Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 PROFESSOR REFLEXIVO: CONTRIBUIÇÕES DA ESCRITA EM BLOGS Acta Maiara Evangelista Maciel (Universidade Estadual de Santa Cruz - Bolsista FAPESB)¹ Adriane Lizbehd Halmann (Universidade Estadual de Santa Cruz) Keici de Almeida (Universidade Estadual de Santa Cruz) Andreus Bastos Cruz (Universidade Estadual de Santa Cruz- Bolsista FAPESB) Edcleide da Silva Pereira (Universidade Estadual de Santa Cruz- Bolsista CAPES) RESUMO As constantes renovações no ensino e no mundo conferem uma dinâmica de progressiva reconstrução de conhecimento. Neste sentido, muito se tem discutido sobre o que é um professor reflexivo e como este pode modificar e melhorar sua prática pedagógica e carreira. A reflexão por si só não traz resultados, mas, quando feita em blogs, pode tornar-se mais eficaz. Estes espaços na web são propícios à reflexão e interação entre sujeitos que possuem interesses semelhantes. Assim, cooperam para soluções de problemas e melhoria do ensino. Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica no sentido de investigar como a escrita em blogs favorece o processo de construção de um professor reflexivo. Faz-se necessário pensar o que dizem os autores sobre esses conceitos. Palavras chave: Formação de professores de Ciências, professor reflexivo, blogs. INTRODUÇÃO A formação de professores de Ciências requer constantes renovações, cabe aos professores à dinamização das aulas, fazendo com que estas se tornem mais interessantes e que instiguem a investigação e autonomia de seus alunos. Os docentes podem utilizar novas tecnologias para dinamizarem as suas aulas, tecnologias estas que permitem explorar alguns sentidos dos alunos como a visão, a audição e o tato, estimulando ainda mais o processo de ensino e de aprendizagem. Em uma época de avanços tecnológicos e científicos em que a sociedade requer cada vez mais um cidadão pensante não cabe no ensino de Ciências o professor encher a cabeça do aluno de assuntos, é preciso ensiná-lo problemas de um modo mais ativo e autônomo (POZO E GÓMEZ, 2009). Neste sentido Prada; Freitas e Freitas (2010) discutem que: A formação docente é uma contínua caminhada dos profissionais da educação, em cujo caminhar atuam todas as dimensões individuais e coletivas de caráter histórico, biopsicossocial, político, cultural, próprias de seres integrais e autores de sua própria formação. (PRADA; FREITAS; FREITAS, 2010, p. 370) 8 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 As discussões a cerca de qual é a postura desejável para os professores têm estado presente em diversos estudos, muitos deles falam em professor reflexivo com uma solução para a reestruturação da epistemologia da prática. Para muitos a prática reflexiva pode ser um agente estruturante na formação docente, tendo em vista que defendem que este perfil de profissional seja capaz de modificar a ação e enfrentar com mais facilidade os dilemas do ambiente escolar. Em outra direção, há pesquisadores que discordam dessa postura otimista e salientam que a reflexão sozinha não possui valor. Neste contexto se insere os blogs como instrumento de reflexão docente onde os professores podem além de escrever sobre a prática ter contato com outros que possuem dilemas e interesses semelhantes, tendo à possibilidade de ressignificar a prática em coletivo. Não é recomendável que tenhamos uma visão ingênua dos blogs e da tecnologia como um instrumento determinante para o processo de reflexão do professor, e sim trata-lo como um fenômeno social importante e complementar para a prática reflexiva do professor. No desenrolar desta revisão bibliográfica será possível identificar elementos como, diferentes conceitos de professor reflexivo, como ele é visto pelos autores contemporâneos e como os blogs influenciam na reflexão docente tornando-se um terreno fecundo a reflexão. Esta é uma pesquisa com abordagem qualitativa, do tipo revisão bibliográfica. Ser um professor reflexivo: um desafio O ensino de Ciências na atualidade demanda constantes renovações, ao passo que a globalização confere uma dinâmica de constante reconstrução de conhecimento, valores e saberes. O professor é um agente ativo neste processo de renovação do ensino, podendo modificar intensamente sua prática a partir de alguns elementos contribuindo para esta evolução. Mas, qual seria o papel a ser assumido