ARTE E INCLUSÃO: DE QUE MANEIRA A ARTE PODE COLABORAR PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO COM A INCLUSÃO NA EJA1. Queli de Melo2 Liliane Maria Viero Costa3 Resumo Este artigo é uma pesquisa bibliográfica sobre a importância, de ter o conteúdo da arte dentro da escola, e como ela pode dar condições e qualidade de um bom crescimento para um grupo heterogêneo, chamado aqui de educação inclusiva. Percebi que as escolas, mesmo a tanto tempo da aprovação da lei de nº 4.024/61, no Plano Nacional de Educação em janeiro de 2008, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino, e na Constituição Federal de 1988, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208), o espaço escolar não está propício para receber fisicamente um educando incluso, isso reflete-se também na falta de serviço especializado, preparado para atender os alunos em turno inverso, e também requer um olhar especial para o mediador, o professor da sala de aula regular, que deveria ter uma formação constante, para que este saiba trabalhar com as diferenças e não com as deficiências, segunda a Doutora em Educação Maria Teresa Egler Mantoan. Palavras Chave: Inclusão. Arte. Professor. Considerações Iniciais Neste artigo, abordei o assunto: Inclusão com arte na EJA, onde tenho presenciado as mudanças na educação que vem ocorrendo no decorrer dos anos, e principalmente por ter vivenciado o problema da inclusão de alunos com alguma patologia na Educação de Jovens e Adultos. Na EJA, venho a explorar os desafios que uma turma encontra, quando se depara com um colega de classe com NEE (Necessidades Educativas Especiais), partindo da ideia de que a sociedade não encontra-se preparada para assumir um papel social, de tamanha responsabilidade social que é a inclusão, pois viemos de uma época onde encontramos escolas especiais para este tipo de atendimento, 1 O texto traz os resultados do Trabalho de Conclusão de Curso, realizado no curso de Especialização em EJA, vinculado ao Projeto Ler e escrever o mundo: a EJA no contexto da educação contemporânea, oportunizado através de acordo de cooperação entre Universidade de Caxias do Sul e Ministério da Educação, em parceria com Prefeitura Municipal de Caxias do Sul 2 Queli de Melo, pós-graduanda em Ler e escrever o mundo: a EJA no contexto da educação contemporânea, pela Universidade de Caxias do Sul, graduada no curso de Licenciatura e Artes Plásticas pela Universidade de Caxias do Sul. 3 Liliane Maria Viero Costa, mestre em educação, pela universidade de Caxias do Sul, especialista em O processo da produção simbólica: análise e crítica, pela Universidade de Caxias do Sul, professora de arte do Centro Tecnológico da Universidade de Caxias do Sul. sem procurar entender os seus resultados escolares, que por conseguinte, não os trazemos para o seio do convívio social. Assim, encontramos também que o maior problema encontra-se no despreparo do corpo docente, em como poder atender a necessidade do educando sem perder o foco primordial, que é visando o seu melhor rendimento (respeitando o seu tempo), esse profissional a quem me refiro, é o professor da sala de aula regular, onde este preparo, nada mais é do que ter um olhar mais aguçado para as dificuldades de compreensão deste aluno, onde veria contar com a ajuda do profissional da sala de recursos multifuncional. Esse sim faz um complemento, em parceria com o professor titular, trabalhando com um olhar focado nas dificuldades do aluno NEE. Esse convívio social dentro a sala de aula, causa uma troca de aprendizado enriquecedor, transmitindo para ambos a importância de seus papeis sociais. Como professora de arte da EJA, sei o real valor que ela, a arte, pode colaborar com o desenvolvimento do educando, mas isso apenas ocorre quando os mesmos estão motivados e dispostos a compreendê-la. Segundo um dos autores utilizados em minha pesquisa, ( ATACK, 1995, p. 15) nos diz que: “a educação artística pode ser usada para ajudar no desenvolvimento de habilidades e capacidades”,e continua que ela “ pode facilitar a organização pessoal e os pensamentos”. Um bom embasamento teórico e práticas durante a aula de arte com a inclusão na sala de aula permitem aos discentes uma trajetória de inclusão que se refletirá, segundo Mantoan (2003), em educandos preparados para viver a vida na plenitude, livres dos preconceitos, pois esta foi à única forma, pelas pesquisas teóricas, capaz de superar a discriminação, através do direito de todos os educandos estarem juntos, aprendendo com as diferenças, ocorrendo assim uma troca que resulta no crescimento do conhecimento e respeito pela diversidade Segundo Prado e Marostega (2013), que também refletem sobre esta questão: Considerando o aspecto legal inserido na lei, e o científico em que de acordo com Vygotsky (apud CARNEIRO 1991, p.101) "o ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial a seu desenvolvimento. 