AGRO 940 Melhoria da Qualidade da Ginja de Óbidos e Alcobaça RESUMO Participantes: Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejao (exDRARO) Associação dos Produtores de Maçã de Alcobaça Município de Óbidos Líder: António Maria dos Santos Ramos (ESA/IPCB) Equipa: António Maria dos Santos Ramos (ESA/IPCB) Maria Cândida Viegas Tavares (ESA/IPCB) Cecília Maria Marcelo Silva Gouveia (ESA/IPCB) Manuel António Martins Silva (ESA/IPCB) Sérgio Nuno Marques Branco* (ESA/IPCB) Maria do Carmo Simões Horta-Monteiro** (ESA/IPCB) João Paulo Rodrigues de Brito Monteiro (ex-DRARO) Regina Célia da Angela Tiago Andrónico (ex-DRARO) Jorge Manuel Pereira Soares (APMA) Susana Isabel da Cruz Jacinto e Costa (APMA) António Miguel Leão de Sousa* (APMA) Pedro Manuel Domingues Trindade de Oliveira Maia** (APMA) José Filipe Leitão Ribeiro (MO) Período de execução: 1 de Junho de 2006 a 31 de Dezembro de 2007. 1 A. Síntese dos Trabalhos e Resultados Actividades relatadas no 1º Relatório de Progresso (1 de Junho a 31 de Dezembro de 2006): • Acompanhamento da colheita de 2006, com determinação dos tempos de colheita e recolha de amostras de frutos: Tabela 1 – Quilos de ginja (média±erro-padrão) colhidos por trabalhador por período de 60 minutos Rendimento do trabalho de colheita (kg/hora/trabalhador) 9,24±0,61 • Análises laboratoriais aos frutos e comparação com o ano de 2005: Tabela 2 – Resultados laboratoriais da caracterização do fruto da ginja “Galega” nas campanhas de 2005 e 2006 (média ± erro-padrão) Diâmetro do fruto (mm) Altura do fruto (mm) Peso do fruto com pedúnculo (g) Peso do pedúnculo (g) Peso do fruto sem pedúnculo (g) Peso do caroço (g) Peso da polpa (g) Rendimento em polpa (%) Relação polpa/caroço pH inicial Acidez (g de ácido málico/L) Açúcares totais (ºBrix) Cor da epiderme L a* b* 2005 2006 16,90±0,53 14,27±0,36 3,31±0,21 0,14±0,01 3,18±0,21 0,42±0,02 2,76±0,19 83,32±2,29 6,59±0,49 3,20±0,10 21,39±2,13 21,35±0,43 30,38±0,73 17,84±1,69 5,29±0,86 19,53±0,33 16,72±0,24 3,88±0,19 0,08±0,003 3,80±0,18 0,29±0,01 3,51±0,17 92,31±0,15 12,02±0,27 3,55±0,08 17,15±0,54 17,92±0,73 26,92±0,28 14,96±0,58 5,14±0,38 • Selecção e caracterização dos campos experimentais: Tabela 3 – Características gerais dos campos de demonstração seleccionados Campo 1: localizado em Sobral da Lagoa (Óbidos), plantado em 2004, enxertado em Maxma 14, conduzido em vaso com podas regulares, com o compasso de 4x3m, apresentando 2 manchas de solo diferentes, um arenoso e outro argiloso, em encostas com 2 uma pendente média de 10-15%, com diferentes exposições ao sol e aos ventos dominantes (uma encosta virada a nordeste e outra a sudoeste), regado com rega gota-a-gota, com enrelvamento na entrelinha controlado com um destroçador e com herbicida na linha. Tem uma pequena parcela testemunha com árvores nas suas próprias raízes, em sequeiro Campo 2: localizado na Capeleira (Óbidos), plantado em 2005, parte enxertado em Maxma 14, parte nas suas próprias raízes (de pôlas), no compasso 4x3m, em regime de sequeiro, em encosta por vezes com pendente elevada (20-25%) e exposição numa parte a noroeste e noutra a norte. Ainda não foram feitas intervenções de poda Campo 3: localizado em Sobral da Lagoa (Óbidos), com 3 parcelas de idades diferentes de tipo tradicional (uma com mais de 20 anos, compasso e disposição irregular, copa “redonda” com ramos pendentes e em encosta de média inclinação (15-20%) exposta a leste; outra plantada em 2004 e 2005, com compasso mais regular mas não uniforme, com copa em formação e em terreno plano; outra plantada em 2006, com compasso de 4x3,5m, em encosta com pendente ligeira e exposta a oeste), em sequeiro, com plantas obtidas das pôlas Campo 4: localizado em Vale do Amieiro (Alcobaça), plantado em 2005, com compasso de 4,5x3m, enxertadas em Maxma 14, com rega gota-a-gota. É um pomar com problemas graves que