Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Faculdade Integral Diferencial- FACID Programa de Mestrado Interinstitucional em Bioengenharia ANTONIO CARLOS BELFORT DE CARVALHO FILHO AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE COMPOSTOS FLUORETADOS NA EROSÃO ÁCIDA DENTAL POR FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP 2010 Antonio Carlos Belfort de Carvalho Filho AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE COMPOSTOS FLUORETADOS NA EROSÃO ÁCIDA DENTAL POR FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Interinstitucional em Bioengenharia como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. Orientador: Prof. Dr. Luís Eduardo Silva Soares São José dos Campos, SP 2010 ANTONIOCARLOSBtrLFORTDE CARVALHOFILHO "AVALIAçÃO DOSEFE'TOSDE COMPOSTOSFLUORETADOSNA DE RAIOS.X' EROSÃOA,CIDADENTALPOR FLUORESCÊNCIA Engenharia DissertaçãoapÌovada como rcquisito parcial à obtençãodo grau de Mestre em e Biomédica, do Programa de Pós-Graduaçãoem Bioengenharia,do Instituto de Pesquisa do vale do Paraíba,são Josédoscampos,sP, peÌaseguinte da universidade Desenvolümento bancaexaÍninadora: Prof. Dra.ANA MARIA DO ESPIRITO SANTO (UNMP) PÍof.Dr. LUIS EDÜARDO SILVA SOARES(LINIVAP) Prof Dr. MARCOS AUGUSTODO REGO (UNITAU) Prof. Dra. SandÌaMaria Fonsecada Costa DiÍetor do lP&D - UniVaP SãoJosédosCampos,24 dejunhode 2010' Não consigo lembrar a última vez em que me permiti um banho de chuva! O menino que fui desfrutava daquela chuva repleta de raios e trovões; temia o barulho dos trovões, apenas. Esse menino e seus ‘coleguinhas’ corremos com os pés descalços, com o peito nu e a mente livre! A mente livre! O fogo, a roda, a penicilina, o transistor, o microchip, Stairway to Heaven, O Príncipe, a teoria da relatividade, Ben Hur são exemplos, entre muitos outros, de ações humanas que impuseram modificações significativas à humanidade. Esses magníficos momentos de brilhantismo, sejam eles acaso ou predestinação, permitem o aflorar de um conhecimento novo. Creio que esses momentos sejam o fruto de uma feliz contemplação da própria existência. Dedico Ao André e a Helena, meus filhos. Que embora a pouca idade não permita compreensão alguma desse momento, seus sorrisos e necessidades impeliram cada segundo do meu esforço. À minha esposa, única conhecedora dos muitos obstáculos transpostos na jornada que culmina com esse momento! AGRADECIMENTOS À Deus: que às minhas incertezas ofertou perspectivas; às minhas intransigências me ofertou o tombo; que aos meus tombos me ofertou a mão; à minha solitária caminhada acresceu uma maravilhosa família e caros amigos. Aos meus Pais: Não só pelo apoio e torcida, mas também por mostrar que são falíveis e por isso mesmo são humanos e dessa forma me ensinando a respeitar minhas limitações. Aos amigos de turma que na comum missão a qual nos dedicamos se fizeram presentes na ajuda mútua e na compreensão das limitações e inquietações individuais, em especial: Francialza, Luciana, Méssia e Yvana. Aos companheiros de Laboratório: Um carinho especial aos colegas de laboratório que, assim como Roberto Pizarro Sanches entre outros, tão prontamente nos ajudaram à distância. AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS À faculdade CEUT: pela ajuda de custo e compreensão nos momentos de maior sobrecarga. Agradeço à FAPESP, pela utilização do equipamento de fluorescência de raios-X, instalado no Laboratório de Espectroscopia Vibracional Biomédica (LEVB). Ao Prof. Dr. Luís Eduardo Silva Soares, um exemplo impecável, de orientador, que tão prontamente compartilhou sua experiência além de extrema dedicação permitindo a mim a edificação de novos saberes. Demais professores: à equipe de professores que com harmonia e objetividade nortearam a jornada que agora estamos a concluir. Aos integrantes do Laboratório de Espectroscopia Vibracional Biomédica (LEVB) que não somente representaram os meios materiais que permitiram esse trabalho, mas que como conjunto de pessoas me acolheram permitindo a paulatina construção desse trabalho. Um agradecimento especial a todos os funcionários do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento - IP&D – da Biblioteca e das Secretarias que aqui encarnam a imagem desta magnífica instituição de ensino, a UNIVAP. AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE COMPOSTOS FLUORETADOS NA EROSÃO ÁCIDA DENTAL POR FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X RESUMO O objetivo deste estudo in vitro foi avaliar, por microfluorescência de Raios-X por energia dispersiva (-EDX), os efeitos de vernizes fluoretados ou do flúor em gel associados ao uso de bebidas ácidas sobre a composição química do esmalte. As amostras foram obtidas da superfície vestibular de 36 dentes bovinos (duas amostras por dente), divididos em nove grupos experimentais (n = 8), de acordo com o tratamento. O grupo controle (G1) foi armazenado apenas em saliva artificial. Os demais grupos foram submetidos a 6 ciclos: erosão em Pepsi Twist® (Grupos: 2, 4, 6 e 8) ou em suco de laranja (Nectar de Laranja Sufresh®) (Grupos: 3, 5, 7 e 9) e remineralização em saliva artificial, associando ou não ao uso dos produtos com flúor. A aplicação de flúor foi realizada com os seguintes produtos: Duraphat® (Colgate) (Grupos 4 e 5), Duofluorid® (FGM) (Grupos 6 e 7), flúor gel Nupro Gel® (Dentsply) (Grupos 8 e 9). As leituras por EDX foram realizadas em duas etapas: mapeamento em linha inicial (logo após a preparação das amostras: G1, G2 e G3; após o procedimento de aplicação dos vernizes ou flúor: G4-G9), e mapeamento final (após os tratamentos). Foi observada a desmineralização para os grupos tratados por Pepsi Twist® e suco de laranja Sufresh® (G2 e G3), enquanto que o grupo 1 (saliva artificial) não sofreu alterações estatisticamente significativas. A utilização dos vernizes Duraphat® (G4 e G5) e flúor gel Nupro Gel® (G8 e G9) após ciclagem promoveu níveis estatisticamente significantes de incremento mineral. Já o verniz Duofluorid® (G6 e G7) apresentou níveis de incremento próximos de zero. Se comparados os produtos, a desmineralização imposta pelo suco de laranja Sufresh® e Pepsi Twist® sem proteção não apresentaram diferenças estatísticas significativas. Os três compostos fluoretados se mostraram igualmente efetivos na proteção ao desafio ácido por Pepsi Twist®, no entanto, ao desafio ácido por Sufresh® o produto Duofluorid® não mostrou mesma efetividade sendo o melhor nível de proteção imposto pelo Nupro Gel®. Palavras Chave: Esmalte dental bovino, Flúor, Desmineralização, Remineralização, Microfluorescência de Raios-X por Energia Dispersiva, Verniz fluoretado, Gel fluoretado. EVALUATION OF EFFECTS OF FLUORID COMPOUNDS ON ENAMEL ACIDIC EROSION BY X-RAY FLUORESCENCE ABSTRACT The aim of this in vitro study focused in the analysis of the effects of fluoride varnishes – Duraphat® (Colgate) and Duofluorid® (FGM) – as well as neutral fluoride gel - Nupro Gel® (Dentsply) - to protect the enamel against demineralization associated to the use of acidic drinks. The analysis of these effects was carried out by energy-dispersive x-ray microfluorescence (-EDX). The samples were obtained from the vestibular surface of 36 bovine teeth (two samples per tooth), divided in nine experimental groups (n=8), according to the treatments. The control group (G1) was stored in artificial saliva. The other groups (G2-G9) were submitted to six cycles: demineralization in Pepsi Twist® or orange juice (Orange Nectar Sufresh®) and remineralization in artificial saliva, combining or not the use of the fluoride products indicated above. The EDX analyses were performed in two times: before line mappings (right after the preparing of the samples: G1, G2 and G3; after fluoride treatments: G4-G9), and after mappings (after the application procedure of varnish or fluor). Significant demineralization was found in the enamel specimens treated with Pepsi Twist® and Sufresh® orange juice (G2 and G3), while artificial saliva treatment (G1) induced no significant changes. Fluoride varnish (Duraphat®: G4 and G5) and fluoride gel (Nupro Gel®: G8 and G9) treatments induced significant levels of mineral increasing after cycling. The Duofluorid® varnish (G6 and G7) showed the lower mineral increasing levels. Comparisons between varnishes and fluoride gel considering the same beverage showed effective protection against Pepsi Twist® erosion, however, for Sufresh® erosion, the Duofluorid® varnish protection effect was inferior to the other products. The best protection level against orange juice demineralization was achieved by Nupro Gel® fluoride. Keywords: enamel, fluoride, mineralization, Dispersive X-Ray Micro-Fluorescence. demineralization, Energy LISTA DE FIGURAS Figura 1: Estrutura hexagonal da hidroxiapatita (BASTOS, 2001). ...........................................................................................................................16 Figura 2. Diagrama esquemático considerando a preparação das amostras e procedimento erosivo. ...................................................................................... 28 Figura 3. Máquina de corte de precisão Isomet 1000 - BUEHLER, Lake Bluff. .......................................................................................................................... 28 Figura 4: Politriz MetaServ 2000 - BUEHLER, Lake Bluff, IL, EUA).............. 29 Figura 5. Descrição esquemática do corte das amostras e resultado da amostra preparada. ........................................................................................................ 