698 Desafios de Mobilidade Enfrentados por Idosos em seu Meio. V Mostra de Pesquisa da PósGraduação Milena Abreu Tavares de Sousa-Fischer1, Irênio Gomes da Silva Filho 2 (orientador) 1 Mestranda em Geriatria e Gerontolgia Biomédica, IGG/PUCRS, 2 Coordenador do Programa de PósGraduação do Institutode Geriatria e Gerontologia da PUCRS. Resumo Os inúmeros problemas que afetam a qualidade de vida dos idosos demandam respostas urgentes em diversas áreas. Sendo assim, são de extrema importância, para essa população, ações de caráter mais preventivo, principalmente no controle da autonomia, e consequentemente, na qualidade de vida. Um dos elementos que determinam a expectativa de vida ativa ou com qualidade é a independência para realização das atividades habituais. Essa independência depende não somente das condições clínicas e de saúde dos idosos, mas também da adequação do meio onde eles vivem (JOHNSTON et al., 2006). A autonomia está interligada a incapacidade funcional, que ocorre à medida que os idosos não conseguem se adaptar às mudanças decorrentes do processo de envelhecimento e ao meio onde vivem (RAMOS, 2003). A capacidade funcional é um paradigma à saúde dos idosos, em que a qualidade de vida passa a ser resultante da interação entre saúde física, mental, independência na vida diária e o ambiente, dentro de uma integração social. Outro fato importante a ser considerado é que saúde para a população idosa não se restringe ao controle e à prevenção de agravos de doenças crônicas não-transmissíveis. Saúde da pessoa idosa é a interação entre a saúde física, a saúde mental, a independência financeira, a capacidade funcional e o suporte social (BRASIL, 2009). Desta forma, se a qualidade do espaço urbano for comprovada como fator atenuante para a pouca mobilidade do idoso, poderia dessa forma, sugerir melhoras no espaço físico urbano para facilitar a mobilidade dos idosos com maior incapacidade, assim, o processo de dependência do idoso poderia ser revertido ou atenuado e consequentemente melhorar sua autonomia e qualidade de vida. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 699 Este estudo pode servir também como ferramenta para dar suporte para a Geriatria Preventiva, enfatizando a melhoria da qualidade de vida dos idosos. Os idosos quantificarão e avaliarão a qualidade do ambiente onde eles vivem através das suas experiências. Esta abordagem fornecerá informações essenciais a serem analisadas por profissionais de saúde buscando compreender e melhor trabalhar para o envelhecimento ativo. Além disso, pode possibilitar maiores conhecimentos para dar suporte a gestores públicos para adaptar as intervenções e políticas. Portanto, o objetivo deste trabalho é estudar a frequência com que os idosos do município de Dois Irmãos saem dos seus domicílios, as dificuldades relatadas pelos idosos; características ambientais observadas; características sócio-demográficos e de saúde relacionados a essas dificuldades. Desta forma, será possível observar se ambientes construído de forma menos acessível são susceptíveis a aumentar a incapacidade de mobilidade, diminuindo assim, a dependência entre aqueles idosos com incapacidade física mais severa. Introdução A Organização Panamericana de Saúde (OPAS) define o envelhecimento como um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte (OPAS, 2003). O processo do envelhecimento provoca a perda gradativa da capacidade funcional dos órgãos e sistemas. Entretanto, é importante ressaltar que nem sempre essas alterações se traduzem em incapacidades, e que a presença e a intensidade das alterações orgânicas podem variar de um indivíduo para outro (KAWAMOTO et al., 1995). O envelhecimento humano é um fato presente na grande maioria das sociedades do mundo. O número de pessoas com idade superior ou igual a 60 anos tem crescido rapidamente (FREITAS, 2006). Portanto, o envelhecimento da população é um fenômeno mundial, característico, principalmente, dos países desenvolvidos e vem ocorrendo de modo mais crescente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (KALACHE et al., 1987). Dados demonstram que o Brasil desponta como um país cuja população se encontra em rápido processo de envelhecimento, o que tem se refletido na elevação da expectativa de vida. Tal acontecimento é determinado pela diminuição nas taxas de fecundidade e natalidade e V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 