importa estudar, com as árvores a vegetar irregularmente, sem produzir e, mesmo, a morrer. Possíveis problemas: adaptação do porta-enxerto ao solo ou afinidade com a cultivar; problemas sanitários; fertilização e rega inadequadas, talvez excessivas, por estarem sujeitas à programação de um sector de macieiras. Outros campos: tradicionais, semi abandonados, irregulares, de sequeiro e com diferentes localizações em relação à área de produção poderão ser utilizados, nomeadamente para a colheita de amostras de frutos. Um campo na serra da Gardunha, colecção da DRABI, em Alcongosta (Fundão), em patamares, com cerca de 15 anos, poderá igualmente ser utilizado para o mesmo efeito Actividades relatadas no 2º Relatório de Progresso (1 de Janeiro a 30 de Junho de 2007): • Conclusão das análises aos frutos da campanha de 2006 (sumo que foi congelado devido à necessidade de adquirir o reagente de Folin-Ciocalteu) 1- foi feito um espectrofotograma para identificar os picos de absorção no visível: 3 Figura 1 – Espectrofotograma do sumo de ginja na diluição de 1:10 (esquerda) e de 1:100 (direita). Picos de absorção: 310, 410 e 510nm 2- resultados obtidos para os sumos de ginja das amostras de 2006: Tabela 4 – Intensidade corante e Índice de Folin-Ciocalteu (polifenóis totais) do sumo de ginja (média±erro-padrão), em 2006 Intensidade corante (A310+410+510nm) 0,32167±0,01898 Índice de Folin-Ciocalteu (A750nm) 0,4122±0,04899 Índice de polifenóis totais (A280nm) 0,46083±0,0388 • Análises e prova organoléptica (de carácter amador) às quatro ginjas comerciais (compradas para o efeito) identificadas no estudo preliminar da IGP - Ginja de Óbidos e Alcobaça: Tabela 5 – Análises às ginjas comerciais Ginja 1 (Sobral) Ginja 2 (Amoreira) Ginja 3 (Sanguinhal) Ginja 4 (Alcobaça) ºBrix 39,5 37,6 38,3 41,4 pH 3,6 3,7 3,9 3,6 Acidez (g/l málico) 4,355 5,16 2,412 8,576 A280nm 0,262 0,281 0,14 0,541 A310+410+510nm Folin-Ciocalteu 0,231 0,292 0,228 0,302 0,095 0,111 0,402 0,572 4 Tabela 6 – Prova organoléptica (“amadora”) às ginjas comerciais Ginja 1 (Sobral) Aspecto límpido; cor vermelho-acastanhada; aroma frutado, frutos vermelhos, frutos secos, ligeira canela; sabor doce suave, persistente com certa frescura Ginja 2 (Amoreira) Aspecto límpido; cor castanho-avermelhada; aroma a flores enjoativas, especiarias; sabor fim de boca amargo, compota, açúcar, canela Ginja 3 (Sanguinhal) Aspecto límpido; cor alourada; aroma pouco intenso, alcoólico, torrado/tostado (cacau), mel; sabor amêndoa amarga, calor, quente, deslavado Ginja 4 (Alcobaça) Aspecto límpido; cor castanho-alourado; aroma madeira, canela; sabor ácido, adstringente, amargo, persistente • Pesquisa de um método laboratorial para obtenção de licor a partir de amostras de frutos de 2006 armazenados por congelação: 1- extracção dos constituintes do fruto para uma mistura líquida (sólido/líquido): foram experimentadas todas as combinações possíveis de um método mecânico (maceração) com um físico (60ºC) e outro químico (etanol): Tabela 7 – Resultados dos efeitos principais (factores independentes) ocorridos na extracção dos constituintes do fruto ao fim de 72 horas DO280nm IC ºBrix c/maceração 0,44025 0,3395 15,775 s/maceração 0,33725 0,25625 14,375 c/etanol 0,5035 0,35725 23,975 s/etanol 0,274 0,2385 6,175 c/aquecimento 0,466 0,349 15,625 s/aquecimento 0,3115 0,24675 14,525 2- proporções líquido/fruto e água/etanol a utilizar na infusão: foram feitas infusões com 80 e 133% de fruto e 20, 50 e 80% etanol em todas as 30 12 25 10 20 8 Acidez º B r ix combinações possíveis (com 2 repetições cada): 15 10 5 6 4 2 0 0 0 20 133% fruto 80% fruto 40 60 etanol (%) 80 100 0 133% fruto 50 80% fruto 100 etanol (%) 5 0,6 0,5 Polifenóis Intensidade corante 0,7 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 133% fruto 50 80% fruto 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 