RENATO ANDRÉ DE OLIVEIRA RIBEIRO “A EFICIENCIA PROPULSIVA E A PERFORMANCE EM NADADORES JOVENS” 2º Ciclo em Ciências do Desporto - Actividades de Academia e Prescrição de Exercício UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2010 RENATO ANDRÉ DE OLIVEIRA RIBEIRO DANIEL A. MARINHO (Orientador) ANTÓNIO JOSÉ ROCHA MARTINS DA SILVA (Co-orientador) “A EFICIENCIA PROPULSIVA E A PERFORMANCE EM NADADORES JOVENS” 2º Ciclo em Ciências do Desporto - Actividades de Academia e Prescrição de Exercício UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2010 2 Dissertação expressamente elaborada no âmbito do Mestrado em Ciências do Desporto – Actividades de Academia e Prescrição de Exercício, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. 3 AGRADECIMENTOS O presente trabalho contou com o apoio de várias pessoas, cujo auxílio reduz o vasto conjunto de obstáculos e limitações presentes no caminho por mim delineado. Neste sentido, gostaria de enunciar o meu fiel reconhecimento: Ao Professor Doutor Daniel Marinho (Universidade da Beira Interior), orientador do presente trabalho e ao Professor Doutor António Silva (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) co-orientador do trabalho, por a toda ajuda e apoio na sua execução do presente trabalho, a minha gratidão. Ao Professor Mário Costa (Instituto Politécnico de Bragança), pela ajuda e disponibilidade sempre presente durante a realização deste trabalho, obrigado. Aos treinadores dos clubes de natação que cooperaram na recolha dos dados, viabilizando assim a realização deste trabalho, a minha consideração. À minha família, por todo o auxílio, afecto e amor evidenciado ao longo de toda a minha vida. Sem eles nada era possível. Obrigado por tudo. Para terminar, a todos os meus amigos que me apoiaram e ajudaram em todos os momentos e em especial ao meu sempre amigo Miguel Magalhães, pelo companheirismo e grande amizade, muito obrigado. OBRIGADO A TODOS. 4 ÍNDICE ABREVIATURAS................................................................................................ 6 ÍNDICE DE FIGURAS ........................................................................................ 7 ÍNDICE DE TABELAS ........................................................................................ 8 RESUMO............................................................................................................ 9 ABSTRACT ...................................................................................................... 10 RÉSUMÉ .......................................................................................................... 11 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 14 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA........................................................................... 19 OBJECTIVOS................................................................................................... 20 METODOLOGIA............................................................................................... 21 Amostra......................................................................................................... 21 Instrumentos e Procedimentos ..................................................................... 21 RESULTADOS ................................................................................................. 24 DISCUSSÃO .................................................................................................... 26 CONCLUSÕES ................................................................................................ 