29 Figura 6: Sistema de Fluorescência de Raios-X (ED-XRF) comercial utilizado neste estudo. ................................................................................................... 34 Figura 7: Localização do mapeamento em linha em esmalte próximo à região central do dente. .............................................................................................. 35 Figura 8: Gráfico representativo da variação mineral (%) avaliada por fluorescência de raios-X após ciclagem erosiva. As leituras iniciais de cada grupo foram considerados como valores iniciais para o cálculo da variação mineral. ............................................................................................................ 40 Figura 9: Estrutura Linear da molécula de Hidroxiapatita (FERNANDES,2007). .......................................................................................................................... 42 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela 1. Divisão dos grupos experimentais em função do tratamento recebido. .......................................................................................................... 30 Tabela 2: Seqüência Experimental para aplicação dos produtos fluoretados. ..........................................................................................................................................31 Tabela 3: Composição dos compostos químicos utilizados no estudo. ........................................................................................................................................ 32 Tabela 4: Média e desvio padrão (n=8) das porcentagens em peso de cálcio e de fósforo e da relação Ca/P obtidas por fluorescência de raios-X, antes (A) e depois (B) da ciclagem de pH. Comparações estatísticas entre medidas iniciais e finais realizadas pelo teste de Mann-Whitney. Comparações não significantes grifadas em cor cinza. ...................................................................................... 36 Tabela 5: Resultados das comparações de significância estatística após os tratamentos para os grupos considerando os elementos cálcio e fósforo. Comparações considerando a mesma bebida e entre tipos de proteção com flúor (teste de Kruskal-Wallis). Comparações considerando grupos sem proteção e entre soluções de tratamento (teste de Kruskal-Wallis). Comparações entre duas bebidas e mesmo produto fluoretado (teste de MannWhitney). Comparações significantes grifadas em cor cinza. ......................... 38 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ANOVA – Análise Estatística de Variância. Å - Ångströn Ca/P – Relação Cálcio Fósforo CO2-TEA – Laser de Dióxido de Carbono com aditivos de aminas. Cu-HBr – Laser de gás de Cobre EDX-RF (EDX) - wave-length dispersive X-ray fluorescence EDX – Fluorescência de Energia por Dispersão de Energia EDS – Análise por Dispersão de Energia (de raios-x) e- - Elétron Er:YAG – Laser de estado sólido de granada de Étrio e Alumínio dopado com Érbio FT-IR – Técnica de Espectroscopia de Absorção por Transformada de Fourier na Região do Infravermelho FT-Raman – Espectroscopia Raman por transformada de Fourier HA - Hidroxiapatita LED - Light Emitting Diode MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura pH – Potencial Hidrogeniônico (escala de acidez) ppm – Partes por milhão RX – Raios-x TRFRX– Fluorescência de Raios-x por Reflexão total V – Vanádio XRF – Fluorescência de Raios-x SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................16 1.1 Hidroxiapatita ..........................................................................................16 1.2 Erosão Ácida ...........................................................................................17 1.3 Vernizes Fluoretados e flúor gel ............................................................ 21 1.4 Fluorescência de Raios X ...................................................................... 23 2 OBJETIVOS................................................................................................ 27 3 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 28 3.1 Seleção dos Dentes ............................................................................... 28 3.2 Preparação das amostras ...................................................................... 28 3.3 Proteção com flúor e tratamento erosivo ............................................... 30 3.4 Análise das amostras ............................................................................. 33 3.4.1 Grau de desmineralização ............................................................ 35 3.5 Análise estatística .................................................................................. 36 4 RESLTADOS ............................................................................................. 37 5 DISCUSSÃO .............................................................................................. 41 6 CONCLUSÃO ............................................................................................ 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 54 ANEXO A – CEP ........................................................................................ 62 16 1 INTRODUÇÃO 1.1 Hidroxiapatita Os fosfatos de cálcio despertam grande interesse biológico e médico em virtude de sua ocorrência em diferentes espécies animais e no homem. Exemplo é o osso humano que é formado por 20% de componentes orgânicos, 69% de fosfatos de cálcio e 9% de água. Dos componentes orgânicos, pode-se citar o colágeno, a matriz extracelular e os componentes celulares que atuam nos processos de dissolução e formação óssea. A parte inorgânica consiste de uma fase amorfa e uma fase cristalina, formada pela hidroxiapatita (HA) é o principal constituinte. O fosfato de cálcio hidróxido Ca10(PO4)6(OH)2 que constitui a base mineral dos ossos e dentes e é um reservatório de cálcio e fósforo para o corpo humano. Além da sua ocorrência biológica, a hidroxiapatita pode ser sintetizada em laboratório (DOURADO, 2006). Posner (1964) descreveu a estrutura da hidroxiapatita como sendo uma estrutura cristalina formada por cálcio e fosfato de geometria hexagonal, sendo os grupos fosfato dispostos em um tetraedro onde o fósforo fica ao centro e eqüidistante dos quatro oxigênios. As apatitas têm estrutura cristalina hexagonal, mas podem também se cristalizar como monoclínica (pseudo-heptagonal) se estiverem livres de lacunas. Os parâmetros da célula unitária são os seguintes: a = 9, 880 Å e c = 6,418 Å. A hidroxiapatita consiste numa rede do grupo PO4-3, forma tetraedros com dois átomos de oxigênio no plano basal e dois outros alinhados com o eixo “c”. Os tetraedros do grupo PO4-3 estão de tal forma arranjados que possibilitam a formação de dois tipos de canais perpendiculares ao plano basal: a) um canal com diâmetro de, aproximadamente, 2 Å tem paredes formadas por átomos de oxigênio e ocupado pelo íon cálcio Ca (I). Estes íons estão localizadas na posição relativa 0 e 1/2 do parâmetro de rede cristalina; 17 b) um canal com diâmetro de 3 a 3,5 Å, cujas paredes são constituídas por átomos de oxigênio ou íons Ca (II) e estão localizados a 1/4 e 3/4 do parâmetro de rede cristalina. A Figura 1 mostra a estrutura hexagonal da hidroxiapatita, apresentando grupos PO4-3 no plano basal. Figura 1: Estrutura da Hidroxiapatita – Célula Unitária-(FERNANDES, 2007) . 1.2 EROSÃO ÁCIDA A incidência de cáries e da doença periodontal na população, assim como outras patologias bucais que causam perda precoce dos dentes, tem diminuído bastante na população. Isso tem como conseqüência um aumento da longevidade dos dentes para um grande número de pessoas; melhor conscientização da população em relação à higiene bucal e tratamentos mais eficientes e mais acessíveis à população concorrem para esse quadro. Por outro lado, o maior tempo de permanência dos dentes naturais no meio bucal tem evidenciado a constante presença de processos erosivos sobre a estrutura dental, sendo a sensibilidade dental o sintoma mais freqüentemente relatado. Os processos erosivos por sua vez podem ser físicos ou químicos (EISENBURGER ; ADDY, 2003). 18 Segundo Nunes et al (2003) a erosão física é uma conseqüência direta da própria técnica de higiene bucal empregada onde a “escovação horizontal” surge como grande vilã e, mais raramente, de outros hábitos ou ações podem contribuir para o agravamento desse quadro – o deslocamento horizontal da escova dental associado à ação de dentifrícios contendo abrasivos promove grande desgaste do esmalte dental e posteriormente da dentina, principalmente na região cervical dos dentes. Já a erosão química está mais fortemente associada aos hábitos nutricionais modernos. O consumo freqüente de alimentos ácidos ou que podem, ainda na boca, ser convertidos em compostos de caráter ácido são as ações mais diretamente associadas ao quadro mencionado, nesse último caso estão os açúcares (LUSSI; JAEGGI, 2008). Clinicamente, observa-se uma relação entre a ingestão de alimentos considerados ácidos e o desenvolvimento de lesões dentais por erosão, cujo tratamento deve iniciar com a eliminação dos agentes causadores. A ingestão de líquidos na dieta tem sido cada vez mais empregada e isto é mais acentuado nos países tropicais. A grande oferta de bebidas no mercado e a diversidade de frutas em nossa flora nos fazem questionar a possibilidade de algumas delas estarem relacionadas ao desenvolvimento das lesões por erosão, as quais se manifestam por meio da sensibilidade cervical (VASCONCELLOS, VASCONCELLOS ; CUNHA, 2006). A erosão dental é uma condição multifatorial, sendo a interação de fatores químicos, biológicos e fatores comportamentais cruciais para ajudar a