100 etanol (%) 0 133% fruto 50 80% fruto 100 etanol (%) Figura 2 – Sólidos solúveis totais (ºBrix), acidez total (g ác. málico/l), intensidade corante (A310+410+510nm) e polifenóis totais (A280nm) em infusões com diferentes proporções de fruto e de etanol, ao fim 72 horas em banho-maria a 60ºC 3- confirmação da metodologia e dos resultados: foram feitas diversas infusões para comprovar os efeitos atrás observados. Alguns desses resultados apresentam-se nas Figuras 3 (100% fruto; 20, 30, 45, 60 e 90% etanol) e 4 (50% etanol; 50, 56, 67, 83, 111 e 167% fruto): 9 30 7 20 6 acidez ºBrix 8 25 15 4 3 10 2 5 1 0 0 0 20 40 60 % alcool 80 100 0 20 40 60 % alcool 80 20 40 60 % alcool 80 100 0,9 0,7 0,8 0,6 0,7 0,5 polifenois Intensidade corante 5 0,4 0,3 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,2 0,1 0,1 0 0 0 20 40 60 % alcool 80 100 0 100 6 Figura 3 – Sólidos solúveis totais (ºBrix), acidez total (g ác. málico/l), intensidade corante (A310+410+510nm) e polifenóis totais (A280nm) em infusões com diferentes proporções de etanol, ao fim 72 horas em banho-maria a 60ºC 9 8 Figura 3a – Efeito de diluição da acidez acidez 7 6 com 5 a correcção alcoólico para 20º do teor 4 3 2 1 0 0 antes 20 depois 40 60 80 100 % alcool 25 15 Acidez ºBrix 20 10 5 0 0 50 100 150 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 200 50 100 150 200 150 200 % fruto 0,7 0,9 0,6 0,8 0,5 0,7 0,6 Polifenois Intensidade corante % fruto 0,4 0,3 0,2 0,1 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 0 50 100 % fruto 150 200 0 50 100 % fruto Figura 4 – Sólidos solúveis totais (ºBrix), acidez total (g ác. málico/l), intensidade corante (A310+410+510nm) e polifenóis totais (A280nm) em infusões com diferentes proporções de fruto, ao fim 72 horas em banho-maria a 60ºC 7 • Fabrico laboratorial de licor: com os frutos que sobraram da pesquisa do método, fizeram-se 3 licores: Tabela 8: Características analíticas dos licores laboratoriais Álcool Acidez ºBrix Licor pH (g ác.mál./l) (%v/v) A 3,9 5,50 38,6 21,6 B 3,7 2,35 38,8 20,0 B' 3,2 5,70 39,3 20,0 Int. corante (A310+410+510nm) 0,220 0,120 0,119 Polifenóis (A280nm) 0,324 0,177 0,178 Nota: licor B’ foi obtido a partir de B por adição de ácido cítrico • Acompanhamento fenológico: foram marcados vários gomos em várias árvores nos campos 1 (Sobral da Lagoa) e 4 (Alcobaça), que foram acompanhados fotograficamente. Parte das árvores foram tratadas, no dia 1 de Fevereiro, com uma mistura de ureia (4%), óleo de Verão (5%) e nitrato de potássio (3%), utilizada na região para quebrar a dormência em pomares de pereira e macieira (pela sua localização na orla marítima atlântica, a região não tem, em geral, condições de satisfação completa das necessidades em frio). CAMPO 1 – Sobral da Lagoa (Óbidos): Figura 5 – Aspecto dos gomos, não tratados, em 2 de Março (gomo de Inverno) Figura 6 – Aspecto dos gomos, tratados, em 2 de Março (ponta verde) 8 Figura 7 – Aspecto dos gomos, não tratados, em 22 de Março (ponta verde) Figura 8 – Aspecto dos gomos, tratados, em 22 de Março (início da floração) CAMPO 4 – Alcobaça: Figura 9 – Aspecto dos gomos, não tratados, em 9 de Março (gomo de Inverno) Figura 10 – Aspecto dos gomos, tratados, em 9 de Março (ponta verde) 9 Figura 11 – Aspecto gomos, não dos tra- tados, em 29 de Março (ponta verde) Figura 12 – Aspecto dos gomos, tratados, em 29 de Março (corola visível) PLENA FLORAÇÃO: Os ventos frios na 2ª quinzena de Março e os dias nublados da 1ª quinzena de Abril, atrasaram a plena floração em condições naturais, isto é, sem tratamento de quebra de dormência. A melhoria do tempo a partir do dia 13 de Abril, fez com que a floração decorresse muito rapidamente na semana de 12 a 19 de Abril: Figura 13 – Aspecto da plena floração em Óbidos (12 de Abril, sem tratamento) Figura 14 – Aspecto da plena floração em Alcobaça (20 de Abril, sem tratamento) 10