Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
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PROFESSOR REFLEXIVO: CONTRIBUIÇÕES DA ESCRITA EM BLOGS
Acta Maiara Evangelista Maciel (Universidade Estadual de Santa Cruz - Bolsista FAPESB)¹
Adriane Lizbehd Halmann (Universidade Estadual de Santa Cruz)
Keici de Almeida (Universidade Estadual de Santa Cruz)
Andreus Bastos Cruz (Universidade Estadual de Santa Cruz- Bolsista FAPESB)
Edcleide da Silva Pereira (Universidade Estadual de Santa Cruz- Bolsista CAPES)
RESUMO
As constantes renovações no ensino e no mundo conferem uma dinâmica de progressiva
reconstrução de conhecimento. Neste sentido, muito se tem discutido sobre o que é um
professor reflexivo e como este pode modificar e melhorar sua prática pedagógica e carreira.
A reflexão por si só não traz resultados, mas, quando feita em blogs, pode tornar-se mais
eficaz. Estes espaços na web são propícios à reflexão e interação entre sujeitos que possuem
interesses semelhantes. Assim, cooperam para soluções de problemas e melhoria do ensino.
Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica no sentido de investigar como a escrita
em blogs favorece o processo de construção de um professor reflexivo. Faz-se necessário
pensar o que dizem os autores sobre esses conceitos.
Palavras chave: Formação de professores de Ciências, professor reflexivo, blogs.
INTRODUÇÃO
A formação de professores de Ciências requer constantes renovações, cabe aos
professores à dinamização das aulas, fazendo com que estas se tornem mais interessantes e
que instiguem a investigação e autonomia de seus alunos. Os docentes podem utilizar novas
tecnologias para dinamizarem as suas aulas, tecnologias estas que permitem explorar alguns
sentidos dos alunos como a visão, a audição e o tato, estimulando ainda mais o processo de
ensino e de aprendizagem.
Em uma época de avanços tecnológicos e científicos em que a sociedade requer cada
vez mais um cidadão pensante não cabe no ensino de Ciências o professor encher a cabeça do
aluno de assuntos, é preciso ensiná-lo problemas de um modo mais ativo e autônomo (POZO
E GÓMEZ, 2009). Neste sentido Prada; Freitas e Freitas (2010) discutem que:
A formação docente é uma contínua caminhada dos profissionais da
educação, em cujo caminhar atuam todas as dimensões individuais e
coletivas de caráter histórico, biopsicossocial, político, cultural, próprias de
seres integrais e autores de sua própria formação. (PRADA; FREITAS;
FREITAS, 2010, p. 370)
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As discussões a cerca de qual é a postura desejável para os professores têm estado
presente em diversos estudos, muitos deles falam em professor reflexivo com uma solução
para a reestruturação da epistemologia da prática. Para muitos a prática reflexiva pode ser um
agente estruturante na formação docente, tendo em vista que defendem que este perfil de
profissional seja capaz de modificar a ação e enfrentar com mais facilidade os dilemas do
ambiente escolar.
Em outra direção, há pesquisadores que discordam dessa postura otimista e salientam
que a reflexão sozinha não possui valor. Neste contexto se insere os blogs como instrumento
de reflexão docente onde os professores podem além de escrever sobre a prática ter contato
com outros que possuem dilemas e interesses semelhantes, tendo à possibilidade de
ressignificar a prática em coletivo. Não é recomendável que tenhamos uma visão ingênua dos
blogs e da tecnologia como um instrumento determinante para o processo de reflexão do
professor, e sim trata-lo como um fenômeno social importante e complementar para a prática
reflexiva do professor.
No desenrolar desta revisão bibliográfica será possível identificar elementos como,
diferentes conceitos de professor reflexivo, como ele é visto pelos autores contemporâneos e
como os blogs influenciam na reflexão docente tornando-se um terreno fecundo a reflexão.
Esta é uma pesquisa com abordagem qualitativa, do tipo revisão bibliográfica.
Ser um professor reflexivo: um desafio
O ensino de Ciências na atualidade demanda constantes renovações, ao passo que a
globalização confere uma dinâmica de constante reconstrução de conhecimento, valores e
saberes. O professor é um agente ativo neste processo de renovação do ensino, podendo
modificar intensamente sua prática a partir de alguns elementos contribuindo para esta
evolução.