explicar porque alguns indivíduos exibem maior erosão que outros. O potencial erosivo de alguns agentes como bebidas ácidas ou gêneros alimentícios dependem de fatores químicos como pH, acidez titulável, conteúdo mineral encontrado na superfície dental e das propriedades quelantes do cálcio (LUSSI; JAEGGI, 2008). Em princípio a erosão ácida era um processo lento e gradual onde suas manifestações macroscópicas surgiam somente após vários anos de agressões, preferencialmente observadas em indivíduos adultos e em função dos certos hábitos alimentares e da capacidade de tamponamento da saliva de cada indivíduo. Os sinais e sintomas da erosão ácida, dessa forma, eram, até 19 então, uma condição quase que exclusiva de indivíduos adultos. No entanto, nos últimos anos, notadamente partindo da década de noventa, a prevalência da erosão ácida em crianças e jovens vem progressivamente aumentando (LUSSI ; JAEGGI, 2008). Partindo desse princípio, devem-se considerar os processos erosivos do tecido dental promovidos por substâncias químicas ácidas ou substâncias não ácidas passíveis de conversão em ácidos (fermentação) em função da ação da microbiota bucal. Paradella, Koga-Ito e Jorge (2008) realizaram um trabalho utilizando modelos microbiológicos de indução de lesão de cárie secundária que envolvem a imersão de amostras em cultura de Streptococcus mutans, espécie altamente relacionada ao desenvolvimento de cárie de superfície lisa em seres humanos ou em cultura de S. mutans em associação a outros microrganismos, como Lactobacillus acidophillus promovendo diminuição do pH do meio. O diagnóstico clínico de lesões cervicais em si não é tão difícil, principalmente se a lesão for acompanhada de sintomatologia dolorosa como a sensibilidade dentinária. Por outro lado o diagnóstico diferencial de qual fator foi preponderante para cada caso não é tão simples, pois as lesões nas porções cervicais dos dentes são multifatoriais. Normalmente o exame clínico sozinho não fornece informações suficientes para um diagnóstico conclusivo. Uma anamnese criteriosa se faz necessária para se tomar conhecimento dos hábitos de higiene e alimentares do paciente. As lesões cervicais costumam acompanhar a margem gengival (SANTOS et al., 2005). Esse fato sugere que o acúmulo de placa bacteriana nessa região estaria intimamente associado à “anatomia” da lesão. Quando uma solução ácida entra em contato com a estrutura dental, em primeiro lugar ela entra em contato com a película adquirida. Através da película adquirida ela se difunde e entra em contato com o esmalte dental – a película adquirida é composta por bactérias livres que recobrem tecidos duros e moles da boca, mucinas, proteínas e glicoproteínas e por várias enzimas. A película adquirida pode atuar de duas maneiras sobre o esmalte: 1ª - Por constituir a primeira barreira ao ataque ácido, pode atuar retardando o momento do ataque do ácido sobre o esmalte fornecendo, desta 20 forma, tempo para que o tampão salivar possa elevar o pH bucal e protegendo o tecido dental (LUSSI ; JAEGGI, 2008). 2ª - De outra forma, esse filme biológico produz suas próprias soluções ácidas, fermentação ácida, bem como outras enzimas potencialmente danosas ao tecido dental. Com o tempo essa placa “amadurece” aumentando bastante o número de microrganismos passando a agredir o dente (LUSSI; JAEGGI, 2008). O filme biológico pode facilmente ser removido da superfície do dente por meios mecânicos como escovação ou outras formas de profilaxia. Mas imediatamente após sua remoção ele passa a se restabelecer chegando a um ponto desejável – limite entre a proteção e a agressão promovidas pelo filme – por volta de duas horas depois de sua remoção (LUSSI ;,JAEGGI, 2008). Para que ocorra lesão, na superfície do esmalte tem início uma reação ácido/base onde o íon hidrogênio do ácido desagrega os cristais de hidroxiapatita do esmalte removendo íons. As diferentes soluções ácidas apresentam afinidades diferentes pelos compostos do esmalte dental. Para que se estabeleça de fato um processo de desmineralização do esmalte é necessário que o pH bucal atinja valores relativamente baixos. A saliva por apresentar íons diversos entre eles Cálcio (Ca) e Fósforo (P), possui a capacidade de reduzir ou mesmo impedir essa agressão em conseqüência de sua capacidade de tamponamento – impedir pequenas alterações de pH. Alguns estudos sugerem que os níveis de salivação bem como a capacidade de tamponamento da saliva podem trazer informações cruciais para determinar os níveis de suscetibilidade à erosão ácida (RANDAZZO, AMORMINO, SANTIAGO 2006). O estilo de vida moderno é sabidamente um fator deflagrador de estresse. Dado que é o estresse mental ou físico que, em geral, estimula o sistema simpático, é dito, com muita freqüência, que o objetivo do sistema simpático é o de prover excitação extra do corpo. Nos estados de estresse; por vezes, isso é chamado de resposta simpática ao estresse sendo uma das respostas observadas a diminuição do fluxo salivar (GUYTON,1997). Assim a constante condição de estresse passa a ser, mesmo que de forma indireta, um 21 fator diminuidor do tamponamento bucal em função da diminuição do fluxo salivar. Já os fatores comportamentais podem desempenhar um papel modificador do grau de desgaste dental. No que se refere aos hábitos alimentares; a freqüência de ingestão é tão relevante quanto o caráter ácido do alimento. A ingestão freqüente de alimentos ácidos não permite um tamponamento satisfatório do pH bucal além de impedir os processos de remineralização do tecido dental, ambos processos naturais promovidos pelos sais salivares. Curiosamente, a prática de exercícios físicos diminui a produção de saliva bem como pode alterar sua composição, dependendo também da intensidade e freqüência dessa atividade (COSTA, ECKLEY, 2004). A busca de uma melhor qualidade de vida pela prática de atividade física regular conjugada ao consumo aumentado de sucos – ricos em ácidos naturais – pode, quando reforçados por características do próprio organismo, potencializar um quadro de erosão ácida. Os próprios hábitos de higiene bucal como forma, intensidade e freqüência de escovação podem contribuir negativamente com a integridade dental (LUSSI ;JAEGGI , 2008). Um estudo laboratorial afirma que seriam necessários 2500 anos usando a escova de dente para remover 1 mm de esmalte do dente, e que seriam necessários 100 anos usando escova e dentifrício para remover 1 mm de esmalte dental. Combinando, no entanto, escova, dentifrício e produtos ácidos o tempo necessário para esse mesmo desgaste seria de apenas 2 anos (BARTLETT, 2005). 1.3 VERNIZES FLUORETADOS E FLÚOR GEL Um verniz fluoretado é um composto contendo flúor que, por suas propriedades mecânicas – rigidez após o tempo de presa – permite um prolongado tempo de contato com a superfície dental, em especial o esmalte dental, permitindo assim uma maior deposição de íons flúor nessa estrutura e, dessa forma, uma maior formação de fluorapatita. Tão relevante quanto compreender o mecanismo de ação de um verniz é saber que, quimicamente, a 22 fluorapatita é mais resistente ao ataque ácido que hidroxiapatita pela substituição de um grupo (OH-), que apresenta grande afinidade a compostos ácidos, por flúor (F). Além de prolongar o tempo de deposição de flúor no esmalte dental, o verniz se apresenta como uma eficaz barreira mecânica entre o esmalte e os compostos ácidos freqüentemente observados no meio bucal, seja por ação de microrganismos, seja pelas características da alimentação consumida (SOARES; VALENÇA, 2003). Além dos benefícios mencionados, os custos do procedimento são bastante razoáveis. Também competem a favor da utilização desses vernizes a pouca exigência técnica por parte de sua aplicação, ou seja, normalmente apresentam uma técnica simples de aplicação. A participação dos fluoretos é fundamental na prevenção do processo de perda mineral do esmalte, em decorrência da formação de um reservatório de fluoretos na cavidade oral resultante da deposição do fluoreto de cálcio e liberação do mesmo em pH baixo, aumentando a remineralização e retardando o processo de desmineralização. Diversos estudos foram realizados no que se refere à análise do efeito protetor de diversos fluoretos tópicos em distintas concentrações e períodos de tempo sobre o processo de erosão dentária (ARNOLD, 2003; LEANDRO, 2006; PINTO, 2007; ATTIN et al., 2007; MAGALHÃES et al., 2008; KATO et al., 2009). Contudo, a literatura ainda mostra-se controversa no que se refere ao efeito preventivo destes fluoretos frente ao processo de erosão dentária (CLAUDINO et al., 2007). Em um trabalho realizado por Murakami et al. (2009) foi feita uma comparação da desmineralização do esmalte de dentes permanentes e decíduos – observando as variações de microdureza dos mesmos – antes e depois de um ataque ácido. Os dentes foram divididos em grupos sendo os resultados do grupo controle comparados com outros grupos protegidos por verniz fluoretado e flúor gel. Tanto géis de flúor como vernizes promoveram uma proteção do esmalte dos dentes permanentes, no entanto, a proteção imposta por esses compostos ao esmalte dos dentes decíduos não apresentou mesma significância estatística. 