Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Ordenamento do Território Instalação de nova Loja Decathlon no concelho de Vila Nova de Gaia Docente: Discente: Dr. Filipe Batista e Silva Bruno Fonseca Maio de 2015, Porto Introdução Atualmente, no âmbito do ordenamento e planeamento, o território necessita de melhores tomadas de decisão, baseadas e objetivas, de forma a responder as mais variadas carências e estratégias para desenvolver os espaços onde vivemos. O presente trabalho representa uma metodologia de apoio á decisão na avaliação de áreas potenciais para a localização de um novo espaço comercial/loja de desporto no concelho de Vila Nova de Gaia. Para a sua realização, foram designados múltiplos critérios combinando diversas fontes de informação como cartas de usos do solo, rede viária, cartas de condicionantes e outros dados estatísticos. Problemática e área de estudo Desde a abertura da primeira loja em 2000 na Amadora, o projeto Decathlon Portugal não tem parado de crescer, contando já com 24 lojas e 1200 colaboradores de norte a sul do país. A empresa, SPDAD,Lda. (Sociedade Portuguesa de Distribuição de Artigos Desportivos), quer instalar uma nova loja, em Vila Nova de Gaia projetada para o ano de 2018. Para além da loja, como é comum ser observado em várias lojas do grupo, será também construído um conjunto de infraestruturas desportivas, sendo que para a futura loja de Vila Nova de Gaia o objetivo é a construção de um minicampo de golfe assim como de um inovador conceito: um parque florestal preparado para atividades radicais, onde os clientes podem requisitar artigos de experimentação para usufruírem do local e testarem os produtos. Como tal solicitou uma apreciação técnica para a sua implementação neste concelho, de forma a promover a dinamização do seu projeto, a criação de postos de trabalho assim como o aumento dos lucros/vendas enquanto sociedade. A área de estudo abrange todas as freguesias do concelho de Vila Nova de Gaia, sendo elas: União das Freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada; Canidelo; Oliveira do Douro; Madalena; União das Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso; Avintes; Vilar de Andorinho; União das Freguesias de Gulpilhares e Valadares; Canelas; 1 União das Freguesias de Pedroso e Seixezelo; Arcozelo; União das Freguesias de Serzedo e Perosinho; União das Freguesias de Sandim; Olival; Lever e Crestuma; São Félix da Marinha; União das Freguesias de Grijó e Sermonde, conforme figura 1, albergando 302295 habitantes (Censos, 2011). Figura 1 – Mapa de enquadramento da empresa Decathlon Portugal e do Concelho de Vila Nova de Gaia Dados utilizados Após a compreensão da problemática em causa e de forma a minimizar os erros aquando da procura pelas áreas de potencial, face à realização estratégica, foi necessário dedicar algum tempo na procura dos dados geográficos que melhor respondiam as tomadas de decisão face aos critérios impostos pela empresa. Como tal, foram utilizadas as seguintes fontes de informação: Limites do concelho em estudo (formato vetorial); Densidade Populacional (formato Excel, INE Censos 2011); Rede viária (formato vetorial); 2 Carta de Uso dos Solos - COS 2007 (formato vetorial); Carta de Condicionantes – REN (formato vetorial); Modelo Digital do Terreno (formato Matricial) para a construção dos mapas de declives e vertentes. Citérios para a escolha das áreas potenciais Utilizando as fontes de dados supracitados, foram definidos 6 critérios a utilizar de forma a responder as espectativas do cliente: Critério nº1: Localização até 1000 metros das estradas principais; Critério nº2 e 3: Localização da empresa em área florestal situada a distância inferior a 100 metros, de áreas de densidade populacional superior a 30000 habitantes/Km²; Critério nº 4: Localização em áreas de exposição solar a sul; Critério nº5: O declive igual ou inferior a 10 graus; Critério nº6: As áreas escolhidas terão de ter uma área mínima de 15000m² e máxima de 25000m². Justificação da escolha dos critérios A escolha ponderada dos critérios de seleção das áreas de potencial é justificada pela racionalização, imposta pela empresa, de recursos aquando da construção da infraestrutura. Ao mesmo tempo tentando integrar o espaço comercial, numa área atrativa do ponto de vista populacional de forma a aproximar a loja ao seu público-alvo. Foi ainda tomada em conta a preservação dos espaços ambientais e condicionantes. A escolha do