PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br) NOTÍCIA Você já deve saber que há várias maneiras de narrar um mesmo acontecimento. Você também já deve saber que no passado havia muito menos liberdade do que hoje, e que então havia regras rígidas sobre a estrutura da narrativa, cuja violação poderia implicar anacronismo (caso dos finais felizes em romances realistas) e a recusa do público e da crítica. Hoje a situação seria diferente, porque o modernismo, na literatura como nas artes plásticas, teria feito explodir esse conjunto de referências que nortearam a produção artística até o início do século XX. No entanto, se isso é mais ou menos verdade para os textos literários, que não são mais obrigados a seguir nenhum cânon preestabelecido, os textos técnicos e científicos, para serem aceitos e valorizados, ainda dependem da obediência a uma série de prescrições quanto à forma e quanto ao conteúdo. Veja, por exemplo, algumas instruções gerais do Manual de Redação e Estilo do jornal Estado de S. Paulo: 1 – Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. Use frases curtas e evite intercalações excessivas ou ordens inversas desnecessárias. 2 – Construa períodos com no máximo duas ou três linhas. Os parágrafos, para fazer a leitura, deverão ter cinco linhas datilografadas, em média, e no máximo oito. A cada 20 linhas, convém abrir um intertítulo. 3 – A simplicidade é a condição essencial do texto jornalístico. 4 – Adote como norma a ordem direta, por ser aquela que conduz mais facilmente o leitor à essência da notícia. etc. Como você pode perceber, a criatividade praticamente foi abolida do texto jornalístico. Não se pode hoje escrever uma notícia sem enquadrá-la nesse e em outros tipos de camisa-de-força. Existe ainda, portanto, e talvez hoje mais forte do que nunca, um "estilo jornalístico", homogeneizador da escrita. O mesmo acontece, não tão explicitamente, com a produção acadêmica: há normas bastante rígidas que orientam o desenvolvimento de projetos, relatórios, resenhas, teses, monografias, etc. Há um "estilo acadêmico" de ser dos textos. Ainda que discordemos do modelo, se queremos ver um texto publicado ou aprovado devemos enquadrá-lo na norma. Não há alternativa. Nesta atividade de produção você será convidado a um exercício de padronização. Você deverá produzir um texto jornalístico, obedecendo às instruções gerais do Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo (em anexo), sobre um fato descrito de diferentes formas na crônica de Paulo Mendes Campos. Trata-se de um acontecimento corriqueiro: "o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à margem da lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta." Neste exercício de padronização, não basta adequar os acontecimentos às instruções do Manual. Para a publicação da matéria já foi reservada uma parte do jornal, e a matéria deve contar exatamente 30 linhas de setenta toques cada. PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br) Os diferentes estilos CAMPOS, Paulo Mendes. In: Para Gostar de ler. São Paulo: Ática, 1979. v.4, pp. 39-42. Parodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para descrever de todos os modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus em Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à margem da lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta. Estilo interjetivo Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena! Estilo colorido Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta lagoa Rodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro. Estilo antimunicipalista Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos nasceu para esta cidade tão malgovernada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas freqüentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por debaixo do pano, a ignominiosa elevação do gabarito de Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas, que pululam naquele perigoso foco de epidemias. Até quando? Estilo reacionário Os moradores da lagoa Rodrigo de Freitas tiveram na manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbedo) um dos bairros mais elegantes desta cidade, como se já não bastasse para enfear aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio. Estilo então Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providências necessárias. Aí então eu resolvi te contar isso. Estilo preciosista No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua a Estrela-d`Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de um lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica. Estilo Nelson Rodrigues Usava gravata de bolinhas azuis e morreu! PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br) Estilo sem jeito Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de um Rui ou o estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimento são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever. Estilo feminino Imagine você, Tutsi, que ontem eu fui ao Sacha`s, legalíssimo, e dormi tarde. Com o Tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quanto eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror de gente morta! Estilo lúdico ou infantil Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um homem por baixo foi encontrado pelo vigia de uma construção por baixo. A vítima por baixo não trazia identificação por cima. Tinha aparentemente por cima a idade de quarenta anos por baixo. Estilo didático Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado morto à margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teológico. Policial: o homem em sociedade; humano: o homem em si mesmo; teológico: o homem em Deus. Polícia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno. Muito simples, como os senhores vêem. PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br) Instruções gerais MARTINS Filho, E. L. Manual de redação e estilo de O Estado de S. Paulo. São Paulo: Maltese, 1992. pp.16-22 1 - Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. Use frases curtas e evite intercalações excessivas ou ordens inversas desnecessárias. Não é justo exigir que o leitor faça complicados exercícios mentais para compreender o texto. 2 - Construa períodos com no máximo duas ou três linhas de 70 toques. Os parágrafos, para facilitar a leitura, deverão ter cinco linhas datilografadas, em média, e no máximo oito. A cada 20 linhas, convém abrir um intertítulo. 3 - A simplicidade é condição essencial do texto jornalístico. Lembre-se de que você escreve para todos os tipos de leitor e todos, sem exceção, têm o direito de entender qualquer texto, seja ele político, econômico, internacional ou urbanístico. 4 - Adote como norma a ordem direta, por ser aquela que conduz mais facilmente o leitor à essência da notícia. Dispense os detalhes irrelevantes e vá diretamente ao que interessa, sem rodeios. 5 - A simplicidade do texto não implica necessariamente repetição de formas e frases desgastadas, uso exagerado de voz passiva (será iniciado, será realizado), pobreza vocabular, etc. Com palavras conhecidas de todos, é possível escrever de maneira original e criativa e produzir frases elegantes, variadas, fluentes e bem alinhavadas. Nunca é demais insistir: fuja, isto sim, dos rebuscamentos, dos pedantismos vocabulares, dos termos técnicos evitáveis e da erudição. 6 - Não comece períodos ou parágrafos seguidos com a mesma palavra, nem use repetidamente a mesma estrutura de frase. 7 - O estilo jornalístico é um meio-termo entre a linguagem literária e a falada. Por isso, evite tanto a retórica e o hermetismo como a gíria, o jargão e o coloquialismo. 8 - Tenha sempre presente: o espaço hoje é precioso; o tempo do leitor, também. Despreze as longas descrições e relate o fato no menor número possível de palavras. E proceda da mesma forma com elas: por que opor veto a em vez de vetar, apenas? 9 - Em qualquer ocasião, prefira a palavra mais simples: votar é sempre melhor que sufragar; pretender é sempre melhor que objetivar, intentar ou tencionar; voltar é sempre melhor que regressar ou retornar; tribunal é sempre melhor que corte; passageiro é sempre melhor que usuário; eleição é sempre melhor que pleito; entrar é sempre melhor que ingressar. 10 - Só recorra aos termos técnicos absolutamente indispensáveis e nesse caso coloque o seu significado entre parênteses. Você já pensou que até há pouco se escrevia sobre juros sem chamar índices, taxas e níveis de patamares? Que preços eram cobrados e não praticados? Que parâmetros equivaliam a pontos de referência? Que monitorar correspondia a acompanhar ou orientar? Adote como norma: os leitores do jornal, na maioria, são pessoas comuns, quando muito com formação específica em uma área somente. E desfaça mitos. Se o noticiário da Bolsa exige um ou outro termo técnico, uma reportagem sobre abastecimento, por exemplo, os dispensa. 