INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Universidade Técnica de Lisboa Concepção e Dimensionamento de Pavimentos em Blocos Paulo Roberto da Silva Morgado Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Presidente: Prof. Doutor Joaquim Jorge da Costa Paulino Pereira Orientador: Prof. Doutor José Manuel Coelho das Neves Co-Orientador: Eng.º Luís Lopes dos Santos Vogais: Doutora Ana Cristina Ferreira de Oliveira Rosado Freire Dezembro de 2008 Agradecimentos Este trabalho não estaria devidamente concluído sem que nele expressasse os meus mais sinceros agradecimentos e enorme reconhecimento àqueles que de alguma forma colaboraram no decurso da sua elaboração. O presente trabalho foi orientado pelo Professor José Neves, Professor Auxiliar do Instituto Superior Técnico. Pretendo agradecer a: Ao Professor José Neves devo a orientação, permanente incentivo, atenção e apoio concedido, sem não esquecer o quanto tenho aprendido, tanto de trabalho como da vida. Os meus mais profundos agradecimentos. Agradeço ao Capitão Eng.º Luís Santos, ao Alferes Eng.º Jorge Lopes e a todo o Grupo de Engenharia da Academia da Força Aérea (G.E.A.F.A.) pelas facilidades criadas na utilização do equipamento necessário e pela preciosa ajuda na parte experimental. Aos meus amigos e colegas de trabalho, que acreditaram em mim e que me apoiaram. Espero poder retribuir a amizade com a mesma intensidade. Muito obrigado. À Rita Silva, sem a ternura, o amor e carinho, teria sido mais difícil cumprir esta tarefa. Obrigado pela preciosa compreensão e apoio constante que permitiram que atingisse o final do presente trabalho. Por fim os que são primeiros, a minha família. Aos meus pais e irmã, obrigado por tudo. Obrigado pelo vosso incentivo incessante, pelo apoio, pela compreensão, e acima de tudo, pelo vosso amor. I Resumo Desde a década de 1980, a indústria de pavimentos em blocos de betão – PBB – vem crescendo em grandes proporções em todo o mundo, inclusive em Portugal. O que era um tipo de material utilizado apenas em áreas que demandavam efeitos arquitectónicos ou paisagísticos, deu lugar a um material único e extremamente versátil para harmonizar qualquer tipo de pavimento, inclusive o industrial e o rodoviário, tanto esteticamente como estruturalmente. Os blocos de betão pré-fabricados para pavimentos – BB – pelas suas dimensões e qualidades padronizadas, bem como pela facilidade construtiva, cada vez mais serão encarados como uma solução de pavimentação adequada, não só do ponto de vista técnico mas também económico. Este trabalho tem como objectivo principal dimensionar um catálogo de PBB, bem como mostrar a evolução tecnológica e o estado do conhecimento sobre o assunto. Foram realizados ensaios não destrutivos com um deflectómetro de impacto num pavimento experimental, com o intuito de verificar o seu comportamento e validar o catálogo proposto. Além da parte experimental, também foram resumidos os principais métodos de dimensionamento existentes no mundo e daí concluiu-se que estes têm um comportamento estrutural semelhante aos pavimentos flexíveis, devido ao seu travamento. Analisa-se, ainda, os parâmetros de deformabilidade a atribuir à camada de desgaste constituída pelos BB e pela areia. Foi também abordada a norma internacional em vigor para os BB, a norma EN 1338:2003, assim como a marcação CE dos BB. Palavras-Chave Infra-estruturas Pavimentos Blocos de Betão Dimensionamento II Abstract Since the 1980’s, the industry of concrete block pavements – CBP – has been growing around the world, including in Portugal. This material was firstly used for architectural or landscape purposes. Nowadays, it is being a unique and extremely versatile material capable, to harmonize any type of pavement, including industrial and roads pavements, both esthetically and structurally. Precast concrete blocks for pavements – CB – appear in standard shapes and sizes, requiring high control in the manufacturing process. However, their application is quite simple, not demanding qualified labor. The purpose of this work is to design a CBP catalogue, as well as to demonstrate the technological evolution and the current knowledge on this kind of pavements. Non-destructive tests were made with the falling weight deflectometer in an experimental pavement in order to obtain mechanical properties of pavement layers and to validate the proposed catalog. Besides the experimental work, the main design methods were described and analyzed, and it was concluded that the structural behavior of the CBP is similar to flexible pavements, due to its interlock. This dissertation still discusses the stiffness that should be used in the surface course formed by the CB and the laying course. The international standard currently in use for the CB, EN 1338:2003, was also presented, as well as the CE marking of the CB’s. Key-works Infrastructure Pavement Concrete Blocks Design III Lista de abreviaturas AASHTO – American Association of State Highway of Transportation Officials ABGE – Agregado Britado de Granulometria Extensa (tout-venant) AGEC – Agregado não recomposto em central tratado com Cimento BB – Blocos pré-fabricados de Betão para pavimentos BCR – Betão Compactado com cilindro de Rasto liso BD – Betão betuminoso em camada de Desgaste BPA – British Ports Association CEN – Committee European Standardization (Comité Europeu de Normalização) CBR – Índice de Suporte Califórnia d.p. – desvio padrão FAA – Federal Aviation Administration FWD – Falling Weigth Deflectometer ICPI – Interlocking Concrete Pavement Institute LCI – Load Classification Index Mr – Módulo Resiliente PAWL – Port Area Wheel Load PBB – Pavimentos em Blocos de Betão pré-fabricados Sc – Solo-cimento fabricado em central IV Índice 1. INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1 1.1 1.2 1.3 2. ENQUADRAMENTO DO TEMA ----------------------------------------------------------------------------------------------- 1 OBJECTIVOS DO TRABALHO ------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------------- 3 PAVIMENTOS EM BLOCOS ----------------------------------------------------------------------------------------------- 4 2.1 GENERALIDADES------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 2.2 TIPOS DE PAVIMENTOS E ÂMBITO DE APLICAÇÃO-------------------------------------------------------------------------- 4 2.2.1 Principais aplicações ------------------------------------------------------------------------------------------- 4 2.2.2 Pavimentos em edifícios --------------------------------------------------------------------------------------- 4 2.2.3 Pavimentos em zonas pedonais ----------------------------------------------------------------------------- 6 2.2.4 Pavimentos com fins decorativos --------------------------------------------------------------------------- 6 2.2.5 Pavimentos urbanos sujeitos a tráfego rodoviário ----------------------------------------------------- 7 2.2.6 Pavimentos sujeitos a tráfego rodoviário pesado ------------------------------------------------------ 8 2.2.7 Pavimentos em zonas especiais --------------------------------------------------------------------------- 10 2.3 FUNÇÕES E MATERIAIS A APLICAR NAS VÁRIAS CAMADAS --------------------------------------------------------------- 10 2.3.1 Fundação -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11 2.3.2 Camadas de sub-base e base ------------------------------------------------------------------------------ 11 2.3.3 Colchão de areia do pavimento --------------------------------------------------------------------------- 13 2.3.4 Camada de desgaste ----------------------------------------------------------------------------------------- 14 2.4 CONTROLO DE QUALIDADE ----------------------------------------------------------------------------------------------- 16 2.4.1 Aspectos gerais ------------------------------------------------------------------------------------------------ 16 2.4.2 Norma EN 1338:2003 ---------------------------------------------------------------------------------------- 16 2.4.3 Marcação CE --------------------------------------------------------------------------------------------------- 20 2.5 ASPECTOS GERAIS DE CONSTRUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------- 21 2.5.1 Preparação do solo de fundação -------------------------------------------------------------------------- 21 2.5.2 Espalhamento e compactação da camada de sub-base -------------------------------------------- 22 2.5.3 Espalhamento e compactação da camada de base -------------------------------------------------- 22 2.5.4 Execução dos bordos de confinamento ou remates de bordadura ------------------------------ 23 2.5.5 Espalhamento e nivelamento da camada de areia -------------------------------------------------- 24 2.5.6 Colocação dos Blocos ---------------------------------------------------------------------------------------- 25 2.5.7 Compactação do pavimento ------------------------------------------------------------------------------- 27 2.5.8 Preenchimento das juntas com areia -------------------------------------------------------------------- 28 2.5.9 Travamentos em PBB ---------------------------------------------------------------------------------------- 28 2.6 SOLICITAÇÕES ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 30 2.7 DEGRADAÇÕES ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 32 2.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------------------------------------- 33 3. MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO PARA PBB------------------------------------------------------------------ 34 3.1 GENERALIDADES----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 34 3.2 INGLATERRA E ESTADOS UNIDOS----------------------------------------------------------------------------------------- 34 3.2.1 Método para Pavimentos Industriais e Áreas Portuárias------------------------------------------- 35 3.2.2 Método para áreas aeroportuárias - Placas de estacionamento --------------------------------- 37 3.3 AUSTRÁLIA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 38 3.4 BRASIL --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 44 3.5 DIMENSIONAMENTO PARA TRÁFEGO LIGEIRO --------------------------------------------------------------------------- 46 3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------------------------------------- 49 V 4. ESTUDO E MODELAÇÃO DE UM PAVIMENTO EXPERIMENTAL ---------------------------------------------- 50 4.1 GENERALIDADES----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 50 4.2 DESCRIÇÃO DO PAVIMENTO ---------------------------------------------------------------------------------------------- 50 4.3 ENSAIOS DE CARGA NO PAVIMENTO ------------------------------------------------------------------------------------- 52 4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DE CARGA ----------------------------------------------------------------------------------- 55 4.5 MODELAÇÃO NUMÉRICA DO PAVIMENTO EXPERIMENTAL -------------------------------------------------------------- 56 4.5.1 Modelos de comportamento dos materiais ------------------------------------------------------------ 56 4.5.2 Modelos de resposta ----------------------------------------------------------------------------------------- 57 4.6 MODELAÇÃO DO COMPORTAMENTO NOS ENSAIOS DE CARGA -------------------------------------------------------- 59 4.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------------------------------------- 61 5. CATÁLOGO DE PAVIMENTOS------------------------------------------------------------------------------------------ 62 5.1 GENERALIDADES----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 62 5.2 CLASSIFICAÇÃO DO TRÁFEGO --------------------------------------------------------------------------------------------- 62 5.3 CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS --------------------------------------------------------------------------------------- 64 5.3.1 Fundação do pavimento------------------------------------------------------------------------------------- 64 5.3.2 Materiais granulares ----------------------------------------------------------------------------------------- 65 5.3.3 Blocos de Betão ------------------------------------------------------------------------------------------------ 66 5.4 CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO -------------------------------------------------------------------------------------- 67 5.4.1 Modelo do pavimento --------------------------------------------------------------------------------------- 67 5.4.2 Estados limites de ruína ------------------------------------------------------------------------------------- 67 5.5 PROPOSTA DE ESTRUTURAS TIPO PARA PBB ---------------------------------------------------------------------------- 69 5.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------------------------------------- 71 6. SÍNTESE E CONCLUSÕES ------------------------------------------------------------------------------------------------ 73 6.1 6.2 6.3 SÍNTESE DO TRABALHO ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 73 PRINCIPAIS CONCLUSÕES ------------------------------------------------------------------------------------------------- 73 INVESTIGAÇÃO FUTURA --------------------------------------------------------------------------------------------------- 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------------------------------------------------- 76 VI Índice de Figuras FIGURA 1.1 - CALÇADA ROMANA EM COIMBRA -------------------------------------------------------------------------------------- 1 FIGURA 1.2 – PAVIMENTO EM BLOCOS DE BETÃO [SOPLACAS; 2007] ----------------------------------------------------------- 2 FIGURA 2.1 - TIPOS DE COLOCAÇÃO DE BB SOBRE LAJES [ADAH; 2004] --------------------------------------------------------- 5 FIGURA 2.2 - DETALHES DA COLOCAÇÃO DE BB EM COBERTURAS PLANAS INVERTIDAS [ADAH; 2004] ------------------------- 5 FIGURA 2.3 - EXEMPLO DE PBB EM ÁREAS PEDONAIS [ARTEBEL; 2007] --------------------------------------------------------- 6 FIGURA 2.4 - EXEMPLO DE APLICAÇÃO DOS BB PARA REVESTIMENTOS VERTICAIS [ADAH; 2004]------------------------------- 6 FIGURA 2.5 - EXEMPLO DE UM PBB SUJEITO A TRÁFEGO RODOVIÁRIO [ADAH; 2004] ------------------------------------------ 7 FIGURA 2.6 - APLICAÇÕES SUJEITAS A TRÁFEGO RODOVIÁRIO: (A) ESTAÇÃO DE SERVIÇO, (B) VIAS RURAIS [ORIGINAL BLOCOS; 2008] --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 FIGURA 2.7 - TERMINAL DE SANTA APOLÓNIA, LISBOA [LUÍS; 1992] -------------------------------------------------------------- 9 FIGURA 2.8 - AEROPORTO INTERNACIONAL DE HONG KONG [INTERPAVE; 2008] ---------------------------------------------- 9 FIGURA 2.9 - ESTRUTURA TIPO DE UM PBB ---------------------------------------------------------------------------------------- 11 FIGURA 2.10 - ESQUEMA DO ENSAIO DE TRACÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL [CEN; 2003] ------------------------------ 18 FIGURA 2.11 - ENSAIO DE TRACÇÃO POR COMPRESSÃO - MÉTODO DA NORMA EN 1338 -------------------------------------- 19 FIGURA 2.12 - PRINCÍPIO DA MÁQUINA DE DESGASTE POR ABRASÃO [CEN; 2003]--------------------------------------------- 19 FIGURA 2.13 - EQUIPAMENTO PÊNDULO DE ATRITO [CEN; 2003] --------------------------------------------------------------- 20 FIGURA 2.14 - DISPOSIÇÃO DOS BORDOS DE CONFINAMENTO [ADAH; 2004] ------------------------------------------------- 23 FIGURA 2.15 - NIVELAMENTO DA CAMADA DE AREIA: (A) MANUALMENTE [CRUZ; 2003], (B) COM RECURSO A MEIOS MECÂNICOS [INTERPAVE; 2008] ------------------------------------------------------------------------------------------ 24 FIGURA 2.16 - DEFORMAÇÃO DO PAVIMENTO SEGUNDO A ESPESSURA DA CAMADA DE AREIA [ADAH; 2004] --------------- 25 FIGURA 2.17 - COLOCAÇÃO DOS BB MANUALMENTE [CRUZ; 2003] E COM MEIOS MECÂNICOS [INTERPAVE; 2008] ---- 26 FIGURA 2.18 - ACERTO DOS BB JUNTO AOS BORDOS DE CONFINAMENTO [INTERPAVE; 2008]------------------------------ 26 FIGURA 2.19 - CONSTRUÇÃO DE VALETAS: (A) EM BB, (B) EM BETÃO [INTERPAVE; 2008] ---------------------------------- 27 FIGURA 2.20 - COMPACTAÇÃO DO PAVIMENTO [INTERPAVE; 2008; ADAH; 2004] ---------------------------------------- 27 FIGURA 2.21 - PREENCHIMENTO DAS JUNTAS: (A) MANUALMENTE [ADAH; 2004], (B) PREENCHIMENTO E COMPACTAÇÃO ATRAVÉS DE MEIOS MECÂNICOS [INTERPAVE; 2008] -------------------------------------------------------------------- 28 FIGURA 2.22 - TIPOS DE TRAVAMENTO: (A) VERTICAL, (B) ROTACIONAL, (C) HORIZONTAL [BURAK; 2002] ---------------- 29 FIGURA 2.23 - MOVIMENTO DE GIRAÇÃO DOS BLOCOS DE BETÃO DA CAMADA SUPERFICIAL ------------------------------------ 30 FIGURA 2.24 - DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES NO INTERIOR DE UM PBB [HALLAC; 1998] --------------------------------------- 32 FIGURA 3.1 - EFEITO PROGRESSIVO DA RIGIDEZ EM FUNÇÃO DO CARREGAMENTO INICIAL [SHACKEL; 1990] ---------------- 39 FIGURA 3.2 - EFEITOS DA SOBREPOSIÇÃO DE TENSÕES ORIGINADAS PELO EIXO DOS VEÍCULOS EM PROFUNDIDADE NA ESTRUTURA DO PAVIMENTO [SHACHEL; 2000] --------------------------------------------------------------------------- 43 FIGURA 3.3 - DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DO PROCESSO DE DIMENSIONAMENTO PELO PROGRAMA LOCKPAVE [SHACHEL; 2000] ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 43 FIGURA 3.4 - FLUXO DE DIMENSIONAMENTO EMPÍRICO PARA TRÁFEGO LIGEIRO – PEÕES E CARROS LIGEIROS [COOK; 1996] --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 47 FIGURA 3.5 - FLUXOGRAMA DE DIMENSIONAMENTO EMPÍRICO DE PBB PARA TRÁFEGO LIGEIRO – VEÍCULOS LIGEIROS E POUCOS VEÍCULOS PESADOS [COOK; 1996] ------------------------------------------------------------------------------- 48 FIGURA 4.1 - LOCALIZAÇÃO DO PAVIMENTO EM ESTUDO [GOOGLE EARTH; 2008] ------------------------------------------ 51 FIGURA 4.2 - ESQUEMA DO PAVIMENTO EM ESTUDO ------------------------------------------------------------------------------ 51 FIGURA 4.3 - CAMADA DE DESGASTE EM BB HEXAGONAIS ------------------------------------------------------------------------ 51 FIGURA 4.4 – GAMADENSÍMETRO DA MARCA TROXLER --------------------------------------------------------------------------- 52 FIGURA 4.5 - ELEMENTOS QUE CONSTITUEM UM FWD [FORTUNADO; 2006] ----------------------------------------------- 52 FIGURA 4.6 - REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS COM O FWD ----------------------------------------------------------------------------- 53 FIGURA 4.7 - ENSAIO FWD (PARA VALORES NORMALIZADOS DE 40, 100 E 150 KN) ------------------------------------------ 55 FIGURA 4.8 - MODELO DE BURMISTER [NEVES; 2007 B] ------------------------------------------------------------------------ 58 FIGURA 5.1 - ESTRUTURA MULTI-CAMADAS DO PAVIMENTO ASSUMIDA PARA ANÁLISE ----------------------------------------- 67 FIGURA 5.2 - ESTADOS LIMITES DE RUÍNA NOS PBB [NEVES; 2007 A] --------------------------------------------------------- 68 FIGURA 5.3 - SECÇÕES TIPO PROPOSTAS -------------------------------------------------------------------------------------------- 70 VII Índice de Quadros QUADRO 2.1 - RECOMENDAÇÕES DA GRANULOMETRIA DOS AGREGADOS A USAR NAS CAMADAS DE BASE E SUB-BASE [ABCP; 2001] ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12 QUADRO 2.2 – RECOMENDAÇÕES PARA A GRANULOMETRIA DA AREIA A UTILIZAR NO COLCHÃO DE AREIA [CRUZ; 2003] -- 13 QUADRO 2.3 - CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS BLOCOS PARA PAVIMENTOS ------------------------------------------------------- 15 QUADRO 2.4 - REQUISITOS DE PROJECTO DA NORMA EN 1338:2003 [CEN; 2003] ------------------------------------------ 20 QUADRO 3.1 - ÍNDICE DE CLASSIFICAÇÃO DE CARGA (LCI) PARA PAVIMENTOS INDUSTRIAIS DE GRANDES CARGAS [CRUZ; 2003] ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37 QUADRO 3.2 - MÓDULO DOS BB DETERMINADOS ATRAVÉS DO FWD E EM ENSAIOS DE LABORATÓRIO [SHACHEL; 2000] 42 QUADRO 3.3 - FACTORES DE DRENAGEM CONSIDERADOS NO MÉTODO DE DIMENSIONAMENTO DO PROGRAMA DA LOCKPAVE [SHACHEL; 2000] -------------------------------------------------------------------------------------------- 42 QUADRO 3.4 - CATEGORIAS DE TRÁFEGO PARA PAVIMENTOS [ADAH; 2004] -------------------------------------------------- 47 QUADRO 4.1 – DEFLEXÕES NORMALIZADAS E ANÁLISE ESTATÍSTICA -------------------------------------------------------------- 54 QUADRO 4.2 - VALORES PARA OS MÓDULOS DE DEFORMABILIDADE DOS VÁRIOS MATERIAIS EMPREGUES EM PAVIMENTOS-- 57 NO QUADRO 4.3 ENCONTRA-SE OS VALORES TÍPICOS PARA O COEFICIENTE DE POISSON, CONSIDERADOS PARA CADA TIPO DE MATERIAL. [DOMINGOS; 2007] ------------------------------------------------------------------------------------------ 57 QUADRO 4.4 - VALORES TÍPICOS PARA O COEFICIENTE DE POISSON --------------------------------------------------------------- 57 QUADRO 4.5 - DADOS E RESULTADOS DA 1ª ITERAÇÃO ---------------------------------------------------------------------------- 60 QUADRO 4.6 - MÓDULOS DE DEFORMABILIDADE ESTIMADOS PARA AS VÁRIAS CAMADAS -------------------------------------- 60 QUADRO 5.1 – ELEMENTOS RELATIVOS AO TRÁFEGO ------------------------------------------------------------------------------ 64 QUADRO 5.2 - CLASSES DE FUNDAÇÃO [JAE; 1995] ------------------------------------------------------------------------------ 65 QUADRO 5.3 - CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS ADOPTADAS PARA OS MATERIAIS [JAE; 1995] ---------------------------------- 66 QUADRO 5.4 - CARACTERÍSTICAS DO TRÁFEGO ------------------------------------------------------------------------------------- 70 QUADRO 5.5 - EXTENSÕES VERTICAIS DE COMPRESSÃO ADMISSÍVEIS NO TOPO DA FUNDAÇÃO --------------------------------- 71 QUADRO 5.6 - CÁLCULO DA TENSÃO HORIZONTAL DE TRACÇÃO NA BASE DA CAMADA DE SC ----------------------------------- 71 VIII 1. Introdução 1.1 Enquadramento do tema O pavimento é a parte da estrada ou rua, constituído por vários materiais que se colocam sobre o terreno natural ou em aterro, com a finalidade de suportar directamente o tráfego. A função essencial de um pavimento rodoviário é assegurar uma superfície de rolamento que permita a circulação dos veículos com comodidade e segurança, durante um determinado período, sob a acção das acções do tráfego, e nas condições climáticas que ocorram. [BRANCO; 2006] Uma das primeiras formas de pavimentação em Portugal foi a calçada romana, grande obra de engenharia, que permitiu que vários troços tenham resistido durante séculos e se encontrem ainda hoje em funcionamento (Figura 1.1). Figura 1.1 - Calçada Romana em Coimbra Actualmente um dos revestimentos utilizados na concepção de pavimentos são os blocos de betão pré-fabricados (que doravante serão designados por BB). SMITH, (2003) refere que, nos Estados Unidos, a cada cinco anos a área de pavimentos em blocos de betão pré-fabricados (que doravante serão designados por PBB) quase duplica. O que era 4 milhões de metros quadrados em 1980, em 2000 já ultrapassava a marca de 40 milhões de metros quadrados aplicados. Para 2010, o mesmo autor prevê que serão utilizados mais de 100 milhões de metros quadrados. Os mesmos crescimentos têm sido registados na Bélgica, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Em Portugal não existem dados estatísticos sobre a área pavimentada em BB. 1 A aplicação de PBB está geralmente associada a passeios e acessos a zonas residenciais. Não menos frequente é a sua utilização em estações de serviço das gasolineiras, a parques de estacionamento, (Figura 1.2) e, por vezes a zonas de paragem de autocarros, em que o primeiro objectivo visado é a resistência da camada de desgaste à acção corrosiva de derrames de carburantes. Figura 1.2 – Pavimento em blocos de betão [SOPLACAS; 2007] Com um comportamento estrutural semelhante aos pavimentos flexíveis, os PBB permitem ser reparados sem deixar marcas. Trata-se de uma excelente alternativa, tanto do ponto de vista técnico como económico, além de ser uma opção intermediária entre os pavimentos rígidos e flexíveis. Os PBB têm como característica principal a sua superfície antiderrapante, o que proporciona uma maior segurança em trechos com rampas ou curvas, principalmente quando a superfície se encontra molhada. Os BB permitem uma perfeita drenagem das águas da chuva e, ao mesmo tempo, evitam a impermeabilização do solo, pois as juntas entre as peças possibilitam a infiltração de uma parcela das águas incidentes, amenizando desta maneira, o impacto ambiental. É considerado, portanto, um piso ecologicamente correcto. [ESCOLHER & CONSTRUIR; 2007] Estes pavimentos possuem ainda grande poder de difusão da luz solar ou artificial (iluminação pública), apresentando menor temperatura superficial durante o dia (até 4ºC) e melhor condição de visibilidade à noite (até 30%). Além disso, destaca-se pela grande facilidade e velocidade de execução. Os serviços de manutenção são simples, bastando a remoção localizada das peças e recuperação da zona danificada. [BLOCAUS; 2007] 1.2 Objectivos do trabalho Dada a importância dos BB na pavimentação, e por ainda haver um estudo muito limitado sobre este tema no nosso país, este trabalho tem três objectivos principais: 2 Síntese dos conhecimentos relativos ao projecto e construção dos PBB, recorrendo a bibliografia nacional e estrangeira. Analisar aspectos relacionados com o contributo para o melhor conhecimento estrutural da camada de desgaste constituída por BB, nomeadamente através da realização de ensaios de carga num pavimento experimental. Apresentar um catálogo que reúna várias classes de tráfego e de fundação, adequado à realidade nacional. 1.3 Estrutura da dissertação A presente dissertação está organizada em sete capítulos, onde se inclui este, considerações iniciais, na qual se realiza uma apresentação e enquadramento do tema e se enunciam os objectivos da mesma. No capítulo 2, pavimentos em blocos, descreve-se o campo de aplicação, os materiais e as funções de cada camada do pavimento. Neste capítulo também será descrito os aspectos gerais de concepção, as solicitações a que estão sujeitos, como é feito o controlo de qualidade dos blocos e ainda as degradações deste tipo de pavimentos. No capítulo 3, métodos de dimensionamento para PBB, é feita uma síntese da bibliografia acerca dos métodos de dimensionamento existentes, realçando os conceitos mais utilizados nos métodos investigados. No capítulo 4, estudo e modelação de um pavimento experimental, conhece-se um pavimento do género, no qual se realiza uma campanha de ensaios in situ. Posteriormente procede-se à análise dos resultados dos ensaios de carga no pavimento e por fim faz-se uma modelação numérica do mesmo pavimento. No capítulo 5, catálogo de pavimentos, propõe-se estruturas típicas de PBB, descrevendo-se também a classificação do tráfego, fundação e materiais. Descreve-se ainda os critérios de dimensionamento para a obtenção das secções tipo recomendadas. Por fim no capítulo 6, conclusões, é feita uma sinopse do trabalho desenvolvido e apresentam-se as principais conclusões alcançadas. Neste capítulo faz-se também sugestões para estudos futuros, que não são poucas, pois este é um dos primeiros trabalhos existentes no nosso país sobre o assunto abordado. 3 2. Pavimentos em blocos 2.1 Generalidades Para melhor entender a importância dos pavimentos com camada de revestimento constituída por blocos de betão, é relevante descrever o campo de aplicação destes, as suas vantagens, os materiais e funções de cada camada do pavimento. Neste capítulo será também descrito os aspectos gerais de concepção, bem como as solicitações a que estão sujeitos. O controlo de qualidade dos blocos, os estados limites de ruína e as degradações do pavimento em estudo serão também abordados. 2.2 Tipos de pavimentos e âmbito de aplicação 2.2.1 Principais aplicações Existe uma vasta gama de possibilidades de aplicações em que se pode usar PBB. Quando os PBB são usados pela primeira vez, são as aplicações arquitectónicas que predominam, mas depois, de acordo com o crescente conhecimento sobre os mesmos, estes são empregados em áreas sujeitas a tráfego rodoviário ligeiro ou pesado. Em seguida são apresentadas uma vasta gama de aplicações deste tipo de pavimentos, assim como algumas das suas vantagens e desvantagens: pavimentos em edifícios, pavimentos em zonas pedonais, pavimentos com fins decorativos, pavimentos urbanos sujeitos a tráfego rodoviário, pavimentos sujeitos a tráfego rodoviário pesado e pavimentos em zonas especiais. 2.2.2 Pavimentos em edifícios Nos pavimentos em edifícios, os BB usa-se principalmente sobre lajes de betão e coberturas planas de edifícios. 4 Com certa frequência os PBB utilizam-se para harmonizar ou unificar zonas interiores de edifícios com jardins privados e pátios. Como se mostra na Figura 2.1, os PBB devem ser colocados sobre uma camada de areia com 3 a 5 cm de espessura ou então sobre uma camada de colagem (resina epóxi ou cimento cola). As juntas deverão ser inferiores a 3mm estando correctamente preenchidas com areia seca e fina. [ADAH; 2004] Figura 2.1 - Tipos de Colocação de BB sobre Lajes [ADAH; 2004] Os PBB também podem ser usados em coberturas planas de edifícios, aumentando o espaço útil utilizável. Nestes casos e como se mostra na Figura 2.2 os BB devem ser colocados sobre uma camada de areia com 3 a 4 cm de espessura com granulometria de 2 a 6 mm, debaixo do qual se situa um isolante rígido (opcional) e uma membrana impermeabilizante (Tipo 1). Também é possível colocar uma camada de brita bem graduada, usada como camada drenante (Tipo 2). Em ambos os tipos, as juntas geralmente são tapadas com areia seca e fina, mas também é possível estas ficarem abertas, de modo a permitir uma drenagem mais rápida da camada inferior. Este último tem a vantagem de permitir o levantamento dos PBB para a realização de trabalhos de limpeza e reparações na laje. [ADAH; 2004] Figura 2.2 - Detalhes da colocação de BB em coberturas planas invertidas [ADAH; 2004] 5 2.2.3 Pavimentos em zonas pedonais Os PBB têm sido utilizados em zonas pedonais, sempre com bons resultados estruturais e estéticos (Figura 2.3). As principais vantagens do uso destes pavimentos em zonas pedonais são: segurança (superfície antiderrapante), espaços esteticamente agradáveis, boa luminosidade e impermeabilidade. Figura 2.3 - Exemplo de PBB em áreas pedonais [ARTEBEL; 2007] 2.2.4 Pavimentos com fins decorativos Devido às suas qualidades estéticas, os BB têm tido cada vez mais utilização em jardins domésticos e espaços públicos. De uma forma geral qualquer BB pode ser utilizado com resultados satisfatórios em zonas ajardinadas, mas segundo [ADAH; 2004] os rectangulares oferecem melhores resultados, pois têm uma fácil colocação e reparação e também podem ser colocados na vertical (Figura 2.4). Por outro lado devido ao seu arranjo de cores e texturas estes podem ser integrados com outros materiais como a pedra e a madeira Figura 2.4 - Exemplo de aplicação dos BB para revestimentos verticais [ADAH; 2004] 6 2.2.5 Pavimentos urbanos sujeitos a tráfego rodoviário A possibilidade de suportar cargas elevadas e tráfego de movimento lento, associado a baixos custos de manutenção e as virtudes estéticas dos BB, coloca este tipo de pavimentos como uma boa alternativa para as vias urbanas, para áreas residenciais, parques de estacionamento, terminais de autocarros, estacões de serviço, vias rurais, etc. Quando temos PBB, pode-se aproveitar para colocar debaixo dos BB detectores de veículos (p.e. Laços de indução) para a realização de estudos de tráfego. Estes detectores serão colocados na camada de areia, tendo a vantagem de estarem protegidos ao choque e facilmente podemos ter acesso a eles para a sua manutenção (Figura 2.5). Figura 2.5 - Exemplo de um PBB sujeito a tráfego rodoviário [ADAH; 2004] Os pavimentos, principalmente de parques de estacionamento exteriores, estão normalmente expostos à acção do sol, chuva, gelo e neve. Ao contrário do que ocorre nos pavimentos flexíveis em betão betuminoso, os PBB apresentam uma deteorização mínima devido a efeitos climáticos. As paragens de autocarros são as zonas de maior complexidade a nível de cálculo e desenho. Normalmente circulam nestes locais veículos mais pesados em situação de paragem e arranque, levando mais rapidamente ao aparecimento de rodeiras e deformações locais. Por esta razão os PBB são utilizados nas paragens de autocarros, pois têm um bom comportamento para estas circunstâncias. Acresce ainda a resistência aos derrames de combustíveis que ai acontece, o que dificilmente se consegue com pavimentos betuminosos. A necessidade de resistir a contínuos derrames de combustíveis e lubrificantes faz com que os PBB sejam a melhor opção para as pavimentações das estações de serviço (Figura 2.6 (a)), desde que as juntas tenham um adequado preenchimento. Outra vantagem de usar este 7 tipo de pavimento é a sua reparação e manutenção, que permite o acesso do tráfego imediatamente depois da finalização das obras. Os PBB são frequentemente usados em vias rurais (Figura 2.6 (b)) principalmente na Holanda e Alemanha. Os pavimentos podem encontra-se em zonas planas ou inclinadas, mas também são usados em zonas montanhosas onde as superfícies são propensas ao escorregamento do tráfego ligeiro devido a acentuadas inclinações e por vezes à presença de gelo. [ADAH; 2004] (a) (b) Figura 2.6 - Aplicações sujeitas a tráfego rodoviário: (a) Estação de serviço, (b) vias rurais [ORIGINAL BLOCOS; 2008] 2.2.6 Pavimentos sujeitos a tráfego rodoviário pesado A propriedade que têm os PBB de resistir a cargas concentradas, ou cargas de rodas muito pesadas de veículos especiais tais como gruas, monta-cargas, camiões com reboque ou tractores, faz com que estes se tornem numa opção muito interessante em pavimentos destinados a cargas pesadas, dentro dos quais se pode contemplar os seguintes: Pavimentos industriais Excepto em zonas de restauração e zonas com muito pó estes pavimentos têm tido óptimos resultados, pois nestas zonas existem grandes deformações locais, que podem ser reparadas muito rapidamente sem que afecte o funcionamento da área. Nas zonas de restauração e zonas com muito pó, as juntas seladas com areia não são muito aceites devido a questões sanitárias e higiénicas. A solução será selar as juntas com silicones especiais, se bem que neste caso há que ter em conta o factor custo – qualidade. 