pelo professor para esse processo de renovação, se a educação se faz por caminhos tão amplos e complexos? Freitas e Villlani (2002) discutem esse papel da seguinte forma: O ponto dominante na literatura atual aponta para uma crescente reflexão sobre qual seria o papel do professor na sociedade moderna, com uma produção de quadros teóricos que definem um novo modelo para sua formação, no qual o saber sobre o ensino deixa de ser visto pela lógica da racionalidade técnica e incorpora a dimensão do conhecimento construído e assumido responsavelmente a partir de uma prática crítico-reflexiva. (FREITAS E VILLLANI, 2002, p. 216) Alguns autores discutem a concepção de professor reflexivo como um componente 9 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 para a melhoria da prática pedagógica, que o auxiliaria em seu cotidiano e no processo de conhecimento profissional. Estes processos que constituem a formação de professores reflexivos são variados e difíceis, muito se contesta sobre como a reflexão pode melhorar o exercício da profissão de professor culminando numa reelaboração e ressignificação desta prática. Quanto á concepção de professor reflexivo Alarcão frisa: “O conceito de professor reflexivo emergiu inicialmente nos EUA como reação á concepção tecnocrática de professor, mero aplicador de packages curriculares pré-enlatadas numa perspectiva descendente de racionalidade técnica.” (Alarcão, 1996, p. 176). Este conceito é elaborado em uma época onde não cabia ao professor uma atitude apática em relação ao seu cotidiano escolar e uma postura tecnocrática, o ato da reflexão o libertaria e faria repensar e relocar alguns elementos do fazer docente, dando mais sentido a suas interações e vivências em ambiente escolar. Frente à necessidade de remodelamento do ensino, aprendizagem e de como a reflexão pode contribuir para a vida de professor, faz-se necessário pensar: Existe algum caminho para ser/torna-se um professor reflexivo? A reflexão docente é processual ou uma vez reflexivo, sempre reflexivo? Alarcão sugere que: “O pensamento reflexivo é uma capacidade. Como tal, não desabrocha espontaneamente, mas pode desenvolver-se. Para isso, tem de ser cultivado e requer condições favoráveis para o serem desbravador”. (Alarcão, 1996, p. 181) Neste sentido Schön (1992) um dos percursores deste pensamento salienta que, a concepção do professor reflexivo se dá através de um processo de conhecimento profissional e se revela na prática. O autor indica que a complexidade da sala de aula comporta diversas situações problemáticas. Em seu ver o saber pedagógico estaria sendo elaborado pela “reflexão na ação e reflexão sobre a ação”, ou seja, pela reflexão que foi feita durante e depois da ação. De acordo com Schön (1992): [...] é possível olhar retrospectivamente e refletir sobre a reflexão-na-ação. Após a aula, o professor pode pensar no que aconteceu, no que observou, no significado que lhe deu e na eventual adoção de outros sentidos. Refletir sobre a reflexão-na-ação é uma ação, uma observação e uma descrição, que exige o uso de palavras. (SCHON, 1992, p. 83) Entretanto, para Schön a reflexão na ação não é suficiente, com as experiências diárias os professores “criam” um conjunto de resoluções para seus problemas em sala de aula. No entanto, este repertório acaba por se esvair frente à diversidade do cotidiano escolar, assim 10 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 torna-se necessário a reflexão sobre a reflexão-na-ação. Com isso o conceito de professor reflexivo torna-se um pouco mais complexo e agrega mais elementos. Sobre outro aspecto da formação reflexiva Schön destaca como atribuição de um professor reflexivo, Um professor reflexivo tem a tarefa de encorajar e reconhecer, e mesmo de dar valor à confusão dos seus alunos. Mas também de encorajar e dar valor à sua própria confusão. [Pois] se não ficar [confuso], jamais poderá reconhecer o problema que necessita de explicação. O grande inimigo da confusão é a resposta que se assume como verdade única. (SCHÖN, 1992, p. 85) Nóvoa (1992) acrescenta outro elemento à reflexão, discutindo que a formação do professor deve ser critico reflexiva, a formação deve fornecer aos professores meios para buscar um pensamento autônomo, que seja capaz de refletir e perceber na reflexão quais são os pontos que se deve melhorar. O autor ainda considera