - rio do prefeitoPrefeito - Ref 79.47408 Boa/Muito Boa 17,1 / Ótima REFM1-I Rio Valério 1 93.71107 Muito Boa 18,3 / Ótima INT B1-I Mariquitas 55.76228 Regular 12,1 / Boa INT B3-I INT M2-I Funchal. Tributário Macacu 3 37.2689 62.19206 Ruim Boa 11,8 / Boa 11,8 / Boa INT M3-I Boca do Mato 42.06573 Regular 12,9 / Boa 85 Oito riachos foram coletados nas duas estações. A figura 3.6 mostra os valores do índice multimétrico no mesmo rio em estações diferentes. O teste-t pareado realizado mostrou que a distibuição dos valores no verão não difere significativamente do inverno (t=0,53; p=0,6105). 100 90 Valor do IMGM 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Verão Inverno Figura 3.6: Resultado da aplicação do índice multimétrico IMGM em oito riachos nas duas estações coletadas. 3.5. Discussão Uma das grandes discussões na elaboração de protocolos de avaliação rápida e de índices multimétricos é que a classificação dos riachos deve ser feita a priori. Critérios quantitativos são importantes no sentido de diminuir a subjetividade dessa classificação (Stoddard et al. 2006). Um estudo anterior em riachos da Mata Atlânica mostra que a comunidade de macroinvertebrados é mais afetada pelo desmatamento e outras alterações da mata ripária e do barranco marginal do que pelas características físico-químicas da água (Egler 2002). Os critérios aqui utlizados, como o Índice de Avaliação Visual e parâmetros 86 físico-químicos para separar a priori os riachos em três grupos de impacto mostraram-se eficientes e o agrupamento foi confirmado pela fauna. A questão do nível de identificação taxonômica utilizado na avaliação biológica baseada em macroinvertebrados vem sendo amplamente discutida (Bailey et al. 2001, Schmidt-Kloiber & Nijboer 2004, Melo 2005). O nível de resolução taxonômica ideal depende do objetivo do estudo. No contexto de desenvolvimento de ferramentas para aplicação em um programa de biomonitoramento é interessante que as métricas utilizadas sejam de cálculo prático e rápido, com economia principalmente em tempo de identificação. As métricas baseadas em níveis taxonômicos mais altos, como família ou ordem, além de facilitarem a aplicação da ferramenta, reduzem a susceptibilidade do índice a variações criadas por gradientes naturais, temporais e eventos estocásticos (Schmidt-Kloiber & Nijboer 2004). As métricas do IMGM, exceto a %fragmentadores, requerem identificação apenas em nível de família ou ordem. No caso de métricas baseadas em informação ecológicas, como as categorias funcionais, a informação não está disponível ou não é aplicável em níveis taxonômicos mais refinados, no entanto elas refletem informações importantes do ecossistema que não devem ser perdidas. O uso da métrica % fragmentadores requer a identificação das ordens Trichoptera e Plecoptera em gênero. Um dos problemas do uso de índices para o biomonitoramento é a dificuldade de distinção entre o gradiente de impacto e os gradientes naturais espacias e temporais. Esse problema é maior quando a área de aplicação do índice é grande e envolve diferentes ecorregiões ou tipos de riachos. No caso de riachos serranos, o gradiente altitudinal reflete o 87 gradiente longitudinal dos rios, com as mudanças físicas inerentes ao mesmo, como largura do rio, ordem do rio, tipo de substrato, dentre outros. Henriques-Oliveira e colaboradores (2005), em um estudo em riachos de montanha de Mata Atlântica, mostram que a fauna de macroinvertebrados muda em estrutura e composição ao longo de um gradiente altitudinal. No entanto, para o desenvolvimento de um índice multimétrico, é necessário testar se as métricas, e não a fauna como um todo, se relaciona fortemente com esse gradiente. O IMGM foi construído considerando áreas de diferentes altitudes tanto nas áreas de referência como nas áreas impactadas. A análise visual dos BoxPlots (figura 3.3) já permite a avaliação de que mesmo com toda variação interna de cada grupo não há nenhuma sobreposição entre as distribuições inter-quartílicas dos dois grupos, mostrando que o impacto modifica fortemente os valores das métricas. A ACP mostrou que a altitude tem pouca influência na separação entre os grupos das referências e das impactadas marcada pelo eixo 1. Ao contrário, as variáveis relacionadas ao impacto encontram-se fortemente relacionadas às métricas. O fato das métricas estarem, em sua maioria, em família também limita a influência das variações naturais inerentes ao gradiente altitudinal. Quanto ao gradiente temporal, Baptista e colaboradores (2007) testaram a estabilidade temporal de métricas baseadas em abundância, riqueza e categorias tróficas de macroinvertebtados bentônicos em riachos de montanha também na Serra do Mar. Os resultados indicam que os valores das métricas se mantém estáveis ao longo do ano. O IMGM não apresentou variação significativa em seu valor final quando comparados riachos que foram coletados no verão e no inverno. 88 As métricas do IMGM foram padronizadas pelo método sugerido por Klemm e colaboradores (2003), considerado por Blocksom (2003) como sendo o método que confere maior sensibilidade e estabilidade ao índice. O método considera o primeiro e o terceiro quartis como limites inferiores e superiores da padronização, evitando a inclusão de valores extremos que não representem a maioria dos dados. O IMGM foi testado em áreas consideradas de impacto intermediário e em áreas de referência apresentando alta correlação com os valores do IAV e coerência de classificação dos locais. O IMGM apresentou maior rigor do que o IAV classificando normalmente as áreas teste em categorias mais baixas, indicando que a avaliação somente pelo IAV pode superestimar a integridade do local. O IMGM agrega as características descritas por Karr & Chu (2000) como as mais importantes para um índice multimétrico consistente e aplicável: (1) é baseado em um protocolo padronizado e rápido; (2) suas métricas são baseadas em conceitos ecológicos e são sensíveis ao impacto; (3) possui baixo custo em termos de tempo para aplicação. 