2 — SÁBADO, 13 de março de 1999 POLÍTICA CORREIO DO POVO Brizola: ‘Povo exigirá saída de FHC’ Expectativa do presidente do PDT é de que o vice Marco Maciel, do PFL, assuma o Palácio do Planalto presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, defendeu, ontem, em Porto Alegre, a renúnO cia do presidente da República como a única saí- MAURO SCHAEFER da para a crise pela qual o país está passando. Mesmo reconhecendo que, no momento, não tem apoio de qualquer partido ou liderança nacional para sustentar a proposta, enfatizou que “o povo brasileiro exigirá a saída de Fernando Henrique, antes que ele leiloe o pouco que restou do patrimônio nacional”. Entre as empresas ameaçadas de venda, Brizola citou o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras, o sistema de saúde, a Previdência e os Correios e Telégrafos. A lista de problemas enumerados por Brizola para exigir a saída do presidente e a entrada do Brizola e Olívio se encontraram no Palácio Piratini vice, Marco Maciel, inclui “o crescente desempre- ca financeira, que criou uma moeda com base falgo, a queda no índice de produção industrial, de- sa sustentada a custos elevadíssimos de juros”. corrente das importações desordenadas e a polítiBrizola acrescentou que “se esse governo esti- Líder diz que não Pedetistas discutem há crise com o PT eleição da executiva O ex-governador Leonel Brizola garantiu, ontem, que não há crise na relação do PT com o PDT no governo do Estado. Ele preferiu classificar como “ajustes naturais” as queixas de que o PDT não estaria sendo reconhecido pelo governo petista. Enfatizou que a criação da Secretaria Extraordinária do Mercosul é um avanço importante para o PDT, pois o partido está posicionado quanto aos reflexos das decisões do bloco econômico no Estado. “Os burocratas do Itamaraty fazem textos e acordos para o Mercosul que prejudicam a economia primária. A ação da secretaria será também a de contrapor essa prática”, argumentou. Brizola lamentou que as notícias de uma possível crise entre PT e PDT sejam centradas em cargos. “Nós queremos encargos e ter voz na elaboração das políticas de governo. Mas temos consciência que as decisões serão sempre do governador e que estamos em fase de ajustes” disse. Ressaltou que sabe das dificuldades de afinamento entre os partidos, em função do início do governo. A primeira reunião oficial para tratar da sucessão do diretório estadual do PDT, ontem à noite, lotou o auditório da sede regional em Porto Alegre. O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, fez um relato sobre as ações políticas que estará desenvolvendo com vistas à renúncia do presidente Fernando Henrique. Depois, centrou suas atenções na eleição da nova executiva estadual. A reunião não foi deliberativa e serviu para conclamar a mobilização de lideranças e filiados para o processo eleitoral interno. A expectativa da comissão provisória ainda é de chegar à convenção do dia 28 com uma chapa de consenso. No final da tarde, Brizola se encontrou durante uma hora, a portas fechadas, com o governador Olívio Dutra no Palácio Piratini. Depois, foi à prefeitura, onde visitou Raul Pont. Brizola reafirmou que a aliança entre PT e PDT não está ameaçada. Sobre a proposta de renúncia de FHC, disse que compreende a posição de Olívio, mas disse que a idéia “pode ter variantes para unir objetivos”. vesse começando, teríamos que dar um voto de confiança. Mas depois de cinco anos e de mentiras na campanha eleitoral, não resta outra saída aos brasileiros, a não ser pedir que ele renuncie”. O fato de o vice-presidente Marco Maciel ser do PFL não assusta o ex-governador Leonel Brizola. “Ele não tem uma história pessoal ligada à repressão e, apesar de ser do mesmo partido do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, do PFL da Bahia, será conduzido ao poder para fazer um governo de concentração nacional”, disse. Brizola lamenta o fato de o PT nacional não ter apoiado a sua tese “como já fez com o doutor Tarso Genro de forma precipitada”. Ressaltou que espera uma revisão de postura do PT. Hoje, Leonel Brizola estará pedindo respaldo à sua tese ao exgovernador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Miguel Arraes. ‘PDT Sempre’ vai lançar chapa O movimento “PDT Sempre” decidiu, ontem à tarde, por unanimidade, lançar chapa própria ao processo eleitoral que irá escolher o novo diretório regional, dia 28. Mais de 130 filiados já autorizaram a inclusão na chapa que deve ter 90 nomes. Entre as lideranças que despontam