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O Estado do Maranhão - São Luís, 3 de julho de 2011 - domingo
Muita gente tem me cobrado uma maior presença
nestas prestigiadas e prestigiosas páginas de opinião,
mas não venho tendo capacidade de coordenar meus
esforços no sentido de colocar no papel as tantas coisas que gostaria de conversar com você e o dia a dia
de minhas atribuições funcionais e afazeres particulares. O tempo é pouco para ser secretário de Esporte
e continuar sendo empresário, escritor, cineasta, filho
de minhas mães, pai de minhas filhas, marido de minha mulher, amigo de meus amigos...
Confesso que não tenho andado muito satisfeito
com o desenrolar das coisas, de modo geral, em sentido amplo, mas tenho trabalhado duro para reverter
esse quadro, que já começa a mostrar sinais de mudanças, que espero se consubstanciem com o anúncio em breve do envio à Assembleia Legislativa de dois
projetos de lei de autoria do Poder Executivo, instituindo incentivo fiscal às empresas que patrocinarem projetos esportivos e culturais.
Por falar em lei, já que não estou mais exercendo
mandato parlamentar, gostaria que algum deputado
estadual apresentasse um projeto de lei que, ao mesmo tempo em que revogasse a lei que criou o Parque
Ecológico do Rangedor, criasse naquela área um parque zoológico e botânico em nossa capital. O Rangedor em termos qualitativos nada tem de reserva ecológica, é na verdade uma grande capoeira, uma reserva de espaço físico onde, através de parceria com a iniciativa privada, poderíamos construir um verdadeiro
parque ambiental.
Já que falei de deputados estaduais, preciso escrever sobre a nova composição de nosso Legislativo, agora quase seis meses dos novos parlamentares terem
tomado posse.
Como as minhas ideias estão em ebulição, não vou
me aprofundar em um assunto específico, vou hoje
apenas relacionar alguns assuntos que, quem sabe,
possamos tratar mais adiante. São fatos do cotidiano,
coisas com as quais convivemos e que muitas vezes
nem nos damos conta e que passam despercebidas
por alguns de nós.
Já tendo tratado de passagem de três ou quatro desses assuntos, continuemos com um que já tratei diversas vezes aqui. A reforma política e eleitoral. Sem ela,
feita de forma correta, não conseguiremos ter um futuro mais esperançoso. Talvez não seja possível fazer
uma reforma ampla, geral e irrestrita. Talvez ela precise ser feita em camadas, primeiro garantindo-se eleições gerais com mandatos coincidentes, sem voto proporcional e sem reeleição, suprimindo-se o cargo de
senador suplente, papel que passaria a ser protagonizado pelos deputados federais mais votados do partido do senador a ser substituído. Espero que algum de
nossos valorosos parlamentares federais use uma dessas idéias em uma emenda ao projeto de reforma que
está sendo discutida no Congresso Nacional.
Outro assunto que gostaria de um dia desses
trazer para nosso bate papo aqui é o desastroso
sistema viário de nossa cidade, incluído nessa pauta a péssima qualidade dos motoristas de nossa
terra. Estou cada dia mais horrorizado com o que
vejo diariamente em nossas ruas e avenidas esburacadas e congestionadas.
O nosso trânsito não é nada se comparado à violência que vem assolando o nosso dia a dia. O que se
tem visto é uma banalização da violência, onde a vida humana passa a valer nada ou alguns míseros
reais roubados de um pobre taxista.
Dia desses fiquei revoltado ouvindo numa emissora AM o relato de uma série de latrocínios e homicídios decorrentes de casos torpes. Para essa última
causa de violência não há prevenção a não ser a educação e a prática da boa cidadania.
Há também dois assuntos que gostaria de conversar. Você sabe o que é o critério de inamovibilidade? Não acredito que a maioria das pessoas perguntadas dirá que sabe, mas isso é normal, pouca
gente sabe o que é isso. Inamovibilidade é a prerrogativa de que gozam certos funcionários públicos de
não poderem ser transferidos, senão por seu pedido
ou com seu consentimento. É garantida aos magistrados que se conservem permanentemente na comarca a que servem e de onde só serão removidos
unicamente a pedido ou por promoção. O mesmo
acontece com membros do Ministério Publico.
