RELATO DE CASO DE UM PACIENTE POLITRAUMATIZADO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Alice Chang Chao1, Gitana Daiala Pereira1, Lizyana Vieira1, Marcela Aparecida Leite1, Marcos Koiti Nakanishi1 , Cláudia Rejane Macedo2, Erica Fernanda Osaku2 Introdução: O aumento da violência urbana e dos acidentes automobilísticos é responsável pela complexidade crescente dos traumatizados admitidos em hospitais. Suas vítimas apresentam trauma torácico, abdominal, craniano, além de contusões e fraturas em tronco e membros, necessitando de uma equipe da área da saúde preparada para o melhor atendimento clínico a estes pacientes considerados críticos. Assim, o número, a variedade e a complexidade dos problemas que se apresentam no tratamento de politrauma é de tal ordem que se deve encarar o paciente como um todo indivisível, não sendo possível fixar-se em um único problema. Epidemiologicamente, o trauma representa a terceira causa de morte mundial, sendo que o politrauma é caracterizado como uma síndrome decorrente de lesões múltiplas com reações sistêmicas seqüenciais que podem levar a falha ou disfunção de órgãos ou sistemas vitais, não diretamente lesados pelo trauma. Uma das conseqüências do trauma abdominal é o abdome agudo hemorrágico e a laparotomia exploradora é considerada como a técnica mais segura, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento. Diante disso, é necessário avaliar e reavaliar continuamente o paciente, na possibilidade de se fazer novos achados que não foram detectados e também identificar problemas que podem surgir ao longo do período de observação. Um dos efeitos sistêmicos do trauma é o choque hipovolêmico, definido como uma perda súbita e intensa de sangue circulante, podendo ser causado por ruptura de uma artéria devido um trauma ortopédico. Essa perda sanguínea leva a uma perfusão inadequada dos órgãos e tecidos, o que provoca distúrbios metabólicos celulares. Os sinais que caracterizam esse choque são: a progressão usualmente ordenada de palidez, extremidades frias, oligúria, taquicardia, hipotensão e sinais cerebrais cardíacos. Nessa condição, as pressões de enchimento cardíaco ficam reduzidas, à medida que o débito cardíaco cai, a perfusão orgânica torna-se inadequada. A severidade do choque hipovolêmico é proporcional ao déficit de volume sangüíneo. Assim, o paciente necessita de um atendimento de urgência e fornecimento de oxigênio, promovendo entubação endotraqueal, ficando dependente da ventilação mecânica, a fim restabelecer as funções respiratórias e padrão hemodinâmico. O comprometimento das vias aéreas em um politraumatizado, pode se instalar de forma aguda e progressiva independente do mecanismo do trauma, porém os traumatismos cranioencefálico, facial e torácico comprometem mais facilmente as vias aéreas do politraumatizado, uma vez que a obstrução traumática das vias aéreas por lesão intrínseca ou externa é a principal causa de insuficiência respiratória. Outro efeito sistêmico de um _________________________________ 1 Discentes do 5º ano do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná 2 Docentes. Mestre. Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná trauma inclui pneumotórax e hemotórax. O pneumotórax ocorre devido a traumas com fraturas de costelas e principalmente com material perfuro-cortante que penetra no tórax, já o hemotórax é o acúmulo de sangue na cavidade pleural, causado pela lesão de vasos hiliares e mediastínicos, o que permite uma perda sanguínea fazendo com que o paciente evolua para um choque ocorrendo hipovolemia e hipóxia. Dessa forma se exige uma intervenção terapêutica imediata, tendo como principal medida de atendimento inicial a oxigenoterapia. Os pacientes politraumatizados, muitas vezes, necessitam de ventilação mecânica por períodos prolongados por causa de sua incapacidade de proteger suas vias aéreas, da persistência da secreção excessiva e da ventilação espontânea inadequada. Perante a gravidade e a alta complexidade das vítimas, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desempenha um papel decisivo na chance de sobrevida de pacientes gravemente enfermos, tornando-se necessário a maior complexidade do serviço, tanto em termos de equipamentos, quanto dos recursos humanos, envolvendo profissionais de diversas especialidades. A atuação