29 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 31 5 ABREVIATURAS NPD – Natação Pura Desportiva ηP – Eficiência Propulsiva DC – Distância de Ciclo FG – Frequência Gestual MAD – Measure Active Drag – system Vmax – Velocidade Maximal Emax – Potência Metabólica Total Máxima C – Custo Energético Eaer – Potência Metabólica com origem no Sistema Aeróbio Eanaer-la – Potência Metabólica com origem no Sistema Anaeróbio Láctico Eanaer-ala – Potência Metabólica com origem no Sistema Anaeróbio Aláctico ηO – Eficiência Total wtot – Trabalho Mecânico Total ω – Velocidade Angular FD – Arrasto V – Velocidade de Nado D – Distância Percorrida T – Tempo ASC – Área de Superfície Corporal H – Estatura MC – Massa Corporal 6 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Diagrama de corpo livre das forças actuantes sobre um segmento rígido durante o trajecto motor, apresentado a força de arrasto propulsivo (FP), a força ascensional propulsiva (FL), a resultante da soma da FP e da FL (F) em cada posição angular (α) e o comprimento do membro superior (l) (modificado de Zamparo et al., 2005). 7 ÍNDICE DE TABELAS Quadro 1 – Estatística descritiva (média ± desvio-padrão) das variáveis estudadas. Quadro 2 – Associação entre a eficiência propulsiva com as restantes variáveis e respectiva significância estatística. 8 RESUMO A natação pura desportiva (NPD) é uma modalidade cíclica onde o alcançar da máxima performance é o derradeiro objectivo, ou seja, percorrer uma determinada distância no menor tempo possível. O estudo da eficiência propulsiva é um dos assuntos mais interessantes para os investigadores em NPD, já que apresenta uma relação directa no comportamento biofísico do nadador e na sua performance. Desta forma, o presente estudo objectivou analisar a eficiência propulsiva em nadadores jovens e efectuar uma associação com os factores biomecânicos e antropométricos que lhe estão associados, bem como identificar a associação entre a eficiência propulsiva e a performance em nadadores jovens do sexo masculino, para isso, utilizamos 25 atletas federados com um mínimo de 2 anos de prática da actividade. Observámos que os resultados da eficiência propulsiva se mostram inferiores aos descritos na literatura. Encontrámos relação entre a frequência gestual e distância de ciclo com a performance destes atletas. Palavras-chave: natação, antropometria, eficiência propulsiva, performance 9 ABSTRACT The swimming sport is a cyclic mode where the maximum performance achieve is the ultimate objective, in other words, travel a certain distance in the shortest time possible. The study of propulsive efficiency is one of the most interesting subjects for researchers in the swimming sport, because it presents a direct relationship in biophysical swimmer's behaviour and its performance. This way, the objective of the present study is analyze propulsive efficiency in young swimmers and make an association with biomechanical and anthropometric factors associated, as well as identify the association between propulsive efficiency and performance in swimmers young males, for this, we use 25 federated athletes with a minimum of 2 years of practice of the activity. We have observed that the results of efficiency propulsive if show lower than those described in the literature. We have found the relationship between the sign and frequency cycle distance with the performance of these athletes. Keywords: swimming, anthropometry, propulsive efficiency, performance 10 RÉSUMÉ Le sport de la natation est un mode cyclique où la performance maximale est l'objectif ultime, en d'autres termes, une certaine distance de voyage dans les plus brefs délais. L'étude de l'efficacité propulsive est un des subjets plus intéressants pour les chercheurs dans le sport de natation, qui présente une relation directe dans le comportement du nageur biophysiques et sa performance. De cette façon, l'objectif d'étude actuelle est analyser l'efficacité propulsive jeunes nageurs et de faire une association avec les facteurs biomécaniques et anthropométriques, ainsi qu'identifier l'association entre l'efficacité propulsive et de la performance dans les jeunes nageurs maux, pour ce faire, nous utilisons 25 athlètes fédérés avec un minimum de 2 ans de pratique de l'activité. Nous avons observé que les résultats d'efficacité propulsive si montrent plus faibles que celles décrites dans la documentation. Nous avons trouvé la relation entre le signe et la fréquence de cycle de distance avec la performance de ces athlètes. Mots clés : natation, anthropométrie, efficacité propulsive, performance 11 INTRODUÇÃO A natação pura desportiva (NPD) é uma modalidade cíclica