UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS SECRETARIA GERAL DE RECURSOS HUMANOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Motivação nas Secretarias de Coordenações de Curso do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da UFSCar São Carlos – SP 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS SECRETARIA GERAL DE RECURSOS HUMANOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Motivação nas Secretarias de Coordenações de Curso do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da UFSCar Aluno: Henrique Affonso de André Sobrinho Orientador: Prof. Dr. José Flávio Diniz Nantes Monografia do curso de Especialização em Gestão Pública apresentada à Secretaria de Recurso Humanos da Universidade Federal de São Carlos. São Carlos – SP 2010 Agradecimentos Agradeço, primeiramente, ao Grande Arquiteto do Universo que me dá a oportunidade de evoluir a cada dia. Ao meu orientador, Prof. José Flávio, pelo incentivo e pela aceitação em me orientar, e também pela forma que me orientou e me deu a oportunidade de aprender muito além daquilo que acreditava que poderia com este trabalho. Também, agradeço aos demais professores do Curso em Especialização em Gestão Pública. Agradeço meus pais Áurea e Gilberto, minha noiva Ana Maria, minhas irmãs e cunhados Mariana e Bruno e Laís e Caíque, e minha avó Ica e tia Solange, pela compreensão. À Empresa Júnior de Estatística, em nome das alunas Agatha Rodrigues e Gisele Watanabe, pela colaboração. A meus pares, servidores da UFSCar que se propuseram a fazer este curso, em especial aos que naturalmente formaram o grupo o qual tive o prazer de trabalhar junto: Fernando Amorim de Souza, José Cláudio Ferreira e Rogério Fortunato Júnior. Aos meus companheiros do Departamento de Estatística, Coordenação do Curso de Bacharelado em Estatística e Programa de Pós-Graduação em Estatística da Universidade Federal de São Carlos, em especial à Profa. Dra. Maria Sílvia de Assis Moura. Aos meus amigos Ivan Pereira de Souza e Douglas Henrique Perez Pino pela colaboração neste trabalho. Dedico este trabalho à saudosa memória de meus avôs Antônio Affonso de André e Álvaro Regiani, moldes do meu caráter. Nullas ex omnibus rebus, quae in protestate mea non sunt, pluri facio, quam cum Viris veritatem sincere amantibus foedus inire amicitiae. Baruch de Spinoza Resumo Esta monografia visa identificar o grau de motivação dos servidores lotados em coordenações de Cursos de Graduação do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos como uma amostra dos trabalhadores de todos os Centros da Universidade. Os resultados foram analisados de forma quantitativa e qualitativa à luz das principais teorias sobre a motivação. A partir dessa identificação propõe soluções a resultados negativos a fim de melhorar o quadro de motivação da UFSCar. Abstract This paper aims to analyze the motivation for the work of the employees in the courses coordenations in the Center of Science and Tecnology of Federal University of São Carlos, as a sample of the workers of all it’s centers. The results were analyzed quantitatively and qualitatively from the main theories on motivation.From this identification proposes solutions to negative outcomes in order to improve the motivation of UFSCar. Lista de Figuras Fig. Legenda Pag. 1 Hierarquia das Necessidades de Maslow 26 2 Pirâmide da teoria ERG 31 3 Pirâmide da teoria ERG em paralelo à Pirâmide da Teoria das Necessidades de Maslow 32 4 Box Plot do tempo de serviço prestado na UFSCar 53 5 Distribuição dos sexos 54 Lista de Tabelas T. Legenda Pag. 1 Tempo de trabalho dos entrevistados na UFSCar 53 2 Medidas descritivas do tempo de serviço na coordenação do curso 54 3 Análise descritiva das respostas dadas à pergunta 3.2 do Questionário 56 4 Média e porcentagem da aprovação dos fatores 56 5 Análise descritiva das respostas dadas à questão 3.3 do questionário 57 6 Média e porcentagem de aprovação dos fatores da Teoria das necessidades de McClelland 58 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11 2. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 12 2.1 Objetivo Geral.............................................................................................................. 12 2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 12 3. JUSTIFICATIVAS ................................................................................................................. 13 4. METODOLOGIA ................................................................................................................... 15 5. RECURSOS HUMANOS E GESTÃO DE PESSOAS ....................................................... 17 5.1 Enfoque sistêmico e Contexto da área de RH ............................................................. 18 5.2 A administração dos Recursos Humanos..................................................................... 20 6. MOTIVAÇÃO ......................................................................................................................... 22 6.1 Teorias Clássicas sobre Motivação............................................................................... 25 6.1.1 Teoria das necessidades ........................................................................................ 25 6.1.2 Teoria X e Teoria Y .................................................................................................. 27 6.1.3 A teoria de campo .................................................................................................... 28 6.1.4 A teoria dos dois fatores.......................................................................................... 