ANO 4 – N.16 – SALVADOR/BA – AGO, 2006 – ISSN: 1809-1687 Liderança como força motriz do endomarketing Antonia Eliane Pereira Bezerra Pós-Graduanda em Gestão de Recursos Humanos Professora da UFRR RESUMO Novas ferramentas a cada dia são criadas e utilizadas na tentativa de melhorar o clima nas organizações e as tensões existentes nas relações direção-funcionários, uma delas deriva do marketing, o endomarketing, que se trata de uma tentativa conceitual de se trabalhar os públicos externos de uma organização a partir de técnicas de marketing. Para falar sobre endomarketing, entretanto, é necessário abordarmos alguns outros conceitos como o de liderança, visto que esta pode ser a força motriz que gera mudanças nas instituições. Com a aplicação desses conceitos, provavelmente, proporcionar-se-á o surgimento de um ambiente que potencialize uma maior motivação nos colaboradores das organizações. PALAVRAS-CHAVE: Endomarketing; Liderança; Motivação; Organização. 1- INTRODUÇÃO O homem no seu conjunto social pós-diluviano buscou organizar-se de modo a concretizar seus sonhos de realizações individuais e coletivas. A história delineia empreendimentos humanos em que os indivíduos, imbuídos de um sentimento de realização pessoal, concretizaram grandes feitos em nome do bem comum. Porém, as civilizações possuíam estruturas rígidas, pouco abertas para a inserção dos indivíduos nas organizações. As grandes organizações eram militares e delas que vinham os modelos para planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Desses modelos militares surgiu, nos tempos modernos, a face da nova organização, que precisa de uma contínua inovação onde o indivíduo deve ser considerado parte integrante da estrutura organizacional, em que precisa deixar de ser apenas um recurso da organização para ser a própria organização, no seu sentido mais amplo e significativo. ANO 4 – N.16 – SALVADOR/BA – AGO, 2006 – ISSN: 1809-1687 Essa inovação contínua culminou, em última instância, num processo de modernização que se difundiu entre os teóricos da área de administração, sobretudo os de marketing, como endomarketing. O endomarketing é definido por Cerqueira (1994) como sendo “um conjunto de processos, projetos ou veículos de comunicação integrada que permite a venda, a consolidação de uma nova imagem para dentro da empresa”. Ele parte do princípio de que o indivíduo deve voluntariamente comprometer-se com a organização de modo que, ele por si, co-relacione seus objetivos individuais com os objetivos organizacionais. Todos já ouvimos falar da ilustração do X BACON, que relaciona muito bem o envolvimento e o comprometimento. Para que o x bacon seja realidade, dois produtores precisam agir: a galinha e o porco. A galinha entrega o seu serviço em dia (o ovo) e se despede; o porco entrega a vida para que haja o bacon e só assim é possível ter um produto completo (o x bacon). Esta história ilustra os colaboradores envolvidos no processo e os comprometidos com o processo. Para que haja o comprometimento é preciso que uma força estimuladora surja no ambiente, propiciando o clima saudável de realização e produtividade. Denominamos tal força de liderança, ela deve ser a força motriz do endomarketing. As questões mais importantes no endomarketing dizem respeito a liderança, conforme segue: Até que ponto é importante a liderança no processo do endomarketing? Qual o papel da liderança? Quais as características que tal liderança precisa ter? Essas e outras questões serão discutidas no decorrer do nosso artigo, utilizando muitas vezes conceitos de estudiosos e teóricos da área, bem como nossas observações sobre a liderança no endomarketing. 2 ANO 4 – N.16 – SALVADOR/BA – AGO, 2006 – ISSN: 1809-1687 2- LIDERANÇA E ENDOMARKETING: EVOLUÇÃO E CO-RELAÇÃO Após a segunda grande guerra mundial o conceito de administração teve uma mudança radical tornando os administradores seres pensantes de um novo modelo administrativo, modelo esse flexível, que está muito mais voltado para as pessoas que para os produtos e serviços. Pensar no ser humano como parte integrante de um conjunto onde ele é partícipe importante se tornou imperativo, pois, sendo importante a qualidade do produto e serviço, ela inexiste sem o comprometimento humano. A competitividade dos tempos “pós-modernos” transcende a produção, qualidade é hoje um tema de discussão universal, uma vez que suas fronteiras se ampliaram a níveis inimagináveis e a liderança é o ponto principal de gerência de mudanças e adaptação à essa nova realidade. A liderança na era da globalização, da quebra das fronteiras comerciais, da excelência de “dentro para fora” da estrutura organizacional é assertivamente o ponto principal do endomarketing. É nela que reside a responsabilidade de captar, capacitar e gerir os colaboradores de modo que cada unidade se integre ao todo, na