onde o alcançar da máxima performance é o derradeiro objectivo, ou seja, percorrer uma determinada distância no menor tempo possível. Para Silva (1996), a natação é uma modalidade desportiva única, uma vez que as características do meio em que se desenvolve têm um papel preponderante na técnica. Para além das dificuldades que o meio aquático oferece ao deslocamento do corpo no seu seio a obtenção de apoios eficazes apresenta-se como condição essencial para um bom desempenho. Assim, o sucesso de um nadador é determinado pela capacidade de gerar força propulsiva, e de minimizar a intensidade do arrasto. Dito por outras palavras, nadadores de elevado nível competitivo conseguem nadar a velocidades superiores com o mesmo dispêndio energético ou nadar à mesma velocidade com dispêndio energético inferior quando comparados com nadadores não experts (Barbosa et al., 2005; 2008). Este facto acarreta atrás de si o conceito de eficiência. À taxa de potência mecânica externa que é utilizada para vencer a força de arrasto dá-se o nome de eficiência propulsiva (Barbosa & Vilas-Boas. 2005). O estudo da eficiência propulsiva (ηp) torna-se, assim, dos assuntos mais interessantes para os investigadores em NPD, já que apresenta uma relação directa no comportamento biofísico do nadador e na sua performance. Diversos estudos foram desenvolvidos no sentido de compreender a dependência da ηp de características biomecânicas e antropométricas, assim como o impacto que esta tem na performance (Pendergast et al., 2003; Toussaint et al., 1988; Zamparo et al., 2005). Toussaint et al. (37) analisaram um nadador olímpico através da abordagem fisiológica. Verificaram que na técnica de crol, a uma velocidade de 1.2 m.s-1, a ηp foi de 58%. Outros estudos afirmam que a ηp na técnica de Crol seja de aproximadamente 50% (Pendergast et al., 2003; Toussaint et al., 1988). Comparando seres humanos com animais aquáticos, existem diferenças substanciais na ηp. Na técnica de nado aparentemente mais eficiente, o humano apresenta uma ηp ligeiramente superior a 50%. Por seu lado, a ηp de peixes, como por exemplo de atuns, a deslocarem-se a um comprimento 12 corporal por segundo será superior a esse valor. O motivo poderá ser a maior superfície propulsiva dos animais aquáticos, aliado ao menor coeficiente de arrasto de todo o corpo, em comparação com a dos seres humanos (Barbosa & Vilas-Boas. 2005). Uma das técnicas mais citadas na literatura para avaliação da ηp é o MAD (Measure Active Drag) - system desenvolvido por Hollander et al. (1986). Este sistema permite que o nadador se desloque na água tendo como pontos de propulsão uma sucessão de apoios fixos, mas apresenta uma grande limitação que decorre da impossibilidade de avaliar as variáveis em estudo a velocidades próximas das verificadas em competição. A necessidade de nadar abaixo do limiar anaeróbio, implica a adopção de velocidades inferiores às observadas em contexto competitivo. Neste sentido será importante que as metodologias de avaliação de jovens nadadores sejam de fácil aplicação e sem recurso a sistemas dispendiosos. Os estudos levados a cabo por Zamparo (2006) mostram que isso pode ser levado a cabo com bons resultados. Apesar de já descrito o comportamento da ηp em nadadores de diversos níveis competitivos, o seu entendimento enquanto influenciadora nas restantes variáveis determinantes do ciclo gestual parece não estar completamente esclarecido. Desta forma o presente estudo objectivou analisar a eficiência propulsiva em nadadores jovens e efectuar uma associação com os factores biomecânicos e antropométricos que lhe estão associados, bem como identificar a associação entre a eficiência propulsiva e a performance em nadadores jovens do sexo masculino. 