8 Pavimentos portuários Normalmente as zonas portuárias estão situadas sobre solos de baixa capacidade, onde os assentamentos a longo prazo são importantes e as cargas por roda muito elevadas. Esta combinação de factores faz com que PBB sejam recomendados, pois oferecem vantagens operativas e económicas se compararmos com outro tipo de pavimentos. Os custos iniciais são superiores se compararmos com pavimentos rígidos, mas os custos de manutenção e reparação são muito menores, compensando a médio e longo prazo. Os portos de Leixões e Santa Apolónia (Figura 2.7) em Lisboa são exemplos de utilização destes pavimentos. Figura 2.7 - Terminal de Santa Apolónia, Lisboa [Luís; 1992] Pavimentos aeroportuários O uso de PBB em aeroportos limita-se a zonas de tráfego ligeiro e pouco a pouco têm sido introduzidos no resto das zonas. Temos como exemplo os aeroportos de Luton (Londres - Inglaterra), o de Genebra (Suíça) e o de Hong Kong (China Figura 2.8). Os PBB são adequados para esse fim devido à sua alta resistência a cargas muito pesadas por roda, a sua resistência à torção, alta resistência a altas temperaturas dos motores, resistência ao derrame de combustíveis e alta resistência ao deslizamento. Figura 2.8 - Aeroporto Internacional de Hong Kong [INTERPAVE; 2008] 9 2.2.7 Pavimentos em zonas especiais Aplicações hidráulicas Segundo ADAH, (2004) na Europa, Austrália e Estados Unidos da América estes pavimentos são utilizados para estruturas hidráulicas tais como diques, muros de contenção, revestimento de canais, entre outras aplicações. Zonas mineiras Graças à sua natureza modular os PBB têm-se mostrado de grande utilidade em zonas mineiras. O facto de se poderem colocar em espaços confinados e de poderem abrir-se ao tráfego imediatamente após a sua conclusão constitui as vantagens destes pavimentos em relação aos outros. Zonas agrícolas No norte da Alemanha e Holanda os PBB estão sendo utilizados, sobretudo nos acessos à maquinaria e em indústrias agrícolas, tais como centrais leiteiras, etc. [ADAH; 2004]. Estes pavimentos têm a vantagem nestas zonas, pois têm maior resistência ao desgaste, visto que as maquinarias estão em constante limpeza. 2.3 Funções e materiais a aplicar nas várias camadas Em seguida, aborda-se os materiais a utilizar nas várias camadas de um PBB e as respectivas funções. Na Figura 2.9 apresenta-se um corte esquemático da estrutura tipo de um PBB, com a designação dada às várias camadas do pavimento e da fundação. De um modo geral, o pavimento é constituído por camadas de superfície (camada de blocos de betão e o colchão de areia), camadas de fundação (camada de base e camada de sub-base) e pelo solo da fundação. 10 Figura 2.9 - Estrutura tipo de um PBB 2.3.1 Fundação A fundação da área a ser pavimentada deverá ser inspeccionada para saber se esta será constituída pelo solo natural do local ou proveniente de empréstimo. Deve ser um solo não expansivo. A preparação do solo da fundação deverá estender-se para além das contenções laterais, para assegurar que a fundação seja mantida limpa, seca e bem drenada. A fundação será considerada adequada para “receber” a base ou a sub-base se a sua resistência, expressa pelo índice CBR, for maior que 2% e a expansibilidade relativa menor ou igual a 2% [ABCP; 2001] 2.3.2 Camadas de sub-base e base A camada de base tem como função receber as tensões distribuídas pela camada de desgaste. Deverá resistir e distribuir os esforços à camada de sub-base se esta existir ou então para a fundação, evitando assim as deformações permanentes e a consequente deterioração do pavimento. [MÜLLER; 2005] A existência ou não da camada de sub-base estará dependente do dimensionamento do pavimento. Os materiais a aplicar nestas camadas deverão ser preferencialmente tout-venant ou solo-cimento. Devem ser tomadas precauções de rotina para evitar a segregação desses materiais durante o transporte, descarga e espalhamento. O fundamental é que estejam 11 limpos, livres de lodo, pó e sujeira e que estejam bem graduados, ou seja que tenham grãos de diversos tamanhos (até um máximo de 50mm), para que ao serem compactados se obtenha um bom arranjo entre eles. A falta de uniformidade pode levar a assentamentos irregulares. O próximo quadro apresenta uma granulometria recomendada para a brita. [ABCP; 2001] Quadro 2.1 - Recomendações da granulometria dos agregados a usar nas camadas de base e sub-base [ABCP; 2001] Granulometria a ser utilizada nas camadas de base e sub-base % retida Peneiro (mm) Base Sub-base 50 0 - 25 10 a 25 0 9,5 25 a 60 50 a 85 4,8 40 a 70 35 a 65 2,0 55 a 80 25 a 50 0,4 70 a 85 15 a 30 0,075 85 a 95 85 a 95 A camada de base deverá ainda ter as seguintes características: [ABCP; 2001] CBR ≥ 8% Expansibilidade ≤ 0,5% Limite de liquidez ≤ 25% Índice de plasticidade ≤ 6% A compactação representa um dos procedimentos cruciais da construção para qualquer tipo de pavimento flexível. No caso de PBB a deficiente compactação é uma das causas para o insucesso do pavimento. Por essa razão devem ser tomadas precauções para que sejam atendidos os requisitos mínimos. A compactação tem como objectivo acomodar os diferentes tamanhos dos grãos para que a camada se torne o mais densa e resistente possível. [ABCP; 2001] Outro aspecto a ter em conta deverá ser a superfície da camada de base que deverá ser o mais fechada possível, ou seja com o mínimo de vazios, para não haver perda de areia do colchão do pavimento. A camada de base também poderá ser constituída por betão pobre ou por betão de alta qualidade, caso o pavimento esteja sujeito a cargas muito elevadas. 12 2.3.3 Colchão de areia do pavimento A almofada ou colchão será constituída por areia, com espessuras que variam de 3 a 5 cm. O principal objectivo do colchão de areia do pavimento é a de servir de apoio ao assentamento dos BB. A espessura e a qualidade da areia utilizada influi directamente no desempenho final do pavimento. O comportamento estrutural dos BB está directamente ligado à espessura da camada, à granulometria e ao índice de forma dos grãos. [MÜLLER; 2005] Uma característica que influencia negativamente o desempenho da almofada é a presença de silte e argila na areia. Trabalhos já realizados anteriormente confirmam que a presença de partículas com diâmetros abaixo de 75 µm provoca perdas de reajustamento e desnível entre os blocos, além de conduzir a um endurecimento exagerado nesta camada. Para se evitar a presença destes materiais deve-se lavar a areia com água e evitar o contacto desta com o solo [MÜLLER; 2005]. Segundo ACC, (1983) a areia não deve conter mais que 3% em peso de silte e argila, e ser isenta de sais destrutivos e/ou contaminantes. No Quadro 2.2 apresenta-se a composição granulométrica da areia a ser utilizada no colchão em alguns países. Nos Estados Unidos e no Canadá as especificações não fazem referência à forma dos grãos da areia utilizada, apesar de ser recomendada a utilização de grãos angulares ou pontiagudos. [CRUZ; 2003] Quadro 2.2 – Recomendações para a granulometria da areia a utilizar no colchão de areia [CRUZ; 2003] Granulometria da areia a ser utilizada no colchão Peneiro Austrália Inglaterra (mm) África do Sul E.U.A. Canadá % que passa 9,52 100 100 100 100 100 4,75 95 a 100 90 a 100 90 a 100 95 a 100 95 a 100 2,36 80 a 100 75 a 100 75 a 100 85 a 100 80 a 100 1,18 50 a 85 55 a 90 55 a 90 50 a 85 50 a 90 0,60 25 a 60 35 a 59 35 a 70 25 a 60 25 a 65 0,30 10 a 30 8 a 30 8 a 35 10 a 30 10 a 35 0,150 5 a 15 0 a 10 1 a 10 2 a 10 2 a 10 0,075 0 0a3 0a3 0 0 13 2.3.4 Camada de desgaste A camada de revestimento constituída pelos BB estabelece a condição de conforto ao utente, durabilidade do pavimento e contribui decisivamente para a função estrutural do pavimento (distribuição de tensões) por intermédio das suas características de travamento, além de suportar as tensões de corte superficiais de contacto das rodas dos veículos. A capacidade de distribuição dos esforços da camada de desgaste depende essencialmente da espessura, formato e arranjo dos BB. Os BB podem ter espessuras que variam desde os 5,5 cm aos 10 cm, podendo mesmo chegar aos 12 cm. Estes deverão ter as seguintes características [CETUR; 1998]: Coeficiente de absorção de água, máximo de 5%. Resistência à rotura (compressão diametral), mínimo de 40 kg/cm2. Resistência à abrasão, comprimento médio de impressão, máximo de 22 mm. A resistência à compressão dos blocos de betão deve ser definida em projecto, 2 mas o seu valor não deve ser inferior a 500 kg/cm . No Quadro 2.3 são apresentados as características físicas e figuras de grande parte dos BB mais comuns existentes em Portugal, de acordo com a norma EN 1338:2004. De referir que existem BB nas mais variadas cores. [ARTEBEL; 2007; PRESDOURO; 2007; SOPLACAS; 2007] 14 Quadro 2.3 - Características físicas dos blocos para pavimentos Nome dos Blocos Hexagonais "UNICOLOC" “Uni” Dimensões (mm) Figura L L1 L2 B Massa e volúmica (kg/m2) - Unidades por m2 195 97 170 55 120 38 - - 225 100 225 26 - - 60 135 11 2, 5 22 112, 5 5 Rectan- 10 gulares 0 - - - - - - - - 200 39 80 175 100 225 55 130 80 175 50 “Delta” - 200 100 200 60 135 38 “Uni-Decor” - 140 90 230 60 130 36 - - 165 60 135 - - 80 175 Perfil "I" 20 0 e – espessura 15 35 2.4 Controlo de qualidade 2.4.1 Aspectos gerais O sistema de garantia da qualidade apoia-se, fundamentalmente, em normas e recomendações técnicas, impostas às soluções projectadas e aos materiais utilizáveis, num plano de trabalhos rigoroso e no respectivo controlo de execução, e num sistema de controlo da qualidade, constituído, fundamentalmente, por estudos prévios de formulação e ensaios em laboratório e em obra. O sistema do controlo de qualidade visa, fundamentalmente, assegurar o cumprimento das prescrições contratuais e particularmente, o respeito das especificações técnicas do projecto, de modo a garantir que os parâmetros funcionais de segurança e conforto do futuro pavimento sejam garantidas. Visa pois a garantia do respeito das secções projectadas e consequentemente, das espessuras e das regularidades longitudinal e transversal, e que dependem em última análise, da homogeneidade da colocação da camada superficial em obra. Esta por sua vez resulta directamente dos equipamentos utilizados e da fiabilidade destes, na uniformidade e compactação das camadas inferiores e muito particularmente da experiência do pessoal na utilização dos equipamentos e colocação manual dos BB, se for o caso. O esquema de controlo utilizado, que é devidamente ajustado, função da maior qualificação e fiabilidade com que a produção e colocação em obra decorre, abrangendo, pois os objectivos descritos, bem como: Recolha de amostras para controlo das granulometrias dos agregados, módulo de finura e teor de água das areias, etc. Requisitos e métodos de ensaio dos blocos prefabricados de betão para PBB de acordo com a norma Europeia EN1338:2003. 2.4.2 Norma EN 1338:2003 Entende-se por norma como sendo uma especificação aprovada por um organismo de normalização. As normas são voluntárias, excepto se são impostas pela legislação. 16 Em 1993 foi elaborado pelo CEN o projecto de uma norma dedicada exclusivamente para BB, identificada como ENV 1338 – Concrete Paving Blocks – Requirements and Test Methods, a serem utilizados em áreas como: calçadas, áreas urbanas das cidades, ciclovias, estacionamentos, estradas principais e secundárias, áreas industriais como portos e terminais de carga, aeroportos, paragens de autocarros e postos de gasolina. Em 2003 a norma deixou de uma ENV 1338 (pré-norma), passando a ser norma EN 1338:2003 A norma EN 1338:2003 diferencia-se das outras normas internacionais principalmente por incorporar um sistema no processo de fabricação dos BB que possibilita ao produtor garantir um sistema adequado de qualidade dos produtos fabricados e remetidos para os respectivos clientes, de acordo com as normas específicas dos países produtores e do CEN. A norma consta de três partes interligadas, sendo a primeira parte destinada às definições gerais e requisitos de materiais e produtos fabricados (Capítulos 3, 4 e 5). A segunda parte trata da avaliação da conformidade dos produtos produzidos e critérios de atendimento aos requisitos especificados (Capítulos 6 e 7). Consta ainda na norma o capítulo 8 e doze anexos que descrevem a metodologia dos ensaios que são requeridos no capítulo 5. Alguns destes ensaios já foram relatados anteriormente, aquando da função e materiais aplicados na camada de desgaste. De seguida são apresentados os títulos dos 9 capítulos, bem como dos seus respectivos 12 anexos [CEN; 2003]: 1. Campo de aplicação 2. Referências normativas 3. Termos e definições 4. Requisitos dos materiais 5. Requisitos dos produtos 6. Avaliação dos critérios de conformidade 7. Marcação, rotulagem e embalagem 8. Relatório dos ensaios Os 12 anexos são: Anexo A (informativo) Sistemas de inspecção; Anexo B (normativo) Procedimento dos testes para aceitação da remessa no acto de entrega; Anexo C (normativo) Medição das dimensões de um bloco simples; 17 Anexo D (normativo) Determinação da resistência a ciclos de gelo/degelo com sal de descongelação; Anexo E (normativo) Determinação da absorção total de água; Anexo F (normativo) Medição da força Anexo G (normativo) Medição da resistência ao desgaste por abrasão; Anexo H (normativo) Medição da resistência à abrasão, de acordo com o teste Böhme; Anexo I (normativo) Medição do valor da resistência ao escorregamento em superfícies não polidas (USRV); Anexo J (normativo) Verificação dos aspectos visuais; Anexo K (informativo) Exemplo da aplicação do método de controlo da conformidade por variáveis da tensão de rotura; Anexo ZA (informativo) Secções desta Norma Europeia relativas às disposições da Directiva EU “Produtos de Construção” Seguidamente são apresentados alguns dos ensaios que se podem realizar nos BB segundo a norma europeia EN 1338:2003: O ensaio de resistência adoptado é o de tracção por compressão diametral, em que o valor médio da tensão de rotura terá de ser superior a 3,6MPa. Este ensaio tem uma vantagem quando comparado com o ensaio à compressão, pois não é necessário utilizar pratos superiormente e inferiormente, mas apenas um espaçador de madeira. A Figura 2.10 mostra um esquema do ensaio, e a Figura 2.11 uma foto do dispositivo para a realização do ensaio. Figura 2.10 - Esquema do ensaio de tracção por compressão diametral [CEN; 2003] 18 Figura 2.11 - Ensaio de tracção por compressão - método da norma EN 1338 O ensaio de resistência ao desgaste por abrasão consiste na abrasão da face superior de uma placa com um material abrasivo, em condições normalizadas. O material abrasivo utilizado neste ensaio é o corindo (alumina branca fundida). Este material nunca poderá ser usado mais do que três vezes. A máquina de desgaste por abrasão está representada na Figura 2.12. Figura 2.12 - Princípio da máquina de desgaste por abrasão [CEN; 2003] A medição do valor da resistência ao atrito em superfícies não polidas (USRV) num provete é efectuada através da utilização do pêndulo de atrito, para se avaliarem as propriedades de atrito da superfície do provete. O equipamento para esta medição mostra-se na Figura 2.13. 