11 - Nunca se esqueça de que o jornalista funciona como intermediário entre o fato ou fonte de informação e o leitor. Você não deve limitar-se a transpor para o papel as declarações do entrevistado, por exemplo; faça-o de modo que qualquer leitor possa apreender o significado das declarações. Se a fonte fala em demanda, você pode usar procura, sem nenhum prejuízo. Da mesma forma traduza patamar por nível, posicionamento por posição, agilizar por dinamizar, conscientização por convencimento, se for o caso, e assim por diante. Abandone a cômoda prática de apenas transcrever: você vai ver que o seu texto passará a ter o mínimo indispensável de aspas e qualquer entrevista, por mais complicada, sempre tenderá a despertar maior interesse no leitor. 12 - Procure banir do texto os modismos e os lugares-comuns. Você sempre pode encontrar uma forma elegante e criativa de dizer a mesma coisa sem incorrer nas fórmulas desgastadas pelo uso excessivo. Veja algumas: a nível de, deixar a desejar, chegar a um denominador comum, transparência, instigante, pano de fundo, estourar como uma bomba, encerrar com chave de ouro, segredo guardado a sete chaves, dar o último adeus. Acrescente as que puder a esta lista. 13 - Dispense igualmente os preciosismos ou expressões que pretendem substituir termos comuns, como: causídico, Edilidade, soldado do fogo, elenco de medidas, data natalícia, primeiro mandatário, chefe do Executivo, precioso líquido, aeronave, campo-santo, necrópole, casa de leis, petardo, fisicultor, Câmara Alta, etc. 14 - Proceda da mesma forma com as palavras e formas empoladas ou rebuscadas, que tentam transmitir ao leitor mera idéia de erudição. O noticiário não tem lugar para termos como tecnologizado, agudização, consubstanciação, execucional, operacionalização, mentalização, transfusional, paragonado, rentabilizar, paradigmático, programático, emblematizar, congressual, instrucional, embasamento, ressociabilização, dialogal, transacionar, parabenizar e outros do gênero. 15 - Não perca de vista o universo vocabular do leitor. Adote esta regra prática: nunca escreva o que você não diria. Assim, alguém rejeita (e não declina de) um convite, protela ou adia (e não procrastina) uma decisão, aproveita (e não usufrui) uma situação. Da mesma forma, prefira demora ou adiamento a delonga; antipatia a idiossincrasia; discórdia ou intriga a cizânia; crítica violenta a diatribe; obscurecer a obnubilar, etc. PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br) 16 - O rádio e a televisão podem ter necessidade de palavras de som forte ou vibrante; o jornal, não. Assim, goleiro é goleiro e não goleirão. Da mesma forma, rejeite invenções como zagueirão, becão, jogão, pelotaço, galera (como torcida) e similares. 17 - Dificilmente os textos noticiosos justificam a inclusão de palavras ou expressões de valor absoluto ou muito enfático, como certos adjetivos (magnífico, maravilhoso, sensacional, espetacular, admirável, esplêndido, genial), os superlativos (engraçadíssimo, deliciosíssimo, competentíssimo, celebérrimo) e verbos fortes como infernizar, enfurecer, maravilhar, assombrar, deslumbrar, etc. 18 - Termos coloquiais ou de gíria deverão ser usados com extrema parcimônia e apenas em casos muito especiais (nos diálogos, por exemplo), para não darem ao leitor a idéia de vulgaridade e principalmente para que não se tornem novos lugares-comuns. Como, por exemplo: a mil, barato, galera, detonar, deitar e rolar, flagrar, com a corda (ou a bola) toda, legal, grana, bacana, etc. 19 - Seja rigoroso na escolha das palavras do texto. Desconfie dos sinônimos perfeitos ou de termos que sirvam para todas as ocasiões. Em geral, há uma palavra para definir uma situação. 20 - Faça textos imparciais e objetivos. Não exponha opiniões, mas fatos, para que o leitor tire deles as próprias conclusões. Em nenhuma hipótese se admitem textos como: Demonstrando mais uma vez seu caráter volúvel, o deputado Antônio de Almeida mudou novamente de partido. Seja direto: O deputado Antônio de Almeida deixou ontem o PMT e entrou para o PXN. É a terceira vez em um ano que muda de partido. O caráter volúvel do deputado ficará claro pela simples menção do que ocorreu. 21 - Lembre-se de que o jornal expõe diariamente suas opiniões nos editoriais, dispensando comentários no material noticioso. As únicas exceções possíveis: textos especiais assinados, em que se permitirá ao autor manifestar seus pontos de vista, e matérias interpretativas, em que o jornalista deverá registrar versões diferentes de um mesmo fato ou conduzir a notícia segundo linhas de raciocínio definidas com base em dados fornecidos por fontes de informação não necessariamente expressas no texto. 