O DIÁRIO
oMOGI DAS CRUZES, DOMINGO, 30 DE DEZEMBRO DE 2007
CADERNO AI 5
-DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO
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CARTA A UM AMIGO
Resgate tardio de compromisso
Meu caro Dicler
Por vezes as melhores referências estão distantes e, por
isso mesmo, ignoradas. Como
a que recebi há alguns dias de
sua esposa Catarina. Disse ela
que, em seu último dia de hospital, um domingo, você lhe pediu
que lhe trouxesse O Diário para
"ler a página do Chico". Ela o
atendeu e lhe leu; o que lhe era
impossível fazer.
Tão logo ouvi isto passou-me
um filme. De pronto me lembrei
das vezes em que nos encontramos em sua casa da esquina da
Flaviano de Melo com a Tenente
Manoel Alves. Ou na minha da
Rua Isabel de Bragança. A bem
da verdade nunca fomos muito
próximos; nos encontrávamos
por conta de minha amizade
com seu primo Álvaro, com
quem compartilhei muitos momentos e uma temporada de
férias em um apartamento na
praia do Gonzaga, em Santos.
Também nosso último encontro, casual, em uma locadora de vídeo próximo ao Clube de
Campo. Você estava com Catarina e falamos por algum tempo
sobre as coisas de Mogi em nossa adolescência. Eram os anos
1960. Você me cobrou estas reminiscências. Resgato a dívida
agora, tarde para você. Mas sei
que Catarina saberá compreender e dar o devido perdão.
Aconteceu de tudo nos anos
60 em Mogi das Cruzes, município que tinha pouco mais de 100
mil habitantes, 70% dos quais
na zona urbana. Esta alteração
havida na relação entre moradores da área rural e da Cidade
decorreu, em grande parte, da
nas eleições de 1968, quando
Waldemar Costa Filho elegeu-se
prefeito pela primeira vez e deu
início a um período de hegemonia política que persistiu até sua
morte, em abril de 2001. Para
se eleger, além da campanha
de oposição que fez durante os
4 anos anteriores, Waldemar
Costa Filho aliou-se ao padre
Manoel Bezerra de Melo.
Padre Melo havia chegado à
cidade no diai° de março de 1962,
enviado como vigário coadjutor
do cônego Roque Pinto de Barros, então pároco da Catedral de
ANOS DOURADOS - Samira Caran Costa e Gilvan Santana. Padre Melo chegou no
Rudge eram estereótipo do que de melhor havia na mesmo ano em que foi criada a
Diocese de Mogi das Cruzes (no
juventude mogiana na década de 1960
dia 9 de junho de 1962) e da posse
1967 - Dicler Silva Granado, em mangas curtas,
ao lado de Irclo Bottini e Miguel Archanjo
de garantir atendimento a to- do seu primeiro bispo, dom Paulo
Gonçalves. Era então um adolescente, antes de se
das as reivindicações da Cidade. Rolim Loureiro (no dia 30 de deNo mesmo comício das chaves zembro de 1962).
formar e fazer carreira na Odontologia
- disse-se, depois, que Adhemar
A trajetória de Padre Melo
emancipação política obtida em nho, como era conhecido, não trocou a fechadura do Palácio pela Cidade foi meteórica: além
anos anteriores por regiões vizi- assumiu de pronto: candidato - o governador assinou o contra- das missas que rezava na Matriz
nhas, nas quais se concentrava a a deputado estadual, deixou o to para a construção da Rodovia de Santana, ele dava aulas no
maior parte da atividade agríco- cargo, por alguns meses, para Mogi-Bertioga. As obras não fo- Instituto de Educação Dr. Wala, como Suzano, Poá e Itaqua- o então presidente da Câmara, ram adiante. Também para jun- shington Luiz e montou, ainda
quecetuba. Ainda nos anos 60 vereador Osvaldo Ornelas. Em tar forças, Carlos Alberto firmou em 1962, um curso preparatório
ocorreu a última emancipação 1962 elegeu-se prefeito, nova- uma aliança com um candidato do ginásio, embrião do Ginásio
política do século: foi em 1964, mente, Carlos Alberto Lopes. Já a vice-prefeito, no tempo em que Diocesano que começaria a funquando Biritiba Mirim, em ple- era então um senhor de cerca de este cargo era disputado de forma cionar no ano seguinte. Já em
biscito, decidiu separar-se de 80 anos de idade que retornava independente. 0 nome do vice: 1964 ele conseguia autorização
para montar sua primeira esMogi.
ao cargo mais uma vez, 33 anos Waldemar Costa Filho.
