XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL PLANO DE RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES COSTEIRAS E MARINHAS DE USO DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS DO MUNICÍPIO DE MARAÚ Jefferson Cerqueira Viana; Sérgio Ricardo Oliveira; Leonardo Azevedo; Ricardo A. Souza Machado, Rogerio Santana Silva; Fatima Lilian Mendes Santana, Augusto Santana, Edvaldo Araujo. Centro de Estudos Socioambientais – Pangea, Núcleo de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Salvador, BA. INTRODUÇÃO Como a maioria das unidades de conservação criadas no Brasil não são implantadas, não há garantia da conservação dos atributos ambientais. Isso ocorre porque a medida não impede a redução destes recursos naturais não é alterada o que põe em risco a sua existência. A implantação de Unidades de Conservação geralmente se resume somente ao ato da sua criação por portaria ou quando na gestão política de setores econômicos que atuam no perímetro a ser protegido. Quando existem ações adotadas pelos órgãos ambientais para recuperação e conservação, geralmente consideram apenas estratégias de restrição parcial temporária, ou total do uso das espécies sob pressão, sem consulta aos usuários. A área escolhida para a realização do trabalho foi o Município de Marau, o qual está situado à 250Km, ao sul de Salvador-BA. O município possui unidades de conservação estadual e municipal criadas em seu território. Este território é utilizado por vários setores e dentre eles a pesca. OBJETIVO O objetivo do presente trabalho é mostrar que o estabelecimento estratégias de recuperação e conservação fundamentadas na etnoecologia, ou seja integrando conhecimentos científicos e tradicionais sensibilizam pessoas e geram compromisso com a conservação. MATERIAIS E MÉTODOS Para realização do trabalho inicialmente foram realizados os levantamentos participativo de informações no território das comunidades com a participação de representantes do setor pesqueiro de cada comunidade. Assim sempre um grupo da comunidade acompanhava a equipe técnica durante o mapeamento. Uma vez que foram definidas com cada comunidade a lista de espécies que necessitariam cuidados devido à importância para cada comunidade de pescadores. Depois, foi realizado um pacto sobre os principais recursos pesqueiros do município de Marau, entre os participantes de cada comunidade, aos quais foram apresentadas algumas noções básicas de Legislação pesqueira e ambiental. Então, realizaram-se fóruns de discussão buscando um alinhamento das informações acadêmicas, legais e tradicionais. Os acordos comunitários foram realizados por voto universal dos presentes em cada reunião e as decisões nos seminários intercomunitários para alinhamento das definições de cada comunidade ocorreu por meio de representações escolhidas em cada comunidade. Cada eixo comunitário escolheu dois representantes titulares e dois suplentes para defender os seus acertos realizados mediante reuniões comunitárias. Os acertos foram realizados em acordo com a legislação federal, estadual e municipal e considerou: limitações nos tamanhos mínimos das espécies de pescados e mariscos; limitação da utilização de certos petrechos e a realização de determinados tipos de pesca para certas épocas do ano contribuindo assim para a diminuição da pressão sobre o uso dos recursos pesqueiros em nível local. 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL RESULTADOS Ao final dos procedimentos para elaboração do Plano de Recuperação e Conservação das espécies marinhas foram obtidos os tamanhos mínimos para captura de cada espécime de pescado: para o ariocó – 23 cm; para a carapeba branca - 20 cm; para o cabeçudo - 20 cm; para a caranha - 25 cm; para o carapicum – 15 cm; para a cioba - 23 cm; para o dentão - 23 cm; para o robalo – 25 cm e para a tainha - 25 cm. Além dos pescados, as comunidades também pactuaram tamanhos mínimos para captura de cada espécime de mariscos foram: para ostra – 6 cm; para a lambreta – 4 cm; e para Sururu – 5 cm. Em geral os tamanhos das aberturas das malhas das redes utilizadas pelo setor pesqueiro de marau são os seguintes: rede Cata-cata - 12 mm, Rede para o RIO - 30 mm, rede para o MAR - 35mm e rede arraieira - 150 mm. A partir da discussão foi pactuado que os tamanhos mínimos para as malhas de redes e manzuás a serem utilizados pelo setor são os seguintes: malha de 12 mm para a rede de pescar camarão; malha de 12 mm para a rede de pescar Agulhinha; malha de 30 mm para as redes tainheiras; malha de 30 mm para as redes utilizadas para os tapasteiros de dentro do rio; malha de 35 mm para as redes de tapasteiro no mar; malha de quatro milímetros para o manzuá de pescar siri; malha de três milímetros para o manzuá de pescar aratu; e malha de dois milímetros para o manzuá de pescar morêa. DISCUSSÃO Todas as diretrizes e normas que compõem este plano foram estabelecidos por meio de procedimentos democráticos que contemplou a discussão em cada localidade realizadas em oficinas para tratar do meio ambiente, do meio social, das questões internas da pesca, dos conflitos com outros setores e seminários intercomunitários para consolidação dos acordos selados em cada comunidade. Apesar da maioria das estratégias formais de conservação considerarem apenas conhecimentos acadêmicos, excluindo o usuário dos recursos, no caso o pescador do seu ambiente. Isso dá espaço pra quem não tem relação com o ambiente entrar e destruí-lo. Conforme Peres et al. (2011), geralmente as avaliações de cada espécie passam por 3 etapas básicas: Preparação, Avaliação e Validação. A Preparação compreende todas as etapas de compilação de informações para cada espécie e incluem revisões bibliográficas, consultas diretas a especialistas e consultas às Sociedades Científicas Organizadas. Mas a integração dos conhecimentos acadêmicos e tradicionais podem resultar numa estratégia menos burocrática e mais real de conservação uma vez que pessoas comuns com relação de tempos superiores a o de um tempo de amostragem científica podem participar ativamente das três etapas verificada por Peres (2011) CONCLUSÃO A participação nas decisões sobre as estratégias de conservação, de setores que usam os recursos naturais, são capazes de garantir a conservação de populações e até ecossistemas do que estratégias legalistas que afastam o usuário dos recursos naturais Com o conhecimento das leis pelas comunidades tradicionais, a práticas da pesca e da mariscagem paulatinamente serão realizadas de modo que também atendam às demandas da legislação, e assim ocorre a garantia da conservação dos recursos que dão sustentação e viabilidade ecológica e econômica ao setor usuário ou extrativista: o setor pesqueiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Peres, Monica Brick, Ugo Eichler Vercillo, and Braulio Ferreira de Souza Dias. "Avaliação do Estado de Conservação da Fauna Brasileira e a Lista de Espécies Ameaçadas: o que significa, qual sua importância, como 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL fazer?." Biodiversidade Brasileira 1 (2011). Agradecimento ao Pangea - Centro de Estudos Socioambientais que com o patrocínio Petrobras, através do programa Petrobras Socioambiental vem realizando o Projeto Pescando Consciente. 3