REVISTA CARETA E A SUA VISÃO SOBRE A SOCIEDADE BRASILEIRA:
CHARGES E ESTEREÓTIPOS
Douglas Josiel Voks1
Introdução
As transformações do século XX com o crescimento das cidades e um número
maior de alfabetizados fazem com que os meios de comunicação escritos cresçam e percam
o seu caráter artesanal, transformando-se em empresas voltadas para uma maior
lucratividade (MACHADO, 2006, p.10). Periódicos, como revistas ilustradas, são produtos
que compõem empresas que buscam sustentar-se com a permanência de seu produto no
mercado. Então todo periódico por consequência deve corresponder às expectativas de seu
público consumidor, visando sempre atingir um maior número de clientes. Desde o seu
início a revista Careta teve essa preocupação de abranger um grande público, pois ela tinha
um conteúdo direcionado para aqueles que possuíam condições sócio-econômicas de se
tornarem consumidores efetivos de revistas ilustradas. Nesse sentido, textos e imagens,
deveriam responder aos interesses de um determinado público leitor, tornando-se assim um
produto destinado a comercialização e ao consumo (Ibid, p.11). Mas também ao mesmo
tempo ela utilizava uma linguagem mais popular, que pode ser entendida como uma
aproximação com as classes subalternas, menos alfabetizadas.
O surgimento de revistas consumidas pelo grande público está intimamente ligado
ao surgimento de novas tecnologias no campo das artes gráficas. Com elas já no século
XIX e principalmente início do século XX, revistas e jornais puderam apresentar
ilustrações e caricaturas. A revista Careta fundada em 1908 aproveitou muito bem essas
inovações, sendo ela uma revista repleta de ilustrações, que representavam cenas cotidianas
1
Aluno do 3º ano de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e bolsista de iniciação cientifica
pela Fundação Araucária.
da sociedade brasileira, propagandas variadas, caricaturas e charges embutidas de diversas
críticas (Ibid, p. 11).
É nessa época que a imprensa brasileira toma um caráter mais capitalista. Todas
essas transformações fazem com que os meios de comunicação escritos cresçam e percam o
seu caráter artesanal, transformando-se em empresas voltadas para uma maior
lucratividade. É nesse período também que introduz-se as premissas da indústria cultural
no Brasil, pois ela se firma com o capitalismo e a industrialização, transformando todo bem
cultural em negócio.
A Careta se enquadra nesse esquema por ser um meio de comunicação voltado para
as massas, e através de suas charges ela pode exercer uma dominação sobre os seus leitores.
Assim como nos mostra Theodor W. Adorno, a indústria Cultural tem por finalidade não só
transformar tudo o que diz respeito à cultura em negócios, mas também tem o papel de,
através do cultural, criar mecanismos de dominação (2002, p. 33).
Dentro desta lógica de popularização, ou como quer Adorno, vulgarização da
cultura erudita e criação de uma cultura intermediária, a cultura de massa, que a charge
ganha seu significado mais amplo. Transmitindo sua mensagem através de uma forma de
comunicação visual, não verbal, muitas vezes simbólica ou não explicitada, as charges
provocam reações imediatas para os leitores que reconhecem nelas a crítica política ou
social. As charges por vezes podem ser tendenciosas, principalmente quando referidas a
política, podendo também apresentar múltiplas interpretações, já que não contém um texto
explicativo: a charge substitui o próprio texto.
A revista Careta foi um periódico carioca da editora Kósmos que circulou
comercialmente durante um período de aproximadamente cinquenta anos, tendo sempre um
respeitável destaque entre as demais publicações do gênero. Em 1919, possuía um pouco
mais de dez anos de existência e, juntamente com a revista Fon-Fon, caracterizou-se como
uma das publicações de variedades com uma considerável projeção social. A Careta tinha
um design ousado para a sua época, fato que poderia ser atribuído hipoteticamente, à
permissão de experimentalismos gráficos por iniciativa de seu fundador, o tipógrafo Jorge
Schmidt, que em outra publicação chamada Kósmos, transferiu para o Brasil o modelo
editorial que estaria em voga nas principais cidades européias e norte-americanas,
posteriormente utilizando esse estilo na revista Careta (MACHADO, 2006, p. 11). A revista
contou com a colaboração de cartunistas de renome como J. Carlos2 um dos maiores nomes
da caricatura de época, e Alfredo Storni 3, autor das charges a serem analisadas.
