HISTÓRIA Prof. Fabrício Fernandes CISMA DO OCIDENTE BONIFÁCIO VIII E A SECULARIZAÇÃO O papa Bonifácio VIII (1294-1303) foi eleito na sucessão de São Celestino V (Pedro Morrone), que tinha renunciado, pois preferia continuar monge. Era enérgico, impetuoso, conhecedor do Direito Canônico, mas não se tinha adaptado aos novos tempos: queria ser papa à imagem de Gregório VII e Inocêncio III, ser o imperador do mundo. Interferiu em todos os problemas europeus (Alemanha, França, Sicília, Escócia, Boêmia, Veneza) e em todos foi derrotado. Sua maior ousadia foi competir com o rei francês Felipe IV o Belo (1285-1314), que era hábil politicamente, ambicioso, conhecedor do Direito Romano, segundo o qual o rei é imperador em seu reino e o que lhe agrada tem valor de lei. Para custear a guerra com a Inglaterra, Felipe impôs tributos ao clero. O papa protestou e o rei respondeu proibindo ao clero de enviar dinheiro a Roma. Chegou-se a um acordo: o rei pede dinheiro e o papa aconselha o clero a doá-lo! Bonifácio VIII sentiu-se vitorioso, canonizou o avô do rei, Luiz IX. Bonifácio VIII publicou a bula “Unam Sanctam” (1302), onde afirma ser necessário para a salvação estar sujeito ao papa em tudo, mesmo em questões políticas. Em junho de 1303, a Assembleia dos Notáveis de Paris acusou o papa de heresia e simonia e Bonifácio VIII, defendendo-se, prepara a bula de excomunhão e deposição de Felipe IV. No dia anterior à sua publicação, emissários do rei, auxiliados por dois cardeais corruptos, invadem a residência papal e o prendem para levá-lo à França. Era difícil transferir o papa e, em meio às hesitações, o povo se rebelou e três dias depois o libertou. Mas, o significado dos acontecimentos estava claro: um soberano católico enfrentara o papa, e com sucesso. O papa, abatido moral e fisicamente, morreu um mês depois. Para alguns, a morte de Bonifácio VIII representa o fim da Idade Média. Teria terminado a teocracia papal, a unidade medieval fundamentada na fé cristã. O CATIVEIRO DE AVINHÃO — (1309-1377) No ano de 1305, em Perúgia foi eleito papa Clemente V. A cidade de Roma, dominada pelos conflitos entre s famílias nobres, não oferecia mais segurança ao papa que, 1309, foi para Avinhão, França, onde se fixou definitivamente seu sucessor. Essa época é chamada de “Cativeiro de Avinhão” em lembrança do bíblico “Cativeiro Babilônico”. Foi um período difícil para a Igreja e teve como o pior fruto, a imagem de um papa não como um pai universal, e sim, uma espécie de capelão do rei da França. Foram sete papas franceses e também a maioria dos cardeais. Além disso, para fazer frente à construção e manutenção da corte papal, aumentaram-se exageradamente os impostos e as taxas. Tudo era vendido a alto preço: nomeações, graças, indulgências e dispensas. Os ânimos católicos se distanciam da Cúria e surge sempre mais forte o grito: “A Igreja tem que ser reformada”. Decaiu muito a autoridade papal com o excesso de excomunhões, lançadas por motivos quase que exclusivamente políticos. Durante 20 anos toda a Alemanha ficou sob excomunhão. Em 1328 um patriarca, 5 arcebispos e 30 bispos foram excomungados. São João d’Ávila deplorava que nas paróquias, em cada festa, fossem anunciadas de 7 a 10 excomunhões. O CISMA DO OCIDENTE — (1378-1417) Contra Urbano VI, papa legítimo, é eleito Clemente VII como antipapa residente em Avinhão. Papas e antipapas se sucediam e se excomungavam, a ponto de se ter a impressão de que toda a cristandade estivesse excluída da Igreja. Foi o Grande Cisma, que fez a Igreja num certo período ter três papas! Os cristãos, e mesmo os sábios e santos, não tinham mais muita clareza sobre quem era o papa verdadeiro. França, Espanha e Escócia reconheciam Clemente VII como papa legítimo; Itália, Inglaterra, Irlanda, Boêmia, Polônia, Hungria e Alemanha reconheciam Urbano VI. Para salvar a unidade da Igreja, alguns teólogos passaram a defender a Teoria Conciliar: os bispos reunidos em Concílio detêm o poder da Igreja, acima do Papa. No fundo, o que se queria era garantir a eleição de um único e legítimo papa e recuperar a unidade eclesial. Somente