22 - Não use formas pessoais nos textos, como: Disse-nos o deputado... / Em conversa com a reportagem do Estado... / Perguntamos ao prefeito... / Chegou à nossa capital... / Temos hoje no Brasil uma situação peculiar. / Não podemos silenciar diante de tal fato. Algumas dessas construções cabem em comentários, crônicas e editoriais, mas jamais no noticiário. 23 - Como norma, coloque sempre em primeiro lugar a designação do cargo ocupado pelas pessoas e não o seu nome: O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso... / O primeiro-ministro John Major... / O ministro do Exército, Zenildo de Lucena... É em função do cargo ou atividade que, em geral, elas se tornam notícia. A única exceção é para cargos com nomes muito longos. Exemplo: O engenheiro João da Silva, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi), garantiu ontem que... 24 - Você pode ter familiaridade com determinados termos ou situações, mas o leitor, não. Por isso, seja explícito nas notícias e não deixe nada subentendido. Escreva, então: O delegado titular do 47º Distrito Policial informou ontem..., e não apenas: O delegado titular do 47º informou ontem. 25 - Nas matérias informativas, o primeiro parágrafo deve fornecer a maior parte das respostas às seis perguntas básicas: o que, quem, quando, onde, como e por quê. As que não puderem ser esclarecidas nesse parágrafo deverão figurar, no máximo, no segundo, para que, dessa rápida leitura, já se possa ter uma idéia sumária do que aconteceu. 26 - Não inicie matéria com declaração entre aspas e só o faça se esta tiver importância muito grande (o que é a exceção e não a norma). 27 - Procure dispor as informações em ordem decrescente de importância (princípio da pirâmide invertida), para que, no caso de qualquer necessidade de corte no texto, os últimos parágrafos possam ser suprimidos, de preferência. 28 - Encadeie o lead de maneira suave e harmoniosa com os parágrafos seguintes e faça o mesmo com estes entre si. Nada pior do que um texto em que os parágrafos se sucedem uns aos outros como compartimentos estanques, sem nenhuma fluência: ele não apenas se torna difícil de acompanhar, como faz a atenção do leitor se dispersar no meio da notícia. 29 - Por encadeamento de parágrafos não se entenda o cômodo uso de vícios lingüísticos, como por outro lado, enquanto isso, ao mesmo tempo, não obstante e outros do gênero. Busque formas menos batidas ou simplesmente as dispense: se a seqüência do texto estiver correta, esses recursos se tornarão absolutamente desnecessários. 30 - A falta de tempo do leitor exige que o jornal publique textos cada dia mais curtos (20, 40 ou 60 linhas de 70 toques, em média). Por isso, compete ao redator e ao repórter selecionar com o máximo critério as informações disponíveis, para incluir as essenciais e abrir mão das supérfluas. Nem toda notícia está jornalisticamente tão bem encadeada que possa ser cortada pelo pé sem maiores prejuízos. Quando houver tempo, reescreva o texto: é o mais recomendável. Quando não, vá cortando as frases dispensáveis. 31 - Proceda como se o seu texto seja o definitivo e vá sair tal qual você o entregar. O processo industrial do jornal nem sempre permite que os copies, subeditores ou mesmo editores possam fazer uma revisão completa do original. Assim, depois de pronto, reveja e confira todo o texto, com cuidado. Afinal, é o seu nome que assina a matéria. PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br) 32 - O recurso à primeira pessoa só se justifica, em geral, nas crônicas. Existem casos excepcionais, nos quais repórteres, especialmente, poderão descrever os fatos dessa forma, como participantes, testemunhas ou mesmo personagens de coberturas importantes. Fique a ressalva: são sempre casos excepcionais. 33 - Nas notícias em seqüência (suítes), nunca deixe de se referir, mesmo sumariamente, aos antecedentes do caso. Nem todo leitor pode ter tomado conhecimento do fato que deu origem à suíte. 34 - A correção do noticiário responde, ao longo do tempo, pela credibilidade do jornal. Dessa forma, não dê notícias apressadas ou não confirmadas nem inclua nelas informações sobre as quais você tenha dúvidas. Mesmo que o texto já esteja em processo de composição, sempre haverá condições de retificar algum dado impreciso, antes de o jornal chegar ao leitor. 35 - A correção tem uma variante, a precisão: confira habitualmente os nomes das pessoas, seus cargos, os números incluídos numa notícia, somas, datas, horários, enumerações. Com isso você estará garantindo outra condição essencial do jornal, a confiabilidade. 