13 REVISÃO DA LITERATURA O principal objectivo de uma NPD é percorrer determinada distância no menor tempo possível. Para que tal seja possível, o nadador deve deslocar-se à sua máxima velocidade. Com efeito, a velocidade maximal em natação depende de (Zamparo, Lazzer, Antoniazzi, Cedolin, Avon, & Lesa, 2008): (1) Onde vmax é a velocidade maximal, Emax é a potência metabólica total máxima e C o custo energético. Verifica-se então que a performance em natação pura desportiva é fortemente condicionada por pressupostos bioenergéticos [expresso pelo numerador da equação (1)] e por pressupostos biomecânicos [expresso pelo denominador da equação (1)] (Barbosa, Keskinen, & Vilas-Boas, 2006). Na realidade, o Emax pode ser quantificado como sendo (Capelli, Pendergast, & Termin, 1998): (2) Onde Emax é a potência metabólica total máxima, Eaer é a potência metabólica com origem no sistema aeróbio, Eanaer-la é a potência metabólica com origem no sistema anaeróbio láctico e Eanaer-ala é a potência metabólica com origem no sistema anaeróbio aláctico. Todavia, mesmo em provas de natação de curtas distâncias, o contributo percentual do Eanaer-ala para o Emax é negligenciável (Capelli et al., 1998). Quanto ao C, este pode ser quantificado como sendo (Zamparo, 2006): (3) Onde C é o custo energético, ηO a eficiência total, wtot o trabalho mecânico total e ηP a eficiência propulsiva. Com efeito, o estudo da eficiência propulsiva (ηp) é um dos assuntos mais interessantes para os investigadores em natação pura desportiva, já que tem uma repercussão directa no comportamento biofísico do nadador e na sua performance (Barbosa et al., 14 2006). Estima-se que a eficiência propulsiva na técnica de Crol seja de aproximadamente 50 % (Pendergast et al., 2003; Toussaint et al., 1988). Neste caso, apenas 50 % da potência metabólica gerada serve para a produção de trabalho mecânico externo com repercussão na translação do centro de massa do nadador. A restante potência metabólica perde-se por diversos fenómenos como a termo-regulação, o trabalho postural, a co-activação e/ou absorção muscular (Winter, 1990), ou a transferência de energia cinética para a massa de água (de Groot, & van Ingen Schenau, 1988). Uma das técnicas mais citadas na literatura para avaliação da ηP é o MAD (Measure Active Drag) - system desenvolvido por Hollander et al. (1986). Este sistema permite que o nadador se desloque na água tendo como pontos de propulsão uma sucessão de apoios fixos. Outra técnica, sugerida por Cappaert, Bone, e Troup (1992a), recorre a um sistema tridimensional de análise da cinemática segmentar. Todavia, a aplicabilidade destas técnicas não é excluída de limitações, tais como: (i) o custo económico; (ii) o tempo necessário para montar o equipamento; (iii) o tempo necessário para adquirir e processar os dados; (iv) o nível de expertise do avaliador na aquisição dos dados e; (v) salvo melhor opinião, o MAD-system não ter sido validado para sujeitos de escalões de formação. Neste sentido, o modelo teórico de Martin, Yeater, e White (1981), e mais tarde desenvolvido por Zamparo, Pendergast, Mollendorf, Termin, e Minetti (2005), pode ser uma opção a considerar pela sua simplicidade de operacionalização. Considere-se o membro superior como um segmento rígido que efectua uma revolução completa, em que metade dessa revolução é executada com o segmento imerso (i.e., o trajecto motor) e a outra metade da revolução com o segmento emerso (i.e., a fase da recuperação) como expresso na figura 1. 15 Figura 1. Diagrama de corpo livre das forças actuantes sobre um segmento rígido durante o trajecto motor, apresentado a força de arrasto propulsivo (FP), a força ascensional propulsiva (FL), a resultante da soma da FP e da FL (F) em cada posição angular (α) e o comprimento do membro superior (l) (modificado de Zamparo et al., 2005). Se a posição angular α do membro superior varia entre 0 e π, com uma dada frequência gestual (FG), a velocidade angular ω é dada por: (4) O trabalho mecânico útil é definido como: (5) De acordo com 2ª lei newtoniana, esta força deve ser igual e oposta ao arrasto FD, considerando a massa m e a aceleração a. Logo: (6) Se o movimento for uniforme: (7) O trabalho mecânico total é calculado com base no momento na articulação escápulo-umeral, onde l é o comprimento do membro superior: (8) A eficiência instantânea neste tipo de locomoção é o rácio do trabalho mecânico “útil” e o trabalho mecânico total: 16 (9) Ao longo de um trajecto motor entre 0 e π, a eficiência média