19 Figura 2.13 - Equipamento pêndulo de atrito [CEN; 2003] Os ensaios especificados na EN 1338:2003 que determinam a conformidade dos BB estão listados no Quadro 2.4. Quadro 2.4 - Requisitos de projecto da norma EN 1338:2003 [CEN; 2003] Requisito Limites aceitáveis 2 Média de 3 resultados < 1,0 kg/m e Resistência a ciclos de gelo/degelo nenhum resultado individual > 1,5 kg/m Absorção total de água < 6% Nenhum resultado individual < 3,6MPa e a Resistência à tracção por compressão carga de ruptura < 250 N/mm ≤ 23 – Ensaio com disco metálico Resistência ao desgaste por abrasão 3 > 45 Nenhum bloco deve apresentar fissuras, Aspectos visuais – Textura e cor Dimensional (mm) 2 ≤ 20 cm / 50 cm – Disco de Böhme Resistência ao escorregamento Tolerância 2 quebras ou laminação Altura da peça Comprimento Largura Altura < 100 mm ±2 ±2 ±3 > 100 mm ±3 ±3 ±4 2.4.3 Marcação CE Para os BB serem incorporados ou aplicados de forma permanente em obra terão de possuir marcação CE, ou seja têm de ter uma garantia escrita, dada por uma terceira parte 20 acreditada, de que o produto está em conformidade com a legislação. Assim, a marcação CE apenas indica que o produto é avaliado face a um conjunto mínimo de requisitos, definidos, para o caso dos BB, no anexo informativo ZA (parte harmonizada) da norma EN 1338:2003. A aposição da marcação CE é da responsabilidade do fabricante ou dos seus agentes ou representantes autorizados estabelecidos no espaço económico europeu, e deve ser aposta na sequência da aplicação dos mecanismos descritos na directiva ou directivas aplicáveis, complementados por decisões comunitárias. A marcação CE deve ser colocada de forma visível, facilmente legível e indelével, no próprio produto, num rótulo nele fixado, na respectiva embalagem ou nos documentos comerciais de acompanhamento. Resumindo, os BB para possuírem marcação CE terão de ter uma declaração do fabricante e um certificado de conformidade CE redigido na língua do estado-membro de destino do produto. [JOUE; 2008] 2.5 Aspectos gerais de construção Neste sub-capítulo descreve-se os passos a seguir na construção de um PBB. De realçar que os aspectos construtivos de preparação da fundação e compactação das camadas de base e sub-base são comuns a qualquer tipo de pavimento flexível, enquanto que as restantes camadas são particulares do pavimento em questão. Para a escrita deste sub-capítulo consultou-se o manual espanhol de BB [ADAH; 2004]. 2.5.1 Preparação do solo de fundação A preparação do solo de fundação consiste na escavação ou aterro para se obter a cota de projecto definida nos estudos preliminares. Convém que as restantes camadas sejam de espessura constante, pelo que a fundação já deverá alcançar o perfil do traçado do pavimento (inclinações transversais). Em seguida, deve-se compactar adequadamente a fundação por forma a garantir a capacidade de suporte exigida no projecto. O comportamento do terreno natural deve ser o mais uniforme possível, pelo que convém retirar as zonas brandas e substituí-las por terreno adequado. 21 Se o terreno de fundação original não possuir as características de suporte necessárias, deverá proceder-se ao tratamento do mesmo com cimento e/ou cal ou até substitui-lo por solos mais adequados. A superfície acabada não deverá variar em mais de 15-20 mm, o que se verifica com uma régua de 3 metros aplicada tanto paralela, como normalmente ao eixo da via. Ainda menos poderá haver zonas capazes de reter a água. 2.5.2 Espalhamento e compactação da camada de sub-base Uma vez verificada a fundação, procede-se ao espalhamento da sub-base em camadas de espessura adequada, para que, com os meios disponíveis, se obtenha em toda a espessura o grau de compactação exigido. Continuar-se-á a compactação até alcançar um grau de compactação correspondente a 95% do ensaio Proctor modificado. A superfície acabada não deverá baixar do valor teórico em nenhum ponto, nem diferir dele em mais de 1/5 da espessura prevista no caderno de encargos do IEP – Instituto de Estradas de Portugal para a sub-base granular. A superfície acabada não deverá variar mais de 10 mm, quando verificada com uma régua de 3 metros aplicada tanto paralela, como normalmente ao eixo da via. 2.5.3 Espalhamento e compactação da camada de base Deve-se distinguir entre as bases granulares ABGE ou as bases em betão pobre. No caso de ser ABGE, o espalhamento realiza-se de forma análoga à da sub-base, mas com grau de compactação maior, que deve alcançar 98% do ensaio Proctor modificado, no caso de tráfego ligeiro, e os 100%, para o tráfego pesado e médio. As tolerâncias na superfície acabada também coincidem com as expostas para a sub-base granular. Se a base for em betão pobre, a colocação em obra é análoga à do betão vibrado em pavimentos rígidos. A cura realiza-se preferencialmente com produtos filmógenos que evitam a perda de água no primeiro período de endurecimento do betão. 22 As únicas juntas a realizar serão juntas de trabalho, tanto longitudinais como transversais. Estas últimas, no caso de redes viárias, dispõem-se perpendiculares ao eixo. Não se selará nenhuma junta. A regularidade superficial de cada lote de betão pobre terá de ser controlada nas 24 horas seguintes à sua execução. A superfície acabada não deverá baixar do valor teórico em nenhum ponto, nem ficar abaixo do mesmo mais de 30 mm. Contudo, não deverá variar mais de 10 mm, quando verificada com uma régua de 3 metros aplicada tanto paralela, como normalmente ao eixo da estrada. 2.5.4 Execução dos bordos de confinamento ou remates de bordadura Os pavimentos de blocos requerem elementos que os confinem para evitar deslocamentos das peças, abertura das juntas e perda de travamento entre blocos. Estes elementos devem colocar-se antes dos blocos (Figura 2.14); se se optar por colocar esses elementos depois, devem limitar-se as cargas sobre o pavimento numa distância de aproximadamente 1 metro, a contar do limite não confinado. Neste caso, antes de construir o lancil, verificar-se-á a correcta posição dos blocos, procedendo-se à reconstrução dos mesmos em caso de necessidade. O lancil deve apoiar-se, no mínimo, 15 cm abaixo do nível inferior dos blocos, para poder garantir a fixação desejada. [ADAH; 2004] Figura 2.14 - Disposição dos bordos de confinamento [ADAH; 2004] 23 2.5.5 Espalhamento e nivelamento da camada de areia Constitui o elemento fundamental que vai incidir sobre o comportamento do pavimento. Deve depositar-se cuidadosamente, com o objectivo de se conseguir uma camada uniforme no que respeita a comportamento e, como consequência, em espessura, já que não se compacta senão após a colocação dos blocos. Para isso, pode utilizar-se uma régua mestra de nivelamento com guias longitudinais (Figura 2.15 (a)), ou então com recurso a meios mecânicos (Figura 2.15 (b)). Não se pode pisar a areia já nivelada, pois a colocação dos blocos realiza-se com a camada concluída. Também não se deve encher de areia intervalos muito grandes de cada vez, para não se desperdiçar tanto material e planeia-se melhor o trabalho com intervalos de 3 ou 4 metros. (a) (b) Figura 2.15 - Nivelamento da camada de areia: (a) manualmente [CRUZ; 2003], (b) com recurso a meios mecânicos [INTERPAVE; 2008] A espessura final desta camada, uma vez colocados os blocos e vibrado o pavimento, deve estar compreendida entre 3 e 5 cm (Figura 2.16). 24 Figura 2.16 - Deformação do pavimento segundo a espessura da camada de areia [ADAH; 2004] 2.5.6 Colocação dos Blocos Embora se tenham desenvolvido meios mecânicos para este fim, actualmente a colocação manual continua sendo o processo mais usual nesta actividade. O seu rendimento 2 2 oscila entre 60 m /dia/homem e 110 m /dia/homem conforme o planeamento da obra (Figura 2.17 (a)). Utilizando meios mecânicos do tipo manual, o rendimento sobe até 140 2 2 m /dia/homem, chegando até 200 m /dia/homem no caso de maquinaria mais completa (Figura 2.17 (b)). Deve ter-se em conta que, dependendo do desenho escolhido em planta para a combinação dos blocos, pode não ser viável o uso de um processo mecânico. Este facto, a juntar ao custo de alguns equipamentos, explica porque a colocação manual continua a utilizarse em mais de 90% dos casos. 25 (a) (b) Figura 2.17 - Colocação dos BB manualmente [CRUZ; 2003] e com meios mecânicos [INTERPAVE; 2008] Os blocos colocam-se sem nenhum tipo de ligante. As juntas devem preencher-se com areia, tal como se explica posteriormente. A sua espessura ideal oscila entre 2 e 3mm. Todos os blocos devem ficar nivelados, garantindo-se que não existam diferenças de mais de 1 centímetro, quando se verifica a superfície com uma régua de 3 metros, aplicada tanto paralela, como normalmente ao eixo da via. No caso em que se apresentem diferenças maiores, é necessário corrigir a colocação da areia. A diferença de nível entre dois blocos adjacentes não deve diferir em mais de 2 mm. O acerto entre os blocos e os bordos de confinamento faz-se com partes de blocos bem cortadas (Figura 2.18). Se a distância entre o bloco e a linha de confinamento é menor que 4 cm, não se usam blocos, mas preenche-se o espaço com uma mistura feita com 3 ou 4 partes de areia e uma de cimento. Figura 2.18 - Acerto dos BB junto aos bordos de confinamento [INTERPAVE; 2008] No caso de existirem, no interior da área a pavimentar, caixas de visita, sumidouros ou valetas em BB (Figura 2.19 (a)) ou em betão de cimento (Figura 2.19 (b)), os acertos dos blocos fazem-se da mesma forma que com os lancis ou bordos de confinamento. 26 (a) (b) Figura 2.19 - Construção de valetas: (a) em BB, (b) em betão [INTERPAVE; 2008] 2.5.7 Compactação do pavimento Uma vez terminada a colocação dos blocos numa zona que deva ser utilizada (p. ex. cargas de obra), ou quando se vai suspender o trabalho, é necessário efectuar a compactação com compactação da superfície construída, seja com um vibrador de placa ou mediante o uso de um pilão, no caso de não se dispor daquele aparelho. Este trabalho faz-se até à distância de 1 metro relativamente ao bordo em que se suspenderá o trabalho, ou em relação ao qual não se tenha construído o bordo de confinamento, para evitar que os blocos se desloquem da sua posição. Quando se dispõe de vibrador de placa (Figura 2.20), basta passar com a máquina duas ou três vezes sobre a zona construída. Quando a compactação se faz com pilões, martela-se cada bloco até que ele penetre aproximadamente 1 cm na camada de areia. Figura 2.20 - Compactação do pavimento [INTERPAVE; 2008; ADAH; 2004] 27 2.5.8 Preenchimento das juntas com areia Este trabalho é particularmente importante para garantir um bom comportamento do PBB. Realiza-se espalhando sobre a superfície do pavimento uma areia fina e seca no momento da colocação. Posteriormente, com uma escova dura ou com uma vassoura manual (Figura 2.21 (a)) ou mecânica (Figura 2.21 (b)), varre-se para que a areia entre nos espaços deixados entre os blocos, ao mesmo tempo que se faz uma compactação final que assegure o melhor enchimento das juntas. A areia que sobra sobre o pavimento deve retirar-se, varrendo, e não por lavagem com água. Não se deve terminar o dia sem completar a compactação e preenchimento do pavimento executado, pois a chuva pode danificá-lo. (a) (b) Figura 2.21 - Preenchimento das juntas: (a) manualmente [ADAH; 2004], (b) preenchimento e compactação através de meios mecânicos [INTERPAVE; 2008] Uma vez terminado o trabalho de colocação da areia de preenchimento, e se existem os lancis ou bordos de confinamento necessários, pode permitir-se a passagem de veículos imediatamente. 2.5.9 Travamentos em PBB Pode definir-se travamento como sendo a característica que um PBB tem de resistir a esforços de deslocamentos individuais das peças, sendo estes verticais, horizontais, de rotação e de giração em torno dos blocos vizinhos. [HALLAC; 1998] Para alcançar o travamento adequado indispensável ao seu desempenho, os pavimentos de blocos pré-fabricados de betão necessitam de algum tipo de contenção lateral. 28 Um bom travamento confere aos blocos de betão a capacidade de transmitir as cargas superficiais aplicadas em pequenas áreas, para áreas mais extensas nas camadas de base, mantendo as tensões no leito do pavimento dentro dos limites admissíveis. [HALLAC; 1998] A propriedade de distribuição das cargas vai melhorando com o tempo de utilização do pavimento. Chega-se progressivamente a um estado de travamento total, a camada de rolamento vai adquirindo maior rigidez, e os blocos pré-fabricados de betão deixam de constituir uma mera camada de rolamento e transformam-se numa camada estrutural. Segundo BURAK, (2002) os PBB devem ter quatro tipos de travamento: horizontal, vertical, rotacional e de giração, que actuem simultaneamente ao longo de sua vida de serviço sendo estes tipos de travamento descritos a seguir. Figura 2.22 - Tipos de Travamento: (a) Vertical, (b) Rotacional, (c) Horizontal [BURAK; 2002] Travamento vertical á a capacidade que os blocos adquirem de não se moverem verticalmente em relação aos blocos vizinhos. É conseguido através da resistência ao corte vertical, absorvido pelas juntas entre os blocos e a capacidade estrutural das camadas inferiores do pavimento. Os blocos que melhor impedem este tipo de movimento são os de encaixes reentrantes, pois quando é aplicado um carregamento vertical o contacto machofêmea distribui os esforços para os blocos vizinhos. A Figura 2.22 (a) representa um esquema do travamento vertical. Travamento rotacional é a capacidade que os blocos adquirem de não girar em torno de seu próprio eixo vertical. Pode ser melhorado aumentando a espessura dos blocos e o consequente confinamento oferecido pelos blocos vizinhos. Esse movimento pode ser provocado pela frequência e o tipo do tráfego, principalmente em áreas de travagem, 29 aceleração e em curvas onde existe um aumento da tensão radial provocada pelo arrasto dos pneus. A Figura 2.22 (b) representa esquematicamente o travamento rotacional. Travamento horizontal é a capacidade que os blocos adquirem de não se deslocarem horizontalmente em relação aos blocos vizinhos. Está directamente relacionado com o formato e arranjo da camada superficial sobre a camada de areia. Contribui na distribuição dos esforços de corte longitudinais principalmente em áreas de aceleração e travagem. Pode-se dizer que as juntas são as principais responsáveis pelo travamento horizontal, quando convenientemente preenchidas com material adequado. A Figura 2.22 (c) representa um esquema do travamento horizontal [BURAK; 2002]. Travamento de giração é a capacidade que os blocos adquirem de não girarem em torno de seu próprio eixo vertical, isto é, eventualmente, uma ou mais peças poderão girar, ainda que mantendo a superfície do pavimento plana, conforme mostra a Figura 2.23 [HALLAC; 1998]. Figura 2.23 - Movimento de giração dos blocos de betão da camada superficial Este fenómeno é de rara ocorrência e pode ser evitado com um bom confinamento lateral da camada e dos blocos pré-fabricados, construindo-se as juntas entre os blocos com larguras adequadas (2,5 - 3mm) e mantendo-as preenchidas com areia. [HALLAC; 1998] 2.6 Solicitações As solicitações actuantes em PBB estarão dependentes do tipo de tráfego ou cargas solicitadas. Segundo NEVES, (2001) as principais características das solicitações aplicadas ao pavimento provocadas pela passagem de veículos são: A intensidade da carga que actua em cada roda do veículo; 30 As condições de aplicação dessa carga, normalmente caracterizadas pela geometria e tensão relativas ao contacto de pneu com a superfície do pavimento. O eixo de um veículo automóvel é o conjunto de rodas cujos centros estão contidos no mesmo plano vertical e transversal ao veículo. Consoante a proximidade dos eixos, é corrente distinguir eixo simples, caso de um eixo isolado, por oposição a eixos múltiplos, quando se têm vários eixos relativamente próximos. No caso dos veículos pesados, é frequente ter-se um eixo simples dianteiro e dois ou mais eixos traseiros. Em geral, os eixos têm uma única roda em cada extremidade que se designa por roda simples. No caso dos veículos pesados, nos eixos traseiros sobretudo, é corrente cada extremidade possuir mais do que uma roda. As rodas são providas de aros