www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 APOIO PSICOLÓGICO PARA MÃES ADOLESCENTES NA SAÚDE PÚBLICA 2015 Carlos Otávio de Souza Psicólogo graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil Juliana Jacinto da Silva Maria Eduarda Oliveira Martins Graduandas do curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil E-mail de contato: [email protected] RESUMO A presente pesquisa buscou investigar o papel dos grupos de gestantes no apoio psicológico para mães adolescentes na rede pública de saúde brasileira. Inicialmente, foi realizada uma fundamentação teórica sobre os temas gravidez e adolescência, períodos percebidos como alvos de transformações importantes na vida de mulheres. O estudo foi realizado em um grupo de gestantes no Hospital Universitário Polydoro Hernani de São Thiago em Florianópolis (SC). Foram descritas característica do grupo e realizadas duas entrevistas, uma com a psicóloga que faz parte da equipe que cordena o grupo e outra com uma adolescente que já participou do mesmo. As entrevistas foram posteriormente transcritas, e seu conteúdo foi analisado e categorizado de acordo com os objetivos da pesquisa. Como conclusão houve corroboração entre a literatura pesquisada e os dados coletados. Reforçando assim, os aspectos positivos que um grupo de gestantes possui em orientar novas mães. Discutiu-se também os possíveis benefícios da criação de um grupo de apoio exclusivo para mães adolescentes, porque apesar do grupos existentes serem abertos, percebe-se baixa procura por parte de adolescentes grávidas, dado este que poderia ser diferente caso houvesse uma atenção mais direcionada para este grupo. Palavras-chave: Adolescência, gravidez, grupo de apoio, saúde pública. Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 1 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 1. INTRODUÇÃO 1.1 Problemática Adolescência é uma fase singular na vida do ser humano, um período que acarreta mudanças profundas no comportamento e na vida das pessoas. De acordo com Ferreira, Alvim, Teixeira e Veloso (2007), adolescência é um processo complexo e longo, caracterizado por fenômenos que englobam mudanças biológicas e amadurecimento psicossocial. Também é o período em que se inicia a puberdade, processo pelo qual o indivíduo atinge sua maturidade sexual. Segundo Almeida (2003) os adolescentes tem iniciado cada vez mais cedo sua vida sexual. Apesar do acesso a políticas preventivas sobre saúde sexual ter sido de suma importância para o decréscimo do número de adolescentes grávidas, o Brasil ainda possui um índice considerado elevado de gestantes nessa fase (Nascimento & Andrade, 2013). Uma gestação precoce não é marcada apenas pelos riscos à saúde física. De acordo com Almeida (2003), as adolescentes grávidas sofrem alterações muito visíveis e que geram consequências psicológicas de grande importância. Pode ser observado nessas adolescentes baixa autoestima, pouca ou nenhuma expectativa quanto ao futuro e sofrimento psíquico (Sabroza, Leal, Souza & Gama, 2004). O Ministério da Saúde considera a gravidez na adolescência um tema muito importante de debates e alvo de políticas públicas, considerando-se que além das dificuldades em nível familiar, gera-se também grande prejuízo aos cofres públicos (Fundo de população das nações unidas [UNFPA], 2013). Porém a maioria das ações voltadas para adolescentes grávidas consistem em medidas preventivas como disponibilização de métodos contraceptivos e projetos de educação sexual nas escolas (Ministério da Saúde [MS], 2014). De acordo com a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, em seu artigo 2º e § 4º, “Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal” (Lei nº 12.010, 2009.). Baseados nesse contexto, visamos pesquisar como seria essa assistência se proporcionada através de grupos de apoio na saúde pública. De acordo com Assis, Borges, Souza e Mendes (2013) o grupo é um espaço-gerador onde as gestantes podem compartilhar suas experiências, informações e sentimentos, que tem modalidade de prevenção, educação e promoção da saúde das gestantes. Os momentos de diálogo e reflexão do grupo auxiliam as integrantes a aceitar sua nova identidade, seu novo papel social. Esse modo de intervenção se mostra eficaz, pois o acompanhamento dos profissionais e a identificação entre os membros permite que as integrantes do grupo vivam essas transformações Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 2 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 de forma saudável e equilibrada (Klein & Guedes, 2008). O trabalho em grupo é ainda mais interessante quando se trabalha com mães adolescentes, o grupo corresponde “a natural inclinação dos adolescentes a procurar no grupo de iguais [...] para as suas ansiedades existenciais.” (Fiscmann, 1997). 