A revista Careta possuía uma grande vantagem em relação aos demais meios
gráficos, como o jornal, por exemplo, pois possuía publicações semanais, isso implicava em
uma melhor flexibilidade em sua organização possibilitando uma edição mais elaborada, ao
contrário dos jornais que tem circulação diária, assim por consequência as revistas em geral
passam a ter funções mais complexas que simples transmissão de noticias (MACHADO,
2006, p. 12).
A Careta lançava uma nova publicação todo sábado, tendo aproximadamente
quarenta páginas, e suas dimensões variavam entre trinta centímetros de comprimento e
vinte centímetros de largura. Em suas capas havia a presença de charges sempre com um
tom satírico, e razoavelmente coloridas, pois isso dava um tom mais moderno para a
revista, visto que uma de suas preocupações era a estética. Em suas primeiras páginas
internas encontravam-se alguns anúncios, em seguida esses passavam a dividir espaço com
outras charges e com textos, caracterizados por crônicas, produções literárias, artigos de
opinião, piadas, entre outros (ibid, p.12).
O prazo de uma semana para o lançamento de uma nova edição facilitava a
organização da distribuição de seus conteúdos de forma muito mais elaborada, as quais,
segundo seu próprio editorial, estariam voltadas para um público “apreciador das sessões
galantes do jornalismo Smart”. 4
No conjunto de elementos que compõe o seu design destacam-se as fotografias
localizadas entre suas páginas centrais, impressas em papel tipo couché 5, as quais dividem
o espaço visual com uma rica quantidade de caricaturas. A Careta foi uma publicação de
generalidades, na qual se encontravam diversas propagandas, fotos da vida cotidiana
brasileira, críticas expressas em charges a respeito da política brasileira, referências sobre
2
José Carlos Brito e Cunha, conhecido apenas como J. Carlos. Ao longo de 49 anos de carreira na imprensa
garantiu um fluxo ininterrupto de desenhos para abastecer as maiores revistas ilustradas do país. Sua carreira
na imprensa concentrou-se em torno de duas grandes empresas editoriais: a Careta e O Malho. Nos seus
últimos quinze anos de vida o artista foi diretor de arte da revista Careta, seu desenho da maturidade parece
ter impressionado até mesmo Walt Disney. LAGO, Pedro Corrêa. Caricaturistas Brasileiros 1836 – 1999.
Rio de Janeiro: Sextante, 1999. pp. 74, 78, 80.
3
Sua carreira na imprensa ilustrada deu-se essencialmente em O Malho, de 1907 a 1922, e na Careta desse
ano até 1936, alternando com J. Carlos em suas trajetórias nas duas revistas. Ibid., p. 92.
4
Um jornalismo cuja forma é considerada mais específica e relevante. Smart do inglês esperto.
5
Tipo de papel que ressalta o brilho e a luminosidade de fotografias e charges.
moda e comportamento, artigos diversos como: cinema, cultura, arte, crônicas,
curiosidades, etc.
A revista foi publicada de 1908 até 1960, seus exemplares podem ser encontrados no
acervo da fundação da biblioteca nacional, assim como na biblioteca digital da FBN, porém
nesse acervo não se encontram digitalizados os anos de 1909 e 1916. Outro problema é que
em alguns anos não estão disponibilizados todos os meses, em 1918, por exemplo,
encontram-se apenas os meses de janeiro, fevereiro e março, verificaram-se problemas
também nos anos de 1922, 1923, 1927, 1940, 1943, 1957, 1960. 6
Uma das fontes privilegiadas desse trabalho são as charges, não só por se
apresentarem em grandes quantidades em cada edição da revista, mas também por estarem
embutidas em si fortes críticas sociais e políticas que nos ajudam a ter uma maior
compreensão em relação à sociedade da época.
História da imprensa e surgimento das charges
Para entendermos o processo histórico das charges no Brasil temos que entender as
evoluções tecnológicas gráficas, e a transição da fase artesanal da imprensa para a fase
empresarial.
Seguindo essa lógica voltamos ao período colonial o qual não houve imprensa por
proibição da metrópole. Somente a partir de 1808 com a vinda da família real é que se teve
o início das publicações de impressos, mas de um modo bem superficial, pois eram em
grande parte periódicos informativos, onde se publicavam anúncios e decretos oficiais,
como, por exemplo, a Gazeta do Rio de Janeiro. A partir da independência é que se tem um
maior número de publicações, surgem então os pasquins com a opinião política de seus
redatores, mas mesmo assim eram produzidos de forma manual e por uma única pessoa
(SIMÕES, 2006, p. 4).