um “tripé” para que a formação docente desemboque em um processo crítico reflexivo, são eles: desenvolvimento pessoal, desenvolvimento profissional, desenvolvimento organizacional. (NÓVOA, 1992, p. 25) Zeichner (2008) propõe a reflexão como um ato político e social: A “reflexão” é inevitavelmente um ato político que ou contribui ou atrapalha a construção de uma sociedade mais humana, justa e decente. Todas as ações de ensino têm uma variedade de conseqüências, as quais incluem: 1) conseqüências pessoais – os efeitos do ensino sobre o desenvolvimento social e emocional dos estudantes e de suas relações sociais; 2) conseqüências acadêmicas – os efeitos do ensino sobre o desenvolvimento intelectual dos alunos; e 3) conseqüências políticas – os efeitos acumulativos da experiência escolar sobre as mudanças de vida dos estudantes. (ZEICHNER, 2008, p.545) Em sua visão, para alcançar uma formação docente reflexiva seria necessário abordar todas essas dimensões e não deveria ser apoiada, a não ser que contribua para a construção de uma sociedade melhor para os filhos de todos. Pimenta (2002) discorre que não é somente da prática que se forma professores, a autora afirma que formar professores também consiste em nutri-los das mais diversas teorias da educação, só assim poderá conceder ao sujeito variados pontos de vista para uma ação contextualizada, localizando o professor como um ser social que precisa ser valorizado. Pimenta (1997): A formação de professores na tendência reflexiva se configura como uma política de valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores das instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da formação como continua dos professores, no local de trabalho, em redes de autoformação, e em parceria com outras instituições de formação. Isto porque trabalhar o conhecimento na dinâmica da sociedade multimídia, da globalização, da multiculturalidade, das transformações nos mercados produtivos, na formação dos alunos, crianças e jovens, também eles, em constante processo de transformação 11 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 cultural, de valores, de interesses e necessidades, requer permanente formação, entendida como ressignificação identitária dos professores. (PIMENTA, 1997, p.13) Neste mesmo sentido, outro trabalho importante é o de Zeichner (2008), que pontua outros fatores sobre a reflexão, nele o autor debate sobre a necessidade de se pensar, de que forma e porque é importante o ato da reflexão. Segundo ele a “reflexão” por si mesma não provoca resultados, pois o ato de refletir é intrínseco ao ser humano. Em crítica afirma que o professor reflexivo se tornou um slogan para justificar os cursos de formação continuada sem contribuir de fato para uma melhoria no ensino, aprendizagem e epistemologia da prática. Zeichner ainda chama a atenção ao listar três aspectos que considera insucessos da reflexão docente: o primeiro o da racionalidade técnica que ainda é presente nos programas de formação que dizem priorizar a formação reflexiva, o segundo é que o papel que resta aos professores permite-se apenas que se ajustem os meios para se atingir objetivos definidos pelos formadores. O terceiro em especial chama atenção é o da individualização da reflexão, neste sentido discute, Um terceiro aspecto do insucesso da formação docente reflexiva para promover o desenvolvimento real dos professores é a ênfase clara do foco interiorizado das reflexões dos professores sobre o seu próprio ensino e sobre os estudantes, desconsiderando-se as condições sociais da educação escolar que tanto influenciam o trabalho docente em sala de aula. Esse viés individualista faz com que seja menos provável que professores sejam capazes de confrontar e transformar os aspectos estruturais de seu trabalho que minam a possibilidade de atingirem seus objetivos educacionais. (ZEICHNER, 2008, p. 542) O autor nos alerta a possibilidade de um foco sobre a reflexão individual dos professores e ao possível esquecimento, de muitos, ao contexto social do ensino desenvolvimento docente levando assim a muitos professores “mergulharem” em seus problemas como exclusivamente seus, e acabar por não os relacionando aos de outros professores ou à estrutura da educação escolar. Este terceiro aspecto nos instiga a pensar que, os professores convivem dia-a-dia com a coletividade seja em sala de