23 Attin et al. (2007) realizaram um trabalho simulando o efeito da liberação de flúor pelos vernizes Durphat® e Mirafluorid® e a incorporação desse flúor por amostras não tratadas a diferentes distâncias das áreas protegidas e em função do tempo, bem como os efeitos relacionados ao ácido Hidroxietilcelulose. Os autores encontraram uma incorporação de flúor significativa no primeiro dia após a aplicação promovida pelos dois vernizes sem diferenças estatísticas entre os mesmos. Nos dias subseqüentes a incorporação do flúor se restringiu às áreas próximas às áreas protegidas sem, contudo apresentar relevância estatística em relação às outras áreas. Magalhães et al. (2008) reitera os benefícios obtidos com a proteção do esmalte dental pela utilização do fluoreto de sódio presente na maioria dos vernizes utilizados comercialmente cujo mecanismo de ação é conhecido e explicitado em muitos dos trabalhos como Arnold (2003), Leandro, (2006), ; Pinto (2007), Attin et al.(2007), Magalhães et al.,(2008), Kato et al. (2009). O trabalho faz uma comparação entre vernizes de Tetra fluoreto de Titânio (TiF4) e de Fluoreto de Sódio (NaF) mostrando igual efetividade protetora entre ambos com no que se refere a inibição da desmineralização do esmalte sendo o primeiro mais efetivo nos processos de recuperação por remineralização desse esmalte. 1.4 FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X A fluorescência é caracterizada pela emissão de luz por um átomo excitado por qualquer razão que não seja apenas de origem térmica, e por um tempo de emissão de aproximadamente 10-8 segundos após a excitação. Quando um determinado material é bombardeado por um feixe de radiação de alta energia (raios-X, e-, emissões β, emissões γ, luz), ele absorve os fótons que possuem energia suficiente para excitar principalmente os elétrons das camadas mais internas, e ao retornar ao estado inicial, há emissão de fótons de energia igual à diferença energética entre dois níveis (SARAIVA, HAMAGUCHI, ONO 2008). A análise por Fluorescência de Raios-X (FRX) é um método semiquantitativo baseado na medida da intensidade (número de fótons coletados 24 por unidade de tempo) dos raios-X característicos emitidos pelos elementos que constituem a amostra quando devidamente excitada (BERTIN, 1975). A intensidade da energia característica emitida pelos componentes da amostra está relacionada com a concentração de cada elemento presente na amostra. A técnica de fluorescência de raios-X é não destrutiva rápida e multielementar. A amostra pode estar no estado sólido, líquido ou pulverizada. Quando uma amostra é exposta ao fluxo de raios-X, os átomos absorvem a energia dos raios-X e ficam momentaneamente excitados. No processo praticamente instantâneo de excitação, os átomos liberam a energia recebida e fluorescem ou emitem raios-X. A absorção de raios-X produz íons eletronicamente excitados que retornam ao estado fundamental por transições que envolvem elétrons de níveis mais altos. Estas transições eletrônicas são caracterizadas pela emissão de raios-X (fluorescência) de comprimento de onda idêntico àquele resultante da excitação produzida pelo bombardeamento de elétrons. Os raios-X emitidos pelos átomos da amostra possuem propriedades específicas, que são exclusivas dos elementos presentes na amostra. A intensidade dos raios-X é proporcional à concentração atribuída ao elemento na amostra. Desta maneira, pela medição da energia e intensidade dos raios-X emitido pela amostra, o instrumento de espectrometria pode proporcionar uma análise qualitativa e quantitativa, ou seja, pode identificar os elementos e sua concentração (SCHIMIDT, BUENO, POPPI, 2002). Deste modo, uma avaliação quantitativa por comparação pode ser conduzida para determinar a relação dos teores dos elementos Ca e P presentes no composto mineral do esmalte dental. A análise por ED-XRF, é muito utilizada para estudo de materiais inorgânicos. Nos últimos 10 anos, tem sido utilizada para o estudo de tecidos biológicos (ALEXANDRE; BUENO, 2006). Um elétron pode ser ejetado de um orbital atômico e por absorção de fótons com bastante energia. Essa energia deve ser maior que a energia necessária para manter o elétron em “orbita” em torno do núcleo. Durante essa transição um fóton pode ser emitido por esse átomo; podendo ser chamado de raio-x característico desse elemento. A energia emitida pelo fóton vai depender da diferença de energia entre os orbitais ocupados pelo elétron durante a 25 transição. Existe assim, para átomos de um mesmo elemento químico, uma fidelidade entre a energia emitida por elétrons de um dado orbital. Então ao se conhecer “o perfil do fóton emitido” em função da energia fornecida, pode-se, assim, conhecer (identificar) o elemento químico observado. O comprimento de onda emitido (energia), o número de fótons por unidade de tempo que são característicos para cada elemento, pode ser avaliado em função de espectros onde, normalmente, são apresentados os picos para cada comprimento de onda observado. Cada conjunto de pares ordenados (ε, i) corresponde, portanto, a identidade do elemento (KERO, 2007). Estudos recentes aplicaram a técnica de fluorescência de raios-X para estudar, a influência da aplicação de compostos fluoretados e o efeito de bebidas ácidas sobre a estrutura dental comprovando, assim, a aplicabilidade e a confiabilidade da técnica. (MATHIAS, 2005; WOLFGANG et al., 2006; WOLFGANG et al., 2007; PINTO, 2007, JAGER et al., 2008). Mathias (2005) realizou em seu estudo a avaliação da incorporação de flúor pelos tecidos dentais (dentina, esmalte e cemento) por duas técnicas distintas: a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Análise por Dispersão de Raios-x (EDS/EDX). Ambas as técnicas se mostraram eficientes para o trabalho em questão, porém com a limitação de promoverem uma avaliação mais apurada das camadas mais superficiais dos referidos tecidos. Pinto et al (2007) avaliaram a obstrução dos canalículos dentinários por substâncias utilizadas no tratamento da sensibilidade dentinária sendo estas o nitrato de potássio 2% com fluoreto de sódio 2% e verniz contendo 5% de fluoreto de sódio. Essa avaliação foi feita por MEV e por EDX onde foram observadas diminuições consideráveis nos diâmetros dos canalículos, obliteração parcial, por meio da microscopia. Já a avaliação por energia dispersiva de raios-x (EDX) se mostrou efetiva ao permitir a constatação de traços de potássio, sódio, flúor, magnésio e silício variando segundo o protocolo utilizado para o tratamento de cada um dos grupos de amostras trabalhados. No trabalho de Jager e colaboradores (2008) a desmineralização do esmalte bovino foi promovida por grupos distintos de bebidas, variando de 26 água a bebidas contendo álcool e passando por bebidas a base de cola. A avaliação dos níveis de desmineralização do esmalte dental foi feita por EDX onde os autores concluíram que os efeitos podem variar bastante segundo composição e volume das bebidas utilizadas bem como pela espessura das amostras sendo necessária uma padronização para a obtenção de resultados mais conclusivos. Wolfgang et al. (2006) observaram que compostos fluoretados comumente encontrados em dentifrícios – monofluorfosfato de sódio e Fluoreto de amina – podem promover a remineralização do esmalte dental sendo este último mais efetivo. O procedimento utilizado para avaliar a eficácia dos fluoretos foi o mapeamento pelas técnicas de microscopia eletrônica de varredura (MEV) e por energia dispersiva de raios-x. Wolfgang et al.(2007) realizaram uma avaliação da influência do pH dos dentifrícios nos processos de proteção e remineralização do esmalte dental chegando a conclusão que um pH ligeiramente ácido dos dentifrícios (5,6 < pH < 5,8) favorece os processos de remineralização do esmalte dental. Os resultados foram conseguidos pela avaliação quantitativa por EDX do esmalte onde foi buscada a presença de hidroxiapatita no corpo das lesões. 27 2 OBJETIVOS Os objetivos deste estudo concentraram-se na avaliação dos efeitos protetores de vernizes e géis fluoretados sobre o esmalte dental quando este é exposto a soluções ácidas representadas por bebidas consumidas diariamente pela população. A avaliação desses efeitos foi realizada por microfluorescência de Raios-x por energia dispersiva (-EDX). Assim, os objetivos específicos deste estudo são: 1. Avaliação do grau de desmineralização superficial provocado no esmalte pela utilização de refrigerante a base de cola e suco de laranja. 2. Avaliar a efetividade na proteção do esmalte dental proporcionada pelos compostos fluoretados nas formas de verniz e flúor gel quando submetidos à ciclagem ácida em refrigerante a base de cola ou suco de laranja. 28 3 MATERIAL E MÉTODOS Neste estudo foram utilizados trinta e seis dentes bovinos incisivos hígidos. As amostras foram preparadas e analisadas no Laboratório de Espectroscopia Vibracional Biomédica (LEVB) do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D) da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP). 3.1 Seleção dos dentes Para a realização deste trabalho foram utilizados dentes bovinos incisivos hígidos por causa da maior facilidade de obtenção das amostras. As amostras de mandíbulas bovinas foram adquiridas em um frigorífico (Frigotil, Timon, MA) e os dentes incisivos foram extraídos com auxílio de fórceps cirúrgicos e armazenados em soro fisiológico. Para a execução deste estudo seguiram-se os princípios éticos das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo animais, conforme Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba, sob o no A46/CEP/2008 (anexo A). 