IV SEREA - Seminário Hispano-Brasileiro sobre Sistemas de Abastecimento Urbano de Água
João Pessoa (Brasil), 8 a 10 de novembro de 2004
ABORDAGEM SOBRE PERDAS DE ÁGUA EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO:
BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE OS TIPOS E PRINCIPAIS CAUSAS
Eulina Maria de Moura1; Isabelly Cícera Souza Dias2;
Jussara Severo da Silva3 e Ferdnando Cavalcanti da Silva4
RESUMO: O abastecimento de água é essencial para a vida humana. Seu fornecimento está
relacionado com aspectos ambientais, econômicos e sociais - tendo em vista, a sua estreita ligação com
a manutenção da saúde de seus consumidores, enquanto bem estar físico, mental e social. Com o
aumento da demanda de água, se torna cada vez mais urgente a otimização destes sistemas,
particularmente no projeto, operação e manutenção. Os altos custos refletem a importância de se buscar
meios de diminuir os desperdícios tão comuns de água e energia. No Brasil, as perdas físicas são, em
média, superiores a 50% do volume injetado nos sistemas e decorrem de muitos fatores, tais como:
valores extremos de pressões nas redes, rupturas nas tubulações, golpes de aríete, sobrepressões
decorrentes de interrupções no fluxo d’água nas tubulações, desperdício, etc. Este trabalho tem o
propósito de apresentar um panorama das perdas de água nos sistemas de abastecimento.
ABSTRACT: Water supply is essential to human life. It is related to environmental, economic and
social aspects because of its narrow link between the maintenance of dwellers’ health and the physicist,
mental and social welfare. With the increase of the water demand it is much more urgent the
optimization of these systems, particularly in its project, operation and maintenance. The high costs
reflect the need of searching ways to diminish common water and energy losses. In Brazil, the physical
losses are in average over 50% of all the volume used in the systems and are caused by lots of factors
such as: extreme values of pressure in water networks, pipe ruptures, overpressures occurred by water
interruptions, etc. This paper has the intention presenting a panorama of the losses of water in the
supplying systems.
PALAVRAS-CHAVE: perdas, sistemas de abastecimento
1
Bolsista do PIBIC do DTCC/CT/UFPB. Av. Esperidião Rosas, 235, apto 502, Expedicinários.
[email protected]
2
Bolsista do PIBIC do DTCC/CT/UFPB. E-mail: [email protected]
3
Eng. Civil UFPB/2000. Mestranda em Engenharia Urbana UFPB/2004. E-mail: [email protected]
4
Bolsista do PIBIC do DTCC/CT/UFPB. E-mail: [email protected]
E-mail:
1
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INTRODUÇÃO
As preocupações ambientais impulsionaram os questionamentos sobre o papel do meio ambiente
e dos recursos naturais no cenário de desenvolvimento dos países. O recurso natural – água – carece de
uma atenção especial dos governos. Nas últimas décadas está sendo cada vez mais disputado, tanto em
quantidade quanto em qualidade, principalmente em razão do acentuado crescimento demográfico e do
próprio desenvolvimento econômico.
De acordo com alguns autores a água é um recurso bastante peculiar entre os recursos naturais,
desempenhando diferentes papéis: ora é vista como produto para consumo direto, ora como matériaprima, ora como ecossistema. Essas atribuições múltiplas determinam dois posicionamentos
importantes e até certo ponto divergentes: se por um lado a água é um bem econômico, obedecendo às
leis de mercado, por outro lado seu caráter induz que haja uma regulamentação do seu uso, com
legislação específica e atuação direta do poder público. Por isso, é exigido um modelo de gestão,
embasado nos princípios gerais de gestão ambiental, incorporando essas particularidades de uso da
água.
No Brasil, analisando a disponibilidade hídrica e também a atual demanda por água é possível
entender a necessidade, por partes das prestadoras, de metodologias para a reestruturação dos sistemas
de abastecimento de água, principalmente pelo fato inúmeras perdas ocorridas nas redes ampliadas sem
que tenha havido um estudo mais consistente do impacto dessa ampliação sobre o sistema existente. No
que se refere às perdas físicas na rede de abastecimento, maior parte dos problemas que surgem durante
o seu funcionamento poderiam ter sido previstos durante a fase de projeto.
