64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS NO ASSENTAMENTO NOVA VIDA, PITIMBU, PB, BRASIL , Michele F. M. de Brito¹* e Denise D. Cruz² ¹ ²Universidade Federal da Paraíba; *[email protected] Introdução A etnobotânica aborda a forma como grupos humanos interagem com a vegetação, registrando o saber e o uso botânico tradicional dos recursos florísticos disponíveis [1]. Esses estudos permitem conhecer quais espécies possuem maior importância de uso e de que forma são utilizados para melhorar a qualidade de vida. Quando se trata de plantas medicinais, seu conhecimento e uso estão intimamente ligados à manutenção da saúde e sobrevivência de uma comunidade. O objetivo deste estudo foi realizar o levantamento das espécies utilizadas com finalidade medicinal pelos moradores de um assentamento do litoral Sul da Paraíba. Metodologia O Assentamento Nova Vida, com 135 famílias está localizado no município de Pitimbu, litoral Sul da Paraíba, foi criado em 1993 e está inserido na Área de Proteção Ambiental de Tambaba, uma unidade de conservação de uso sustentável criada em 2002. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas entre Julho de 2012 e Janeiro de 2013 com informantes-chave da comunidade identificados a partir do método ‘Bola de Neve’ [2]. Durante as entrevistas, objetivou-se conhecer quais espécies eram utilizadas para fins medicinais, sua origem, como elas eram utilizadas e para quais doenças, sendo categorizadas de acordo com o CID-10 Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. O material botânico citado foi coletado durante as entrevistas e por meio de “Turnê Guiada” [3], herborizado, identificado e incorporado ao Herbário Lauro Pires Xavier (UFPB). Foi estimado o Valor de Uso [2] para os dados obtidos. Resultados e Discussão Foram entrevistados 20 informantes-chave, 18 mulheres e 2 homens com idade entre 33 a 83 anos. Foram citadas 127 espécies, de 59 famílias botânicas, sendo Fabaceae (9,6%), Lamiaceae (7,6%) e Myrtaceae (5,7%) as mais citadas. As folhas foram as partes mais indicadas para fins medicinais (52,3%), seguida de casca (12,7%) e raiz (11,6%). Folhas e cascas aparecem como as mais citadas em diversos trabalhos [4]. A combinação das cascas de Abarema cochliacarpos (Gomes) Barneby & J.W.Grimes e Anacardium occidentale L. é bastante citada pelos moradores como cicatrizante e antiinflamatório. É comum a combinação de várias plantas na preparação de chás e garrafadas com álcool, vinho ou água. O chá foi a forma de preparo mais comum (55,8%), seguido do xarope ou lambedor (12,7%). Em sua maioria, as plantas eram nativas (50,4%), sendo cultivadas ou coletadas na vegetação do entorno do assentamento. As categorias mais representativas foram aquelas relacionadas aos transtornos do sistema respiratório (21,6%); seguido de dores não definidas (18,4%) e transtornos do sistema digestório (17,6%). As espécies que mais se destacaram quanto ao Valor de Uso foram o mastruz (Chenopodium ambrosioides) e o hortelã miúdo (Mentha sp.) (Tab.1). Espécie N CHENOPODIACEAE Chenopodium ambrosioides L. LAMIACEAE Mentha sp. 20 25 ZINGIBERACEAE Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt & R.M. Sm. LAMIACEAE Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. ADOXACEAE Sambucus australis Cham. & Schltdl. POACEAE Cymbopogon citratus (DC.) Stapf 23 21 20 19 Indicações VU Verminoses, tosse, catarro, gripe 1,30 Tosse, gripe, verminoses, diarréia, dores. Gripe, sinusite, tosse, hipertensão, dor de cabeça Tosse, gripe, catarro 1,25 Catapora, coração, hipertensão, tosse. 1,0 Calmante, diarreia hipertensão, má digestão. 0,95 1,15 1,05 Tab 1. Principais espécies citadas para uso medicinal, seu número de citações, indicações e Valor de Uso. O mastruz, além de utilizado como cicatrizante, analgésico e vermífugo, também pode ser indicado para o tratamento de úlceras provocadas pela Leishmaniose [5]. Conclusões Esses resultados confirmam a importância que as espécies medicinais nativas têm para a comunidade. Sendo assim, é necessário mais atenção em seu uso e a implementação de programas que garantam a manutenção da biodiversidade local. Agradecimentos Aos moradores do Assentamento Nova Vida e à CAPES que forneceu uma bolsa de Mestrado à primeira autora. Referências Bibliográficas [1]Guarim Neto, G.; Santana, S.R. E Silva, J.V.B. 2000. Notas Etnobotânicas de espécies de Sapindaceae Jussieu. Acta Botanica Brasilica 14(3): 327-334. [2]Bernard, H.R. 1995. Research Methods in Antropology. Qualitative and Quantitative Approachs. 2nd ed. Walnut Creek, Altamira Press. [3]Albuquerque, U.P., Lucena, R.F.P. e Lins Neto, E.M.F. 2010. Seleção dos participantes da pesquisa. In: Albuquerque, U.P., Lucena, R.F.P. e Cunha, F.V.F.C. (eds), Métodos e técnicas na pesquisa etnobiológica e etnoecológica. Editora Livro Rápido/NUPPEA, Recife, p. 21-38 [4] Pinto, E.P.P., Amorozo, M.C.M. & Furlan,A. 2006. Conhecimento popular sobre plantas medicinais em comunidades rurais de mata atlântica – Itacaré, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20(4): 751-762. 2006 [5] Patrício, F. J., Costa, G. C., Pereira, P. V. S., Aragão-Filho, W. C., Sousa, S. M., Frazão, J. B., Pereira, W. S., Maciel, M. C. G., Silva, L. A., Amaral, F. M. M., Rebêlo, J. M. M., Guerra, R. N. M., Ribeiro, M. N. S. e Nascimento, F. R. F. 2008. Efficacy of the intralesional treatment with Chenopodium ambrosioides in the murine infection by Leishmania amazonensis. Journal of Ethnopharmacology 115:313–319