700 pelo aumento da expectativa de vida. As melhores condições de saneamento, nutrição, ambiente de trabalho, moradia, higiene pessoal e avanço tecnológico em especial na área da saúde, têm sido responsáveis por elevar o nível de vida e contribuírem para aumentar a longevidade (PAPALÉO & PONTE, 2005). Dessa forma, o envelhecimento demográfico, ao mesmo tempo em que pode ser considerado um êxito pelo fato de ter obtido uma redução da mortalidade infantil e do controle da fertilidade é, também, um fator de preocupação pela inexistência, hoje, de medidas políticas que satisfaçam as necessidades da população idosa (SCORTEGAGNA, 2004). O aumento da população idosa deve despertar preocupação entre as autoridades, pois eles custam mais para o Estado devido a esse grupo etário consumir mais recursos de saúde e utilizam mais estes serviços. Investir em prevenção, não somente a nível primário, mas também secundário e terciário, em centros qualificados aos idosos, aumentaria a autonomia e a qualidade de vida da pessoa idosa, diminuindo a relação do custo ao sistema prestador de serviço (FORTENZA, 2000). Resultados obtidos num estudo longitudinal em uma comunidade rural do Japão, a prevalência de idosos confinados em casa (foi considerado idoso confinado em casa aquele que saia de casa uma vez ou menos por semana) foi de 8,5%. O confinamento em casa é um fator de risco para a desabilidade nos indivíduos idosos com idade de 65 a 85 anos, que vivem de forma independente, e que uma baixa interação social representa também um fator de risco para a desabilidade. Este estudo afirma que a frequência de sair de casa é um guia válido para determinação do estatuto do confinamento em casa (WATANABE et al., 2005). Em um estudo que avaliou idosos confinados em casa para serviços sociais, utilizando a escala de depressão geriátrica (GDS), observou que entre os idosos confinados em casa, aqueles com sintomas de depressão significativas são mais susceptíveis a deterioração funcional e da qualidade de vida superior a seis meses de experiência. Contudo, aqueles que recebiam mais apoio mostraram melhoria significativa no componente mental da escala de qualidade de vida (SF-36) em seis meses. Sintomas de depressão identificam idosos em alto risco de isolamento em casa (CHARLSON et al., 2008). Idosos completamente independentes na função, capazes de andar sozinhos sem ajuda foram entrevistados quando tinha 70 anos e depois com 77 anos. Foi observado que durante o período de sete anos houve uma transição no comportamento de sair de casa. Entre os 115 participantes que saiam menos que uma vez por semana aos 77 anos, 49 tinham reportando V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 701 sair diariamente aos 70 anos. Entre os participantes que saiam diariamente, houve maior percentual de idosos com mais anos de ensino, menos solidão, auto-percepção da saúde como boa, níveis mais altos de atividade física e cormobidade baixa. Foi observado então, que nesta coorte mesmo entre idosos com robusta funcionalidade e preservada função cognitiva, sair de casa mostrou ter repercussões graves de saúde em longo prazo (JACOBS et al., 2008). Em um estudo longitudinal durante nove meses, foi verificado que a baixa frequência de sair de casa é um preditor do declínio funcional e intelectual entre os idosos frágeis, considerando que sair de casa frequentemente correspondia com a melhoria da auto-eficácia na realização das atividades da vida diária e na promoção da saúde (KONO et al, 2004). A incidência de ausência de mobilidade foi superior em indivíduos confinados em casa em comparação com os não confinados. A incidência de imobilidade de acordo com a idade foi superior em grupos confinados em casa do que nos não confinados em indivíduos idosos com idade até 85 anos, mas não foram encontradas diferenças significativas nas pessoas com idade superior a 85 (WATANABE et al., 2005). Infelizmente, o aumento do número de idosos na população tem se traduzido também em maior número de problemas de longa duração, tanto em nível social quanto pessoal. O envelhecimento pode trazer como uma de suas consequências a diminuição do desempenho motor para a realização de atividades habituais, porém, este fato não leva, necessariamente, ao idoso se tornar dependente (ANDREOTTI & OKUMA, 1999). As doenças crônicas não transmissíveis são a principal causa de