6
Em 1922 encontra-se digitalizado somente os meses de setembro/ outubro/ novembro/ dezembro. Em 1923
os meses de janeiro/ fevereiro/ março/ abril/ maio/ junho. Em 1927 janeiro/ fevereiro/ março/ abril/ maio/
junho/ julho/ agosto/ setembro. Em 1940 janeiro/ fevereiro/ março/ abril/ maio/ junho/ julho/ agosto. Em 1943
setembro/ outubro/ novembro/ dezembro. Já em 1957 falta o mês de dezembro e em 1960 faltam os meses de
novembro e dezembro.
A partir de 1850 esses boletins vão perdendo espaço para uma nova fase na imprensa
brasileira, a fase empresarial, a qual é marcada pela constante concorrência, e pela
preocupação com os colaboradores nas publicações. Machado de Assis, Eça de Queirós,
Olavo Bilac, Raul Pompéia, entre outros, tinham constante participação nos periódicos da
época. O início dessa fase empresarial é marcado por uma imprensa literária, que deu
amplo espaço para contos, poemas, romances, etc. Mas era considerada literária também
pela associação entre jornalismo e literatura, que gerou o folhetim como principal produto e
estratégia para alavancar as vendas, que fez com que características literárias fossem
incluídas aos gêneros jornalísticos (Ibid, pp. 6,7).
Os periódicos dessa época utilizavam uma linguagem bem formal distanciando-se da
linguagem utilizada pelo povo, e é de suma importância destacar que nessa época o Brasil
era pouco alfabetizado, e por consequência o público leitor desses meios de comunicação
era restritos. Além da linguagem, esses meios de comunicação se distanciavam das classes
mais populares por tratar de assuntos que não eram de interesse de um público menos
erudito.
Por volta de 1900, com a virada do século, a imprensa brasileira deixa de ser tão
literária, e passa por significativas mudanças. Essas mudanças podem ser atribuídas a vários
fatores, mas um dos principais sem dúvida são os aperfeiçoamentos tecnológicos, a partir
de então com os melhoramentos gráficos podia-se ter uma impressão mais rápida e mais
volumosa; teve-se a incorporação da fotogravura, que se fazia presente nas ilustrações;
aperfeiçoamento nas técnicas já existentes, pois as charges podiam ser impressas em papel
do tipo couché, o que dava mais brilho e luminosidade, melhorando a sua estética.
Além de tudo os melhoramentos gráficos contribuíram para a redução dos gastos na
produção e, por conseguinte baixando o valor desses periódicos. Esses avanços também
estimularam à profissão de reportes, que se multiplicavam a procura de notícias inéditas
para estamparem as suas publicações e incrementarem as suas vendas (Ibid, p. 17).
Penso que a imprensa nessa época deixou de ser tão literária como consequência das
novas tecnologias que se teve nesse campo. Na fase artesanal e também no início da fase
empresarial, vários jornais e revistas eram mantidos pela vontade de seus donos, então não
se tinha a preocupação em abranger um grande público consumidor, muitas revistas e
jornais eram voltados para um grupo bem seleto. Até porque os meios gráficos e a
distribuição não possibilitavam que se pudesse atingir um grande público leitor, jornais e
revistas geralmente tinham uma circulação local.
Podendo agora ter uma maior impressão e agilidade na produção, esses meios de
comunicação tinham capacidade de transpor fronteiras e abranger um número maior de
leitores, lembrando também que no início do século criou-se políticas para uma maior
alfabetização da sociedade brasileira, isso leva em consequência a imprensa se voltar para
uma linguagem não tão literária e abranger temas variados com cunho mais informativo.
Quando pensamos na imprensa brasileira além de apontarmos os seus avanços
tecnológicos temos também que destacar a importante presença das charges nesse meio de
comunicação, assim quando falamos em charges temos que pensar nas transformações
históricas passadas por ela. Pode-se começar destacando que ela surge no Brasil na segunda
metade do século XIX, nesse período e posteriormente ela tinha como função principal a
crítica, nessa época ela continha um texto que dava suporte narrativo, mas que
posteriormente acaba abandonando a charge.