busca da satisfação interna e externa da organização. Para tanto, é fundamental uma boa estratégia de comunicação. A liderança tem como objetivo fazer com que os funcionários sintam-se acolhidos e parte de uma grande equipe. Para isso, além de informar é preciso identificar necessidades de cada pessoa e tentar relacioná-las aos objetivos da empresa. Porque quando há falta de informação e sensação de isolamento não há motivação. Não há como medir o comprometimento e a motivação das pessoas, mas o empregado que é bem informado sente-se parte da empresa, a relação fica mais próxima. Podemos observar que o endomarketing sob uma boa liderança diminui a rotatividade. No nosso ponto de vista, o principal desafio é a comunicação das partes que levam a um ponto convergente de satisfação pessoal, dos clientes, e da organização. Os esforços de comunicação e integração motivam funcionários em mais longos prazos que prêmios, salários e benefícios. Porque estímulos externos não motivam as pessoas de forma permanente. Como analisa Brum: 3 ANO 4 – N.16 – SALVADOR/BA – AGO, 2006 – ISSN: 1809-1687 As lideranças precisam conhecer suas equipes, suas necessidades e expectativas pessoais porque elas na verdade inspiram e criam motivação. Em geral, as pessoas sentem-se importantes pelo grau de informações que recebem. Assim, o marketing interno deve ser visto como uma estratégia de gestão decisiva e determinante para a organização (BRUM, 2005). A liderança é fundamental, criando o modelo, o exemplo a ser seguido disseminado. Um programa eficiente de endomarketing tem que se ajustar à realidade da empresa. É fundamental identificar as prioridades deste programa, verificando os pontos mais vulneráveis da empresa que devem ser corrigidos. Deste modo, iremos saber sobre quais pontos específicos deve agir o endomarketing, onde e em que medida ou extensão. 3- A LIDRANÇA E O CAPITAL INTELECTUAL NA ORGANIZAÇÃO A gerência tradicional, do tipo que centraliza a atividade pensante e delega o operacional, dando ordens e controlando todo o tempo, caiu de moda. Num mundo cada vez mais voltado para os valores individuais, em que se busca muito além da aptidão física dos colaboradores, uma nova forma de dirigir empresas se impõe. Nas organizações, em que o capital intelectual passou a ser a jóia da coroa, o gerente clássico não consegue dar sua contribuição, já que não está apto a lidar com essa outra dimensão do ser humano. A natureza do cargo desse profissional obsoleto tem muito mais a ver com capatazia do que com regência, que hoje se demanda. Numa época que tanto se valoriza o conhecimento, fica cada vez mais claro que a vontade de aprender é inerente ao ser humano. A curiosidade e a êxito em seus empreendimentos. Removendo obstáculos à criatividade e estimulando a circulação de idéias, bem como propiciando condições para o crescimento individual, essas empresas criam atmosfera favorável para uma manifestação maior dos potenciais de cada um e uma busca mais efetiva de realização pessoal. Essa busca de realização pessoal, em sintonia com os objetivos organizacionais, é que vai fazer com que cada pessoa contribua além daquele mínimo contratado, que seu salário compra. Segundo W. Edwards Deming, citado por Senge (1997), o sistema de gestão tradicional destrói as pessoas, na medida em que não reconhece que elas já nascem intrinsecamente motivadas, com auto-estima, dignidade, curiosidade e prazer em aprender. E 4 ANO 4 – N.16 – SALVADOR/BA – AGO, 2006 – ISSN: 1809-1687 Senge (Starkey, 1997, p. 343) constata que a busca convencional da aprovação cria um efeito paradoxal, levando as empresas a desempenho medíocre, deixando claro que “no longo prazo, o desempenho superior depende do aprendizado superior”. Esperava-se, do líder de ontem, que ele aprendesse pela organização, deixando ao restante da equipe a tarefa de apenas realizar. Demanda-se, hoje, uma liderança que procure entender e acelerar o processo de aprendizado organizacional, permitindo e incentivando o pensamento e a ação integradora em todos os níveis. Sai o chefe que assegura o cumprimento de metas quantitativas de produção, entra o condutor de pessoas, capaz de tirar delas o melhor, em benefício delas próprias, na medida em que realizam seus potenciais, e da organização com que colaboram. 5- O QUE SE ESPERA DA LIDERANÇA NO ENDOMARKETING O contexto dos negócios de ontem permitia que alguém, no topo da empresa, tivesse uma visão do todo e capacidade de pensar em tudo, delegando, para baixo, apenas a obrigação de fazer. A figura do “líder herói”, especialmente aquele que se fazia presente em momentos de crise, ou do carismático, que incorporava a figura do timoneiro solitário, tinha razão de ser e marcou uma época em que despontaram nomes como Henry Ford, Alfred Sloan, Tom Watson. Os novos papéis da liderança exigem novas habilidades: a capacidade de construir uma visão compartilhada, de trazer à superfície e questionar os modelos mentais vigentes e de incentivar padrões mais sistêmicos de pensamento. Em suma, nas organizações que aprendem e que buscam integrar seus colaboradores, os líderes são responsáveis por construir organizações nas quais as pessoas possam estar continuamente expandindo sua capacidade de criar seu futuro – isto é, os líderes são responsáveis pelo aprendizado (Senge, 1997, p.345). 