como possíveis candidatos à presidência estão o deputado federal Airton Dipp, o ex-prefeito de Osório Romildo Bolzan Júnior e o deputado estadual Giovani Cherini. Segundo Flávio Lammel, um dos organizadores do movimento, até o dia 23 estará definida a composição, que deverá obedecer critérios de representatividade regional dos diversos grupos que fazem parte do partido. A reunião do “PDT Sempre” lotou o plenário Otávio Rocha, da Câmara Municipal. Lideranças de todo o Estado reforçaram a necessidade de fazer com que o partido volte a participar ativamente dos movimentos sociais e recupere sua identidade trabalhista. O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, que participou do encontro, acompanhado da senadora Emília Fernandes, garantiu apoio ao movimento, mas advertiu que é preciso “não se deixar levar por tentativas de esquemas externos”. Enfatizou que este é um momento importante para o futuro, porque “ou nos reunimos para extingüir de vez o partido ou temos coragem de tomar as medidas que estão sendo propostas”. Brizola considera importante a reflexão do papel partidário, “especialmente se ele se propuser a resgatar a história do trabalhismo, transformando o PDT numa alternativa importante em âmbito nacional”. DECISÕES — O governador Olívio Dutra disse ontem que não vê as decisões de Itamar Franco como um rompimento efetivo com a oposição. Segundo ele, os temas devem ser tratados em nível nacional. Olívio também defendeu a necessidade de articulações com os governadores com propostas iguais. “O governador de Minas Gerais é uma pessoa que deve ser respeitada pelo presidente da República”, disse. Afirmou que nenhum Estado brasileiro pode ser retaliado pela União, por entender que são inomináveis. Olívio confirmou que vai continuar depositando os recursos do governo federal em juízo. PANORAMA POLÍTICO / Armando Burd Conselhos de Brizola Queda-de-braço Apartes Depois de ouvir o presidente nacional, Leonel Brizola, da manhã à noite de ontem, em Porto Alegre, a maioria das lideranças do PDT acolheu os seus conselhos: 1C) deixar de falar em cargos no governo do Estado, passando a se envolver mais na formulação de políticas; 2C) a eleição para o diretório e a executiva regionais, no final deste mês, deve dar oportunidade à nova geração; 3C) todos os vereadores do partido irão à tribuna das câmaras municipais defender a tese da renúncia do presidente Fernando Henrique; 4C) assumir com mais coragem a tarefa de discutir os erros e acertos. Brizola tem razão: o PDT assumiu passivamente as derrotas eleitorais, desde 92. E só abriu discussões internas quando já havia uma solução. Verbas do orçamento da União, resultantes de emendas dos deputados federais e senadores do RS, envolverão queda-de-braço. Com exceção dos parlamentares do PT, os demais querem que elas sejam canalizadas para as suas regiões. Com isso, o Executivo perderia o controle. Foi de R$ 515,80 a conta do café da manhã de Leonel Brizola com jornalistas, ontem, no Hotel Plaza São Rafael. Secretário do Mercosul, Renan Kurtz, do PDT, assumirá 2ª-feira, às 15h, no Centro Administrativo. Levantamento do deputado Onyx Lorenzoni conclui: governo despreza 72 mil vagas na região Metropolitana que GM, Ford e Gerdau ofertariam. Governo do Estado inova: seminário sobre dois meses de administração se realizou, ontem, em cinco locais diferentes de Porto Alegre. Presidente da Força Sindical, Paulo da Silva, pede a advogados para mover ação e interditar Itamar Franco. “Doido não pode governar”, alega. Morte do jornalista Marcos Faerman registrada, ontem, na sessão plenária pelo senador Pedro Simon. Do deputado Valdir Andres: “A situação ataca governo passado e a oposição ataca o atual. Quem governa?”. Esta semana, lei que garante certidão de nascimento gratuita completou um ano. Jamais foi aplicada. Comentários sobre Política, às 12h50min de hoje, na Rádio Guaíba. Deu no jornal: “Governador Itamar Franco rompe com a oposição”. Da série “Perdido no Tiroteio”. Setores do governo federal têm duas preocupações: se a inflação voltará e se ela votará nas eleições de 2000. E-mail: [email protected] Saída Debate A tendência dos partidos de oposição na Assembléia Legislativa é fechar questão para votar projetos e vetos do Executivo. Evitaria rachaduras nas bancadas e constrangimento de alguns parlamentares. Na reunião do diretório regional do PT, hoje, será contestado o critério que escolheu os 22 coordenadores do Orçamento Participativo para o interior do Estado. Alguns