A Cidade, influenciada pelos depois de ter, pela primeira
Elegeram-se os dois, to- cola superior, a Faculdade de
ares políticos do País após o sui- oportunidade, ocupado a mes- maram posse e ficaram pouco Filosofia, Ciências e Letras. Em
cídio de Getúlio Vargas e a elei- ma função em 1929.
tempo juntos. Enquanto Carlos 1966 seria instalada a segunda
ção de Juscelino Kubitschek,
A eleição de Carlos Alberto, Alberto, o prefeito, despachava faculdade da Cidade, a de Direitambém acabou por renovar em 1963, foi uma das mais dispu- no casarão da Rua José Bonifá- to, obtida pela Sociedade Civil
seus quadros nesses anos.
tadas do século. Para se eleger, cio, Waldemar, o vice, montava de Educação Braz Cubas.
No cenário político a década ele não mediu esforços e trouxe, gabinete na Rua Barão de JaceFoi também em 1966 que o
começou comum fato inusitado: em praça pública, o então gover- guai e ali desenvolvia uma ver- então presidente Castello Branco
aCâmaraMunicipaldecidiucas- nador Adhemar de Barros que dadeiro governo paralelo.
esteve na Cidade para inaugurar
sar o mandato do então prefeito lhe fez, simbolicamente, a enO rompimento das duas as instalações da Aços AnhanRodolpho Jungers, colocando trega das chaves do Palácio dos correntes políticas levou a um güera, em César de Souza Dois
em seu lugar o vice, Maurílio Campos Ehseos (então sede do, g\ps períodos de maior turbu- anos depois, no dia 26 de junho
de Souza Leite Filho. Maurili- governo paulista). Uma maneira lência na cidade, só encerrado de 1968, a Cidade comemorou
MOGI DE A A Z
Os que se foram. E nem lembraram de se despedir
"É uma pena que vocês vão
morrer". Quando o Tote disse
esta frase em um encontro da
Confraria de Santa Fé, todos
riram. Houve alguém ali que
ainda lembrou a divisão que um
conhecido pubhcitário brasileiro fazia da raça humana:
"Nós nos dividimos em três
classes: os pobres mortais, entre os quais nos incluímos; os
imortais, que se reúnem na Academia Brasileira de Letras e os
'imorríveis', gente que resiste
ao tempo e à morte". Nesta última classificação o publicitário
incluía nonagenários - ou quase - conhecidos brasileiros.
Pois a frase "é uma pena
que vocês vão morrer" é até
hoje como um slogan do grupo. Apesar de alguns já a terem
cumprido. Foram, todos, sem se
despedir.
Como João Mendes, um dos
primeiros que chegavam aos
encontros dos finais de tarde,
recusando o vinho e aceitando o
uísque ou a cerveja Ou Michel
Namura, abstêmio que só aceitava um ou dois copos de cerveja
e reclamava de tudo. Até dos pratos que ele próprio idealizava,
como hoteleiro que foi na maior
parte de sua vida Sorriso de Michel, discreto, apenas quando o
identificavam como o presidente
de um inexistente Sindicato dos
Proprietários de Hotéis, Restaurantes e Similares do Alto Tietê.
