Está esperando o que, para entrar na rebelião poético/musical de Assunção? CD de música é o que mais tem no comércio, com opções para todos os gostos e desgostos. CD de poesia também vem se proliferando, com a voz dos próprios poetas. Um CD híbrido não é coisa fácil de se encontrar. Muito menos de qualidade. É exatamente isso que está em "Rebelião na zona fantasma", CD do músico e poeta Ademir Assunção. O disco é uma simbiose perfeita entre poesia e música, não sabendo, o ouvinte, onde começa uma coisa e termina a outra. Músicos como Luiz Waack, Madan e Ricardo Garcia dão o tom certo para os petardos poéticos de Assunção, ao som de muito blues e rock´n´roll. O disco abre com a canção "Homem Só", música onde pontifica o violão de aço de Waack. Depois, vem o rock "Escrito à sangue", uma parceria de Assunção com Madan, onde, numa justaposição perfeita, ninguém sabe quem faz a segunda voz, para cantar/recitar num estilo meio Raul Seixas. A terceira faixa, "E então", é para mim a melhor do CD. Um blues fruto da parceria entre Ademir Assunção, Madan e Ricardo Garcia, com solos de guitarra que ora lembram Mark Knopfler, ora levam a uma viagem psicodélica, que vai num crescendo na segunda parte da música, com a voz acoplada de Waack e Assunção berrando se você "já teve coragem de dizer não?". "Nada demais", a música seguinte, conta com a participação especialíssima de Edvaldo Santana, com versos e ritmo cadenciados, no melhor estilo da ironia presente na poesia de Assunção: "e toda a cidade procurou um velho sábio/ que cruzava a cidade numa velha calói". "Noite e dia" vem com o belo poema incidental "Patas de Pantera". Nesta canção, a voz e o violão de Madan pairam acima dos versos que ficam ecoando na mente que nem chiclete. "Câmera indiscreta" tem a participação de Zeca Baleiro e vem no tom de toada nordestina. O poema incidental "Riviera 7:20 PM" funciona como se fosse o reflexo da voz de Zeca Baleiro na segunda voz de Assunção. "O espinho no dedo de Deus" é um poema rascante de Ademir Assunção: "tenho no corpo as marcas de Chernobyl/ tenho no bolso uma bomba que ainda não explodiu". Em "O Coisa Ruim" é um poema-manifesto de um poeta que sangra para não ser jamais manso, cordeiro. Em "Ratos", predomina a guitarra de Waack para o poema fatalista de Assunção. "A lira no lixo" é puro rock´n´roll. "Pó" é um belo desabafo poético, valorizado na voz de Madan: "o poeta é negro bicha e louco". E "Tantas pontas" funciona como um diálogo entre a voz de Assunção e a guitarra de Waack. Enfim, é um disco para quem gosta de poesia, blues e rock´n´roll. Se você ainda não comprou o CD, não sabe o que está perdendo. O e-mail de Assunção é [email protected] (Texto publicado no blogue Zumbi escutando blues, em outubro de 2005)