Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 ANÁLISE DE EMISSÃO DE GASES, PATINAGEM, VOLUME MOBILIZADO E CONSUMO EM UMA OPERAÇÃO AGRÍCOLA Sanchez de Castro Lacerda1 ; Elton Fialho Reis2 ; João Paulo Barreto Cunha3 1 Estudante do Curso de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Goiás / UnUCET; E-mail: [email protected]. 2 Professor Mestre e Doutor do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Goiás orientador da pesquisa. 3 Estudante do mestrado em Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Goiás colaborador da pesquisa. INTRODUÇÃO O surgimento do trator agrícola revolucionou os termos de produtividade, hoje dispõe de três tipos de potência a partir de seu motor, são elas: Tomada de potência, levante hidráulico e barra de tração. Essa última mesmo sendo menos eficiente (LILJEDAHL et al., 1995) é a mais comum e apresenta versatilidade do trator agrícola, sua menor eficiência se deve a patinagem em conjunto com outros fatores como tipo de solo, distribuição de peso no rodado, geometria do trator, entre outros. Os tratores são normalmente selecionados de acordo com as necessidades de potência dos implementos usados em mobilização primária, como arados de discos e subsoladores, o que conduz freqüentemente ao super-dimensionamento do trator, em relação aos implementos usados em mobilização secundária, como a grade de discos e os cultivadores (Serrano et al., 2000). Segundo Mantovani (1987), para que um equipamento seja utilizado racionalmente, é necessário conhecer o sistema de manejo de solo que ele vai atender, as características desejáveis que o solo deverá apresentar, a energia consumida e, também, a sua capacidade efetiva de trabalho (ha/h). Assim como a seleção do trator é importante, a verificação do melhor implemento para tal atividade se faz, também, fundamental. Estudos de Gamero et al. (1986) analisaram o consumo de combustível e a capacidade de campo de diferentes sistemas de preparo periódico do solo, e observaram que a enxada rotativa é o equipamento testado que apresenta maior eficiência de operação e menor consumo de combustível para o preparo do solo por metro cúbico mobilizado. Já o arado é o equipamento que consome a maior quantidade de óleo diesel por metro cúbico do solo mobilizado. Atualmente surge a preocupação com o meio ambiente e aquecimento global, com isso trabalhos estão sendo feitos para minimizar a emissão de gases que contribuem para o agravamento dessas questões. A utilização de combustíveis fósseis é a mira das principais críticas e debates. Na Europa, por exemplo, 100% dos veículos de carga pesada, e cerca de 60% dos de carga leve, incluindo os utilitários, e ainda 20% dos carros para transporte de passageiros, o que inclui as vans, são movidos à diesel (Hammerle et al., Technical Paper Series). A grande vantagem das máquinas à diesel deve-se, principalmente, à eficiência do diesel como combustível em relação à gasolina (Farrauto et al., Automotive engineering), ou mesmo com relação a outros combustíveis simples ou misturados (Neeft et al., 1996), como o metanol por exemplo, o que chega a apresentar uma economia relativa entre 25 a 45% (Hunter et al., Automotive engineering). O objetivo desse trabalho foi avaliar a patinagem, volume de solo mobilizado, consumo do trator e emissão de gases do diesel convencional com a utilização de um arado de 1 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 aiveca (16 cm de profundidade), em função da rotação em solo plano e levemente pedregoso e também a geração de equações que descrevam os resultados. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Universidade Estadual de Goiás. As coordenadas geográficas da área são 17º43'19'' latitude Sul e 48º09'35'' longitude Oeste. A altitude do município é de 1020 m e o clima regional é classificado como Cwa-Mesotérmico Úmido, com precipitação e a temperatura média anual de 1750 mm e 25ºC, respectivamente. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho Escuro Eutrófico, com declividade média de 1% e textura argilosa. O delineamento experimental foi feito em delineamento inteiramente casualizado com fator único, variando em quatro rotações (1800, 2000, 2200 e 2400 rpm) com doze repetições, onde as parcelas foram constituídas por uma única profundidade de trabalho de 16 centímetros do arado de aiveca e quatro fatores analisados (Patinagem, consumo, solo mobilizado e emissão de gases (CO2, CO, NOx, SO2)). As parcelas experimentais tinham 40 metros de comprimento, sendo o tamanho da largura variável de acordo com o implemento utilizado. O trator dispunha de 5 metros para estabilização antes de entrar na parcela. Para a realização dos ensaios foi utilizado um trator agrícola novo da marca New Holland, modelo TT4030, com motor ciclo diesel, marca New Holland, com aspiração natural 4 tempos, sistema de injeção com bomba rotativa, refrigerado a água, com 4 cilindros, cilindrada total de 3908 cm3, com potencia nominal, segundo o fabricante, de 75 cv (55,1 kW). Com o intuito de oferecer resistência à barra de tração foi utilizado como implemento um arado de aiveca de arraste. A escolha do implemento é pelo fato de se tratar dos implementos que utilizaram uma maior demanda de força e por ser também muito utilizado no preparo periódico dos solos do cerrado. A velocidade da máquina durante as operações sofreram variações durante a variação de rotações. Para determinação da patinagem foi feito à contagem das garras do pneu (24 garras), a partir disso criou-se uma marca no pneu e contado quantas voltas o mesmo deu dentro da parcela mais as garras extras forneceu o valor da patinagem através da equação IP= (DTDP/DP)*100, onde: DT= Voltas do pneu sem implemento na parcela e DP= Voltas do pneu com implemento na parcela. O volume mobilizado de solo foi contabilizado através de uma trena para medir a largura de corte do arado de aiveca que multiplicado pelo comprimento da parcela e a profundidade de corte fornecia o valor. O consumo do combustível foi avaliado durante o deslocamento do trator/implemento em cada parcela, sendo a leitura realizada através de um fluxômetro com leitura direta, para a medição do combustível consumido. O consumo horário em volume de combustível foi determinado com base no volume de combustível consumido no percurso dentro de cada unidade experimental, conforme equação 1. Chv = C*3,6/ t equação (1) Onde Chv – Consumo horário (L h-1) C – Volume consumo na parcela (mL); t – Tempo percurso na parcela (s) 2 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 Para a determinação do consumo especifico, foi utilizada a equação conforme Mialhe (1996). Ce = Ch/He equação (2) Onde Ce = Consumo específico de combustível [g.(kW.h-1)]. Ch= Consumo horário de combustível (g.h-1) He= Potencia efetiva (kW) A análise e a determinação do gás emitido pelo motor serão realizadas de acordo com as normas ABNT MB 1615, referente à delimitação dos gases emitidos por motor diesel – medição do teor de fuligem com amostrador por elemento filtrante, como também a NBR 14489, referente à análise e determinação dos gases e do material particulado emitidos por motores ciclo diesel – ciclo 13 ponto. Para a realização do experimento será utilizado um monitor ambiental de combustão e de emissão da marca Kane, modelo 940 portátil, onde o mesmo será acoplado ao trator, permitindo a aquisição dos dados. O equipamento que será utilizado consegue analisar simultaneamente oito parâmetros (O2, CO, CO2, NO, NOx, SO2, temperatura e pressão) permitindo calcular a eficiência de combustão do motor como também a emissão de gases poluentes provenientes da queima das misturas biodiesel/diesel fóssil propostas. Serão determinados alguns parâmetros como O2, CO e CO2, onde os mesmos serão expressos em ppm (parte por milhão), possibilitando verificar assim se a combustão esta sendo realizada de maneira satisfatória, ou se esta ocasionando um excesso de ar e consequente perda no processo, visto que o processo de combustão está diretamente relacionado com esses três parâmetros. Através de outro sensor presente no equipamento, serão avaliados os níveis de NO, formados a partir do aumento da carga de trabalho e aumento da temperatura da câmara de combustão, sendo expresso em ppm( partes por milhão). Os níveis de NO2 e SO2 também serão avaliados, possibilitando assim, no caso do NO2, determinar a quantidade de óxidos de nitrogênio totais. Os dados obtidos no experimento foram submetidos às análises de variância aplicando-se teste F a 5% de probabilidade. Por se tratarem de dados quantitativos, os mesmos foram avaliados através de regressão linear. Foi utilizado para a realização das análises estatísticas o programa computacional Sisvar. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os dados coletados para patinagem, volume mobilizado e consumo mostraram-se significativos quanto a variação da rotação de acordo com a analise estatística feita pelo software Sisvar no teste F a 5% de probabilidade, sendo assim pode-se montar as equações da curva característica. Para modelação das equações foi utilizada a ferramenta de regressão do software Sisvar. Aceitando apenas equações com mais de 95% de significância, obteve-se as seguintes equações: Patinagem y = -0,0148x + 44,324 R² = 0,9588 Solo Mobilizado y = 0,000002x² - 0,0086x + 10,439 R² = 0,9988 3 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 Consumo y = -0,00003x² + 0,1214x - 124,24 R² = 0,9994 Equações lineares para Solo mobilizado e Consumo não foram aceitáveis, pois apresentava significância menor que 90%. De acordo com Serrano (2000) há uma diminuição média de 10 a 15% no consumo de combustível pelo trator, na operação de mobilização do solo, pela seleção de um regime do motor de 70 a 80% do regime nominal, relativamente à seleção do regime nominal. Que prova que o trator estava fora de seu regime nominal ao executar a operação. Em outros termos, o trator estava com velocidade fora da ideal para realização e profundidade relativamente baixa, provocando assim folga no trator e menor volume mobilizado de solo ao incremento de rotações. Com velocidade acima do normal, o arado de aiveca passa a cortar especificamente na sua área física como lâminas individuais, deixando de atuar o efeito sinérgico das duas lâminas como um conjunto. Com isso temos um volume mobilizado se solo menor e especifico a área das lâminas do arado pelo comprimento da parcela. O consumo varia com a carga imposta, ou seja, com o volume de solo mobilizado e a rotação. Ao fim da curva podemos perceber uma tendência à estabilização tanto do consumo quanto do volume mobilizado, isso ocorreu devido o trator atingir alta velocidade para a operação. Porém o consumo deve obedecer a uma reta e não a uma curva, o que ocorreu no gráfico e na fabricação da equação foi a escassez de pontos para criação da linha de tendência, como visto em outros trabalhos. Já a patinagem descreve uma equação linear que acompanha a variação da rotação. Quanto à emissão de gases nenhum dos gases mostrou-se significativos no teste F a 5% de probabilidade da analise estatística do programa Sisvar, segue-se a tabela com as médias dos valores de emissão para cada gás ou particulado: Emissão de Gases Gás\Rotação 1800 0,3813 Oxigênio 0,2188 CO2 522,83 CO 792,17 NOx 73,000 SO2 2000 0,3671 0,2335 572,58 922,75 37,583 2200 0,3954 0,1996 646,58 804,25 86,333 2400 0,3702 0,2292 683,50 746,58 79,250 CONCLUSÃO 1. O volume de solo mobilizado é decrescente com o aumento da rotação chegando á uma rotação máxima que é equivalente a uma velocidade em que esse volume mobilizado tende a ser constante. 2. A patinagem é inversamente proporcional à rotação. 3. O consumo é diretamente proporcional à rotação. 4. A emissão de gases não sofre interferência da rotação. AGRADECIMENTOS Agradeço à Universidade Estadual de Goiás pelo incentivo a pesquisa e fornecimento aos equipamentos necessários para obtenção dos resultados aqui expostos. Agradeço também João Paulo Barreto Cunha pelos esclarecimentos e suporte de campo e a todos os colaboradores que ajudaram direta ou indiretamente na obtenção dos dados. 4 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS HAMMERLE, R. H.; Ketcher, D. A.; Horrocks, R. W.; Lepperhoff, G.; Hüthwohl, G.; Lüers, B.; SAE Technical Paper Series, apud: ref. 39. FARRAUTO, R. J.; Adomaitis, J.; Tiethof, J.; Mooney, J.; Automotive Engineering 1992, 100, 19. NEEFT, J. P. A.; Makkee, M.; Moulijn, J. A.; Fuel Process. Technol. 1996, 47, 1. 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