o Concílio de Constança (1414-1418) conseguiu acabar com o Cisma, com a eleição unânime de Martinho V (1417-1431) após a renúncia do papa legítimo Gregório XII. 1 QUERELA DAS INVESTIDURAS Durante a Idade Média, costuma-se definir a existência de uma comunhão de interesses entre a ordem clerical e nobiliárquica. No entanto, no interior do Sacro-Império Germânico observa-se uma relação conflituosa entre os nobres que tinham influência política nesse território e a autoridade papal. Entre os séculos X e XII, o desentendimento entre esses dois segmentos tomou proporções cada vez maiores. O poder de intervenção dos nobres na hierarquia eclesiástica começou a sofrer forte oposição quando clérigos da abadia de Cluny, região da França, defenderam um processo de reformas que desse maior autonomia à Igreja. A prática de subordinação dos clérigos aos reis, também conhecida como cesaropapismo, começou a sofrer intensa oposição pelos clérigos integrantes da ordem de Cluny. No ano de 1058, o papa Nicolau II criou o Colégio dos Cardeais, que tinha como função primordial eleger o papa. No ano de 1073, o Colégio dos Cardeais elegeu Gregório VII, integrante da Ordem de Cluny, para comandar a Igreja Católica. Entre outras ações, Gregório VII reafirmou o voto de castidade e proibiu que qualquer autoridade monárquica concedesse alguma espécie de cargo religioso. Em resposta, Henrique IV, rei do Sacro-Império, reuniu os bispos subjugados ao seu poder político para anular o poder de Gregório VII. O papa, tomando conhecimento dos planos do rei germânico, ordenou a sua excomunhão e livrou os bispos germânicos do poderio de Henrique IV. Implorando o perdão do papa, Henrique permaneceu três dias e três noites rezando na neve. Obtendo o perdão papal, o nobre germânico organizou tropas militares incumbidas de derrubar o papa. Acuado, Gregório VII se exilou na França. Depois de diversos conflitos entre as tropas papais e germânicas, uma trégua foi assinada por meio da Concordata de Worms. Por meio desse acordo, os limites do poder eclesiástico e real tiveram seus limites estabelecidos. A partir de então, somente o papa teria o direito de conceder qualquer espécie de cargo religioso. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA: Questão 01 “Aquele que jura fidelidade ao seu senhor deve ter sempre presente na memória seis palavras: são e salvo, seguro, honesto, útil, fácil, possível. São e salvo, para que não cause qualquer prejuízo ao corpo do seu senhor. Seguro, para que não prejudique o seu senhor divulgando os seus segredos ou os castelos que garantem a sua segurança. Honesto, para que não prejudique os direitos de justiça do seu senhor ou outras prerrogativas que interessem à honra a que pode pretender. Útil, para que não cause prejuízo aos bens do seu senhor. Fácil e possível, para que não torne difícil ao seu senhor o bem que este poderia facilmente fazer e para que não torne impossível o que teria sido possível ao seu senhor. É de justiça que o vassalo se abstenha de prejudicar o seu senhor. Mas não é assim que ele merece o seu feudo, pois não basta absterse de fazer mal, é preciso fazer o bem. Importa portanto que, sob os seis aspectos que acabam de ser indicados, forneça fielmente ao seu senhor conselho e ajuda, se quiser parecer digno do seu benefício e realizar a fidelidade que jurou. O senhor deve igualmente, em todos estes domínios, fazer o mesmo àquele que lhe jurou fidelidade.” GANSHOF, F.L. Que é feudalismo? Lisboa: Europa - América, 1968: 114. O texto acima, escrito por Fulbert de Chartres na primeira metade do século XI, nos informa sobre as regras do contrato de cooperação mútua que na época medieval era celebrado entre suserano e vassalo. Tendo em vista as relações de vassalagem vigentes na Idade Média, a) explique o que se entende por feudo no contexto de tais relações; b) aponte as obrigações exigidas do vassalo para com o seu suserano. Questão 02 Elabore um pequeno texto, identificando os motivos do conflito mencionado acima, tendo em vista os interesses tanto do Imperador Henrique IV quanto do Papa Gregório VII. 2