UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ HOSPITAL BETTINA FERRO DE SOUZA COORDENAÇÃO ACADÊMICA COORDEDNAÇÃO DE RESIDÊNCIA MÉDICA 42° Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia 14 a 17 de novembro de 2012 - Recife Centro de Convenções de Pernambuco Suspeita de Esclerose Lateral Amiotrófica em Virtude de Disartria Cecília Pereira Paes, Joyce Oliveira de Lima, Natasha Vitorino Belchior, Rafael Carvalho Pereira, Samara Noronha Cunha. Médicos Residentes em Otorrinolaringologia RESUMO Introdução: A esclerose lateral amiotrófica é uma doença neurodegenerativa1 que pertence ao grupo das doenças do neurônio motor, cuja apresentação clínica depende do envolvimento dos neurônios motores superiores (espasticidade, fraqueza e hiperreflexia) ou neurônios motores inferiores (fraqueza, ausência ou diminuição dos reflexos profundos e fasciculações)2. Relato de caso: Homem, 29 anos, iniciou disfonia e disartria há seis meses. A fibronasofaringolaringoscopia evidenciou paresia de prega vocal esquerda. Quatro meses após, novo exame mostrou lentificação do fechamento glótico, do movimento da epiglote e gap velofaríngeo severo. Apresentou exames laboratoriais inalterados, bem como tomografia computadorizada de pescoço e ressonância nuclear magnética de crânio. Evoluiu com fasciculações em língua, palato mole e redução da mobilidade de palato mole. Discussão: A esclerose lateral amiotrófica é um distúrbio progressivo com sobrevida limitada. Envolve a degeneração do sistema motor em vários níveis: bulbar, cervical, torácico e lombar. Neste caso o quadro clínico é sugestivo de acometimento dos neurônios motores superior e inferior, pois apresentou inicialmente disartria evoluindo com fasciculações em língua, palato mole e hipotonia palatal3. Considerações finais: Este caso é ainda suspeito, pois manifesta apenas acometimento bulbar e para fechar o diagnóstico é necessário apresentar alterações do neurônio motor em pelo menos três regiões. Palavras-chave: esclerose lateral amiotrófica, disfonia, disartria, fasciculação Abstract Introduction: Amyotrophic lateral sclerosis (ALS) is a disease neurodegenerativa1 in a group of motor neuron disease, whose clinical presentation depends on the involvement of upper motor neuron (spasticity, weakness and hyperreflexia) or lower motor neurons (weakness, absence or diminution of tendon reflexes and fasciculations) 2. Case Report: A 29-year-old man, presented dysphonia and dysarthria that began six months ago. The fibronasopharyngolaryngoscopy showed left vocal fold paresis. Four months later, further examination showed slowing of glottal closure, movement of the epiglottis and severe velopharyngeal gap. Laboratory tests showed unchanged as well as neck computed tomography and magnetic resonance imaging of the brain. Evolved with fasciculations in the tongue, soft palate and reduced mobility of the soft palate. Discussion: The ALS is a progressive disorder with limited survival. It involves degeneration of the motor system at various levels: bulbar, cervical, thoracic and lumbar. In this case the clinical picture is suggestive of involvement of upper and lower motor neurons, as initially presented with dysarthria progressing fasciculation on tongue, soft palate and hypotonia palatal3. Conclusion: This case is still suspect because only manifested bulbar involvement and to make the diagnosis is required of the motor neuron changes in at least three regions. Introdução A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma das principais doenças neurodegenerativas1 e pertence ao grupo das doenças do neurônio motor, que são caracterizadas pela perda de neurônios no córtex motor, tronco cerebral, e corno anterior da medula espinhal. A apresentação clínica depende do envolvimento dos neurônios motores superiores (espasticidade, fraqueza e hiperreflexia) ou neurônios motores inferiores (fraqueza, ausência ou diminuição