incapacidade, a maior razão para a demanda a serviços de saúde e respondem por parte considerável dos gastos efetuados no setor (ALMEIDA et al., 2002). Além de considerar o aumento da expectativa de vida da população, é também necessário avaliar se os anos adicionais à vida de um indivíduo serão saudáveis. Um dos elementos que determina a expectativa de vida ativa ou saudável é a independência para realização de atividades cotidianas (PAVARANI & NÉRI, 2000). Em estudos transversais foi mostrado que a frequência de sair de casa estava associada a alterações funcionais e psicossociais (LINDSAY & THOMPSON,1993; GANGULI et al., 1996). A dificuldade ou incapacidade na realização das atividades habituais cotidianas dos idosos representa um risco elevado para a perda da independência funcional. Além disso, a incapacidade funcional tem sido associada com o baixo nível de interação social (SIMONSICK et al., 1998; THOMPSON & HELLER, 1990). V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 702 O contato e a interação social têm sido identificados em vários estudos como importantes preditores para a morbidade e mortalidade em populações idosas (SCHNEIDER et al., 2008; BLAZER, 1982). Dentre os fatores que favorecem a vulnerabilidade social dos idosos, podemos citar a saúde pobre e as incapacidades de mobilidade como limitações que desfavorecem a participação social dos idosos (FIELD et al., 1993). Uma limitação desses estudos é que características dos idosos confinados e os não confinados em casa foram comparadas sem controlar seus níveis de mobilidade. Pois, os idosos podem ficar limitados a sua casa devido aos seus níveis de baixa mobilidade, mesmo que eles gostariam de sair de casa. Ou ainda, por fatores psicossociais, apesar da mobilidade suficiente para sair de casa. Fatores associados ao confinamento em casa devem ser mostrados em termos de nível de mobilidade de uma pessoa (KONO & KANAGAWA, 2001). As dificuldades que os idosos apresentam no meio em que vivem mesmo aqueles independentes, provocam um grande impacto sobre a mobilidade, a independência e a qualidade de vida dos idosos e afetam a sua capacidade de locomoção. Além do ambiente externo a habitação e o sistema de transporte contribuem para a mobilidade confiante, comportamentos saudáveis, participação social e a determinação, porém o inverso pode provocar o isolamento, a inatividade e a exclusão social (KALACHE & KICKBUSCH, 2007). Metodologia DELINEAMENTO DO ESTUDO Estudo transversal, de base populacional, domiciliar, com coleta de dados primários. POPULAÇÃO A população em estudo será idosos (com 60 anos ou mais), não institucionalizados e residentes em domicílios urbanos do município de Dois Irmãos - RS. AMOSTRA Para este estudo, serão utilizados os idosos identificados por visita domiciliar a endereços aleatoriamente selecionados na zona urbana do município de Dois Irmãos – RS. MUNICÍPIO DE DOIS IRMÃOS V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 703 Dois Irmãos está situada na encosta do Planalto Meridional, numa altitude média de 175 metros, distante 55 km de Porto Alegre, capital do Estado. O município de Dois Irmãos é comporta de uma área de 66,8 Km². O município ainda preserva a característica original de região agrícola, os principais produtos no setor primário são flores, acácia negra e hortifrutigranjeira, já no setor secundário são sapatos, móveis, estofados e esquadrias. O crescimento demográfico e econômico foi acompanhado de mudanças políticoadministrativas: em 1857, Dois Irmãos é transformado no 4 º Distrito do município de São Leopoldo; em 1938, a povoação é elevada a categoria de Vila e, em 1959 , é criado o município de Dois Irmãos. De acordo com a estimativa da população residente de 2009 elaborada pelo DATASUS (2010), a polução total do município de Dois Irmãos é de 26.423 habitantes, destes aproximadamente 7% são idosos, conforme a Tabela 1. Tabela 1. Distribuição da população idosa do município de Dois Irmãos – RS. Dois Irmãos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 anos e Total de mais idosos Homens 477 216 71 764 Mulheres 556 319 137 1012 1.033 535 208 1.776 População idosa Fonte: DATASUS, 2010. PROCEDIMENTO AMOSTRAL / RECRUTAMENTO O delineamento da amostra foi planejado de acordo com a metodologia utilizada pelo IBGE, que divide os municípios em setores censitários. Obteve-se, junto ao IBGE, a relação dos 24 