A charge sempre teve uma função social e um conteúdo ideológico, os temas
privilegiados por ela nesse período faziam menção a política e a sociedade a qual estava
inserida. Agostini é um dos primeiros chargistas a colocar a charge com uma função social
e com um conteúdo ideológico. Nas suas charges ele satirizava os impasses do regime, a
precariedade da saúde pública e o abandono geral do Rio de Janeiro. No final da monarquia
é inserido humor a essa crítica, porém a charge não tinha como função prioritária, fazer rir,
mas levar e instigar o público leitor a reflexão (TEIXEIRA, 2001, pp. 10-15).
As revistas ilustradas acompanham a modernização proporcionada pelas
transformações tecnológicas na virada do século, mas essa modernização e transformação
não se dão apenas no campo gráfico. Essa passagem do século causou mudanças no
cenário urbano, à conhecida fase Belle Époque; isso influenciou muito os chargistas, pois
agora a charge passa a representar tipos fictícios, ela parte para o que Luiz G. Sodré
Teixeira chama de uma “aventura” de fantasias e delírios (Ibid, p.30). As charges passam a
ter um caráter mais artístico, mudando a forma de seu traço e o conteúdo de sua temática.
Surgem personagens sem qualquer existência física, como o Zé Povo e o Jeca Tatu.
Esses personagens fictícios representavam a sociedade brasileira assim como Tio Sam, por
exemplo, representava a sociedade norte-americana. Porém ao contrário do Tio Sam que
por função fortaleceu a cidadania norte-americana, essas representações no Brasil
simbolizavam o lado negativo da nossa sociedade, é ai que a charge representa com humor
a sua crítica (Ibid, p.30).
O Zé Povo era um personagem representativo de todo o povo, assim como o Jeca
Tatu representava todo caipira, tendo ambos a mesma postura submissa e mesmo
estereótipo negativo. É importante ressaltar que na maioria das vezes esses personagens
fictícios eram copias reelaboradas de outras culturas, o Zé Povo, por exemplo, foi uma
inspiração no português Zé Povinho, que representava com humor as singularidades
lusitanas (Ibid, p. 31).
A república ilustrada no Brasil é uma cópia fiel de Marianne, símbolo da república
francesa, porém ao contrário de Marianne, a loura francesa, aqui a república não tem
qualquer símbolo positivo que representasse o povo na luta pela república (Ibid, p. 32). No
início até se tentou dar um tom positivo para a república, mas com o passar do tempo ela
passa a ser representada como uma mulher velha feia e prostituta, pois até mesmo os
favoráveis à república não vendo nenhuma mudança efetiva passam a vê-la com um tom
negativo. Nessa época se populariza a frase “esta não é a república dos meus sonhos”. José
Murilo de Carvalho nos mostra que aqui a república não é tão bela, não representa a
liberdade nem a nação como um todo (1997, pp. 87-96).
Assim como a república não possuía um sentido positivo, o povo mostrado como o
sofredor, representava também a política dotada de um tom negativo, pois era simbolizada
por uma mulher velha, gorda megera, e desvalorizada. Para Luiz Guilherme Sodré Teixeira
essas representações que se apresentaram na república velha são dotadas de negativismo
pelo fato da mudança de regime não ter sido um movimento popular, nem produziu
mudanças significativas nas instituições públicas. O autor afirma ainda que esses
personagens representavam o desencontro entre povo e nação, elite e povo, e marcam a
formação histórica e cultural do país, em que um não se identifica e não se reconhece no
outro (TEIXEIRA, 2001, p.33).
Revista Careta, março de 1919. Edição 559.
Revista Careta, fevereiro de 1928. Edição 1026.
Nas charges acima, de Alfredo Storni, ambas publicadas na revista careta, uma em
março de 1919, e a outra em fevereiro de 1928, podemos observar a representação da
política; uma mulher velha, feia, sem qualquer símbolo positivo. Nessa charge um
vendedor tenta vender uma roupa de palhaço para política, e na outra podemos observar
uma alegoria de carnaval, intitulada de “carro alegórico do povo”, na qual o povo vestido
de palhaço carrega todo o poder executivo. É assim com esse tom satírico que a revista
fazia as suas críticas.
Revista Careta, Setembro de 1926. Edição 952.
Em mais uma charge de Storni, publicada também na revista Careta em setembro
de 1926, podemos ver a representação do Jéca Tatu, e da República, ambos olhando para
um castelo, que representa a democracia, mas com um caminho difícil ou quase impossível
de se chegar. Nessa representação da república Storni não a desenha como uma mulher
prostituída ou velha como era comum, mas caracteriza-a com uma expressão facial
preocupada, sem saber o que fazer, muito longe de qualquer sentido positivo.
