vitor mesquita
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O espaço público
é também local de reflexão
URBE #1 CARTOGRAFIAS URBANAS
A riqueza iconográfica urbana da con-
mercadoria. Entra para a lógica do con-
globais promovem uma revolução vi-
mundo aquilo que nós mesmos teríamos
temporaneidade e as novas conexões
sumo. Por acaso, não descobrimos no
sual talvez jamais experimentada em
inserido nele?3 Encontramos nele aquilo
toda a história da arte1. Nas principais
que já trazemos em nós.4
metrópoles do mundo, não se discute
e promove outra expressão que não
Devaneio como método de olhar
meio ambiente urbano. Com a comu-
um repertório não necessariamente de
a arte que flui, apropria e surge em
nicação em rede, a configuração de
O espectador contemporâneo tem hoje
Quando vamos a um museu, es-
espaço urbano deixa de obedecer à
tamos direcionados. Há uma predisposi-
recolher o que as metrópoles produ-
espontaneamente evocados a refletir.
cartografia tradicional e passamos a
zem em demasia: imagens.
Para que
a informação
se torne evidente
é preciso apenas
ler as coisas,
2
decifrá-las
ção para o encontro com a arte. Somos
Quando estamos no ambiente urbano,
significa que estamos em um ambiente
que em tese não excita a procura por arte.
De repente, ocorre a via contrária: a arte é
que nos encontra. O inusitado. Aquilo que
está descolado do convencional é provo-
cador. Pergunta! Quem se comunica por
meio de uma interferência urbana provo-
ca. Quer chamar a atenção para alguma
mensagem. Temos, então, que decodificar. Afinal, o que quer dizer aquela imagem ou mensagem? Essa decodificação
força a refletir! Talvez, o modo de a arte
visual se inserir no contexto de provoca-
cultura, mas de domínio de narrativas
que permite a ele uma exploração de
contornos de gestos envolvidos. Seja
pelo volume de imagens, pelo esvazia-
mento de conceitos que exigem maior
aporte de conhecimento; o fato é que in-
terpretar pressupõe contextualizar con-
ceitos, tornar algo comum entre emissor
e receptor, em que meio e código se
engendram como faces da mesma moeda. No entanto, a ação não pode ter o
caráter de prótese. Sua qualidade solicita
um pensamento em superfície. É preciso ler procurando evitar o automatismo
perceptivo porque toda a ação humana
é ação de comunicação e exige uma
nova imaginação. Talvez, exercitar as superfícies – tal qual Marcovaldo5 de Ítalo
ção tenha um componente antropológi-
Calvino – seja uma saída de emergência
proporções. Desde Lascaux e Altamira,
Mundo de duplicidades invertidas em
co: a cidade é nossa caverna em meganos comunicamos pintando paredes.
Antes da invenção da escrita, as imagens
eram meios decisivos de comunicação.
Tudo converge para a cidade e a partir
dela tudo se multiplica. A cultura visual
urbana sai da grande caverna e se torna
para um novo modo de estar no mundo.
que ocorre uma saturação cognitiva a
ponto de distração. Parafraseando Adorno: “distrair-se é estar de acordo!”
Podemos eliminar mentalmen-
te as coisas, mas não o espaço que
elas ocupam.6
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