O SELO DE PUREZA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE BÚFALOS Cláudio Varella Bruna¹ ¹Diretor Administrativo Financeiro da ABCB; Coordenador da equipe do Selo de Pureza 1. INTRODUÇÃO Até não muito tempo atrás, os búfalos eram tidos apenas como uma alternativa aos bovinos. Por serem rústicos e facilmente adaptáveis às mais diversas condições de solo e clima, eram relegados aos espaços nos quais os bovinos não conseguiam se estabelecer. Ainda há aqueles que assim pensam, mas é por preconceito, ou ignorância quanto aos espaços que os produtos oriundos da espécie conquistaram junto ao mercado consumidor e ao valor que eles agregam a atividade. Hoje há uma cadeia da carne já organizada no Rio Grande do Sul e começando a se estabelecer em outros estados, por exemplo. Fato mais marcante é o espaço conquistado pelos produtos lácteos bubalinos, ressalte-se aí a valorização e a procura à mozzarella. Por conta do sucesso de seu derivado, o leite de búfala acabou virando um produto escasso e caro. Na falta dele, apareceram aqueles que decidiram se servir de seu sucesso, produzindo um produto de imitação, usando o abundante e barato leite bovino e, oportunamente, esquecendo de informar o consumidor sobre a falcatrua. Com o intuito de informar o consumidor sobre a existência das fraudes e defender o produtor que, honestamente, produz os derivados promovendo a espécie; a Associação Brasileira dos Criadores de Búfalo (ABCB) criou o Selo de Pureza. O propósito desse texto é descrever, ao leitor desses anais, os objetivos e como opera a equipe do Selo de Pureza. 2. BREVE HISTÓRICO Os primeiros criadores a ordenhar suas búfalas eram criadores de bovinos experimentando e descobrindo o potencial da espécie criada ao lado das vacas comuns. Descobriram esses pecuaristas algumas vantagens na criação simultânea das duas espécies: A curva de produção anual das búfalas era inversa à da vaca. Criando-se as duas espécies juntas, obtinha-se uma produção mais uniforme durante o ano, facilitando a formação das cotas de fornecimento junto às indústrias. O leite de búfala tinha um teor de gordura superior ao dos bovinos, a mistura dos dois fazia com que o produto tivesse um premio que aumentava seu valor. Uma das poucas formas de se fazer crescer a remuneração por litro, durante o longo período do tabelamento que era feito pelo estado. Diante desse cenário, os criadores de búfalos conseguiram na década de setenta que uma portaria (SIPA nº 236) permitisse a adição de 30% de leite de búfala ao leite bovino sem que fosse necessária qualquer especificação. Na década seguinte, começaram a aparecer no mercado algumas mussarelas de búfala feitas com leite bovino. Nesse decênio ainda, o mercado começou a ver as primeiras mozzarelle chegadas ao mercado feitas integralmente com leite de búfala, das mãos pioneiras de Dona Wilma P. Ferreira. Outras marcas a ela se seguiram consolidando a posição do produto no mercado. A mozzarella mostrou-se um produto capaz de agregar muito ao leite de búfala. Vários produtores decidiram investir na verticalização, tornando-se laticinistas. Um pouco antes da virada do século, a procura pela mozzarella era grande. Já havia várias marcas oferecendo o produto no mercado, mas muitas delas (e as maiores, diga-se de passagem) produziam mozzarella com leite misturado e não raro, apenas com leite bovino descolorido. O consumidor, desavisado da diferença, escolhia o produto pelo preço. O produtor honesto tinha dificuldade de colocar sua produção. Nesse contexto, um grupo de laticínios ligados a ABCB, se uniu para criação de um selo, que servisse de ferramenta de marketing, enquanto cumprisse o dever de informar ao consumidor a existência das fraudes. 3. O REGULAMENTO DO SELO O Selo de Pureza tem sua utilização regida por um regulamento, sendo ela exclusiva aos associados da ABCB, mediante assinatura e registro do “Termo de Autorização e Compromisso”. Nele o laticínio participante se compromete a produzir seguindo os temos de utilização do Selo. Pode-se dele destacar que: O controle permanente da fabricação dos derivados do leite de búfala, e da utilização do Selo, conforme prevista naquele Regulamento será feito através do Grupo Técnico de Controle (GTC), constituído dos técnicos da ABCB, presidido pelo presidente do Conselho Deliberativo Técnico (CDT). Compete ao presidente do GTC selecionar o técnico para efetuar a visita ao laticínio, bem como contratar de forma terceirizada o Laboratório e o apoio