pneumáticos designados por pneus, caracterizados pelas dimensões, rigidez e pressão de enchimento. À superfície periférica do pneu que se destina a contactar com o pavimento designa-se por piso e a sua impressão na superfície do pavimento designa-se por rasto. [NEVES; 2001] A maioria dos modelos de resposta dos pavimentos considera que a acção das rodas sobre os pavimentos é traduzida por cargas estáticas uniformemente distribuídas por áreas circulares, actuando num determinado local da superfície dos pavimentos. No entanto há outros modelos que consideram que as pressões transmitidas ao pavimento distribuem-se por áreas de geometria aproximadamente elíptica e, por outro lado, as cargas têm carácter móvel ao longo do pavimento. Acresce, ainda, que existe um efeito dinâmico das rodas nos veículos devido à irregularidade superficial dos pavimentos. [NEVES; 2001] Southgate e Mahbound [citado por NEVES; 2001] estudaram a variação em profundidade das extensões para diferentes cargas e tensões de contacto das rodas, considerando que os materiais têm comportamento elástico linear e que a superfície de contacto das rodas com o pavimento tem geometria circular. Na Figura 2.24 apresenta-se um esquema de distribuição de tensões em profundidade na estrutura de um PBB. 31 Figura 2.24 - Distribuição de tensões no interior de um PBB [HALLAC; 1998] 2.7 Degradações Na maior parte dos casos as degradações nos pavimentos não têm relação directa com a escolha do material, sendo geralmente consequência de uma inadequação do material ao uso, podendo este fenómeno ter origem, entre outros, em defeitos de projecto, drenagem mal concebida e colocado em obra deficientemente. Os pavimentos rodoviários, logo após a sua construção, começam a ser submetidos a acções diversas que, continuamente, contribuem para a sua degradação, ou seja, para a redução progressiva da sua qualidade inicial. Mesmo antes de “entrar em serviço”, as acções dos agentes atmosféricos provocam solicitações nos pavimentos, mais ou menos severas de acordo com a sua constituição e localização. [BRANCO; 2006] A família das deformações observáveis na superfície de um pavimento pode ser subdividida nos seguintes tipos: Abatimento (longitudinal, transversal). Ondulação. Deformações localizadas. Rodeiras; O abatimento é uma deformação com uma extensão significativa, podendo apresentarse ao longo do pavimento ou na direcção transversal, resultando uma redução da capacidade de suporte dependente da ocorrência de situações patológicas ao nível das camadas inferiores, em particular no solo de fundação. 32 A ondulação é uma deformação transversal que se repete com uma determinada frequência ao longo do pavimento, derivando de uma deformação na fundação, originando-se uma ondulação suave no pavimento. Uma deformação de outro tipo é a que se verifica numa pequena área do pavimento denominada de deformação localizada. As rodeiras são deformações longitudinais, desenvolvendo-se na banda de passagem dos pneus dos veículos (rodeiras). [BRANCO; 2006] Nos BB, as degradações mais evidentes são as fendas, deformações, abrasões, desprendimentos e movimentos. [FERREIRA; 2007] 2.8 Considerações finais Com o objectivo de ficarmos a conhecer melhor os PBB foi apresentado ao longo deste capítulo a sua grande versatilidade de aplicação, os materiais a aplicar em cada camada do pavimento, bem como as suas funções. Abordou-se ainda os aspectos de concepção, bem como as solicitações a que estão sujeitos. Ficamos também a conhecer controlo de qualidade dos blocos, mais precisamente a norma EN 1338:2003 e a marcação CE. As degradações presentes nos pavimentos também foram abordadas no presente capítulo. Desta forma, no capítulo 5, aquando da realização do catálogo, ter-se-á em consideração a contemplação dos aspectos considerados nos PBB. 33 3. Métodos de dimensionamento para PBB 3.1 Generalidades SHACKEL, (1990) e HALLAC, (1998) descrevem que os métodos de dimensionamento dos PBB podem ser divididos em quatro categorias: Baseados em experiência de campo ou experiências locais. Baseados em dados empíricos. Baseados em modificações dos métodos existentes para pavimentos flexíveis, através da modelação da equivalência dos materiais. Baseados em modelos computacionais. O dimensionamento dos PBB tem-se desenvolvido num contexto de vários tipos de aplicações nos últimos 25 anos, desde a utilização exclusiva em vias de pedestres até a aplicações especiais em áreas com grandes concentrações de cargas estáticas, tal como áreas portuárias e aeroportuárias. HALLAC, (1998) refere que a grande dificuldade de dimensionamento dos PBB é a determinação do valor do módulo de elasticidade da camada de desgaste composta pelos BB + colchão de areia. Os valores obtidos nos estudos realizados em simuladores de tráfego ou medições in situ apresentam uma grande dispersão. Além disto, a simulação é complexa para a sua determinação em conjunto com vários tipos de base (estabilizadas com cimento, estabilizadas com material betuminoso, materiais granulares e areia), e deve-se, portanto, estabelecer procedimentos para obtenção dos resultados através de ensaios de laboratório, retroanálise a partir de medições de deflexões fornecidas por FWD em zonas experimentais ou através da observação e acompanhamento de pavimentos em serviço. 3.2 Inglaterra e Estados Unidos De acordo com KNAPTON, (1992) na Inglaterra há mais de 30 anos que existem métodos de dimensionamento para PBB adaptados da metodologia semi-empírica utilizada em pavimentos flexíveis. A metodologia de dimensionamento está descrita em normas internacionais. A associação de portos da Inglaterra, BPA (British Ports Association), adaptou a 34 metodologia para utilização em pavimentos portuários. Esta metodologia desenvolvida pela BPA foi implementada também nos manuais de dimensionamento da AASHTO. Nestas metodologias utiliza-se o conceito de camada equivalente entre o revestimento de material betuminoso para os pavimentos flexíveis e a camada de BB mais colchão de areia para os PBB. 3.2.1 Método para Pavimentos Industriais e Áreas Portuárias O método apresentado pela ICPI, (2002) para PBB de portos, foi preparado por KNAPTON, (1992). É um método adequado para todos os tipos de pavimentos de portos, sendo também possível utilizá-lo para projectos de estradas de tráfego pesado. O procedimento do projecto é baseado no princípio de que o PBB deve atender uma condição final de serventia que está associada a critérios de ruptura ligados à deformação vertical de compressão no topo da fundação ou à deformação de tracção na base considerada inicialmente no processo como camada de brita graduada tratada com cimento (AGEC). Admite-se que com uma deformação permanente de 50 a 75 mm atinge-se a ruptura. Os materiais são classificados pelo seu módulo de Elasticidade (E) e pelo coeficiente de Poisson (ν). A fadiga é tida em conta definindo-se uma tensão de tracção limite na base das camadas com ligantes hidráulicos e aplicando-se um factor de redução para considerar as repetições. A calibração do método foi feita com a sistemática de se dimensionar algumas estruturas considerando três valores de CBR do solo da fundação (1%, 2% e 5%), utilizando uma estrutura composta, com reforço da fundação de 60 cm no caso do CBR=1%, 35 cm para o CBR=2% e sem reforço no caso do CBR=5%. Em todos os casos foi considerada uma subbase de 15 cm. A base escolhida foi tratada com cimento, com uma certa resistência estabelecida, e variável com o tráfego, este expresso em repetições do eixo padrão de 82 kN, estando as espessuras compreendidas entre 10 e 22,5 cm, independentemente do CBR do solo da fundação. Calcula-se as tensões médias de tracção na base e admite-se que estas são as tensões admissíveis para quaisquer outras situações. As tensões são calculadas com recurso ao programa LUSAS, de MEF (elementos 35 axissimétricos), da Universidade de Newcastle. Admite-se uma estrutura de diâmetro de 7m e profundidade de 2,4m e com 63 BB rectangulares. Aplica-se uma carga simples no centro da malha circular com o raio calculado para que a pressão de contacto fosse sempre 0,8 MPa. Os materiais usados na modelação foram: BB de 8 cm sobre um colchão de areia de 3 cm modelados como sendo um só material de E= 4000 MPa e ν =0,15. Base de brita tratada com cimento (AGEC) com resistência à compressão de 10 MPa a 7 dias, sendo E= 35000 MPa e ν =0,15. Sub-base granular com E= 300MPa e ν =0,20. Reforço da fundação com E= 150 MPa e ν =0,25. Solo da fundação, sendo E= 10xCBR e ν =0,25. No manual deste método de dimensionamento é apresentado um gráfico de dimensionamento que correspondente a estes materiais e condições. Dimensiona-se para estes materiais e utiliza-se, se for de interesse, uma tabela de factor de equivalência entre materiais que permite substituir o material de base, AGEC de 10 MPa por outro. A equivalência é estabelecida através dos factores do Método da AASHTO, (1993) para pavimentos betuminosos, adoptando como referência a AGEC. Por exemplo, a espessura necessária de brita não tratada será de 2 a 4,67 vezes maior do que a obtida no gráfico de dimensionamento para a espessura da base com AGEC, de resistência à compressão de 10 MPa e flexão de 1,9 MPa. Se for usada base tratada com betão betuminoso, a espessura pode ser 2,8 vezes. Outra importante característica deste método é a introdução do conceito de uma unidade de carga que avalia a agressividade da cada carga real sobre o pavimento, denominada PAWL (Port Area Wheel Load). Esta unidade está correlacionada com um índice de classificação conforme o tipo de carregamento, denominado LCI (Load Classification Index). A agressividade é calculada segundo a seguinte expressão: D= 3.1 Onde: D - Agressividade da carga sobre o pavimento. W - Carga da roda (kN). P - Pressão pneumática (N/mm²). 12000 - Carga de 120 kN por roda. 36 0,8 - Pressão de contacto em N/mm². O Quadro 3.1 mostra a classificação LCI em função do tipo de equipamento. Quadro 3.1 - Índice de classificação de carga (LCI) para pavimentos industriais de grandes cargas [CRUZ; 2003] Número de PAWL’S LCI Exemplos de Empilhamentos Menor que 2 A Veículos de estrada 2a4 B Empilhador – sem contentor 4a8 C Vagão 8 a 16 D Empilhador – contentor com 20 ft 16 a 32 E Empilhador – contentor com 40 ft 32 a 62 F Empilhador Pesado 64 a 128 G Ponte Rolante – para cargas a granel 128 a 256 H Guindaste de pneus HALLAC, (1998) observa que, segundo esse método, aumentando o número de solicitações da carga em 10 vezes, a espessura do pavimento aumentará cerca de 20 mm, enquanto que ao multiplicar a carga solicitante por um factor igual a 2, o aumento de espessura do pavimento será na ordem dos 75 mm a 100 mm. 3.2.2 Método para áreas aeroportuárias - Placas de estacionamento Os critérios de dimensionamento para áreas aeroportuárias podem ser considerados os mesmos que estão estabelecidas para terminais de cargas industriais. Para determinação do tráfego, é considerado o número de descolagens anuais por tipo de aeronave, bem como as cargas críticas distribuídas por eixo das aeronaves. [CRUZ; 2003] A FAA (Federal Aviation Administration) estabelece que o dimensionamento utilizado em pavimentos flexíveis para as placas de estacionamento de aeronaves pode ser aplicado na sua íntegra para os PBB. CRUZ, (2003) refere que, pelo método de dimensionamento da FAA, geralmente a camada de desgaste tem uma espessura que pode variar entre 100 mm a 125 mm de betão betuminoso a quente (BD). Esta camada de BD poderá ser substituída por BB mais o colchão de areia de mesma espessura resultando num revestimento mais resistente que o flexível de BD especificado no manuais de dimensionamento da FAA. Este facto tem sido comprovado 37 nas pesquisas de PBB, onde é observado que neste tipo de pavimento a transmissão das cargas para a camada de base é menor do que a observada nos pavimentos betuminosos. Segundo COOK, (1996) os BB utilizados em áreas aeroportuárias deverão ter uma espessura de 80 mm e o colchão de areia deve ter 30 mm, conforme recomendado pela própria FAA. 3.3 Austrália O LOCKPAVE é um sistema de dimensionamento automático de PBB desenvolvido na Austrália. SHACKEL, (1990) autor do método, descreve que este é um método de dimensionamento mecanicista para PBB, tanto para estradas como para zonas industriais. As hipóteses deste método são: As rodeiras do pavimento são estimadas através da deformação de compressão vertical induzida pelo tráfego no topo da fundação. Caso a camada de base ou sub-base seja tratada com ligantes hidráulicos, a fadiga nestas camadas é tida em conta através da deformação horizontal de tracção admissível. Não se considera fadiga nos BB, mesmo admitindo que o conjunto dos blocos actue como se tivesse um módulo resiliente próximo ao que apresentaria uma mistura betuminosa. Os materiais são considerados elásticos lineares, sendo que para os BB considera-se uma camada elástica equivalente isotrópica, com módulos variando de 900 MPa a 7500 MPa, sendo o mais comum 3200 MPa. Estes valores foram estimados através de um FWD, por retroanálise, tendo, portanto, um grau de incerteza. Admite-se também que o módulo do conjunto BB+areia tem um valor inicial que é próximo do módulo resiliente da base granular e que vai crescendo gradualmente, aumentando a sua rigidez com a passagem do tráfego até 10000 ciclos aproximadamente, por acção da rotação progressiva e do travamento, conforme se mostra na Figura 3.1. 38 Figura 3.1 - Efeito progressivo da rigidez em função do carregamento inicial [SHACKEL; 1990] A escolha da espessura dos BB neste método é possível dentro de quatro valores: 6, 8, 10 e 12cm. Além disto, a escolha do tipo de base e sub-base é em função do tráfego e da fundação. O método permite estimar as características de elasticidade dos materiais por correlações, tendo também tendo em conta a drenagem. A carga de projecto é obtida de uma combinação de cargas, quer para estradas, quer para áreas industriais e aeroportos. A pressão de contacto é de 0,70 MPa. Para uma estrutura com a camada de base granular, considera-se apenas a deformação permanente como o estado limite de ruína, sendo considerada a seguinte equação para a deformação admissível no topo da fundação: 3.2 Sendo: - Deformação vertical no topo da fundação (MPa). N - número de repetições de carga. Caso a camada de base seja tratada com um ligante hidráulico, a expressão utilizada para calcular a fadiga é: 3.3 39 Onde: - Deformação vertical de tracção admissível na camada de AGEC (MPa). - Resistência característica à compressão do material da base (MPa). - Módulo de elasticidade da camada de base (GPa). N - número de repetições de carga. No modelo mecanicista empregam-se análises computacionais que permitem fazer uma previsão do desempenho da vida útil do pavimento, a partir da repetição das cargas do tráfego que produzem deformações na estrutura do pavimento que acumulativamente provocam a sua ruptura. SHACHEL, (2000) desenvolveu um programa que permite fazer o dimensionamento mecanicista de tal forma que se escolhe um sistema combinado de espessura e propriedades dos materiais utilizados nas camadas que garantirá que a deformação crítica gerada pelo carregamento analisado não será suficiente para promover fissuras e/ou deformações permanentes na estrutura do pavimento durante o período de dimensionamento. Este programa de dimensionamento mecanicista, especialmente desenvolvido para ser utilizado em PBB foi iniciado em 1985 e vem sendo utilizado em vários países, sendo uma importante contribuição no dimensionamento deste tipo de pavimento. [SHACKEL; 1990] Basicamente, o algoritmo da metodologia de dimensionamento consiste no seguinte: a) Escolher uma estrutura típica de um pavimento. Esta escolha geralmente é baseada em experiências anteriores, porém poderá também ser arbitrária. A estrutura do pavimento é definida como uma sucessão de camadas sobrepostas à fundação. b) Definir as propriedades dos materiais utilizados na estrutura do pavimento; c) Fornecer uma espessura inicial para cada camada. No processo, as espessuras iniciais geralmente correspondem às espessuras mínimas usualmente praticadas (geralmente para base e sub-base a espessura mínima adoptada é de 100 mm). d) O tráfego previsto para o período de dimensionamento é caracterizado pela sua magnitude, área de contacto e pressão dos pneus. O tempo de vida útil que se espera do pavimento é quantificado por meio da capacidade estrutural do pavimento em suportar o número de repetições da aplicação das cargas do tráfego. 