é: (10) Como a contribuição dos membros superiores para a propulsão é de sensivelmente 90 % (Hollander et al., 1986): (11) A equação (11) consiste na estimação da eficiência de Froude. A diferença entre a eficiência de Froude e a eficiência propulsiva decorre da primeira não tomar em consideração o efeito do trabalho mecânico interno para o trabalho mecânico total produzido. Contudo, dada a amplitude de velocidades que os nadadores não experts atingem, o trabalho mecânico interno pode ser considerado como negligenciável (Zamparo et al., 2005). Portanto, nesta circunstância, a eficiência propulsiva apresenta um valor próximo da eficiência de Froude. Diversos estudos foram desenvolvidos no sentido de compreender a dependência da ηp de características biomecânicas e antropométricas, assim como, a sua influência na performance. Teoricamente, foi definida a existência de uma relação directa da ηp com a distância de ciclo (DC) e inversa com a FG (Toussaint, & Hollander, 1994). Mais ainda, sabe-se que existe uma relação inversa entre o C e o ηp (Barbosa, Fernandes, Keskinen, & Vilas-Boas, 2008) e verificou-se a existência de uma relação positiva entre o C e a FG (Barbosa, Keskinen, Fernandes, Colaço, Carmo, & Vilas-Boas, 2005). Por outro lado, sugere-se a existência de uma associação significativa entre a ηp e diversas características antropométricas. Por exemplo, a envergadura pode induzir aumentos da DC e, consequentemente, aumentos na ηp (Toussaint, 1990). Paralelamente, verificou-se que os nadadores de melhor nível competitivo apresentavam valores superiores de ηp (p.e., Toussaint, 1990) e que esta era 17 superior na prova na qual o nadador era especialista (Cappaert, Franciosi, Langhand, & Troup, 1992b). Não obstante este tipo de estudos ser frequente em nadadores adultos e de elite (p.e., Barbosa et al., 2008; Cappaert et al., 1992a; Cappaert et al., l992b; Toussaint, 1990), poucos são os trabalhos desta índole nos escalões de formação (p.e., 9 Zamparo, 2006). Mais ainda, tanto quanto é possível apurar não parece existir investigação sobre esta temática em jovens nadadores. 18 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA Com o presente trabalho pretende-se perceber quais os principais factores que influenciam o rendimento desportivo em jovens nadadores, do sexo masculino, incidindo-se a análise na eficiência propulsiva e em factores biomecânicos e antropométricos. Assim, este estudo pretende dar resposta à seguinte questão: será que a eficiência propulsiva e factores biomecânicos e antropométricos influenciam o rendimento desportivo em jovens nadadores? 19 OBJECTIVOS 1.1. Definição de objectivos 1.1.2 Objectivo geral: 1. Analisar a eficiência propulsiva e os factores biomecânicos e antropométricos que influenciam o rendimento desportivo em natação. 1.1.3 Objectivos específicos: 1. Estimar a eficiência propulsiva em nadadores jovens do sexo masculino. 2. Identificar os factores biomecânicos e antropométricos que estão associados à eficiência propulsiva em nadadores do sexo masculino. 3. Identificar a associação entre a eficiência propulsiva e a performance em nadadores jovens do sexo masculino. 20 METODOLOGIA Amostra A amostra foi constituída por um total de 25 nadadores do sexo masculino (12,80±0,764 anos de idade). Para os objectivos deste estudo foi determinado como parâmetro de selecção dos indivíduos que fossem clinicamente saudáveis, não apresentando qualquer patologia músculoesquelética nos seis meses antecedentes à recolha de dados. Para além disso, os indivíduos tinham que ser praticantes federados de natação com um mínimo de dois anos de prática. Foi solicitada autorização aos pais e/ou encarregados de educação dos nadadores para estes fazerem parte do estudo. Instrumentos e Procedimentos Estimação da eficiência propulsiva Para a estimação da eficiência propulsiva, cada nadador realizou três repetições de 25 metros à velocidade média correspondente à prestação num teste máximo de 100 metros Crol efectuado por todos os nadadores na semana que antecedeu as avaliações. Assumiu-se um intervalo mínimo de 60 segundos entre repetições. A partida