PERDAS NOS SISTEMAS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO
Em sistemas públicos de abastecimento, do ponto de vista operacional, as perdas de água são
relacionadas considerando os volumes não contabilizados. Esses englobam tanto as perdas físicas, que
representam a parcela não consumida, como as perdas não físicas, que correspondem à água consumida
e não registrada.
Resultantes de vazamentos no sistema, as perdas físicas podem ser encontradas na captação, na
adução de água bruta, no tratamento, na reservação, na adução de água tratada e na distribuição, além
de procedimentos operacionais como lavagem de filtros e descargas na rede, quando estes provocam
consumos superiores ao estritamente necessário para operação.
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É consenso no Setor de Saneamento que as elevadas perdas de água têm relação direta com o
consumo de energia elétrica, e que as ações de combate às perdas de água configuram-se em efetivo
potencial de redução de desperdício de energia elétrica, principalmente no âmbito dos sistemas de
abastecimento de água.
A redução das perdas físicas permite diminuir os custos de produção - mediante redução do
consumo de energia - e utilizar as instalações existentes para aumentar a oferta, sem expansão do
sistema produtor. A redução das perdas não físicas permite aumentar a receita tarifária, aumentando
contudo a eficiência dos serviços prestados e o desempenho financeiro do prestador de serviços.
O combate a perdas ou desperdícios implica, portanto, redução do volume de água não
contabilizado, exigindo a adoção de medidas que permitam reduzir as perdas físicas e não físicas, e
mantê-las permanentemente em nível adequado, considerando a viabilidade técnico-econômica das
ações de combate a perdas em relação ao processo operacional de todo o sistema.
Medidas preventivas de controle de perdas nas fases de projeto e construção do sistema envolvem
a necessidade de passos iniciais de organização anteriores à operação. Estas medidas devem
contemplar, dentre outras:
•
boa concepção do sistema de abastecimento de água, considerando os dispositivos de controle
operacional do processo;
•
a qualidade adequada de instalações das tubulações, equipamentos e demais dispositivos
utilizados;
•
implantação dos mecanismos de controle operacional (medidores e outros);
•
elaboração de cadastros; e
•
a execução de testes pré-operacionais de ajuste do sistema.
Nos ramais prediais, em relação às perdas físicas na rede distribuidora é onde são registrados a
maior quantidade de ocorrências (vazamentos). Isso nem sempre significa que esta seja a maior perda
em termos de volume. Em volume, as maiores perdas físicas na distribuição ocorrem por
extravasamento de reservatórios ou em vazamentos nas adutoras de água tratada e nas tubulações da
rede de distribuição.
Para ilustrar esse tema, apresentam-se a seguir alguns dados referentes a perdas no Estado da
Paraíba, no Brasil e no exterior. No caso brasileiro, são utilizados dados de 1995 das companhias
estaduais (SNIS - SEPURB, 1997)1, conforme Gráfico 1. Observe-se que os percentuais de água não
faturada oscilam entre 25% e 65%. Na mesma fonte, o indicador foi relatado para cidades brasileiras
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com serviços autônomos, ocorrendo uma variação entre 20% e 60%, demonstrando que o cenário das
companhias estaduais se repete nos serviços autônomos.
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
I10 = Índice de Micromedição Relativo à Produção
CAERD
CAEMA
COSAMA
COSANPA
COMPESA
EMBASA
CAESA
CAGEPA
AGESPISA
SANACRE
SANEATINS
CEDAE
SANEMAT
SANESUL
CAER
DESO
CASAL
CORSAN
CAGECE
CAERN
SANEAGO
SABESP
CASAN
CESAN
COPASA
SANEPAR
0
CAESB
0,1
I13 = Índice de Perdas de Faturamento
Gráfico 1: Água Não Faturada nas Companhias Estaduais de Saneamento Básico em 1995
No caso do Estado da Paraíba o índice de perda de água durante a distribuição apresentou
moderado declínio entre os anos de 1998 a 2001, havendo uma pequena oscilação para mais no ano de
2000 em relação ao ano anterior, como se verifica no Gráfico 2. Observa-se, assim, que para o caso da
companhia distribuidora de água no estado – CAGEPA – os valores percentuais de perda, cerca de
41%, estão dentro da média nacional de 50%, índice ainda muito alto e que, excepcionalmente para o
caso da Paraíba, como para os demais estados da região, assume maior relevância em virtude da pouca
disponibilidade hídrica e financeira do estado.