critério nº1 justifica-se pela necessidade de boas acessibilidades, de forma a promover grande fluxo de clientes e facilidade na chegada diária de aprovisionamento à loja. A escolha do critério nº2 e nº3 prende-se pela necessidade de construir a infraestrutura perto de aglomerados populacionais ao mesmo tempo ocupando 3 exclusivamente áreas florestais (não inseridas na REN). Ou seja, a empresa pretende com este critério, uma grande aproximação aos centros urbanos, sincronizando a ideia da construção do parque natural e do minicampo de golfe que também se encontram projetados em áreas desde logo florestais, tentando assim diminuir os impactes ambientais da paisagem e minimizando os custos de construção destas duas infraestruturas “secundárias”. O critério nº4 procura áreas potenciais, com grande exposição solar diária para assim promover uma redução no consumo energético ao mesmo tempo zelando pela qualidade do relvado do minicampo de golfe. A escolha do critério nº5 visa a redução de custos na construção da loja e das infraestruturas que a acompanham, que deverão ser construídas em superfície o mais planas possível. Por fim, o critério 6, que segundo as necessidades da empresa, é pretendida uma área total que poderá variar entre os 15000 m² e 25000 m². Processo de elaboração da estratégia Para o processamento dos dados e construção de todas as representações cartográficas aqui submetidas, foi utilizado o sotware ArcGis 10.2 da ESRI tendo sido os dados construídos segundo o sistema de coordenadas ETRS_1989_TM06-Portugal. Inicialmente procedeu-se a delimitação da área de análise através da CAOP2014, que foi utilizada desde logo para a representação do mapa de enquadramento (figura 1), tendo sido utilizada posteriormente ao longo de todo o processo de análise espacial deste estudo de caso, tendo sido “geoprocessada” por diversas vezes através das ferramentas básicas como “Dissolve” e “Merge”. Para a criação do primeiro critério (figura 2), realizou-se a operação de proximidade “Buffer” do qual resultou uma área com um raio de 1km nas envolvências das estradas principais. Seguidamente, de forma a cortar o “Buffer” pelos limites da área em estudo, executou-se uma operação de extração designada por “Clip” das áreas relativas ao “Buffer” de 1000 metros pelo limite de Vila Nova de Gaia. 4 Figura 2 – Representação das áreas abrangidas pelo critério nº 1 Aquando da construção do critério nº 2 e nº 3 optou-se metodologicamente pela construção de ambos os critérios desde logo construídos e representados de forma encadeada. Inicialmente foi necessário um tratamento prévio dos dados da densidade populacional por Km², representados à subsecção na figura 3. Foi utilizada a ferramenta “Select by Atributes” para selecionar as subsecções/áreas com densidade populacional superior a 30000 habitantes (fortes aglomerados populacionais) fazendo seguidamente um “Clip” dos resultados obtidos pelas áreas potenciais encontradas no critério nº1. 5 Figura 3 – Representação das áreas que cumpriam o critério nº 2 Por forma a encontrar as áreas verdes que se encontravam a 100 metros das áreas já selecionadas, de densidade populacional superior a 30000 habitantes, foi utilizada a Carta de Ocupação dos Solos de 2007, tendo sido feita uma seleção das áreas cujo campo “COSN2” correspondiam ao valor 3.1 (Florestas). Após a exportação dos polígonos correspondentes, foi feito um “Buffer” de 100 metros às áreas Florestais tendo intersectado esse mesmo geoprocessamento pelas áreas de densidade populacional já selecionadas da análise anterior. Foi ainda considerada a carta de condicionantes da REN de forma a retirar da seleção qualquer área de intersecção entre as áreas florestais da COS2007 e a Rede Ecológica Nacional. Deste cruzamento de informação, foi construído o layout da figura 4. 