Abertura Boas Vindas Tema do Congresso Comissões Sessões Programação Áreas II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores Títulos Trabalho Completo PARCEIROS NA DIVULGAÇÃO DE CIÊNCIAS NO CENTRO EDUCACIONAL 259 DA REDE SESI DE ENSINO Ricardo Marques Couto, Danielle Ribeiro De Castro, Fernando Rossi Trigo, Marisa Ramos Barbieri Eixo 2 - Projetos e práticas de formação continuada - Relato de Experiência - Apresentação Pôster Resumo O presente relato de experiência trata dos resultados da parceria entre professor e jornalista de atividade extraclasse em uma escola do ensino básico da cidade de Ribeirão Preto/SP. A proposta do curso de especialização “Parceiros na divulgação científica”, promovido pela Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP, foi aproximar professor e jornalista em uma atividade de investigação científica com jovens, sobre o tema abelhas solitárias, no qual o registro constituiu elemento de memória e de avaliação para a difusão/divulgação científica. Palavras-chave: Divulgação científica; Ensino-aprendizagem; Registro. 4712 Ficha Catalográfica PARCEIROS NA DIVULGAÇÃO DE CIÊNCIAS NO CENTRO EDUCACIONAL 259 DA REDE SESI DE ENSINO Ricardo Marques Couto. Rede SESI/SP; Danielle Ribeiro Castro; Fernando Rossi Trigo; Marisa Ramos Barbieri - Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP. Local: O projeto e a prática docente exigida pelo curso de especialização “Parceiros na Divulgação em Ciências” ocorreu na Casa da Ciência do Hemocentro/USP de Ribeirão Preto e no Centro Educacional 259, da Rede SESI de Ensino. Participantes: A atividade prática contou com o professor Ricardo Marques Couto, das disciplinas de Biologia/Ciências e com a jornalista Danielle Castro. Período: A parceria entre professor e jornalista ocorreu no ano de 2011 até julho de 2012. Relato de Experiência: Parceiros na Divulgação de Ciências foi um curso de especialização, organizado pela Casa da Ciência do Hemocentro/USP de Ribeirão Preto, oferecido a professores e jornalistas, com sua primeira turma formada no primeiro semestre de 2011. A parceria originou uma atividade realizada na escola SESI 259 da cidade de Ribeirão Preto com alunos do ensino fundamental, que resultou no trabalho “As abelhas solitárias: Pesquisa e Prática científica na escola” (Couto & Castro 2011). Esse curso buscou a troca de especialidades entre os dois profissionais: o professor que ensina e o jornalista que divulga. Com a proposta de elaborarem um projeto temático, com plano de investigação, coleta de dados e análise dos resultados, alguns grupos alcançaram a produção em um formato de divulgação. A Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto integra projetos educacionais do CTC - Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), 1 4713 Fundação Vitae e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCTC), cujos programas (Adote um cientista, Pequeno cientista, Férias com Ciência, Jornal das Ciências e Site da Casa da Ciência - http://ead.hemocentro.fmrp.usp.br/casadaciencia), desenvolvidos com alunos, professores e pesquisadores aproximam Ensino e Pesquisa. Ajustar uma linguagem científica a uma linguagem de divulgação é uma prática pouco vista no cotidiano do professor, mas comum na prática de um jornalista. Por mais que se defenda que nossa cultura é oral, a escola se faz com a história escrita e, para que esta meta seja alcançada, exige-se um preparo especial. Segundo (Barbieri, 2001) o registro e a divulgação do saber demandam mais um campo de pesquisa, que deve criar um espaço próprio, para que a qualidade possa ser comprovada e levada a público. Segundo (BUENO, 1988, p.23), a divulgação científica pressupõe um processo de recodificação, isto é, a transposição de uma linguagem especializada para uma linguagem “não especializada”, facilitando o trabalho de recodificação de uma ação científica pelos membros da Imprensa. É oportuno frisar que a divulgação científica não se restringe ao campo da Imprensa. Essa modalidade, muitas vezes denominada de popularização ou vulgarização da ciência, tem sido reduzida à veiculação de informações noticiosas sobre ciência e tecnologia, quando na verdade abrangem apenas aspectos de todo um ciclo de produção, do pesquisador que divulga para os pares, ao professor que replica a informação para os alunos até a mídia e