MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 RENATA OLIVEIRA MARTINS A PRÁTICA DO ISO-STRETCHING NA MELHORA DA PERCEPÇÃO CORPORAL CASCAVEL 2004 i ii MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 RENATA OLIVEIRA MARTINS A PRÁTICA DO ISO-STRETCHING NA MELHORA DA PERCEPÇÃO CORPORAL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURSO DE FISIOTERAPIA DO CENTRO CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE PARANÁ - CAMPUS CASCAVEL Orientadora: Tavares CASCAVEL 2004 Profª. Keila DO DE DA DO Okuda MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 iii TERMO DE APROVAÇÃO RENATA OLIVEIRA MARTINS A PRÁTICA DO ISO-STRETCHING NA MELHORA DA PERCEPÇÃO CORPORAL. Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. ............................................................................ Orientadora Profª. Keila Okuda Tavares Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE .......................................................................................... Profª. Cristina Diamante Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE .......................................................................................... Profª. Karen Andréa Comparin Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE Cascavel, 01 de janeiro de 2004. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 iv Ao meu pai José e minha mãe Aparecida por acreditarem em mim, e que cujo amor, paciência e incentivo deram-me força constantemente para que eu pudesse ir em busca desta vitória. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 v AGRADECIMENTOS À Deus, que com sabedoria, sempre guiou os meus passos. À minha família, o suporte da minha vida. Ao Alessandro pelo carinho, compreensão e pela força em todos os momentos. À minha orientadora e professora Keila Okuda Tavares por ter me transmitido com muita dedicação seus conhecimentos, pela paciência nos momentos mais difíceis e por todo o carinho na realização deste. Ao companheirismo de Thama neste trabalho, que pela sua enorme amizade, nunca deixou que eu chorasse sozinha. Por fim amiga: Vencemos!!! Às amizades que aqui foram semeadas, fontes de alegria e conforto. Ao corpo docente que contribuiu para o engrandecimento da minha pessoa, não só com o conhecimento científico, mas com a riqueza de suas experiências. Aos pacientes pela confiança, colaboração e paciência. À fisioterapeuta Dra. Cristina Lunardeli pela sua grande contribuição e pelo carinho na realização deste nosso estudo. Ao Dr. Carlos Palmiro, proprietário da CliniFisio, pela confiança e por nos ter cedido o espaço físico na realização deste. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 vi RESUMO Este estudo teve como objetivos: 1) verificar a eficácia da prática do Iso-Stretching na melhora da percepção corporal; 2) demonstrar a relação entre as inúmeras patologias que acometem um indivíduo e os distúrbios da imagem corporal que estas provocam nos mesmos. Para isto foi colhida uma amostra composta inicialmente por 7 indivíduos, de ambos os sexos, com idade entre 22 e 52 anos, tendo como fator de exclusão indivíduos que já tenham sido submetidos ao IsoStretching, Reeducação Postural Global ou Stretching Global Ativo. Porém, apenas 3 pacientes concluíram o tratamento proposto, o qual foi baseado somente na técnica do Iso-Stretching, e consistiu em um total de 10 sessões, realizadas 2 vezes por semana com duração de cinqüenta minutos cada. A pesquisa foi realizada no período de agosto a novembro de 2003, nas dependências da clínica de fisioterapia CliniFisio de Cascavel. A avaliação dos pacientes foi através da aplicação do teste de Askevold antes e depois das 10 sessões, que verificou o componente de percepção de cada um. A análise dos resultados demonstrou que os objetivos propostos foram parcialmente alcançados. Dos três pacientes que concluíram o tratamento, um teve uma piora na construção da sua figura final, o que poderia representar uma piora na sua percepção corporal. Porém, devido a interferência do estado emocional em pesquisa da imagem corporal, torna-se difícil avaliar a percepção corporal apenas com o teste de Askevold, pois os resultados dependem muito do estado psicológico e físico em que se encontra o paciente. Contudo, observou-se que nos outros dois pacientes houve uma melhora na construção de suas figuras finais, possivelmente relacionada com a melhora da percepção corporal com a prática do Iso-Stretching, já que esta técnica desenvolve a conscientização postural e um maior conhecimento do próprio corpo. O segundo objetivo, não foi atingido, já que os três pacientes que concluíram o tratamento tinham em comum o diagnóstico de encurtamento de cadeia posterior. Palavras Chaves: Iso-Stretching, Percepção Corporal, Imagem Corporal e Teste de Askevold. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 vii ABSTRACT This study had as aims: 1) to verifythe efficacy of the pratice of the Iso-Stretching in the improvemente of the corporal perception; 2) to demonstrate the relation among the countlesss patologys that attack individuals and the disturbs of the corporal image that these provoke them. Therefore it was collected initially a sample compound for 7 individual for the both Sex, at the age among 22 and 52 years old, being as a factor of exclusion individuals that already had been submited to IssoStretching, RPG or SGA. However, only 3 patients conclued the treatment propoused, nich was based only in the techinic of the Iso-Stretching, and consisted in a total of 10 sessions, realized twice a week in a period of fifty minutes each one. The research was made from august to november on the year of 2003, in the dependences of fisiotherapy clinic Clinifisio of Cascavel. The valuation of the patients was made trough application of the Askevold test before and after of the 10 sessions, that verifies the compound of perception monstrated. That the aims propused was partialment obtained. From the three patients that conclused the three patients that conclued the treatment, one had na aggravation in the construction of your final figure, what could represent na aggravate in your final figure. However, due to emotional load in a corporal image research, it becomes difficult to raluate the corporal perception only with the Askevold test, because the results depends on psychological and physical condition of the patients had a improvement in the construction of your final figures, likely related with the pratice of the Isso-Stretching since this tecnic develops the postural concerning and a better knowledjement of their own body. The second aim wasn't reached, since the three patients that conclued the treatment had in common the diagnosis of posterior chain curtailment. Key Words: Iso-Stretching, Corporal Perception, Corporal Image, Askevold Test. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 viii SUMÁRIO AGRADECIMENTOS............................................................................................................................................................. v RESUMO .................................................................................................................................................................................. vi ABSTRACT ............................................................................................................................................................................. vii 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................................1 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................................................4 2.1 ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO...................................................................................................4 2.1.1 TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES .................................................................................................................8 2.1.1.1 Fibras Brancas Ou Do Tipo II.......................................................................................................................9 2.1.1.2 Fibras Vermelhas Ou Do Tipo I..................................................................................................................10 2.1.2 PROPRIEDADES DO MÚSCULO ESQUELÉTICO ...................................................................................11 2.2 MECANISMO DA CONTRAÇÃO MUSCULAR................................................................................................13 2.3 ALONGAMENTO MUSCULAR..............................................................................................................................17 2.3.1 TIPOS DE ALONGAMENTO ...........................................................................................................................21 2.3.1.1 Alongamento Balístico................................................................................................................................21 2.3.1.2 Alongamento Estático..................................................................................................................................22 2.3.2 BENEFÍCIOS DO A LONGAMENTO.............................................................................................................23 2.4 ISO-STRETCHING......................................................................................................................................................24 2.4.1 CONTRAÇÃO ISOMÉTRICA ..........................................................................................................................25 2.4.2 AUTOCRESCIMENTO ......................................................................................................................................26 2.4.3 TRABALHO RESPIRATÓRIO.........................................................................................................................27 2.4.4 IMPORTÂNCIA DAS CADEIAS MUSCULARES......................................................................................28 2.5 POSTURA ......................................................................................................................................................................31 2.5.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ..........................................................................................................................31 2.5.2 EQUILÍBRIO POSTURAL................................................................................................................................34 2.5.3 MECANISM O DE REGULAÇÃO DA POSTURA ......................................................................................36 2.5.3.1 Exteroceptores................................................................................................................................................36 2.5.3.2 Interoceptores.................................................................................................................................................37 2.5.3.3 Centros Superiores ........................................................................................................................................39 2.5.4 IMPLICAÇÕES EMOCIONAIS NA POSTURA ..........................................................................................41 2.6 IMAGEM E PERCEPÇÃO CORPORAL................................................................................................................45 3 METODOLOGIA .................................................................................................................................................................50 3.1 AMOSTRA ....................................................................................................................................................................50 3.