Habemus Papam
A difícil tarefa de ser líder
A ideia desta coluna não é uma crítica cinematográfica, ou resenha do
filme, mas trabalhar sobre os temas tratados por filmes para convidar a algumas
reflexões. Recomendamos ao leitor ver o filme para melhor desfrutar dos
aspectos aqui tratados.
Por Myrthes Gonzalez
Os atuais episódios ocorridos no Vaticano fizeram vir à memória o filme
de Nanni Moretti, Habemus Papam.
É difícil ter claro quais as dimensões que influenciaram Bento XVI a
renunciar, mas através deste artigo gostaria de remeter-me ao aspecto humano
de uma função ligada a divindade. E é justamente este tema que o filme de 2011 trata de forma hilária e
comovente.
A história de um Papa que após ser eleito tem uma crise de pânico e não consegue assumir.
Mas ao mesmo tempo é a historia de um senhor idoso que tem sonhos que não realizou e que ao ser eleito Papa
tem sobre os ombros o peso insuportável de um papel a cumprir. Mas a igreja poderia compreender as necessidades
humanas de seu líder máximo?
O filme convida a reflexão sobre o papel do líder. O poder que aparentemente pode ser ligado ao sucesso
tem um peso e um preço. Algumas pessoas se identificam com este papel e o tomam como missão; se realizam
através dele. Talvez um exemplo seja João Paulo II, que mesmo doente fez questão de exercer seu mandato ate o
ultimo dia. Simbolicamente a liderança remete a instâncias superiores de poder. No caso do Papa este aspecto é
reforçado, pois esta função esta diretamente associada ao sagrado.
O Papa é sagrado, sua palavra supostamente é o resultado do contato com o divino.
A questão do filme é: O divino anula o humano? O sagrado anula o profano?
A estória tem situações surpreendentes como quando um psicanalista é contratado para tentar resolver a
situação emocional do Papa eleito. Quais os desejos que não foram realizados, os traumas, os conflitos que
impediriam este homem que todos julgaram capaz?
Talvez a resolução deste conflito esteja nas
palavras de Mercedes Sosa na música Todo Cambia, que
faz parte da trilha sonora.
O filme não está nos cinemas, mas acho um
momento excelente de retomá-lo. Um convite a
compreender melhor o humano atrás do ritual. Quem
sabe redimensionar a palavra sacrifício para algo que
não está necessariamente ligado ao sofrimento, mas as
renuncias impostas para se exercer qualquer oficio.
Escolher um caminho sempre significa abrir mão de
outras possibilidades. O fato de ter, ao mesmo tempo, que escolher e renunciar pode causar um estado de
paralisia diante das múltiplas possibilidades. A escolha somente pode ser feita com paz e serenidade quando os
desejos profundos do coração orientam os passos.
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Proibida reprodução total ou parcial do texto, sem expressa autorização. © Myrthes Gonzalez 2013.
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