29 6.2 Teorias Contemporâneas sobre Motivação.................................................................. 30 6.2.1 Teoria ERG............................................................................................................... 30 6.2.2 Teoria das Necessidades de McClelland .............................................................. 32 6.2.3 A Teoria da Expectativa .......................................................................................... 34 7. RESULTADOS ...................................................................................................................... 37 7.1 Coordenações de Cursos .............................................................................................. 37 7.1.1 Secretário da Coordenação .................................................................................... 38 7.2. Resultados qualitativos ................................................................................................. 40 7.2.1. Secretaria A ............................................................................................................. 41 7.2.2. Secretaria B ............................................................................................................. 42 7.2.3. Secretaria C............................................................................................................. 43 7.2.4. Secretaria D............................................................................................................. 44 7.2.5. Secretaria E ............................................................................................................. 45 7.2.6. Secretaria F ............................................................................................................. 46 7.2.7. Secretaria G ............................................................................................................ 47 7.2.8. Secretaria H............................................................................................................. 49 7.2.9. Secretaria I .............................................................................................................. 51 7.3. Resultados Quantitativos .............................................................................................. 52 7.3.1. Caracterização dos servidores .............................................................................. 53 7.3.2. Caracterização da motivação dos servidores ...................................................... 55 7.3.2.1. Fatores que motivam a trabalhar ....................................................................... 55 7.3.2.2. Fatores para motivação no trabalho .................................................................. 57 8. CONCLUSÃO........................................................................................................................ 59 Referências................................................................................................................................ 62 APÊNDICE 1 ......................................................................................................................... 63 1. INTRODUÇÃO Segundo Chiavenato (2009), é difícil compreender o comportamento das pessoas sem um mínimo do conhecimento, da motivação de seu comportamento, e é difícil definir o conceito de motivação, dado que por este é utilizado com diferentes sentidos. De forma geral, motivação é tudo aquilo que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma ou aquilo que dá origem a uma propensão a um comportamento específico, podendo este impulso à ação ser provocado por um estímulo externo (provindo do ambiente) ou também ser gerado internamente nos processos mentais do indivíduo. Robbins (2002) define motivação como o processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma pessoa para o alcance de determinada meta. Sendo a motivação um dos fatores internos que influenciam no comportamento das pessoas, e que é diretamente influenciado por fatores externos – como ambiente, recompensas e punições, características organizacionais, etc. – e não havendo literatura ampla específica sobre a motivação em ambientes do serviço público, se faz necessário que pesquisas nesta área sejam mais frequentes. A idealização e execução de políticas de recursos humanos no setor público deve passar por uma análise séria e ampla sobre a motivação, sob pena de deixá-la à mercê de mudanças de comando em quaisquer dos níveis. Pesquisar sobre a motivação dos servidores públicos e dar caminhos para melhorias neste aspecto pode levar a uma maior eficiência do serviço público. 11 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral O objetivo geral desta monografia é estudar a motivação dos funcionários lotados em secretarias de coordenação de Cursos de Graduação do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos, como uma amostra da motivação de toda a UFSCar. 2.2. Objetivos Específicos Esta monografia, portanto, tem como objetivos específicos: a) identificar o grau de motivação dos servidores pesquisados em relação às atividades de trabalho, tanto qualitativamente como quantitativamente. b) a partir dessa identificação e eventuais indícios do que pode estar ocorrendo, propor algumas soluções a resultados negativos a fim de melhorar o quadro de motivação da UFSCar. Esse objetivo pode levar à publicidade das sugestões e críticas dos servidores entrevistados, a fim de demonstrar quais são os problemas que estes identificam quanto à motivação em seus locais de trabalho. 