1 A Importância da Arte com a Inclusão A autora Aurora Ferreira e Ernst Fischer, nos coloca que a arte é um meio de comunicação e expressão dos sentimentos humanos, onde o homem encontra-se no meio, entre o eu e o mundo que o circunda. Segundo Fischer, ele nos diz que o homem procura na arte uma distração, um relaxamento, 2 sendo assim, não uma busca para resolver os problemas, e sim além de relaxar, ela serve para mergulhar nos problemas dos outros, e acaba por identificar-se com a obra plástica, ou a música, ou com o tema principal de uma peça de teatro. Sendo assim ocorre a troca de informações entre o homem e o mundo que o cerca ocorrendo à existência coletiva. Segundo Godoy apud Ferreira (2011, p. 43) “[...] a arte é o elemento possibilitador da transgressão, da superação dos limites e das regras. A arte escapa qualquer censura. A arte nos remete a liberdade, à autoestima”. Isso vem nos comprovar como a interação, troca de informações, experiências, nos permitem um conhecimento mútuo, pois perdemos o medo de errar e criar no momento da troca com o outro e às vezes nos identificamos. No livro: arte, escola e inclusão, a autora nos define: a arte de uma maneira bem simples: “a arte é um produto da criatividade humana, que, utilizando conhecimentos e técnicas e um estilo ou jeito todo especial, transmite uma experiência de vida ou uma visão de mundo, despertando emoção em quem dela usufrui.” (Feist, 1996, p. 9, apud FERREIRA, p. 12, 13). Nesta concepção, notamos o quanto a arte é importante em nosso processo educativo, pois a partir dela o aluno desenvolve um senso crítico e estético seu e de tudo que o rodeia, dando um sentido à (sua) existência humana, pois demonstra a sua apreciação feita a partir dele, do outro e de diferentes culturas, desenvolvendo assim valores socioculturais. Nas aulas de arte, utiliza-se a linguagem visual que, nada mais é do que varias formas de expressão como: pintura, gravura, fotografia (espaço bidimensional); escultura, instalações, (espaço tridimensional), vídeo. Mas para utilizarmos essas formas de linguagens, os alunos já devem ter alguns conhecimentos como: forma, cor, espaço bidimensional, tridimensional, equilíbrio, plano, luz e sombra que encontramos em qualquer manifestação visual. Isso já vem no pacote para todo o cidadão do século XXI, pois recebemos informações visuais a todo o momento, por isso quando um aluno cria, faz e observa, ele está desenvolvendo sua aptidão estética-visual, desenvolvendo assim o seu sentir, pensar e a sua organização, ordenação e (re) significação de seus pensamentos, sua história pessoal, dos colegas, enfim, de sua vida social. Vygotsky, citado no artigo Ensino de Arte e Inclusão: 3 Os desafios do Conhecimento nos afirmam que “O aprendizado é processo fundamental para a construção do ser humano”. Ainda no mesmo artigo, encontramos a seguinte afirmação: No que se refere ao desenvolvimento do processo criativo, considerase que a arte tem a capacidade de criar outra realidade, a partir do momento em que é partilhada com outras pessoas”. (2010, p. 7). Por isso a arte se sobressai das outras matérias da escola, pois trabalha e desenvolve as capacidades de reflexões de cada indivíduo, criando assim um educando crítico da seguinte maneira, ele torna-se espontâneo, pois foi estimulado o seu censo crítico e reflexivo, por não estar sufocado ou moldado, mas orientado para expor sua originalidade e sua auto-criação, não transmitindo assim o impessoal, o decorado. Assim o aluno torna-se capaz de enfrentar os problemas de seu dia a dia, expressando suas opiniões no mundo do trabalho. 2 Inclusão X Preparo do Professor Em Salamanca na Espanha, houve uma ESTRUTURA DE AÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL, (portal MEC, p3, item 2) entre os dias 07 a 10 de junho de 1994, onde deixa claro que, “qualquer pessoa portadora de deficiência tem o direito de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes possam ser realizados”. No item 3, ainda sobre a estrutura da educação especial, deixam bem claro que a escola deve acomodar essas crianças, independentemente de suas condições psíquicas ou físicas de forma inclusa. Conforme Mantoan, a inclusão nada mais é do que não deixar ninguém fora da vida escolar, cuja intenção é melhorar a qualidade do ensino das escolas, atingindo todos os alunos. Já a integração é inserir um aluno, que já foi excluído anteriormente. No caso, estamos tendo ainda os dois casos, mas o caso da integração, está diminuindo, pois sabe-se, conforme já citado, que uma boa escola é aquela que ensina para todos e não a que faz o ensino diferenciado para atingir o seu aluno incluso. 4 Na LEI n°12.796, de 4 de abril de 2013, art.58, nos deixa bem claro sobre o que é uma educação especial Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Uma maneira de excluir um aluno é ignorar aquele que não consegue obter o conhecimento que a escola está cobrando, não criando um diálogo e não abrindo novas formas de conhecimento para esse excluído. Recortando assim, um aluno “normal” de um “deficiente”. Segundo Mantoan, para que haja um bom resultado do aluno incluso, é o trabalho da autoestima, e um bom trabalho do professor, que neste caso não está sendo preparado para desenvolver este tipo de trabalho, incluindo assim, a escola como um todo, pois a escola é quem deve se moldar para colocar-se a disposição do aluno, tornando assim o espaço inclusivo. Com isso, certamente ocorre inúmeros desafios ao sistema escolar como: estrutura física, preparo do professor da sala de aula regular, planejamentos, formação de turmas, avaliação, currículo e sala de recursos4. Sabemos que os cursos de graduação/licenciatura, até