Mas, qual seria o papel a ser assumido pelo professor para esse processo de renovação,
se a educação se faz por caminhos tão amplos e complexos?
Freitas e Villlani (2002) discutem esse papel da seguinte forma:
O ponto dominante na literatura atual aponta para uma crescente reflexão sobre qual
seria o papel do professor na sociedade moderna, com uma produção de quadros
teóricos que definem um novo modelo para sua formação, no qual o saber sobre o
ensino deixa de ser visto pela lógica da racionalidade técnica e incorpora a dimensão
do conhecimento construído e assumido responsavelmente a partir de uma prática
crítico-reflexiva. (FREITAS E VILLLANI, 2002, p. 216)
Alguns autores discutem a concepção de professor reflexivo como um componente
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para a melhoria da prática pedagógica, que o auxiliaria em seu cotidiano e no processo de
conhecimento profissional. Estes processos que constituem a formação de professores
reflexivos são variados e difíceis, muito se contesta sobre como a reflexão pode melhorar o
exercício da profissão de professor culminando numa reelaboração e ressignificação desta
prática.
Quanto á concepção de professor reflexivo Alarcão frisa: “O conceito de professor
reflexivo emergiu inicialmente nos EUA como reação á concepção tecnocrática de professor,
mero aplicador de packages curriculares pré-enlatadas numa perspectiva descendente de
racionalidade técnica.” (Alarcão, 1996, p. 176). Este conceito é elaborado em uma época onde
não cabia ao professor uma atitude apática em relação ao seu cotidiano escolar e uma postura
tecnocrática, o ato da reflexão o libertaria e faria repensar e relocar alguns elementos do fazer
docente, dando mais sentido a suas interações e vivências em ambiente escolar.
Frente à necessidade de remodelamento do ensino, aprendizagem e de como a reflexão
pode contribuir para a vida de professor, faz-se necessário pensar: Existe algum caminho para
ser/torna-se um professor reflexivo? A reflexão docente é processual ou uma vez reflexivo,
sempre reflexivo?
Alarcão sugere que: “O pensamento reflexivo é uma capacidade. Como tal, não
desabrocha espontaneamente, mas pode desenvolver-se. Para isso, tem de ser cultivado e
requer condições favoráveis para o serem desbravador”. (Alarcão, 1996, p. 181)
Neste sentido Schön (1992) um dos percursores deste pensamento salienta que, a
concepção do professor reflexivo se dá através de um processo de conhecimento profissional
e se revela na prática. O autor indica que a complexidade da sala de aula comporta diversas
situações problemáticas. Em seu ver o saber pedagógico estaria sendo elaborado pela
“reflexão na ação e reflexão sobre a ação”, ou seja, pela reflexão que foi feita durante e depois
da ação.
De acordo com Schön (1992):
[...] é possível olhar retrospectivamente e refletir sobre a reflexão-na-ação. Após a
aula, o professor pode pensar no que aconteceu, no que observou, no significado que
lhe deu e na eventual adoção de outros sentidos. Refletir sobre a reflexão-na-ação é
uma ação, uma observação e uma descrição, que exige o uso de palavras. (SCHON,
1992, p. 83)
Entretanto, para Schön a reflexão na ação não é suficiente, com as experiências diárias
os professores “criam” um conjunto de resoluções para seus problemas em sala de aula. No
entanto, este repertório acaba por se esvair frente à diversidade do cotidiano escolar, assim
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torna-se necessário a reflexão sobre a reflexão-na-ação. Com isso o conceito de professor
reflexivo torna-se um pouco mais complexo e agrega mais elementos.