12 3. JUSTIFICATIVAS Este trabalho foi motivado pelos diversos temas estudados durante o curso de especialização em Gestão Pública - objeto desta monografia -, no que se refere à gestão de pessoas, gestão do conhecimento, motivação e comprometimento dos servidores com o seu trabalho e com a Instituição. Embora o tema apresente grande relevância, percebe-se que ainda não existe uma literatura ampla sobre tais conceitos, no que se refere ao serviço público e em particular aos servidores de universidades públicas. A motivação é fundamental para qualquer atividade, pessoal ou profissional. Um funcionário motivado produz mais e melhor. Os benefícios se refletem em todos os envolvidos na atividade de trabalho. Em uma Instituição pública é relativamente frequente a desmotivação. Muitos funcionários se queixam de uma quebra na expectativa após ingressarem no trabalho, esperavam mais do que efetivamente estão recebendo. Essa desmotivação não está relacionada necessariamente as questões salariais e benefícios recebidos, muitas vezes o problema reside no tipo de atividade de trabalho. O funcionário está preparado para realizar tarefas que exigem maior grau de formação, mas a tarefa a ele destinada é simples demais para a sua formação. Segundo Chiavenato (2009), as pessoas são diferentes quanto à motivação. As necessidades variam de indivíduo para indivíduo, produzindo diferentes padrões de comportamento. Imagine-se isso, portanto, em uma instituição onde os departamentos administrativos são em geral enxutos e muitas vezes são compostos por uma única pessoa, como é o caso das secretarias de coordenação de curso, objeto de estudo deste trabalho. Cada secretaria acaba por refletir os comportamentos pessoais daqueles que nela trabalham. O estudo da motivação que buscamos nesta monografia se justifica porque a valorização dos servidores públicos tornou-se uma necessidade após a reforma gerencial do Estado Brasileiro, iniciada em 1995 (BRESSER-PEREIRA, 1997). 13 Ressalta-se que dar a esse tipo de servidor, condições de trabalho, atualização profissional e acadêmica significaria fomentar a sua eficiência, sua capacidade de empreendimento e conscientizá-lo de sua importância à sociedade, no que se refere aos valores profissionais, éticos e morais. A reforma gerencial do estado passaria, portanto, por sua base, sobre às relações diretas entre população e governo, por meio de seus órgãos, sendo os servidores o “front-office” desta relação. 14 4. METODOLOGIA Para atender aos objetivos propostos, foi utilizada uma abordagem qualitativa, desenvolvida por meio de um estudo de caso na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), uma Instituição Federal, Pública de Ensino Superior. Este método foi escolhido em razão das características e especificidades da pesquisa. Inicialmente, foi realizada uma revisão da literatura, com a finalidade de identificar os principais conceitos relacionados aos recursos humanos, motivação organizacional e a aplicação destes conceitos ao serviço público federal. Em seguida, foi elaborado um questionário, que se encontra no Apêndice do trabalho, e aplicado aos servidores técnico-administrativos lotados em coordenações de cursos de graduação da UFSCar, mais especificamente no Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET). O objetivo era medir como estes se sentem motivados e comprometidos com a instituição. Foram apresentadas questões a fim de medir o grau de motivação dos entrevistados de acordo com três abordagens diferentes: Teoria ERG, a Teoria das Necessidades de McClelland e a Teoria da Expectativa. Também, após a tabulação dos resultados foi realizada uma análise estatística dos dados coletados, interpretando-os à luz dos conceitos discutidos e encarados como o referencial teórico desta pesquisa. Para tal, foi utilizado o método de análise descritiva. Foram escolhidos especificamente os servidores técnico-administrativos de coordenações de curso da UFSCar por motivos específicos, a seguir descritos: os cursos de graduação caracterizam a primordial atividade-fim da universidade - o ensino de graduação. Além disso, tal segmento pode ser encarado como contato direto entre os alunos de graduação e a estrutura administrativa universitária. Por tal, concebemos que analisar este nicho em específico dentro do universo dos servidores da UFSCar pode dar indicativos a respeito de um panorama geral da 15 motivação dos funcionários da instituição, podendo até sinalizar a estudos posteriores em relação a outros segmentos funcionais. Foram entrevistados nove servidores da UFSCar que trabalham em secretarias de coordenações de cursos de graduação do CCET, abarcando cursos de bacharelado, licenciatura e engenharia (que são de bacharelado, mas para uma melhor compreensão, foram separados). Foram entrevistados os servidores das secretarias dos cursos de Engenharia Química, Engenharia de Produção, Química Licenciatura e Bacharelado Diurno, Química Licenciatura e Bacharelado e Noturno, Engenharia Civil, Engenharia de Computação, Ciência da Computação, Matemática, Engenharia de Materiais, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica. A discrepância entre o número de cursos e o número de funcionários se deve ao fato de que algumas secretarias atendem a dois cursos (casos de Engenharia de Computação e Ciência da Computação, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica e, por fim, Química Licenciatura Noturno e Química Bacharelado Diurno. As secretarias não serão discriminadas a fim de preservar o anonimato dos servidores, porém serão caracterizadas com o intuito que se entenda o ambiente e as condições de trabalho dos mesmos. A análise dos resultados foi baseada nas teorias de motivação organizacional, tanto as clássicas como a Teoria das Necessidades de Maslow, Teoria X e Teoria Y, Teoria de Campo, Teoria dos Dois Fatores. As principais teorias contemporâneas sobre o assunto utilizadas nesta monografia são a Teoria ERG, a Teoria das Necessidades de McClelland e a Teoria da Expectativa. 