1.2 Problema Qual a importância de se oferecer suporte psicológico para mães adolescentes através de grupos de apoio na Saúde Pública? 1.3 Objetivo Geral Compreender a importância do suporte psicológico oferecido a adolescentes grávidas através de grupos de apoio na Saúde Pública. 1.4 Objetivos Específicos • Caracterizar o funcionamento do grupo de apoio no Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago • Identificar a opinião dos profissionais da área da saúde sobre o suporte oferecido a adolescentes grávidas através de grupos de apoio. • Descrever as opiniões de adolescentes grávidas sobre o suporte oferecido através de grupos de apoio. • Caracterizar os benefícios que poderiam ter essas adolescentes caso houvesse um grupo de apoio específico para esse público. 1.5 Justificativa A gravidez na adolescência é uma realidade recorrente principalmente em países em desenvolvimento. No Brasil, cerca de 20% das crianças nascidas vivas em 2010 são filhas de mulheres de 19 anos ou menos (MS, 2012). E esse índice é considerado elevado, uma vez que meninas pobres, negras ou indígenas e com menor escolaridade tendem a engravidar mais que outras adolescentes (Instituo brasileiro de geografia e estatística [IBGE],2012). Apesar de, na maioria das vezes, aceitarem seus filhos, as jovens se sentem despreparadas, pois estão em uma situação de conflito onde passam do papel de filha para o de mãe antes do Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 3 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 tempo e não sabem ao certo como se comportar. Muitas vezes não recebem apoio do parceiro nem da família, tendo seu processo normal do desenvolvimento psico-afetivo-social interrompido, além de serem alvos de críticas. Com frequência precisam abandonar a escola, perdem seu tempo de lazer e veem suas oportunidades de trabalho e de futuro serem limitadas (Godinho, Schelp, Parada & Bertoncello, 2000). Analisando estes aspectos percebe-se a relevância social deste trabalho, pelos impactos psicológicos e sociais causados pela gravidez precoce. Segundo Azevedo e Mello (2008), os adolescentes tem uma tendência grupal, pois é no grupo onde eles se refugiam e procuram apoio. Sendo assim temos como propósito analisar como esse modelo de grupo, em forma de grupos de apoio na saúde pública, pode auxiliar essas jovens mães a “esclarecer suas dificuldades individuais, romper com os estereótipos e possibilitar a identificação dos obstáculos que impedem o desenvolvimento do indivíduo [...]” (Fiscmann, 1997, p. 95) durante a gravidez. Esta pesquisa também contribuirá para gerar novos conhecimentos sobre o apoio oferecido às mães adolescentes durante a gestação, pois ao pesquisarmos na base de dados Scielo, sobre gravidez na adolescência, percebemos uma grande variedade de artigos que discorrem sobre a prevenção da gravidez precoce, mas poucos que tratam sobre o apoio oferecido a essas jovens mães, pela saúde pública, durante a gestação. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Segundo Azevedo e Mello (2008), a palavra adolescente tem origem no latim e significa desenvolver-se. Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerada adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos (Lei nº 8.069, 1990). Adolescência é um conceito utilizado pelas sociedades industriais modernas, que caracteriza o período de passagem da infância para a vida adulta. Este é um momento de transição no desenvolvimento onde ocorrem mudanças físicas, cognitivas, emocionais e sociais (Papalia & Feldman, 2013). É durante este período que se inicia a puberdade, “processo pelo qual o individuo atinge a maturidade sexual e a capacidade de reproduzir” (Papalia & Feldman, 2013, p. 386). De acordo com Almeida (2003), muitas adolescentes iniciam sua vida sexual precocemente por fins não sexuais, mas como um meio de procura de identidade, de afirmar sua feminilidade, entre outras motivações que envolvem os pais, necessidades de autopunição ou compensação de carências. Parte dessas adolescentes vê na gravidez uma forma de “se sentirem adultas e de serem tratadas como tal” (Almeida, 2003, p. 233). Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 4 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 Todavia ter uma gestação pode ser algo custoso para a jovem. Apesar de passarem pelos mesmos problemas gestacionais pelos quais passam gestantes entre 20 e 30 anos, as adolescentes grávidas têm maiores chances de desenvolver problemas obstétricos, com um alto índice de morbidade materno-fetal e também são as mais afetadas pela depressão pós-parto (Nascimento & Andrade, 2013). Além da maior suscetibilidade a problemas de saúde física, as jovens grávidas também se enquadram no que Maldonado (1982), chama de crise, situação que causa abalos à saúde mental. Tanto a adolescência como a gravidez são períodos críticos, de transição para a mulher, que são caracterizados por desenvolvimento da personalidade, de mudanças no metabolismo, mudanças na percepção de si e do próprio papel social, de reajustamentos das relações com outras pessoas e de aspectos intrapsíquicos, o que acarreta um estado temporário de desequilíbrio (Maldonado, 1982). “A maternidade é um momento existencial extremamente importante no ciclo vital feminino que pode dar à mulher a oportunidade de atingir novos níveis de integração e desenvolvimento da personalidade. (...) É, indubitavelmente, um momento que merece a convergência dos esforços preventivos de obstetras e psicólogos que resulte num atendimento mais global e satisfatório para a saúde física e emocional da mulher e de seu filho.” (Maldonado, 1982, p. 9.) O dever de prestar assistência à mulheres grávidas é do Ministério da Saúde, que deve garantir um atendimento de excelência e seguro para as gestantes (MS, 2001). Uma forma de garantir um atendimento, durante o pré-natal, que contemple todas as questões que envolvem uma gestação precoce, como dúvidas sobre mudanças corporais e emocionais, questões sobre o parto e também sobre cuidados com o bebê, é a formação de grupos de apoio na saúde pública (MS, 2001). Sendo a gravidez, bem como o puerpério, períodos de transformações não só fisiológicas mas também sociais, familiares e de rotina, seria o grupo de suporte um meio de proporcionar as gestantes um momento de troca de experiências e informações, possibilitando uma vivência positiva da gravidez, do parto e da maternidade (Klein & Guedes, 2008). Para gestantes, “quanto a modalidade, o grupo aberto é o que melhor corresponde aos objetivos, pois a gestação tem um tempo limitado e se torna rico o trabalho quando existem gestantes em diferentes estágios. A troca de experiências entre elas é maior e lhes dá uma sensação de evolução” (Fiscmann, 1997). O grupo de apoio pode ser desenvolvido por uma equipe multiprofissional, com assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos, podendo assim oferecer um atendimento integral às necessidades da adolescente grávida. Segundo Nascimento e Andrade (2013) o profissional que Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 5 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 possui contato com essa realidade de gestações precoces tem um papel muito importante na atenção às adolescentes grávidas. É necessário que estes tenham o conhecimento dos aspectos que envolvem uma gravidez precoce e o contexto em que elas ocorrem para poderem refletir e articular intervenções junto com as adolescentes, sendo responsáveis pela produção da saúde. De acordo com Klein e Guedes (2008), o grupo de apoio é caracterizado como atenção primária por assumir uma postura de promoção de saúde. Assim a criação dos grupos de apoio tem como objetivo ser um complemento ao atendimento médico. O principal intuito é o de esclarecer os medos e ansiedades da gestante em relação aos períodos pré e pós parto e também ajudar para que as gestantes sigam as recomendações médicas (MS, 2001), possibilitando uma gestação segura tanto no aspecto físico como, principalmente, nos aspectos emocionais e psicológicos. 