Sobre outro aspecto da formação reflexiva Schön destaca como atribuição de um
professor reflexivo,
Um professor reflexivo tem a tarefa de encorajar e reconhecer, e mesmo de dar valor
à confusão dos seus alunos. Mas também de encorajar e dar valor à sua própria
confusão. [Pois] se não ficar [confuso], jamais poderá reconhecer o problema que
necessita de explicação. O grande inimigo da confusão é a resposta que se assume
como verdade única. (SCHÖN, 1992, p. 85)
Nóvoa (1992) acrescenta outro elemento à reflexão, discutindo que a formação do
professor deve ser critico reflexiva, a formação deve fornecer aos professores meios para
buscar um pensamento autônomo, que seja capaz de refletir e perceber na reflexão quais são
os pontos que se deve melhorar. O autor ainda considera um “tripé” para que a formação
docente desemboque em um processo crítico reflexivo, são eles: desenvolvimento pessoal,
desenvolvimento profissional, desenvolvimento organizacional. (NÓVOA, 1992, p. 25)
Zeichner (2008) propõe a reflexão como um ato político e social:
A “reflexão” é inevitavelmente um ato político que ou contribui ou atrapalha a
construção de uma sociedade mais humana, justa e decente. Todas as ações de
ensino têm uma variedade de conseqüências, as quais incluem: 1) conseqüências
pessoais – os efeitos do ensino sobre o desenvolvimento social e emocional dos
estudantes e de suas relações sociais; 2) conseqüências acadêmicas – os efeitos do
ensino sobre o desenvolvimento intelectual dos alunos; e 3) conseqüências políticas
– os efeitos acumulativos da experiência escolar sobre as mudanças de vida dos
estudantes. (ZEICHNER, 2008, p.545)
Em sua visão, para alcançar uma formação docente reflexiva seria necessário abordar
todas essas dimensões e não deveria ser apoiada, a não ser que contribua para a construção de
uma sociedade melhor para os filhos de todos.
Pimenta (2002) discorre que não é somente da prática que se forma professores, a
autora afirma que formar professores também consiste em nutri-los das mais diversas teorias
da educação, só assim poderá conceder ao sujeito variados pontos de vista para uma ação
contextualizada, localizando o professor como um ser social que precisa ser valorizado.
Pimenta (1997):
A formação de professores na tendência reflexiva se configura como uma política de
valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores das
instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da
formação como continua dos professores, no local de trabalho, em redes de
autoformação, e em parceria com outras instituições de formação. Isto porque
trabalhar o conhecimento na dinâmica da sociedade multimídia, da globalização, da
multiculturalidade, das transformações nos mercados produtivos, na formação dos
alunos, crianças e jovens, também eles, em constante processo de transformação
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cultural, de valores, de interesses e necessidades, requer permanente formação,
entendida como ressignificação identitária dos professores. (PIMENTA, 1997, p.13)
Neste mesmo sentido, outro trabalho importante é o de Zeichner (2008), que pontua
outros fatores sobre a reflexão, nele o autor debate sobre a necessidade de se pensar, de que
forma e porque é importante o ato da reflexão. Segundo ele a “reflexão” por si mesma não
provoca resultados, pois o ato de refletir é intrínseco ao ser humano. Em crítica afirma que o
professor reflexivo se tornou um slogan para justificar os cursos de formação continuada sem
contribuir de fato para uma melhoria no ensino, aprendizagem e epistemologia da prática.
Zeichner ainda chama a atenção ao listar três aspectos que considera insucessos da
reflexão docente: o primeiro o da racionalidade técnica que ainda é presente nos programas de
formação que dizem priorizar a formação reflexiva, o segundo é que o papel que resta aos
professores permite-se apenas que se ajustem os meios para se atingir objetivos definidos
pelos formadores. O terceiro em especial chama atenção é o da individualização da reflexão,
neste sentido discute,
Um terceiro aspecto do insucesso da formação docente reflexiva para promover o
desenvolvimento real dos professores é a ênfase clara do foco interiorizado das
reflexões dos professores sobre o seu próprio ensino e sobre os estudantes,
desconsiderando-se as condições sociais da educação escolar que tanto influenciam
o trabalho docente em sala de aula. Esse viés individualista faz com que seja menos
provável que professores sejam capazes de confrontar e transformar os aspectos
estruturais de seu trabalho que minam a possibilidade de atingirem seus objetivos
educacionais. (ZEICHNER, 2008, p. 542)
O autor nos alerta a possibilidade de um foco sobre a reflexão individual dos
professores e ao possível esquecimento, de muitos, ao contexto social do ensino
desenvolvimento docente levando assim a muitos professores “mergulharem” em seus
problemas como exclusivamente seus, e acabar por não os relacionando aos de outros
professores ou à estrutura da educação escolar.