16 5. RECURSOS HUMANOS E GESTÃO DE PESSOAS A expressão "recursos humanos" (RH) se refere ao conjunto de pessoas que desempenham papéis nas organizações a fim de dinamizar os recursos organizacionais. Ou seja, ela refere-se, radicalmente, apenas às pessoas de uma organização. Porém, com o tempo, o termo passou a ser utilizado também para se referir ao departamento que se ocupa nas organizações em cuidar dos recursos humanos como também do conjunto de teorias que se ocupam em estudar os recursos humanos. De qualquer forma, quanto à acepção original, Chiavenato (2009, p. 2) afirma que "a expressão recursos humanos refere-se às pessoas que participam das organizações e que nelas desempenham determinados papéis no sentido de dinamizar os recursos organizacionais". Porém, para o referido autor, a expressão é reducionista, pois limita as pessoas como apenas recursos de uma organização. Para ele, as pessoas deixaram de ser meros recursos para se tornarem "parceiros capazes de proporcionar a vida e o sucesso profissional". A origem do conceito de recursos humanos deu-se no início do século XX, após o impacto da Revolução Industrial, com a denominação Relações Industriais, como sendo a mediação entre as indústrias e as pessoas que nela trabalhavam, a fim de reduzir os conflitos internos entre os objetivos da organização e os objetivos individuais dos trabalhadores, que, até então, se consideravam incompatíveis. Na década de 1950, o termo se transformou em Administração de Pessoal, pois não mais se limitava na mediação de conflitos, mas também atuava na administração das pessoas de acordo com as legislações trabalhistas. Uma década depois, o conceito necessitou uma nova ampliação. Além das atribuições anteriores, com o crescimento dos objetivos das organizações, as pessoas passaram a ser consideradas como recursos imprescindíveis no desenvolvimento e sucesso organizacional. Com isso, na década de 1970 nasceu o conceito de Recursos Humanos, ainda que com a mesma limitação de ver as pessoas como 17 meros recursos, agentes passivos e com atividades planejadas e controladas a partir dos objetivos da organização (CHIAVENATO, 2009). Atualmente, as novas características do mercado como a globalização da economia, a forte competitividade no mundo dos negócios, as mudanças imprevisíveis e o dinamismo do ambiente, fazem com que as organizações não mais administrem recursos humanos ou pessoas, mas administrem com as pessoas, não mais tratando-as como agentes passivos, mas sim como ativos, dotados de inteligência e capacidades. Por tal, é mais adequado usar o termo "Gestão de Pessoas", nesta nova realidade. Nesse novo conceito, três aspectos são fundamentais. O primeiro é de que as pessoas são diferentes entre si, e possuem habilidades, conhecimentos e capacidades distintos, indispensáveis à gestão dos recursos da organização. Essas diferenças devem ser ressaltadas e não suprimidas, voltando ao erro limitante do enfoque primeiro dos recursos humanos. O segundo é que as pessoas são os elementos vivos que impulsionam uma organização, que elas é que podem dotá-la de inteligência e talento, através do dom intrínseco de desenvolvimento pessoal. As pessoas, portanto, são impulsionadoras, e não impulsionadas. Por fim, é indispensável se estabelecer que as pessoas são parceiras da organização, e que são os únicos que podem levá-la ao sucesso. Encaradas como parceiras, em vez de apenas cumprirem o seu papel pré-estabelecido, elas investem na corporação através de esforço, dedicação, responsabilidades e comprometimento, a fim de obterem, com isso, retornos como melhores salários, crescimento profissional, promoção, etc. À medida que o retorno se mostra alto, a tendência é que se façam maiores investimentos. 5.1 Enfoque sistêmico e Contexto da área de RH Uma forma de facilitar o estudo das noções de recursos humanos e gestão de pessoas, segundo Chiavenatto (2009) é estruturar as organizações e pessoas 18 como sistemas abertos de interação contínua entre si. Este conceito, advindo da biologia, se dá pelo estudo dos seres vivos e de sua adaptabilidade e dependência aos ambientes aos quais estão inseridos. Tal conceito pode ser utilizado pela psicologia e ciências sociais puras e aplicadas. Isso leva a um entendimento mais abrangente de se compreender as organizações e seus recursos. Esse enfoque sistêmico dos recursos humanos pode ser separado em três diferentes níveis: a) o nível do comportamento social, que visualiza o caráter de sociedade das organizações e suas interações, levando à caracterização dessas relações como uma sociedade. Este nível pode ser encarado como o ambiente o qual a organização está inserida; b) o nível do comportamento organizacional, que encara a organização como um sistema em sua totalidade, dentro da qual seus componentes interagem entre si e o ambiente que estão inseridos. Este nível caracteriza-se como a categoria ambiental do comportamento individual; c) o nível do comportamento individual, que sintetiza conceitos como comportamento, motivação, e aprendizagem, entre outros, que levam a uma melhor compreensão da natureza humana, retratando o comportamento das pessoas e grupos inseridos numa organização. Diante deste panorama sistêmico, cujos níveis podem se sobrepor, a visualização da organização se dá de forma mais ampla e dinâmica. Para o autor, o contexto da área de Recursos Humanos é dinâmico e mutável, e por tal, complexo. Existe uma enorme variedade de formas com que as organizações