Esse critério, que é de certa maneira justo, democrático e republicano, pode - eu disse pode - criar
feudos ou paróquias, transformando seus titulares
em senhores ou párocos, e isso tem acontecido com
certa frequência e temos tido provas disso diariamente.
Comentemos também sobre outro assunto polêmico, os honorários de sucumbência que funcionam como uma espécie de prêmio concedido ao
advogado da parte vencedora, em razão do trabalho desenvolvido, referente ao valor da causa e da
complexidade da matéria, entre outros critérios de
arbitramento judicial.
Até aí tudo bem, o problema, acredito eu, é a aplicação dos honorários de sucumbência nos casos de
advogados públicos, procuradores federais, estaduais ou municipais.
Esses dois últimos assuntos certamente resultariam em um bom debate, mas só pelo fato de resvalar neles, minhas orelhas já estão coçando...
Mazarino - Se se é um simples mortal, claro está,
quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse é diferente!!! Não se
pode mandá-lo para a prisão. Então, ele continua a
endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert - Ah sim? O Senhor acha isso mesmo?
Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de obtê-lo se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazarino - Criam-se outros.
Colbert - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino - Sim, é impossível.
Colbert- E então os ricos?
Mazarino- Os ricos também não.Eles não gastariam
mais.Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert - Então como havemos de fazer?
Mazarino - Colbert! Tu pensas como um queijo,
como um penico de um doente! Há uma quantidade
enorme de gente situada entre os ricos e os pobres:são
os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar
mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses,
quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para
compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório
inesgotável.
A inspiração do dramaturgo vem da economia
francesa. Ainda assim, o diálogo mostra a situação
do contribuinte fiscal de classe média no Brasil. Os
pobres de fato têm um poder de contribuição tributária reduzido. Mesmo na hipótese de não ser dessa
forma (o conceito de pobreza tem muito de relativo),
quem, em tempos do politicamente correto, ousaria sugerir o aumento da carga de impostos sobre
eles?
No outro extremo da renda, a cobrança excessiva
sobre os ricos poderia reduzir a taxa de poupança e
investimento da economia, com reflexos negativos
óbvios porque, como a teoria econômica e evidências empíricas nos dizem, níveis elevados de renda
apresentam propensão marginal a poupar maior do
que níveis baixos. Tirar a poupança das mãos dos
ricos e colocá-la nas do governo é transformá-la em
consumo improdutivo e implorar por desastre.
A classe média brasileira é massacrada de todos
os lados. Ela paga o governo, sem opção de não fazêlo, para ter assistência pública de saúde, mas não a
tem; paga por planos de saúde privados e, quando
mais deles precisa, fica ao desamparo; e, finalmente,
é obrigado a tirar dinheiro do bolso pela terceira vez,
em pagamento de elevadas quantias a médicos e
hospitais particulares, se, doente, não quiser correr o
risco de morrer por falta de atendimento.
Os pobres têm seus defensores, sinceros ou não;
os ricos não precisam de quem os proteja; e a classe
média, obrigada a entregar cerca de um terço de
seus rendimentos ao governo sob a forma de imposto de renda e mais em impostos indiretos, como
o ICMS, quem a defenderá?
Há na peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault,
um diálogo entre Colbert e o cardeal Mazarino. O primeiro foi ministro das finanças de Luís XIV e é o representante mais conhecido da variante do pensamento
mercantilista conhecida por colbertismo ou Mercantilismo francês, que defendia o estabelecimento pelos
países de uma balança comercial em permanente superávit, visando o acúmulo de metais preciosos.
Mazarino, italiano de nascimento, era núncio
papal em Paris quando foi convocado ao serviço do
rei Luís XIII pelo cardeal Richelieu, tendo obtido
então a nacionalidade francesa. Tornou-se depois
primeiro ministro da França, sucedendo ao próprio
Richelieu, e responsável pela educação do futuro rei
Luís XIV. Pouco antes de morrer recomendou Colbert, a quem havia feito administrador de sua fortuna pessoal, a Luís XIV que fez o indicado, em 1661,
ministro de Estado.