técnico necessário ao serviço de análises dos produtos e controle da utilização do Selo, atualmente executada por uma parceria firmada com a UFMG. Quando de seu ingresso ao grupo do Selo, o novo participante deve pagar uma taxa, a título de jóia. É obrigado pelo regulamento a informar, mensalmente, a quantidade de leite recebida em sua plataforma e recolher a ABCB, quantia proporcional ao leite recebido. O montante arrecadado é depositado em uma conta separada em nome da ABCB. O dinheiro é destinado a reembolsar a ABCB pelos custos de manutenção, realizar as análises e auditorias e o restante da verba é utilizado em ações de propaganda e marketing para a divulgação do Selo. 4. CAPTAÇÃO No gráfico a seguir, pode-se observar a evolução da captação de leite nas plataformas dos laticínios participantes do Selo. Nela se observa um crescimento constante na captação. Pode-se concluir, a partir da evolução, que os objetivos do grupo foram alcançados. O crescimento total no período foi de 460%, uma taxa anual de 21%. Fonte: Criado a partir de dados fornecidos pela ABCB. 5. PARTICIPANTES Já o número de participantes não tem números tão animadores. Como demonstra o gráfico seguinte, o total crescia até 2005 quando a tendência se inverteu; ainda que, como já se expôs, isso não tenha prejudicado a captação total de leite. Fonte: Criado a partir de dados fornecidos pela ABCB. Alguns motivos podem tentar ser dados com explicação: a) Os laticínios são resultado de iniciativas de verticalização dos criadores. Não é garantido que bons criadores venham a ter, sempre, sucesso como produtores de queijo; tampouco como vendedores daquilo que produzem. Alguns desistiram. b) O ambiente entre os criadores de búfalo sempre foi de muita camaradagem. Talvez alguns participantes tenham acreditado que pudessem se esquivar de suas contribuições. Isso não foi aceito, os laticínios inadimplentes foram excluídos. c) O sucesso do Selo de Pureza torna a matéria prima mais concorrida. Paradoxalmente, fica mais tentador produzir imitações diante de um mercado cada vez mais ávido. Fato é que a comissão que administra o Selo está empenhada em criar mecanismos para aumentar o número de participantes. 6. AÇÕES DE MARKETING Nos primeiros tempos a verba era limitada, ações de publicidade costumam custar caro. A primeira equipe gestora do grupo decidiu por usar uma acessoria de imprensa. Essa foi uma opção bastante acertada. O princípio da acessoria é fazer do cliente notícia. Como notícia, a informação chega ao consumidor divulgada espontaneamente pelo meio de comunicação; ocupando, gratuitamente, um espaço que seria muito caro se fosse como publicidade. Com a evolução do processo, começamos a contar com a acessoria informal de um profissional da área de publicidade. A evolução dessa parceria resultou, no início de 2008, no contrato de acessoria firmado com a Aximax Branding do publicitário João Farkas. Até hoje essa parceria vem nos dando excelentes resultados. Como ações decorrentes disso, podemos citar: 9 Assessoria de imprensa. 9 Clipping de notícias. 9 Anúncios: Gula, Bares & Restaurantes, Supermercado Moderno, Gourmet & Food Service, Go Where Gastronomia. 9 Livro de Receitas. 9 Participação em eventos. 9 Material Promocional Institucional. 9 Financiamento de pesquisas. 9 Participação em feiras (FISPIZZA, Prazeres da Mesa, FISPAL). 9 Criação do Hot Site (www.bufalo.com.br/mozzarellabufala) 9 Links Patrocinados (Google e Yahoo). 6.1 Eventos do Selo Na segunda metade de 2009 uma análise de mercado constatou-se o seguinte cenário: a) Pesquisas mostraram que o público que consome a mozzarella de búfala é o de Classe A. b) O Selo de Pureza apresentava tímida presença nos mais renomados restaurantes de São Paulo. c) Havia uma marca, que não pertencia ao Selo, que atuava com força, inclusive nos cardápios dos restaurantes tops, assumindo liderança na mente dos Chefs, consumidores classe A e formadores de opinião. d) O Selo de Pureza estava fora do radar dos formadores de opinião e do mundo da gastronomia. Era necessário que ações fossem tomadas visando o engrandecimento do Selo de Pureza como marca junto às classes que seriam seu público alvo. O trabalho, então, começou a ficar mais empolgante com a criação de algumas ações personalizadas. Uma delas foi a criação do festival gastronômico. A abertura do festival aconteceu no restaurante Piselli onde foi realizado um almoço para jornalistas e um jantar para formadores de opinião. O Chef do Piselli