ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE MAUS TRATOS Créditos: Luciene Stivanin, Christian Oliveira, Fernanda P. Santos, Blenda Z. Licas, Sandra Scivoletto Em 14 de fevereiro de 2007, foi implantado o Programa Equilíbrio no Município de São Paulo, com o objetivo de promover a reintegração sócio familiar das crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social. A maioria vive em Instituições de Acolhimento e nos casos em que estão com seus familiares, o objetivo é fortalecer estas relações para diminuir os conflitos e propiciar a permanência segura da criança/adolescente no seio familiar. Os atendimentos acontecem no Clube Escola Raul Tabajara, conta com uma equipe multidisciplinar nas áreas social, de saúde e de educação, que trabalha conjuntamente com a rede (escolas, centros de convivência, abrigos, Varas da Infância e Juventude, equipamentos de assistência social e de saúde) para elaborar um plano para cada criança, focando em suas habilidades e na construção de projetos de vida. A Fonoaudiologia, uma das especialidades da equipe multidisciplinar deste serviço, atua desde a implantação do Programa, com os fonoaudiólogos Luciene Stivanin, Christian Oliveira, Fernanda Pontes dos Santos e Blenda Licas, que expandiram a assistência terapêutica e desenvolveram uma importante linha de pesquisa relacionando os maus tratos na infância e sua interface com os distúrbios psiquiátricos, tão prevalentes nesta população, com a fala, linguagem e audição, o que resultou em importantes dados científicos. As pesquisas realizadas desde 2008 apontam 96,3% de alterações no processamento auditivo1, alterações na linguagem oral (55,2%), dificuldades pragmáticas (33,5%), transtornos de leitura e escrita (28,7%) e alterações articulatórias (18,9%). O funcionamento global destes pacientes, medidos pela escala Children Global Assessment Scale C-GAS (0 a 100 pontos, sendo que 70 ou mais indicam normalidade) caracteriza-se por 45,3 pontos quando há associação entre transtorno fonoaudiológico e transtorno psiquiátrico e 55,5 pontos na ausência de associação.2 Como hipótese da elevada frequência de dificuldades na comunicação, consideram-se problemas gestacionais e nutrição materna, ambiente com estimulação inadequada e verbalmente agressivos, condições de higiene e alimentação precárias, ocorrência de abusos e negligência. O estresse emocional sofrido por estas crianças causa alterações neurobiológicas e comportamentais, que afetam o desenvolvimento como um todo e prejudicam a socialização. Neste cenário, tratar um distúrbio da comunicação ou promover o desenvolvimento satisfatório das habilidades comunicativas propicia a esta população uma condição para entender o outro e o ambiente, resgatar a história de vida, refletir sobre os fatos acontecidos, projetar e planejar o futuro, expressar as vontades, necessidades, protestos e assim resolver conflitos de forma adequada. Como resultado, criam-se condições para eliminar os comportamentos agressivos, melhorar a aprendizagem escolar, o convívio social e o desenvolvimento ocupacional. Para atingir estes objetivos, as atividades clínicas desenvolvidas juntamente à equipe envolvem terapia individual, treinamento auditivo formal e oficinas como: Brincando com as palavras para estimulação da consciência fonológica; Jornal da Cultura Jovem – desenvolvido bimestralmente tendo as crianças como autoras; Grupo de comunicação entre pais e filhos para fortalecimento do vínculo e diálogo; Contação de histórias para desenvolvimento das habilidades cognitivas e linguísticas; Grupo de habilidades audiovisuais para aprimoramento de competências verbais e não verbais e ampliação de repertório; Corpo e música para estimulação das habilidades auditivas Em 2012, foi publicado o livro “O seu, o meu e os nossos heróis”, resultados destas oficinas, onde as crianças puderam, por meio da imaginação e da linguagem, resgatar suas histórias e refletir sobre caminhos a serem seguidos, promovendo também o desenvolvimento de resiliência. Atualmente, a Fonoaudiologia tem destaque neste serviço em função dos benefícios que este trabalho proporciona ao desenvolvimento linguístico e cognitivo da população atendida, além de permitir que estas crianças tenham maior visibilidade na sociedade, ao se tornarem melhores comunicadoras.