dos reflexos profundos e fasciculações). A evolução pode comprometer membros superiores e inferiores, bem como áreas inervadas por fibras nervosas bulbares. A sobrevida do paciente é baixa, e é dependente do envolvimento inicial. A morte ocorre geralmente em 3 a 5 anos após o início dos sintomas, principalmente como resultado de falência respiratória2. Apresentação do caso Um homem de 29 anos compareceu ao ambulatório de otorrinolaringologia do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza queixando-se de disfonia e disartria há 6 meses, sem outras queixas. Na ocasião negou comorbidades, bem como tabagismo ou etilismo. A fibronasofaringolaringoscopia evidenciou, além de hipertrofia de cornetos nasais e palidez difusa da mucosa nasal, paresia de prega vocal esquerda. Quatro meses após, foi realizado novo exame de videolaringoscopia, que mostrou lentificação do fechamento glótico, do movimento da epiglote e gap velofaríngeo severo. Não foram observadas alterações nos exames laboratoriais, na tomografia computadorizada de pescoço, bem como na ressonância nuclear magnética de crânio. O paciente evoluiu com fasciculações em língua e palato mole, além de redução da mobilidade de palato mole. O mesmo fora encaminhado ao serviço de neurologia por suspeita de esclerose lateral amiotrófica e permanece em acompanhamento multidisciplinar e investigação complementar desde então. Discussão A esclerose lateral amiotrófica é um distúrbio progressivo com sobrevida limitada, mais prevalente nos pacientes com idade entre 55 e 75 anos, não possui predileção por sexo e que envolve a degeneração do sistema motor em vários níveis: bulbar, cervical, torácico e lombar. Pacientes com ELA de início bulbar, como no presente relato, apresentam disartria, disfagia ou ambas. O envolvimento bulbar pode ser devido à degeneração do neurônio motor inferior (paralisia bulbar), do superior (paralisia pseudobulbar) ou de ambos. Paralisia bulbar é associada com paralisia facial inferior e superior e dificuldade de movimento palatal com atrofia, fraqueza e fasciculação da língua. A paralisia pseudobulbar é caracterizada por labilidade emocional, aumento do reflexo mandibular e disartria palatal com atrofia, fraqueza e fasciculação da língua3. Neste caso o paciente apresenta quadro clínico sugestivo de acometimento tanto do neurônio motor superior quanto inferior, pois o mesmo apresentou inicialmente disartria evoluindo com fasciculações em língua e palato mole, além de hipotonia palatal. O diagnóstico definitivo de ELA é feito com base na presença de sinais de comprometimento do neurônio motor superior e inferior concomitantes em diferentes regiões4. Considerações finais O presente relato permanece como caso suspeito, uma vez que até o momento o paciente manifesta apenas acometimento bulbar e para fechar o diagnóstico é necessário que apresente alterações do neurônio motor em três regiões: bulbar, cervical, torácica ou lombossacra, fato este que pode ocorrer progressivamente ao longo da história natural da doença. Referências 1. Esclerose Lateral Amiotrófica. Protocolo Clínico e Diretrizes terapêuticas. Portaria SAS/MS nº 496, de 23 de dezembro de 2009. 2. Rowland LP, Shneider NA. Amyotrophic lateral sclerosis. N Engl J Med 2001; 344:1688-1700, apud CHIEIA, Marco A. et al . Amyotrophic lateral sclerosis: considerations on diagnostic criteria. Arq. Neuro-Psiquiatr.SãoPaulo, v. 68, n. 6, Dec. 2010. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php 3. Mitsumoto H, Rabkin JG. Palliative care for patients with amyotrophic lateral sclerosis: “prepare for the worst and hope for the best”. JAMA. 2007;298(2):207-16. 4. Brooks BR, Miller RG, Awash M, Munsat TL; World Federation of Neurology Research Group on Motor Diseases. El Escorial revisited: revised criteria for the diagnosis of amyotrophic lateral sclerosis. Amyotroph Lateral Scler Other Motor Neuron Disord. 2000;1(5):293-9.