preparou um cardápio especial para este dia, onde desde a entrada até a sobremesa levaram como ingrediente principal a Mozzarella 100%. Na saída, os convidados receberam uma bolsa com os produtos utilizados na elaboração dos pratos. Na semana seguinte, iniciava-se, aberto ao público, o Festival Gastronômico do Selo de Pureza, que contou com a participação de nove restaurantes, da cidade de São Paulo, que incluíram em seus cardápios um prato especialmente elaborado com a Mozzarella 100%. Durante a semana do festival esses pratos especiais ganharam destaque nos “menus” com direito a um Selo de Pureza estampado. O modelo do evento foi reproduzido com sucesso em 2010 na cidade de Natal-RN. Foi capitaneado pelo pessoal do Laticínio Tapuio, membro do Selo, e teve como objetivo estender as ações de Marketing para além do estado de São Paulo, beneficiando os laticínios mais distantes. O evento obteve grande sucesso satisfazendo aos que o organizaram em Natal e aos autores do modelo na Aximax. 6.2 Ações na Internet Destaque deve ser dado também às ações visando a divulgação na Internet. A rede é talvez o mais poderoso dos veículos, principalmente se o parâmetro é a relação custo/beneficio. A primeira dessas ações foi a criação de um filme para ser veiculado pelo Youtube, ele pode ser assistido em: http://www.youtube.com/watch?v=S5FmFQ7iZwk Outro ponto é a adaptação de nossas campanhas à nova cara da rede. A tabela seguinte mostra quais são os novos paradigmas da Internet: ANTIGA: WEB BROADCAST NOVA: WEB PARTICIPATIVA Internet = Rede de Computadores Internet = Rede de Pessoas Usuário como “espectador” Usuário como “co-autor” Fidelização Engajamento Grandes Portais Conteúdos e ações espalhados pela Rede Audiência Mobilização Banners Ações do usuário Mídia Articulação Controle Diálogo Sustentável Lentidão Velocidade Tecnologia fechada Nuvem Computacional Publico Alvo Público Conectado Pontual Continuidade Para atender as novas expectativas dos usuários da rede foi criado o blog “Selo da Búfala” (http://www.selodabufala.com.br). O conteúdo inclui muitas matérias e receitas que não se atem somente aos nossos produtos, são feitas para atrair um grupo que gosta de gastronomia e não só de mozzarella. Para divulgação do blog, foi feito um trabalho junto às redes sociais: http://www.youtube.com/user/mozzarelladebufala http://twitter.com/selodabufala http://www.flickr.com/photos/mozzarelladebufala http://www.facebook.com/pages/Selo‐da‐Bufala/110761998985453?v=wall O total de acessos ao blog em dezembro de 2010 foi de 6113, nada mal para um começo. 7. AÇÕES PLANEJADAS Dentro da área de marketing a Aximax planeja algumas novas ações para 2011: 9 Apresentação/Workshop para prospects (poderá ser realizado durante a Feileite 2011); 9 Segunda edição do Festival Gastronômico; 9 Envio de brindes gourmets (acessório de cozinha) do Selo de Pureza para jornalistas e formadores de opinião; Na área administrativa, a comissão pensa em buscar o auxílio de uma certificadora. A ABCB fazer uma auditoria nos laticínios nos permite fazer uma propaganda verdadeira sobre nossa confiabilidade. Uma certificadora externa poderia fazer aumentar a confiabilidade do consumidor no processo e possibilitar a exigência de ações punitivas aos fraudadores junto às autoridades competentes. Acessoria de um consultor Italiano na produção da mozzarella fresca para consumo imediato. Esse é o produto que o mercado quer e valoriza. A única empresa que o faz no Brasil mistura leite bovino no processo. 8. CONCLUSÕES Nesse item se espera que o autor diga se os objetivos foram atingidos. Creio que a maior prova disso é o iminente aparecimento de um mercado spot para o leite de búfala. Isso prova o quanto ele passou a ser procurado. Mérito do produto sim, mas o consumidor hoje o conhece, pois as ações de marketing foram competentes. Outro sintoma é que os participantes na dificuldade de obter matéria prima tem tido facilidade em elevar seus preços. Era isso que queríamos quando nos reunimos há uma década. PARTICIPANTES 9 Tapuio Agropecuária Ltda. – RN: www.tapuio.com.br 9 Búfala Almeida Prado – SP: www.bufaloalmeidaprado.com.br 9 Estância Alambari Búfalos – SP: www.estanciaalambari.com.br 9 Laticínio Natal – BA: www.laticinionatal.com.br 9 Laticínio Bom Destino – MG: www.laticíniosbomdestino.com.br 9 LaVera Mozzarella di Bufala – SP: : www.lavera.com.br 9 Búfalo Dourado – SP: www.bufalodourado.com.br 9 Queijaria Búfalo do Oeste – SP: www.queijariabufalo.com.br