setores censitários urbanos e rurais do município de Dois Irmãos. Os mesmos serão numerados de forma sequencial, em seguida, proceder-se-á a escolha de dez setores, utilizando-se um sorteio de forma aleatória. Os domicílios entrevistados serão selecionados de modo aleatório em cada um dos setores censitários selecionados para a pesquisa. A obtenção da amostra será realizada da seguinte forma: todos os quarteirões de cada setor censitário serão numerados, para posterior sorteio. Com a identificação do quarteirão, o próximo passo será a escolha do domicílio que V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 704 ocorrerá considerando como ponto de início a esquina inicial do quarteirão, em sentido horário. A cada domicílio selecionado, será saltado um número de oito domicílios, de acordo com cada setor censitário, e assim sucessivamente, a fim de obter-se melhor distribuição. Serão realizadas 19 entrevistas por setor. A aleatoriedade será distinta para o sexo, serão entrevistados oito homens e 11 mulheres, respeitando a relação percentual de 43% e 57% de homens e mulheres, respectivamente, no município de Dois Irmãos - RS, segundo projeção intercensitária de 2009 do IBGE. Os setores censitários constituídos por estabelecimentos coletivos como: hospitais, clínicas, escolas, clubes, quartéis e similares; mesmo que destinados aos idosos, serão excluídos do sorteio, por conseguinte, do estudo. Caso não resida idoso na casa selecionada ou se o mesmo não aceitar ou não puder participar do estudo, ou ainda, não coincida a casa escolhida com a presença do gênero sorteado, ele será procurado no domicílio seguinte. Na existência de mais de um idoso no domicílio, será feito o sorteio de um deles. Nos casos em que se chegará ao final do setor sem atingir a cota de dezenove idosos, retornar-se-á ao ponto inicial, reiniciando todo o processo a partir do segundo domicílio, até que o número necessário se complete. Nos casos em que residir idoso no domicílio, mas o mesmo estiver ausente, serão realizadas até mais três visitas de retorno (em dias e horários diferentes). CRITÉRIO DE SELEÇÃO Critérios de inclusão Os critérios de inclusão serão idosos com idade igual ou superior a 60 anos e que sejam residentes em domicílios particulares da zona urbana da cidade de Dois Irmãos - RS. Critérios de exclusão E os critérios de exclusão serão os idosos que moram a menos de seis meses na residência atual do dia em que foi realizada a entrevista. COLETA DE DADOS Serão coletados dados que objetivarão obter informações sócio-demográficas, situação de saúde, e do grau de dificuldade e facilidade na execução de atividades diárias, desafios de V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 705 mobilidade através da aplicação de um questionário específico. Além disso, será utilizado a Escala de Depressão Geriátrica (GDS), a Avaliação Cognitiva Montreal (MOCA), será realizado o Time Up & Go Test (TUG) e aplicado um Relatório do Espaço Urbano Físico. Os dados serão coletados pela pesquisadora responsável por este estudo que esta sendo devidamente treinada. Os instrumentos serão aplicados por meio de entrevista individual, sendo pausadamente lida cada questão. No caso do questionário específico, para as questões de múltipla escolha será feita a leitura de cada item para os idosos. INSTRUMENTO Serão utilizados cinco instrumentos para este estudo: Escala de Depressão Geriátrica (GDS-Yesavage): se refere a um instrumento de rastreio reconhecido como recursos rápidos, tem como objetivo identificar e quantificar sintomas depressivos na população idosa, que foi desenvolvida por Yesavage et al. (1983). O instrumento consiste em um questionário de 15 questões, com duas opções de respostas: sim e não. Os escores inferiores a 5 são considerados normais; de 5 a 10 indicam depressão leve à moderada; e, acima de 10 indicam depressão grave. Avaliação Cognitiva Montreal (MOCA): esta avaliação foi desenvolvida como um instrumento breve de rastreio para deficiência cognitiva leve. O mesmo acessa diferentes domínios cognitivos: atenção e concentração, funções executivas, memória, linguagem, habilidades viso-construtivas, conceituação, cálculo e orientação. O tempo de aplicação do MOCA é de aproximadamente dez minutos. O escore total é de 30 pontos; sendo o escore de 26 ou mais considerado normal. Time Up & Go Test (TUG): este teste é amplamente utilizado