da fisioterapia respiratória cada vez mais se integra ao programa de assistência médica que visa não apenas a recuperação do paciente, bem como a prevenção de possíveis complicações, auxiliando, decisivamente, na recuperação mais precoce da função respiratória, motora e na própria motivação do paciente, o que leva a uma diminuição do período de hospitalização e dos custos hospitalares. Portanto, o papel do fisioterapeuta na reabilitação pulmonar destas vítimas de politrauma tem grande importância, tendo em vista que, restabelecendo a função pulmonar, consegue-se manter estes pacientes em ventilação espontânea, com melhora hemodinâmica, evoluindo para alta. Objetivo: Relatar um caso de uma paciente politraumatizada, com suas devidas complicações, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. Materiais e métodos: Este estudo foi realizado no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) em Cascavel-PR. Para coleta de dados foi utilizado o prontuário de internação da paciente no período de junho e julho de 2010. Relato de caso: Paciente GC, sexo feminino, 25 anos, procedente de Céu Azul – PR, admitida no pronto-socorro do HUOP, com história de politrauma, devido acidente automobilístico, com fratura de órbita direita e úmero direito. Apresentava diagnóstico de abdome agudo hemorrágico, choque hipovolêmico, lesão hepatoesplênica grau I e hemopneumotórax bilateral. No segundo dia de internamento, foi submetida à laparotomia exploradora, hepatorrafia, esplenorrafia, peritoneostomia e drenagem torácica fechada à esquerda (drenados 1000 ml). Foi realizada politransfusão concentrada de hemácias antes e depois da cirurgia. A paciente foi transferida, após o procedimento cirúrgico, para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), apresentando-se hiperglicêmica, fazendo uso de ventilação mecânica invasiva, em (SIMV), com PEEP: 5, FIO2: hemodinamicamente instável, sedada, não contactuante, midazolan, fentanil e noradrenalina. Encontrava-se em modo de ventilação mandatória intermitente sincronizada 50% e SPO2: 92%, e ausculta pulmonar diminuída bilateralmente, com roncos difusos. No terceiro dia foi realizada a reoperação para fechamento da peritoneostomia. A partir disso a paciente evoluiu para estabilidade hemodinâmica, melhora na ausculta e ausência de sedação, permanecendo no modo de ventilação SIMV, com FIO2: 35% e PEEP: 6. Durante o internamento a paciente desenvolveu pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) e plaquetopenia, que foi revertida gradualmente. No sétimo dia de internamento a paciente apresentou, ao exame físico, edema nas extremidades dos membros superiores e inferiores. No mesmo dia foi iniciado desmame da ventilação mecânica invasiva, e a paciente foi colocada em pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Posteriormente, retornou para o modo SIMV, evoluindo para o modo de ventilação proporcional assistida (PAV). A partir do nono dia até sua alta permaneceu em respiração espontânea com SpO2 de aproximadamente 98%. No décimo quarto dia, recebeu alta da UTI e foi encaminhada para ala de ortopedia para acompanhamento. Conclusão: O politrauma pode resultar em inúmeras conseqüências como, por exemplo, o choque hipovolêmico, o trauma torácico e abdominal. É importante considerar que a utilização de técnicas cirúrgicas específicas, da ventilação mecânica e fisioterapia são fundamentais para o bom prognóstico do paciente nesse estado. Palavras-chaves: trauma; hemopneumotórax; choque. Referências 1.Brunetti A, Scarpelini S. Abdômen Agudo. Medicina. 2007; 40(3): 358-67. 2.Lara S. Assistência fisioterapêutica à pacientes politraumatizados, internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Tubarão – SC, no ano de 2004, decorrentes de acidente de trânsito. [Monografia]. Santa Catarina. Universidade do Sul de Santa Catarina, 2005. 3.Jacinto W. Condutas do enfermeiro ao atendimento de politraumatizado ortopédico nas unidades de urgência e emergência. [Monografia]. São Paulo, 2006. 4.Magalhães E. Anestesia no Politraumatizado. Revista Brasileira de Anestesiologia, 1974; 3. 5.Parreira JG, Coimbra R, Rasslan S, Ruiz DE. Politraumatizados com trauma cranioencefálico grave: Importância das lesões abdominais associadas. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. 2001; 28(5): 336-41.