foi efectuada dentro de água, de modo a minimizar o deslize e o percurso subaquático. Cada nadador executou o percurso sozinho, de forma a reduzir o efeito de drafting ou a alteração do ritmo de nado imposto. A ηp foi estimada como descrito na equação (11). O comprimento do membro superior foi calculado com recurso a uma correcção trigonométrica da distância entre a articulação escápulo-umeral e o terceiro dedo, considerando o ângulo relativo médio entre o antebraço e o braço descrito por Zamparo (2006) para nadadores de igual idade cronológica e sexo. Avaliação biomecânica Os três percursos de 25 metros para estimação da eficiência propulsiva foram gravados por duas câmaras de vídeo. Uma câmara (Sony, DSC-W35, Sony Corporation) encontrava-se no plano sagital, com o eixo óptico perpendicular à trajectória do nadador, no cais da piscina e captando os 15 21 metros intermédios do percurso a ser nadado. A outra câmara (Sony, DSCW35, Sony Corporation) estava no plano oblíquo, numa banca, alinhando o seu eixo óptico com a pista. A partir das imagens gravadas pelas duas câmaras foi calculada a velocidade de nado nos 15 metros intermédios de cada percurso: (12) Onde v é a velocidade de nado (m.s-1), d é a distância percorrida (m) e t o tempo dispendido para percorrer a distância (s). De igual modo, a partir das mesmas imagens, foi avaliada a frequência gestual (FG, Hz) nos 15 metros intermédios do percurso, com um crono-frequencímetro de base 3 (Golfinho Sports MC 815, 4 Aveiro, Portugal) e posteriormente convertida em unidades do sistema 5 internacional (Hz). A distância de ciclo (DC, m) foi calculada sabendo que (Craig, & 6 Pendergast, 1979): (13) Onde DC é a distância de ciclo, v a velocidade de nado e FG a frequência gestual. Avaliação antropométrica Para avaliação da estatura e da massa corporal utilizou-se, respectivamente, uma balança (SECA, 884, Hamburgo, Alemanha) e um estadiómetro (SECA, 242, Hamburgo, Alemanha). A área de superfície corporal foi estimada como sendo (Haycock, Schwartz, & Wisotsky, 1978): (14) Onde ASC (m2) é a área de superfície corporal, mc a massa corporal (kg) e h a estatura (m). 22 Avaliação da performance A performance foi obtida com recurso ao melhor tempo (s) nas provas supra-máximas de 50 metros, 100 metros, 200 metros e 400 metros livres. A partida foi realizada do bloco e pediu-se aos sujeitos para cumprir a prova à máxima velocidade, como se uma situação competitiva se tratasse. A ordem das provas entre os sujeitos foi aleatória e com um intervalo mínimo de 24 horas entre elas. Todas as provas foram realizadas à mesma hora do dia para minimizar o possível efeito do ritmo circadiano. Todas as provas foram realizadas mais uma vez com o nadador sozinho, sem outro nadador na pista de forma a reduzir o efeito de drafting ou de alteração do ritmo de nado. Procedimentos estatísticos Foi calculada a estatística descritiva (média e um desvio-padrão) de todas as variáveis em estudo. Para determinação do grau de associação entre a eficiência propulsiva e as características antropométricas, a performance e as características biomecânicas adoptou-se o coeficiente de correlação de R de Pearson. Em todas as situações o nível de significância foi determinado para p≤0,05. 23 RESULTADOS O quadro 1 apresenta a estatísticas descritivas de todas as variáveis estudadas. Quadro 1. Estatística descritiva (média ± desvio-padrão) das variáveis estudadas Variáveis Resultados ηp (%) M±DP 20,82 ± 2,20 V (m.s-1) 1,45 ± 0,15 FG (Hz) 0,94 ± 0,07 DC (m) 1,58 ± 0,19 Estatura (m) 1,54 ± 0,10 Massa Corporal (kg) 44,60 ± 7,53 ASC (m2) 1,39 ± 0,15 Idade 12,80 ± 0,76 50m Livres 35,25 ± 5,07 100m Livres 70,66 ± 6,57 200m Livres 151,99 ± 16,05 400m Livres 327,19 ± 35,85 24 O quadro 2 representa a associação entre a eficiência propulsiva com as restantes variáveis e respectiva significância estatística. Quadro 2. Associação entre a eficiência propulsiva e as restantes variáveis e respectiva significância estatística. Variáveis Resultados da Correlação p V (m.s-1) 0,135 ns FG (Hz) -0,746** p≤0,01 DC (m) 0,648** p≤0,01 Estatura (m) -0,201 ns Massa Corporal (kg) 0,035 