Dou esses resumos biográficos a fim de mostrar
que Rault, dramaturgo da nova geração francesa,
nascido em 1965, colocou o diálogo (ficcional, claro)
na boca de conhecedores das finanças estatais e dos
mecanismos aplicados na arrecadação de impostos:
Colbert - Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me
explicasse como é possível continuar a gastar quando
já se está endividado até o pescoço...
tes Laços”.
O Lamas, no Largo do Machado (agora, está na
rua Marquês de Abrantes), era um ponto de encontro dos maranhenses amantes da boa mesa. Lembro-me bem do José Machado, que foi deputado federal pelo Maranhão; ele gostava de aparecer por lá
e intercambiar a sua vasta cultura. O Lamas ficava
perto dos cinemas São Luís, no Largo, e o Azteca, na
rua do Catete, programa certo antes ou depois de
degustarmos o seu famoso bife (ou era filé?) com
fritas, regado a chopes bem gelados, sem colarinho.
Morar numa vaga de apartamento. Naquele
tempo eram comuns famílias do Rio alugarem
quartos em seus imóveis, para reforçarem o orçamento doméstico. Morei em várias, entre 1954 e
1960: no Centro, em Laranjeiras, no Flamengo, no
Catete e no Largo do Machado. Tive companheiros de todo tipo, bons e maus: estes acendiam a luz
quando chegavam tarde, roncavam, usavam as
nossas camisas e, pasmem, roubavam. Um caso
aconteceu quando morei na rua Silveira Martins,
em companhia do meu irmão José. Uma noite,
quando já estávamos recolhidos, chegou um novo companheiro. Tentando estabelecer relacionamento, falava muito e nem quis acender a luz, para não incomodar-nos. Dormimos. Ao despertarmos, entretanto, tivemos a péssima surpresa: o novo “inquilino” havia desaparecido e levado vários
pertences nossos inclusive o meu anel de contabilista! Nunca mais usei anel de grau.
Comer numa pensão do Rio da minha época de
estudante foi uma grande alternativa ao Calabouço. Ambiente limpo e comida saudável, e preço razoável. Comi em várias espalhadas pela cidade, e
perdi a conta. Meu irmão José, quando morou comigo, era hábil em descobrir uma novidade. Houve uma, entretanto, a minha primeira, na casa de
uma família portuguesa, na rua Riachuelo, que fez
a diferença. Mesmo trabalhando na Tijuca, valia a
pena vir de longe e almoçar lá. E o mais importante: o pagamento só quando recebesse o salário, no
fim do mês. Também houve outra pensão, perto da
Cruz Vermelha, que compensava a distância para
saborear seu enorme bife,com arroz e feijão, depois
da sopa acompanhada de generosas fatias de pão.
Economista e escritor
E-m
mail: [email protected]
Escritor, jornalista e membro da Academia
Maranhense de Letras
Secretário de Esportes e Lazer e membro das Academias
Maranhense e Imperatrizense de Letras
PhD, membro da Academia Maranhense de Letras
E-mail: [email protected]
http://www.linomoreira. com
Coisas que a gente não esquece - IV
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
“Não há dúvida de que é preciso viajar.”François
Marie Arouet,o Voltaire (1694-1778),filósofo francês
A chegada ao Rio de Janeiro em fins de 1954, depois de quase doze horas de vôo num Douglas DC3, que escalou em Lapa, na Bahia, e Montes Claros, em Minas Gerais. Havia um amigo à minha espera, o José Duarte Brandão. O táxi escolhido era
daqueles antigos da Ford, e na cor preta. Depois
acabei descobrindo o meu primeiro trajeto, no Rio,
até chegar à rua Washington Luis, 88, Centro, onde já moravam vários maranhenses: avenida Beira-Mar, largo da Lapa, avenida Mem de Sá, praça
da Cruz Vermelha. Saí direto para jantar na casa
desse amigo, em Laranjeiras. Fomos de bonde pela rua Riachuelo, depois avenida Gomes Freire e finalmente praça Tiradentes. Ao lado do teatro João
Caetano, o ônibus 115 não tardou a chegar. Findo
o jantar, noite avançando, voltei ao meu novo endereço, de táxi, extasiado com a iluminação feérica do Rio, uma grande novidade para quem havia
chegado direto de Caxias. Encontrei um bilhete do
João Alberto, meu companheiro de quarto: “Antônio Augusto chegou? Eu e o Ezíquio (que foi prefeito de Caxias) estamos no bar da Cruz Vermelha”.
