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O ALCORÃO E A BÍBLIA
O Alcorão é um livro venerado por mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo.
Os muçulmanos crêem que suas escrituras sagradas é a palavra eterna e literal de Deus,
que já existia no céu, e que foi revelada pouco a pouco ao profeta Maomé, em árabe,
pelo anjo Gabriel, num intervalo de 23 anos. Por ser a revelação final de Deus depois de
ter revelado a Tora a Moisés e os Evangelhos a Jesus, é a mais importante das escrituras
sagradas. É composto por 114 capítulos, chamados Suras, e foi inicialmente
memorizado por Maomé, que recitava as revelações a seus seguidores (daí o nome que,
transliterado do árabe, seria al-Qur’an, ou seja, recitação), que por sua vez
memorizavam as passagens e as anotavam.
Quando Maomé morreu o Alcorão ainda não existia na forma de um livro. Foi Abu
Baker, o primeiro sucessor do profeta, que ordenou a um homem de sua confiança que
preparasse uma coleção escrita dos textos do Alcorão que estavam espalhados por toda
a península arábica e regiões vizinhas. Esses textos foram encontrados com os
seguidores de Maomé que os havia anotado em talos de folhas de palmeiras, pedras
brancas finas e outros artefatos, além de adquiri-los também daqueles que haviam
memorizado todo o conteúdo das revelações. Um texto inicial foi escrito, o manuscrito
permaneceu com Abu Baker até sua morte, foi passado para o segundo califa, Omar, e
posteriormente para Hafsa, sua filha e uma das viúvas de Maomé.
Como várias cópias diferentes do Alcorão começaram a circular, Otoman, o terceiro
califa, decidiu que o manuscrito que estava com Hafsa deveria ser concluído, três cópias
seriam feitas e todos os demais textos deveriam ser destruídos. Cópias do texto “oficial”
foram feitas e amplamente distribuídas.1
O texto do Alcorão que temos hoje, portanto, é o mesmo que foi compilado e
distribuído sob as ordens de Otoman, no século VII, aproximadamente 20 anos após a
morte de Maomé. Desde então ele foi traduzido a centenas de idiomas ao redor do
mundo, mas essas traduções são consideradas apenas interpretações do texto original em
árabe, que é o único considerado autoritativo pelos muçulmanos Sunitas.
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Riddell, Peter G., and Peter Cotterell. Islam in Conflict, 59.
©Marcos Amado
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A ordem final das Suras não é cronológica nem temática, o que causa certa frustração
para os menos iniciados que tentam entender seu conteúdo. Aparentemente o critério
usado foi o de colocar as Suras mais longas no começo do livro, e as mais curtas no
final. Como a vida de líder religioso e político de Maomé é dividida em duas partes (o
período em Meca e, posteriormente, em Medina), em alguns casos é de suma
importância, para uma melhor compreensão do texto, saber se certas passagens foram
proferidas no início do seu "ministério" (Meca) ou no final (Medina). No entanto,
através dos séculos vários acadêmicos tentaram fazer uma definição aproximada, mas
nenhuma delas é universalmente aceita.
Principais diferenças entre o Alcorão e a Bíblia
Além de uma grande diferença de conteúdo (que, por si só, seria tema para outro texto),
existem várias diferenças entre a Bíblia e o Alcorão que merecem ser brevemente
citadas.
A Bíblia foi formada em um espaço de milhares de anos, com a participação de dezenas
de autores divinamente inspirados, que viveram na Palestina e fora dela. É composta por
66 livros divididos em capítulos, e organizada em diferentes seções (Pentateuco, Livros
Históricos, Livros Poéticos, Profetas Maiores, Profetas Menores, Evangelhos e Atos,
Epístolas Paulinas, Cartas Gerais e Apocalipse). Foi originalmente escrita em vários
idiomas (hebraico, aramaico e grego) e possui uma variedade de estilos literários. Os
cristãos não crêem que, por ser inspirado, o conteúdo da Bíblia foi ditado palavra por
palavra (mesmo que em alguns casos, como os profetas, isso tenha ocorrido), mas que
Deus, na sua soberania, permitiu que os diferentes autores, guiados pelo Espírito Santo,
deixassem transparecer sua personalidade, anotassem fatos históricos por meio dos
quais lições poderiam ser aprendidas, expressassem poeticamente suas convicções e
temores, tudo isso sem nenhum prejuízo do resultado final, que é exatamente o que
Deus queria que fosse.
Já o Alcorão foi formado em um espaço curto de tempo (menos de um quarto de
século), dentro de um só contexto geográfico, lingüístico e social, por uma só pessoa
que viveu toda sua vida em uma só região geográfica e que, de acordo com a crença
©Marcos Amado
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muçulmana, não teve nenhuma participação no estilo ou no conteúdo, mas que recebeu
tudo de Deus, palavra por palavra, em um só idioma, através de um intermediário
divino.
São duas concepções totalmente diferentes que, certamente, influenciam nossa maneira
de interpretar o conteúdo de dois livros que afetaram, e continuam afetando, a vida de
milhões de pessoas e o curso da história da humanidade.
Marcos Amado
©Marcos Amado
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