ENXERTIA EM CAFEEIROS - TÉCNICAS NOVAS E MAIS SIMPLES J.B. Matiello – Eng Agr Mapa e Fundação Procafe e M. L. Carvalho – Eng Agr Fdas Reunidas L e S A enxertia é uma pratica pouco usada na cafeicultura brasileira, tendo seu uso recomendado para algumas regiões de solo de arenito, na região da Alta Paulista-SP e no Norte do Paraná, visando o controle dos nematóides M. incognita e M.paranaensis. O sistema usado comercialmente é a garfagem em cunha, feita nas mudinhas no estágio palito de fósforo ou orelha de onça, usando como porta-enxerto o robusta Apoatã. Nestas condições a prática tem dado ótimos resultados. Mais recentemente, foi desenvolvido um novo sistema de enxertia de mudas de café, usando a técnica da encostia das mudinhas. Nas sacolinhas usuais, com substrato comum, são semeadas, bem próximas, no centro, 2 sementes, sendo uma de arábica e outra do robusta. Quando as plantas chegarem no 1º-2º par de folhas, com caules já lenhosos, faz-se um corte lateral, de cerca de 1,5 cm, em cada muda, cortando um pouco a casca e parte do lenho, para expor a zona do cambio. Em seguida juntam-se as mesmas, com uso de fita própria e cerca de 20-30 dias após já se pode eliminar a parte aérea e o sistema radicular indesejados, este podendo ou não ser eliminado(Matiello et alli, Anais do 28º CBPC, 2002, p. 23). Esse novo método não exige ambiente úmido, como o da garfagem, é mais simples e possibilita deixar as mudas com um ou dois sistemas radiculares, oriundos da combinação arábica-robusta. Como as dificuldades para uma maior utilização da enxertia se referem ao custo elevado das mudas, devido ao baixo rendimento operacional e ao pegamento da enxertia, a evolução seguinte no processo foi o uso de um dispositivo para aumentar o rendimento da operação e, ainda, viabilizar a reprodução de matrizes de cafeeiros arábica, que têm dificuldade de enraizamento. Os testes foram feitos no viveiro das Fazendas L e S, em São Domingos das Dores-MG. O primeiro experimento testou o uso de um mini-pegador, em substituição à fita de amarrio do enxerto. Ele é de plástico, semelhante ao pegador normal de roupa no varal, porem de pequeno tamanho, com cerca de 1 cm, sendo o mesmo já comercializado para uso em enxertia de outras espécies de plantas. O seu custo ficou em R$ 45,00 por milheiro(em 2011), podendo o mesmo ser re-utilizado, por várias vezes. Os resultados obtidos na enxertia de palitos por garfagem foram de um rendimento de 700 mudas enxertadas por dia, com pegamento de cerca de 90%. O manejo achado ideal, em seguida, foi a manutenção das mudas enxertadas, por 30 dias, em casa de vegetação, com micro-aspersão e alta umidade, seguindo-se 15 dias em casa de sombra (viveiro de meia-sombra). A muda atingiu o estágio de 4 pares de folhas, apta ao plantio, 120 dias após a enxertia. Verificou-se que o uso do mini-pegador aumentou em mais de 3 vezes o rendimento usual da garfagem de mudinhas, o qual, usando a fita de amarrio, tem sido de apenas 200 mudas enxertadas por dia. O segundo experimento testou uma nova modalidade de enxertia, visando o enxerto de brotos, de plantas matrizes de cafeeiros arábica, as quais apresentam dificuldades de enraizamento, sobre estacas de robusta-conillon, estas com grande facilidade de enraizar. O enxerto, também nesse caso, foi feito por garfagem de fenda. Nesta modalidade foram feitos 200 enxertos e obteve-se o rendimento correspondente a 900 por dia, com pegamento de cerca de 80%, mantendo-se as mudas enxertadas por 45 dias em casa de vegetação e, em seguida, 15 dias em casa de sombra, sendo que as mudas atingiram o estágio de 4-5 pares de folhas, aptas ao plantio, em 4 meses pós enxertia. Nessa modalidade, verificou-se uma significativa redução do prazo no preparo das mudas, pois os brotos de plantas matrizes (de arábicas e