ns ASC (m2) -0,062 ns Idade 0,018 ns 50m Livres 0,073 ns 100m Livres 0,015 ns 200m Livres -0,061 ns 400m Livres -0,033 ns ** p≤0,01 ns: Não significativo Como podemos observar do quadro 1 a média da ηp é baixa com valores de 20,82 ± 2,20. Em relação ao quadro 2, destacamos a relação existente entre os valores de FG (-0,746** / р≤0,01), de DC (0,648** / р≤0,01), com a ηp. 25 DISCUSSÃO O presente estudo teve como objectivos determinar quais os principais factores que influenciam o rendimento desportivo em jovens nadadores, do sexo masculino, incidindo-se a análise na eficiência propulsiva e em factores biomecânicos e antropométricos. Segundo a literatura confirma-se que um dos melhores marcadores do nível competitivo é a ηp, como sugere o estudo “clássico” de Toussaint (1990). Os valores médios da ηp foram de 20,82 ± 2,20. Com efeito, os valores obtidos revelam-se bastante inferiores aos descritos na literatura para nadadores de competição, estando estes próximos dos 50% (Toussaint et al., 1988), com recurso ao MAD-system; ou de 61,5 ± 10,2%, para nadadores de longas distâncias, adoptando a cinemetria como metodologia de avaliação (Cappaert et al., 1992b). Comparando estes valores com nadadores de igual idade cronológica, mas de nível competitivo superior, estimados pela mesma metodologia, continuam a ser inferiores. Segundo Zamparo et al. (2008), nadadores masculinos de 13 anos apresentaram uma ηp de 33 ± 3%. Ao associarmos a ηр com as restantes variáveis, podemos ver que na amostra seleccionada os factores antropométricos não tiverem grande relação estatística. Uma das variáveis antropométricas mais associadas à performance (Grimston, & Hay, 1986) e à resposta hidrodinâmica (Kjendlie & Stallman, 2008) é a estatura. A estatura é um factor determinante no número de Froude (equação 11). Os dados obtidos não vão de acordo com estes estudos o que pode explicar a razão da ηр apresentar valores abaixo do descrito para nadadores deste nível competitivo. Na equação de Froude (11), as variáveis independentes da ηр são a V, a FG e o comprimento do membro superior. Os dados analisados permitem-nos afirmar que não houve relação significativa entre estas variáveis e a ηр. No nosso caso houve apenas relação estatisticamente significativa entre a FG e a ηр. Dado que a ηp é estimada com base na velocidade de nado e na FG, é natural que a associação seja significativa. 26 Ainda relacionado com a equação de Froude (11), depreendemos que a baixa velocidade pode estar relacionada com a baixa estatura da amostra. Algumas dimensões antropométricas estão associadas à performance e à eficiência ou ao custo energético de nado (Grimston, & Hay, 1986; Meira, Reis, Silva, Carneiro, Reis, 23 & Aidar, 2008). Desde logo, sujeitos mais altos tendem a apresentar uma maior envergadura, o que, por sua vez, impõe uma maior DC para a mesma V e consequentemente, menor C ou uma maior ηp. A baixa estatura da amostra pode explicar esta baixa velocidade de nado e explicar o porquê da velocidade não se relacionar com a ηр. A idade não teve significância estatística com a ηр, isto pode ser explicado pelo facto de a amostra ter apresentado velocidades de deslocamento reduzidas e frequências gestuais similares. Estes valores foram descritos no estudo de Zamparo (2006) que incluiu nadadores da mesma faixa etária, e onde não se observaram grandes relações entre a ηр e a idade até à puberdade A Massa não apresentou relação estatística com a ηр. O Mesmo acontece para a ASC, que utiliza no seu cálculo a Massa e a Estatura. Os parâmetros biomecânicos nas provas realizadas, não apresentaram associações significativas com a ηp. Mais uma vez, dado que a ηp é estimada com base na velocidade de nado e na FG, seria de esperar que as correlações fossem significativas. Como descrito na equação (13), a DC é obtida através dessas mesmas variáveis, e como se pode ver no quadro 2, existe relação estatística entre elas. Ainda assim, na literatura, descreve-se que a ηp está positivamente associada a níveis superiores de V e de DC (p.e., Toussaint, & Hollander, 1994; Zamparo et al., 2005). Por outro lado, sabe-se que existe