outros formadores de opinião. Visando à difusão e a divulgação do conhecimento, o curso colocou professores de ciências e jornalistas juntos como construtores de uma linguagem, considerando os seus saberes específicos. Com o desafio de chegar a uma comunicação escrita, coube ao professor criar com seus alunos uma atividade de investigação científica, e ao jornalista as condições para divulgá-la. Este relato de experiências apresenta resultados da parceria entre um professor, que também é especialista em abelhas, e uma jornalista em um trabalho de difusão e divulgação com alunos do ensino básico. A abelha na escola virou trabalho de Iniciação Científica O conhecimento muda a perspectiva das pessoas e, em alguns casos, pode mudar a visão de uma escola inteira. Que o digam as abelhas 2 4714 carpinteiras do SESI 259, em Ribeirão Preto, que de simples besouros passaram a ameaça e, depois da intervenção dos alunos, foram alçadas ao merecido posto de “essenciais para a vida na terra” e ganharam a proteção de uma turma inteira de heróis. Mas para entender essa história é preciso voltar um pouco no tempo. Tudo começou no início do semestre letivo de 2011, quando o professor Ricardo Couto resolveu criar um grupo de estudo para que os alunos do 8o. Ano do Ensino Fundamental pudessem observar e pesquisar o comportamento de abelhas solitárias. As espécies deste tipo representam 85% das abelhas e costumam ser bem mansas. No entanto, mesmo sendo o Brasil um dos países com maior diversidade delas no mundo, pouca gente sabe disso por aqui. A ideia inicial do projeto, que pretendia fazer com que os estudantes fossem além do senso comum, era montar e disponibilizar na área da escola ninhos-armadilha, uma técnica utilizada para atrair fêmeas de abelhas solitárias. Mas antes que as “voluntárias” se apresentassem, uma árvore morta no pátio chamou a atenção do professor e dos alunos, pois era habitada não por uma abelha solitária, mas por seis, o que é bastante incomum. A movimentação despertou a curiosidade de funcionários e outros professores, que ao serem informados da presença de abelhas no pátio ficaram preocupados com a segurança dos adolescentes. Até então, as carpinteiras do tronco eram tomadas por inofensivos besouros e a nova informação fez com que logo alguém se dispusesse a buscar o zelador para remover o perigo dali. O grupo de alunos que observou a discussão, entretanto, foi mais rápido, e correu antes para buscar o professor Ricardo, que encara a dúvida e o desconhecimento como uma boa oportunidade para a construção do conhecimento. O grupo, que já ultrapassava a barreira da sala de aula e da informação entregue pelo livro, conseguiu então o que ninguém planejava: uma abertura para conversar com toda comunidade escolar sobre a importância daquelas abelhas para a formação dos alunos e para a vida de modo geral. O professor Ricardo esclareceu a todos sobre a mansidão da espécie, que possuí ferrão, mas não tem hábito de atacar, como comprovava a presença delas no recreio há tanto tempo sem nenhum incidente. A confusão aumentou o interesse dos alunos, que passaram a sentir-se responsáveis pelas abelhas que pesquisavam, e deu força ao programa, que se estendeu como atividade extra-classe e voluntária por três meses , em um 3 4715 total de oito aulas. Ao final dos encontros, os alunos passaram a ter consciência de que as abelhas contribuíam para a reprodução das plantas, incluindo algumas produtoras de alimentos essenciais para sobrevivência humana, e faziam questão de informar isso a todos. Abelhas na Escola – Ao ministrar aulas de Ciências sobre abelhas, a intenção era desenvolver o olhar científico dos alunos para o entendimento do meio em que vivemos. Por isso, foi apresentado um método investigativo que valoriza a formulação de perguntas e hipóteses. Com base nesse método, os alunos perceberam que a construção do conhecimento ocorre também quando somos sujeito das ações. A primeira pergunta foi justamente a identificação do que viria a ser o objeto de estudo. Aos alunos foi questionado a respeito do que era um inseto preto que aparecia em frente à sala de aula e que sempre despertava curiosidade e interesse. Esse inseto, conhecido como abelha carpinteira, visitava as flores das árvores e entravam em orifícios presentes em um tronco localizado na frente de uma sala de aula (fig. 01). 