Leonardo “Amendoim” Conquista à Tailândia por Worney Almeida de Souza As artes marciais proporcionam muitas perspectivas para seus praticantes. Desde o vigor físico, a saúde aprimorada, a disciplina, a filosofia de vida e a adrenalina da competição. Muitos conseguem o retorno financeiro de uma carreira de sacrifígues, octógonos e na mídia. Mas somente alguns atletas atingem resultados inesperados e gratificantes como Leonardo Monteiro Silva, o Amendoim, que com espontaneidade e alegria conquistou a Tailândia! 14 - Foto: Selleri cios e outros o estrelato nos rin- Leonardo Monteiro Silva, o popular Amendoim, 33 anos, nasceu em São Paulo, no bairro do Parque Peruche (na Casa Verde). O bairro da Casa Verde é conhecido como a ‘Morada do Samba’ e abriga três escolas de samba muito queridas: Império de Casa Verde, Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde. No bairro também nasceram grandes esportistas como o boxeador e campeão mundial Eder Jofre e o medalhista olímpico no salto Ademar Ferreira da Silva. A mãe de Leonardo, Marlene, paulista e bibliotecária, criou os dois filhos, desde pequenos, sozinha. Leonardo foi uma criança arteira, mas tinha boas notas na escola. Seu irmão mais novo (hoje com 31 anos de idade) Gustavo, era seu companheiro de brincadeiras, mas era mais tranquilo, prestava mais atenção nas aulas, estudava mais e, assim, tinha melhores notas. Os irmãos gostavam de jogar bola na rua e praticavam natação. Leonardo teve asma e bronquite até os 13 anos de idade. O problema foi resolvido com muita inalação e persistência de dona Marlene. Logo depois, quando cursava o colegial, Leonardo começou a praticar Capoeira. O futuro atleta gostava de assistir lutas de Boxe pela TV, mas seu interesse por lutas marciais foi despertado quando alugou as fitas de VHS do “UFC 1” e do “UFC 2”. O jovem ficou impressionado com as lutas e os golpes de Royce Grace, Maurice Smith, Marco Ruas e Tasis Tosca Patritis. Gostava de lutas que usavam os pés como o Muay Thai e o Kickboxing. Leonardo ficou interessado, mas não sabia onde poderia treinar, até que Eduardo Pamplona, um de seus instrutores de Capoeira, começou a praticar Muay Thai, com o mestre Moises Gibi. Leonardo praticou Capoeira dos 15 aos 22 anos e considera que a arte marcial brasileira fez dele um atleta dedicado, treinando sério e seguindo uma alimentação adequada. Dos 16 aos 19 anos, Leonardo estudou no Senai e se formou como técnico de Mecânica. Em 2002, Eduardo Pamplona levou o pupilo para treinar Muay Thai, Foto: Selleri INFÂNCIA E INÍCIO NOS ESPORTES Leonardo Amendoim no acervo da revista “Combat Sport” onde encontrou imagens e referências de amigos e lutadores na Tailândia na Academia Gracie Butantã, Leonardo se recorda: “No primeiro treino eu fiquei me perguntando quanto tempo levaria para aprender a dar um soco. Eu não tinha coordenação motora e pensei que seria muito difícil. Mas eu gostei e fui insistindo, tinha vários atletas que me inspiravam, como o próprio Pamplona. Nessa época, fiquei mais de um ano treinando só aos sábados. Tinha uma carga horária muito intensa durante a semana, estava na faculdade e também trabalhava.” O ritmo de vida de Leonardo, na época, era muito puxado: levantava cedo, ia para a Musculação, fazia estágio em Mecânica, treinava Capoeira e trabalhava na editora Abril, das 18 às 23h. Logo depois, Leonardo entrou na faculdade Belas Artes. COMPETINDO NO MUAY THAI Em 2004, Leonardo começou a competir no Muay Thai, sua primeira luta foi no campeonato Panamericano, contra Leonardo Lívio, de Goiás, foi sua primeira vitória. A segunda luta do torneio foi contra o lutador de Boxe, Jeferson Gonçalo (falecido recentemente), Leonardo achou que havia ganho os dois primeiros rounds, mas - 15 Foto: Andrey Klagenberg perdeu o fôlego no último e foi derrotado por pontos. tinha nada: não tinha ninguém para nos buscar no Apesar da derrota, o lutador ficou empolgado e fez quaaeroporto, não tinha o hotel para ficar, não tinha acatro confrontos como amador. Seu primeiro evento prodemia. Nosso único contato era Douglas Villefort, que fissional no “Nitro” (organizado por Jefferson “Tank”), morava lá.” em 2005, ganhou de Evaldo Ribeiro e recebeu o troféu Douglas deu algumas dicas sobre como usar o cartão de revelação. O jovem atleta continuou competindo e a internacional e algumas coordenadas básicas sobre a luta que considera a mais dura de sua carreira foi concidade. Falando um pouco de inglês, os três pegaram tra Anderson Coelho (da equipe de um taxi, no aeroporto, e foram para Roney Alex), realizada durante o a rua dos turistas em Bangkok, “Demolition II”, em 23 de outubro de chamada Kaosan Road. Se insta2005. Leonardo não esquece: “Foi laram em um hotel barato (guest a pior luta da minha vida! Nunca tohouse) e foram procurar a academei tanto soco na cara! Tenho 75 mia indicada por Maurício Neto lutas, mas aquele combate foi o que (promotor do “Demolition”), mas o eu mais sofri. Não esperava que local era pequeno e longe de onde aquele cara me desse tanta presos três lutadores estavam hospesão e a luva era muito pequena, padados. recia de bater saco! Mas foi bom porque me