vitor mesquita 42 O espaço público é também local de reflexão URBE #1 CARTOGRAFIAS URBANAS A riqueza iconográfica urbana da con- mercadoria. Entra para a lógica do con- globais promovem uma revolução vi- mundo aquilo que nós mesmos teríamos temporaneidade e as novas conexões sumo. Por acaso, não descobrimos no sual talvez jamais experimentada em inserido nele?3 Encontramos nele aquilo toda a história da arte1. Nas principais que já trazemos em nós.4 metrópoles do mundo, não se discute e promove outra expressão que não Devaneio como método de olhar meio ambiente urbano. Com a comu- um repertório não necessariamente de a arte que flui, apropria e surge em nicação em rede, a configuração de O espectador contemporâneo tem hoje Quando vamos a um museu, es- espaço urbano deixa de obedecer à tamos direcionados. Há uma predisposi- recolher o que as metrópoles produ- espontaneamente evocados a refletir. cartografia tradicional e passamos a zem em demasia: imagens. Para que a informação se torne evidente é preciso apenas ler as coisas, 2 decifrá-las ção para o encontro com a arte. Somos Quando estamos no ambiente urbano, significa que estamos em um ambiente que em tese não excita a procura por arte. De repente, ocorre a via contrária: a arte é que nos encontra. O inusitado. Aquilo que está descolado do convencional é provo- cador. Pergunta! Quem se comunica por meio de uma interferência urbana provo- ca. Quer chamar a atenção para alguma mensagem. Temos, então, que decodificar. Afinal, o que quer dizer aquela imagem ou mensagem? Essa decodificação força a refletir! Talvez, o modo de a arte visual se inserir no contexto de provoca- cultura, mas de domínio de narrativas que permite a ele uma exploração de contornos de gestos envolvidos. Seja pelo volume de imagens, pelo esvazia- mento de conceitos que exigem maior aporte de conhecimento; o fato é que in- terpretar pressupõe contextualizar con- ceitos, tornar algo comum entre emissor e receptor, em que meio e código se engendram como faces da mesma moeda. No entanto, a ação não pode ter o caráter de prótese. Sua qualidade solicita um pensamento em superfície. É preciso ler procurando evitar o automatismo perceptivo porque toda a ação humana é ação de comunicação e exige uma nova imaginação. Talvez, exercitar as superfícies – tal qual Marcovaldo5 de Ítalo ção tenha um componente antropológi- Calvino – seja uma saída de emergência proporções. Desde Lascaux e Altamira, Mundo de duplicidades invertidas em co: a cidade é nossa caverna em meganos comunicamos pintando paredes. Antes da invenção da escrita, as imagens eram meios decisivos de comunicação. Tudo converge para a cidade e a partir dela tudo se multiplica. A cultura visual urbana sai da grande caverna e se torna para um novo modo de estar no mundo. que ocorre uma saturação cognitiva a ponto de distração. Parafraseando Adorno: “distrair-se é estar de acordo!” Podemos eliminar mentalmen- te as coisas, mas não o espaço que elas ocupam.6