Este terceiro aspecto nos instiga a pensar que, os professores convivem dia-a-dia com
a coletividade seja em sala de aula ou nos outros ambientes escolares, como se pode tratar a
reflexão como um processo que se dá apenas na individualidade? Existem formas ou
instrumentos que possam potencializar a reflexão deixando de lado a racionalidade técnica e
dando mais voz aos professores? Em que ambiente pode ser possível a reflexão levando em
consideração esse aspecto da coletividade? A reflexão pode gerar benefícios á prática
docente?
Blogs como espaços fecundos para a reflexão docente
Os blogs são espaços onde se é permitido compartilhar ideias e informações além de
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serem espaços de criações. O conteúdo que é fornecido em cada blog varia de acordo com o
interesse dos blogueiros (autor do blog), podendo ter o enfoque em diferentes áreas como
educação, esporte, moda, ensino e notícias.
Hoje os blogs ou Web logs constituem verdadeiros sistemas de conteúdos postados
por um grupo de pessoas e que são atualizados sistematicamente. Desde o seu início, os blogs
tiveram as funções paralelas de expressar sentimentos e opiniões de seus donos pela Internet,
além de dicas referentes à própria Internet. (MONTARDO E PASSERINO, 2005, p. 2)
Apesar da possibilidade de diversas descrições do que é um blog Shah (2005 apud
Amaral; Recuero e Montardo, 2009 p. 31) os conceitua como, um artefato cultural que se
define por quem o cria, sendo um poderoso instrumento de identidade. Assim, a autora
reforça que os blogs são:
Um artefato cultural, para evitar qualquer confusão, pode ser claramente
definido como um repositório vivo de significados compartilhados
produzido por uma comunidade de idéias. Um artefato cultural é um
símbolo de comunhão (no sentido não­violento, não religioso da palavra).
Um artefato cultural se torna infinitamente mutável e gera muitas
auto­referências e narrativas mutuamente definidoras mais do que cria
uma narrativa mestra linear. (…) [sua legitimação se dá] pelas práticas
vividas das pessoas que os criaram (SHAH, 2005, p. 15 apud AMARAL;
RECUERO E MONTARDO, 2009 p. 31 ).
Por ser uma criação humana possuem muitas características complexas, uma delas é o
seu dinamismo e acesso “descomplicado” dando possibilidade a qualquer pessoa que queira
manter um blog o tenha.
Halmann (2006) destaca:
Uma característica importante do blog é o dinamismo, qualquer indivíduo
com conceitos mínimos de internet e com vontade de escrita, consegue criar
seu blog, é crescente o número de autores (blogueiros), que podem postar
rapidamente acelerando o fluxo das informações, onde o usuário “comum”
deixa apenas de consumir informações que venham prontas e passa a
produzir e complementar conteúdos. Isso tudo pode acontecer de uma forma
bastante dinâmica, refletindo em diversas áreas do conhecimento, como o
jornalismo, a educação, a produção e a disseminação da ciência.
(HALMANN, 2006, p. 31)
Em resultado a esse dinamismo os blogs admitem diversas áreas e interesses. Alguns
são utilizados como verdadeiros diários, onde o blogueiros expõem suas experiências
cotidianas e abrem espaços para a interação com os leitores. Muitos professores mantêm blogs
como diários de aula (que não necessariamente são atualizados todos os dias, como nos
diários manuscritos que estamos habituados), em que anotam suas impressões sobre o que vai
acontecendo em sua classe e troca informações e experiências com outros professores.
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Neste sentido, Amaral; Recuero e Montardo (2009, p. 17) salientam, “Os blogs se
transformam não só em um objeto fundamental de pesquisa para as ciências sociais, mas
também em um poderoso instrumento pedagógico.” Assim, a autora fomenta a utilização deste
recurso no ensino, bem como um instrumento de auxilio na prática pedagógica.