3.2 Preparação das amostras No processo de descontaminação, os dentes foram limpos e armazenados em solução aquosa contendo Timol a 0,1% em geladeira a uma temperatura de 9° C por uma semana. Os dentes foram retirados da geladeira e lavados em água corrente por 24 horas para remoção dos traços de Timol. Os dentes foram manipulados e limpos no Laboratório de Espectroscopia Vibracional Biomédica do IP&D sob adequada paramentação (luvas, máscara, gorro, avental e óculos de proteção) conforme as precauções universais e normas de biossegurança do Ministério da Saúde. A limpeza dos 29 dentes foi realizada com curetas periodontais (7/8 Duflex), e estes foram polidos com pedra pomes (Asfer) e água, utilizando-se escovas de Robinson (Viking – KG Sorensen) em baixa rotação montada em um micro-motor (LB100-Beltec) sendo lavados em seguida com água destilada (Figura 2). Obtenção Ciclagem ácida Figura 2. Diagrama esquemático considerando a preparação das amostras e procedimento erosivo. Foram obtidos 72 blocos de dentes com dimensões aproximadas de 4 x 4 x 3 mm (Figura 5) da superfície vestibular dos dentes, removidos por um disco diamantado de corte montado em uma máquina de corte de precisão (Isomet 1000 – BUEHLER, Lake Bluff, IL, EUA) com velocidade de 450rpm e um contrapeso de 100g refrigerada com água. 30 Figura 3: Máquina de corte de precisão Isomet 1000 - BUEHLER , Lake Bluff. Todas as amostras tiveram a superfície vestibular polida por meio de uma Politriz Refrigerada a Água (Figura 4) para permitir uma distância focal uniforme. Figura 4: Politriz MetaServ 2000 - BUEHLER, Lake Bluff, IL, EUA) } 4mm 31 Figura 5. Descrição esquemática do corte das amostras e resultado da amostra preparada. Para limpar a superfície das amostras foi realizado um tratamento com ultra-som (Maxi Clean 1450 - MERSE) em água destilada por 1 minuto. As amostras foram colocadas em frascos individuais que foram rotulados de acordo com os grupos experimentais. 3.3 Proteção com flúor e tratamento erosivo Antes do experimento as amostras foram imersas em saliva artificial por 24 horas a temperatura ambiente, para formação da película adquirida (ATTIN et al., 2005). As amostras foram divididas em nove grupos experimentais com oito amostras em cada grupo. Os tratamentos com os produtos fluoretados e/ou bebidas ácidas estão especificados na Tabela 1. Tabela 1. Divisão dos grupos experimentais em função do tratamento recebido. GRUPO Tratamento G1 Saliva artificial (controle) G2 Pepsi Twist + Saliva artificial G3 Suco de laranja Su Fresh + Saliva artificial G4 Pepsi Twist + Duraphat (Colgate) G5 Suco de laranja Su Fresh + Duraphat (Colgate) G6 Pepsi Twist + Duofluorid (FGM) 32 G7 Suco de laranja Su Fresh + Duofluorid (FGM) G8 Pepsi Twist + Flúor gel neutro Nupro Gel (Dentsply) G9 Suco de laranja Su Fresh + Flúor gel neutro Nupro Gel (Dentsply) Após a limpeza dos dentes e a leitura inicial de cada amostra por fluorescência de Raios-x, os dentes dos grupos G4 - G9 receberam a aplicação do flúor na forma de gel ou verniz com base em uma adaptação do protocolo utilizado por Magalhães et al. (2008) (Tabela 2). Após este procedimento todas as amostras foram submetidas a 6 ciclos de erosão nas soluções a serem estudadas. Cada ciclo foi realizado com base em uma adaptação do protocolo utilizado por Kato et al. (2009) da seguinte maneira: Cada amostra foi armazenada em 2ml (volume pipetado) de cada solução em um tubo de testes de acrílico em temperatura ambiente. A ciclagem objetivou simular os ciclos de exposição dos dentes a bebidas ácidas em uma rotina diária típica. Foram realizados seis ciclos consecutivos de desafio ácido onde as amostras ficaram imersas em suco de laranja ou refrigerante, segundo divisão dos grupos de amostras mostradas na tabela 1. Em cada ciclo as amostras foram imersas nas respectivas soluções por 10 minutos sendo devolvidas para saliva artificial por 1 hora. A cada troca de recipiente contendo suco de laranja, refrigerante ou saliva artificial, as amostras foram lavadas em água destilada e secas com gaze estéril com o objetivo de evitar a contaminação das respectivas soluções. As soluções ácidas foram substituídas após os três primeiros ciclos. Na tabela 2 é apresentada a seqüência dos experimentos realizados segundo cada grupo. Tabela 2: Seqüência Experimental para aplicação dos produtos odontológicos fluoretados. Grupos Protocolo de execução Experimentais Grupos 4 e 5 Cada amostra recebeu uma fina camada do verniz Duraphat (Colgate) com o auxílio de um microbrush segundo orientação do fabricante. Após 6 horas de contato do produto com o esmalte, com cuidado para não “riscar” o esmalte, o 33 verniz foi retirado por meio de tração exercida com uma cureta periodontal nº 3. Em seguida, foi realizada no esmalte a uma leitura por EDX. Cada amostra recebeu uma fina camada do verniz Duofluorid (FGM) com o Grupos 6 e 7 auxílio de um microbrush segundo orientação do fabricante. Para a remoção do verniz foi adotado procedimento idêntico ao dos grupos 4 e 5. Grupos 8 e 9 Cada amostra recebeu uma aplicação do Flúor gel Nupro Gel a qual foi feita com um microbrush (Dentsply) por 4 minutos seguida de lavagem com água destilada e armazenagem em saliva artificial segundo orientação do fabricante. Fonte: Adaptação do protocolo utilizado por Magalhães et al. (2008). Na Tabela 3 estão enumeradas as composições químicas de todos os compostos químicos fluoretados e substâncias ácidas utilizados no experimento. Tabela 3: Composição dos compostos utilizados no estudo. MATERIAL COMPOSIÇÃO pH Verniz Duraphat (Colgate) contém 5% de fluoreto de sódio (equivalente a 2,26% de flúor) em uma base de etanol e colofônia natural. 4,5 Duofluorid XII® Verniz Duofluorid® (FGM) contém 6% de fluoreto de cálcio e 6% de fluoreto de sódio (5,63% de flúor) e como solvente o etanol. 8,0 Flúor Neutro Nupro Gel® Fluoreto de Sódio Neutro a 2% ® Duraphat ® Pepsi Twist ® Corante INS 150d, água gaseificada,suco concentrado de limão, aroma natural de cola e limão, extrato de noz de cola, edulcorantes artificiais: aspartame ins 951 (34mg/100ml), acesulfame K ins950 (10 mg/ml), conservador ins 211, regulador de acidez ins 331(iii), cafeína, acidulante ins338 e ins330. Suco de Laranja Su Fresh (Nectar de Laranja) Turma da Mônica 200ml contém suco de laranja, açúcar, polpa de laranja, aroma natural, antioxidante ácido ascórbico e acidulante ácido cítrico, Saliva Artificial Saliva Artificial (250 ml): Ca(NO3)2H2O, Na2HPO4, KCl, H2NC(CH2OH)3, NaF. Manipulada na Farmácia Terapêutica – Filial 026 São José dos Campos em 22/06/2009 Validade 21/08/2009. Fonte: Dados fornecidos pelo fabricante 6,5 3,5 3,7 – 3,8 7,0 34 3.4 Análise das amostras A superfície das amostras antes e após o procedimento de erosão dental foi submetida à análise EDX realizada em um espectrômetro marca Shimadzu modelo µEDX-1300. A superfície da amostra foi analisada longitudinalmente por dispersão de energia da radiação proveniente de um tubo de Rh, posicionado a 90° e acoplado a um sistema computadorizado. A amostra foi irradiada com feixe de raios-X de raio de 50 µm. A figura 6 mostra o equipamento de ED-XRF utilizado. Figura 6: Fotografia do equipamento de Fluorescência de Raios-X (ED-XRF) comercial utilizado neste estudo. A voltagem do tubo foi de 50 kV, com um ajuste automático da corrente. As medidas foram realizadas com um tempo de 10 seg. por ponto. Para cada amostra o mapeamento dos componentes Ca e P foi realizado em linha de 40 x 1 pontos com passos de 10 µm utilizando-se 50 kV, em tempo real de aquisição (10 segundos por ponto). (Figura 7). Em todas as medidas a contagem da radiação foi feita por um detector semicondutor de Si (Li) refrigerado por nitrogênio líquido. O reagente de hidroxiapatita estequiométrica sintética marca Sigma-Aldrich, grau de pureza 99.99% [Ca5HO13P3] foi utilizado como referência de padronização. As condições analíticas foram baseadas no método dos parâmetros fundamentais – peso atômico dos elementos. As variáveis para o cálculo da fórmula química foram estabelecidas para os pesos relativos de cálcio (Ca) e fósforo (P), e o 35 elemento oxigênio (O) foi utilizado como balanço químico. O elemento hidrogênio (H) não foi considerado no balanço total de massa, uma vez que a sua massa é equivalente a 0,1% do peso total da hidroxiapatita. Figura 7: Localização do mapeamento em linha em esmalte próximo à região central do dente. Após a realização do mapeamento em linha sobre o esmalte, os espectros correspondentes a cada amostra foram tratados por um processo de filtragem (smoothing) de cinco pontos utilizando o software do sistema do EDX (PCMEDX V. 1.04, Shimadzu Corp. Japão) e em seguida os valores da concentração em peso dos componentes cálcio e fósforo (médios) na linha foram anotados e tabulados numa planilha no programa Excel para efetuar os cálculos estatísticos. Também foi tabulada a relação Ca/P para cada grupo. 3.4.1 Grau de desmineralização O grau de desmineralização obtido pela ciclagem erosiva e utilização de materiais odontológicos fluoretados foi estimado pelo cálculo da diferença no mineral (cálcio e fósforo) entre o conteúdo mineral inicial (CMI) e o conteúdo 36 mineral final (CMF) para cada grupo, pois os valores iniciais foram diferentes para cada um deles. GD = [(CMI – CMF) / CMI]*100 (AMAECHI, HIGHAM. 2001) 3.5 Análise estatística Para as comparações dos componentes do esmalte em um mesmo grupo entre os valores iniciais e finais aplicou-se o teste de Mann-Whitney a 5% de significância. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para comparação entre os valores finais da porcentagem em peso dos componentes do esmalte comparando-se bebidas e vernizes. Todas as comparações estatísticas foram realizadas no programa Instat® (GraphPad Software Inc., San Diego, CA, EUA). As comparações estatísticas foram realizadas em quatro etapas. 1. Inicialmente foram feitas comparações entre os valores iniciais e finais para cada grupo dos valores médios em peso de cálcio (Ca), fósforo (P) e da relação Ca/P (teste de Mann-Whitney). 