40 e) A tensão e/ou deformação no pavimento devida ao carregamento do tráfego é calculada usando um programa computacional de análise de tensão, deformação e deflexão de multi-camadas elásticas do pavimento. f) O número de repetições das cargas do tráfego e as tensões e deformações calculadas são utilizadas para estimar a vida útil do pavimento. As hipóteses utilizadas para esta previsão são duas: o número de repetições das cargas para atingir a fadiga em qualquer camada com ligantes hidráulicos, medida através das tensões horizontais de flexão, ou da deformação vertical que cause afundamento permanente na fundação. g) Se no passo f), verificar-se que o número de repetições das cargas é menor que o previsto pelo projecto (passo d)), será necessário aumentar a espessura da estrutura do pavimento ou adicionar uma ou mais camadas. Repetir os passos a partir do c) até que sejam satisfeitos os parâmetros estabelecidos para garantir a durabilidade do pavimento nas condições do projecto. O programa é desenvolvido por um fluxograma constituído por 4 módulos independentes, que, quando necessário, poderão ser modificados a partir de novas premissas tecnológicas sem prejuízo do funcionamento do programa principal. Na modelação da camada de revestimento, algumas premissas são adoptadas: Os formatos dos BB são considerados. O modelo de assentamento dos BB é tido em conta. Os PBB com espessuras menores que 80 mm são somente utilizados em áreas de tráfego ligeiro. Uma estimativa da rigidez da camada de revestimento pode ser obtida com base em medições de deflexão através de equipamentos FWD, por retroanálise, considerando-se os BB + colchão de areia como uma camada equivalente elástica e homogénea. Através de ensaios triaxiais dinâmicos, são obtidos o módulo resiliente (Mr), e o coeficiente de Poisson para as camadas de base, sub-base e fundação. Quando não for possível realizar os ensaios triaxiais, o Mr poderá ser estimado através do sistema de classificação de solos, como o da AASHTO. Para a fundação, na ausência de ensaio do Mr, poderão ser usadas relações empíricas entre Mr e CBR tais como: E = 10 x CBR E = 17,6 x CBR 3.4 0,64 3.5 41 Onde: E em MPa. CBR em %. Nas camadas de base, sub-base e fundação são considerados critérios de drenagem, uma vez que este factor interfere directamente na rigidez e resistência das camadas. No Quadro 3.2 apresentam-se valores dos módulos dos BB medidos com um FWD e em laboratório, por vários autores e o Quadro 3.3 mostra os factores de drenagem que são considerados. Quadro 3.2 - Módulo dos BB determinados através do FWD e em ensaios de laboratório [SHACHEL; 2000] Condição do Ensaio Módulo (MPa) FWD – BB Rectangulares 500 – 700 FWD – BB Diversas secções 720 – 9600 FWD – BB “Uni” 75 – 19000 Laboratório – BB Rectangulares 600 – 750 Laboratório – BB “Uni” 400 – 6000 Laboratório – BB “Uni” furados 1000 – 4000 Quadro 3.3 - Factores de drenagem considerados no método de dimensionamento do programa da LOCKPAVE [SHACHEL; 2000] Tempo que o pavimento permanece saturado Condições de drenagem 1% até > 5% até 5% 25% 1,00 0,90 0,85 0,80 0,90 0,85 0,75 0,70 0,85 0,75 0,70 0,60 0,75 0,70 0,60 0,50 0,70 0,65 0,50 0,40 <1% EXCELENTE – Tempo de drenagem de 12 horas ou menos (Pavimento geralmente seco) BOM – Tempo de drenagem de 24 horas NORMAL – Tempo de drenagem de 1 semana ou menos (Pavimento geralmente húmido) MAU – Tempo de drenagem de 1 mês MUITO MAU – Não é capaz de drenar (Pavimento geralmente molhado) >25% A variável de entrada, carregamento, requerida pelo programa, é representada pelo nível de carga aplicado bem como pelo número de repetições do carregamento para o período 42 de dimensionamento do projecto. O programa tem em conta a sobreposição de cargas do eixo dos veículos representado pela Figura 3.2. Figura 3.2 - Efeitos da sobreposição de tensões originadas pelo eixo dos veículos em profundidade na estrutura do pavimento [SHACHEL; 2000] Na figura seguinte mostra-se mm diagrama esquemático do processo dimensionamento usando pelo programa LOCKPAVE. Figura 3.3 - Diagrama esquemático do processo de dimensionamento pelo programa LOCKPAVE [SHACHEL; 2000] 43 de 3.4 Brasil No Brasil, os métodos de dimensionamento para PBB usados por projectistas são basicamente os descritos nos pontos precedentes. Um dos únicos trabalhos existentes foi apresentado por HALLAC, (1998). HALLAC, (1998) propõe uma metodologia de dimensionamento mecanicista para aplicações em áreas de terminais de carga e zonas industriais onde circula grande variedade de veículos e equipamentos com diversas configurações de eixos, compreendendo, além de camiões, empilhadores pesados, guindastes e porta contentores. O programa utilizado foi o ELSYM 5 (Elastic Layered System), que considera unicamente a elasticidade linear para todas as camadas que constituem o pavimento. O conceito de carga de roda simples equivalente foi tido em consideração, sendo tomados para análise os pontos dos eixos perpendiculares ao plano da superfície do pavimento, sendo que o primeiro passa pelo centróide da área de contacto de um dos pneus do conjunto, o segundo distando R (raio da área de contacto) do primeiro, e assim sucessivamente até que o último coincida com o eixo de simetria do conjunto. A principal característica do método é admitir um pavimento com três camadas, onde a camada de base tem rigidez suficiente para não sofrer ruptura por fadiga. Assim, é condição essencial do método a adopção de material estabilizado com o módulo de elasticidade elevado e uma deformação pequena na camada de base. O dimensionamento que se faz é a determinação da espessura da base (H2), uma vez que a camada de revestimento (BB + areia) é definida de antemão, sendo os demais parâmetros conhecidos. Considera-se um módulo resiliente para a camada de revestimento de 3000 MPa. São fornecidas quatro equações para rodado simples (uma roda) e rodado duplo (duas rodas), onde as variáveis de resposta são a tensão máxima na fibra inferior da camada de base e a deformação vertical no topo da fundação. As variáveis de entrada das equações são: Módulo de elasticidade da camada. Espessura da camada – neste modelo somente é arbitrada a H2 da base, uma vez que o sistema é de três camadas e é conhecido o H1. Carga do pneu. Pressão de contacto do pneu. 44 Distância entre pneus (para a modelação de rodado duplo). Para verificar se a espessura da camada de base calculada pela metodologia atende o critério de ruptura pré-estabelecido para verificar a tensão máxima admissível na fibra inferior da camada de base, o método recomenda utilizar as equações propostas por BALBO, (2003) – Equação 3.6, para camadas de brita graduada tratada com cimento (AGEC), e por TRICHÊS, (2003) – Equação 3.7, para camadas de betão compactadas com cilindro de rasto liso: = 0,871 – 0,054 log N 3.6 Onde: - Resistência à tracção por flexão da AGEC; N - Número previsto de repetições de carga; = 0,961 – 0,060 log N 3.7 Onde: - Resistência à tracção por flexão do betão compactado com cilindro; N - Número previsto de repetições de carga; Para verificar se a espessura da camada de base calculada pela metodologia apresentada atende o critério de ruptura pré-estabelecido para verificar a deformação vertical no topo da fundação, o método recomenda utilizar as equações propostas pela Shell para dimensionamento de pavimentos flexíveis, apresentadas por SHACKEL, (1990) – Equação 3.8, ou a apresentada por KNAPTON, (1992) – Equação 3.9, utilizada no método inglês da British Ports Association: 3.8 3.9 Onde: - Deformação admissível no topo da fundação. N - Número previsto de repetições de carga. 45 3.5 Dimensionamento para tráfego ligeiro Apesar de ser um dos segmentos com mais aplicação em todo o mundo, existe muito pouco sobre o dimensionamento de PBB em zonas para tráfego ligeiro. Estas zonas são as preferidas por arquitectos e paisagistas, que utilizam a potencialidade de formatos e cores que este tipo de pavimento oferece. As áreas de tráfego ligeiro são, geralmente, estacionamentos, pátios, calçadas, praças, ciclovias e ruas secundárias. Os problemas que ocorrem nestes tipos de aplicação estão, na sua maioria, associados a aspectos construtivos: deficiência de compactação da camada de base granular e falta ou inadequado confinamento nos bordos. COOK, (1996) propõe uma metodologia empírica para o dimensionamento dos pavimentos de tráfego ligeiro, tendo por base experiências anteriores. Este autor classifica os pavimentos para tráfego ligeiro em duas categorias: A: tráfego de peões e veículos ligeiros. B: tráfego de veículos ligeiros e poucos veículos pesados. Em função da categoria da área a ser pavimentada, são propostos fluxogramas de dimensionamento, descritos na Figura 3.4 para a categoria A, e na Figura 3.5 para a categoria B. COOK, (1996) indica que, na ausência de ensaios disponíveis do solo (o que muitas vezes se verifica), deve-se realizar um teste prático, que é, caminhando sobre o solo da fundação e verificar a presença das marcas dos passos no solo. A partir desta observação, classifica-se a fundação conforme se mostra na Figura 3.4. A Associação Espanhola de PBB [ADAH; 2004] propõe uma classificação de tráfegos ligeiros em 5 categorias, conforme se mostra no Quadro 3.4. 46 Quadro 3.4 - Categorias de tráfego para pavimentos [ADAH; 2004] Categoria Tráfego de Projecto Descrição (Veículos pesados por dia) C0 50 a 150 C1 25 a 49 C2 15 a 24 C3 5 a 14 C4 0a4 Ruas ou artérias principais de elevado tráfego; Paragem de autocarro; Estações de serviço, paragens de autocarros, áreas de armazéns, etc., que não ultrapassem 150 veículos pesados por dia; Artérias principais ou estruturais com largura >6 metros, que não cruzem estradas com tráfego com superior a 49 veículos pesados por dia; Ruas de grande actividade comercial; Ruas com largura >6 metros e com serviço regular de autocarros (mais de 1 autocarro/hora); Ruas comerciais com largura >6 metros e sem serviço regular de autocarros urbanos (menos de 1 autocarro/hora); Arruamentos exclusivamente residenciais com edifícios já construídos e sem tráfego comercial; Arruamentos com largura <6 metros, sem tráfego comercial; Parques de veículos ligeiros; Zonas para peões, sem acesso de veículos pesados; Figura 3.4 - Fluxo de dimensionamento empírico para tráfego ligeiro – Peões e carros ligeiros [COOK; 1996] 47 Figura 3.5 - Fluxograma de dimensionamento empírico de PBB para tráfego ligeiro – veículos ligeiros e poucos veículos pesados [COOK; 1996] 48 3.6 Considerações finais Ao longo deste capítulo procedeu-se à descrição de alguns métodos de cálculo para PBB e podemos concluir que a maioria dos métodos de dimensionamento dos PBB advém de adaptações da metodologia de cálculo para pavimentos flexíveis, onde o conceito de camadas equivalentes é utilizado. Duas importantes escolas mundiais, a Americana e a Britânica, promovem actualmente esta metodologia. Nos Estados Unidos, a NCMA (National Concrete Masonry Association), fez a adaptação do método de dimensionamento de pavimentos flexíveis da AASHTO para utilização em PBB. Na Inglaterra, um processo semelhante foi implementado para pavimentos rodoviários e, em separado, foram feitas adaptações específicas para o dimensionamento de pavimentos de aeroportos. [CRUZ; 2003] 49 4. Estudo e modelação de um pavimento experimental 4.1 Generalidades Tendo em atenção os objectivos propostos no capítulo 1, a realização destes ensaios experimentais, através do estudo do comportamento de um pavimento, em ensaios de carga, surgiu como uma oportunidade para desenvolver o conhecimento estrutural da camada de desgaste constituída por BB, que depois serão utilizados para a elaboração de um catálogo de pavimentos. Com este objectivo, procedeu-se à realização de ensaios no parque de estacionamento do hospital da Força Aérea em Lisboa. Após a exposição resumida do pavimento, efectuar-se-á uma descrição e posterior apresentação dos resultados dos ensaios de carga realizados no pavimento. Efectua-se ainda uma breve descrição do equipamento de ensaio utilizado. Por último procede-se à modelação numérica do pavimento, utilizando como modelo de cálculo o modelo de Burmister, que considera o pavimento como um conjunto de camadas horizontais, contínuas e homogéneas, assente sobre um meio semi-infinito. Admite-se que os materiais apresentam um comportamento elástico linear . 4.2 Descrição do Pavimento O pavimento em estudo localiza-se no parque de estacionamento do Hospital militar da Academia da Força Aérea, mais precisamente na Azinhaga dos Ulmeiros, Lumiar, Lisboa (Figura 4.1). 50 Figura 4.1 - Localização do pavimento em estudo [GOOGLE EARTH; 2008] A Figura 4.2 mostra um esquema do pavimento em estudo. Este foi construído há cerca de 10 anos e é constituído por três camadas: a camada de desgaste em blocos de betão hexagonais vermelhos (Figura 4.3) com 5,5 cm, uma camada de base em pó de pedra com cerca de 20 cm e a uma camada de sub-base com 20 cm em tout-venant, sendo que esta última espessura pode variar em algumas zonas do parque de estacionamento. Figura 4.2 - Esquema do pavimento em estudo Figura 4.3 - Camada de desgaste em BB hexagonais 51 Para o controlo da compactação determinou-se o teor em água, junto à camada de base. Para tal recorreu-se a um gamadensímetro, da marca Troxler e modelo nº 3450 (Figura 4.4). De acordo com o ensaio realizado, esta camada apresenta uma baridade seca in situ de 17,42 3 3 kN/m , uma baridade húmida de 18,12 kN/m e um teor em água in situ de 4%. Figura 4.4 – Gamadensímetro da marca Troxler 4.3 Ensaios de carga no Pavimento Com o objectivo de determinar as características mecânicas das várias camadas do pavimento experimental, recorreu-se ao ensaio de carga não destrutivo com deflectómetro de impacto. Este equipamento foi desenvolvido para estudar as deflexões de pavimentos sujeitos a cargas dinâmicas que traduzissem a circulação dos veículos, em termos de velocidade. No dia 24 de Julho de 2008 realizou-se uma campanha de ensaios, todos na camada de desgaste, com um deflectómetro de impacto pesado, da marca “KUAB” (Figura 4.6) e modelo Falling Weight Deflectometer (FWD), com uma placa de carga de 450 mm de diâmetro. A sua constituição é apresentada na Figura 4.5. Figura 4.5 - Elementos que constituem um FWD [FORTUNADO; 2006] 52 Em cada ensaio, após o impacto inicial da primeira altura de queda cujo objectivo é ajustar a placa à superfície do pavimento, procedeu-se a 3 impactos correspondentes a 3 escalões de carga dados no tempo por ordem crescente da força de impacto. As alturas de queda foram definidas de forma a corresponderem aos valores aproximados das forças de impacto que se indicam seguidamente: impacto da 2ª altura de queda para a força de pico de 40 kN; impacto da 3ª altura de queda para a força de pico de 100 kN; impacto da 4ª altura de queda para a força de pico de 150 kN. [NEVES; 2001] Figura 4.6 - Realização dos ensaios com o FWD A força de pico imposta ao pavimento pode ser determinada através da Equação 4.1. F = (2.m.g.h.k.) 1/2 4.1 Onde: F é a força de pico. m é a massa que cai. g é a aceleração da gravidade. h é a altura de queda. k é a constante de mola do sistema amortecedor. Esta equação acima é obtida igualando-se a energia potencial da massa antes da sua queda e o trabalho desenvolvido pelos amortecedores após a queda. [MÜLLER; 2005] As deflexões do pavimento induzidas pela carga de impacto foram medidas em vários pontos através de geofones apoiados na superfície do pavimento, cujas distâncias ao centro da área carregada são (em cm): 0 (D0), -30 (D1), 30 (D2), 45 (D3), 60 (D4), 90 (D5), 120 (D6), 150 (D7), 180 (D8). [NEVES; 2001] 53 No Quadro 4.1 apresentam-se os valores das deflexões normalizadas para as três forças de pico medidas na camada de desgaste, bem como a sua análise estatística. Quadro 4.1 – Deflexões normalizadas e análise estatística Deflexões (µm) Local (m) Força (kN) D1 (cm) D0 (cm) D2 (cm) D3 (cm) D4 (cm) D5 (cm) D6 (cm) D7 (cm) D8 (cm) -30 0 30 45 60 90 120 150 180 C.D. 40,00 125,89 382,74 102,54 64,97 44,67 19,29 9,14 5,08 4,06 C.D. 40,00 171,01 504,35 121,74 81,16 50,24 19,32 8,70 4,83 3,86 C.D. 40,00 203,64 579,74 130,91 90,39 55,06 20,78 9,35 5,19 5,19 C.D. 40,00 216,58 601,04 135,75 90,16 54,92 21,76 9,33 5,18 1,04 C.D. 40,00 238,71 638,71 151,61 95,70 59,14 21,51 9,68 5,38 4,30 Média 40,00 191,17 541,32 128,51 84,48 52,81 20,53 9,24 5,13 3,69 Mediana 40,00 203,64 579,74 130,91 90,16 54,92 20,78 9,33 5,18 