3. MÉTODO 3.1 Lócus e Participantes: Primeiramente, como segundo a literatura o grupo de apoio é caracterizado como atenção primária (Klein & Guedes, 2008), as pesquisadoras esperavam encontrar esse método de intervenção em Unidades Básicas de Saúde. Entretanto nenhum dos postos de saúde contatados estavam promovendo esta atividade durante o período da pesquisa. A pesquisa foi então realizada no Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago, localizado em Florianópolis (SC), que possui vínculo com a instituição de ensino Universidade Federal de Santa Catarina na qual as pesquisadoras são estudantes, o que facilitou o contato com a psicóloga, uma das profissionais que integra o grupo de gestantes, que possibilitou a coleta de dados. Apesar de ser caracterizado como atenção terciária, o HU oferece um grupo de gestantes que atendeu as expectativas da pesquisa. Fizeram parte desta pesquisa uma psicóloga que coordena uma das dinâmicas promovidas no grupo de gestantes do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago e uma adolescente que já participou deste grupo de gestantes. A escolha das entrevistadas teve como critério ser uma profissional que tem contato direto com o grupo, e uma mãe adolescente, público no qual a pesquisa se focou, que participou do grupo de gestantes do HU, cujas as experiências puderam abranger os objetivos da pesquisa. Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 6 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 3.2 Procedimento de coleta e análise dos dados: Para a coleta de dados foram realizadas uma entrevista semi estruturada com cada participante, a partir de dois roteiros semiestruturados, cujas as questões foram elaboradas com base nos objetivos da pesquisa e nas informações obtidas pela revisão da literatura. As entrevistas haviam sido agendadas com antecedência, estas aconteceram em salas reservadas na maternidade do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago e foram gravadas. Apresentou-se a pesquisa, bem como seus objetivos, às entrevistadas que autorizaram o uso das informações obtidas mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas foram posteriormente transcritas, após a transcrição o conteúdo das entrevistas foi analisado, através da leitura das pesquisadoras, e categorizado de acordo com os objetivos da pesquisa e das informações relevantes, condizentes com o foco da pesquisa, que surgiram durante as entrevistas. Foram criadas duas grandes categorias, sendo elas “Grupo de apoio para gestantes” e “Grupo de apoio específico para mães adolescentes”. Com relação a primeira grande categoria ainda foram criadas quatro subcategorias, e, com relação a segunda, foram criadas duas subcategorias. Cada subcategoria foi então analisada separadamente e comparada com a literatura pesquisada. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Grupo de Apoio para Gestantes: 4.1.1 Descrição do funcionamento do grupo do HU: O grupo no Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago é formado por uma equipe multiprofissional, coordenada por duas enfermeiras, composta por uma educadora perinatal, profissionais de nutrição e medicina, e uma psicóloga. O funcionamento caracteriza-se por encontros semanais, tendo duração de dois meses ao todo e sendo cada encontro dividido em três partes: a primeira é com a educadora perinatal, na qual ela faz um trabalho de conscientização corporal; a segunda é o lanche e as participantes aproveitam esse momento para criarem um vínculo mais afetivo umas com as outras; e a terceira consiste na discussão de um tema sob a orientação da psicóloga. É um grupo aberto, constituído por gestantes em diferentes fases da gravidez, o que segundo Fiscmann (1997) seria o melhor jeito de atingir os objetivos do grupo pela troca de experiências. Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 7 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 4.1.2 Características do grupo: Este grupo tem como objetivo promover a educação e a saúde das participantes. Através da entrevista com a psicóloga participante do grupo, percebemos que as atividades deste englobam diferentes aspectos da gravidez, abordando um conceito de saúde integrada. “Quando se fala em saúde nossa visão é bem integrada, é saúde emocional, física e social. Então a gente procura abordar as questões da gravidez parto e nascimento nesses 3 aspectos.” (Psicóloga entrevistada) Esta descrição vai de encontro com as informações encontradas na literatura, pois “o principal intuito (do grupo) é o de esclarecer os medos e ansiedades da gestante em relação aos períodos pré e pós parto” (MS, 2001), possibilitando uma gestação segura tanto no aspecto físico como, principalmente, nos aspectos emocionais e psicológicos. 4.1.3 Contribuições do Grupo: A respeito das contribuições geradas pelo grupo, de acordo com a psicóloga, as participantes sempre trazem informações de que as aprendizagens do grupo lhes são de grande valia principalmente no parto e nos cuidados com o bebê. “Elas sempre dão pra gente um feedback muito positivo dizendo que lembraram coisas que ouviram no grupo, que elas debateram no grupo, durante o trabalho de parto por exemplo.” (Psicóloga Entrevistada) Essa informação foi corroborada pela adolescente entrevistada, a qual citou lembrar-se das orientações do grupo. A adolescente colocou também que o grupo foi de extrema importância para a aceitação do bebê, tanto por sua parte quanto pela parte da sua mãe. “Eu lembro da maioria (ensinamentos do grupo)[...]. Porque ela (mãe) falava alguma coisa e eu dizia ‘não, mas o grupo dizia isso…’” “[...]elas me ajudaram bastante nesse caso, porque antes eu não aceitava. Nem eu, nem minha mãe, nem ninguém. Aí eu comecei a aceitar[...]” (Adolescente Entrevistada) Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 8 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 4.1.4 Participação das adolescentes Acerca da procura deste público observou-se uma baixa frequência na participação de adolescentes no grupo estudado, sendo este, em geral, constituído por mulheres mais velhas. “Esse nosso grupo ele é aberto. [...] Ele não tem uma faixa etária definida, mas a característica que vem ao longo dos anos se repetindo são mulheres adultas.” (Psicóloga entrevistadas) Esta informação diverge das tendências encontradas na literatura, que dizem que os adolescentes tem uma tendência grupal, pois é no grupo onde eles se refugiam e procuram apoio (Azevedo & Mello, 2008). Entretanto esta divergência é justificada pelo fato de o grupo estar sendo oferecido na atenção terciária, e, de acordo com Klein e Guedes (2008), o grupo de apoio, por assumir uma postura de promoção de saúde, é caracterizado como atenção primária. Essa afirmação foi confirmada pela fala da psicóloga, a qual afirma que: “[...]atenção primaria por sua vez, que no caso é a unidade de saúde, deveria ser o setor responsável, da rede de atenção a saúde, a identificar e a formar grupos que atendesse essa população. [...]Aqui no hospital a gente tem um pouco dificuldade porque acabam vindo os casos mais agudos[...]” (Psicóloga entrevistada) 4.2 Grupo Específico para Mães Adolescentes: 4.2.1 Tentativa de criação do grupo específico para adolescentes A segunda grande categoria analisada foi “Grupo Específico para mães adolescentes”, e a primeira subcategoria faz referência a possibilidade de criação deste tipo de grupo e descobrimos que houve esta tentativa e que não foi bem sucedida. Porém percebe-se que há a necessidade da procura por este público, o qual seria mais eficaz se fosse oferecido em unidades básicas de saúde que possuem um contato mais próximo da comunidade. “[...]não foi assim muito profícua a ideia, não teve muito sucesso porque elas não vinham. É uma clientela que a gente percebe que, assim, talvez tenha que Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 9 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 trabalhar em um outro contexto. No contexto das comunidades que elas moram, ou nos postos de saúde.” (Psicóloga entrevistada) De acordo com a literatura pesquisada é função do Ministério da Saúde incentivar e promover a criação de atividade que garantam uma assistência de excelência para as gestantes (MS, 