2. Foram comparados os valores médios em peso de cálcio (Ca), fósforo (P) e da relação Ca/P, considerando apenas os grupos que não receberam aplicação de flúor (G1-G3), realizando assim uma comparação entre as bebidas testadas e a saliva apenas (teste de Kruskal-Wallis). 3. Foram comparados os valores médios em peso de cálcio (Ca), fósforo (P) e da relação Ca/P, considerando os grupos tratados com a mesma bebida (Pepsi Twist®: G2, G4, G6, G8; Suco de laranja: G3, G5, G7, G9), realizando assim uma comparação entre os vernizes apenas (teste de Kruskal-Wallis). 4. Foram comparados os valores médios em peso de cálcio (Ca) e fósforo (P) considerando os grupos tratados com o mesmo produto a base de flúor (Duraphat®: G4, G5; Duofluorid®: G6, G7; Flúor gel neutro: G8, G9), realizando assim uma comparação entre as bebidas para cada verniz (teste de Mann-Whitney). 37 4 RESULTADOS Para o elemento cálcio (Ca) a variação da porcentagem em peso deste elemento ficou entre 31,57% (3,46) e 37,89% (0,82) considerando a leitura inicial e entre 32,32% (2,61) e 37,33% (2,48) para a leitura final (Tabela 4). Já para o elemento fósforo (P) a variação observada para a leitura inicial ficou entre 17,26% (0,27) e 14,88% (3,36) sendo que o intervalo relacionado à leitura final ficou entre 17,32% (0,70) e 15,42% (0,89). As amostras não sofreram variações significativas nos níveis de Ca quando sob ataque de suco de laranja quando protegidas por Draphat® ou Flúor Gel Nupro® (G5 e G9 respectivamente), no entanto foi sensível a variação de Ca para as amostras protegidas por Duofluorid® (G7) (Tabela 4). Para as amostras do grupo sem proteção por compostos fluoretados colocadas em Pepsi Twist® (G2), não foram evidenciadas variações significativas nas quantidades de Ca antes e depois da ciclagem. Entretanto, a ciclagem em suco de laranja Sufresh® para as amostras também sem proteção por flúor (G3) promoveu alterações com relevância estatística na quantidade de cálcio entre as duas medições (Tabela 5). Tanto para as amostras imersas em Pepsi twist® quanto para aquelas imersas em suco de laranja sem proteção por flúor (G2 e G3, respectivamente) os resultados mostraram variações estatisticamente significativas de fosfatos (Tabela 5). A Tabela 4 apresenta as variações de Cálcio e Fósforo antes e depois da ciclagem por bebidas ácidas – Pepsi Twist e Suco de Laranja Sufresh – bem como a relação Ca/P obtidas por meio de avaliação por EDX. Tabela 4: Média e desvio padrão (n=8) das porcentagens em peso de cálcio e de fósforo e da relação Ca/P obtidas por fluorescência de raios-X, antes (A) e depois (B) da ciclagem de pH. Comparações estatísticas entre medidas iniciais e finais realizadas pelo teste de Mann-Whitney. Comparações não significantes grifadas em cor cinza. 38 Cálcio GRUPOS Média (D.P.) Valor de p Fósforo Média Valor de p (D.P.) G1A 37,89 (0,82) G1B 37,33 (2,48) G2A 37,53 (3,06) P=0,1605 ns 17,26 (0,27) G2B 34,02 (3,21) G3A 37,70 (4,26) 32,32 (2,61) G4A 32,87 (4,04) 37,03 (2,69) G5A 31,57 (3,46) 36,15 (3,18) G6A 32,62 (2,52) G6B 37,34 (2,40) G7A 32,88 (4,68) G7B 33,40 (2,25) G8A 32,79 (3,30) 37,28 (4,81) G9A 31,82 (2,14) 38,45 (2,47) P=0,0148 s 2,09 (0,05) 15,54 (1,33) 2,11 (0,08) P=0,0281 s 16,93 (0,79) P=0,1304 ns 2,18 (0,05) 15,26 (1,17) 2,06 (0,07) P=0,0207 s 16,68 (1,01) P=0,0104 s 2,16 (0,06) 15,62 (0,81) 2,09 (0,06) P=0,0003ms 17,04 (0,70) P=0,0030ms 2,19 (0,05) 14,88 (3,36) 2,29 (0,43) P>0,9999 ns 15,88 (0,64) P=0,2345 ns 2,10 (0,06) 15,73 (1,03) 2,08 (0,07) P=0,0499 s 16,95 (1,38) P=0,0281 s 2,19 (0,10) 15,36 (0,74) P=0,0002 es G9B 2,20 (0,08) 15,42 (0,89) P=0,0499 s G8B P=0,3282 ns 2,19 (0,17) P=0,0207 s P=0,6454 ns 2,07 (0,04) P=0,0002 es 17,32 (0,70) P=0,0002 es 2,22 (0,05) Legenda: (ns) não significante; (s) significante; (ms) muito significante; (es) extremamente significante. A Tabela 5 apresenta os resultados de significância estatística para os elementos cálcio e fósforo após a ciclagem ácida para os grupos expostos a uma mesma bebida, no entanto confrontando os grupos sem proteção por substâncias fluoretadas e os grupos protegidos por diferentes compostos fluoretrados. P=0,1049 ns 2,20 (0,07) 17,06 (1,33) P=0,0011ms Valor de p 2,18 (0,06) 15,58 (1,59) P=0,0148 s G5B 2,20 (0,02) p=0,0148 s P=0,0379 s G4B P=0,3282 ns 17,06 (0,80) P=0,0207 s G3B Média (D.P.) 17,14 (0,65) p=0,0207 s Ca/P 39 Tabela 5: Resultados das comparações de significância estatística após os tratamentos para os grupos considerando os elementos cálcio e fósforo. Comparações considerando a mesma bebida e entre tipos de proteção com flúor (teste de Kruskal-Wallis). Comparações considerando grupos sem proteção e entre soluções de tratamento (teste de Kruskal-Wallis). Comparações entre duas bebidas e mesmo produto fluoretado (teste de MannWhitney). Comparações significantes grifadas em cor cinza. Tratamento Comparações Cálcio Fósforo Ca/P Sem proteção Saliva vs. Pepsi® ns P>0,05 * P<0,05 ns P>0,05 Saliva vs. Suco de laranja ** P<0,01 ** P<0,01 ns P>0,05 ns P>0,05 ns P>0,05 Pepsi® vs. Suco de laranja Pepsi Twist® ns P>0,05 Duraphat® vs. Duofluorid® ns P>0,05 ns P>0,05 ns P>0,05 Duraphat® vs. Flúor gel ns P>0,05 ns P>0,05 ns P>0,05 Duofluorid® vs. Flúor gel ns P>0,05 ns P>0,05 ns P>0,05 Suco de Duraphat® vs. Duofluorid® ns P>0,05 ns P>0,05 ns P>0,05 laranja Duraphat® vs. Flúor gel ns P>0,05 ns P>0,05 ns P>0,05 Duofluorid® vs. Flúor gel ** P<0,01 ** P<0,01 ** P<0,01 Duraphat® Pepsi® vs. Suco de laranja ns P = 0,9591 ns P = 0,8785 ns P = 0,9591 Duofluorid® Pepsi® vs. Suco de laranja ms P = 0,0019 ms P = 0,0019 s P = 0,0104 Flúor gel Pepsi® vs. Suco de laranja ns P = 0,4418 ns P = 0,3282 ns P = 0,6454 Legenda: (ns) não significante; (s) significante; (ms) muito significante; (es) extremamente significante. Considerando-se a variação mineral sofrida pelos grupos durante os tratamentos ácidos correspondentes foi possível observar variação negativa da quantidade de minerais para os grupos que não receberam tratamento por compostos fluoretados (G1, G2 e G3) enquanto que nos grupos que receberam tratamento com flúor (G4 a G9) foi observado incremento mineral com melhores resultados para flúor gel – Nupro Gel®. O menor incremento foi obtido pelo verniz Duofluorid®, apesar de todos os compostos apresentarem algum nível de incremento mineral. No grupo G7 foi observado um menor incremento de cálcio que nos demais grupos, um aspecto que corrobora com a menor eficácia do composto Duofluorid® na proteção fornecida ao esmalte dental bem 40 como a posição mais central do elemento cálcio se comparada com aposição dos grupos fosfato (Figura 8). Figura 8: Gráfico representativo da variação mineral (%) avaliada por fluorescência de raios-X após ciclagem erosiva. As leituras iniciais de cada grupo foram considerados como valores iniciais para o cálculo da variação mineral. 41 5 DISCUSSÃO A hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2) apresenta estrutura molecular aberta. Tal característica permite que qualquer um de seus íons possa ser removido Ca2+, PO43- e OH- - mantendo sua eletroneutralidade. A hidroxiapatita, compõe cerca de 23% da massa óssea e 90% do esmalte dental sendo considerada a apatita mais cristalina produzida por organismos vivos, apesar de possuir baixo grau de cristalinidade em função das trocas de íons OH- por F- ou Cl- formando fluorapatita e cloroapatita respectivamente. Na natureza a fluorapatita e cloroapatita são mais abundantes que a hidroxiapatita. Pode também ocorrer a troca de Ca+2 por outros íons divalentes com diâmetro superior a 0,97 Å e a troca de fosfato por carbonatos e sulfatos (MOREIRA et al., 2007). A equação de formação da flúorapatita, abaixo representada, ocorre espontaneamente na natureza, todavia no organismo tão somente é observada a substituição do grupo hidroxila da hidroxipatita em função da utilização de compostos fluoretados. 5 Ca+2(aq) + 3 PO4-3(aq) + F-(aq)↔ Ca5(PO4)3F(s) (SILVA,2001) A própria complexidade das apatitas decorre dessas possibilidades de trocas, incluindo sua origem biológica. Os principais substituintes para o cálcio são: Sr+2, Ba+2, Pb+2, Mg+2, Na+1, La+3 e Al+3. Já o PO43- pode ser substituído por: AsO43-, VO43-, SO42-, CO32-, HPO42- e SiO44-. O anion OH- pode ser substituído por: F-, Cl-, Br-, O2-, S2-, CO32-. Outra importante propriedade das apatitas é a possibilidade de admitirem lacunas. Estas nunca existem nos locais PO43-, ficando restritas aos sítios catiônicos Ca2- ou aniônicos OH-. A presença de lacunas e substituições catiônicas e aniônicas leva a modificações importantes nos equilíbrios de cargas locais, nas simetrias locais e distorções sensíveis da malha (RIBEIRO, 1994). As propriedades da hidroxiapatita podem ser sensivelmente alteradas em função da agregação de flúor, como descrito anteriormente. Um exemplo poderia ser observado no que se refere à microdureza. A utilização de 42 flúor neutro pode promover um aumento significativo da microdureza do esmalte dental. Mesmo se comparadas a técnicas diferentes envolvendo a aplicação de compostos fluoretados como, por exemplos, dentifrícios, géis ácidos ou neutros, os resultados se mostraram bastante semelhantes. Em um estudo feito por Delbem et al.