se vinculam a fim de desempenhar suas tarefas. Enquanto algumas se utilizam de 19 conceitos modernos e tratam as pessoas de uma forma democrática e aberta, ainda existem organizações que adotam estratégias retrógradas e ultrapassadas. Uma segunda característica é a mudança. Várias mudanças de grande monta em vários aspectos estão acontecendo: sociedade, economia, tecnologia, cultura, legislação, entre outras. Com a velocidade destas mudanças cada vez maior, a organização que não se prepara para esta mudança acaba ficando para trás. 5.2 A administração dos Recursos Humanos Os recursos humanos se dividem nos níveis hierárquicos da organização: institucional (diretoria), intermediário (gerência e assessoria) e operacional (supervisores, técnicos e operários). São o único recurso vivo, dinâmico e individuais, que decidem e manipulam os outros elementos, de acordo com suas habilidades, conhecimentos, comportamentos e percepções. A administração de recursos humanos (ARH), segundo Chiavenatto (2009) é uma área relativamente nova, que pode se encaixar em qualquer tipo de organização. É uma área que abarca vários campos do conhecimento humano: Psicologia Industrial e Organizacional, Sociologia Organizacional, Engenharia Industrial, Direito Trabalhista, Engenharia de Segurança, Medicina do Trabalho, entre várias outras. Tem atuação tanto no ambiente interno da empresa como no externo. Trabalha, internamente, com a análise e descrição dos cargos e suas avaliações de desempenho, treinamento, planos de carreira e de benefícios sociais, política salarial da organização, higiene, segurança, etc. Já externamente, desempenha papel na pesquisa do mercado de trabalho, recrutamento e seleção de novos funcionários, relaciona-se com os sindicatos, com advogados, etc. 20 A aplicação a ARH é ligada às necessidades de cada corporação, ou seja: ela é contingencial. Sua atuação depende da política da empresa em relação a diversos assuntos, do ambiente ao qual está inserida, entre vários outros fatores. Isso tudo nos mostra que não existem regras e técnicas rígidas para a ARH. As diretrizes de atuação em uma organização podem não ser eficientes em outra. Por tal, até mesmo o lugar em que o departamento que se ocupa da ARH pode variar de lugar entre as organizações, ser centralizada em relações a várias unidades ou dispersa. Pode ter caráter decisório ou de assessoria das diretorias. Os objetivos da ARH têm de estar, de qualquer forma, fora de si mesma. Não é uma área por si só, independente, mas com influência em toda a organização, dado que administra o único recurso vivo. Por isso, suas funções de planejar, organizar, motivar, desenvolver e coordenar estes recursos vão desde a diretoria até o nível operacional. A ARH não lida com recursos fins, mas sim com meios, e estes estão em todos os níveis organizacionais e não são homogêneos, pelo contrário, são os mais diversos possíveis. Tal complexidade torna a ARH um elemento de importância fundamental no desenvolvimento de qualquer corporação. 21 6. MOTIVAÇÃO O conceito de motivação organizacional está diretamente ligado à área de recursos humanos. Através das teorias relacionadas à motivação no trabalho é que as empresas medem e interferem na forma com que os trabalhadores encaram suas ocupações, suas recompensas, o relacionamento entre seus pares e os diversos níveis hierárquicos. Motivação pode ser definida como aquilo que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma ou aquilo que dá origem a uma propensão a um comportamento específico, podendo este impulso à ação ser provocado por um estímulo externo (provindo do ambiente) ou também ser gerado internamente nos processos mentais do indivíduo (CHIAVENATO, 2009). Para Robbins, motivação se define como “o processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma pessoa para o alcance de determinada meta” (ROBBINS, 2002, p. 151). A motivação pode ser relacionada a qualquer objetivo. Porém, como o assunto que tratamos é a motivação dentro de um ambiente organizacional, vamos tratar especificamente da motivação organizacional, como foco especificamente no trabalho. Outro conceito plausível de motivação é “o resultado da interação do indivíduo com a situação” (ROBBINS, 2002, p. 151), do que se pressupõe que a motivação é variável em relação aos indivíduos e às situações, sendo impossível se medir a motivação como um aspecto isolado, tanto pessoalmente quanto em relação a uma situação específica. Para o autor, os três elementos-chave de sua definição para motivação são: intensidade, direção e persistência. Intensidade sendo a quantidade de esforço empregado num determinado objetivo, sendo este o aspecto mais levado em conta quando se fala em motivação. Porém, ele isolado não é capaz de levar ao resultado desejado. Para isso, é necessário que esta motivação tenha uma 22 direção que conduza a intensidade empregada aos objetivos da organização, levando à coerência das ações empregadas. E esta intensidade e direção têm de ter a persistência, ou seja, a capacidade de uma pessoa manter o seu esforço pelo tempo necessário à execução da tarefa. Dentro das organizações, a motivação tem caráter preponderante, e influi diretamente em aspectos primordiais da administração. Segundo Lovelock e Wright (2001), a motivação no trabalho é um conceito difícil de se estudar e definir, mas que o objetivo principal da pesquisa sobre motivação não é o de estudar como os funcionários agem da forma que agem, mas aprender como motivá-los a desempenhar suas funções e atividades atribuídas pela organização à qual estão vinculados. Coerentemente com esta ideia, o desempenho do trabalho muitas vezes tem sido utilizado como um