4,06 Mínimo 40,00 125,89 382,74 102,54 64,97 44,67 19,29 8,70 4,83 1,04 Máximo 40,00 238,71 638,71 151,61 95,70 59,14 21,76 9,68 5,38 5,19 d.p. 0,00 43,96 101,29 18,11 12,09 5,53 1,18 0,36 0,20 1,57 N 5 Deflexões (µm) Local (m) Força (kN) D1 (cm) D0 (cm) D2 (cm) D3 (cm) D4 (cm) D5 (cm) D6 (cm) D7 (cm) D8 (cm) -30 0 30 45 60 90 120 150 180 C.D. 100,00 527,41 1405,48 475,43 245,75 145,56 47,26 17,96 8,51 7,56 C.D. 100,00 537,74 1342,03 469,71 249,77 150,98 51,26 20,50 11,18 8,39 C.D. 100,00 600,00 1441,18 512,75 269,61 162,75 53,92 21,57 11,76 8,82 C.D. 100,00 622,81 1450,29 532,16 270,96 160,82 53,61 20,47 11,70 9,75 C.D. 100,00 673,49 1541,45 585,47 290,69 168,88 57,32 21,49 12,28 10,24 Média 100,00 592,29 1436,09 515,10 265,35 157,80 52,67 20,40 11,09 8,95 Mediana 100,00 600,00 1441,18 512,75 269,61 160,82 53,61 20,50 11,70 8,82 Mínimo 100,00 527,41 1342,03 469,71 245,75 145,56 47,26 17,96 8,51 7,56 Máximo 100,00 673,49 1541,45 585,47 290,69 168,88 57,32 21,57 12,28 10,24 d.p. 0,00 60,76 72,65 47,12 18,16 9,39 3,72 1,46 1,49 1,07 D5 (cm) D6 (cm) D7 (cm) D8 (cm) N 5 Deflexões (µm) Local (m) Força (kN) D1 (cm) D0 (cm) D2 (cm) -30 0 30 45 60 90 120 150 180 C.D. 150,00 826,03 2240,75 807,53 387,33 229,11 71,92 23,63 12,33 12,33 C.D. 150,00 890,33 2190,61 824,11 400,49 240,71 79,89 31,53 16,82 13,67 C.D. 150,00 900,82 2128,00 826,70 402,54 238,85 79,27 31,91 17,50 14,41 C.D. 150,00 993,02 2263,78 908,16 433,14 257,90 85,97 34,17 19,84 15,43 C.D. 150,00 953,50 2141,96 881,12 415,38 245,45 81,82 32,52 18,88 14,69 Média 150,00 912,74 2193,02 849,52 407,78 242,40 79,77 30,75 17,07 14,10 Mediana 150,00 900,82 2190,61 826,70 402,54 240,71 79,89 31,91 17,50 14,41 Mínimo 150,00 826,03 2128,00 807,53 387,33 229,11 71,92 23,63 12,33 12,33 Máximo 150,00 993,02 2263,78 908,16 433,14 257,90 85,97 34,17 19,84 15,43 d.p. 0,00 63,78 59,43 42,91 17,32 10,51 5,11 4,11 2,90 1,18 N D3 (cm) 5 54 D4 (cm) 4.4 Análise dos Resultados de carga Em seguida, procede-se à análise dos resultados dos ensaios de carga com o deflectómetro de impacto, de forma a colocar em evidência os aspectos mais importantes do comportamento estrutural do pavimento. Estes aspectos serão tidos em conta na modelação numérica da resposta dos pavimentos, para solicitações idênticas à dos ensaios de carga realizados, assunto este que será abordado no subcapítulo seguinte. Da análise estatística dos resultados das deflexões medidas com o FWD na camada de desgaste podemos concluir que há uma boa homogeneidade do comportamento estrutural em cada camada, com excepção de um ou outro resultado. Ao passar de uma força de 40 kN para 100 kN (aumento de 150%) a deflexão média, para D0=0 cm aumenta de 541,32 µm para 1436,09 µm (aumento de 165,3%). Agora ao passar de uma força de 40 kN para 150 kN (aumento de 275%) a deflexão média aumenta de 541,32 µm para 2193,02 µm (aumento de 305,1%). Desta análise constata-se alguma linearidade no comportamento do pavimento para as deflexões. Na Figura 4.7 estão representados graficamente os valores das deflexões para valores normalizados de 40kN, 100kN e 150kN. De referir que as linhas coloridas são os valores médios para cada força de pico. -30 20 70 120 170 Deflexões médias (μm) 0 F=40 kN 500 1000 F=100 kN 1500 F=150 kN 2000 Distância ao eixo (cm) Figura 4.7 - Ensaio FWD (para valores normalizados de 40, 100 e 150 kN) 55 4.5 Modelação numérica do pavimento experimental 4.5.1 Modelos de comportamento dos materiais Um elemento fundamental para a modelação da resposta de uma estrutura às acções a que se encontra sujeita são as relações constitutivas de cada um dos materiais que a constituem. Os solos e os materiais geralmente empregues em pavimentos podem dividir-se em três grupos, do ponto de vista das respectivas relações tensões/deformações [ANTUNES; 1993]: Os solos e materiais granulares não tratados, que exibem comportamentos não lineares, ou seja, o seu módulo de deformabilidade depende do estado de tensão; relativamente a este tipo de materiais, podem ainda considerar-se dois tipos de comportamento distintos, caracterizados por diferentes tipos de relações entre os módulos de deformabilidade e os estados de tensão, consoante se trate de solos finos ou se trate de solos granulares e de materiais granulares britados; para além da dependência relativamente ao estado de tensão, o comportamento dos solos finos poderá ainda depender do tempo de actuação das cargas; As misturas betuminosas, que exibem comportamentos visco-elásticos, dependendo da temperatura e do tempo de actuação das solicitações; As misturas com ligantes hidráulicos, que possuem comportamentos elásticolineares para os níveis de tensão a que são geralmente sujeitos num pavimento. No entanto a generalidade dos modelos utilizados correntemente na análise estrutural de pavimentos assenta na hipótese de que os materiais que constituem as camadas apresentam um comportamento elástico-linear, o que se pode considerar válido para determinadas condições (condições ambientais, velocidades de circulação, etc.). No Quadro 4.2 apresentam-se as gamas de valores para os módulos de deformabilidade dos vários materiais que são geralmente empregues em obras de pavimentação [DOMINGOS; 2007]. 56 Quadro 4.2 - Valores para os módulos de deformabilidade dos vários materiais empregues em pavimentos Tipo de material Módulo de deformabilidade (MPa) Observações Misturas betuminosas 3000 – 15000 - Materiais granulares 50 – 1500 Materiais não ligados Solos 5 – 300 - Betão de cimento 30000 – 70000 Sem fendilhamento Materiais tratados com cimento 1000 – 40000 Sem fendilhamento BB 300 - 5000 - No Quadro 4.3 encontra-se os valores típicos para o coeficiente de Poisson, considerados para cada tipo de material. [DOMINGOS; 2007] Quadro 4.4 - Valores típicos para o coeficiente de Poisson Material Gama de valores Valor típico Observações Depende da temperatura (valores Misturas betuminosas 0,15 – 0,48 0,35 – 0,40 mais baixos correspondem a temperaturas baixas) Materiais granulares 0,10 – 0,50 0,35 Solos 0,10 – 0,50 0,35 Betão de cimento 0,15 – 0,40 0,20 Materiais tratados com cimento 0,30 – Solos não coesivos 0,50 – Solos coesivos Valores mais elevados 0,10 – 0,35 0,25 correspondem a materiais fendilhados 4.5.2 Modelos de resposta Os modelos de resposta consistem em idealizações do comportamento de uma estrutura que permitem calcular a sua resposta às acções a que esta é sujeita. No caso dos pavimentos rodoviários, tais modelos permitem, em geral, calcular tensões, deformações e deslocamentos na estrutura do pavimento e respectiva fundação, induzidos pela passagem dos veículos. Tendo em vista a análise estrutural de pavimentos, as cargas induzidas pelos rodados dos veículos são geralmente idealizadas como um conjunto de cargas uniformemente distribuídas em áreas circulares [ANTUNES; 1993]. Actualmente, um dos modelos de comportamento estrutural mais utilizado é o modelo de Burmister, que assimila o pavimento e a fundação como um conjunto de várias camadas 57 horizontais (sobrepostas), contínuas, homogéneas, isotrópicas e elásticas, assentes num meio semi-infinito, em que na superfície actua uma carga vertical uniformemente distribuída numa área circular de raio r (Figura 4.8). As camadas são consideradas como infinitas na direcção horizontal, e a camada inferior como tendo uma espessura infinita. As superfícies planas que separam as camadas são designadas de interfaces, sendo habitual considerar dois tipos de interface: [NEVES; 2001] Aderência perfeita entre camadas; Deslizamento entre camadas (parcial ou total). Figura 4.8 - Modelo de Burmister [NEVES; 2007 b] No domínio da análise estrutural de pavimentos foram desenvolvidos vários programas de cálculo automático baseados no modelo de Burmister. São exemplos o programa ELSYM5, desenvolvido pela universidade de Berkeley (EUA), o programa ALIZE, desenvolvido no LCPC (França), o programa BISAR, desenvolvido pela Shell, o programa CHEVIT, da companhia Chevron, o programa CIRCLY desenvolvido pelo centro de investigação Commonwealth (Austrália), o programa NOAH, e o programa VEROAD desenvolvido na universidade de Delft (Holanda). Estes programas assimilam o pavimento a um conjunto de camadas sobrepostas e carregado à superfície por cargas uniformemente distribuídas em áreas circulares, simulando as rodas dos veículos. A aderência perfeita entre camadas é a condição mais comum, mas também o escorregamento entre camadas é aceite pelos programas BISAR, CIRCLY e NOAH [NEVES; 2001; DOMINGOS; 2007]. Contudo, a maioria dos modelos não permite a variação das propriedades da camada na direcção horizontal, o que invalida a hipótese das camadas serem assimiladas a um meio 58 contínuo, fazendo com que a resposta de um pavimento rígido, obtida com este modelo, na vizinhança das descontinuidades deixe de ter significado. No caso dos pavimentos flexíveis, este modelo de resposta não permite considerar variações das propriedades dos materiais constituintes das camadas no plano horizontal, como acontece com camadas granulares em que o módulo de deformabilidade varia em função do estado de tensão. [NEVES; 2001; DOMINGOS; 2007] 4.6 Modelação do Comportamento nos Ensaios de Carga A determinação das características mecânicas dos materiais que constituem as diferentes camadas do pavimento foi feita com recurso ao programa de cálculo automático BISAR. Através de várias iterações, variando o módulo de deformabilidade das camadas, foram-se obtendo deslocamentos, até fazer convergir os deslocamentos verticais da superfície do pavimento calculados, com os deslocamentos experimentais determinados através do ensaio de carga FWD, para uma carga normalizada de 40 kN (Quadro 4.1). Os parâmetros mecânicos dos materiais são fixados quando a média do erro de convergência for inferior a ±15% e é dado pela expressão: 4.2 Sendo: i – erro à distância i da origem (%). exp,i – deslocamento vertical resultante do ensaio de carga FWD, à distância i da origem (m). cal,i – deslocamento vertical apresentado pelo programa de cálculo automático, à distância i da origem (m). No Quadro 4.5 são apresentados os dados e resultados relativos à primeira iteração realizada, com o respectivo erro. 59 Quadro 4.5 - Dados e resultados da 1ª iteração DADOS Camada RESULTADOS Deflexões Deflexões médias para calculadas F=40kN (µm) (µm) -30 1,912E+02 2,715E+02 E Distância (MPa) (cm) Erro BB (5,5 cm) 1000 0,30 42,02% Base em Pó de Pedra (20 cm) 680 0,25 0 5,413E+02 4,047E+02 25,24% Sub-base granular (20 cm) 120 0,35 30 1,285E+02 2,715E+02 111,27% Solo de Fundação 120 0,35 45 8,448E+01 2,088E+02 147,17% 60 5,281E+01 1,647E+02 211,89% 90 2,053E+01 1,095E+02 433,32% 120 9,237E+00 7,968E+01 762,58% 150 5,132E+00 6,241E+01 1116,12% 180 3,692E+00 5,148E+01 1294,53% Média 460,46% No Quadro 4.6 apresentam-se os valores dos módulos de deformabilidade estimados para as várias camadas do pavimento em estudo, de modo a que a deformada calculada fosse o mais próximo possível da deformada medida in situ. Para uma melhor análise e com o intuito de diminuir o erro médio adicionou-se duas camadas do solo de fundação. Quadro 4.6 - Módulos de deformabilidade estimados para as várias camadas DADOS Camada RESULTADOS E Distância (MPa) (cm) Deflexões Deflexões médias para calculadas Erro F=40kN (µm) (µm) BB (5,5 cm) 1000 0,30 -30 1,912E+02 1,914E+02 0,12% Base em Pó de Pedra (20 cm) 200 0,25 0 5,413E+02 5,649E+02 4,36% Sub-base granular (20 cm) 400 0,35 30 1,285E+02 1,914E+02 48,94% Solo de Fundação (100 cm) 200 0,35 45 8,448E+01 8,282E+01 1,96% Solo de Fundação (100 cm) 1000 0,35 60 5,281E+01 4,981E+01 5,68% Solo de Fundação 2000 0,35 90 2,053E+01 2,399E+01 16,84% 120 9,237E+00 1,188E+01 28,61% 150 5,132E+00 6,104E+00 18,94% 180 3,692E+00 3,397E+00 Média 7,98% 14,82% De seguida são referidas algumas considerações que se tiveram em conta, para que os valores estimados fossem os mais próximos da realidade. Assim, 60 Teve-se muita atenção com a escolha do local da colocação da placa de carga e dos geofones, uma vez que, se estes estivessem assentes sobre um BB solto, poderia influenciar negativamente os resultados, aumentando significativamente a deflexão. Não se colocou a placa de carga nem os geofones sobre as juntas dos BB, pois, caso existisse uma pequena movimentação, o resultado do ensaio poderia ser adulterado. Por último refere-se que os valores dos módulos de deformabilidade foram estimados através de um FWD, por retroanálise, tendo, portanto, um grau de incerteza. 4.7 Considerações finais Ao longo deste capítulo procedeu-se à descrição do trecho experimental, apresentou-se as principais características dos materiais existentes nas camadas do pavimento, descreveu-se a instrumentação dos pavimentos e os ensaios de carga realizados, analisando-se os respectivos resultados. Os ensaios de carga apresentados neste capítulo foram realizados com um deflectómetro de impacto pesado (FWD), não só pelo facto deste existir no GEAFA, mas também por este ser um equipamento para ensaios não destrutivos, que na actualidade, melhor simulam as cargas geradas pelos veículos (valor de pico, tempo de carga). Por outro lado, o procedimento de ensaio é relativamente simples, traduzindo-se numa maior rapidez de execução quando comparado por exemplo com a viga Benkelman. Com a modelação numérica do pavimento, cumpriu-se o objectivo principal pretendido, que era o de determinar as características mecânicas na camada de BB. Conclui-se que o módulo de deformabilidade cifra-se na ordem dos 1000MPa, valor que será usado no próximo capítulo para a elaboração do catálogo de estruturas em PBB. 61 5. Catálogo de pavimentos 5.1 Generalidades O objectivo do presente capítulo é o de apoiar e orientar a concepção das estruturas de PBB a adoptar na construção em Portugal. Os materiais subjacentes à concepção e dimensionamento adoptados visam satisfazer certos requisitos específicos deste tipo de estruturas, nomeadamente: Oferecer aos utentes um nível de serviço adequado, permitindo que a circulação se faça em condições de segurança, conforto e economia. Corresponder às diferentes classes de tráfego e fundações. Sistematizar, tanto quanto possível, as estruturas de PBB que têm vindo a ser adoptadas em Portugal. 5.2 Classificação do Tráfego Para a elaboração do catálogo de PBB o tráfego será classificado em 3 classes de tráfego, tendo como base a classificação da Associação Espanhola de PBB [ADAH; 2004]: Baixa, Média e Alta. Para o dimensionamento dos PBB apenas será considerado o efeito do tráfego médio diário anual de veículos pesados no ano de abertura, por sentido de circulação, na via mais solicitada por esses veículos (TMDA)p e o seu valor deverá ser obtido a partir de um estudo de tráfego. Considera-se veiculo pesado aquele cujo peso bruto é igual ou superior a 3 tf, o que inclui uma larga gama de veículos, compreendendo autocarros, camiões com ou sem reboque ou semi-reboque. O dimensionamento de um pavimento visa assegurar adequadas condições de circulação do tráfego durante um dado período, que se designa por período de dimensionamento, minimizando a necessidade de obras de conservação nesse período. Para os PBB consideram-se períodos de dimensionamento de 20 anos. 62 Para a avaliação da taxa de crescimento anual do tráfego pesado deve ser realizada com base em estudo específico, onde sejam ponderados os diversos aspectos condicionantes da sua evolução ao longo do período de dimensionamento. Visto não haver estudos específicos para os PBB, será considerada uma taxa de crescimento de 1% para as classes de tráfego baixa e média e 3% para a classe de tráfego alta. Para exprimir o efeito de um dado número acumulado de passagens de veículos pesados com características muito diversas faz-se a sua conversão em passagens equivalentes de um eixo padrão, adoptando-se para tal, factores de agressividade, cujos valores são definidos em função do manual de concepção de pavimentos para a rede rodoviária nacional [JAE; 1995]. A avaliação da adequação das estruturas de PBB propostas, em termos de respectiva capacidade de carga, foi definido um valor admissível para o número acumulado de eixos padrão de 80 kN. Tendo em conta os valores admitidos para a taxa média de crescimento anual e para o factor de agressividade, o tráfego acumulado de eixos padrão durante o período de dimensionamento, correspondente às três classes de tráfego é dado por: dim N80 = 365 x (TMDA)p x C x α x p Com: C 5.1 p (1 t) 1 p t 5.2 em que: C é o factor de crescimento do tráfego. t – taxa média de crescimento anual de tráfego pesado (%). α - factor de agressividade do tráfego (α). p – período de dimensionamento (anos). (TMDA)p – tráfego médio diário anual de veículos pesados no ano de abertura, por sentido e na via mais solicitada. No Quadro 5.1 indicam-se as 3 classes de tráfego consideradas para o tráfego médio diário anual de veículos pesados (em cada sentido e na via mais solicitada) no ano de abertura dim (TMDA)p, a taxa de crescimento médio, factor de agressividade e N80 63 (20 anos). Quadro 5.1 – Elementos relativos ao tráfego PBB Taxa de Classe Parques Baixa Zonas T3 de crescimento Factor de N80 dim médio (%) agressividade (α) (20 anos) < 15 1 2 2,4x10 15 – 49 1 2 7,9x10 49 – 150 3 2 2,9x10 (TMDA)p veículos para peões; ligeiros; Ruas 5 comerciais com largura < 6 m; Artérias principais ou estruturais Média T2 com largura >6 m, que não cruzem estradas com tráfego com 5 superior a 49 veículos pesados por dia; Ruas ou artérias principais de elevado tráfego; Paragem de Alta autocarro; Estações de serviço, T1 paragens de autocarros, etc., que 6 não ultrapassem 150 veículos pesados por dia; (TMDA)p – tráfego médio diário anual de veículos pesados no ano de abertura, por sentido e na via mais solicitada. N80 dim – número acumulado de eixos padrão de 80 kN. Quando os valores a considerar para o tráfego médio diário, a taxa de crescimento, o factor de agressividade ou o período de dimensionamento forem diferentes dos adoptados no Quadro 5.1, ou quando se pretenda efectuar uma construção faseada, os valores de tráfego acumulado serão calculados de acordo com a metodologia adoptada. 