Fui para lá. No dia seguinte, convidado para o café do Zé Duarte, não consegui repetir o trajeto da
noite anterior; fui mesmo de táxi começando a gastar o meu contado dinheirinho.
As rodadas de chope, aos sábados, no Amarelinho, na Cinelândia, antes ou depois das sessões de
cinema. Era lá que os maranhenses, viventes na
grande cidade, atualizavam as conversas, falavam
das suas esperanças e conquistas, exibiam seus
ternos novos. Comentavam sobre o progresso no
trabalho, sobre a comida do Calabouço, sobre as
viagens especiais (o João Alberto Gomes, que chegou ao Rio antes de mim, ganhou uma e foi a Nova York, em 1957, por prêmio concedido pelo Diário de Notícias), e sobre os encontros no Centro
de Estudantes Maranhenses. A volta para casa era,
sempre de bonde, sem medo de ser feliz, saltando no Flamengo, em Botafogo, no Largo do Machado, em Laranjeiras, em Copacabana. Éramos
moradores da Zona Sul.
O Alim, meu colega de primeiro emprego na firma que fabricava o xarope Vick, na rua Haddock
Lobo, 30, na Tijuca, e só tomava vinho tinto, fizesse frio ou calor. Era torcedor do América, há muito sem ser campeão, nos tempos do ataque com
Paraguaio (que havia sido campeão pelo Botafogo, em 1948), Alarcon (vindo do Paraguai), Leônidas (um centro-avante desajeitado ao fazer gols),
João Carlos (oriundo do Fluminense, onde jogou
desde os juvenis) e Ferreira (um ponta discreto,
mas eficiente). O América, de tanto o Alim torcer
e tomar vinho tinto, foi campeão carioca, em 1960,
vencendo o Fluminense, na final, que havia sido
campeão no ano anterior.
O famoso Calabouço, fornecendo refeições a preço baixo, foi responsável pela permanência de muita gente, no Rio. Sempre na mídia, foi palco de manifestações político-estudantis em diversas ocasiões.
Alguns mais carentes, além de comerem lá, ainda
moravam na Casa do Estudante, praticamente de
graça. As filas, no almoço e no jantar, eram enormes,
repetidas, e os mais famintos às vezes conseguiam
comer dobrado; o domingo, entretanto, era cruel,
pois não funcionava. Quando a comida não agradava, com a barriga cheia, havia protestos. Um dia,
tentando manipular uma folha de alface em meio
a rodelas de tomate, deparei-me com uma enorme
lagarta verde, viva! Disfarcei e não protestei. Naquele dia, fiquei sem o almoço.
O Centro de Estudantes, com sede no Largo do
Machado, congregava os maranhenses que estavam longe da terra. Matava-lhes as saudades e mantinha-os informados sobre os acontecimentos político-administrativos do nosso Estado. Sob a liderança do Wilson Coimbra, editava o “Jornal de Caxias”, depois transformado em livro e lançado em
sessão da Academia Caxiense de Letras. Nas datas
festivas, principalmente no Natal, um grande jantar reunia a colônia. Lembro-me de um realizado
na Gaúcha, na rua das Laranjeiras, quando o atual
senador João Alberto era o presidente, e de outro
quando o presidente era o Raimundo Medeiros. Tenho uma foto desse evento, com o “Prodígio” discursando. Outro dia, convidado pelo professor Bastos Silva, membro atuante do Centro, tive a grata
oportunidade de rever amigos daquela época, para os quais autografei exemplares do meu livro “For-
JOSÉ LOUZEIRO
Logo quemudei de Copacabana para o Largo de São Francisco de Paula, no centro histórico do Rio de Janeiro, eis que
me acontece uma coisa muito boa: a visita do meu amigo
e colega acadêmico Lino Antônio Raposo Moreira, a senhora dele, Maria da Graça (dona Gracinha) e o desinibido netinho Davi, que logo encantou-se com alguns brinquedos
localizados entre os livros na minha, hoje, desorganizada
estante. A manhã era de muita luz, os sinos na igreja do Santo, em frete ao prédio, badalavam alegria.