36 - Nas versões conflitantes, divergentes ou não confirmadas, mencione quais as fontes responsáveis pelas informações ou pelo menos os setores dos quais elas partem (no caso de os informantes não poderem ter os nomes revelados). Toda cautela é pouca e o máximo cuidado nesse sentido evitará que o jornal tenha de fazer desmentidos desagradáveis. 37 - Quando um mesmo assunto aparecer em mais de uma editoria no mesmo dia, deverá haver remissão, em itálico, de uma para outra: Mais informações sobre o assunto na página... / A repercussão do seqüestro no Brasil está na página... / Na página... o prefeito fala de sua candidatura à Presidência. / Veja na página... as reações econômicas ao discurso do presidente. 38 - Se você tem vários originais para reescrever, adote a técnica de marcar as informações mais importantes de cada um deles. Você ganhará tempo e evitará que algum dado relevante fique fora do noticiário. 39 - Nunca deixe de ler até o fim um original que vá ser refeito. Mesmo que você tenha apenas 15 linhas disponíveis para a nota, a linha 50 do texto primitivo poderá conter informações indispensáveis, de referência obrigatória. 40 - Preocupe-se em incluir no texto detalhes adicionais que ajudem o leitor a compreender melhor o fato e a situá-lo: local, ambiente, antecedentes, situações semelhantes, previsões que se confirmem, advertências anteriores, etc. 41 - Informações paralelas a um fato contribuem para enriquecer a sua descrição. Se o presidente dorme durante uma conferência, isso é notícia; idem se ele tira o sapato, se fica conversando enquanto alguém discursa, se faz trejeitos, etc. Trata-se de detalhes que quebram a monotonia de coberturas muito áridas, como as oficiais, especialmente. 42 - Registre no texto as atitudes ou reações das pessoas, desde que significativas: mostre se elas estão nervosas, agitadas, fumando um cigarro atrás do outro ou calmas em excesso, não se deixando abalar por nada. Em matéria de ambiente, essas indicações permitem que o leitor saiba como os personagens se comportavam no momento da entrevista ou do acontecimento. 43 - Trate de forma impessoal o personagem da notícia, por mais popular que ele seja: a apresentadora Xuxa ou Xuxa, apenas (e nunca a Xuxa), Pelé (e não o Pelé), Piquet (e não o Piquet), Ruth Cardoso (e não a Ruth Cardoso), etc. 44 - Sempre que possível, mencione no texto a fonte da informação. Ela poderá ser omitida se gozar de absoluta confiança do repórter e, por alguma razão, convier que não apareça no noticiário. Recomenda-se, no entanto, que o leitor tenha alguma idéia da procedência da informação, com indicações como: Fontes do Palácio do Planalto... / Fontes do Congresso... / Pelo menos dois ministros garantiram ontem que..., etc. 45 - Na primeira citação, coloque entre parênteses o nome do partido e a sigla do Estado dos senadores e deputados federais: o senador João dos Santos (PSDB-RS), o deputado Francisco de Almeida (PFL-RJ). No caso dos deputados estaduais de São Paulo e dos vereadores paulistanos, mencione entre parênteses apenas a sigla do partido. 46 - O Estado não admite generalizações que possam atingir toda uma classe ou categoria, raças, credos, profissões, instituições, etc. 47 - Um assunto muito sugestivo ou importante resiste até a um mau texto. Não há, porém, assunto mediano ou meramente curioso que atraia a atenção do leitor, se a notícia se limitar a transcrever burocraticamente e sem maior interesse os dados do texto. 48 - Em caso de dúvida, não hesite em consultar dicionários, enciclopédias, almanaques e outros livros de referência. Ou recorrer aos especialistas e aos colegas mais experientes. 49 - Veja alguns exemplos de textos noticiosos objetivos, simples e diretos, constituídos de frases curtas e incisivas (todos eles saíram no Estado como chamadas de primeira página): Os juros passaram a ser fator importante para os consumidores dispostos a fazer compras neste fim de ano. Dos 261 paulistanos ouvidos pelo InformEstado, 82,8% disseram que vão gastar menos no Natal em relação ao ano passado. O alto custo do financiamento das compras foi apontado por 34,5% dos entrevistados como motivo básico para a decisão. O comércio e a indústria reduziram as margens de lucro, o governo atenuou as restrições ao crédito e o mercado oferece produtos mais baratos que no último Natal, mas os juros pesam. PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br) A