5.3 Características dos Materiais 5.3.1 Fundação do pavimento Recorrendo ao manual de concepção da JAE, (1995) considera-se para os pavimentos em questão três classes de fundação do pavimento. Crê-se por fundação do pavimento, para além da camada de leito do pavimento (a superfície da camada de leito constitui a plataforma de apoio do pavimento), os terrenos subjacentes que condicionam o seu comportamento. Para efeitos de dimensionamento devem analisar-se as características dos terrenos até à profundidade de 1 metro. 64 Serão então consideradas três classes de fundação do pavimento, tal como indicado no Quadro 5.2. Para cada classe admitem-se valores para os módulos de deformabilidade da fundação do pavimento. Quadro 5.2 - Classes de Fundação [JAE; 1995] Módulo da fundação (MPa) Classe de fundação Classe de tráfego Gama Valor de cálculo F1 30 a 50 30 T3; T2; T1 F2 51 a 80 60 T3; T2; T1 F3 > 80 100 T3; T2; T1 5.3.2 Materiais granulares Incluem-se nesta designação os materiais naturais, britados ou tratados com cimento, que serão empregues nas camadas de base e sub-base do catálogo. O comportamento das camadas constituintes por materiais naturais ou britados depende, entre outros factores, das suas características intrínsecas, designadamente: Da natureza dos agregados (petografia, textura). Da forma dos agregados (lamelação e alongamento). Das propriedades físicas dos agregados (porosidade, dureza, resistência ao desgaste, alterabilidade, etc.). Da granulometria adoptada (em particular da percentagem de finos – material passado no peneiro n.º 200 ASTM). Da quantidade de elementos britados. O comportamento mecânico das camadas, em particular o seu módulo de deformabilidade, é ainda fortemente condicionado pelas condições de estado, nomeadamente: A compacidade. O teor em água. O estado de tensão (função da estrutura de pavimento e das condições de fundação). Por vezes é necessário recorrer a tratamentos das camadas de base e sub-base constituídas por agregados ou solos granulares com adequadas características granulométricas e de homogeneidade, com ligantes hidráulicos, para melhorar as condições de 65 apoio da camada de BB+areia. A aplicação em obra deste tipo de misturas pode ser realizada utilizando cilindros compactadores ou através de agulhas vibradoras. Para efeitos de dimensionamento de estruturas típicas de PBB, serão consideradas as características mecânicas aproximadas para as camadas de base e sub-base, como se indica no Quadro 5.3. Quadro 5.3 - Características mecânicas adoptadas para os materiais [JAE; 1995] Módulo de Símbolo Designação deformabilidade (E) material britado sem recomposição (tout- BG venant) aplicado em camada de base SbG AGEC Sc ≈ 2 x E camada inferior material britado sem recomposição (tout- ≈ 2 x E camada venant) aplicado em camada de sub-base inferior agregado não recomposto em central tratado com Cimento solo-cimento fabricado em central Coeficiente de Poisson ( ) 0,35 0,35 15000 0,25 2000 0,35 5.3.3 Blocos de Betão Nesta rubrica serão abordados os BB, a serem aplicados na camada de desgaste. Considera-se que os BB juntamente com o colchão de areia funcionam como uma única camada, de módulo de deformabilidade e coeficiente de Poisson constantes. Supõe-se que os BB a serem utilizados em estradas e ruas terão uma espessura de 80 mm, sendo esta uma prática comum em Portugal. Os BB mais finos (55 e 60 mm) são usados somente para passeios, pistas de bicicleta e parques de estacionamento para veículos ligeiros. Uns blocos mais espessos (100 mm) são usados em quantidades pequenas e em casos especiais (portos e aeroportos). Os valores do módulo de deformabilidade, da camada BB+colchão de areia variam muito consoante a referência, podendo variar entre 300 e 5000 MPa. Tal como já foi descrito anteriormente o valor do módulo vai crescendo gradualmente com a passagem do tráfego, por acção do travamento dos BB. 66 Para o dimensionamento do catálogo será usado para o conjunto BB+ colchão de areia um módulo de deformabilidade de 1000 MPa e coeficiente de Poisson, de 0,30. Estes valores foram obtidos recorrendo a um caso prático abordado no capítulo anterior. 5.4 Critérios de Dimensionamento 5.4.1 Modelo do pavimento O pavimento foi modelado, recorrendo mais uma vez ao programa BISAR, como sendo uma estrutura de multi-camadas (Figura 5.1), com um eixo padrão de 80 kN, uma carga em cada roda de 20 kN e 500 kPa de pressão de contacto como modelo base. Supôs-se que cada camada é homogénea, elástica e isotrópica e é caracterizada por E – módulo de deformabilidade e de ν – coeficiente de Poisson. Figura 5.1 - Estrutura multi-camadas do pavimento assumida para análise As estruturas típicas de PBB foram dimensionadas para três tipos de fundação e para três tipos de tráfego. 5.4.2 Estados limites de ruína Para os PBB há dois estados limites de ruína principais presentes, o fendilhamento por fadiga (tensão horizontal de tracção) na base das misturas de materiais com ligantes hidráulicos e as deformações permanentes (extensão vertical de compressão) no topo do solo da fundação (Figura 5.2). 67 Figura 5.2 - Estados limites de Ruína nos PBB [NEVES; 2007 a] O estudo das deformações permanentes, que evoluem no tempo com a passagem do tráfego e contribuem para o aumento das rodeiras foi feito com base na validação do critério das deformações permanentes: z,apl < 5.3 z,adm Em que z,apl é determinado através do programa BISAR e z,adm é obtido através da seguinte equação da Shell: z,adm =aN b 5.4 Em que: z,apl – extensão de aplicação vertical de compressão no topo dos solos de fundação. z,adm – extensão admissível vertical de compressão no topo dos solos de fundação. N – número admissível de passagens do eixo padrão (80 kN). a e b – parâmetros característicos dos materiais, em que a = 2,1 ou 1,8 (para fiabilidade de 85 e 95% respectivamente) e b=-0,25. Para o dimensionamento nas camadas com ligantes hidráulicos, admitiu-se que a fadiga das misturas solicitadas à flexão pelos rodados dos veículos pesados se poderia relacionar com a tensão máxima de tracção (σt), e terá de verificar a seguinte relação: apl 68 < adm 5.5 Para o cálculo da tensão máxima de tracção admissível utiliza-se a expressão da JAE apresentada no manual de concepção de pavimentos para a rede rodoviária nacional: σt σr dim 1 a x log N80 5.6 [JAE; 1995] Em que: σt – valor máximo ds tensão de tracção induzida pelo eixo padrão. σr – resistência à tracção em flexão (Rflexão). dim N80 – número admissível de passagens do eixo padrão (80 kN). a – constante, que depende da composição e propriedades da mistura, para a qual se admitam valores de -0,06 a -0,1 (adoptou-se -0,08). No caso de a resistência à tracção ser avaliada à tracção em ensaios de compressão diametral, poderá admitir-se um factor de 1,5 para converter o valor obtido no que previsivelmente seria obtido em ensaio de flexão, ou seja: Rflexão ≈ 1,5 x Rcd 5.7 [JAE; 1995] Em que: Rf – resistência à tracção em flexão. Rcd – resistência à tracção em compressão diamentral, em Rcd toma o valor de 1 MPa no caso de AGEC e 0,3 MPa no caso de Sc. 5.5 Proposta de estruturas tipo para PBB No presente sub-capítulo propõe-se, em forma de catálogo, um conjunto de estruturas tipo a adoptar na fase de estudo prévio para PBB. A organização deste catálogo é feita tento por base os seguintes princípios: Definição de estruturas tipo para PB, tendo por base a associação de diversos tipos de materiais para as camadas constituintes. Consideração das condições extremas mais desfavoráveis das classes de tráfego e de fundação, para a determinação das espessuras propostas, pelo que, em face das condições reais a definir em fase de projecto de execução, as propostas deverão ser ajustadas. 69 Variação das espessuras das camadas de base sub-base de acordo com a classe de tráfego e fundação (T1, T2, T3, F1, F2 e F3). A Figura 5.3 mostra, sob forma de catálogo as secções tipo propostas para os PBB. Figura 5.3 - Secções tipo propostas A título de exemplo, apresenta-se de seguida a verificação do dimensionamento da secção tipo proposta com a classe de tráfego T 2 e classe de fundação F1. No Quadro 5.4 estão resumidos os valores obtidos para a caracterização do tráfego. Quadro 5.4 - Características do tráfego t (%) 1,00% 2,00 p (anos) C 20,00 1,10 70 (TMDA)p (veículos) 49,00 dim N80 7,9E+05 Consequentemente, usando as equações apresentadas obteve-se os resultados referentes à extensão vertical máxima admissível devido às deformações permanentes, que são mostrados no Quadro 5.5. Quadro 5.5 - Extensões verticais de compressão admissíveis no topo da fundação Fiabilidade z 85% 95% 7,05E-04 6,04E-04 O cálculo da tensão horizontal de tracção admissível na base da camada de solocimento, é apresentado no Quadro 5.6. Quadro 5.6 - Cálculo da tensão horizontal de tracção na base da camada de Sc Rcd 0,3 dim N80 r =1,5xRcd 7,88E+05 0,45 t (kPa) 237,73 Através do programa BISAR obteve-se a extensão vertical de compressão e o valor da tensão horizontal de tracção na base da camada de solo-cimento, verificando-se o correcto dimensionamento: z,apl -6 -6 = 243 x 10 < z,adm = 604 x 10 (verifica critério das deformações permanentes) y,apl = 232,9 kPa < y,adm = 237,73 kPa (verifica critério da fadiga) 5.6 Considerações Finais Como já foi dito, na elaboração do catálogo foram consideradas as condições mais desfavoráveis de tráfego e de fundação. De referir mais uma vez que este catálogo não é aplicável em fase de projecto de execução, pelas razões já enunciadas. Nesta fase serão realizados os cálculos de verificação da capacidade de carga das estruturas projectadas, tendo em atenção os estudos específicos realizados no seu âmbito, designadamente os estudos de tráfego e o geológico e geotécnico. A verificação das estruturas apoiar-se-á, então: No valor real do tráfego de dimensionamento. Nas características mecânicas da fundação. 71 Nas características mecânicas dos materiais de pavimentação, tendo em atenção os materiais efectivamente disponíveis. A experiencia recolhida da aplicação do presente catálogo, durante a construção do PBB e após a entrada em serviço, permitirá o seu futuro ajustamento e a eventual inclusão de outras soluções que a prática revele adequadas. Considera-se, assim, importante que os vários utilizadores e os técnicos que acompanham o projecto e a construção das obras desenvolvam uma atenta observação do comportamento das estruturas, e procedam a recolha sistemática de elementos relativos ao seu comportamento. 72 6. Síntese e conclusões 6.1 Síntese do trabalho No capítulo 1, referente às considerações iniciais, fez-se a apresentação e enquadramento do tema e enunciou-se os objectivos da dissertação. Nos Capítulos 2, pavimentos em blocos e 3, métodos de dimensionamento para PBB foi feita uma síntese dos conhecimentos relativos à construção e dimensionamento dos PBB, recorrendo a bibliografia nacional e estrangeira. No capítulo 4, estudo e modelação de um pavimento experimental, com o intuito de analisar e conhecer melhor estruturalmente a camada de desgaste de um PBB, realizou-se ensaios de carga num pavimento experimental. No capítulo 5, catálogo de pavimentos, apresentou-se um catálogo de estruturas típicas de PBB, adequado à realidade nacional. Por fim este capítulo 6, síntese e conclusões, refere-se, nomeadamente às principais conclusões e às perspectivas de investigação futura. 6.2 Principais conclusões Para além das conclusões que foram sendo referidas no final de cada capitulo, apresenta-se em seguida uma síntese geral das principais conclusões, consideradas como as mais importantes do trabalho realizado: De todas as vantagens descritas e comentadas ao longo deste trabalho, deduz-se rapidamente que o PBB é um pavimento idóneo, com potencialidades para ser usado em variadas circunstâncias. Neste sentido, considera-se que há campos de aplicação, nos quais os PBB podem ser a solução mais adequada, relativamente a outros pavimentos, devido sobretudo à sua relação custo - rendimento, qualidades estéticas, facilidade de construção e manutenção. Indubitavelmente, pode-se afirmar que os PBB podem ser uma melhor escolha em termos de custos mais baixos ou melhor comportamento quando: 73 Vão suportar cargas elevadas concentradas em zonas de passagem de equipamentos ou em zonas onde se prevêem cargas elevadas pontuais. As intensidades de tráfego são elevadas. O solo de fundação tem fraca capacidade de suporte. O pavimento irá suportar variações de temperatura, derrames de carburantes e onde se prevêem assentamentos locais do terreno. O aspecto e as características estéticas do pavimento são uma das exigências principais do projecto. Necessidade de futuras intervenções em infra-estruturas enterradas, no caso de pavimentos urbanos. Em relação ao dimensionamento podemos concluir que a maioria dos métodos de dimensionamento dos PBB deriva de adaptações da metodologia de cálculo utilizada em pavimentos flexíveis, onde o conceito de camadas equivalentes é utilizado. Da modelação numérica do pavimento experimental, concluí-se que o módulo de deformabilidade dos BB pode ser estimado em 1000MPa. Foi este o utilizado na análise estrutural das secções tipo propostas no catálogo de PBB apresentado neste trabalho. Para a elaboração do catálogo, foram consideradas as condições mais desfavoráveis de tráfego e de fundação. O catálogo serve para apoiar a concepção de estruturas de PBB a adoptar na construção de infra-estruturas novas. 6.3 Investigação futura A presente dissertação não esgota, porém, a investigação no domínio dos PBB, considerando-se que os seguintes tópicos podem ser objecto de investigação futura: Realização de ensaios com FWD noutros trechos experimentais, caracterizados por diferentes estruturas de pavimentos, condições de fundação (tipos de blocos e camadas) e de solicitação de tráfego ou cargas. Realização de ensaios com o FWD não só à superfície, mas nas várias camadas subjacentes para melhor conhecimento das características de deformabilidade, não só dos BB, mas também de outras camadas do pavimento. 74 Caracterização do estado híbrido nas camadas com materiais granulares, factor que influência o comportamento do pavimento. Utilização de outros meios de cálculo automático na análise estrutural, para além do método tradicional de múltiplas camadas elásticas lineares, como por exemplo o método dos elementos finitos, de forma a considerar características mais especificas dos PBB (Exemplo: descontinuidades). Construção de um catálogo para estruturas especiais, nomeadamente para aeroportos e portos. 75 Referências bibliográficas [AASHTO; 1993] American Association of State Highway and Transportation Officials, (AASHTO). Guide for Design of Pavement Structures. Washington, D.C., USA : s.n., 1993. [ABCP; 2001] Associação Brasileira de Cimento Portland. 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