6- ENDOMARKETING E TENSÃO CRIATIVA. Muitas propostas de mudança organizacional fracassam por se limitarem a apontar o que precisa ser feito para mudar a situação presente. Quando obtêm êxito, pagam por ele um preço muito alto. O engano dos gerentes convencionais está em achar que as pessoas são motivadas a agir apenas por tomarem conhecimento da realidade e da importância de 5 ANO 4 – N.16 – SALVADOR/BA – AGO, 2006 – ISSN: 1809-1687 efetuarem mudanças. Daí a frustração frente a análises sofisticadas, que retratam bem a realidade e apontam providências necessárias, mas não dão às pessoas o “motivo para a ação”. As pessoas precisam de uma visão de futuro que as leve a lutar por sua realização. Elas podem ser mais facilmente motivadas pela busca da felicidade do que pelo combate às desgraças. A abordagem positiva, que mostra como tudo pode ser melhor e o caminho para isto, gera muito mais entusiasmo do que o diagnóstico frio dos problemas e a prescrição de remédios a serem tomados. “Possuir uma imagem daquilo que se poderia ser” faz com que as pessoas movimentem suas energias de forma mais eficaz, do que simplesmente apontar falhas e indicar correções. O prazer das realizações e das conquistas antevistas é muito mais motivador do que a percepção de que precisamos fazer algo para mudar nosso estado atual. No entanto, todo salto exige uma base de apoio. A busca de uma visão de futuro melhor tem que ser contraposta com a análise do momento presente, que permita o levantamento da distância a ser percorrida, as medidas necessárias e o esforço a ser despendido. Esta contraposição entre “o que poderia ser” e “o que é” gera uma tensão criativa que mobiliza as pessoas, levando-as a agir. Tanto a visão quanto a análise da realidade são indispensáveis para que surja a tensão criativa. “Um quadro preciso da realidade atual é tão importante quanto um entusiasmante quadro de um futuro que se deseja” (Senge, 1997: 347). A liderança no endomarketing deve ser capaz de gerar uma visão de futuro que seja motivadora – leva à ação – e compartilhada – interessa a todos –, ao mesmo tempo em que faz com que seus liderados tenham uma percepção clara da realidade, administrando, então, a tensão criativa gerada. Isto a faz muito diferente do “solucionador de problemas”, que atua de fora para dentro, ao passo que sua proposta é de dentro para fora. Nos dizeres de Senge (1997:347), “na resolução de problemas, a motivação é extrínseca”, ao passo que “na tensão criativa, a motivação é intrínseca”. Estudiosos afirmam que ninguém motiva ninguém – esta energia deve vir de dentro das pessoas, ou não se mantém. 7- CONCLUSÃO O endomarketing diz respeito mais a liderança de visão inovadora. Integra-se efetivamente nas equipes, envolvendo-se muito mais com os demais membros. Têm claro seu 6 ANO 4 – N.16 – SALVADOR/BA – AGO, 2006 – ISSN: 1809-1687 papel no contexto do empreendimento e, ao mesmo tempo em que procuram aplanar o caminho do desenvolvimento dos colaboradores, trabalha também seu autodesenvolvimento e não perde de vista a missão da empresa. Sabe, também, que precisará buscar e desenvolver novas habilidades, em conformidade com a nova performance desejada. A liderança tem o poder de fazer com que pessoas comuns, com um potencial intrínseco, força de vontade extraordinária, deixem de ser guiados como búfalos e comecem a ter atitudes de líder em algum momento de seu exercício profissional visando o bem estar próprio, da organização e de seus clientes. Urge que as organizações entendam e capacitam suas equipes à postura de gansos (liderando com maestria) buscam o melhor aproveitamento dos potenciais. 8- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BEKIN, S.F. Conversando sobre Endomarketing: São Paulo: Makron Books, 1995. BRUM, A.M Face a Face com Endomarketing: Porto Alegre: L&PM ,2005. CERQUEIRA, W. Endomarketing: educação e cultura para a qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1994. MAYO, Andrew. O Valor humano da empresa: São Paulo: Prentice Hall, 2003. ROBBINS, S. Comportamento Organizacional. 8º ed. Rio de Janeiro:LTC, 1999. SANTOS, N.M.B.F. Clima Organizacional: Pesquisa e Diagnóstico. 1º ed Lorena, São Paulo: Stiliano, 2000. SENGE, Peter M. O novo trabalho do líder: construindo organizações que aprendem: In STARKEY, Ken. Como as Organizações Aprendem. São Paulo: Futura, 1997. 7