6 Figura 4 – Representação da seleção das áreas potenciais do critério nº3 enquadradas com o critério nº2 Para responder aos critérios nº4 e nº5 foi necessária a construção do Modelo Digital de Terreno através da ferramenta “Create Tin” utilizando os seguintes critérios representados na figura 5: Figura 5 – Critérios utilizados para a criação do Modelo Digital de Terreno Posteriormente foi convertido em raster através da ferramenta “Tin to Raster” utilizando uma cellsize de 25. Após a obtenção do raster, passou então a ser possível a criação do mapa de 7 exposição de vertentes utilizando a ferramenta “Aspect”, tendo sido reclassificado este para apenas representar as áreas expostas a sul, atribuindo-se valor de 1 às áreas solarengas, e “No data” as restantes exposições de vertente. Para a criação do mapa de declives em graus utilizou-se a ferramenta “Slope”, reclassificando desde logo ao atribuir o valor de 1 aos declives “<= 10°” e aos restantes declives “No data”. Por fim, converteram-se os ficheiros matriciais de ambos os critérios, através da ferramenta “Raster to Polygon” para no final da construção de todos os critérios, agilizar os processos de intersecção das várias “camadas” de critérios (figura 6). Figura 6 – Representação do critério nº 4, áreas ao nível do concelho de exposição solar para Sul e representação do critério nº 5, áreas ao nível do concelho, de declive igual ou inferior a 10 graus. Antecipando a seleção das áreas potenciais entre 15000m² e 25000m², foi desde logo iniciado o processo de sobreposição dos 5 critérios anteriormente definidos. Como 8 tal, foi utilizada a ferramenta “Intersect” tendo como inputs toda a informação padronizada em formato vetorial e explanada no mesmo sistema de coordenadas inicialmente definido. O passo seguinte foi fazer um “Dissolve” da área resultante do “Intersect” pelo campo “Id” seguindo-se da criação de um campo (AreaM2) de tipo “double” na tabela de atributos, resultante do “Dissolve” calculando a área em metros. Por fim foi feita uma seleção por atributos das áreas “> = 15000m² e <=25000m²” tendo como resultado exportado, uma nova shapefile de polígonos, representada através da figura 7, cumprindo também ela o critério nº 6, com as 3 áreas propícias à implementação da loja Decathlon, no concelho de Vila Nova de Gaia. Figura 7 – Representação das áreas a selecionar pelo critério nº6 resultando nas áreas potenciais finais. 9 Discussão dos Resultados A figura 8 demonstra os resultados decorrentes da combinação dos critérios estipulados. Podemos assim observar a existência das 3 áreas potenciais para a implementação da nova área comercial da empresa Decathlon. Uma opção localiza-se na União das freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso, com uma área de 16283 m², uma outra área com 24229 m² localizada em Vilar de Andorinho e uma terceira área de 16849m² localizada na freguesia de Oliveira do Douro. Figura 8 – Areas potenciais obtidas para a construção da área comercial Podemos ainda reter da figura 8 a importância da sobreposição do basemap para observar que seria necessária uma melhor vectorização das áreas potenciais a esta escala. Contudo é perfeitamente normal ocorrerem estes erros uma vez que por exemplo a Carta de Ocupação dos Solos não é vetorizada a escalas tão pormenorizadas. 10 Contudo, é satisfatório perceber que apesar da pequena dimensão das áreas potenciais necessárias para este caso de estudo e tendo como ponto de partida inicial não uma freguesia mas todo um concelho para a analise espacial, ainda assim, as áreas finais estão na sua grande maioria enquadradas com a realidade observada via imagem satélite. Os polígonos finais sobrepõem visivelmente áreas florestais como seria esperado. Limitações de Abordagem Durante a elaboração de todo o processo estratégico existiram claro está algumas decisões mais difíceis, contudo necessárias. Uma delas passou desde logo pela melhor escolha dos critérios a analisar sem o conhecimento prévio das áreas que faziam parte do concelho analisado e desconhecendo se existiriam de facto áreas que cumprissem todos os critérios ao serem intersectados como um todo. A escolha mais assertiva dos dados temáticos sustenidos no presente trabalho foram também eles objeto de uma grande análise visto serem a estrutura de todo o processo. O facto de terem sido encontradas 3 áreas de grande potencial e não uma única, na minha perspetiva não desvaloriza os critérios utilizados pois existem condicionantes que apenas poderão ser vistas “in sito” e que apenas nessa etapa de prospeção local se observem as demais condicionantes. O facto de surgir mais de uma área potencial acaba por tornar as propostas mais viáveis para futuras análises já que este caso de estudo é realmente um objetivo real da empresa a curto prazo. Bibliografia http://resources.arcgis.com/en/help/ - Visualizado dia 14 de Maio de 2015 às 14:30 http://mapas.ine.pt/download/index2011.phtml - Recenseamento da População – Censos 2011 – INE DVD (Vila Nova de Gaia) disponibilizado na Oficina do Mapa, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 11