por ser de fácil aplicação, avalia a mobilidade e o equilíbrio. O teste quantifica em segundos a mobilidade funcional através do tempo que o individuo realiza a seguinte tarefa: em quantos segundos ele levanta de uma cadeira padronizada com apoio e braços e de aproximadamente 46 cm de altura e braços de 65 cm de altura, caminha 3 metros, vira, volta rumo à cadeira e senta novamente. Relatório do Espaço Urbano Físico: Relatório preenchido pelo próprio entrevistador através de observação direta do espaço físico das ruas e V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 706 adjacências para cada casa selecionada para a coleta, com o objetivo de relatar condições desfavoráveis no ambiente físico. Questionário composto por 72 questões fechadas com escolha simples ou múltipla agrupadas em blocos temáticos. VARIÁVEIS DO ESTUDO Variável dependente (desfecho) Frequência com que os idosos saem de casa: Será verificado através da seguinte pergunta: “Com que frequência costuma sair de casa ou propriedade?”. Conforme o grau de distribuição das frequências com que os idosos entrevistados costumam sair de casa será dividido em três grupos: baixa, média e alta frequência. Variáveis independentes (fatores em estudo) Sócio-demográficas: Os dados sócio-demográficos incluem informações sobre sexo, faixa etária, etnia, escolaridade, renda, estado civil e arranjo familiar. Situação de saúde: Será verificada através da auto-percepção da saúde e comorbidades. Auto-percepção da saúde: Para a avaliação auto-percepção da saúde, o entrevistado responderá à pergunta de como considera a sua saúde (ótima, boa, regular, má ou péssima). Comorbidades: Será investigada através do relato de doenças, o entrevistado responderá à seguinte pergunta: Algum médico ou outro profissional da saúde lhe disse que tinha ou tem determinada doença? No questionário as resposta se limitarão a dezesseis condições crônicas: problemas do coração; hipertensão; diabetes; osteoporose; problemas intestinais; infecções respiratórias; artrite/artrose/reumatismo; doença da tireóide; esclerose múltipla; doença de Parkinson; derrame ou isquemia cerebral; demências ou Alzheimer; depressão; ansiedade; problemas nos olhos e excesso ou baixo peso. Uso de medicamentos V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 707 Saúde emocional: Será verificada através da Escala de Depressão Geriátrica (GDS), esta é composta por 15 questões que identificam sintomas depressivos ou de vulnerabilidade à depressão. Considerando os resultados com dez ou mais respostas depressivas. Saúde mental: Será verificado através da Avaliação Cognitiva Montreal (MOCA), é um instrumento breve de rastreio para deficiência cognitiva leve. Grau de facilidade ou dificuldade na realização de atividades habituais: Será determinado pelas respostas que avaliam o quão fácil ou difícil é para o idoso desempenhar as seguintes atividades: caminhar 400 metros; subir dez degraus; carregar objetos de cinco quilos; levantar-se de uma cadeira sem usar as mãos; abaixar-se e levantar-se para pegar algum objeto no chão; levantar os braços a cima da cabeça; agarrar objetos firmemente com a mão; transferir-se; banha-se; vestir-se; alimentar-se sozinho e usar banheiro para suas necessidades. Desafios à mobilidade: Será verificado através do relato das dificuldades que os idosos enfrentam para sair de casa, e estas dificuldades podem ser: Dificuldades intrínsecas (relacionada ao declínio fisiológico do processo de envelhecimento); Dificuldades extrínsecas (o meio não contribui para sua mobilidade, ou ainda, acrescenta desafios); Ambas (tanto devido a dificuldades intrínsecas quanto as extrínsecas). Capacidade Funcional (dificuldade intrínseca aferida): Será verificado através do Time Up & Go Teste. Espaço Urbano Físico (dificuldade extrínseca aferida): Será avaliado por observação direta do pesquisador a cada rua e redondezas da localização da residência dos idosos entrevistados. ANÁLISE ESTATÍSTICA As informações estatísticas serão digitalizadas com o auxílio do aplicativo Access e analisadas através do programa SPSS. Nas análises será utilizado o nível de significância < 5%. A análise descritiva será feita por frequências, medianas, médias e desvios padrões. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 708 Abordagem analítica As variáveis numéricas ou contínuas, idade e renda, inseridas nos dados sóciodemográficos, terão suas médias comparadas entre os níveis de mobilidade pela análise de variância (ANOVA). A homogeneidade das variâncias será testada pelo teste de Bartlett. Quando este teste é significativo as médias não apresentam variâncias semelhantes. Neste caso, a significância das diferenças entre os grupos será testada pelo teste, não paramétrico de Kruskal-Wallis. Tabelas de distribuição entre sexo, escolaridade, etnia, estado civil (dados sóciodemográficos) e nível de mobilidade serão criadas e testadas pelo teste Qui-quadrado (2). Tabela de distribuição da variável desafios à mobilidade será criada comparando com os níveis de mobilidade e testadas pelo Qui-quadrado. Os desafios de maior frequência serão identificados entre os subgrupos de desafios intrínsecos, extrínsecos e mistos, e testados pelo teste Z para proporções. Tabelas de distribuição serão criadas para analisar o grau de facilidade na execução de atividades habituais com os níveis de mobilidade através do Qui-quadrado. Tabelas de distribuição serão, também, criadas para analisar a situação de saúde e comorbidades com os níveis de mobilidade também através do Qui-quadrado. As diferenças das médias das variáveis quantitativas (escores do MOCA e da GDS) entre os grupos com diferentes frequências que saem de casa serão avaliadas por meio do teste “t” de Student para amostras independentes, sendo antes verificado se os grupos apresentarão variâncias semelhantes, através do teste de Levene. TAMANHO AMOSTRAL O cálculo do tamanho amostral foi baseado na prevalência da frequência que os idosos saem de casa observada na literatura. Poucos estudos abordam esse tema, foram encontrados prevalência em torno de 5%, 10% e 20%. Considerando um poder de estudo de 95%, para a prevalência de 5% e margem de erro de 0,03 é necessário 183 idosos; para a prevalência de 10% e margem de erro de 0,05 é necessário 129 idosos e para a prevalência de 20% e margem de erro de 0,06 é necessário 156 idosos. Dessa forma, foi considerado o maior n (183 idosos), levando em conta possíveis perdas foi decidido estudar 190 idosos. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 709 QUESTÕES ÉTICAS Os idosos entrevistados receberão explicações e serão esclarecidos sobre o objetivo do estudo e, ao concordarem com a participação, assinarão um termo de consentimento livre esclarecido (De acordo com Resolução no 196, de 10 de outubro de 1996 do CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos). Serão respeitados os referenciais básicos da bioética, de acordo com Goldim (1999) no que diz respeito à autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar com isso os direitos e deveres do pesquisador e dos sujeitos pesquisados. Além desses procedimentos, irá ser garantido a confidencialidade e o anonimato, não permitindo a identificação dos sujeitos por meio dos dados coletados. O termo de consentimento livre e esclarecido será emitido em duas vias, uma será entregue para cada sujeito da pesquisa e a outra via irá ficar com a pesquisadora. Referências ALMEIDA, M. F.; BARATA, R. B.; MONTERO, C. V.; Silva, Z. P. Prevalência de doenças crônicas auto-referidas e utilização de serviços de saúde, PNDA/1998, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, 2002. ANDREOTTI RA, OKUMA SS. Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fisicamente independentes. Revista Paulista Educação Física, São Paulo: 1999:13(1):46- 66. BLAZER, D. G. Social support and mortality in an elderly community population. American Journal of Epidemiology, 1982; 115: 684-694. BRASIL. MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE. PORTARIA Nº 2.528 DE 19 DE OUTUBRO DE 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/2528%20aprova%20a%20politica%20nacional %20de%20saude%20da%20pessoa%20idosa.pdf> Acesso em: 25 jun. 2009. CHARLSON, M. E.; PETERSON, J. C.; SYAT, B. L. et all. Outcomes of community-based social service interventions in homebound elders. International Journal of Geriatric Psychiatry 2008; 23: 427–432. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 710 DATASUS. População residente – Rio Grande do Sul, 2009. Disponível em: < http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/poprs.def> Acessado em: 22 abr. 2010. FIELD D, MINKLER M, FALK RF, LENO EV. The influence of health on family contacts and family feelings in advanced old age: A longitudinal study. Journal of Gerontology: Psychological Sciences, 1993;48:18-28. FORTENZA VOC. Neuropsiquiatria geriátrica. São Paulo: Atheneu, 2000. FREITAS EV. Demografia e epidemiologia do envelhecimento. In: Py L, Pacheco JL, Sá JLM de, Goldman SN (orgs.) Tempo de Envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. 