Qualificação que lhe foi confe-
a constituição da Cosim (Companhia Siderúrgica de Mogi das
Cruzes), estatal criada para assumir a antiga Mineração Geraldo
Brasil, empresa do grupo Jafet
que, em 1966, havia paralisado
suas atividades. Em 1967, O Diário de Mogi assumiu o controle
da Rádio Marabá, a mais antiga
emissora da Cidade. A esse tempo
tornaram-se comum os espetáculos ao ar livre promovidos por
umaloja de Mogi. Era a Livroeton
que, para alavancar suas vendas,
trazia nomes que então despontavam no cenário artístico do
País. Entre outros, cantaram na
marquise do prédio localizado
na esquina da Avenida Pinheiro
Franco com a Rua Dr. Deodato
Wertheimer: Roberto Carlos,
Ronnie Von, Martinha Elis Regina e Jair Rodrigues.
Como lhe disse de início, houve de tudo nos anos 60. Outros
acontecimentos: inauguração
do órgão da Catedral de Santana
(15.8.64); tombamento das igrejas do Carmo (1967); sagração
da Catedral de Santana (7.9.68);
comemoração do cinqüentenário da imigração japonesa
(1969); inauguração da Represa
de Ponte Nova em Salesópolis
(27.9.69); início da construção da
Mogi-Dutra (5.1.70); falência da
Companhia Mogiana de Tecidos
(1.4.70); paralisação das atividades da Pianos Schwartzmann
(8.4.70); inauguração do trecho
Suzano-Rio Grande da Serra do
anel ferroviário (23.7.70).
Pois é Dicler, resgato aqui
- tardiamente - o compromisso
assumido.
Chico
SER MOGIANO É....
é ter sido paciente do dr.
Osmar Marinho Couto.
O MELHOR DE MOGI
TURMA
REUNIDA A
Confraria de
Santa Fé em
foto de anos
atrás, com
os confrades
Netinho,
Zuzo, Tufy e
Ricardo ainda
presentes
O trem Alvorada. Esta
é para quem nasceu
pelo menos antes de
1965 e, ainda criança,
pode viajar entre São
Paulo e Mogi pelo trem
Alvorada. Rápido de
quatro vagões, com arcondicionado, um vagão
com bar e poltronas
reclináveis. Durou quase
10 anos, sumiu no início
da década de 70.
O PIOR DE MOGI
rida pelo Tordnho Anderi. Ainda também o inesquecível Nelo
Borato, que insistia: "Quando
eu morrer não quero ninguém
me carregando, vou sozinho e a
pé". E Netinho Salustiano, mais
recentemente. Também Ricardo
Strazzi e sua infalível garrafa de
vinho alemão - doce.
Foi-se também o David Espanhol. David - era apelido - veio
ter à confraria por indicação
de Tufy Anderi, outro que deixa
saudades. Era discreto, de pouco falar e muito ouvir. Chegou
mesmo a entabular alguns negócios em sociedade com confrades. Nenhum foi em frente.
Com ele, o Décio Quati. Participou de poucas reuniões, mas
marcou presença. E Zuzo Andere, sempre presente.
Que se ressalvem dois pontos nestas lembranças. Primeiro: o fato de se referir aqui às
predileções eülicas dos con-
frades não significa que todos
sejam irresponsáveis no consumo. Na verdade, o abuso, nesse
particular, é considerado internamente como falta grave e os
que, por ventura, não possam
sair dirigindo ao fim do encontro, dificilmente conseguirão se
manter na congregação.
Segundo, a visão que se tem
da morte: ela é alegre, sem lamentações e sem lembranças
permanentes. Quanto a isto,
a melhor definição interna foi
dada há algum tempo pelo Adalberto Ferreira, o Dagô, quando
lhe perguntaram se o João e o
Michel já haviam chegado, alguns meses após irem em definitivo. Respondeu Adalberto:
"Não; eles não vêm. Eu fiz
um DDC e me contaram que
não vai dar para sair."
DDC, no dicionário de Adalberto, é Discagem Direta ao Cemitério.
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o
o
Algumas ações
neurastênicas que
correm em Mogi das
Cruzes, como essa
que tenta inviabilizar o
Projeto Canarinhos do
Itapety. Uma melancia
no pescoço faria mais
efeito.
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30-12-2007 - Chico Ornellas