híbridos) entrariam diretamente sobre estacas de robusta já enraizadas. Um terceiro experimento, visando ampliar os estudos sobre o comportamento das plantas enxertadas no campo, foi realizado na estação experimental das Fazendas L e S, em São Domingos das Dores, Zona da Mata de Minas. Foram plantadas mudas de café de 3 tipos, sendo 1- o Catuai de pé franco, 2- o Catuai enxertado, por encostia, sobre Conillon, com os 2 sistemas radiculares e 3- o Conillon de pé franco. Com as plantas completando 19 meses de idade foi feito o arranquio, com auxilio de valas laterais, seguindo-se o destorroamento por jatos de água, de forma a preservar todo o sistema radicular. Foram feitas as medições de crescimento, do sistema radicular e da parte aérea das plantas, para comparação dos 3 tipos de cafeeiros. Os resultados estão colocados no quadro 1. Quadro 1- Parâmetros de crescimento da parte aérea e do sistema radicular em plantas de cafeeiros catuai e conillon, com e sem enxertia por encostia, S.D. das Dores-MG, 2010. Fundação Procafé Alameda do Café, 1000 – Varginha, MG – CEP: 37026-400 35 – 3214 1411 www.fundacaoprocafe.com.br Parametros de crescimento das plantas Diâmetro de copa (cm) Diâmetro de caule (cm) Peso parte aérea (g) Comprimento parte aérea (cm) Peso das raízes ( g) Comprimento da raíz pivotante (cm) Número de ramos plagiotrópicos Peso das folhas (g) Área foliar (cm²) Arábica pé franco 56 26 472 65 397 67 28 197 6940 Tipo das plantas avaliadas Arábica enxertado 80 29 1182 77 1100 (conilon:324g, arábica:776g) 77 28 541 19059 Conilon 80 23 640 70 485 90 24 339 11940 Verificou-se que houve grande superioridade do catuai enxertado, para todos os parâmetros de crescimento avaliados, tanto na parte aérea como nas raízes. Na análise conjunta do crescimento das plantas, verificou-se que houve uma interação benéfica dos 2 sistemas radiculares das mudas enxertadas, pelo aumento do seu volume e profundidade, permitindo melhor aproveitamento da água e nutrientes, o que beneficiou a parte aérea das plantas e, em conseqüência, o melhor crescimento da folhagem retornou maiores reservas para o desenvolvimento das raízes. Embora a causa do maior crescimento das plantas da combinação não possa ser completamente esclarecida com o presente estudo, parece que a maior profundidade do sistema radicular, principalmente em função da melhor absorção de água/nutrientes, seja a principal responsável pelo melhor crescimento das plantas enxertadas. Devem ser adotados cuidados de – a) semear as sementes bem próximas na sacolinha, b) fazer o corte bem profundo e c)manter o amarrio por 30 dias, para que haja boa junção entre as plantas encostadas. Estes cuidados são para evitar o descolamento das plantas, no caso de se deixar os dois sistemas radiculares. Nas áreas sem nematoides, o uso da enxertia, visando melhorar o desempenho produtivo das plantas, tem dado resultados controversos. Em um experimento em Mococa-SP e no que aqui apresentamos foram verificadas melhorias, mas, em outros e na prática, estes ganhos de crescimento e de produtividade não tem sido observados, sendo, para essa condição, necessários novos estudos. Etapas da técnica de enxertia por encostia. Na 1ª foto as sementes germinadas, de catuai e conillon, na 2ª as mudas no 2º par de folhas, em ponto de enxertia, na 3ª o corte lateral em cada muda e na 4ª a junção(encostia) das 2 mudas. Fundação Procafé Alameda do Café, 1000 – Varginha, MG – CEP: 37026-400 35 – 3214 1411 www.fundacaoprocafe.com.br À esquerda o cafeeiro catuai enxertado (c/2raizes), ao centro o catuai de pé franco e à direita o conillon pé franco. À esquerda o catuai enxertado, no meio a planta de conillon e à direita o catuai pé franco. Fundação Procafé Alameda do Café, 1000 – Varginha, MG – CEP: 37026-400 35 – 3214 1411 www.fundacaoprocafe.com.br