Sexta-feira e fim de semana
3, 4 e 5 de julho de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
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ENTREVISTA
‘Não tenho pretensão de disputar o Piratini’
JOÃO MATTOS/JC
Guilherme Kolling
[email protected]
O caminho natural seguido pela maioria dos prefeitos de
Porto Alegre é tentar a eleição ao
governo do Estado. Alguns até
renunciaram para isso. José Fortunati pode concluir seu mandato no final de 2016 e, dois anos
depois, buscar o Executivo estadual. Mas revela: “Não tenho
qualquer pretensão de concorrer
ao Palácio Piratini em 2018”.
Apesar das dificuldades com
o cronograma das obras da Copa
— o atraso rendeu muitas críticas
— Fortunati é otimista e acredita
que terá concluído quase todas
as intervenções no ano que vem.
As exceções são as avenidas
Tronco e Severo Dullius e a passagem de nível na Plínio Brasil
Milano com Terceira Perimetral.
Também planeja finalizar,
ainda no seu mandato, a primeira fase da revitalização da orla do
Guaíba, ter despoluído a praia de
Ipanema e iniciado o metrô. “Serei o prefeito com mais obras na
história de Porto Alegre”, projeta.
Nesta entrevista ao Jornal
do Comércio, concedida no Paço
Municipal, na quarta-feira à tarde, Fortunati ainda fala da sua licença do PDT e do processo de
sucessão na prefeitura. Diz que
não ficará neutro e lembra que
o projeto atual teve início com o
prefeito José Fogaça (hoje PMDB)
em 2005. Para bom entendedor,
pode ser interpretado como um
apoio ao seu vice, Sebastião Melo
(PMDB), em 2016. Mas Fortunati
desconversa: “No momento adequado, faremos as articulações”.
Jornal do Comércio – O senhor já é o prefeito com mais
tempo no Paço Municipal. O que
pensa em deixar como legado?
José Fortunati - Uma gestão
voltada a melhorar a cidade, principalmente aos que mais precisam
das políticas públicas. Que, terminado o meu mandato, compreendam que, neste período, procurei
uma modernização voltada à qualidade de vida das pessoas.
JC – Quais suas ambições políticas para o futuro?
Fortunati – Entregar a cidade
da melhor forma possível. Sair da
prefeitura no dia 31 de dezembro de
2016 de cabeça erguida, orgulhoso
do trabalho que fizemos conjuntamente. Essa é minha pretensão.
JC - E em 2018?
Fortunati - Não tenho qualquer pretensão de ser candidato
ao Palácio Piratini em 2018.
JC – Nem ao Senado?
Fortunati só definirá futuro político ao final do mandato, mas se posicionará sobre sucessão na prefeitura
Fortunati – É só isso... (a comentar sobre 2018, a frase anterior).
JC – Foi uma surpresa sua
licença do PDT, de maneira irrevogável...
Fortunati – Até o final do
mandato. Não estou desfiliado do
PDT, apenas licenciado. E fiz isso
de forma consciente. A bancada do
PDT (na Câmara Municipal) estava
votando de forma não compromissada com o Executivo, e isso estava
contaminando a base do governo.
O Executivo vinha sendo derrotado
em várias votações na Câmara. Eu
me licenciei dizendo que não aceito esse tipo de postura. Se está no
Executivo, tem que assumir também o ônus, não somente o bônus.
A partir do meu licenciamento do
PDT, fizemos uma nova reflexão, e
a relação com a base tem se dado
de maneira muito positiva.
“Sou o prefeito
que mais fez obras
na história de
Porto Alegre”
JC – Só no final de 2016 vai
pensar no seu novo partido?
Fortunati – Não descarto permanecer no PDT, como não descarto qualquer outra alternativa, está
tudo em aberto. Mas estou filiado
ao PDT.
JC – E o que vai pesar na sua
decisão para escolher o partido?
Espaço na legenda, como a sigla
vai lhe receber?
Fortunati – Não, não... Em relação ao PDT, tenho uma relação
muito forte, principalmente com o
PDT do Interior do Estado, o pessoal me recebe com muito carinho.
Os problemas se referem à relação
com a bancada na Câmara de Vereadores. Temos o processo eleitoral
no ano que vem, e permaneço (no
PDT) além do processo eleitoral.
JC – O senhor vai ficar neutro
em sua sucessão à prefeitura?
Fortunati – Não pretendo. Primeiro, não é meu estilo, sempre
tenho posições, faço política e obviamente temos um projeto de governo que se inicia em 2005 com o
prefeito José Fogaça (na época PPS,
hoje PMDB), que a gente deu continuidade. Então, no mínimo, tenho
que olhar para o futuro para que
este projeto possa continuar existindo. Pretendo estar presente no
processo. No momento adequado,
faremos as articulações.