aula ou nos outros ambientes escolares, como se pode tratar a reflexão como um processo que se dá apenas na individualidade? Existem formas ou instrumentos que possam potencializar a reflexão deixando de lado a racionalidade técnica e dando mais voz aos professores? Em que ambiente pode ser possível a reflexão levando em consideração esse aspecto da coletividade? A reflexão pode gerar benefícios á prática docente? Blogs como espaços fecundos para a reflexão docente Os blogs são espaços onde se é permitido compartilhar ideias e informações além de 12 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 serem espaços de criações. O conteúdo que é fornecido em cada blog varia de acordo com o interesse dos blogueiros (autor do blog), podendo ter o enfoque em diferentes áreas como educação, esporte, moda, ensino e notícias. Hoje os blogs ou Web logs constituem verdadeiros sistemas de conteúdos postados por um grupo de pessoas e que são atualizados sistematicamente. Desde o seu início, os blogs tiveram as funções paralelas de expressar sentimentos e opiniões de seus donos pela Internet, além de dicas referentes à própria Internet. (MONTARDO E PASSERINO, 2005, p. 2) Apesar da possibilidade de diversas descrições do que é um blog Shah (2005 apud Amaral; Recuero e Montardo, 2009 p. 31) os conceitua como, um artefato cultural que se define por quem o cria, sendo um poderoso instrumento de identidade. Assim, a autora reforça que os blogs são: Um artefato cultural, para evitar qualquer confusão, pode ser claramente definido como um repositório vivo de significados compartilhados produzido por uma comunidade de idéias. Um artefato cultural é um símbolo de comunhão (no sentido nãoviolento, não religioso da palavra). Um artefato cultural se torna infinitamente mutável e gera muitas autoreferências e narrativas mutuamente definidoras mais do que cria uma narrativa mestra linear. (…) [sua legitimação se dá] pelas práticas vividas das pessoas que os criaram (SHAH, 2005, p. 15 apud AMARAL; RECUERO E MONTARDO, 2009 p. 31 ). Por ser uma criação humana possuem muitas características complexas, uma delas é o seu dinamismo e acesso “descomplicado” dando possibilidade a qualquer pessoa que queira manter um blog o tenha. Halmann (2006) destaca: Uma característica importante do blog é o dinamismo, qualquer indivíduo com conceitos mínimos de internet e com vontade de escrita, consegue criar seu blog, é crescente o número de autores (blogueiros), que podem postar rapidamente acelerando o fluxo das informações, onde o usuário “comum” deixa apenas de consumir informações que venham prontas e passa a produzir e complementar conteúdos. Isso tudo pode acontecer de uma forma bastante dinâmica, refletindo em diversas áreas do conhecimento, como o jornalismo, a educação, a produção e a disseminação da ciência. (HALMANN, 2006, p. 31) Em resultado a esse dinamismo os blogs admitem diversas áreas e interesses. Alguns são utilizados como verdadeiros diários, onde o blogueiros expõem suas experiências cotidianas e abrem espaços para a interação com os leitores. Muitos professores mantêm blogs como diários de aula (que não necessariamente são atualizados todos os dias, como nos diários manuscritos que estamos habituados), em que anotam suas impressões sobre o que vai acontecendo em sua classe e troca informações e experiências com outros professores. 13 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Neste sentido, Amaral; Recuero e Montardo (2009, p. 17) salientam, “Os blogs se transformam não só em um objeto fundamental de pesquisa para as ciências sociais, mas também em um poderoso instrumento pedagógico.” Assim, a autora fomenta a utilização deste recurso no ensino, bem como um instrumento de auxilio na prática pedagógica. A escrita em blogs pode potencializar a reflexão docente, pois além do registro escrito permite a interação e colaboração de outros indivíduos neste exercício. Neste sentido Zabalza (2004) discute a importância da reflexão materializada em forma de escrita quando diz: Escrever sobre o que estamos fazendo como profissional (em aula ou em outros contextos) é um procedimento excelente para nos conscientizarmos dos nossos padrões de trabalho. É uma forma de “distanciamento” reflexivo que nos permite ver em perspectiva nosso modo particular de atuar. É, além disso, uma forma de aprender. (ZABALZA, 2004, p.10) A