substituto para a motivação do trabalho, ignorando outros fatores determinantes do desempenho do funcionário (por exemplo, habilidade ou tarefa de compreensão) e ambientais (por exemplo, restrições situacionais ou exigências de tarefas). Além disso, há de se ressaltar que ainda que as políticas de medição e interferência na motivação dos trabalhadores esbarram numa das principais condições de existência do ser humano: a individualidade. "As pessoas são diferentes no que tange à motivação: as necessidades variam de indivíduo para indivíduo produzindo diferentes padrões de comportamento. Os valores sociais também são diferentes; as capacidades para atingir os objetivos são igualmente diferentes; e assim por diante. Para complicar ainda mais, as necessidades, os valores sociais e as capacidades variam no mesmo indivíduo conforme o tempo. Apesar de todas estas diferenças, o processo que dinamiza o comportamento é mais ou menos semelhante para todas as pessoas. Em outras palavras, embora os padrões de comportamento variem, o processo do qual eles resultam é, basicamente, o mesmo para todas as pessoas" (CHIAVENATO, 2009, p. 51). Para o autor, existem três premissas que explicam o comportamento 23 humano. A primeira é que o comportamento é causado por estímulos internos e externos, ou seja, o comportamento possui uma causalidade, e tanto fatores hereditários como ambientais nele influem. A segunda é que existe uma motivação para o comportamento, ou seja, para todo ele existe uma finalidade. Ele nunca é aleatório ou casual, mas é sempre orientado a algum objetivo. E, por fim, o comportamento é orientado para os objetivos, pois nele existe sempre um impulso, desejo, necessidade, tendência e expressões que definem os seus objetivos. Segundo Glasser (1994), grande parte dos fracassos organizacionais não são devidos à falta de conhecimento técnico, mas sim à falta de capacidade destas organizações em lidar com as pessoas que nelas trabalham. O grande desafio das organizações é, portanto, atrair as pessoas para si dando condições para que elas permaneçam, desempenhando com eficácia suas atividades e sendo utilizados os seus potenciais de produção e criação. Outro erro das organizações é considerar que motivação é algo genérico e invariável a todas as pessoas, como se fosse uma qualidade permanente e distribuída de forma homogênea. A motivação ou a falta dela não estão ligadas a situações específicas, e a motivação pode variar de pessoa para pessoa e de situação para situação. Não existe fórmula, tampouco conceito que defina exatamente a motivação. Vários psicólogos organizacionais se preocuparam com estratégias de planejar as atividades identificando que isso se tornou um forte fator na determinação da motivação e da satisfação dos funcionários no desempenho de suas funções. Segundo Argyris (1975), não deve ocorrer a eliminação de especialização de tarefas, que são de grande valia para a assistência das organizações. Para ele, é importante que o funcionário obtenha êxito psicológico em seu trabalho, e a preocupação das organizações deve ser encontrar soluções para estes problemas. Para que o funcionário obtenha este êxito psicológico existem algumas pré disposições: responsabilidade e autocontrole; compromisso com uma 24 profissão gratificante; utilizar todas as aptidões mais importantes para o trabalho. Já Gellerman (1976) enfatiza três fatores que podem promover em um funcionário maduro a frustração e também impedem que um funcionário imaturo consiga evoluir em seu trabalho: a estrutura da organização informal; a liderança impositiva; os controles administrativos. Geralmente, a frustração advém da concentração de poder, o que contribui para que se ofusque ou anule a iniciativa dos colaboradores da organização, levando a um comportamento de submissão e obediência. A liderança impositiva, ou seja, as decisões serem tomadas por um superior, sem haver oportunidade de opinião. Isso leva à perda da iniciativa e da capacidade criativa. Porém, tais reações podem ser as mais diversificadas de acordo com cada funcionário. Existem algumas teorias motivacionais clássicas, das quais derivam as teorias contemporâneas e em vigência na atual pesquisa do assunto. Faremos um panorama dessas teorias sobre a motivação, explicitando eventuais convergências e divergências entre si. A partir destas teorias se analisará o objeto de estudo deste trabalho. 6.1. Teorias Clássicas sobre Motivação Estas teorias, ainda que possam parecer ultrapassadas, podem ainda fornecer subsídios acerca de como se explica o comportamento humano em relação a seus trabalhos, suas expectativas, noções de esforço e desempenho, o que caracteriza como dimensões da motivação. 6.1.1. Teoria das necessidades A Teoria das Necessidades de Abraham Maslow (1966) é a mais conhecida das teorias sobre motivação humana. O ser humano se motiva, segundo o referido autor, em uma escala de cinco campos de necessidades 25 básicas que obedecem a uma hierarquia, mas que não são necessariamente sucessivas (Figura 1). Maslow (1966) didaticamente organizou esta hierarquia em uma pirâmide, que ilustra como estão organizadas, em ordem, as necessidades, que vão do instinto básico de sobrevivência – na base da pirâmide - à satisfação pessoal. Como já dito, elas não são sucessivas e necessidades de um campo podem ser satisfeitas antes de outro inferior. As necessidades são, neste sentido: fisiológicas, de segurança, sociais, estima e auto-realização. Realização Pessoal Estima Relacionamento Segurança Necessidades Fisiológicas Figura 1 Hierarquia das Necessidades de Maslow. Fonte: Maslow,1966 As necessidades fisiológicas referem-se àquelas relacionadas ao instinto