A escrita em blogs pode potencializar a reflexão docente, pois além do registro escrito
permite a interação e colaboração de outros indivíduos neste exercício. Neste sentido Zabalza
(2004) discute a importância da reflexão materializada em forma de escrita quando diz:
Escrever sobre o que estamos fazendo como profissional (em aula ou em
outros contextos) é um procedimento excelente para nos conscientizarmos
dos nossos padrões de trabalho. É uma forma de “distanciamento” reflexivo
que nos permite ver em perspectiva nosso modo particular de atuar. É, além
disso, uma forma de aprender. (ZABALZA, 2004, p.10)
A reflexão pode se dar através dos blogs, pois são espaços onde se pode escrever, rever
e perceber a interação social através dos comentários de seus seguidores e leitores, apoiandose e estimulando-se mutuamente. Zeichner (2008) salienta a importância da reflexão ocorrer
na coletividade:
Existe ainda muito pouca ênfase sobre a reflexão como uma prática social
que acontece em comunidades de professores que se apoiam mutuamente e
em que um sustenta o crescimento do outro. Ser desafiado e, ao mesmo
tempo, apoiado por meio da interação social é importante para ajudar-nos a
clarificar aquilo que nós acreditamos e para ganharmos coragem para
perseguir nossas crenças. [...] porém, a ênfase, em muitos lugares, ainda
continua na reflexão individual dos professores. (ZEICHNER, 2008, p. 543)
Schön também traz a discussão este aspecto quando destaca: “Todo o processo tem
envolvido uma reflexão coletiva sobre a prática do sistema escolar e tem tido grande impacto
nos professores”. (Schon, 1992, p.88)
Um olhar atento para esses processos coletivos se faz necessário, pois o professor não
é uma ilha, ao contrário, ele está em contato em todo tempo com outros professores, com a
direção da escola, com alunos, pais de alunos, entre outros, exercendo seu papel na sociedade
resolvendo problemas e enfrentando muitos dilemas que tornam a carreira ainda mais
desafiadora.
Zabalza (2004) refere-se aos “diários” (tanto virtuais, como não virtuais) como um
recurso para explicitar seus dilemas em relação á atuação profissional, dilemas que ele afirma
ser um “conjunto de situações bipolares e multipolares que se oferecem ao professor no
desenvolvimento de sua atividade profissional”.
As interações de professores com outros professores podem gerar elementos pra além
da reflexão. O ato de escrever em blogs pode gerar a reflexão elucidando a resoluções de
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questões do dia a dia docente. Entretanto, a reflexão só se dará e será efetiva se o professor
estiver disposto a fazer tais interlocuções e com outros construírem esse espaço, trocando
saberes e experiências.
Halmann (2006) salienta as potencialidades dos blogs para a reflexão docente:
Os blogs dão espaço para algumas formas de expressão da linguagem, com
bastante destaque para a escrita, tanto na forma de processo quanto na forma
de produto. A escrita enquanto processo possibilita um repensar do objeto da
escrita e a provocação das ideias em um ato de articulação de ideias,
formulação de questões e respostas, buscando a sistematização da ordem
mental para uma forma “compreensível” aos olhos dos outros, questionandose sobre os principais problemas, a forma como os temas se relacionam e o
que pensamos sobre eles. Desta maneira faz-se fundamental o registro
escrito das elocubrações da reflexão, afinal, é pelo exercício da escrita que se
questiona sobre os problemas e a forma de atuação com eles, como o
exercício da prática é exercido, qual nossa inserção/repercussão neste
contexto. (HALMANN, 2006, p. 121)
Primo e Smaniotto (2005) chamam atenção para as diversas contribuições que os
diálogos travados em blogs podem gerar, a este fenômeno dá o nome de “conversação em
blogs” este se dá quando uma publicação gera comentários diversos de blogueiros
proporcionando assim o trânsito de ideias, gerando e ou trazendo contribuições para o
blogueiro. No mesmo sentido Halmann confirma que:
Os blogs possibilitam e potencializam tais movimentos, de forma
inacabada e sempre aberta a novas formas de expressão, dando espaço
para que a reflexão de professores passe a ser entre professores, que
colaboram para a ressignificação das práticas educacionais e sua
implicação social. (HALMANN, 2006, p. 125)
É necessário também refletir que a escrita em blogs por si só não o torna um
instrumento de reflexão ressignificação da prática docente. Fica evidente que a escrita precisa
vir acompanhada conexões com o dia a dia do professor para que realmente faça sentido, não
podemos compactuar com a ideia de que a formação de professores reflexivos esteja limitada
ao uso dos blogs ou de qualquer outro fenômeno social, movimento ou aparato tecnológico.