sonda liberada pela nave Galileu mergulhou ontem por cerca de 75 minutos na atmosfera de Júpiter, até ser pulverizada pela pressão dos gases que constituem o planeta. Foi a primeira vez que um equipamento terrestre chegou a um dos grandes planetas distantes do sistema solar. A cápsula enviou informações sobre a temperatura e a composição química de Júpiter. O governo pretende retirar do Congresso o projeto de reforma da Previdência e reapresentá-lo em duas partes. Uma vai incluir os pontos em que existe consenso entre os parlamentares e a outra, só os temas polêmicos, como os que tratam dos servidores públicos, militares e professores. O presidente Fernando Henrique Cardoso passou ao seu vice, Marco Maciel, a tarefa de analisar os efeitos políticos da decisão, depois que o ministro da Previdência foi afastado das negociações. Irrequieto, Carlos Nunzio sugeria chamar-se César e levava no bolso uma sovela, instrumento pontiagudo usado pelos sapateiros. Logo despertou a suspeita da polícia e foi preso anteontem como o possível "maníaco do estilete", que já atacou sete mulheres na zona Leste. Na delegacia, os policiais o filmaram e exibiram o teipe às vítimas. Mas nenhuma o identificou e Carlos foi libertado ontem à tarde. A tradicional chuva de papel picado que encerra o ano na Bolsa de Valores de São Paulo teve clima de festa para os operadores, mas de melancolia para os aplicadores. Os investimentos em ações acusaram perda real de 16,7% e a comemoração foi dos que optaram pela renda fixa. Os CDBs, em primeiro lugar, renderam 25,89% acima da inflação. As cidades e as praias ganham nova vida com o verão, que começa oficialmente hoje às 6h18. A moda impõe modelos arrojados às mulheres, com ombros e costas de fora. A minissaia também faz parte do visual de São Paulo e outras capitais. No Rio, Santos, Guarujá, Ubatuba, Bertioga e outros pontos preferidos dos veranistas, é tempo de biquíni, saladas, sorvete e alegria. Frank Sinatra, cantor que embalou três gerações, completa 80 anos terça-feira. Apelidado simplesmente de A Voz, imitava Bing Crosby, mas superou o ídolo. Ganhou 1 disco de multiplatina, 1 de platina e 21 de ouro. Fez filmes, venceu um Oscar. Foi amigo de John Kennedy e do gângster Lucky Luciano. Teve mulheres fantásticas. Viveu. My Way é a música que o representa. Sensível às mudanças de ventos, ansiosa e arrogante ao mesmo tempo, a França funciona como um piscaalerta. Suas crises indicam sempre que as sociedades estão dando alguma virada. As greves monumentais que lançam às ruas do país 1 milhão de manifestantes podem significar uma dolorosa entrada de toda a Europa numa nova etapa da modernidade. Hoje é o dia em que Cannes vai parar. À espera de um olhar. Ou de um sorriso. Não pelo filme, Milagro. Mas pelo diretor, Robert Redford. Um outsider. Na tela, uma Pasionaria: Sônia Braga. Veja, ao contrário, três parágrafos de sete linhas cheias sem nenhum ponto e repletos de intercalações que dificultam a seqüência normal da leitura: O fazendeiro e piloto de aviões Carlos de Almeida Valente, que mora na cidade de Prateados, no extremo norte do País, apontado pela Polícia Federal como um dos reis do contrabando e transportando em seus aviões bimotores e turbinados mais de 70% das mercadorias contrabandeadas dos Estados Unidos e Paraguai para o Brasil, terá seus negócios financeiros investigados pela Receita Federal, que fará completa devassa nas suas empresas. A esperada divulgação, na noite de sexta-feira, do INPC de janeiro, que, pela primeira vez em quase 20 meses, voltou a ser utilizado como parâmetro para a correção de um agente econômico - no caso, os salários - e que apresentou uma variação recorde de 35,48%, veio confirmar o que já se temia: os níveis de recomposição dos salários, que pela fórmula aprovada pelo Congresso Nacional vão variar de apenas 1,51% a 7,48%, não são suficientes sequer para fazer frente à inflação real de fevereiro. De sua casa, no elegante bairro de Beverly Hills, o papa da psicologia esportiva norte-americana, mais de 40 livros publicados, traduzido até para o russo ainda em plena época da guerra fria, o dr. Briant Cratty, orientador do grupo de psicólogos da equipe olímpica de Tio Sam, levantou da poltrona e, numa ligação para o ginásio onde a seleção do país gastava as últimas energias em jogo que não influiria na sua colocação, mandou chamar o especialista que cuidava do vôlei e foi direto ao assunto. 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