reflexão pode se dar através dos blogs, pois são espaços onde se pode escrever, rever e perceber a interação social através dos comentários de seus seguidores e leitores, apoiandose e estimulando-se mutuamente. Zeichner (2008) salienta a importância da reflexão ocorrer na coletividade: Existe ainda muito pouca ênfase sobre a reflexão como uma prática social que acontece em comunidades de professores que se apoiam mutuamente e em que um sustenta o crescimento do outro. Ser desafiado e, ao mesmo tempo, apoiado por meio da interação social é importante para ajudar-nos a clarificar aquilo que nós acreditamos e para ganharmos coragem para perseguir nossas crenças. [...] porém, a ênfase, em muitos lugares, ainda continua na reflexão individual dos professores. (ZEICHNER, 2008, p. 543) Schön também traz a discussão este aspecto quando destaca: “Todo o processo tem envolvido uma reflexão coletiva sobre a prática do sistema escolar e tem tido grande impacto nos professores”. (Schon, 1992, p.88) Um olhar atento para esses processos coletivos se faz necessário, pois o professor não é uma ilha, ao contrário, ele está em contato em todo tempo com outros professores, com a direção da escola, com alunos, pais de alunos, entre outros, exercendo seu papel na sociedade resolvendo problemas e enfrentando muitos dilemas que tornam a carreira ainda mais desafiadora. Zabalza (2004) refere-se aos “diários” (tanto virtuais, como não virtuais) como um recurso para explicitar seus dilemas em relação á atuação profissional, dilemas que ele afirma ser um “conjunto de situações bipolares e multipolares que se oferecem ao professor no desenvolvimento de sua atividade profissional”. As interações de professores com outros professores podem gerar elementos pra além da reflexão. O ato de escrever em blogs pode gerar a reflexão elucidando a resoluções de 14 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 questões do dia a dia docente. Entretanto, a reflexão só se dará e será efetiva se o professor estiver disposto a fazer tais interlocuções e com outros construírem esse espaço, trocando saberes e experiências. Halmann (2006) salienta as potencialidades dos blogs para a reflexão docente: Os blogs dão espaço para algumas formas de expressão da linguagem, com bastante destaque para a escrita, tanto na forma de processo quanto na forma de produto. A escrita enquanto processo possibilita um repensar do objeto da escrita e a provocação das ideias em um ato de articulação de ideias, formulação de questões e respostas, buscando a sistematização da ordem mental para uma forma “compreensível” aos olhos dos outros, questionandose sobre os principais problemas, a forma como os temas se relacionam e o que pensamos sobre eles. Desta maneira faz-se fundamental o registro escrito das elocubrações da reflexão, afinal, é pelo exercício da escrita que se questiona sobre os problemas e a forma de atuação com eles, como o exercício da prática é exercido, qual nossa inserção/repercussão neste contexto. (HALMANN, 2006, p. 121) Primo e Smaniotto (2005) chamam atenção para as diversas contribuições que os diálogos travados em blogs podem gerar, a este fenômeno dá o nome de “conversação em blogs” este se dá quando uma publicação gera comentários diversos de blogueiros proporcionando assim o trânsito de ideias, gerando e ou trazendo contribuições para o blogueiro. No mesmo sentido Halmann confirma que: Os blogs possibilitam e potencializam tais movimentos, de forma inacabada e sempre aberta a novas formas de expressão, dando espaço para que a reflexão de professores passe a ser entre professores, que colaboram para a ressignificação das práticas educacionais e sua implicação social. (HALMANN, 2006, p. 125) É necessário também refletir que a escrita em blogs por si só não o torna um instrumento de reflexão ressignificação da prática docente. Fica evidente que a escrita precisa vir acompanhada conexões com o dia a dia do professor para que realmente faça sentido, não podemos compactuar com a ideia de que a formação de professores reflexivos esteja limitada ao uso dos blogs ou de qualquer outro fenômeno social, movimento ou aparato tecnológico. Para tanto, podemos inferir que os blogs possuem uma grande potencialidade no que diz respeito às questões que tangem o professor reflexivo (professor este que é capaz de refletir criticamente sobre sua