3.6. Conclusões O desenvolvimento de índices multimétricos envolve diversas etapas nas quais devem ser sempre considerados critérios que garantam acurácia, precisão e aplicabilidade do índice. Durante o processo de elaboração do índice deve-se considerar as especificidades da área em questão e do grupo biológico utilizado para escolher os métodos adequados em cada etapa, levando em conta que a ferramenta deve ser exequível no contexto de um programa de biomonitoramento de rotina. 89 No contexto da implementação de programas de biomonitoramento, os índices multimétricos ganham força por representarem uma ferramenta altamente aplicável em diversas condições e por fornecerem resultados que comunicam a um público mais amplo. A comunicação efetiva das condições dos sistemas biológicos para os diversos setores da sociedade pode transformar o biomonitoramento de um exercício acadêmico e restrito, em uma ferramenta efetiva para o manejo e a conservação dos corpos hídricos (Karr 1999). O resultado prático deste trabalho é disponibilizar para os gestores desta bacia uma ferramenta rápida e eficiente, capaz de avaliar a condição ecológica destes riachos. O desenvolvimento do índice foi baseado em um protocolo padronizado de coleta e triagem, com utilização de técnica de subamostragem por área. O IMGM demosntrou ser sensível aos diferentes impactos ocorrentes na bacia, capaz de classificar corretamente as diferentes intensidades dos mesmos. Além disso, os dados biológicos e ecológicos gerados são importantes para o aprofundamento de outros estudos associados à biologia dos organismos e à ecologia básica desses pequenos riachos. 90 Discussão Geral 91 DISCUSSÃO GERAL No contexto de desenvolvimento de uma ferramenta rápida que facilite a aplicação prática do monitoramento biológico é preciso sempre considerar a relação custo-benefício entre as simplificações que garantem a aplicabilidade ferramenta e o rigor científico da mesma. O presente trabalho apresenta a subamostragem como uma forma de simplificação do protocolo, importante no sentido de reduzir o esforço de triagem e identificação que são procedimentos bastante custosos em protocolos baseados na comunidade de macroivertebrados. O aparato desenvolvido foi considerado adequado para a realização do procedimento de subamostragem por área, no entanto sua avaliação se fará sempre necessária sempre que ocorrerem mudanças no procedimento de coleta ou ainda no tipo de ecossistema para a qual foi testada. A análise de subamostragem mostrou que uma comunidade presente em 6 quadrats é suficiente para conferir sensibilidade em detectar distúrbios no ambiente às métricas. O desenvolvimento do índice IMGM, baseado na comunidade de 6 quadrats, comprova a viabilidade da utilização desse tamanho de subamostras. Isso porque só assim foi possível verificar se um índice construído a partir dessa subamostragem é viável e eficiente, passível então de ser aplicado em um programa de biomonitoramento. É importante frisar que os resultados do presente trabalho, com a definição de um protocolo de subamostragem e um índice multimétrico rápido, é específico para o ecossistema, o protocolo e a fauna utilizados. Os procedimentos apresentados por esse estudo devem ter sua funcionalidade testada para que possam ser extrapolados para condições, locais e protocolos diferentes dos aqui considerados. 92 Conclusão Geral 93 CONCLUSÃO GERAL Foram trabalhados dados de 33 riachos localizados no complexo hidrográfico Guapiaçu-Macacu. Essa bacia é uma área estratégica por abrigar diversos parques, reservas e também possuir cidades de médio porte com urbanização crescente e desordenada. Os rios dessa região são responsáveis pelo abastecimento de 2,5 milhões de pessoas segundo o Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro. A avaliação da integridade ecológica como medida de manejo para conservação desses ecossistemas se faz extremamente necessária. O teste do procedimento e definição do esforço de subamostragem mostrou que a utilização dessa simplificação de protocolo é viável e assegura a rapidez do protocolo sem prejudicar sua validade científica. O índice multimétrico IMGM, construído com dados provenientes da subamostragem, mostrou-se sensível para detectar as alterações existentes nos riachos, mesmo aquelas consideradas de intensidade intermediária. O IMGM apresentou ainda estabilidade temporal em seu resultado final de avaliação. O conjunto desse trabalho representa a proposição de um protocolo de avaliação biológica rápida, com estabelecimento de métodos de coleta, triagem, subamostragem, identificação e aplicação de um índice que fornece a avaliação da integridade do local. O IMGM fornece um resultado, baseado na ecologia e biologia dos organismos, que comunica efetivamente as condições do ecossistema para um público mais amplo, que inclui os gestores da bacia estudada. Trabalhos como esse são um passo importante no sentido de transformar o biomonitoramento, de um exercício acadêmico e restrito, em uma ferramenta efetiva de avaliação. 94 Bibliografia Geral 95 AQEM CONSORTIUM. 2002. Manual for the application of the AQEM system. A comprehensive method to assess European streams using benthic macroinvertebrates, developed for the purpose of the Water Framework Directive. ARAÚJO, F.G.; FICHBERG, I.; PINTO, B.C.T. & PEIXOTO, M.G. 2003. 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