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NOTÍCIA AGORA / Vitória (ES), sábado, 2 de abril de 2005
‘Crime não é obra
de uma pessoa só’
[ ESPERA ] PAI DO JUIZ ASSASSINADO ACREDITA QUE HÁ OUTROS ENVOLVIDOS
O advogado
Alexandre Martins de Castro, pai
do juiz assassinado
Alexandre
Martins de Castro
Filho, disse ontem que acredita
que haja envolvimento de outras
pessoas no crime. Ele comparou o
processo de investigação a “uma
carreta descendo a ladeira sem
freio, que não pára mais”.
“Tudo está sendo investigado
em segredo de Justiça, mas, pelas circunstâncias, o crime não
pode ser obra de uma pessoa
só”, afirmou, logo após o juiz
Antônio Leopoldo ter saído preso do Tribunal de Justiça, sob
suspeita de ser o mandante do
assassinato ocorrido em março
de 2003, em Vila Velha.
“Este é um dia importante para a história do Poder Judiciário
do Espírito Santo, que mostra
isenção, transparência e muita
rapidez e tomou uma atitude que
já era esperada, devido às circunstâncias e à gravidade do
acontecimento”, afirmou.
Alexandre Martins se disse esperançoso de que toda a verdade
venha à tona e a Justiça seja feita.
“A prisão do magistrado acusado
iniciou o caso. Ainda vai haver
uma aferição de culpa, mas tenho
certeza de que agora estamos num
caminho muito certo.”
Ele disse que tem “plena convicção” de que há envolvimento do
juiz Leopoldo com o crime. “O
decreto de prisão provisória não
foi feito de forma estabanada, irresponsável. É extremamente bem
fundamentado, não em suposições, mas nas provas dos autos.”
Mando
Ele fez questão da afirmar
que desde o primeiro dia sabia
que não era um crime qualquer,
mas sim de mando. “Eu dizia que
quem atirou era o prolongamento do braço de quem mandou.”
Para o advogado, a prisão do
juiz foi acertada. “Meu filho disse que ele coagiu funcionários
da Vara de Execuções. Se fez
isso, poderia muito bem coagir
testemunhas”, afirmou.
Hartung chegou a ser investigado
O governador do Estado, Paulo
Hartung, foi investigado como
suspeito de ser mandante da morte do juiz Alexandre Martins Filho.
A afirmação, que chegou a público, na manhã de ontem, por
meio do advogado Francisco Oliveira – defensor dos sargentos
Hélcio Valêncio e Ranilson de
Oliveira, acusados de intermediar
o crime –, foi confirmada à tarde
pelo secretário estadual de Segurança, Rodney Miranda.
O secretário disse que uma testemunha citou Paulo Hartung no
dia do crime. “Era uma das vertentes, que foi investigada com
muito cuidado, mas abandonada”,
disse Rodney, acrescentando que o
Ministério Público Estadual acompanhou o processo. Segundo o secretário, as informações da testemunha foram descartadas com o
prosseguimento das investigações.
“A linha mais sólida é a que incrimina Antônio Leopoldo.”
A testemunha, segundo o advogado dos intermediadores, teria
citado que Alexandre Martins de
Castro Filho tinha uma fita que
incriminaria Hartung. O secretário lembrou que o próprio governador aconselhou o juiz Alexandre Filho a adotar segurança
particular, pouco antes do crime.
O juiz Carlos Eduardo Lemos,
que participou das investigações,
descartou o envolvimento do governador. Ele considerou as informações isoladas, diante de outros indícios. O pai do juiz assassinado, Alexandre Martins de
Castro, inocenta o governador.
“Paulo Hartung tinha uma consideração grande pelo meu filho.”
OAB aprova prisão de juiz afastado
A Ordem dos Advogados do
Brasil - Seção Espírito Santo
(OAB-ES) aprovou a prisão do
juiz Antônio Leopoldo Teixeira,
principal suspeito de ter dado a
ordem para executar o juiz Alexandre Martins de Castro Filho,
que investigava ação do crime
organizado no Estado.
Segundo o presidente da Ordem, Agesandro da Costa Pe-
reira, Leopoldo deve ficar preso
para não interferir nas investigações. “Ele é influente e, se
ficar em liberdade, tem condições de atrapalhar o surgimento
de toda a verdade”, afirmou.
Agesandro disse, na tarde de
ontem, que esperou “com ansiedade” para que a prisão do
magistrado fosse decretada pelo
desembargador Pedro Valls Feu
Rosa, relator do processo que
corre no Tribunal de Justiça.
“A medida mostra que os
infratores não têm privilégios,
independente da função que
ocupam”, destacou.
O presidente da OAB-ES, que
estava num encontro nacional de
representantes de ordens estaduais, no Ceará, que esse repercutindo entre os advogados.
Gabriel Lordêllo
Advogado Alexandre Martins: “A prisão não foi irresponsável”
Pastor diz que acusado
conta com apoio da igreja
Evangélico assumido, o juiz
Antônio Leopoldo, que chegou a
gravar um CD gospel, conta com
o apoio da igreja da qual faz
parte: a Batista Evangélica de
Vitória, em Jardim da Penha.
De acordo com o pastor-presidente, João Brito, o juiz se diz
inocente. “Conversei com Leopoldo e ele disse que é inocente.
Meu papel como pastor, nesse
caso, é confiar na palavra dele,
até que se prove o contrário”,
afirmou João Brito.
O pastor, no entanto, afirmou
que, caso após todo o processo
judicial, fique comprovado que
o juiz é culpado, ele será disciplinado pela igreja. “Se o juiz
for inocente, que se defenda e
prove, mas, se estiver errado,
que pague pelo erro.”
Na igreja, essa disciplina pode
chegar até à exclusão do nome do
juiz do rol de membros. Mesmo
assim, Antônio Leopoldo continuará contando com o apoio da
igreja. “Minha missão é ajudar as
pessoas, ainda mais quando estão
passando por uma situação ruim.
Isso não significa que concorde
com os erros delas.”
O pastor, no entanto, estranhou o fato do destaque dado à
religião de Antônio Leopoldo.
Para ele, divulgar o credo de
apenas um dos envolvidos por
ser evangélico, é discriminação.
FEDERALIZAÇÃO
DAS INVESTIGAÇÕES
Representantes da Assembléia Legislativa, de movimentos sociais e de capixabas na
Câmara Federal insistem na
federalização das investigações
da morte de Alexandre Martins. Eles alegam que as informações sobre o processo
são contraditórias e desconfiam de uma trama para que o
crime recaia sobre Leopoldo
enquanto foram citados outros
membros do Judiciário.
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Crime não é obra de uma pessoa só