uma relação inversa entre o custo energético e a ηp, como expresso na equação (3). Logo, valores superiores de custo energético decorrem de maiores frequências gestuais e/ou menores distâncias de ciclo para uma dada velocidade de nado (Barbosa et al., 2005; 2008). Estes dados podem explicar o facto de a relação entre a ηp e nas provas de 50 metros livres, 100 metros livres, 200 metros livres e 400 metros livres não se correlacionarem, pois de 27 alguma forma o custo energético, associado a uma menor V e a baixa estatura, levou a uma menor ηp. Ainda em relação à performance, sendo a V um elemento-chave para a consecução da distância da prova no menor intervalo de tempo possível, considera-se que existirá uma relação entre a ηp e a performance. Apesar de no nosso estudo não termos conseguido replicar os valores descritos na literatura, podemos afirmar que essa relação positiva entre a ηp e a performance vem de alguma forma reforçar a importância dos aspectos e treino técnicos na melhoria do rendimento desportivo. Neste sentido, e sabendo-se da importância que a melhoria do rendimento pode ter no aumento da motivação e adesão à prática desportiva, os técnicos desportivos deverão focalizar a sua atenção também nos aspectos técnicos que influenciam a eficiência propulsiva e, desta forma, a performance em natação (Fernandes, 1999). 28 CONCLUSÕES Após a conclusão deste estudo, podemos afirmar que existem várias variáveis que influenciam a eficiência propulsiva. A partir dos resultados obtidos verificámos que em relação à amostra as variáveis que influenciaram directamente a eficiência foram a FG e a DC. No que à literatura diz respeito, a eficiência é também influenciada fortemente pela estatura e envergadura dos nadadores. Este facto pode, como foi descrito, influenciar positivamente a eficiência, pois maior estatura leva a uma maior velocidade. Isto para nadadores da mesma idade cronológica e sexo da amostra seleccionada. A questão relacionada com a estatura foi sem dúvida o factor que mais influenciou negativamente a prestação e eficiência propulsiva. Isto ligado a uma hipotética falta de qualidade técnica da amostra pode ter levado a uma fraca prestação em relação aos estudos descritos na literatura. Existem algumas limitações que teremos de apontar: (i) o facto de esta abordagem ser uma estimativa e não uma avaliação da eficiência propulsiva; (ii) a impossibilidade de estimar esta variável nas restantes técnicas de nado; (iii) a subestimação da ηp decorrente de não tomar em consideração o contributo da acção dos membros inferiores para a velocidade de deslocamento do centro de massa do nadador; (iv) a necessidade de implementar um estudo semelhante a um grupo; (v) o factor de não trabalhar directamente com nadadores num clube, não nos permitiu aceder a todos os dados que gostaríamos; (vi) seria necessária uma maior recolha de dados antropométricos que ajudassem a fundamentar os dados obtidos através das fórmulas. Parece ser interessante de futuro alargar este estudo a outros escalões etários, de forma a tentar compreender de que forma e que tipos de associações se estabelecem entre a eficiência propulsiva e a performance em natação. Acreditamos que com a melhoria das limitações apresentadas ao estudo, os resultados daí resultantes poderão ser um instrumento importante 29 no ensino da componente técnica e na organização das sessões de treino por parte dos profissionais que trabalham com os jovens nadadores. 30 BIBLIOGRAFIA Alves, F. (1995). Economia de nado e prestação competitiva: Determinantes mecânicas e metabólicas nas técnicas alternadas. Tese de Doutoramento não publicada, Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa. Barbosa, T.M., Fernandes, R.J., Keskinen, K.L., & Vilas-Boas, J.P. (2008). The influence of stroke mechanics into energy cost of elite swimmers. European Journal of Applied Physiology, 103, 139-149. Barbosa, T.M., Keskinen, K.L., Fernandes, R.J., Colaço, C., Carmo, C., & VilasBoas, J.P. (2005). Relationship between energetic stroke determinants and velocity in butterfly stroke. 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