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO...................................................................................................................................51 3.3 MATERIAIS..................................................................................................................................................................51 3.4 MÉTODOS.....................................................................................................................................................................52 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS.......................................................................................................................................53 5 DISCUSSÃO .........................................................................................................................................................................57 6 CONCLUSÃO ......................................................................................................................................................................60 REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................................................61 ANEXO 1- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................................................65 ANEXO 2- APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA .....................................................................................................68 ANEXO 3 – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO......................................................................................................................69 ANEXO 04 - REPRODUÇÃO DO MODELO NORMAL PROPOSTO POR ASKEVOLD .................................71 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 1 1 INTRODUÇÃO Desde o princípio de nossas vidas o corpo vai armazenando tanto experiências de satisfação quanto traumáticas, e está sempre em permanente processo de mudança de acordo com o grau de tolerância a essas diversas experiências da vida. Essas experiências estão relacionadas a todos os sistemas do nosso corpo, advindo de percepções, sentimentos e sensações próprias de cada um (DIEFENBACH, 2003). Desta forma, entende-se que o corpo de um indivíduo é moldado pelas experiências internas e externas como o nascimento, crescimento, diferenciação, relacionamentos, reprodução, trabalho e resolução de problemas (KELEMAN, 1992). Essa relação entre o corpo e o psíquico, fez com que grandes estudiosos se interessassem pelo assunto em busca de uma definição para as doenças psicossomáticas. Assim, foram surgindo várias teorias como a de Richards (1963) sobre o "protesto corporal", indicando que uma desordem física serve como escape para as preocupações, desapontamentos e outras dificuldades emocionais (BEHAR e CORDÁS, 1993). Baseado neste contexto foi que surgiram termos como imagem corporal e percepção corporal. A imagem corporal foi definida em 1950 por Paul Schilder como sendo a figura que formamos do nosso corpo na nossa mente, ou seja, é uma espécie de "retrato mental" que o indivíduo faz de sua própria aparência física. A percepção corporal é considerada como sendo a avaliação do próprio corpo, ou seja, como essa imagem é conhecida pelo indivíduo. 2 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 A distorção entre a forma com que o indivíduo vê o próprio corpo e como este realmente é, necessariamente não seria uma experiência negativa, pois freqüentemente as pessoas se vêem diferente do que realmente são. Porém, quando se tem uma imagem muito diferente da realidade, isto afeta diretamente no seu auto cuidado e nas atitudes do dia a dia (PRACIDELLI et al; 2001). O estresse, depressão, desvalorização do próprio corpo entre outras sensações exercem uma grande influência na disfunção da imagem corporal. Assim, torna-se essencial o estudo da percepção, a da consciência que o indivíduo tem do seu próprio corpo (BEHAR e CORDÁS, 1993). Desta forma, a Fisioterapia utiliza a noção de imagem e percepção corporal para trabalhar a conscientização do corpo, de forma a contribuir para a melhora da imagem. A Fisioterapia trabalha essa conscientização do corpo através de várias técnicas, uma delas é a de reeducação postural, que se baseia no conceito de que todo indivíduo é capaz de perceber a postura e o movimento de seu próprio corpo através da integração do sistema sensorial. Entre as várias técnicas de reeducação postural, o Iso-Stretching tem um grande destaque por se tratar de um trabalho global adaptado a qualquer idade. Criado por Bernard Redondo na França em 1974, o Iso-Stretching, também chamado de Cinesioterapia do Equilíbrio é uma ginástica postural, que utiliza o alongamento global a fim de harmonizar as tensões e evitar compensações que favorecem as alterações da coluna vertebral (REDONDO, 2001). O método Iso-Stretching se traduz como corretivo, educativo, preventivo, flexibilizante, tonificante e não traumatizante. Os exercícios são efetuados através de posturas eretas que são mantidas durante uma expiração longa, ao mesmo tempo MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 3 em que se solicita o autocrescimento do tronco, contração isométrica dos abdominais, glúteos, músculos da coxa e cintura escapular. O trabalho respiratório é feito com uma expiração forçada e prolongada durante todas as posturas. A ação deste tipo de respiração sobre o diafragma proporciona um relaxamento da musculatura acessória a qual está freqüentemente contraturada, limitando a dinâmica respiratória normal e a expansibilidade toracopulmonar. O autocrescimento exigido pela técnica desenvolve o aprendizado do controle corporal, melhorando o controle da mobilidade e a manutenção do equilíbrio. Neste estudo justifica-se a prática do Iso-Stretching visando capacitar o indivíduo a sentir e ativar partes de seu corpo, contribuindo para modificação e atualização da sua imagem corporal. De acordo com VERDERI, 2002 "é muito importante a conscientização em relação ao que seria uma postura correta e qual a melhor maneira de se estar minimizando todo o esforço pelo qual o corpo é submetido nas infinitas atividades diárias". Assim, os objetivos deste trabalho incluem: 1. Verificar a eficácia da prática do Iso-Stretching na melhora da percepção corporal. 2. Demonstrar a relação entre as inúmeras patologias que acometem um indivíduo e os distúrbios da imagem corporal que estas provocam nos mesmos. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 4 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO Os músculos são máquinas moleculares que convertem energia química, inicialmente derivada do alimento em força. Na histologia, existem três tipos de músculo: liso, cardíaco e esquelético. Particularmente neste trabalho, será dado enfoque apenas sobre a musculatura esquelética, já que é ela a grande responsável pelo controle postural. Fig. 1 - Estrutura do músculo esquelético FONTE: POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício 3ª ed. São Paulo: Manole, 2000 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 5 A estrutura do músculo esquelético (figura 01) é bastante complexa. Ao dissecar um músculo, primeiramente secciona-se o tecido conjuntivo externo que o recobre, denominado de epimísio, que envolve todo o músculo mantendo-o unido. Ao seccionar o epimísio, observa-se pequenos feixes de fibras envoltas por uma bainha de tecido conjuntivo, denominados fascículos. A bainha que circunda cada fascículo é denominada perimísio. Finalmente, seccionando o perimísio, poderá ser observado com auxílio de uma lupa as fibras musculares, as quais são consideradas como sendo a célula muscular (WILMORE e COSTILL, 2001). Todos os músculos esqueléticos do corpo são compostos de numerosas fibras musculares que variam de dez a cem mícrons de diâmetro. Na maioria dos músculos as fibras se estendem por todo o comprimento do músculo, sendo cada uma envolvida por uma bainha de tecido conjuntivo denominada endomísio (GUYTON, 2002). Observando cuidadosamente uma fibra muscular (figura 02), nota-se que ela é envolta por uma membrana plasmática, a qual é denominada sarcolema. Na extremidade de cada fibra muscular, o sarcolema funde-se com o tendão, o qual se insere no osso (WILMORE e COSTILL, 2001). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 6 Fig. 2. Estrutura da fibra muscular FONTE: POWERS, S. K; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício. 3º ed. São Paulo: Manole, 2000. No interior do sarcolema, com auxílio de um microscópio pode-se observar que uma fibra muscular contém milhares de miofibrilas, as quais são consideradas os elementos contráteis do músculo esquelético. As miofibrilas são estruturas que possuem aspecto de bastão e que percorrem toda a extensão das fibras musculares. Os espaços entre as miofibrilas são preenchidos por uma substância gelatinosa denominada de sarcoplasma. Ele é a parte líquida da fibra muscular, sendo constituído principalmente de proteínas, minerais, glicogênio e gorduras dissolvidas, além de organelas necessárias. O sarcoplasma difere do citoplasma da maioria das células por conter uma grande quantidade de glicogênio armazenada. Ainda no sarcoplasma existe um extenso retículo endoplasmático, que na fibra muscular é chamado de retículo sarcoplasmático. Esse retículo tem uma MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 7 organização especial sobremodo importante no controle da contração muscular, pelo fato de servir como local de armazenamento de cálcio. O retículo sarcoplasmático é composto de dois tipos de tubos distintos e separados denominados de túbulos transversos ou em T, e túbulos longitudinais. Cada túbulo longitudinal termina numa cisterna em forma de bulbo, de localização adjacente a um túbulo em T muito pequeno, em corte transversal (GUYTON, 2002). Os túbulos T fornecem os meios de comunicação entre o exterior da fibra muscular e suas porções mais internas, passando lateralmente através da fibra muscular, sendo interconectados quando passam entre as miofibrilas, permitindo que os impulsos nervosos recebidos pelo sarcolema sejam rapidamente transmitidos às miofibrilas (WILMORE e COSTILL, 2001). Como citado anteriormente, cada fibra muscular contém milhares de miofibrilas, e essas se organizam em longas faixas de subunidades ainda menores denominadas de sarcômero. Ao observar uma miofibrila ao microscópio eletrônico, pode-se diferenciar dois tipos de pequenos filamentos protéicos que são responsáveis pela contração muscular. Os filamentos mais finos são de actina e os mais espessos são de miosina. A banda I (clara) indica a região do sarcômero onde existem apenas filamentos de actina. A banda A (escura) representa a região que contém tanto filamentos de miosina quanto filamentos de actina. A zona H é ocupada somente por filamentos de miosina, a ausência de filamentos de actina é que faz com que a zona H pareça mais clara do que a banda A. O fato da zona H ser somente visível quando o sarcômero se encontra relaxado, é porque quando ele se encurta durante a contração os filamentos de actina são puxados para essa zona, fazendo com que ela tenha o mesmo aspecto que o restante da banda A. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 8 Cada molécula de miosina é composta por dois filamentos protéicos retorcidos conjuntamente. Uma extremidade de cada filamento é envolta numa cabeça globular denominada cabeça da miosina. Ainda existe um conjunto de filamentos finos, compostos por titina, que estabiliza os filamentos de miosina no eixo longitudinal. Cada filamento de actina possui uma extremidade inserida numa linha Z, com a extremidade oposta se estendendo em direção ao centro do sarcômero, no espaço entre os filamentos de miosina. Cada filamento de actina contém um sítio ativo ao qual a cabeça da miosina pode se ligar. O filamento de actina na realidade é composto por três moléculas protéicas diferentes: actina (forma a estrutura do filamento), tropomiosina (proteína em forma de tubo que se retorce em torno dos filamentos de actina) e a troponina (proteína mais complexa que se fixa em intervalos regulares, tanto aos filamentos de actina quanto aos de tropomiosina). A tropomiosina e a troponina atuam em conjunto de uma maneira intrincada com os íons cálcio para manter o relaxamento ou iniciar a ação da miofibrila (GUYTON, 2002). 2.1.1 TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES O músculo esquelético não é apenas um grupo homogêneo de fibras com propriedades metabólicas e funcionais semelhantes. Apesar de ter existido considerável confusão acerca do método e da terminologia para classificar o músculo esquelético humano, foram identificados e classificados em dois tipos distintos de fibras por suas características contráteis e metabólicas (MCARDLE e KATCH, 1998). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 9 2.1.1.1 Fibras Brancas Ou Do Tipo II Essas fibras musculares possuem contração rápida tendo uma alta capacidade para a transmissão eletroquímica dos potenciais de ação, um alto nível de atividade de miosina ATPase, um nível rápido de liberação e captação do cálcio pelo retículo sarcoplasmático e um alto nível de renovação das pontes cruzadas, características essas que se relacionam com sua capacidade de gerar energia rapidamente para produzir contrações rápidas e vigorosas. Estes tipos de fibras dependem essencialmente do sistema glicolítico bem desenvolvido para a transferência de energia. Em geral, essas fibras são ativadas nas atividades explosivas e rápidas, assim como em outras contrações musculares vigorosas, que dependem quase que inteiramente do metabolismo anaeróbio para a produção de energia (WILMORE e COSTILL, 2001). Nos seres humanos, existem subdivisões da fibra de contração rápida. A fibra tipo Iia é considerada intermediária, pelo fato de sua velocidade de contração rápida estar combinada com uma capacidade moderadamente bem desenvolvida para a transferência de energia tanto aeróbica quanto anaeróbica. Essas são as fibras rápidas-oxidativas-glicolíticas. Outra subdivisão, ou fibra tipo Iib, possui o maior potencial aeróbico e constitui a verdadeira fibra rápida glicolítica (MCARDLE e KATCH, 1998). As fibras brancas tendem a hipotonia e à fraqueza com o envelhecimento, com a hipoatividade e com o surgimento de doenças neuromusculares (JUNIOR, 2002) MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 10 Recomenda-se o treino de força para fortalecer as fibras brancas, mas devese evitar reforçá-las se estiverem com encurtamento, podendo, nessa condição, a força ser mais um mecanismo causador do encurtamento. São exemplos de músculos com predominância de fibras brancas: rombóide, trapézio, tríceps braquial, fibulares, tibial anterior, vasto medial e lateral, reto do abdome, glúteo, gastrocnêmio, entre outros. 