Surpresa: Lino ofereceu-me um luxuoso exemplar
do livro “Formação Econômica do Maranhão” (Uma
Proposta de Desenvolvimento), edição de luxo, como
dizíamos antigamente, comemorativa dos 35 anos de
criação do Corecon - MA, presidido por Dilma Ribeiro de Sousa Pinheiro.
A editoração, revisão de texto e notas (muitas notas),
constantes da obra, são do acadêmico Lino Raposo Moreira, planejamento gráfico e tratamento de imagens do Studio Edgar Rocha.
O livro, em formato especial, com lindas fotografias da
São Luís de antigamente, tiradas do “Álbum Maranhão”
(1908), de Gaudêncio Cunha, capa e sobrecapa em papel
especial, traz expressivas fotos de Tribuzi, o poeta-economista e seus inseparáveis óculos de poderosas lentes.
Dilma Pinheiro diz no prefácio da obra: “A reedição do
‘Formação’ foi objeto de cuidadoso trabalho de revisão e
produção de notas explicativas do conselheiro Lino Raposo Moreira, o que ajuda (e muito) a compreender o contexto e a época de elaboração do livro. Também, traz a cronologia da vida e da obra do autor, depoimentos de seus familiares e contemporâneos, dando uma idéia do perfil humano e profissional do economista-poeta.”
José Tribuzi Pinheiro Gomes nasceu em São Luís, em
1927. Seu pai era o comerciante português Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes, sócio majoritário da importante firma
comercial “Pinheiro Gomes - Representações S/A” e casado com Amélia Tribuzi Pinheiro Gomes, brasileira, descendente de italianos. Em 1932 o jovem José Tribuzi vai para
Portugal, tendo estudado em Aveiro, Porto e Coimbra, onde passou por educandários religiosos, fez cursos de Ciências Econômicas e Filosofia, contrariando a vontade do pai
que desejava vê-lo sacerdote.
Em 1946 retorna a São Luís, onde passou a divulgar modernos autores portugueses, como Fernando Pessoa, José
Régio, Antônio Boto, Mário de Sá Carneiro e brasileiros como Manuel Bandeira e de outras literaturas como Paul Eluard, Louis Aragon, André Breton, Maiakovski e Garcia Lorca, todos eles ainda desconhecidos pelos intelectuais maranhenses que, por estímulo de Tribuzi, passaram a reunirse na Movelaria Guanabara, onde discutiam sobre as artes
em geral e a literatura em particular.
Logo formou-se pequeno grupo ao redor dele, composto entre outros por Lucy Teixeira, Carlos Madeira, Luís Carlos Belo Parga, Murilo Ferreira, Evandro e José Sarney, Ferreira Gullar, Lago Burnett, Manuel Lopes, Cadmo Silva, DomingosVieira Filho, Reginaldo Teles,Vera-Cruz Santana, José Bento, José Filgueiras, José Brasil, Raimundo Bogeia, José Chagas e Agnor Lincoln da Costa.
Em 1948 publica “Alguma Existência”, poesia em versos
livres, novidade para o ambiente cultural maranhense da
época e marco inaugural de vigoroso processo de renovação no modernismo literário do Maranhão, onde ainda predominava o alheamento das mudanças nas artes brasileiras, introduzidas pela Semana de Arte Moderna de 1922.
Entre os anos de 1950 e 1962, publica mais três livros de
poemas: “Rosa da Esperança”, “Safra” e “Sonetos”.
Por ser considerado comunista, foi preso durante o golpe militar de 64, teve seu diploma de suplente de deputado cassado e perdeu o emprego que tinha no Departamento de Estradas de Rodagem.
Adotou o Bandeira, como prenome oficial, por causa
da admiração que tinha por Manuel Bandeira, o poeta de
“Estrela da Vida Inteira” e do “Itinerário de Pasárgada”.