abriu a mente para uma A alternativa foi dada por Sandro coisa: meus técnicos insistiam em que tinha uma foto de Pailot Noi A grande luta contra Anderson treinar mais as mãos, mas eu não (lutador tailandês que morara no Coelho no Demolition II queria, gostava de dar chutes e joeBrasil). “Ele saiu com a foto e foi lhadas. Isso fez com que eu aprenaté o Lumpinee, o mais famoso esdesse a ouvir mais meus professotádio da Tailândia, perguntando se res. Mas confesso que até hoje gosto muito mais de alguém conhecia o cara da foto, aí alguém ligou para o dar chutes e joelhadas do que usar a mão.” Pailot. Combinamos que o tailandês iria passar no dia seguinte para nos levar para a academia, que também No Brasil, além do “Demolition”, Leonardo lutou no deera fora de Bangkok.” Pailot encontrou Amendoim e safio profissional da Feplam e no Grand Prix, também Sandro (Cosmo estava curtindo a lua de mel nas ilhas organizado pela Federação, chegando à final, perdendo sul do país) e levou a dupla para a academia do para Marlon Moraes. Leonardo fez uma luta imporRomsritong, em Kratumbaen a 40 minutos de bangkok. Cosmo se juntou aos amigos e eles começaram a treitante contra Boinha, na cidade de Piraju e, depois de nar no novo espaço. Logo vieram as primeiras lutas e uma luta muito parelha, perdeu por pontos. o ganho de experiência. A VIAGEM PARA A TAILÂNDIA Em 2007, Leonardo treinava no Thai Center e juntamente com Cosmo Alexandre e Sandro de Castro resolveram passar uma temporada de seis meses na Tailândia. Leonardo tinha algum dinheiro guardado e resolveu investir. Assim os três aventureiros embarcaram para a Tailândia. Leonardo foi acompanhado por sua namorada, Max e Cosmo, recém casado, aproveitou para fazer a lua de mel no país asiático. O viajante lembra a chegada em Bangkok: “A gente não 16 - Sandro voltou ao Brasil, dois meses depois, para continuar administrando sua academia, mas Leonardo e Cosmo insistiram: “Quando eu cheguei na Tailândia, só tinha dez lutas, tinha que fazer alguns combates para pegar experiência e o jeito de lutar na Tailândia, tive que começar do zero, fui para o norte do país. Tudo era novo; casa nova e academia também. Nisso o Cosmo foi chamado para um reality show na Europa e eu fui para Koh Samui. Fiquei um ano e meio, sempre lutando e depois voltei para Bangkok.” A VIDA NA TAILÂNDIA Se a escolha em morar no Brasil ou na Tailândia, Amendoim tem a resposta: “Hoje em dia, eu prefiro a Tailândia: as coisas são baratas, é seguro, não tem violência, não tem assalto, a comida é muito boa, eu gosto muito. Os brasileiros geralmente não gostam porque a comida é doce ou apimentada, nós gostamos de comida salgada, isso é uma coisa cultural, então tem gente que se adapta melhor, outros não. Na Tailândia, as residências são muito pequenas, geralmente um quarto com banheiro, então as pessoas compram comida, pouca gente faz comida em casa. O clima é outro diferencial; é quente como o Nordeste.” Já Max, a companheira de Leonardo, se adaptou muito bem ao novo país: “Minha mulher também se acostumou muito fácil à cultura tailandesa. Ela é formada em Marketing e Comunicação e tinha um ótimo emprego no Brasil, carro, tinha acabado de comprar uma casa. Tinha a vida resolvida aqui, a gente se conhecia há seis meses, eu disse que estava indo para a Tailândia e a convidei para ir com a gente. Para minha surpresa, ela aceitou! Max disse que precisava de umas férias, vendeu a casa, saiu do emprego e foi comigo. No final deu certo, estamos juntos até hoje.” Amendoim virou uma referência para os brasileiros que viajavam para a Tailândia e Max, que desenvolvia alguns trabalhos na internet, resolveu montar a página eletrônica: malathai.com que apresenta dicas sobre o país. O site assessora os viajantes desde a chegada ao aeroporto, hotéis, academias, alimentação e tudo o mais para se ambientar na distante região asiática. O site acabou virando um negócio, tanto que pela grande difusão do malathai.com, Max foi convidada para gerenciar uma academia na cidade de Puket, a 700 km de Bangkok. Na Tailândia, o Muay Thai é o esporte nacional e qualquer cidade tem um estádio onde os combates se realizam. Existem várias entidades organizando torneios e, praticamente, se luta todo o dia. Em Bangkok os principais estádios são o Lumpinee e o Rajadamnern. Já da forma de lutar, Leonardo afirma que: “na Tailândia é mais fácil marcar pontos com chutes e joelhadas, do que com os punhos.” Leonardo está no Brasil em férias, mas está sendo muito solicitado para ministrar palestras e realizar seminários sobre sua experiência como lutador. Já foi para Goiânia, Brasília e Maceió. Sobre o futuro, o experiente Amendoim projeta: “Hoje tenho 75 lutas, mas já estou próximo de me aposentar dos ringues e seguir com outros projetos sempre envolvidos com o Muay Thai.” Como se vê, a garra e a perseverança ajudaram Leonardo Monteiro Silva a vencer os desafios dentro e fora do ringue e conquistar seu merecido espaço no distante país asiático. Contato: site: www.leoamendoim.com facebook: facebook.com/leoamendoim email:[email protected] / [email protected] Twitter: lmonteiros Instagram: lmonteiros - 17