Comparando os Gráficos 2 e 3 percebe-se que a redução nas perdas representa também, como
não seria diferente, uma redução nas perdas do faturamento pela empresa, demonstrando a importância
que se deve dar a processos que visam minimizar possíveis perdas físicas e não físicas de água desde o
processo de captação até a distribuição.
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Gráfico 2: Índice de perdas de água na distribuição no estado da Paraíba
Gráfico 3: Índice de perdas de faturamento no estado da Paraíba
Dados do exterior são apresentados nos Gráficos 4 e 5 (IWSA,1995), para água não faturada em
percentagem e em vazão por quilômetro de rede, respectivamente. As variações foram de 7%
(Singapura, Suíça e Alemanha) até valores entre 25% e 30% (Grã-Bretanha, Taiwan e Hong Kong),
com um valor médio de 17%, abaixo da média brasileira, que é de 50%.
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35
25
20
Média 17%
15
10
Singapura
Suiça
Alemanha
Países Baixos
Eslováquia
França
Espanha
Itália
Nova Zelândia
Finlândia
Rep. Theca
Lituânia
Portugal
Grã Bretanhã
Taiwan
Hong Kong
0
Suécia
5
Malásia
Água Não Faturada (%)
30
Gráfico 4: Percentual de Água Não Faturada em Diversas Regiões do Mundo
4,0
3,5
2,5
2,0
3
Perdas (m /h/km)
3,0
1,5
Média 1,3
1,0
Zelândia
e Nova
Oriente
Extremo
Oriental
Europa
Europa
Sul da
Ocidental
Europa
Europa
Norte da
0,0
Sul da Africa
0,5
Gráfico 5: Perdas de Água por Regiões do Mundo em m3/h/km de Rede
O que se pretende ilustrar com esses exemplos é que o tratamento das perdas deve ser de caráter
permanente, devendo, portanto, ser considerado como um programa estratégico dos prestadores de
serviços de água. Caso não se adote tal política, as ações de combate a perdas nem sempre serão
efetivas, e os resultados positivos serão temporários ou irrisórios.
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PERDAS FÍSICAS NA DISTRIBUIÇÃO
Em um sistema de abastecimento de água as perdas físicas totais são as perdas de água que
ocorrem entre a captação de água bruta e o cavalete do consumidor1. Estas incluem as perdas na
captação e adução de água bruta; no tratamento; nos reservatórios; nas adutoras, nas subadutoras de
água tratada e instalações de recalque; e nas redes de distribuição e ramais prediais, até o cavalete. Darse-á importância aqui as perdas decorrentes de falhas na rede de distribuição de água, que, como será
mostrado a seguir, muitas das vezes têm origem em projetos mal dimensionados.
As origens e magnitudes das perdas físicas por subsistema podem ser representadas
esquematicamente, conforme o Quadro 1.
Quadro 1: Perdas Físicas por Subsistema - Origem e Magnitude
SUBSISTEMA
FÍSICAS
Tratamento
PERDAS
Adução de Água Bruta
Reservação
Adução de Água Tratada
Distribuição
ORIGEM
Vazamentos nas tubulações
Limpeza do poço de sucção*
Vazamentos estruturais
Lavagem de filtros*
Descarga de lodo*
MAGNITUDE
Variável, função do estado das tubulações e da
eficiência operacional
Significativa, função do estado das instalações
e da eficiência operacional
Vazamentos estruturais
Extravasamentos
Limpeza*
Variável, função do estado das instalações e da
eficiência operacional
Vazamentos nas tubulações
Limpeza do poço de sucção*
Descargas
Variável, função do estado das tubulações e da
eficiência operacional
Vazamentos na rede
Vazamentos em ramais
Descargas
Significativa, função do estado das tubulações
e principalmente das pressões
Nota:* Considera-se perdido apenas o volume excedente ao necessário para operação.
As perdas na distribuição são decorrentes de vazamentos na rede e nos ramais prediais e de
descargas. As perdas físicas que ocorrem nas redes de distribuição, incluindo os ramais prediais, são
muitas vezes elevadas, mas estão dispersas, fazendo com que as ações corretivas sejam complexas,
1
O cavalete do consumidor faz parte da estrutura de medição.
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onerosas e de retorno duvidoso, se não forem realizadas com critérios e controles técnicos rígidos.
Nesse sentido, é necessário que operações de controle de perdas sejam precedidas por criteriosa análise
técnica e econômica.
A magnitude das perdas será tanto mais significativa quanto pior for o estado das tubulações,
principalmente nos casos de pressões elevadas.