de sobrevivência: alimentação, abrigo, vestuário, repouso e necessidades fisiológicas e de reprodução, entre outros identificáveis. Em um nível acima, encontra-se a Segurança, sendo aspectos dela a segurança física, emocional, dos recursos, da 26 propriedade e da família, entre outros. Além disso, as necessidades de aspecto social ou de relacionamento, ligadas à família, aceitação em grupos sociais, relações de amizade, intimidade sexual. Segue-se a hierarquia com o nível da estima, que abarca a autoestima, a autonomia, o respeito alheio sobre si, a confiança em si, basicamente. E, por fim, a realização pessoal, que engloba o crescimento, o auto-desenvolvimento, a aceitação da realidade, a vaidade, o alcance do próprio potencial. À medida que as necessidades são atendidas, a posterior torna-se dominante, categorizando-as em mais baixas (fisiológicas e segurança) e altas (realização pessoal), de acordo com a Figura 1. Esta nivelação pressupõe que as de nível alto são satisfeitas internamente, ou seja, a realização depende de aspectos pessoais, enquanto que as de níveis baixos são satisfeitas por aspectos externos. Apesar da ampla aceitação, a Teoria das Necessidades, o que pode ser explicado pela lógica intuitiva e facilidade de compreensão, as pesquisas que buscam uma comprovação empírica para ela não o conseguem fazer, não atingindo a um embasamento científico (ROBBINS, 2002, p. 153). O que se encontrou foi que as necessidades atendidas não necessariamente levam à posterior automaticamente. 6.1.2. Teoria X e Teoria Y Para McGregor (apud Robbins, 2002) existem duas visões distintas do ser humano. Uma negativa, a qual chamou de Teoria X e uma positiva, conhecida como Teoria Y. Ele observou que para os executivos, ao tratarem seus funcionários, têm a visão que os seres humanos têm em sua natureza agrupamentos de premissas, e que eles tendem a moldar seu comportamento em relação aos funcionários de acordo com estas premissas. As quatro premissas da Teoria X são: a) os funcionários naturalmente não 27 gostam do trabalho, e sempre que possível o evitarão; b) por não gostarem de trabalhar, terão de ser coagidos para tal, através de metas que se não atingidas acarretem punições; c) os trabalhadores sempre buscam orientação formal, a fim de evitarem responsabilidades; e d) a maioria coloca a segurança como o principal aspecto relacionado ao trabalho e demonstra pouca ambição. Já as premissas positivas, que constituem a Teoria Y, são: a) os funcionários podem considerar que o trabalho é tão natural como o lazer ou o repouso; b) as pessoas quando comprometidas apresentarão autocontrole e autoorientação; c) as pessoas podem aprender a aceitar, ou até buscar, a responsabilidade; e d) a capacidade de tomar decisões não são privilégio de cargos mais altos, elas são inerentes a qualquer pessoa. As teorias de McGregor entram em consonância com a teoria de Maslow. Isso por que infere-se que na Teoria X as necessidades de baixo nível dominam o indivíduo, e na Teoria Y são as de alto-nível que os dominam (ROBBINS, 2002). Porém, assim como a Teoria de Maslow, não existe comprovação científica que a valide, porém, são instrumentos úteis para o entendimento de comportamentos organizacionais. 6.1.3. A teoria de campo Para Lewin (apud Robbins, 2002) a motivação humana se baseia em duas suposições básicas: que o comportamento é derivado da totalidade dos fatos existentes; e que esses fatos constituem um campo dinâmico, no qual as partes deste campo se relacionam entre si e as relações dependem umas das outras. De tal forma, o comportamento individual é fruto das interações entre as partes deste campo, que são, na prática, constituídas pelo espaço de vida que contém a pessoa com seu ambiente psicológico O comportamento humano, portanto, depende das três dimensões temporais (passado, futuro, e principalmente o presente). Lewin foi pioneiro na 28 instituição do termo “ambiente psicológico” ou “ambiente comportamental” a fim de nomear o ambiente onde o indivíduo se insere e onde se dão suas necessidades. 6.1.4. A teoria dos dois fatores Esta teoria, publicada em 1959 por Frederick Herzberg, foi desenvolvida a partir de pesquisas sobre a relação entre a produtividade e a moral, questionavam os aspectos agradáveis e desagradáveis do trabalho. Para formulá-la, Herzberg pediu para que pessoas descrevessem detalhadamente situações nas quais se sentiram excepcionalmente bem ou mal em seus trabalhos, e as respostas foram tabuladas e categorizadas (ROBBINS, 2002). Segundo essa teoria, os aspectos que levavam à satisfação no trabalho advinham dos conteúdos do trabalho (chamados de aspectos motivacionais, ou intrínsecos), que consistem nos aspectos da função em si, nas tarefas realizadas. Já as condições ambientais, hierárquicas, garantias sociais e políticas da empresa constituem os ditos fatores higiênicos, ou extrínsecos. Se estes são ótimos, garante-se que os trabalhadores se deixem motivar apenas pelos aspectos motivacionais ou intrínsecos. Caso estejam precários, levam à insatisfação, e, em consequência, à desmotivação. Para Herzberg, o oposto da satisfação não é a insatisfação. Eliminar do ambiente os motivos da insatisfação não acarretam em um trabalho satisfatório. O que ele acredita é que existe um continuum em que os opostos são satisfação e não-satisfação e insatisfação e não-insatisfação. Ou seja: ao eliminar os motivos de insatisfação, o que pode ocorrer é a não-insatisfação do funcionário, sem que isso leve à satisfação, e por consequência, nada influenciaria em sua motivação. Para ele, a motivação no trabalho pode advir de oportunidades de promoção, 29 reconhecimento, responsabilidade e realização, que são intrinsecamente motivadoras. 