prática, sendo autônomo e contribuindo tanto socialmente quanto profissionalmente para a melhoria da sua comunidade), pois, seu espaço favorece a escrita e a reflexão coletiva, objetivando assim um maior grau de reflexão propiciando interações significativas aos docentes envolvidos no processo de reflexão. A formação de professores vai além da reflexão sobre prática, o desenvolvimento do professor reflexivo se dá 15 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 de forma dinâmica e plural e desde a sua formação inicial. O professor aprende com a sua profissão a todo tempo, deste modo, os blogs podem colaborar com suas práticas e proporcionar um modo de reflexão, antes, durante e depois da ação sendo que a reflexão sobre a prática é um exercício diário e continuo na vida do professor. Ser um professor reflexivo requer um esforço para que as práticas e a profissão sejam repensadas a cada momento e este processo terá mais sucesso se for direcionado por uma ação que abarque a escrita em blogs. CONSIDERAÇÕES FINAIS Formar professores de Ciências não é tarefa fácil, frente a tantas modificações do mundo atual esse professor precisa deixar a visão tecnicista e colaborar para a formação de indivíduos autônomos e investigadores. Sabe-se que a escola não consegue acompanhar lado a lado essas mudanças o que torna o fazer docente ainda mais difícil. Os problemas educacionais são diversos e o professor muitas vezes é tido como culpado, no entanto é apenas mais uma vítima do sistema e de uma série de regras colocadas por instâncias superiores que os sufocam e oprimem. Na tentativa de formar professores mais capacitados se tem discutido soluções pra a educação no âmbito da melhoria da prática docente, a busca pela identidade perdida do professor e de como a reflexão pode compreender a epistemologia da prática. Foi possível perceber nos estudos acimas citados que já se sabe que a reflexão sozinha não possui efeito em si mesmo, ela precisa estar acompanhada de outros elementos que colaboram para o seu exercício. Com o desenvolvimento do conceito de professor reflexivo se propôs que este deveria refletir sobre e na ação, e que estas atitudes precisavam ser vista como uma prática social para que possibilitar uma efetiva melhoria na formação docente. Diversas críticas surgiram sobre o conceito de professor reflexivo desde que este era um conceito tecnocrático até a eminencia de um professor que apenas consegue experiências através da sua prática. A literatura nos revela que para formar professores é preciso também nutri-los de bases teorias para que assim ele possa entrelaçar caminhos teóricos aos caminhos da prática. Uma das características pertinentes ao professor reflexivo é o fato deste se constituir em uma coletividade presente em blogs, onde é possível a colaboração, interação e troca de experiências trazidas por suas escritas e mediações de outros professores blogueiros. 16 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Mediante a tudo que foi exposto, o professor reflexivo se forma ou se constrói não apenas pelo processo de reflexão, mas também da valorização social e pessoal, da troca de experiências com seus colegas de profissão, e da valorização de processos que os fazem crescerem como profissionais e ressignificar a identidade docente. Um caminho é sugerido ao desejável professor reflexivo, e que este lance mão de inúmeras possibilidades de reflexão na ação e sobre a ação, e uma delas é utilizar blogs de forma que contribua para o real desenvolvimento da reflexão por meios da coletividade, escrita e da busca da resolução de dilemas em grupo. Escrever em blogs significa que este professor possui um espaço para expor sua ação e a partir dela compreender mecanismos para a melhoria da prática indo sempre em busca de novas respostas e caminhos que este ambiente pode proporcionar. REFERÊNCIAS AMARAL, A.; RECUERO, R.; MONTARDO, S. (Org) Blogs: estudos sobre blogs e comunicação. São Paulo: Momento Editorial, 2009. FREITAS, D.; VILLANI, A. Formação de professores de ciências: um desafio sem limites. Investigações em Ensino de Ciências. Porto Alegre, v. 7, n. 3, p. 215-230, dez 2002. Disponível em <http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID90/v7_n3_a2002.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2013. HALMANN, A. L. 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