(2004), foi observado que a microdureza do esmalte pode ser aumentada por qualquer uma das técnicas acima descritas sem que ocorram diferenças estatísticas significativas dos resultados . Vale observar que a molécula de hidroxiapatita já apresenta um processo natural, espontâneo e reversível de solubilidade em meio aquoso. E essa mobilidade estaria intimamente associada aos mecanismos de substituições catiônicas e aniônicos observados e utilizados em processos preventivos de controle da desmineralização do esmalte dental. Ca5(PO4)3OH (s) + H2O(l)↔ 5 Ca+2(aq) +3 PO4-3(aq) + OH-(aq) (Silva 2001) O protocolo utilizado no presente estudo foi uma adaptação do protocolo utilizado previamente por Kato et al., (2009) o qual incluiu no procedimento de ciclagem a colocação das amostras em saliva artificial cujo propósito, além de simular as condições intrabucais, objetiva contemplar as movimentações iônicas que possivelmente ocorrem em condições fisiológicas, considerando a saliva um instrumento de remineralização do esmalte dental e sendo essa mobilidade contemplada em trabalhos como o de Chen, Darvell e Leung. (2004), onde evidenciou trocas iônicas quando expôs a hidroxiapatita em forma de pó a soluções inorgânicas simples e em meio neutro (pH= 7,0) a uma temperatura de 37ºC. A estrutura cristalina da hidroxiapatita é hexagonal (Figura 1). Sua célula unitária contém dez íons cálcio localizados em dois sítios não equivalentes. Os íons cálcio do sítio I estão alinhados em colunas. Já os íons cálcio do sítio II formam triângulos eqüiláteros perpendiculares à direção “c” - plano perpendicular ao eixo cristalino de mais alta simetria - da estrutura. Os cátions do sítio I estão associados a seis átomos de oxigênio pertencentes a diferentes tetraedros de PO43- e também a três outros átomos de oxigênio relativamente distantes. A existência de dois sítios de íons cálcio traz conseqüências importantes, pois suas propriedades estruturais podem variar em função das 43 substituições catiônicas. Os átomos de cálcio e fósforo formam um arranjo hexagonal no plano perpendicular ao eixo cristalino de maior simetria. As colunas constituídas pelo empilhamento de triângulos eqüiláteros de O2- e Ca2+ estão ligados entre si por íons fosfato. Os átomos de oxigênio da hidroxila estão abaixo do plano formado pelos triângulos de cálcio. Dos quatro grupos de oxigênio que formam os grupos fosfato, dois estão situados em planos perpendiculares à direção “c” e os outros dois estão paralelos à essa direção ,Figura 1 (FERNANDES,2007). Figura 9: Estrutura Linear da molécula de Hidroxiapatita (FERNANDES,2007). Tão importante quanto o conhecimento da estrutura da molécula de hidroxiapatita é entender como esses e outros aspectos podem influenciar na sua solubilidade em meio fisiológico. Em um trabalho realizado por Ribeiro 44 (1994), foi identificado um padrão diferenciado para a dissolução do cálcio e do fósforo da Hidroxiapatita em solução 0,9% de NaCl acrescida de ácido lático em diferentes concentrações e variados tempos de ciclagem. Os resultados foram avaliados em função das concentrações dos de P e Ca na solução após a ciclagem. Verificou-se que a um aumento da concentração de H+ está associado um aumento da concentração de Ca e P na fase líquida. A razão molar de Ca/P determinada nas soluções, não corresponde, no entanto, ao valor de 1,67 encontrado para o sólido, e característico da hidroxiapatita estequiométrica, exibindo um máximo a pH= 2,6. Para pH inferiores a 2,1 e iguais ou superiores a 3,1 a razão Ca/P é menor que a estequiométrica. A deficiência de Ca ou excesso de P na solução, não se deve possivelmente à hidroxiapatita usada, mas sim a um comportamento de dissolução incongruente (RIBEIRO,1994).” Os resultados obtidos pelo autor– para um intervalo de pH> 3,1 corroboras com os resultados obtidos pela avaliação por EDX, onde as amostras dos grupos submetidos à proteção pelos compostos fluoretados (G4, G5, G6, G7, G8 e G9) apresentaram uma diminuição na quantidade de fósforo foi bem caracterizada tanto para a ciclagem com Pepsi Twist (pH=3,5) quanto para o suco de laranja Sufresh (pH= 3,7- 3,8) caracterizando uma maior solubilidade desse composto. No que se refere ao cálcio, houve uma menor solubilidade do mesmo quando exposto ao refrigerante à base de cola, não ocorrendo variação estatisticamente significativa em suas quantidades; todavia o suco de laranja impôs variação estatisticamente significativa de sua proporção na hidroxiapatita. Embora possa ser estabelecida uma relação positiva entre os dois trabalhos, não há uma justificativa clara do real motivo para essa diferença de solubilidade – “dissolução incongruente”. Na figura 1 é possível observar um posicionamento mais periférico dos grupos P se comparados ao posicionamento do Ca ficando este último em um núcleo de posicionamento mais central. Embora tal geometria justificasse essa diferença inicial de solubilidade direcionando para uma maior exposição dos grupos fosfato e conseqüente maior solubilidade se comparada ao cálcio, essa característica sozinha não explicaria por qual motivo esse padrão de 45 solubilidade somente possa ser observado nos intervalos de pH> 3,1 e pH< 2,6. Não obstante a desmineralização do esmalte dental se mostra uma realidade para o intervalo de pH< 4,5 – dado amplamente acolhido em diversos trabalhos da literatura incluindo vários da bibliografia constante nessa dissertação a exemplo de Wolfgang et al. (2006). Considerando também o pH das soluções envolvidas – Pepsi Twist e Néctar de Laranja Sufresh – está localizado no de pH> 3, o padrão de solubilidade encontrado estaria em conformidade com os resultados obtidos. A utilização de compostos com flúor com a finalidade de reduzir processos de desmineralização bem como induzir a remineralização do esmalte dental já é bastante conhecida e amplamente aceita. Em princípio todo composto com flúor pode promover remineralização do esmalte dental, sendo que a camada superficial do esmalte se mostra mais estável após a aplicação de compostos fluoretados, principalmente fluoreto de amina quando comparados ao fluoreto de sódio e monofluorfosfato. Apesar de esse processo obedecer a uma relação dose-resposta, mesmo pequenas quantidades de flúor (ppm< 1) podem promover remineralização. O flúor, além de atuar diretamente nos processos de remineralização, atua também como catalisador desse processo, principalmente quando relacionado aos compostos de fosfato de cálcio. Um ponto importante a ser observado corresponde a janela de 4,5 <pH< 5,1, onde abaixo desse mínimo predominam os processos de desmineralização do esmalte enquanto para valores acima de 5,1 tornam-se perceptíveis os processos de remineralização impostos por compostos fluoretados (WOLFGANG et al., 2006). No entanto, a diversidade de técnicas de aplicação de flúor bem como o grande número de compostos ricos em flúor pode interferir nos resultados obtidos. Um exemplo é um ataque ácido previamente à sujeição ao composto fluoretado; esse procedimento objetiva uma remoção inicial das hidroxilas (OH-) para facilitar uma posterior substituição por íons flúor (F-). Em trabalho realizado por Mathias (2005) a aplicação de NaF a uma concentração de 1mg/L foi precedida por um ataque ácido com H3PO4 a 37% em tempos de 15 segundos, 30 segundos e 120 segundos respectivamente 46 sendo os resultados comparados com um grupo controle não submetido ao ataque ácido. Como resultado foi observado que a proteção a incorporação por flúor foi mais significativa quando houve um condicionamento de apenas 15 s. Acima desse tempo houve uma diminuição na incorporação de flúor pelo esmalte dental. Segundo a autora “isto sugere que o ataque ácido por 15 s disponibiliza um maior número de sítios de ligação para os íons fluoretos. Já o condicionamento ácido por um tempo maior, possivelmente reduziu a quantidade de cátions cálcio que poderiam se associar ao fluoreto do meio aquoso, o que se contrapõe ao efeito benéfico inicial”. Novamente existe uma relação positiva sugerindo que os radicais da molécula de hidroxiapatita apresentam solubilidade diferenciada em função da sua posição. No trabalho de Mathias (2005) o ácido fosfórico (H3PO4) interage mais rapidamente com o grupamento hidroxila (OH-) em um tempo sugerido de 15 s liberando um sítio para o acoplamento com o flúor. Por outro lado, em exposições ao ácido fosfórico acima de 30 s já ocorre injúria à hidroxiapatita por remover grupos fosfato e depois íons cálcio. Esses resultados remetem a uma questão pertinente: descobrir quais seriam a ações mais eficientes de prevenção e promoção de saúde bucal com a utilização de compostos contendo flúor se as condições fisiológicas – quantidade de substâncias ácidas ingeridas diariamente, tempo de exposição às mesmas, qualidade e freqüência da higiene bucal, qualidade da microbiota bucal entre outros fatores - podem interferir diretamente nos resultados tanto de proteção (agregação de flúor a hidroxiapatita) quanto na qualidade da reparação do esmalte dental (remineralização). O Verniz Fluoretado é um composto contendo flúor que permite um prolongado tempo de contato com a superfície dental – esmalte - permitindo assim uma maior deposição de íons flúor nessa estrutura e, dessa forma, uma maior formação de fluorapatita (SOARES, VALENÇA, 2003). Os vernizes apresentam mecanismo duplo de proteção do esmalte dental sendo o primeiro, acima mencionado, a substituição de grupos hidroxila do complexo cristalino da hidroxiapatita, e o segundo a proteção mecânica imposta pelo mesmo. No presente trabalho, o fator proteção mecânica foi prontamente descartado visto 47 que após o tempo indicado de aplicação do produto este foi removido por meio de curetas periodontais. Em um trabalho realizado por Demito, Ramos e Pereira (2009), foi utilizado o verniz Duraphat® com objetivo de avaliar sua influência sobre os processos de desmineralização do esmalte dental adjacente aos braquetes utilizados em tratamentos ortodônticos. Embora não tenha ocorrido uma diferença estatisticamente significante entre os grupos que receberam e não receberam o verniz, no período compreendido de seis meses e três aplicações do verniz, foi observada uma diminuição