Para tanto, podemos inferir que os blogs possuem uma grande potencialidade no que
diz respeito às questões que tangem o professor reflexivo (professor este que é capaz de
refletir criticamente sobre sua prática, sendo autônomo e contribuindo tanto socialmente
quanto profissionalmente para a melhoria da sua comunidade), pois, seu espaço favorece a
escrita e a reflexão coletiva, objetivando assim um maior grau de reflexão propiciando
interações significativas aos docentes envolvidos no processo de reflexão. A formação de
professores vai além da reflexão sobre prática, o desenvolvimento do professor reflexivo se dá
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de forma dinâmica e plural e desde a sua formação inicial.
O professor aprende com a sua profissão a todo tempo, deste modo, os blogs podem
colaborar com suas práticas e proporcionar um modo de reflexão, antes, durante e depois da
ação sendo que a reflexão sobre a prática é um exercício diário e continuo na vida do
professor.
Ser um professor reflexivo requer um esforço para que as práticas e a profissão sejam
repensadas a cada momento e este processo terá mais sucesso se for direcionado por uma ação
que abarque a escrita em blogs.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Formar professores de Ciências não é tarefa fácil, frente a tantas modificações do
mundo atual esse professor precisa deixar a visão tecnicista e colaborar para a formação de
indivíduos autônomos e investigadores.
Sabe-se que a escola não consegue acompanhar lado a lado essas mudanças o que
torna o fazer docente ainda mais difícil. Os problemas educacionais são diversos e o professor
muitas vezes é tido como culpado, no entanto é apenas mais uma vítima do sistema e de uma
série de regras colocadas por instâncias superiores que os sufocam e oprimem.
Na tentativa de formar professores mais capacitados se tem discutido soluções pra a
educação no âmbito da melhoria da prática docente, a busca pela identidade perdida do
professor e de como a reflexão pode compreender a epistemologia da prática.
Foi possível perceber nos estudos acimas citados que já se sabe que a reflexão sozinha
não possui efeito em si mesmo, ela precisa estar acompanhada de outros elementos que
colaboram para o seu exercício.
Com o desenvolvimento do conceito de professor reflexivo se propôs que este deveria
refletir sobre e na ação, e que estas atitudes precisavam ser vista como uma prática social para
que possibilitar uma efetiva melhoria na formação docente.
Diversas críticas surgiram sobre o conceito de professor reflexivo desde que este era
um conceito tecnocrático até a eminencia de um professor que apenas consegue experiências
através da sua prática. A literatura nos revela que para formar professores é preciso também
nutri-los de bases teorias para que assim ele possa entrelaçar caminhos teóricos aos caminhos
da prática.
Uma das características pertinentes ao professor reflexivo é o fato deste se constituir
em uma coletividade presente em blogs, onde é possível a colaboração, interação e troca de
experiências trazidas por suas escritas e mediações de outros professores blogueiros.
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Mediante a tudo que foi exposto, o professor reflexivo se forma ou se constrói não
apenas pelo processo de reflexão, mas também da valorização social e pessoal, da troca de
experiências com seus colegas de profissão, e da valorização de processos que os fazem
crescerem como profissionais e ressignificar a identidade docente.
Um caminho é sugerido ao desejável professor reflexivo, e que este lance mão de
inúmeras possibilidades de reflexão na ação e sobre a ação, e uma delas é utilizar blogs de
forma que contribua para o real desenvolvimento da reflexão por meios da coletividade,
escrita e da busca da resolução de dilemas em grupo.
Escrever em blogs significa que este professor possui um espaço para expor sua ação e
a partir dela compreender mecanismos para a melhoria da prática indo sempre em busca de
novas respostas e caminhos que este ambiente pode proporcionar.
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