A figura 1 ilustra os pontos onde geralmente ocorrem vazamentos nas redes de distribuição.
Registros
0,2%
Tubos rachados
2,3%
Tubos partidos
13,6%
Anéis
1,1%
Tubos perfurados
12,9%
União simples
1,1%
Juntas
0,9 %
Hidrantes
1,7%
Figura 1: Pontos Freqüentes de Vazamentos em Redes de Distribuição
(percentuais ilustrativos baseados em experiência da SANASA)
Em muitas cidades brasileiras, a implantação ou expansão de loteamentos são feitos sem que
ocorra uma fiscalização durante a construção. Tal fato decorre da cultura de parte do setor privado em
executar obras a toque de caixa, simultaneamente à fase de elaboração e aprovação do projeto, e há
casos em que o projeto simplesmente inexiste. A solução para esse círculo vicioso é adotar maior rigor
na aprovação de projetos inclusive com a utilização de softwares computacionais que permitam simular
diversas situações de funcionamento da rede; além do controle e fiscalização durante a fase de
execução da obra.
Estudos de simulação com modelos matemáticos disponíveis podem e devem ser mais explorados
e utilizados pelos prestadores de serviços para definição de regras e procedimentos operacionais, em
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situações normais de escoamento ou em casos de transientes. Entretanto, a ausência de um cadastro
confiável não justifica a não utilização desse recurso adicional.
Como ficou evidenciado anteriormente, as perdas por vazamentos nas tubulações são causadas
por rompimentos ou falhas que têm origens múltiplas, das mais diversas às mais dispersas possíveis.
O Quadro 2 apresenta as causas prováveis de falhas e rupturas nas tubulações em função da fase
de desenvolvimento do sistema de abastecimento.
Quadro 2: Causas Prováveis de Falhas e Rupturas em Tubulações
FASE DA FALHA
Planejamento e Projeto
Construção
Operação
Manutenção
Expansão
CAUSA DA FALHA
Subdimensionamento
ausência de ventosas
cálculo transientes
regras de operação
setorização
treinamento
construtivas
materiais
peças
equipamentos
treinamento
enchimento
esvaziamento
manobras
ausência de regras
treinamento
sem prevenção
mal-feita
treinamento
interação operação/usuário
tempo de resposta
sem projeto
sem visão conjunta
CAUSA DA RUPTURA
sobrepressão
subpressão
sub e sobrepressão
sub e sobrepressão
sobrepressão
sub e sobrepressão
sub e sobrepressão
subpressão
sub e sobrepressão
sub e sobrepressão
sub e sobrepressão
sub e sobrepressão
sub e sobrepressão
Conforme afirmado anteriormente, a boa operação e manutenção permite que o sistema de
abastecimento atenda satisfatoriamente ao cliente ou consumidor. Por outro lado, há que se reconhecer
que os sistemas de abastecimento em operação são geralmente muito diferentes daqueles planejados e
construídos, tornando-se tanto mais próximos da realidade quanto maior for a compatibilidade entre o
modelo e a situação real, através, por exemplo, da calibração do modelo simulado com dados do
sistema de distribuição real.
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DIMINUIÇÃO DAS PERDAS A PARTIR DA REDUÇÃO DE PRESSÃO
Para os sistemas já implantados, os aspectos considerados a seguir apontam para a priorização da
redução de pressões na rede de distribuição, para que haja redução de perdas.
As perdas por vazamentos na rede de distribuição, sejam decorrentes de falhas construtivas,
defeitos em peças especiais e conexões, rupturas, materiais inadequados, etc., aproximam-se ao
escoamento em orifícios e fendas.
Para tubos metálicos em geral, a vazão perdida (Q) é uma função proporcional à raiz quadrada da
carga hidráulica (H), ou seja:
Q = f ( H 1/2)
(1)
Dessa forma, especial atenção deve ser dada ao controle de cargas hidráulicas na rede, pois sua
simples redução leva a substanciais reduções nas perdas nos vazamentos existentes, além de restringir o
risco de novas rupturas.
O Quadro 3 ilustra as reduções de perdas que podem ser conseguidas por intermédio de
diferentes percentuais de redução de cargas na rede de distribuição.
Quadro 3: Reduções de Perdas Físicas por Reduções de Pressões Q = f ( H½)*
Redução da carga (%)
20
30
40
50
60
Redução da perda (%)
10
16
23
29
37
Portanto, é possível quantificar previamente as reduções de perdas esperadas por meio de
reduções de pressões e, com isso, avaliar economicamente o retorno dos investimentos a realizar para
alcançar os objetivos.