Graças a Tribuzi, segundo Edson Vidigal, foi que a intelectualidade maranhense ficou conhecendo Fernando Pessoa, José Régio e Almada Negreiros, entre outros. Morou
durante algum tempo com a família no Rio, quando trabalhou como economista numa multinacional e colaborava
para o jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda.
Mais adiante se tornaria amigo de Neiva Moreira e retornou com a família a São Luís. Neiva entregou-lhe a direção do combativo Jornal do Povo.
No importante “Formação Econômica do Maranhão,”
além do cuidadoso perfil do genial Tribuzi, também merece cuidado especial a parte iconográfica do livro, confiada ao fotógrafo Edgar Rocha, profissional de larga experiência.
Segundo Dilma Ribeiro, presidente do CRE, “a reedição
da obra de Tribuzi constitui uma homenagem dos colegas
de profissão a ele, apesar de não ter integrado os nossos
quadros de filiados”.
Lino Moreira, grande admirador de Tribuzi, nos mostra
que ele fez das redações dos jornais, por onde passou, seu
laboratório de trabalho.
Quando o conheci, no Rio de Janeiro, se não me engano, lá pelos idos de 56/58, ele chegou a colaborar na “Tribuna da Imprensa”, de Carlos Lacerda, onde permaneceu
pouco tempo, pois com a cabeça que tinha e a firme postura política, não dava para aturar o carreirista que, a essa
altura, já havia sido expulso do Partido Comunista.
Voltei a ver Tribuzi, no Rio, numa confusão de estudantes, na Associação Brasileira de Imprensa, onde foram pedir a proteção do admirável Barbosa Lima Sobrinho, presidente da casa e respeitado até pelos milicos. Os estudantes promoviam manifestações contra o aumento das passagens dos bondes e os policiais os reprimiam, como sempre, na base da violência.
Graças ao saudoso amigo Lago Burnet, em 1959, embora já estivesse no “Diário Carioca, voltei a São Luís para
ajudar no lançamento do “Jornal do Dia,” do empresário
Alberto Aboud, que desejava tornar-se político e o melhor
caminho era ter um jornal diário.
Nessa época reencontrei com Tribuzi e até imaginei que
pudesse colaborar comigo na implantação do novo diário.
Acontece que Aboud não entendia nada de jornal e, embora simpático, era de admirável teimosia. Só ele sabia de
tudo, era avesso ao chamado “espírito de equipe”.
Retornei ao Rio e ao “Diário Carioca,” anos mais tarde fiquei sabendo que José Sarney e Tribuzi haviam transformado o jornal de Aboud em “O Estado do Maranhão”,
hoje tão importante quanto os melhores do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Em 1977, numa bela festa, Tribuzi recebeu homenagens
dos amigos e admiradores pelo seu quinquagésimo aniversário. Foi, também, o ano em que publica seu “Breve
Memorial do Longo Tempo” e, infelizmente seria, o ano de
sua morte, ocorrida dia 8 de setembro.
As notas de complementação de Lino Moreira ao trabalho de Tribuzi são de grande importância para o bom entendimento da obra desse maranhense genial que, agora, o
Conselho Regional de Economia do Maranhão - 15ª Região
reverencia, em grande estilo, graças, também, ao talento e
à competência de Lino Moreira que, neste trabalho, demonstra ser muito bem informado e detalhista admirável.
Que bom lembrar de Tribuzi, para quem Manuel Bandeira era o grande poeta e ser humano admirável. Fez
sua estreia com o livro A Cinza das Horas (1917), que
muito indignou os parnasianos da época e fortaleceu a
luta dos jovens intelectuais que integravam a chamada
“Semana de Arte Moderna”. Era de tal forma a admiração de Tribuzi pelo poeta pernambucano que, sendo ele
José, passou a assinar-se Bandeira... E, assim, imortalizou-se: Bandeira Tribuzi!
Sem defesa
LINO RAPOSO MOREIRA
5
Tributo a Tribuzi
Muitos assuntos e pouco tempo
JOAQUIM NAGIB HAICKEL
Opinião
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