JC – Na gestão da cidade, um
grande projeto é o metrô. A crise que afeta União e governo do
Estado inviabiliza a obra?
Fortunati – O metrô não está
descartado. É decisão da presidenta Dilma (Rousseff, PT) viabilizá-lo.
Temos que concluir a Proposta de
Manifestação de Interesse (PMI),
apresentar o resultado até o final
de julho, dando o escopo técnico
da obra. E conversar com o governo federal, grande parceiro, e com
o governo do Estado, para chegar à
equação financeira que permita realizar a licitação do metrô. Eu não
joguei a toalha, e tenho a convicção de que nem o governador José
Ivo Sartori (PMDB) e muito menos
a presidenta Dilma jogaram.
JC – O senhor espera começar a obra na sua gestão?
Fortunati – Vou me sentir
realizado se conseguir viabilizar o
início da obra. Aí o próximo prefeito pode dar continuidade. O problema é não iniciar a obra, assume
o novo prefeito, novas negociações
serão feitas, e fico temeroso de que
a continuidade não aconteça. Nem
que seja em novembro de 2016, espero começar essa obra.
JC – Outro grande projeto é
o Socioambiental, que pode despoluir parte do Guaíba. Quando
a cidade vai chegar aos 80% de
esgoto tratado? Haverá outra
praia balneável além de Lami e
Belém Novo?
Fortunati – Chegaremos ao
final de 2016 muito próximos aos
80% do tratamento de esgoto cloacal. A questão é convencer as
pessoas a fazer a ligação do esgoto
domiciliar até a rede. E, de cada
sete dias, em três o Guaíba fica
balneável lá na Praia de Ipanema.
Assim que concluirmos a coleta de
esgoto cloacal, vamos devolver a
balneabilidade àquela região.
JC – Há muitas críticas em
relação às obras da Copa, especialmente pelo prazo...
Fortunati – Ouço muito “ah,
não deveriam fazer tanta obra ao
mesmo tempo”. Mas aproveitamos
o PAC Copa do Mundo. Sem isso, as
obras não aconteceriam. Se tivéssemos que pensar em obras para a
Copa, só faria a duplicação da Beira-Rio e o viaduto Abdias do Nascimento (na av. Pinheiro Borda). Mas
aproveitamos aquele momento em
que os recursos eram oferecidos.
JC – A Copa foi um pretexto.
Fortunati – Era uma oportunidade única, hoje não consigo buscar recursos para nenhuma nova
obra pela situação em que o País
se encontra. Outra coisa importante: cada obra tem a sua história, e
isso não depende da minha vontade. Tem desapropriações, áreas
tombadas pelo patrimônio histórico, pendência judicial, faltou areia
com a proibição da extração, são
coisas da vida real que temos que
lidar. Para quem olha de fora, é fácil dizer que o prazo não foi cumprido. Mas há motivos para isso.
JC – Faltou dinheiro alguma
vez para as obras?
Fortunati – Faltou. Como temos contrapartida, fomos bancando, já que o governo federal
não liberava os recursos em 2013,
foi repassar em março de 2014. As
obras pararam por falta de pagamento. A vida real não deixou que
se cumprisse. Mas tenho convicção
de que não sou apenas o prefeito
que mais tempo ficou na prefeitura, eu sou o prefeito que mais fez
obras na história de Porto Alegre,
pode voltar no tempo e somar as
obras feitas na cidade.
JC – Mais do que o prefeito
Loureiro da Silva?
Fortunati – Vamos terminar o
mandato com mais obras do que o
“O metrô não está
descartado, não joguei
a toalha, assim como
a Dilma e o Sartori”
Loureiro da Silva. Não estou aqui
comparando o tipo, mas o número de obras de grande impacto. E
algumas não ficarão prontas até o
final do mandato.
JC - Quais?
Fortunati - A da avenida Tronco, mas será concluída, o dinheiro
já está depositado na Caixa.
JC – Dinheiro é problema?
Fortunati – Por mais paradoxal que pareça em um ano de crise
como este, o dinheiro, em princípio, não é problema.
JC – Vai faltar então Tronco,
viaduto da Plínio Brasil Milano,
Severo Dullius e duplicação da
Voluntários da Pátria?
Fortunati – Na Voluntários,
dependemos de prédios do governo do Estado, na Secretaria de
Segurança, mas acho que sai até
o final de 2016. A avenida Tronco
fica 80% pronta, corredores de
ônibus BRT ficarão prontos – não
conseguiremos fazer as estações
dos BRT. E talvez a Severo Dullius
fique pronta. E tenho uma expectativa positiva de que vou entregar
a primeira fase do projeto da orla.
Vai ser o principal cartão postal.
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`Não tenho pretensão de disputar o Piratini`