o momento não estão desenvolvendo nenhum professor para uma sala de aula inclusiva, que será certamente o que o professor enfrentará em seu ambiente de trabalho. Mas isso não quer colocar sobre os ombros do professor, total responsabilidade sobre o aprendizado do aluno incluso. Em uma escola inclusiva, os alunos com necessidades educacionais especiais, deveriam receber ajuda da sala de recursos multifuncional, onde um profissional habilitado, atende o aluno com atividades diversificadas como vários tipos de linguagens e tecnologias, que são complementares à escolarização, mas o professor atuante da classe, deve ter sim ter algum preparo, para saber direcionar seu educando, onde nos prova isso são as Diretrizes Nacionais da Educação Especial na educação Básica (2001), que fala sobre a formação profissional na LDB (1996) no art.08 4 Sala de Recursos Multifuncionais: Espaços para o Atendimento Educacinal Especializado (MEC, 2006) 5 As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: professores das classes comuns e da educação especial capacitados especializados respectivamente,para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos. (LDB,1995, art. 08). As diretrizes ainda citam que um professor especializado em educação especial consegue desenvolver competências para identificar as necessidades especiais, desenvolvendo assim estratégias para a adaptação curricular e das práticas pedagógica. Para ser um professor da classe especial, deve ter cursos de licenciaturas em educação especial, tanto para infantil, quanto para o ensino fundamental, com complementação de estudos ou pós-graduação nas áreas de específicas da educação especial. 3 Vivências em Sala de aula Nos poucos seis anos de sala de aula, notei que a presença de educandos inclusos, vem crescendo notavelmente. Também notei, o rendimento e principalmente a identificação desses, com o conteúdo da arte, demonstrando em seus resultados diários da sala de aula, da T7 para a T9,as mudanças de seus traços, cores, a maneira de pensar, compreender a arte, a maneira de verem e de compreenderem o mundo, abrindo assim, um caminho para um melhor diálogo com seus colegas, pois sempre ouve uma troca de informações com as percepções dos trabalhos realizados, e uma forte identificação comigo, a professora de arte, ocorrendo assim a pertença com a escola, e quem sai ganhando somo todos nós, os envolvidos. É maravilhoso quando eles nos convidam para entrar na sua visão de mundo, e procuram sempre explicar o que pensaram para chegar naquela criação plástica ou escrita, nos filmes ou reportagens assistidas que os fizeram recordar da aula de arte, de falarem: “que pena que vou sair da escola, mas quero voltar para vê-la” ou “quero repetir para poder ficar na escola com a senhora”. Esse é o maior presente, o crescimento plástico e interpretativo de ver o mundo por vários olhos inclusos, por vários ângulos vividos, através dos próprios esforços e identificação com as várias formas de expressar pela arte. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme lido e observado pelas pesquisas bibliográficas para este artigo, onde se buscou perceber se realmente a arte pode ajudar em uma inclusão, todos os autores e pesquisadores estudados, afirmam que realmente acaba por acontecer um aprendizado para ambos os educandos, pois a troca é a melhor forma de se ter um bom aprendizado e a arte é um meio de comunicação e expressão dos sentimentos humanos, onde o homem encontrase no meio, entre o eu e o mundo que o circunda, facilitando a sua leitura de mundo. Já a inclusão é um direito de todo o ser humano, não importando suas necessidades cognitivas, físicas ou psicológicas, segundo Mantoan (2003) Nossas ações educativas têm como eixos o convívio com as diferenças e a aprendizagem como experiência relacional, participativa,que produz sentido para o aluno,pois contempla sua subjetividade, embora construída no coletivo das salas de aula (MANTOAN, 2003, pg.31) A inclusão nada mais é do que não deixar ninguém fora da vida escolar, cuja intenção é melhorar a qualidade do ensino das escolas, atingindo todos os alunos, e isso vem a ser realmente o trabalho desenvolvido em EJA: aproveitar o conhecimento do aluno e transpassar através da troca entre os mesmos, respeitando o seu ritmo. O professor deve se especializar, para que haja um melhor rendimento e um melhor trabalho em sala de aula, mas “escorado” na ancora de seu colega profissional na área de educação especial, contendo a sala multi funcional na escola, onde ambos trabalham para um melhor desempenho do aluno, respeitando sempre o seu limite e principalmente, valorizando seus pequenos passos. REFERÊNCIAS Alves, Denise de Oliveira. "Sala de recursos multifuncionais: espaços para atendimento educacional especializado." Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial (2006). ATACK Sally M.: Atividades Artísticas para deficientes, o que é a arte,autocontrole. Papirus, vol. 2, 1995 7 BIANCHETTI, Lucídio e FREIRE, Ida: UM OLHAR SOBRE A DIFERENÇA. São Paulo. Papirus, vol. 7,1998 BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Estratégias e orientações sobre artes.Respondendo com Arte às Necessidades Especiais. Brasília: MEC/SEESP, 2002. 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