2001). No entanto isso não foi observado, uma vez que a maioria dos postos de saúde contatados não ofereciam grupos de apoio a gestantes (apenas um oferecia, mas este não estava em andamento durante o período da pesquisa). Com isso pode-se perceber a falta de políticas públicas que incentivem a criação de atividades de apoio para gestantes, e principalmente uma falta de atenção com o caso das adolescentes grávidas, público que, segundo artigos consultados e a própria psicóloga entrevistada, merecem acompanhamento especial. “elas estão vivendo concomitantemente dois períodos super importantes,[...] é uma pena assim que elas não estejam sendo cuidadas[...]” (Psicóloga Entrevistada) 4.2.2 Importância que este grupo teria Apesar desta falha na tentativa de criar o grupo, observou-se que caso este fosse criado na atenção básica, junto a comunidade dessas adolescentes, seria uma experiência bastante válida, uma vez que estas jovens mães estão vivenciando duas fases muito importantes no ciclo de vida da mulher, que deflagram em muitas mudanças. “Fundamental (a participação das adolescentes nos grupos), acho que nós como centro de saúde deveríamos talvez estar identificando mais essa clientela,[...]elas estão vivendo concomitantemente dois períodos super importantes, deflagradores de muitas mudanças, emocionais, físicas, de adaptação social, ambivalência afetiva.” (Psicóloga Entrevistada) Essa experiência é abordada na literatura como “crise”, período crítico caracterizado por um estado temporário de desequilíbrio (Maldonado, 1982). Também a adolescente apontou que seria bastante positiva uma experiência de grupo entre meninas da sua idade, já que segundo ela “ficaria até mais a vontade do que fica quando as mulheres são mais velhas.” Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 10 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a realização da pesquisa e discussão dos resultados, concluímos que, apesar de algumas divergências, de modo geral houve uma confirmação de diversos aspectos pesquisados na literatura com relação aos dados obtidos na pesquisa de campo. O grupo de apoio demonstrou ser um recurso bastante benéfico para a orientação e auxílio às novas mães, especialmente no caso de mães adolescentes, já que estas vivenciam dois momentos conturbados do ciclo de vida da mulher simultaneamente: a gravidez e a adolescência. Um ponto a ser destacado nesta pesquisa é que foi comunicado para as pesquisadoras que apesar do hospital estar promovendo um grupo de apoio para gestantes, não é responsabilidade da atenção terciária promover tais medidas de assistência. Devido a isso, pode-se dizer que talvez a visão de grupos de gestantes realizados na atenção primária trouxessem outros aspectos diferenciados, pelo contexto diferente de realização do grupo. Com relação à possível criação de grupos exclusivos para adolescentes foi considerada uma boa saída para facilitar a troca de experiência e a interação entre estas garotas. Contudo a ausência desse grupo específico não eliminou a possibilidade de que elas participassem, apesar da baixa frequência, de grupos abertos, já que constatou-se uma grande receptividade para com a adolescente entrevistada no grupo. Por fim conclui-se também que, caso esses grupos venham a ser formados, o ideal seria que eles se realizassem nas Unidades Básicas de Saúde, uma vez que estas estão localizadas nas próprias comunidades e tem uma interação maior com o público alvo. Carlos Otávio de Souza, Juliana Jacinto da Silva e Maria Eduarda Oliveira Martins 11 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 18.10.2015 REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. M. R. (2003). Adolescência e maternidade. 2. ed. São Paulo: Lisboa. ASSIS, C. L., BORGES, B. A., SOUZA, L. S. & MENDES, T. S. (2013). Intervenção psicossocial em grupo de mulheres gestantes do Centro de Saúde da Mulher de Cacoal-RO. (Aletheia, Canoas, pp. 82-91, n. 42, dez. 2013) . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org>. Acesso em 30jun. 2015. AZEVEDO, M. R. D.; MELLO, M. R. M. (2008). Trabalhando em grupo com adolescentes: um guia prático para o dia-a-dia. São Paulo: Atheneu. 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