No caso de tubos de PVC, estudos estrangeiros recentes têm apontado para uma redução ainda
maior das perdas em função da diminuição de pressão. Admite-se, segundo técnicos do setor, uma
correlação linear entre pressão e vazamento, em virtude da resiliência do material.
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PERDAS NÃO-FÍSICAS NA DISTRIBUIÇÃO
As perdas não-físicas são correspondente ao volume de água consumido, mas não contabilizado
pela companhia de saneamento, decorrente de erros de medição nos hidrômetros e demais tipos de
medidores, fraudes, ligações clandestinas e falhas no cadastro comercial. Nesse caso, então, a água é
efetivamente consumida, mas não é faturada. De acordo com a IWA – International Water Association,
esse tipo de perda denomina-se perda aparente ou perda comercial.
Somente através da medição é possível conhecer, diagnosticar, alterar e avaliar as diversas
situações operacionais em um sistema de abastecimento de água.
A quantificação dos volumes produzidos, distribuídos e consumidos é feita através de medidores
de vazão. Segundo Alves2 (1999), pode-se classificar os medidores de vazão da seguinte maneira
a) Medidores de vazão para condutos livres:
•
Calha e vertedouros;
•
Medidores eletrônicos (eletromagnético, ultassônico).
b) Medidores de vazão para condutos forçados:
•
Medidores deprimogêneos (venturi, bocal, placa de orifício);
•
Medidores tipo turbina (hidrômetro, Woltmann, composto, proporcional);
•
Medidores eletrônicos (eletromagnético, ultassônico).
c) Medidores de velocidade de escoamento ou de inserção:
•
Tubo de Pitot;
•
Molinete;
•
Medidores eletrônicos (eletromagnético, ultassônico).
A aplicação de cada um deles depende das condições locais, operacionais e da importância do
ponto a medir. Para todos eles é fundamental a calibração do medidor, feita em bancada ou no próprio
local de instalação em campo.
Os hidrômetros são largamente empregados na micromedição (medição do volume consumido
pelos clientes das companhia de saneamento, cujo valor será objeto da emissão da conta a ser paga pelo
usuário), e aqui reside uma das maiores fontes de evasão de volumes não-faturados em uma companhia
de saneamento.
Normalmente utilizados nas residências, comércio, e pequenas unidades industriais, os
hidrômetros podem ser do tipo velocimétrico, com vazões nominais de 1,5m³/h ou 3m³/h.
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Há também diferentes classes metrológicas, vinculadas ao nível tecnológico do hidrômetro, quais
sejam Classe A (menor precisão), Classe B (mais utilizado) e Classe C (maior precisão).
Os hidrômetros apresentam um decaimento do nível de precisão ao longo do tempo. Avalia-se, de
forma geral, que ocorra uma queda de precisão dos hidrômetros (Classe B) de aproximadamente 1%
(SABESP/IPT, 1997)3. Em termos de vida útil, estima-se que os hidrômetros de 1,5 e 3 m³/h possam
trabalhar entre 5 e 10 anos, dependendo das características qualitativas da água distribuída, do tipo de
hidrômetro, etc.
Os hidrômetros apresentam uma curva típica de precisão, que varia com a vazão conforme pode
ser observado na figura 2. Nota-se que o funcionamento ideal do hidrômetro, com mais ou menos 2%
de erro, é na faixa de vazão próxima à “nominal”, enquanto entre a vazão de “transição” e a vazão
“mínima” há uma medição sobrevalorizada. Abaixo da vazão mínima, entretanto, há uma substancial
queda na precisão, submedindo extremamente os volumes.
Figura 2: Curvas de erros – Hidrômetros novos: posição normal/ posição inclinada.
Fonte: Adaptado de Milton Tomoyuki Tsutiya4.
Os grandes fatores de erro nas medições dos hidrômetros, que geralmente o fazem marcar menos
do que efetivamente foi consumido são:
•
O envelhecimento do hidrômetro;
•
A qualidade da água distribuída;
•
A inclinação lateral do hidrômetro;
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•
As características do perfil de consumo dos imóveis, onde dificilmente ocorrem vazões
próximas à nominal do hidrômetro, situando-se na maior parte das vezes na faixa inferior à vazão
“mínima”.