2.1.1.2 Fibras Vermelhas Ou Do Tipo I São fibras de contração lenta que geram energia para a ressíntese de ATP predominantemente por meio do sistema de transferência de energia aeróbica de ação relativamente longa. Elas se caracterizam por um baixo nível de atividade de miosina ATPase, por uma menor velocidade de contração e por uma capacidade glicolítica menos desenvolvida que suas congêneres de contração rápida. Entretanto, as fibras de contração lenta contêm mitocôndrias relativamente volumosas e numerosas. É essa concentração de mitocôndrias, combinada com os altos níveis de mioglobina, que confere às fibras de concentração lenta sua pigmentação vermelha característica. Acompanhando o seu maquinismo metabólico mais aprimorado, existe uma alta concentração de enzimas mitocondriais necessárias para sustentar o metabolismo aeróbico (MCARDLE e KATCH, 1998). O perimísio da fibra vermelha é mais denso, e tende à hipertonia na presença de doenças neuromusculares, envelhecimento e estilo de vida pouco ativo.(JANDA 1996, apud JUNIOR, 2002). Esses tipos de fibras em geral são menores, localizamse na região intramuscular mais profunda e possuem uma alta resistência à tensão e um baixo potencial de deformação plástica (JUNIOR, 2002). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 11 O baixo limiar de excitação faz com que as fibras vermelhas fiquem quase permanentemente em contração. Elas mantêm-se ativas durante várias horas do dia, principalmente para o controle da postura. Assim, posturas incorretas e tensões musculares mantidas podem levar ao surgimento de nódulos, encurtamento e dor aos sistemas musculares. São exemplos de músculos com predominância de fibras vermelhas: sóleo, tibial posterior e anterior, reto femoral, iliopsoas, peitoral maior, piriforme, eretor da espinha, isquiotibiais, quadrado lombar entre outros. 2.1.2 PROPRIEDADES DO MÚSCULO ESQUELÉTICO O músculo esquelético é muito resistente e pode ser alongado ou encurtado em velocidades bastante altas sem que ocorram grandes danos ao tecido. O desempenho da fibra muscular em situações de velocidade e carga variáveis é determinado por quatro propriedades do tecido muscular: irritabilidade, contratilidade, extensibilidade e elasticidade (JUNIOR, 2002). A irritabilidade é a capacidade para responder à estimulação. Em um músculo, a estimulação é feita por um neurotransmissor químico. O tecido muscular esquelético é um dos tecidos mais sensíveis e responsivos do corpo. Como um tecido excitável, o músculo esquelético pode ser recrutado rapidamente com siginificante controle sobre quais e quantas fibras musculares serão estimuladas para um movimento (HAMILL e KNUTZEN, 1999). A contratilidade é a capacidade que um músculo tem para "encurtar-se" quando o tecido muscular recebe estimulação suficiente. A distância que o músculo se encurta é geralmente limitada pelas restrições físicas do corpo. Por exemplo, o MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 12 sartório pode encurtar-se mais da metade de seu comprimento se for removido e estimulado em uma situação de laboratório, porém, no corpo, a distância de encurtamento é restringida pela articulação do quadril e pelo posicionamento do tronco e da coxa. A extensibilidade é a capacidade que o músculo tem para encompridar-se ou alongar-se além do comprimento de repouso. O músculo sozinho não consegue produzir alongamento, outro músculo ou força externa são necessários. A extensibilidade do músculo é determinada pelo tecido conectivo encontrado no perimísio, epimísio e nas fáscias. A elasticidade é a capacidade da fibra muscular para retornar ao seu comprimento de repouso depois que a força de alongamento do músculo é removida. A elasticidade do músculo é determinada principalmente pelo tecido conectivo dentro do músculo que pelas próprias fibrilas. As propriedades de elasticidade e extensibilidade são mecanismos de proteção no músculo que mantêm a integridade e o comportamento básico do músculo. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 13 2.2 MECANISMO DA CONTRAÇÃO MUSCULAR Um neurônio motor individual, juntamente com o seu axônio e todas as fibras musculares que são inervadas por esse neurônio, compreendem a unidade motora. Existem vários tipos de neurônios motores, a maioria se não todos, são de classificação A, alfa. Os comandos motores são transportados a partir dos corpos celulares neuronais em fibras nervosas periféricas e são a seguir transmitidos através da junção neuromuscular - a sinapse entre o nervo e o músculo (SMITH; WEISS e LEHMKUHL, 1997). Todas as fibras musculares dentro de uma dada unidade motora contraem-se ou relaxam-se quase simultaneamente; sendo quase impossível que algumas fibras musculares de uma unidade motora se contraiam enquanto outras fibras da mesma unidade são relaxadas. Quando um nervo ativa as fibras musculares de uma unidade motora suficientemente para que as fibras musculares contraiam-se, essas fibras se contrairão maximamente. O princípio descrito é conhecido como lei do tudo ou nada. A lei, no entanto, aplica-se apenas a unidades motoras individuais. A contração do músculo esquelético é voluntária e controlada pelas vias motoras no sistema nervoso central. O estímulo que produz contração pode ser elétrico, mecânico, químico ou térmico. O estímulo usualmente é de origem química, origina-se no sistema nervoso e é conduzido a cada fibra muscular por uma fibra nervosa. O início e a execução da contração muscular ocorrem em etapas seqüenciais: (GUYTON, 2002) 1º. Um potencial de ação dirige-se ao longo de um nervo motor, até suas terminações nas fibras musculares. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 14 2º. Em cada terminação, o nervo secreta pequenas quantidades de uma substância neurotransmissora chamada acetilcolina. 3º. A acetilcolina atua sobre áreas localizadas da membrana da fibra muscular, para abrir múltiplos canais de sódio, os quais se dirigem para o interior da membrana da fibra muscular. 4º. Os íons sódio ao penetrarem na membrana desencadeiam um potencial de ação na fibra muscular. 5º. O potencial de ação propaga-se ao longo da membrana da fibra muscular da mesma maneira que os potenciais de ação se propagam ao longo das membranas neurais. 6º. O potencial de ação despolariza a membrana muscular, e grande parte da eletricidade do potencial de ação também se propaga profundamente para dentro da fibra muscular. Então, o retículo sarcoplasmático é induzido a liberar grande quantidade de íons cálcio que haviam sido armazenados dentro dele. 7º. Os íons cálcio geram forças atrativas entre os filamentos de actina e miosina, fazendo com que cada um deles deslize ao longo dos demais, caracterizando o processo contrátil. 8º. Após uma fração de segundo, os íons cálcio são bombeados de volta para o retículo sarcoplasmático, por uma bomba de cálcio da membrana, permanecendo armazenados até a chegada de um novo potencial de ação do músculo. Essa remoção de íons cálcio das miofibrilas é responsável pela cessação da contração muscular (GUYTON, 2002). O processo de contração torna-se muito mais complexo quando se trata do que ocorre dentro de um sarcômero, onde a teoria de deslizamento dos filamentos (figura 03) tem sido utilizada como explicação para o encurtamento do mesmo. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 15 Acredita-se que, no estado relaxado, as moléculas de tropomiosina repousem sobre os sítios ativos dos filamentos de actina, impedindo ou enfraquecendo a ligação das cabeças da miosina. Como a tropomiosina normalmente oculta os sítios ativos, ela bloqueia a atração entre a ponte cruzada da miosina e o filamento de actina. No entanto, quando ela é retirada de cima dos sítios ativos pela troponina e pelo cálcio, as cabeças da miosina podem se fixar aos sítios ativos dos filamentos de actina (GUYTON, 2002). Quando as pontes da miosina são ativadas, elas se ligam fortemente à actina, resultando numa alteração da conformação da ponte cruzada, a qual faz com que a cabeça da miosina incline em direção ao braço da ponte cruzada e tracione os filamentos de actina e de miosina em direções opostas, ocorrendo a denominada "ligação forte". A tração do filamento de actina sobre o de miosina resulta no encurtamento do sarcômero e na geração de força (WILMORE e COSTILL, 2001). Imediatamente após ocorrer a inclinação da cabeça da miosina, ela se separa do sítio ativo, roda de volta à sua posição original e se fixa a um novo sítio ativo mais distante ao longo do filamento de actina. Fixações repetidas e ligações fortes fazem com que os filamentos deslizem entre si dando origem ao termo do filamento deslizante. Esse processo continua até as extremidades dos filamentos atingirem as linhas Z. Durante esse deslizamento, os filamentos de actina são trazidos mais próximos uns dos outros e formam uma protusão na zona H, onde finalmente, eles se sobrepõem. O deslizamento simultâneo de muitos sarcômeros em série cria uma alteração do tamanho e força do músculo. A quantidade de força que pode ser desenvolvida no músculo é proporcional ao número de pontes transversas formadas. Pelo 16 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 encurtamento de muitos sarcômeros, é criado um movimento real pelo desenvolvimento de tensão que percorre todo o músculo (JUNIOR, 2002). Fig. 3 Teoria da contração do filamento deslizante FONTE: POWERS, S. K. ; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício. 3º ed. São Paulo: Manole, 2000. 17 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 2.3 ALONGAMENTO MUSCULAR Desde a antigüidade, o alongamento e o desenvolvimento da flexibilidade têm sido utilizados para atingir vários objetivos. De acordo com Egan (1984), a origem da flexibilidade como um método de treinamento é desconhecido. Contudo, imagina-se que os antigos gregos usaram algum tipo de treinamento de flexibilidade que permitia que eles dançassem, realizassem acrobacias e lutassem com grande facilidade. Além disso, o treinamento de flexibilidade foi incorporada nos três tipos de ginástica grega: a profilática , a terapêutica, e a atlética (ALTER, 1999). O conhecimento sobre o alongamento adequado e de como ele deve ser feito ainda é pouco perfundido entre as pessoas, isto porque muitos profissionais ensinam a filosofia de que para fazer bem, o alongamento deve gerar dor. O que precisa ser transmitido é que o alongamento é benéfico e potencialmente agradável. O alongamento é um termo geral utilizado para descrever qualquer manobra terapêutica elaborada para aumentar o comprimento de tecidos moles patologicamente encurtados e desse modo aumentar a amplitude de movimento (KISNER e COLBY, 1998). Segundo JUNIOR (2002), o alongamento pode ser considerado um exercício físico que pode manter ou aumentar a capacidade motora de flexibilidade. Para uma melhor compreensão sobre o mecanismo do alongamento é necessário primeiramente o conhecimento de alguns conceitos que interferem de alguma forma neste processo, são eles: a elasticidade, plasticidade e flexibilidade. A elasticidade, como já citada anteriormente, é uma propriedade muscular dependente dos componentes elásticos em série (tendões) e os em paralelo MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 18 (fáscias). Esta propriedade fornece aos tecidos a capacidade de retornar a sua forma ou tamanho original quando uma força é removida. O alongamento elástico é otimizado pela alta força e pela curta duração em temperaturas normais ou mais frias que as temperaturas do tecido normal. A plasticidade é a propriedade de um material para deformar-se permanentemente quando é sobrecarregado além de sua amplitude elástica. Consequentemente, não há tendência para recuo elástico ou recuperação. Por isso, é de grande importância a aplicação de um programa de exercícios de alongamento adequado, para que assim possa criar uma deformação benéfica para o indivíduo. O alongamento plástico é mais provável de ser