Riani define a charge como sendo um “desenho humorístico sobre o fato real
ocorrido recentemente na política, economia, sociedade, esporte, etc. Caracterizando-se
pelo seu aspecto temporal e crítico” (Gawryszewski Apud Riani, 2008, p.11). Para muitos
autores como o próprio Riani e também Luiz G. Teixeira Sodré, charge e caricatura têm
aspectos diferentes embora ambas tenham suas bases no humor, o que as diferencia é que a
charge tem um aspecto crítico definido, Sodré afirma ainda que a charge diferentemente da
caricatura busca a apreensão do real, para ele “a charge resume situações políticas que a
sociedade vive como problemas, e os recria com os recursos gráficos que são próprios”
(Gawryszewski Apud Teixeira, 2008, p. 12).
Conclusão
A revista Careta foi uma revista de muito sucesso, que se constituiu basicamente
pela crítica humorística. A política foi muito privilegiada por essa crítica, mas deve-se
destacar que a revista por vezes também apoiava políticos, como é o caso de Rui Barbosa.
Em sua candidatura, a revista apresentava-o em suas charges como o candidato mais
capacitado para a presidência, passando assim uma confiabilidade ao eleitorado, quanto aos
seus adversários à revista não poupou a sátira. Então dessa forma, dependendo de como as
charges fossem ilustradas poderiam ter um duplo poder; a crítica e a desmoralização de
uma imagem, ou de elevar a confiança e a popularidade de quem fosse ilustrado em suas
paginas (UEÓCKA, 2003, p. 69).
O provável é que a revista não era neutra em questões políticas, pois ela estava
ligada à classe dominante, e por consequência trabalhava em favor dos seus interesses,
como aponta Laura Antunes Maciel, sobre o predomínio da mídia na constituição de
memórias hegemônicas, pois aquilo que a mídia noticia é tido como parâmetro seguro do
que realmente ocorreu (MACIEL, 2004, p. 14).
As charges tinham um poder convincente, pois revistas e jornais de grande
circulação conseguiam atingir o imaginário popular, produzindo elementos capazes de
persuadir o leitor através da força das imagens - as fotografias - e do riso malicioso, fruto
da natureza irreverente das caricaturas (UEÓCKA, 2003, p.67).
Referências
CARVALHO, José Murilo de Carvalho. “República Mulher: entre Maria e Marianne”. In.
A Formação das Almas o Imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997.
GAWRYSZEWSKI, Alberto. “Conceito de Caricatura: Não Tem Graça Nenhuma”. In:
Revista Domínios da Imagem. Londrina, Ano I, n. 2, 2008.
HORKHEIMER, Max. ADORNO, Theodor W. “O Iluminismo como Mistificação das
Massas”. In. A Indústria Cultural. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
LAGO, Pedro Corrêa. Caricaturistas Brasileiros 1836 – 1999. Rio de Janeiro: Sextante,
1999.
MACHADO JUNIOR, Cláudio de Sá. Fotografias e Códigos Culturais: representações da
sociabilidade carioca pelas imagens da revista Careta (1919-1922). Porto Alegre: Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2006, Dissertação.
MACIEL, Laura Antunes. Produzindo Notícias e Histórias: Algumas Questões em Torno
da Relação Telégrafo e Imprensa – 1880/1920. FENELON, Déa (ORG) Muitas Memórias,
outras Histórias. São Paulo: Olho D’água, 2004.
SIMÕES JUNIOR, Álvaro Santos. “Da literatura ao jornalismo: Periódicos Brasileiros do
Século XIX”. In. Patrimônio e História. UNESP: v. 2 n. 2, 2006.
TEIXEIRA, Luiz Guilherme Sodré. O traço como texto: A história da charge no Rio de
Janeiro de 1860 a 1930, Rio de Janeiro: Editora casa Rui Barbosa, 2001. (coleção papéis
avulsos).
UEÓCKA, Lorayne Garcia. “A FORÇA DAS IMAGENS NA CAMPANHA CIVILISTA:
REPRESENTAÇÕES EM FOTOGRAFIAS E CARICATURAS”. In: Revista Científica da
Universidade do Oeste Paulista – Unoeste. São Paulo, Vol. I, n 2, 2003.
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