4 4716 Figura 1- Árvore de Tecoma stans localizada no pátio da escola e usada pelas abelhas carpinteiras para a construção de seus ninhos. O Brasil, devido a suas proporções continentais e riqueza de ecossistemas, pode ser considerado privilegiado neste aspecto, pois abriga cerca de ¼ destas espécies. Contudo, infelizmente, a abelha mais conhecida entre os brasileiros é a abelha européia (Apis mellifera), que possui um comportamento mais agressivo e na verdade não é nativa do Brasil. Atualmente é a espécie mais abundante em nossos ambientes (até mesmo urbanos), fazendo-nos esquecer que possuímos uma fauna de abelhas nativa rica e diversa. Só no Estado de São Paulo foram listadas 729 espécies e, no Rio Grande do Sul mais de 500 espécies. Uma das características mais marcantes do grupo das abelhas é que os adultos também se alimentam de néctar e às vezes óleo. São obrigados ainda a visitar as flores para realizar a construção e o aprovisionamento de seus ninhos, pois suas larvas se alimentam deste material e do pólen. Isto resultou na grande especialização 5 4717 do grupo para interações com angiospermas, e, por isso, as abelhas são consideradas o principal grupo de animais polinizadores – e essas questões foram colocadas para que por si mesmos os alunos fossem percebendo (ou, ainda que sem relevância de conceituação, descobrindo) essas informações. Essa dependência das abelhas com esses produtos das plantas está relacionada com o surgimento angiospermas, que tinham flores relativamente rasas e, assim, podiam ser utilizadas como fonte de pólen e néctar por insetos de língua curta, incluindo muitos besouros, vespas e abelhas de língua curta. Já a elongação (aumento do comprimento) das peças bucais, deve ser uma adaptação para utilização de flores estreitas e tubulares de Angiospermas mais especializadas, e, como hipótese, esse raciocínio foi discutido com os alunos. Depois foram investigadas as características exclusivas e peculiares das pernas e cabeça das abelhas (fig. 02): Figura 2 – Adaptação morfológica (corbícula) importante para o transporte do pólen. O desenvolvimento das abelhas é considerado completo e ocorre no interior do ninho. Mas o que significa isso? Os alunos foram estimulados, então, a saber a importância do ninho, já que quando a abelha bota dentro dele, antes ela já depositou o pólen. O ovo se transforma na larva, que se alimenta do pólen, considerado uma importante fonte de proteínas. Depois de comer bastante, a larva se transforma em pupa, isto é, forma um casulo, no qual ocorre a diferenciação de tecidos. Portanto, a abelha cresce no estágio de larva e se desenvolve no estágio de pupa, ficando pronta para nascer – saber que as abelhas já 6 4718 nascem adultas provocou certo espanto e quebrou alguns paradigmas de ciência estabelecidos na cabeça do grupo (fig. 3). Figura 3- Professor Ricardo M. Couto durante atividade sobre o desenvolvimento completo das abelhas, construindo um significado para ninho. Os ninhos e o tronco - O tronco da árvore no pátio constituiu um modelo raro de estudo e foi cortado e seccionado de forma longitudinal para que pudesse servir como exemplo de aula para outras turmas e para que fosse disponibilizado a outras escolas na Casa da Ciência da USP de Ribeirão Preto. Depois de cortado, foi possível notar as galerias construídas pelas abelhas carpinteiras, e também, o final do ninho, o limite e a separação com o ninho de cima. Os alunos também puderam tocar e observar de perto as áreas de depósito de pólen que vinham estudando até aquele momento (fig.04). 7 4719 Figura 4 – Visualização interna de ninho construído pela fêmea da abelha carpinteira em corte longitudinal. Avaliação do processo de aprendizagem dos alunos – O comportamento dos alunos em relação às abelhas analisadas comprovou que houve uma mudança no pensamento de que toda abelha pica e produz mel. A alteração do vocabulário – as abelhas trabalhadas eram cada vez mais chamadas pelo nome científico (Xylocopa grisencens) pelos alunos, que também passaram a adotar outros termos técnicos para se referir às partes e ações das carpinteiras – também mostrou que houve sucesso na tentativa de ampliar o conhecimento geral da turma sobre abelhas. Todas as aulas aplicadas envolveram ainda momentos de teoria e prática com avaliação escrita. A cada