produzido pelo alongamento de baixa força e longa duração em temperaturas elevadas, seguido pelo resfriamento do tecido antes de aliviar a tensão. Logo, o programa de alongamento ideal para favorecer o aumento na extensão do tecido sem dano deve: aumentar a temperatura tecidual antes de alongar (através de exercícios que aumentam a temperatura central do corpo), aplicar força de baixa intensidade, manter a força por um período prolongado e resfriar o tecido até a temperatura normal antes de liberar a força de alongamento. A flexibilidade pode ser definida como a habilidade para mover uma articulação ou articulações através de uma amplitude de movimento livre de dor e sem restrições. Ela implica liberdade de movimento e a habilidade de um músculo para relaxar e ceder a uma força de alongamento (KISNER e COLBY, 1998). A flexibilidade dinâmica refere-se à amplitude de movimento ativa de uma articulação, a qual é dependente de uma contração muscular e da quantidade de resistência que é encontrada dentro do tecido. A flexibilidade passiva é a amplitude de movimento verificada em graus onde uma articulação pode ser movida 19 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 passivamente através da amplitude de movimento disponível e depende da extensibilidade dos músculos e tecidos conectivos que cruzam e cercam a articulação. A flexibilidade passiva é um pré-requisito para a flexibilidade dinâmica, mas não é suficiente para assegurá-la (TRIBASTONE, 2001). A flexibilidade é limitada por vários fatores: formato das superfícies articulares; adesões, contraturas e cicatrizes nos tecidos moles; componentes contráteis; ligamentos, tendões e fáscia. Pode ainda apresentar outras limitações mecânicas, tais como excesso de gordura ou de massa muscular (JUNIOR, 2002). O maior responsável na determinação do grau de flexibilidade é o tecido conjuntivo. Desta forma, para uma melhor compreensão das adaptações nos tecidos musculares com exercícios de alongamento, o conhecimento da estrutura básica do tecido conjuntivo torna-se de grande importância. O tecido conjuntivo contém uma enorme variedade de células especializadas. Diferentes tipos de células realizam as funções de defesa, proteção, armazenamento, transporte, ligação, conexão, suporte geral e reparo (ALTER, 1999). Como todos os tecidos, o conjuntivo é formado por células: os blastos. Estas células em forma de estrela se comunicam por intermédio de seus prolongamentos protoplásmicos, não tendo nenhuma atividade metabólica. Sua fisiologia é unicamente a secreção de duas proteínas: o colágeno e a elastina (BIENFAIT, 1993). O colágeno é definido como uma proteína de curta duração e que contém três cadeias de aminoácidos enrolados em uma tripla hélice. Estas fibras se apresentam possivelmente sem cor ou esbranquiçada. Elas são arranjadas em feixes e, exceto sob tensão, atravessam um caminho caracteristicamente ondulado. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 20 As fibras colágenas só são capazes de um leve grau de extensibilidade, contudo, são muito resistentes ao estresse de tração. Logo, são os principais constituintes de estruturas como ligamentos e tendões (ALTER, 1999). O estímulo para a produção de colágeno é a tensão imposta no tecido conjuntivo. A disposição das fibras colágenas depende do tipo de tensão que é aplicada. Uma tensão contínua e prolongada promove um alongamento das moléculas colagenosas, ocorrendo o fenômeno de crescimento. Se a tensão for curta e repetitiva, as moléculas colagenosas se instalam em paralelo, as fibras colágenas e os feixes conjuntivos se multiplicam, ocorrendo uma densificação do tecido, ficando este mais compacto e resistente, porém perdendo progressivamente sua elasticidade (BIENFAIT, 1993). A elastina é uma proteína de longa duração e de formação estável, possui uma estrutura complexa com uma propriedade mecânica de elasticidade devido a sua composição bioquímica e ao arranjo físico de suas moléculas individuais. Como o colágeno, a elastina também é composta por aminoácidos. Até onde se sabe, ainda não é conhecido o fator que provoca a secreção de elastina (ALTER, 1999). As fibras elásticas cedem facilmente ao alongamento. Contudo quando liberadas, elas retornam para seu tamanho inicial. Somente quando as fibras elásticas são alongadas até aproximadamente cento e cinqüenta por cento de seu comprimento original, elas alcançam seu ponto de quebra. O espaço livre entre as células conjuntivas é ocupado por aquilo que a anatomia chama de "substância fundamental". Esta substância é um material transparente, que possui as propriedades de um gel semilíquido. O gel torna-se um fluido quando feitos movimentos de soltura ou balanceios, recuperando sua forma viscosa no período de repouso. Assim, as substâncias fundamentais podem servir MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 21 não só como lubrificante dos tecidos para facilitar os movimentos das articulações, mas também como uma barreira para difusão das bactérias que penetraram no tecido. Pode servir também como um sistema plástico para diminuir a fricção e o desgaste entre as fibras colágenas, e ainda como um local para estocar proteínas, água e íons (JUNIOR, 2002). Outro elemento da substância fundamental é o líquido lacunar, que ocupa todos os espaços livres entre os feixes de colágenos e os de elastina. Este líquido é a linfa intersticial, assim denominada porque é de seu interior que todos os capilares linfáticos retiram os elementos que vão se transformar em linfa. Trata-se, na realidade de plasma sangüíneo, sendo um líquido vital (BIENFAIT, 1993). As células conjuntivas não têm nenhuma atividade metabólica; a linfa ao contrário, é sede de uma imensa atividade, englobando um grande número de células macrófagas, o que lhe confere um lugar de primeiro plano nas funções de nutrição celular e de eliminação. 2.3.1 TIPOS DE ALONGAMENTO Para facilitar o ganho da flexibilidade, desenvolveram-se exercícios especiais de alongamento que podem ser amplamente classificados em duas categorias: balística e estática. 2.3.1.1 Alongamento Balístico É caracterizado pela repetição de movimentos rápidos e intensos à procura da máxima amplitude articular, com o propósito de alongar os músculos antagônicos MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 22 que se opõem ao movimento de máxima amplitude. Este tipo de alongamento pode ser aceito somente quando executado com movimentos suaves, rítmicos e exercidos lentamente, depois de um alongamento estático e dentro dos limites precisos. Muitas vezes, o termo dinâmico, rápido, isotônico ou cinético são usados para referir-se a esse tipo de alongamento. O alongamento balístico ajuda a desenvolver a flexibilidade dinâmica (TRIBASTONE, 2001). 2.3.1.2 Alongamento Estático Envolve uma posição que é mantida por um período de tempo e que pode ou não ser repetida. As qualidades chave do alongamento estático são controle máximo para manutenção da postura e pouco ou nenhum movimento. Tradicionalmente, parece haver acordo geral de que o alongamento estático ou lento é preferível ao alongamento balístico. O alongamento estático foi usado durante séculos por profissionais de yoga e é comprovado pelo tempo. É baseado cientificamente e foi comprovada a sua eficácia no aumento da amplitude de movimento. O alongamento estático requer menos espaço físico e pode ser realizado em qualquer lugar. Além disso, este tipo de alongamento requer menos energia, o que provavelmente irá resultar em menos sofrimento muscular e fornecer alívio mais qualitativo da dor muscular (JUNIOR, 2002). Este trabalho enfatiza a importância do alongamento estático, dando enfoque na técnica do Iso-Stretching, que tem se revelado muito útil no âmbito reeducativo, por meio da recuperação normal da relação muscular tensão-comprimento, restabelecendo um equilíbrio harmônico funcional entre as cadeias musculares e proporcionando a tomada da consciência corporal. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 23 2.3.2 BENEFÍCIOS DO ALONGAMENTO Um programa de alongamento, quando bem elaborado, pode promover vários benefícios como: - Evitar ou eliminar encurtamento musculotendíneo; - Diminuir o risco de alguns tipos de lesão músculo-articular; - Aumentar e/ou manter a flexibilidade; - Eliminar ou reduzir o incômodo de nódulos musculares; - Aumentar o relaxamento muscular e melhorar a circulação sangüínea; - Melhorar a coordenação e evitar a utilização de esforços adicionais no trabalho e no desporto; - Reduzir a resistência tensiva muscular antagonista e aproveitar mais economicamente a força dos músculos agonistas; - Liberar a rigidez e possibilitar melhorar a simetria muscular; - Evitar e/ou eliminar problemas posturais que alteram o centro de gravidade, provocando adaptação muscular. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 24 2.4 ISO-STRETCHING O método Iso-Stretching foi criado em 1974 na França, por Bernard Redondo, Cinesioterapeuta do Esporte e vice-presidente da Sociedade Francesa de Cinesioterapeutas do Esporte. Considerado um método novo e revolucionário, foi desenvolvido com o intuito de preparar e proteger a musculatura de uma atividade física postural inadequada, o que pode acarretar compensações, dores, e evolução de deformidades posturais (PESSOA, 1997). A técnica visa o fortalecimento dos diferentes grupos musculares que sustentam o corpo, e o desenvolvimento da consciência das posições corretas da coluna e da capacidade respiratória (MENEZES, 2002). O Iso-Stretching é baseado em uma cinesioterapia de equilíbrio que mantém e controla o corpo no espaço, harmonizando as tensões e evitando as compensações que favorecem as alterações da coluna vertebral, sendo considerado desta forma um método corretivo, educativo, preventivo, flexibilizante, tonificante e não traumatizante (REDONDO, 2001). Os exercícios são efetuados através de posturas eretas que são mantidas durante uma expiração longa, ao mesmo tempo em que se solicita o autocrescimento do tronco, contração isométrica dos abdominais, glúteos, músculos da coxa e cintura escapular. Estes exercícios devem ser realizados com a atenção e intensidade máxima que cada praticante pode dar, sendo adaptados às capacidades do momento de cada um. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 25 2.4.1 CONTRAÇÃO ISOMÉTRICA A contração isométrica no Iso-Stretching ocorre de forma estática onde o encurtamento dos elementos contráteis equilibra o alongamento dos elementos elásticos que atuam em série. Esse alongamento em série acontece de forma anárquica: alguns grupos musculares se relaxam outros se contraem, e enquanto outros se encontram em diferentes graus de contração. Esta coordenação anárquica proporcionada pelos elementos elásticos em série tem a função de absorver as diversas tensões (BIENFAIT, 1993). A musculatura paravertebral profunda tem como função permanente: a manutenção do equilíbrio do tronco, favorecer da melhor forma a repartição das pressões sobre os discos intervertebrais e controlar a mobilidade da coluna vertebral. O seu fortalecimento é realizado através da solicitação de contrações isométricas com a retificação da coluna associada ao autocrescimento do tronco. Este trabalho é essencial para um melhor controle do posicionamento e da ação da coluna e consequentemente para melhora da percepção corporal, além de favorecer uma descompressão discal através do crescimento e da modificação das curvaturas em função do posicionamento. A força muscular será desenvolvida pela continuidade da prática, pelo recrutamento cada vez maior do número de fibras solicitadas neste trabalho, assim como o aumento do número de sarcômeros, em função da contração estática (REDONDO, 2001). A musculatura abdominal tem como função a contenção das vísceras. A sua pressão sobre as vísceras lhe confere outra função: a função corretiva da lordose lombar (SOUCHARD, 1989). Portanto, a existência de uma maior pressão abdominal MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 26 e torácica, permite a manutenção da coluna em melhor posição de estiramento (FELDENKRAIS, 1994). O Iso-Stretching dá ênfase ao fortalecimento dos músculos abdominais, que devem ser trabalhados em suas funções: (REDONDO, 2001). 1. Proprioceptiva estática: É trabalhada através da contração isométrica mantida, principalmente ao nível do reto abdominal que cria uma pressão no sentido perpendicular a coluna lombar, pois este músculo encontra-se ao lado da convexidade da coluna lombar, favorecendo a retificação da sua curvatura, desencadeando uma reação em cadeia de forma ascendente. 2. Rotatória: É desenvolvida pelos músculos oblíquos do abdome, que contribuem para o equilíbrio tóraco-abdome-pélvico. 