na quantidade de regiões desmineralizadas provavelmente em função das limitações de higiene dos pacientes. Em outro trabalho foram examinados 125 escolares na faixa etária de 7 a 11 anos matriculados na rede estadual de ensino do município de João Pessoa e selecionadas 20 crianças portadoras de lesões incipientes de cárie (manchas brancas) ativas (rugosas e opacas) em elementos dentários permanentes anteriores sendo sorteadas as crianças que receberiam flúor Gel Fluoretado Neutro Top® (fluoreto de sódio 2%) ou verniz Duraphat® e Verniz Fluorniz tendo como resultado uma significativa melhora das manchas brancas pré-existentes sem, contudo, haver diferenças estatísticas entre Gel ou Veniz fluoretado (SOARES; VALENÇA, 2003). O verniz Duraphat® contém 5% de fluoreto de sódio (equivalente a 2,26% de flúor) em uma base de colofônia natural. Sendo a colofônia uma resina fenólica que não parece interagir com o esmalte dental, toda ação atribuída ao verniz citado deve ser relacionada ao fluoreto de sódio (flúor). Também esses dados, constantes no trabalho de Soares e Valença (2003), reforçam os resultados presentes nesse trabalho onde os resultados obtidos tanto com a utilização de Duraphat® como de Flúor gel se mostraram estatisticamente semelhantes no que se refere à proteção imposta ao esmalte dental. Em trabalho realizado por Olympio et al. (2009) foi feito um registro da liberação de flúor pela urina em função do tempo após a aplicação dos vernizes Duraphat® (Colgate) e Duofluorid® (FGM) em crianças cuja aplicação obedeceu às recomendações do fabricante. No trabalho o autor evidenciou de maneira 48 indireta a liberação de flúor por compostos fluoretados na boca ao medir a quantidade de flúor presente na urina das crianças. A medição da quantidade de flúor na urina foi feita em três momentos distintos: a primeira foi realizada 24 horas antes e as outras duas 24 e 48 horas após a aplicação dos referidos vernizes. Esses valores, de forma indireta, representam a tendência de liberação desse composto – o flúor – para o tecido dental em função do tempo. No trabalho ficou clara a maior liberação por parte do verniz Duraphat® quando comparado ao verniz Duofluorid®. O Verniz Duofluorid® (FGM) contém 6% de fluoreto de cálcio e 6% de fluoreto de sódio (5,63% de flúor) e como solvente o etanol. Também o etanol parece não interagir com o esmalte dental promovendo alterações significativas além de variações na quantidade de água, desidratação. Embora esse verniz apresente concentração absoluta de flúor superior ao Verniz Duraphat®, sua ação protetora não obedeceu à proporção, pois, embora em concentração superior, o Verniz Duofluorid® apresentou liberação de flúor mais lenta. Tal dado vem se somar aos resultados deste trabalho onde o Duofluorid® promoveu uma proteção do esmalte dental ligeiramente inferior à proteção imposta pelo Duraphat®. A liberação de flúor em menor quantidade pelo primeiro justificaria a menor resistência das amostras de esmalte ao desafio ácido proporcionado. Ainda existem controvérsias, segundo Sollos (2008), entre autores no que se refere à capacidade de remineralização do esmalte dental. Para muitos a remineralização do esmalte dental por compostos fluoretados não existe de fato, pois os resultados obtidos tão somente são conseqüência da remoção mecânica do tecido cariado. Em seu trabalho a autora constatou que compostos fluoretados (vernizes fluoretados) não apresentaram fator de proteção adicional ao esmalte dental, sendo a melhoria na qualidade da higiene bucal – melhor escovação com utilização regular de dentifrícios – a maior responsável pela melhoria do esmalte nas regiões de lesões de cárie iniciais; o atrito promovido pela escovação devolveu o aspecto polido às regiões anteriormente opacas de lesões brancas. Todavia, em trabalho feito por Pitoni (2007) foi realizada uma avaliação das propriedades do esmalte dental por radiografia digital e por medição da sua 49 microdureza após submetido à desmineralização e posterior reminealização por flúor fosfato acidulado e ao flúor presente nos dentifrícios comerciais chegando à conclusão que o uso de quatro aplicações tópicas de flúor fosfato acidulado promove maior grau de remineralização que o uso de dentifrício fluoretado três vezes ao dia num intervalo de 28 dias. Rodrigues (2002) realizou trabalho observando o esmalte dental em locais onde foram feitos preparos cavitários com brocas diamantadas de alta rotação por meio de microscopia eletrônica de varredura após aplicação do verniz Duraphat® associado ao uso de laser Er:Yag submetendo ou não as amostras ao ácido etileno diamino tetracético (EDTA). No estudo a autora observou importantes alterações morfológicas do esmalte dental principalmente pela obliteração dos canalículos dentinários pelo referido verniz – o verniz Duraphat® formou grandes depósitos ao redor da entrada dos túbulos dentinários. Portanto, embora existam alguns trabalhos questionando a existência ou não de processos remineralizadores do esmalte dental e tomando os artigos enumerados, muitas são as evidências que concorrem para a comprovação desse processo principalmente quando em lesões insipientes do esmalte dental. A avaliação quali-quantitativa das amostras observadas pode ser feita por diferentes métodos, entre eles a avaliação por dispersão de raios-x. Em trabalho realizado por Sanches et al,(2009), o esmalte dental bovino foi submetido a tratamento químico com ácido lático e térmico por meio de laser de Cu-HBr e de CO2-TEA, sendo a avaliação dos resultados feita pelas técnicas de microanálise por espectroscopias FT-Raman, FT-IR e a de µ-EDX para identificar possíveis modificações desse esmalte. Como resultado foi possível caracterizar o tecido dental, após tratamento químico e térmico, em função das técnicas utilizadas. Nesse estudo a técnica de avaliação por µ-EDX se mostrou eficiente para avaliação quantitativa e qualitativa do esmalte dental. Em trabalho realizado por Mattos (2003) foi feita uma análise por EDS com a finalidade de medir a relação percentual de cálcio e fósforo presente no dente tanto para as amostras do grupo controle quanto para amostras clareadas. O clareamento foi realizado por técnicas diferentes de sendo a 50 primeira utilizando peróxido de carbamida a 10% associado a irradiação por LED e a segunda utilizando peróxido de hidrogênio a 35% associado a laser de diodo. Os resultados foram obtidos pela avaliação por MEV e EDS sendo que a primeira – MEV – permitiu observar que após o tratamento não houve alteração morfologia da estrutura do esmalte dental. A avaliação química por EDS permitiu concluir que não houve variação estatisticamente significativa dos valores de Ca em relação ao P no trabalho em questão. As avaliações por EDX/EDS são atualmente bastante utilizadas em diversos trabalhos incluindo trabalhos de condicionamento híbrido do esmalte dental com flúor e lasers associados como no trabalho de Oliveira et al (2008). Todavia, trabalhos envolvendo uma avaliação por EDX do esmalte dental tratado por vernizes fluoretados são ausentes até então. A técnica de EDX, além da praticidade e confiabilidade, permitiu uma avaliação semiquantitativa direta do conteúdo mineral do esmalte em função da ciclagem ácida e remineralização. Foi possível verificar o efeito protetor dos compostos fluoretados utilizados nesse estudo – Duraphat®, Duofluorid® e Nupro Gel® – bem como a participação dos mesmos na deposição mineral imposta por eles ao esmalte dental. Os dados obtidos permitiram constatar que, embora sejam extremamente importantes hábitos corretos de higiene bucal caseiros, no que se refere à deposição mineral o flúor tópico aplicado em consultório odontológico se mostrou bastante efetivo. Não obstante, a busca por bebidas mais saudáveis como sucos naturais, em oposição às expectativas dos próprios pacientes, pode impor uma agressão ao esmalte dental superior àquela promovida por refrigerantes sendo bastante recomendável a adoção de uma rotina visitas ao dentista com finalidade profilática. 51 6 CONCLUSÃO Foi constatado que tanto o suco de laranja – Nectar de Laranja Sufresh® – quanto o refrigerante à base de cola – Pepsi Twist® – promoveram desmineralização do esmalte dental sendo a perda de P estatisticamente significativa para as duas bebidas enquanto que a perda de Ca somente apresentou relevância para as amostras imersas em suco de laranja. O grupo controle – em saliva – não apresentou variações significativas dos minerais. Os compostos Duraphat®, Duofluorid® e Fluor Gel Nupro® se mostraram efetivos na proteção ao ataque por Pepsi Twist®. Já em relação ao ataque por Suco de Larnaja Sufresh® apenas o Duofluorid® não se mostrou efetivo, enquanto os outros dois compostos (Duraphat® e Nupro® Gel) foram efetivos com ligeira superioridade para o flúor gel. Os três compostos promoveram incremento mineral sendo mínima a diferença estatística observada entre Duraphat® e Nupro® Gel. Já o composto Duofluorid® promoveu incremento inferior aos demais compostos. 52 REFERÊNCIAS ALEXANDRE, T. L.; BUENO, M. I. M.. Classification of some species, genera and families of plants by x-ray spectrometry. Wiley InterScience, v. 35, n. 4, p. 257-260, 2006. AMAECHI, B. T.; HIGHAM, S. M. Eroded enamel lesion remineralization by saliva as a possible factor in the site-specificity of human dental erosion.Archivesof Oral Biology,v. 46, n. 8, p. 697-703, 2001. ANTONIAZZI, R. G.; NAGEN FILHO, H. Avaliação do desgaste de superfícies de resinas compostas com diferentes técnicas de polimerização. Revista Biociência de Taubaté, v. 9, n. 4, p. 11-18, 2003. 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