Outro fator responsável pelo aumento das perdas é a fraude. Com o objetivo de medir apenas uma
parcela do consumo efetivo do imóvel, alguns usuários realizam intervenções nos hidrômetros. Os
casos mais comuns de fraude são:
•
Rompimento do lacre e inversão do hidrômetro;
•
Execução de “by pass” no hidrômetro;
•
Violação do hidrômetro, através de furona cúpula, e colocação de arame para travar os
dispositivos internos do hidrômetro;
•
Acesso por torneira ou registro após o hidrômetro e inserção de um arame, ou outro
obstáculos, para impedir a rotação da turbina do hidrômetro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todos os países que alcançaram as metas de universalização do atendimento de água, as
atenções do setor técnico passaram a ser concentradas na melhoria da operação dos sistemas
implantados. O Brasil já está no limiar de atingir essa condição, a despeito de disparidades regionais
que apontam para déficits elevados em alguns Estados e Municípios.
Com a redução das taxas de crescimento populacional observadas, além da redução das taxas de
migração das áreas rurais para as cidades, há uma tendência à estabilização dos sistemas implantados.
As expansões necessárias tendem a se concentrar nas periferias das cidades, porém não acontecendo no
ritmo que aconteciam em outros períodos. Evidentemente, em algumas metrópoles esse comportamento
não ocorre tão linearmente, havendo outras variáveis urbanísticas e sócio-econômicas que preponderam
e que fazem essa dinâmica da periferização ainda muito forte e, muitas vezes, fora do controle dos
agentes públicos.
A atividade de Controle e Redução de Perdas enquadra-se totalmente na melhoria da qualidade
da operação dos sistemas de abastecimento e, conseqüentemente, na melhoria dos serviços prestados.
Outra característica importante é que as ações de Controle e Redução de Perdas inserem-se no contexto
de buscar uma gestão da demanda de água, e não só procurar incrementar a oferta para atender às
demandas crescentes. Também são programas com essas características as iniciativas para o uso
racional pela população e o desenvolvimento do reuso dos esgotos tratados.
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Esses programas encontram respaldo em todas as instituições governamentais e nãogovernamentais, sendo inclusive, exigências das entidades nacionais e internacionais de financiamento
para concessão de empréstimos para as companhias de saneamento.
As perdas nos sistemas de abastecimento de água devem ser reduzidas a um nível compatível
com as condições ambientais e econômicas especificas de uma região, devendo ser uma busca
permanente a melhoria dos materiais e da mão-de-obra, a mobilização de todos os profissionais da
empresa e a racionalização dos processos e instrumentos de gestão das companhias de saneamento.
A estimativa das perdas em um sistema de abastecimento se dá por meio da comparação entre o
volume de água transferido de um ponto do sistema e o volume de água recebido em um ou mais
pontos do sistema, situados na área de influência do ponto de transferência.
A identificação e separação das perdas físicas de água das não físicas é tecnicamente possível
mediante pesquisa de campo, utilizando a metodologia da análise de histograma (registros contínuos)
de consumo das vazões macromedidas. Nesse caso, a oferta noturna estabilizada durante a madrugada abatendo-se os consumos noturnos contínuos por parte de determinados usuários do serviço (fábricas,
hospitais e outros) - representa, em sua quase totalidade, a perda física, decorrente de vazamentos na
rede ou ramais prediais. A perda não física será a diferença entre a perda total de água na distribuição Água Não Contabilizada - e a perda física levantada.
Em sistemas de abastecimento de água em que o índice de micromedição aproxima-se de 100%,
as ligações clandestinas terá pouca importância e existindo uma eficaz programação permanente de
adequação e manutenção preventiva de hidrômetros, o combate às fraudes nos micromedidores e
ramais clandestinos, as perdas mensuráveis tendem a refletir nas perdas físicas de água.
Em relação às perdas físicas na rede distribuidora, nos ramais prediais registra-se a maior
quantidade de ocorrência (vazamentos). As maiores perdas físicas na distribuição, em volume, ocorrem
por extravasamento de reservatórios ou em vazamentos nas adutoras de água tratada e nas tubulações
da rede de distribuição.
A ausência de atenção e aplicação de medidas eficazes por parte das prestadoras de serviços de
água, acarreta em desperdiçar um dos maiores bens da humanidade - a água.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ALEGRE, H. et al. Performance Indicators for Warter Supply Services. IWA Publishing, 2000.
15
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