estão atropelando e fora de sintonia. Otimismo — Leonel Brizola adverte: “Os coveiros, que estão sempre à espera para enterrar o PDT, podem guardar suas pás. Nosso partido é como taquara braba: a semente cai na terra, dorme 7 anos e, quando menos se espera, germina e vem com toda a força. Pois é o que acontece agora”. Voltando — Depois de 44 anos, Leonel Brizola voltou, ontem, à Secretaria de Obras, a convite de Pedro Ruas. Exerceu o cargo de 52 a 54, no governo de Ernesto Dornelles, e só deixou para concorrer e se eleger prefeito de Porto Alegre. Até ontem, Brizola não conhecia o Centro Administrativo. Alô — O presidente do BID, Enrique Iglesias, tirou a deputada Maria do Rosário de um apuro, ontem, no aeroporto de Paris. Ofereceu seu celular para que conseguisse completar ligação ao Palácio Piratini. Ela participou de encontro sobre jovens no século XXI, promovido pela Unesco e pelo BID. Linha dura O coordenador interino do Sistema Nacional de Emprego em Porto Alegre, Luiz Augusto Farofa da Silva, mandou carta aos vereadores, pedindo que não encaminhem mais trabalhadores com cartões de visita para obterem atendimento especial. Tempo perdido Toda a vez que o prefeito Raul Pont pede licença para viajar, os vereadores da oposição tratam de dedicar uma tarde para discuti-la. Antecipam o clima eleitoral turbulento que será vivido daqui para a frente. Em 1969 Há 30 anos, neste mesmo dia, o governo federal cassava 91 deputados em 20 estados. Os gaúchos foram Darcílio Giacomazzi, Lauro Hagemann, João Bruza Neto, Mozart Rocha, Terezinha Chaise, Pedro Gomes Nunes e Rubem Machado Lang. Simon está preocupado com a tese de renúncia O senador Pedro Simon, do PMDB, disse ontem que está muito preocupado com a campanha de Leonel Brizola para a renúncia do presidente da República. Justificou que, antes de lançar uma proposta dessas, “precisamos olhar para a história recente e ver como terminaram movimentos nesse sentido”. Mas Simon concorda com as críticas de Brizola à política econômica do governo. “A saída para a crise está num amplo debate nacional”, disse. Yeda considera proposta como movimento político A deputada Yeda Crusius, do PSDB, afirmou ontem que o diagnóstico feito por Leonel Brizola está errado e, por este motivo, deseja a renúncia de Fernando Henrique. Garantiu que o presidente governa e propôs um ajuste fiscal sério, além de ter a idéia clara do que pretende fazer. Yeda avaliou como um movimento político o propósito de Brizola, que “tem o mesmo caráter golpista da proposta do ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro”. Partido debate forma para contrapor crise financeira O PT promove hoje, no Plenarinho da Assembléia Legislativa, uma reunião dos 105 integrantes do diretório estadual. O encontro vai discutir o conteúdo do manifesto lançado pelo comando nacional do partido, que aborda estratégias para se contrapor à crise financeira do país. Os petistas pretendem avaliar formas de mobilizar as forças de resistência ao modelo neoliberal e as dificuldades que os governos estaduais encontram para renegociar as dívidas. Governo analisa primeiros 60 dias de administração Um seminário sobre os dois primeiros meses de governo envolveu ontem, das 13h às 17h30min, todos os setores da administração estadual. Seis grupos, coordenados pelo vice-governador Miguel Rossetto, o chefe da Casa Civil, Flávio Koutzii, e secretários de Estado, debateram a estratégia de governo e as prioridades de ação política e administrativa. Foram definidas as principais metas que serão discutidas na reunião do secretariado, dia 20. Proença vê Olívio como exterminador de emprego O deputado Nelson Proença, do PMDB, disse ontem temer que o governador Olívio Dutra passe para a história “como um dos maiores exterminadores de empregos que já apareceram no Estado”, diante de notícias da suspensão de obras, que teriam provocado 20 mil demissões. Quinta-feira, Proença defendeu, na Câmara, o ex-governador Antônio Britto. “Chega de chorar e de reclamar”, insistiu, referindo-se a Olívio. Magalhães vai propor CPI para investigar Judiciário Antônio Carlos Magalhães, do PFL-BA, presidente do Congresso, vai propor a criação de uma CPI para investigar irregularidades no Judiciário. A idéia, apoiada por vários senadores, é deixar o Supremo Tribunal Federal de fora e promover grande debate no país sobre a atuação, eficiência e custos dos demais tribunais. Ele afirma receber cerca de cem mensagens por dia apoiando a idéia de reestruturar o Judiciário.