3. Respiratória: Desenvolvida durante a expiração forçada que é mantida em conseqüência da inspiração, aumentando com isso o condicionamento respiratório. Por fim, a contração isométrica dos glúteos e músculos da coxa auxiliarão a estabilização da estática da pelve e a contração da cintura escapular atuará estabilizando a estática apical da coluna (PESSOA, 1997). 2.4.2 AUTOCRESCIMENTO O autocrescimento é de grande importância para a correção das curvaturas fisiológicas, assim como para o aprendizado de como preparar melhor os movimentos , mantendo o corpo ereto e protegido do relaxamento. O ganho da flexibilidade através do alongamento e a força obtida pela contração isométrica permite a coluna alcançar o seu máximo comprimento, favorecendo o autocrescimento. Entretanto, este só será possível se houver MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 27 harmonia do conjunto bacia-coluna, incrementada pelo fortalecimento dos músculos abdominais e pela tomada de consciência corporal (REDONDO, 2001). A pelve tem papel importante no autocrescimento em função de sua posição no corpo, podendo adotar um posicionamento em anteversão ou retroversão, possibilitando desta forma os alongamentos; diminuindo a sobrecarga da coluna e o trabalho dos músculos abdominais. O posicionamento adequado da pelve facilita o alongamento dos músculos do tronco, com fixação dos membros inferiores. O Iso-Stretching utiliza-se do endireitamento do corpo, como forma de rearranjo músculo-esquelético através de posturas estáticas, dando um enfoque maior sobre a coluna, visto que ela é eixo e ponto de partida para desequilíbrios em séries de todas as estruturas corporais. 2.4.3 TRABALHO RESPIRATÓRIO A importância de uma função respiratória regular e eficaz sempre foi universalmente reconhecida. Segundo a cultura oriental, pelo controle da respiração, o homem não só alcança um maior domínio sobre o corpo e sobre as emoções, como tem condições de controlar a energia vital. Para a cultura ocidental, mediante a respiração se alcança e se mantém o equilíbrio psicofísico (TRIBASTONE, 2001). A relação entre respiração e a atenção interiorizada é de grande importância, pois estima-se que a dificuldade em manter a atenção é conseqüência da frágil capacidade respiratória e da dificuldade em manter uma respiração rítmica e regular. O trabalho respiratório no Iso-Stretching é realizado através de uma expiração forçada e prolongada durante todas as posturas. Os exercícios são realizados na fase expiratória, pois a maior parte dos músculos antigravitacionais situados acima 28 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 da cintura são inspiradores, e cada tentativa de retificação lombar provocará um bloqueio do diafragma em inspiração. Durante a fase expiratória há diminuição da tensão sobre as costelas, músculos intercostais, parede abdominal e fáscia. Essa diminuição na tensão muscular será transmitida pelos fusos musculares específicos e outros proprioceptores, consequentemente haverá percepção subjetiva de menor estresse e maior relaxamento. Desta forma, esta fase pode contribuir para relaxar alguns dos músculos posturais, acessórios da inspiração, tais como: escalenos, peitoral menor e maior, latíssimo do dorso, serrátil anterior, rombóide, levantador da escápula e o principal músculo respiratório, o diafragma (JUNIOR, 2002). Na prática do Iso-Stretching realiza-se a inspiração nasal, evitando o aumento do volume torácico e a contração do abdome, e a expiração bucal de forma prolongada. 2.4.4 IMPORTÂNCIA DAS CADEIAS MUSCULARES Com a evolução da fisioterapia, deixou-se de entender a postura apenas como harmonia estática e equilibrada dos movimentos, passando para uma concepção mais progressista dentro de uma visão globalista de suas desestruturações. Desta forma, apregoa-se hoje, dentro dos procedimentos fisioterapêuticos para a correção ou para a reestruturação corporal, o conhecimento das cadeias musculares. As cadeias musculares são formadas pela organização dos músculos estáticos que representam dois terços dos músculos humanos. Esta organização ocorre através de superposições e de junções musculares por meio de aponeuroses. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 29 Daí se explica o motivo pelo qual quando ocorre uma atividade ou tensão de um grupo muscular, a conseqüência se faz em todo o conjunto das cadeias. O método Iso-Stretching se ocupa globalmente da interação entre as cadeias musculares. Assim, Bernard Redondo, referencia as cadeias musculares por seu trabalho de contração isométrica e alongamento, referenciando a musculatura profunda, responsável pela estática e músculos superficiais, com função dinâmica buscando a correção da postura para a manutenção das atitudes corretas e facilitação dos gestos. São conhecidas as cadeias musculares: 1. Cadeia Respiratória: músculo peitoral menor, músculos escalenos (anterior, médio e posterior), músculos intercostais (externos e internos) e diafragma (porção esternal, costal e lombar). 2. Cadeia Posterior: músculos da planta do pé (abdutor do hálux, adutor do hálux, flexor curto do hálux e dos dedos e flexor longo do hálux e dos dedos), gastrocnêmio, sóleo, poplíteo, semitendíneo, semimembranáceo, bíceps da coxa, glúteo máximo, músculos da coluna vertebral (iliocostal lombar, torácico e cervical, músculo longo do pescoço e da cabeça, espinhal do tórax e do pescoço, semiespinhal do tórax, do pescoço e da cabeça, multifídio, rotadores, interespinhais, intertransversários, esplênio do pescoço e da cabeça. 3. Cadeia Ântero-Interna do quadril: músculo ilíaco, psoas maior e menor, pectíneo, grácil, adutor magno, adutor curto e longo. 4. Cadeia Anterior do braço: músculo trapézio, deltóide, coracobraquial, bíceps do braço, braquiorradial, braquial, pronador redondo, flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo, flexor superficial e o profundo dos dedos, músculos da região tenar (abdutor curto e longo do polegar, adutor do polegar, oponente do polegar, MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 30 flexor curto e longo do polegar) e músculos da região hipotenar (flexor curto do dedo mínimo, abdutor do dedo mínimo, oponente do dedo mínimo, interósseos dorsais, interósseos palmares e lumbricais). 5. Cadeia Ântero-interna do ombro: músculo peitoral maior, coracobraquial e subescapular. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 31 2.5 POSTURA 2.5.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES Através da evolução, os seres humanos assumiram uma postura bípide, adquirindo uma maior liberdade com as mãos. Porém, a postura ereta acabou acarretando uma sobrecarga sobre a coluna e membros inferiores, além de dificuldades na respiração e no transporte sanguíneo (MAGEE, 2002). O termo postura pode ser entendido como a posição otimizada mantida com características automática e espontânea de um organismo em perfeita harmonia com a força gravitacional, podendo também ser considerado o conjunto de relações existentes entre um organismo como um todo, e o ambiente que o cerca (TRIBSTONE, 2001). Segundo KISNER e COLBY (1998), postura é uma posição ou atitude do corpo, um arranjo relativo das partes do corpo para uma atividade específica, ou uma maneira característica de alguém sustentar seu corpo. Para KENDALL (1998), postura é a posição do corpo que envolve o mínimo de sobrecarga das estruturas, com o menor gasto de energia para o máximo de eficiência na utilização do mesmo. De acordo com ENOKA (2000), postura é uma resposta neuromecânica que se relaciona com a manutenção do equilíbrio e tem como objetivo a manutenção da estabilidade músculo-esquelética. Uma definição mais utilizada e aceita no nosso meio é a da Academia Americana de Ortopedia, definindo a postura como um inter-relacionamento relativo das partes do corpo, caracterizada pelo equilíbrio entre os ossos, músculos, tendões MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 32 e ligamentos, estruturas que sustentam e protegem o corpo contra agentes externos ou internos, que de uma forma ou de outra atuam na tentativa de quebrar a harmonia estática e dinâmica deste equilíbrio (LIANZA, 2001). Postura correta é a posição na qual um mínimo estresse é aplicado em cada articulação. Assim, será necessária mínima atividade muscular para manter esta posição. Qualquer posição que aumente o estresse sobre as articulações pode ser denominada postura defeituosa. Se um indivíduo possuir músculos fortes e flexíveis, as articulações adquirem capacidade de mudar de posição facilmente, não permitindo que estresses se tornem excessivos. Se as articulações forem rígidas, ou os músculos forem fracos ou encurtados, a postura não pode ser facilmente alterada para o alinhamento correto, ocasionando estresses, e o resultado pode ser alguma forma de patologia (MAGEE, 2002). Não existe uma só postura correta para todos os indivíduos. Para cada pessoa a melhor postura é aquela em que os segmentos corporais estão equilibrados na posição de menor esforço e máxima sustentação. Pode-se afirmar também que a melhor postura é aquela que preenche todas as necessidades do aparelho locomotor, permitindo que o indivíduo mantenha a posição ereta com esforço muscular mínimo (LIANZA, 2001). Vários fatores podem afetar a postura correta: configuração óssea, frouxidão de estruturas ligamentares, retesamento fascial e musculotendíneo, tônus muscular, ângulo pélvico (normal é 30º), posição e mobilidade das articulações e aferência e eferência neurogênicas (MAGEE, 2002). Existem muitas causas que levam o indivíduo a permanecer em uma má postura, algumas sendo a níveis posicionais e outras estruturais. O problema posicional mais comum é o mau hábito postural. Este tipo de postura é muitas vezes MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 33 observado na pessoa que fica em pé ou sentada durante longos períodos de tempo e começa a relaxar-se e encurvar-se, e que por este motivo começa a apresentar atitudes compensatórias levando a deformidades posturais e a um quadro álgico. A maioria dos problemas posturais posicionais são relativamente fáceis de corrigir. O tratamento tem como principais objetivos: promover o fortalecimento da musculatura fraca e o alongamento da musculatura encurtada, melhorar a percepção corporal assim como orientar ao paciente sobre a responsabilidade em manter uma postura correta quando em pé, sentado e em outras atividades de vida diária. As más posturas de origem estruturais são resultados de anomalias congênitas, problemas de desenvolvimento, trauma ou doença. As deformidades estruturais envolvem principalmente alterações ósseas e, portanto, não são facilmente corrigíveis sem cirurgia. Entretanto, os pacientes muitas vezes podem aliviar os sintomas por meio de instrução adequada de cuidado postural. A postura pode ser distinguida de duas formas: postura estática e a dinâmica. A postura estática é descrita como sendo o equilíbrio do organismo do homem na posição parada (em pé, sentado ou parado) em situação que não cause nenhum dano das estruturas anatômicas responsáveis por tal, e não produza dor quando essa posição for mantida durante muito tempo. Já a postura dinâmica participa na realização de todos os movimentos de deslocamento do corpo, sendo então descrita como sendo o equilíbrio adequado na realização dos movimentos que devem ser executados sem dor. Na posição adequada de equilíbrio, as vértebras, os discos, as articulações e os músculos executam essa função com o mínimo de desgaste (FILHO, 2001). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 34 2.5.2 EQUILÍBRIO POSTURAL A postura ereta, estática e dinâmica resulta do equilíbrio entre as forças que agem no centro de gravidade, e as forças dos grupos musculares antigravitacionais que se contraem e atuam em sentido contrário (LIANZA, 2001). A atitude ereta estática com apoio bípede tem mostrado ser impossível, pois na postura ereta sempre ocorre um leve balanço (ântero-posterior, cerca de quatro centímetros para frente e quatro centímetros para trás) que necessita de constante controle e permanente adaptações das estruturas músculo-esqueléticas. A linha da gravidade se constitui num traçado imaginário interligando pontos específicos observados no paciente posicionado em pé e lateralmente ao examinador. Para que um corpo fique estável, ou em equilíbrio, a linha da gravidade de sua massa precisa passar exatamente no eixo de rotação. As alterações observadas através da linha da gravidade compõem a abordagem específica e fundamental no estudo da caracterização postural (LIANZA, 2001). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 35 Parte do trago , por diante dos côndilos occipitais; Tangencia a coluna cervical pela frente; Passa pelo acrômio; Passa pela frente da região dorsal; Cruza a coluna lombar na altura de L2; Passa por detrás das últimas vértebras lombares; Passa por detrás da cavidade cotilóide; Acompanha o eixo do fêmur; Passa pela frente do joelho; Passa pela frente da Tíbia; Passa pela frente da articulação TíbioTársica; Cái no cubóide. Fig. 4 Representação do trajeto da linha da gravidade FONTE: RODRIGUES, 2002. (www.cdof.com.br) Assim, as contrações equilibradas da postura, são sensitivas e induzidas pela força da gravidade. Portanto, o trabalho postural educa as sensações, porque o sistema muscular é o fiel executor dos impulsos motores estimulados pelas sensações da gravidade (TRIBASTONE, 2001). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 36 2.5.3 MECANISMO DE REGULAÇÃO DA POSTURA Segundo TRIBASTONE (2001), a regulação automática e perfeita da postura do indivíduo, segundo o Instituto de Posturologia de Paris, baseia-se essencialmente na elaboração das informações provenientes dos: 2.5.3.1 Exteroceptores Estão localizados no ouvido interno, nos tecidos cutâneos, nos olhos e planta dos pés. Têm como função fornecer informações para o indivíduo situar-se em relação ao mundo. No ouvido interno os exteroceptores estão situados na pirâmide do osso temporal, são representados pelos nervos vestibulares, os quais transmitem os estímulos provocados pelos movimentos da endolinfa, colhidos no nível das máculas acústicas, do utrículo, do sáculo e das cristas das ampolas dos canais semicirculares (TRIBASTONE, 2001). Estes exteroceptores são sensíveis à força da gravidade, às acelerações lineares e angulares, cujas informações são moduladas no nível dos núcleos vestibulares. Estes sinais contribuem para a manutenção do tônus postural, para a orientação antigravitacional do corpo e na origem de reações rápidas às acelerações. Essas reações rápidas visam a estabilização da cabeça ou dos olhos durante o movimento (ASENCIO; BLANC e CLASILLAS, 2001). Os mecanorreceptores cutâneos compreendem as terminações nervosas livres que tem a capacidade de percepção e sensação da dor e as terminações encapsuladas responsáveis pelo tato, frio, calor e pressão. Estas terminações encapsuladas recebem nomes especiais: Corpúsculos de Meissner sensíveis pelo MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 37 tato, Corpúsculo Vater Pacini sensíveis à pressão, Corpúsculos de Krause sensíveis ao frio e os Corpúsculos de Ruffini sensíveis ao calor. Estes receptores transmitem informações até os músculos através de vias polissinápticas, assim como por vias leminiscais e extraleminiscais em direção aos centros superiores (GUYTON, 2002). Os receptores visuais informam sobre o deslocamento da cabeça e do corpo em relação ao meio ambiente. O movimento esteja ele ligado às oscilações posturais ou aos deslocamentos, causa sempre conseqüências visuais que correspondem à sucessão de imagens na retina (ASENCIO; BLANC e CLASILLAS, 2001). Os estímulos visuais são recebidos pelas células que constituem o estado retínico profundo (cones e bastonetes) que transmitem aos centros superiores as informações (TRIBASTONE, 2001). Por fim, as informações originadas nas plantas dos pés são transmitidas pelos mecanorreceptores e por sensores proprioceptivos musculares e articulares até o sistema central. De acordo com a Escola de Posturologia o pé "é o tampão terminal do sistema postural; o traço de união entre o equilíbrio e o solo". Daí conclui-se que elas são elementos fundamentais para a regulação do sistema postural (ARNAUD e CORREA, 2000). 2.5.3.2 Interoceptores Estão localizados nos fusos neuromusculares, receptores tendinosos e receptores articulares. Os interoceptores compreendem: - Receptores Proprioceptivos: estão localizados profundamente nos músculos esqueléticos, tendões, fáscias, ligamentos e cápsulas articulares. Dão origem a impulsos proprioceptivos conscientes e inconscientes. Os primeiros atingem o córtex MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 38 cerebral permitindo perceber a posição do corpo e suas partes, bem como a atividade muscular e movimentos articulares, são portanto, responsáveis pelo sentido de posição e movimento. Os impulsos inconscientes não despertam nenhuma sensação, sendo utilizados para a regulação reflexa da atividade muscular através do reflexo miotático (FILHO, 2001). Desta forma estes últimos receptores proprioceptivos pertencem aos fusos neuromusculares e aos órgãos musculotendinosos de Golgi. No fuso neuromuscular os interoceptores são responsáveis pelo reflexo miotático, ou seja, pela contração reflexa do músculo em resposta ao aumento do comprimento muscular. Os receptores tendíneos de Golgi são, ao contrário, transdutores fisiológicos que medem a força de contração muscular. Estes são considerados um mecanismo de proteção, pois quando se desenvolve uma tensão excessiva em um músculo, estes órgãos são acionados, inibindo a atividade dos motoneurônios, diminuindo a tensão no músculo (KISNER e COLBY, 1998). - Mecanorreceptores articulares: são estruturas capsuladas para proporcionar uma maior capacidade de condução. São divididos em quatro tipos: • Tipo I - são de condução lenta. Encontrados nas articulações dos membros, articulações apofisárias da coluna e articulação temporomandibular. Ao nível dos membros distribuem-se mais nas articulações proximais e na coluna seguem o sentido cefálico. Sua estimulação transmite mensagem até o córtex dando origem à sensação consciente de posição espacial dos segmentos na postura estática e registra a duração, amplitude e velocidade do movimento articular (ARNAUD e CORREA, 2000). • Tipo II - também de condução lenta, encontram-se na cápsula de todas as articulações, mas predominam nas distais. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 • 39 Tipo III - são encontrados nos ligamentos, sendo acionados quando a articulação entra em movimento. • Tipo IV - são terminações nervosas não capsulares. Encontram-se nos membros, nas articulações das apófises da coluna e na articulação temporomandibular. São receptores de dor, e só são ativados quando ocorre uma deformação mecânica, tensão ou irritação química. 2.5.3.3 Centros Superiores Compreendem os núcleos vestibulares, gânglios da base, cerebelo, formação reticular, lobos frontais, colículo superior e corpo caloso. Funcionam como computador central que recebe informações de todos estes receptores acima mencionados. Os núcleos vestibulares recebem informações do ouvido interno, contribuindo para determinar a orientação espacial; para comandar com aferência proprioceptiva e visível, intermediando pelas vias vestíbulo-espinhais o tônus postural adequado e mantendo a correta posição dos olhos durante os movimentos da cabeça (TRIBASTONE, 2001). Os gânglios da base são estruturas que funcionam interferindo no tônus muscular, durante diferentes automatismos de forma ascendente estimulando a atividade cortical (ARNAUD e CORREA, 2000). O cerebelo tem função essencial no ajuste dos movimentos rápidos, sendo ele e os lobos frontais os maiores responsáveis pelo equilíbrio. Além disso, os lobos frontais também intervêm na regulação da marcha e dos esquemas pré-motores. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 40 O colículo superior controla os movimentos dos olhos por um trabalho sinérgico direito/esquerdo. O corpo caloso é composto por estruturas interhemisféricas responsáveis pela transferência de informações armazenadas a uma determinada área cortical, para uma área homóloga contralateral. Portanto, informações somestésicas e visuais, também passam por estas vias possibilitando um bom sinergismo direito/esquerdo. Todas as estruturas acima relatadas quando intactas e funcionando de forma integrada, permitem ao indivíduo realizar o seu "endireitamento" através dos reflexos posturais. Esses reflexos embora descritos de forma independente, podem agir simultaneamente, dependendo da situação, com maior ou menor grau de intensidade. Segundo LIANZA (1995), são descritos cinco tipos de reflexos: 1. Reflexo de endireitamento labiríntico: condicionado durante o crescimento com finalidade de coordenação motora e equilíbrio dos movimentos utilizados pelos aparelho locomotor. 2. Reflexo de endireitamento corporal sobre a cabeça: regula a colocação do corpo no espaço independente de seu movimento. 3. Reflexo de endireitamento do pescoço: mantém a cabeça posicionada na tentativa de regular sua postura estabilizada para a atividade executada. 4. Reflexo de endireitamento sobre o corpo: atua na procura do encontro do equilíbrio das ações dos segmentos corpóreos. 5. Reflexo de endireitamento óptico: utiliza a visão para conduzir o movimento dentro dos limites normais de equilíbrio postural. Desta forma, constata-se que o controle postural é fruto de uma interação sensorial entre exteroceptores, interoceptores e centros superiores aliados aos reflexos de endireitamento. Assim, qualquer alteração que ocorrer, impedindo esta MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 41 interação, acarretará maus hábitos posturais os quais são caracterizados por modificações funcionais reversíveis e que provocam um desequilíbrio dinâmico, reduzindo a eficiência do movimento (TRIBASTONE, 2001). Todo esse complexo sistema de regulação postural permite ao indivíduo consciência perceptiva da posição do corpo na postura estática, assim como em movimento, chamadas respectivamente de sensação postural e cinestesia. Assim, pode-se dizer que as sensações posturais e a cinestesia são experiências perceptivas das quais o indivíduo está consciente. Portanto, com o trabalho postural feito pelo Iso-Stretching é possível adquirir uma melhora dessa consciência, basta o indivíduo efetuar as posturas de forma correta e com o máximo de atenção. 2.5.4 IMPLICAÇÕES EMOCIONAIS NA POSTURA De acordo com CAILLIET (1998), a postura tem total relação com a emoção do indivíduo, pois ela corresponde a "uma representação somática das emoções internas; uma linguagem orgânica, uma expressão emocional, uma exteriorização postural dos sentimentos anteriores". Assim, a postura é considerada uma verdadeira e própria forma de linguagem, uma vez que cada um se move assim como se sente: por exemplo, uma pessoa cansada e deprimida apresenta ombros arqueados, o dorso encurvado, o colo deprimido, as pernas semifletidas. Uma outra situação é a da postura hiperlodótica, na região lombar, que evidencia uma tentativa de busca de respeito. Foi observado que pessoas angustiadas, deprimidas ou tensas têm uma tendência maior de apresentar dores na coluna, isto porque têm uma postura viciosa e seu MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 42 modo de viver está relacionada com atitudes mentais incorretas (TRIBASTONE, 2001). A postura exprime o que experimenta um organismo na situação atual e como ele a vive. É, por este motivo uma resposta global de acomodação a certo ambiente, uma correlação entre os aspectos corporais e mentais do comportamento (FREITAS; GORENSTEIN e APPOLINARIO, 2002). O principal fator que interfere na postura é o tônus muscular, que não é somente a base da acomodação postural, mas também a expressão das emoções e dos movimentos ou atitudes. De certa forma, a postura exprime a maneira pelo qual o organismo enfrenta os estímulos do mundo exterior e se prepara para reagir a eles (ASENCIO; BLANC e CLASSILAS, 2001). A análise das expressões posturais pode ser aplicada à teoria genética dos três cérebros (Mclean, 1964): o cérebro reptiliano, o cérebro límbico e o cérebro cortical. O cérebro reptiliano, constituído pela substância reticular e núcleo estriado participa do controle do nível de atenção e recebe inúmeras informações posturais. Ele intervém nas posturas características da atenção e do relaxamento, da sonolência e do sono. É possível que ele também esteja implicado nas atitudes de medo e agressividade (GAGEY e WEBER, 2000). O cérebro límbico está relacionado com as atitudes de carinho, de prazer e repouso. É nesse nível que ocorre a fusão dos dados oriundos do meio interno (do espaço relacional, informações sensoriais e da memória das experiências emocionais). Essa "fusão límbica" exprime, à sua maneira, que não se pode encontrar qualquer situação emocional característica. Observa-se, portanto, que a fusão das informações posturais permanece essencialmente fora da consciência. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 43 O cérebro cortical representado pelo córtex frontal, parietal, temporal e occipital, recebe informações posturais vestibulares e proprioceptivas transmitidas pelo tálamo. Estão diretamente relacionados com o controle visual do equilíbrio, que pode ser um ato voluntário. É dessa forma que o aprendizado e a vontade participam diretamente da estruturação do sistema postural e do equilíbrio para dominar todas as condições difíceis, particularmente a apreensão do perigo e o estresse da altura. A conquista pelo homem do espaço atual no qual ele se movimenta é, em suma, a todo o momento, o aprendizado que permite uma adaptação aperfeiçoável e uma automatização de seus movimentos, deixando à vontade o cuidado de tratar as situações novas, difíceis, perigosas ou excepcionais. Assim, são muitas as situações que podem levar as alterações posturais, como: informações posturais muito discordantes que ultrapassam a capacidade de integração; quando a posição espacial é objetivamente muito perigosa; ou ainda quando o indivíduo encontra-se invadido pela avaliação pessimista de um perigo que o ameaça, pela dificuldade de uma situação social ou por um estado de ansiedade de qualquer origem. Desta forma, quando um indivíduo apresentar alterações posturais, o importante é antes de tudo, escutá-lo e compreender bem a sua queixa antes de definir um diagnóstico topográfico dando a aparência da ciência. Raciocinar do ponto de vista psicossomático não quer dizer impor, por definição, uma psicogênese, mas escutar atentamente o indivíduo e não somente procurar sintomas físicos determinantes. Portanto, o conceito de postura se complementa com o pensamento de integração total do indivíduo, que segundo GAGEY e WEBER (2000), pode ser considerada como "consciência total do corpo, seus limites, suas corretas MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 44 localizações no espaço físico, em resumo a complexa chegada a um estado de maturidade psicossomática e espiritual do indivíduo de forma a levá-lo ao equilíbrio e a condição de bem estar total". MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 45 2.6 IMAGEM E PERCEPÇÃO CORPORAL "Talvez não exista visualização mais fascinante do que a da nossa própria imagem. Narciso, na mitologia grega, é o mais famoso exemplo de paixão que a própria imagem pode despertar no homem: ao se ver refletido no espelho da fonte de Téspias, Narciso não pôde mais sair dali, apaixonado, cativo pela própria imagem" (BEHAR e CORDÁS, 1993). Dentre as muitas interpretações sobre o mito de Narciso, desde a época de Platão até hoje, o interesse pelo corpo como um fenômeno psicológico e sociológico está cada vez mais florescido. A inter-relação entre o psíquico e o corpóreo que diferentes autores perceberam deu início, posteriormente, às primeiras tentativas de se definir e compreender a chamada "doença psicossomática". Com estes estudos surgiram termos como imagem corporal e percepção corporal. O desenvolvimento do conhecimento científico sobre a relação do homem com o seu corpo foi se aprimorando em várias direções, desde a atratividade do próprio corpo, experiências com membro fantasma em amputações e distorção da imagem corporal em pacientes anoréxicas e bulímicas. Nos consultórios neurológicos, no começo do século, foram realizados os primeiros diagnósticos de experiências subjetivas de distúrbios da imagem corporal e distorções na percepção do próprio corpo, em pacientes com lesões cerebrais. Os pacientes apresentaram sintomas bizarros, como negação da existência de partes do corpo, inabilidade para distinguir entre o lado direito e esquerdo e sensação de partes do corpo que já foram amputadas. O neurologista Henry Head, em 1920, foi o primeiro a declarar que o esquema postural e a representação que o corpo tem para cada indivíduo são fundamentais MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 46 para a manutenção da postura. Da mesma forma, estudos neurológicos no início do século começaram a identificar que indivíduos, após lesão cerebral, tinham a percepção de que o seu corpo desaparecera. Paul Schilder começou sua carreira como neurologista e logo ficou fascinado pelos diversos tipos de alteração da percepção do corpo que seus pacientes apresentavam. Schilder fez uma excepcional contribuição a essa área de pesquisa quando em 1950 definiu imagem corporal como "a representação que formamos mentalmente de nosso próprio corpo, isto é, a forma como ele nos aparece" (PRACIDELLI; IZZO e ARANHA, 2001). Schilder também especulou sobre a fluidez da experiência corporal, admitindo que emoções podem alterar a imagem corporal, já que certamente elas promovem mudanças físicas: raiva provoca contração muscular; há expansão do corpo quando o sentimento é de amizade e afeto; o corpo encolhe diante de uma sensação de medo ou vergonha. Assim, o autor afirmou que o conceito de imagem corporal poderia ser útil para esclarecer tanto a problemática de pacientes com patologia cerebral orgânica, quanto explicar comportamento ditos normais da vida cotidiana, reconhecendo a importância da atitude e dos sentimentos com relação ao corpo. Interessados pelo mesmo contexto, autores começaram a contribuir para uma melhor e mais esclarecida definição de imagem corporal. Assim, segundo OLIVIER, (1995), a imagem corporal não é algo pronto e definitivo, mas algo dinâmico que se modifica e altera. Sua alteração é justificada pela influência dos estados emocionais, dos conflitos psíquicos e do contato com o mundo e com os outros (MELLO e MARQUES, 1995). De acordo com MORETTI (1992), a imagem corporal não é mera sensação ou imaginação, é a fixação do corpo em nossa mente. É uma unidade possível de MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 47 tranformação, onde todos os sentidos entram em colaboração. A capacidade de ver , sentir e ativar partes do nosso corpo ajudam a modificar e atualizar a nossa imagem corporal. DIEFENBACH (1999), refere que desde o princípio da vida o corpo vai armazenando tanto experiências de satisfação quanto traumáticas, e está sempre em permanente processo de mudanças de acordo com o grau de tolerância a essas diversas experiências da vida. Estas experiências estão relacionadas a todos os sistemas do nosso corpo, advindo de percepções, sentimentos e sensações próprias de cada um. A imagem corporal é um processo contínuo de construção e desconstrução, sendo, portanto a vivência/experiência adquirida, importante para sua análise. Toda experiência vem carregada de significados afetivos e emocionais que determinam o comportamento motor. A imagem corporal é holística, permitindo uma síntese viva de todos os conteúdos adquiridos pela experiência ( PRACIDELLI; IZZO e ARANHA, 2001). Dessa forma, conclui-se que imagem corporal é um fenômeno muito complexo, a qual inclui a integração de informações visuais e táteis (exteroceptivas) e a percepção e interpretação de estímulos vindo de dentro do corpo (introceptivos) como fome, sono, desejo. Estes aspectos mesclam-se com as experiências subjetivas das funções corporais e as opiniões pessoais sobre o próprio corpo (BEHAR e CORDÁS, 1993). GARNER E GARFINKEL (1981) conseguiram delinear, duas formas básicas da manifestação dos distúrbios da imagem corporal. A primeira forma seria a distorção do tamanho-corpo que envolve o distúrbio de percepção na qual as MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 48 pessoas não são capazes de avaliar seu tamanho de maneira adequada. A segunda forma geralmente denominada de descontentamento do corpo representa o sentimento das pessoas em relação ao seu corpo ou partes de seu corpo que vão desde a satisfação a depreciação. Estas duas formas de distúrbios da imagem podem atuar independente uma da outra ou conjuntamente (KEETON; CASH e BROWN, 1990). O interesse pela imagem corporal reflete-se no estudo da percepção, ou seja, a forma com que essa imagem é conhecida pelo próprio corpo, e da conseqüente relação da pessoa com o mundo, assim como na adaptação do indivíduo às restrições que o seu corpo apresenta, seja por acidente, cirurgia ou dor. Nesse sentido a pesquisa da percepção corporal, das sensações corpóreas e a habilidade de julgar a posição do próprio corpo são de grande importância, já que a fisioterapia poderá atuar, trabalhando a conscientização do corpo, conquistando uma melhora da imagem corporal. Considerando a importância da pesquisa sobre a percepção corporal, Marchover em 1963 elaborou um teste para avaliar o aspecto projetivo da imagem corporal, utilizando desenhos da figura humana realizados pelo próprio sujeito. Em 1975, surgiu outro modelo para avaliar a percepção corporal proposto por Askevold, que consiste em avaliar a percepção de pontos anatômicos específicos utilizando uma referência autógena a partir da recordação da imagem corporal no espelho. Os resultados mostram diferenças importantes entre a imagem corporal referida e a imagem corporal real (MELLO e MARQUES, 1995). Atualmente têm sido marcante o aumento no número de estudos científicos sobre a imagem corporal, particularmente no que se refere aos distúrbios alimentares. Com esse aumento surgiu uma abundância de métodos para se avaliar MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 49 a imagem corporal, porém várias revisões metodológicas concluíram que não existe ainda um método que proporcione a explicação exata da construção da imagem corporal. Assim, a maior crítica em se pesquisar a imagem corporal se refere à duvidosa suposição da unidimensionalidade da sua construção (KEETON; CASH e BROWN, 1990). Todos os estudos até hoje realizados demonstraram que os indivíduos que possuem uma boa percepção corporal e uma imagem extremamente valorizada, consequentemente terão uma grande auto-estima, com uma maior confiança em si, e em sua capacidade funcional e intelectual, modificando suas atitudes perante o mundo e aos outros (ASSUNÇÃO, 2002). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 50 3 METODOLOGIA 3.1 AMOSTRA Para o desenvolvimento deste estudo a amostra foi composta inicialmente por 7 pacientes de ambos os sexos, entre 22 e 52 anos, que foram escolhidos aleatoriamente à medida em que iam sendo encaminhados para o tratamento fisioterapêutico com a técnica do Iso-Stretching com diagnósticos variados, no período de agosto a novembro de 2003. No decorrer deste estudo, surgiram algumas intercorrências e dos 7 pacientes que iniciaram, apenas três concluíram o tratamento proposto. Dois pacientes justificaram sua desistência por motivos de saúde, um por motivo particular e outros dois pacientes não concluíram as 10 sessões a tempo do término deste estudo devido às constantes faltas. A coleta de dados e o tratamento foram realizados nas dependências da Clínica de Fisioterapia CliniFisio de Cascavel, situada à Rua Castro Alves, 2518. O tratamento foi baseado somente na técnica do Iso-Stretching e consistiu em um total de dez sessões, as quais foram realizadas duas vezes por semana, com duração de cinqüenta minutos cada. O atendimento foi feito pela fisioterapeuta da CliniFisio, Cristina Lunardeli, portadora do Crefito número 12901-F, a qual possui o curso de formação e o domínio da técnica do Iso-Stretching. Os sujeitos deram entrada no estudo, depois de terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 51 Estadual do Oeste do Paraná. (Anexo 1 e 2 respectivamente). Antes do tratamento era preenchida uma ficha de identificação. (Anexo 3) 3.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Foram excluídos os sujeitos que já haviam sido submetidos a técnica do IsoStretching, RPG e ou SGA anteriormente, pois supõem-se que estes teriam uma maior facilidade de autocorreção, o que interferiria nos resultados de nosso estudo. 3.3 MATERIAIS Os materiais utilizados neste estudo foram: a- bastões de PVC (1m); b- bolas terapêuticas (de 1 a 3 Kg); c- colchonetes (2m de comprimento, 1m de largura, 6cm de espessura); d- papel crafit com dimensões 1,60x0,60m de comprimento; e- caneta hidrográfica de cor preta; f- régua de madeira de 1m de comprimento; g- ficha de identificação. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 52 3.4 MÉTODOS A terapia era realizada em grupo, de até oito pessoas, e aplicada pela fisioterapeuta Cristina Lunardeli. O tratamento era composto por exercícios realizados através da manutenção de posturas (deitada, sentada e em pé) por aproximadamente dez segundos (o tempo da expiração) e repetidas mínimo três vezes cada. Os pacientes foram avaliados antes da primeira e depois da décima sessão, com o teste de Askevold que analisa como cada sujeito projeta sua imagem corporal. Através deste procedimento, foi avaliado o componente de percepção de cada um. O teste consistiu em posicionar o paciente em uma postura de bipedestação diante de uma folha de papel crafit, fixado à parede com uma altura de 30cm acima do solo, de forma que suas mãos alcançassem o papel. Após ter posicionado o paciente, este então era orientado pelo pesquisador a realizar o teste com as seguintes instruções verbais: "Imagine que esta folha de papel é um espelho, e você está se vendo nele. Eu vou tocar em alguns pontos do seu corpo e você vai marcar no papel onde você acha que está cada ponto”. Durante todo o teste o paciente permanecia de olhos fechados. O paciente avaliado marcava com auxílio da caneta a seqüência de pontos tocados pelo pesquisador: ápice da cabeça, articulações acromioclaviculares direita e esquerda, curva da cintura direita e esquerda e trocanter femural maior direito e esquerdo. Com os pontos marcados, o pesquisador com auxílio da régua e da caneta traçava uma linha unindo os pontos de forma a fechar uma figura. A seguir a figura obtida era comparada ao modelo proposto por Askevold (Anexo 4), sendo este considerado o normal. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 53 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados desta pesquisa serão apresentados de forma descritiva e foram obtidos através das figuras seguindo o teste de Askevold. Foi feita a análise apenas dos resultados referentes aos 3 pacientes que concluíram o tratamento proposto. A paciente identificada como número 1, é do sexo feminino, 52 anos e foi encaminhada para tratamento devido ao diagnóstico médico de encurtamento de cadeia posterior e desvio postural; o paciente número 2, é do sexo masculino, 24 anos e foi também encaminhado com o diagnóstico médico de encurtamento da cadeia posterior e por último, a paciente número 3, do sexo feminino, 48 anos, encaminhada com o diagnóstico de encurtamento de cadeia posterior e desvio postural. De acordo com as figuras obtidas da paciente número 1, observou-se uma grande divergência entre as duas. Na primeira figura, feita antes do tratamento, notou-se um tamanho maior, se assemelhando mais com a sua altura, e uma simetria entre o lado direito e o esquerdo, já a feita posteriormente às 10 sessões teve um tamanho inferior à primeira e houve uma grande diferença entre o lado direito e o esquerdo, quando comparado os pontos da cintura e do fêmur. Desta forma, verificou-se que a figura feita após o tratamento se distanciou ainda mais do modelo normal proposto por Askevold, e de acordo com este autor, isto é indicativo que não ocorreu nenhuma melhora da percepção corporal. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 54 FIGURA 05 - REPRESENTAÇÃO DO TESTE DE ASKEVOLD ANTES DEPOIS As figuras obtidas do paciente número dois também revelaram uma divergência entre as duas, porém desta vez, a figura maior foi a feita posteriormente às 10 sessões, sendo mais equivalente a sua altura. Notou-se também, que houve uma assimetria muito maior entre os pontos das cinturas na primeira figura do que da segunda. Além do comprimento, houve uma diferença significativa também na largura das figuras, sendo que, a primeira foi mais larga que a do final. Neste critério, cabe ressaltar que se tratava de um paciente do sexo masculino do biotipo longilíneo. Assim, nota-se que a figura feita posteriormente ao tratamento se aproximou mais do modelo normal, o que revela uma melhora da percepção corporal. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 55 FIGURA 06 - REPRESENTAÇÃO DO TESTE DE ASKEVOLD ANTES DEPOIS As figuras da última paciente, revelaram que esta tinha uma boa capacidade de percepção corporal antes do tratamento, considerando-se que sua primeira figura foi a que mais se assemelhou ao modelo normal, se comparada com as figuras finais feitas pelos outros pacientes. Na sua primeira figura observou-se uma pequena assimetria dos pontos das cinturas e dos fêmures, sendo que no lado direito a dificuldade de representar o ponto da cintura e do fêmur foi maior. Na última figura verificou-se um estreitamento dos pontos das cinturas se assemelhando mais com o modelo normal e uma diminuição da assimetria tanto entre os pontos das cinturas, como entres os dos fêmures observada na figura anterior. Desta forma, constata-se que houve uma melhora da percepção corporal. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 FIGURA 07 - REPRESENTAÇÃO DO TESTE DE ASKEVOLD ANTES DEPOIS 56 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 57 5 DISCUSSÃO Em uma análise descritiva destes resultados, observou-se em dois pacientes uma melhora na construção das figuras feitas posteriormente ao tratamento, que pode estar possivelmente relacionado com a melhora da percepção corporal através da prática do Iso-Stretching. Porém, um dos pacientes não conseguiu se aproximar ao modelo proposto por Askevold, ao contrário, se distanciou ainda mais depois do tratamento com as 10 sessões. A piora na construção da figura final feita pelo paciente número 1 não corresponde necessariamente a uma piora da percepção corporal, pois segundo OLIVIER (1995), uma alteração da imagem corporal pode ser justificada pela influência dos estados emocionais e dos conflitos psíquicos. Assim, torna-se difícil avaliar a percepção corporal do paciente somente com o teste de Askevold, pois as figuras construídas dependem do estado físico e emocional em que se encontra o paciente no momento da realização do teste. Em uma análise crítica deste trabalho, observou-se uma falha em utilizar apenas o teste de Askevold para avaliar a percepção. Pois, de acordo com KEETON et.al; (1990), várias revisões metodológicas concluíram que não existe ainda um método que proporcione a explicação exata da construção da imagem corporal. Assim, a maior crítica em se pesquisar a imagem corporal através dos métodos existentes, se refere à duvidosa suposição da unidimensionalidade da sua construção. Contudo, as figuras construídas pelos pacientes número 2 e 3 obtiveram uma aproximação ao modelo de Askevold, o que pode representar que estes adquiriram MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 58 uma melhora da percepção corporal com a prática do Iso-Stretching. Isto porque, segundo REDONDO (2001), esta técnica oferece aos praticantes a capacidade de visualizar, sentir e ativar partes do corpo, contribuindo assim, para uma melhora e atualização da imagem corporal. Além disso, o fortalecimento da musculatura profunda fornecido pelo Iso-Stretching reduz o enrijecimento, facilita o movimento, corrige a postura e desenvolve a tomada de consciência das posições corretas da coluna. Em um estudo de caso realizado na Universidade Estadual do Pará por ARNAUD e CORREA (2000), observou-se que através do trabalho feito com o IsoStretching o paciente apresentou um novo registro de sua imagem corporal, influenciando diretamente na sua auto estima, melhorando inclusive sua aparência física, tornando-o mais expansivo, fazendo com que ele demonstrasse maior interesse e motivação durante a realização das posturas. Neste mesmo estudo, observou-se também que, progressivamente, o paciente obtinha uma maior gestualidade, com o desenvolvimento de sua consciência corporal corretiva. Segundo REDONDO (2001), não existe atividade locomotora sem a harmonização da mobilidade da bacia e do diafragma, sem uma boa flexibilidade e tonicidade da coluna, que por sua vez promovem o autocrescimento e endireitamento do corpo, alcançados através da tomada de consciência corporal. O estudo de ARNAUD E CORREA (2000), conclui que, a instalação da sensação perceptiva, postural e cinestésica representada através da tomada de consciência corporal, foi adquirida pelo paciente só a partir da 17º sessão. FRANÇA (2000), realizou uma pesquisa na Universidade Tuiuti do Paraná utilizando a técnica do Iso-Stretching como tratamento para deformidades posturais, e como o MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 59 estudo acima, observou que os pacientes passaram a adquirir maior conscientização corporal e maior facilidade nas realizações dos exercícios a partir da vigésima sessão. Assim, constata-se que, para alcançar resultados mais positivos, este trabalho poderia ter avaliado a percepção corporal após um tempo superior a 10 sessões. Um grande impecilho para a realização do cronograma deste estudo, foi a dificuldade relatada pelos pacientes na realização do método, o que acabou levando-os ou a desistência do tratamento, ou a constantes faltas. Isto porque, segundo REDONDO (2001), o Iso-Stretching não é uma ginástica branda, e sua dificuldade reside no fato de criar suficientes contrações e tensões musculares, limitando os movimentos compensatórios. Assim, compreende-se que, os pacientes devem estar dispostos para a realização da técnica, pois esta exige o máximo da atenção do praticante e além de tudo devem ser adeptos ao método, caso contrário, as faltas surgirão e, de acordo com BIENFAIT (1995), as primeiras dez sessões devem ser realizadas de forma regular para que se possa estabelecer a manutenção dos ganhos, sejam posturais ou respiratórios. Portanto, sugere-se com a finalidade de que estudos semelhantes possam adquirir valores mais significativos: (1) que o trabalho em questão envolva uma amostra maior; (2) que o tempo de tratamento seja prolongado, ou seja superior às 10 sessões; e (3) que a avaliação da percepção corporal seja feita por mais de um método e que se possível com uma acompanhamento de um psicólogo para a interpretação dos distúrbios da imagem corporal. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 60 6 CONCLUSÃO Através dos resultados obtidos, concluiu-se que os objetivos propostos foram parcialmente alcançados. 1. Em relação ao primeiro objetivo, o qual era de verificar a eficácia da prática do Iso-Stretching com a melhora da percepção corporal, tendo como método de avaliação o teste de Askevold, demonstrou-se que de acordo com as figuras, nem todos os participantes tiveram uma melhora da percepção corporal. A paciente número 1 teve uma piora na construção da sua figura final, o que poderia revelar uma piora em sua percepção corporal. Porém, considerando a grande relação existente entre o psíquico e a pesquisa da imagem corporal, torna-se difícil analisar a melhora da percepção somente através do teste de Askevold, pois o resultado depende muito de como se encontra o estado físico e psicológico do paciente no momento do teste. No entanto, dois pacientes obtiveram na construção da figura final uma maior aproximação ao modelo normal proposto por Askevold, o que pode representar que os pacientes tiveram uma capacidade de autocorreção pelo desenvolvimento da conscientização da postura e de um maior conhecimento do próprio corpo. 2. O segundo objetivo deste estudo, que era demonstrar a relação entre as inúmeras patologias que acometem um indivíduo e os distúrbios da imagem corporal que estas provocam nos mesmos, não foi possível alcançá-lo, já que os três pacientes que concluíram o tratamento proposto tinham em comum o diagnóstico de encurtamento de cadeia posterior. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 61 REFERÊNCIAS ALTER, M. J. Ciência da Flexibilidade. 2ºed. Porto Alegre: Artmed, 1999. ASKEVOLD, F. Measuring body image. Psychoter. Psychosom. , v. 26, p. 71-7, 1975. ASSUNÇÃO, S. S. M. Dismorfia Muscular. Rev. Brasileira de Psiquiatria. Univ. de São Paulo. São Paulo, v.24, p.80-4, 2002. ARNAUD, A. de S. ; CORREA, A .F. O reequilíbrio postural através do método de Iso-Stretching. Belém, 2000. 190f. Monografia (Graduação em Fisioterapia) - Setor de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade do Estado do Pará. BEHAR, V. S. ; CORDÁS, T. A. Fome de Cão. 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Orientadora da Pesquisa: Keila Okuda Tavares Este é um estudo experimental, do tipo série de casos, que tem por objetivo verificar a eficiência da técnica do Iso-stretching na melhora da percepção corporal.O estudo será realizado através da aplicação do teste de Askevold antes e após o tratamento, que consistirá num total de 10 sessões, 2 vezes por semana, com duração de 50 minutos cada atendimento, realizados nas dependências da CliniFisio, pela fisioterapeuta Cristina Lunardeli, portadora do Crefito 12901-F Sua participação será muito importante para a realização desta pesquisa. Assinatura do pesquisador_________________________________ Tendo recebido as informações anteriores e, esclarecido dos meus direitos relacionados a seguir, declaro estar ciente do exposto e desejar participar da pesquisa. 1. A garantia de receber respostas a qualquer pergunta ou esclarecimentos a dúvidas sobre os procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados com a pesquisa; 2. A liberdade de retirar o consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo; 3. A segurança de não ser identificado (a) e que será mantido o caráter confidencial das informações relacionadas com a privacidade; Em seguida assino o consentimento. Cascavel,_____ de_______________de 2003. Nome:_____________________________ RG_________________ Assinatura:__________________________________________ MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 ANEXO 2- APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA 66 67 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 ANEXO 3 – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO 68 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Data inicial: Data final: Nome: Sexo: Data de nascimento/idade: Profissão: Endereço: Tel: Queixa Principal: Diagnóstico: Patologia Pregressa e/ou Associada: Hábitos de Vida: Tratamento Associado: 69 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 ANEXO 04 - REPRODUÇÃO DO MODELO NORMAL PROPOSTO POR ASKEVOLD 70 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 REPRODUÇÃO DO MODELO NORMAL PROPOSTO POR ASKEVOLD FONTE: ASKEVOLD, 1975. Measuring body image.