2.ed. São Paulo: Holambra; 2006 Set;p.15-38. GANGULI, M., FOX, A., GILBY, J., & BELLE, S. Characteristics of rural homebound older adults: A community-based study. Journal of American Geriatrics Society, 44, p. 363-370, 1996. GOLDIM JR. O consentimento informado e a adequação de seu uso na pesquisa em seres humanos. [tese]. Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Medicina: Clínica Médica/UFRGS; 1999. 119p JACOBS, J. M.; COHEN, A.; HAMMERMAN-ROZENBERG, R.; et all. Going Outdoors Daily Predicts Long-Term Functional and Health Benefits Among Ambulatory Older People. Journal of Aging and Health. v.20, n. 3, p. 259-272, abril, 2008. JOHNSTON CB, HARPER GM, LANDEFELD CS. Geriatric medicine. In: MCPHEE SJ, PAPADAKIS MA, TIERNEY JR. Current medical diagnosis & treatment. New York: McGraw Hill Medical, 2006. KALACHE A, KICKBUSCH I. A global strategy for healthy ageing World Health, 2007;4:45. KALACHE A, VERAS RP, RAMOS LR. O envelhecimento da população mundial: um desafio novo. Revista de Saúde Pública. São Paulo. 1987; 21(3): 200-10. KAWAMOTO EE, SANTOS MCH, MATTOS TM. Enfermagem comunitária. São Paulo: EPU, 1995. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 711 KONO A, KANAGAWA K. A qualitative study on the structure of „TOJIKOMORI‟ phenomenon among home disabled elderly: a daily life of house-bound elderly. Jpn.Academy Nurs. Sci. 1999; 19: 23–30 (in Japanese with English abstract). KONO, A.; KANAGAWA, K. Characteristics of housebound elderly by mobility level in Japan. Nursing and Health Sciences (2001), 3, 105–111. KONO, A., KAI, I., SAKATO, C., & RUBENSTEIN, L. Z. Frequency of going outdoors: A predictor of functional and psychosocial change among ambulatory frail elders living at home. Journal of Gerontology, Medical Science, 59A, p.275-280, 2004. LINDSAY, J., & THOMPSON, C. Housebound elderly people: Definition, prevalence and characteristics. International Journal of Geriatric Psychiatry, 8, p.231-237, 1993. ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Guia clínica para atención primaria a las personas mayores. 3ª ed. Washington: OPAS; 2003. ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Envejecimiento y salud: un cambio de paradigma. Rev Panam Salud Publica. 2000;7(1):60-7. PAPALÉO NETTO M, PONTE JR. Envelhecimento: desafio na transição do século. In: Papaléo Netto M. Gerontologia. São Paulo: Atheneu; 2005. p.3-12. PAVARANI SCI, NÉRI AL. Compreendendo depêndencia, indepêndencia e autonomia no contexto domiciliar: conceitos, atitudes, comportamento. In: Duarte YA O, Diogo MJD. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu, 2000. p. 7-10. RAMOS LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cadernos de Saúde Pública, 2003; 19(3):793-8. SCHNEIDER RH, MARCOLIN D, DALACORTE RR. Avaliação funcional dos idosos. Scientia Medica, Porto Alegre: 2008 jan./mar; 18(1): 4-9. SCORTEGAGNA HM. A educação gerontológica aplicada a escolares: o olhar da enfermeira. In: Pasqualotti A, Portella MR, Bettinelli LA (org.). Envelhecimento humano: desafios e perspectivas. Passo Fundo: UPF; 2004. p.46-72. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 712 SIMONSICK E. M., KASPER J. D., PHILLIPS C. L. Physical disability and social interaction: factors associated with low social contact and home confinement in disabled older women (The Women‟s Health and Aging Study). Gerontology: Medical Sciences, 1998;53B(4):S209-S217. SIMONSICK, E. M.; NEWMAN, A. B.; NEVITT, M. C. et al. Measuring higher level physical function in well-functioning older adults: Expanding familiar approaches in the Health ABC Study. Journal of Gerontology: Medical Sciences, v. 56A, n. 10, 2001. THOMPSON MG, HELLER K. Facets of support related to well-being: Quantitative social isolation and perceived family support in a sample of elderly women. Psychology and Aging, 1990,5:535-544. WATANABE M, WATANABE T, MATSUURA T, KAWAMURA K, KONO K. Incidence of disability in housebound elderly people living in a rural community. Nippon Ronen Igakkai Zasshi. 2005 Jan;42(1):99-105. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010