pergunta, os alunos formavam duplas para encontrar as respostas. As tarefas eram desenvolvidas, preferencialmente, na sala de informática, onde os estudantes podiam pesquisar o assunto em questão com ajuda da internet. A apresentacão das respostas obtidas pelos grupos ocorria na meia hora final da aula, quando os alunos eram levados para fora das sala para observar os ninhos de abelhas solitárias e discutirem porque as hipótese se confirmavam ou não. Como última etapa do trabalho, a jornalista Danielle Castro foi chamada para um “bate-papo” sobre divulgação científica e sobre a confecção de um jornal-mural que permitisse levar os novos conhecimentos da sala para o restante da comunidade escolar. A avaliação ocorreu de maneira aberta, tendo em vista que os trabalhos não contavam nota. 8 4720 Foi considerada a participação nas atividades pedagógicas de pesquisa, a observação, coleta e análise de dados, bem como pelo desenvolvimento e apresentação dos trabalhos em grupo. Os alunos criaram jornais com os dados e decidiram apresentar o material de sala em sala, o que ajudou a consolidar a proposta de continuidade do grupo de estudos com a turma e com outros estudantes da escola. Considerações Finais – A soma dos conhecimentos em comunicação e ensino fez com que fossem exploradas formas múltiplas de divulgação, como o professor na sala de aula com uma proposta de práxis, os alunos que produziram jornais e palestras para outros membros da escola e até pelo documentário em DVD e por este artigo, que permitiram a divulgação dessas ideias para outros professores, pesquisadores e comunicadores. Com isso, muitas vezes, confunde-se o amplo conceito de divulgação científica, que abrange diversos tipos, com uma de suas partes, o segmento representativo do chamado jornalismo científico. A prova disso é o relato da jornalista Danielle Castro que, apesar de ter publicado diversas reportagens sobre ciência em periódicos, incluindo nacionais, encontrou novos desafios ao trabalhar a divulgação para um público tão específico como os alunos de uma escola. As aulas são importantes veículos de difusão e divulgação, mas quando não são documentadas, acabam limitadas a seleto grupo de alunos que tiveram contato com um excelente professor e deixam de ser revisitadas por outros mestres e potenciais divulgadores do trabalho científico para públicos que estão fora da academia. Nisso, grandes aulas ficam para sempre perdidas. Mostrar como o professor consegue construir o conhecimento, tanto o atual como o que lhe falta, e como pode organizar isso para os alunos pode nos ajudar a compreender como esse aprendizado se estabelece. A proposta investigativa de ensino é por certo um caminho para a divulgação e, quando acompanhada de registro, multiplica infinitamente os ganhos, pois dá a chance de serem replicadas ações que deram certo e que podem ampliar a audiência para os saberes e descobertas do ambiente científico. Com a aplicação deste modelo, o tema abelhas surgiu de forma natural no cotidiano da escola e desempenhou um papel importante na formação dos alunos, pois contribuiu para o desenvolvimento de habilidades na utilização de diferentes linguagens para se expressar representar idéias e 9 4721 atuar de forma autônoma, investigativa e pesquisadora. A iniciativa dos alunos de divulgarem por meio de jornais e discussões os conhecimentos adquiridos ao longo do curso criou uma forma expansiva de aprendizado dentro da comunidade escolar e mostrou que as atividades cativaram os participantes. O próximo passo é dar sequência ao grupo de estudos na escola, aprofundando o trabalho com abelhas e ampliando os limites das aulas de ciência tanto no Ensino Fundamental, como no Ensino Médio. Referências Bibliográficas BARBIERI, M.R.; SICCA, N. A.L.; CARVALHO, C.P. A construção do conhecimento do professor: uma experiência de parceria entre professores do ensino fundamental e médio da rede pública e a universidade. Ribeirão Preto: Holos, 2001. BUENO, W. C. Jornalismo Científico no Brasil: os compromissos de uma prática independente. Tese de doutorado apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, 1984. COUTO, R.M. & Castro, D. R. Abelhas solitárias: Pesquisa e Prática científica na escola. Trabalho de conclusão do curso Parceiros na Divulgação Científica, Universidade de São Paulo, 2011. 10 4722