6.2. Teorias Contemporâneas sobre Motivação As teorias contemporâneas sobre a motivação podem assim serem caracterizadas não apenas por terem sido desenvolvidas recentemente, mas sim por terem uma aplicação atual. Além disso, ainda que em grande parte partam das antigas teorias, elas apresentam um maior grau de fundamentação científica, o que, em absoluto, as validam como verdades incontestáveis, mas são as mais utilizadas recentemente a fim de explicar a motivação. Vamos especificar apenas as teorias que serão analisadas no trabalho: a Teoria ERG, a Teoria das Necessidades de McClelland e a Teoria da Expectativa. 6.2.1. Teoria ERG Formulada pelo professor Clayton Alderfer, da Universidade de Yale, a teoria é baseada na Teoria das Necessidades, de Maslow. Ele o fez a fim de ajustá-la de forma mais satisfatória à pesquisa empírica, e com este tratamento, ela foi chamada de Teoria ERG (ROBBINS, 2002). Segundo a teoria ERG (Figura 2), existem três grupos de necessidades essenciais: existência, relacionamento e crescimento. O grupo da existência refere-se às nossas necessidades básicas materiais, que abarca as necessidades fisiológicas e de segurança de Maslow. O relacionamento refere-se, obviamente, às necessidades de relacionamento também descritas por Maslow, sendo as relações interpessoais, a sociabilidade e os fatores externos relacionados à autoestima. E por fim, o crescimento, que se nivela aos desejos de auto-realização em Maslow. 30 Crescimento Relacionamento Existência Figura 2 Pirâmide da teoria ERG. A diferença entre as duas teorias não consiste apenas na separação em apenas três grupos em vez de cinco, mas, essencialmente, é que enquanto aquela acreditava que um nível de necessidade só era ativado após a realização do anterior, esta mostra que mais de um tipo de necessidades podem estar ativos ao mesmo tempo. Enquanto a Teoria das Necessidades sugere uma progressão lógica da satisfação das necessidades, a Teoria ERG mostra que as três podem estar ativas ao mesmo tempo, ou ainda, que uma de nível mais alto pode estar sendo satisfeita sem que uma de nível mais baixo tenha sido satisfeito. A figura 3 apresenta graficamente a relação entre as duas teorias. 31 Crescimento Realização Estima Relacionamento Relacionamento Segurança Existência Necessidades Fisiológicas Figura 3 Pirâmide da teoria ERG em paralelo à Pirâmide da Teoria das Necessidades de Maslow. Além disso, a teoria ERG possui uma dimensão de frustração e regressão. Isso consiste na observação que quando uma necessidade de nível alto é frustrada, cresce o desejo de se atender uma mais baixa. Robbins (2002) dá o exemplo de que a incapacidade de interação social pode aumentar o desejo de se ganhar mais dinheiro ou de melhores condições de trabalho (ROBBINS, 2002, p. 157). Mostra-se, portanto, mais plausível e coerente a teoria ERG, a partir do que se conhece do comportamento humano em organizações, pelo fato das necessidades poderem ser satisfeitas simultaneamente. Disso se pode inferir que determinadas culturas podem privilegiar necessidades em hierarquias diferentes, assim como em nível pessoal, onde pessoas podem colocar necessidades de alto nível como prioritárias em necessidades de baixo nível. Um exemplo possível é que pode, para algumas culturas ou indivíduos, parecer bem é mais importante do que sentir-se bem. 6.2.2. Teoria das Necessidades de McClelland Esta teoria, formulada por David McClelland (apud (ROBBINS, 2002; 32 CHIAVENATO, 2009), considera três necessidades: realização, poder e associação. Segundo a teoria, a necessidade de realização é caracterizada pela busca pela excelência, da realização a partir de determinados padrões e da luta pelo sucesso. Já a necessidade de poder se relacionar com a necessidade de fazer as pessoas se comportarem de uma maneira que não se comportariam normalmente. E, por fim, a necessidade de associação é a do desejo de se obter relacionamentos pessoais íntimos e amigáveis A necessidade de realização (nAch, do inglês need for achievement) é a compulsão que as pessoas têm em buscar a realização pessoal. Para elas, a recompensa não é o importante, mas sim o desejo de fazer algo melhor e mais eficientemente do que alguém que já tenha feito. Em sua pesquisa, McClelland percebeu que os grandes realizadores se diferenciam das outras por esta necessidade em fazer as coisas de forma melhor que as outras. Para isso, buscam responsabilidades, tarefas com rápido feedback e não costumam procurar tarefas nem muito fáceis nem muito difíceis, esta última a fim de evitar o fracasso. Também não costumam se arriscar em algo que não tem pelo menos metade da perspectiva favorável, evitando assim um eventual fracasso. Essas pessoas, segundo as pesquisas, geralmente são bem-sucedidas em atividades empresariais, em negócios próprios ou no comando de uma unidade de negócio de uma grande empresa. Já a necessidade de poder (nPow, do inglês need for power) caracteriza-se pelo desejo de influenciar e controlar as pessoas ao redor e também o ambiente. As pessoas que manifestam essa necessidade procuram se colocar em situações competitivas e de status, preocupando-se mais com o prestígio de suas ações do que com a eficácia delas, assim como o poder sobre outras pessoas. A menos estudada das necessidades identificadas por McClelland (apud ROBBINS, 2002) é a de associação (nAff, do inglês need for affiliation). Essa necessidade é a que as pessoas têm em serem aceitas e queridas pelas outras pessoas. As pessoas que têm essa necessidade como preponderante preferem 33 situações de cooperação em vez de competição, costumam estabelecer relações de amizade com seus companheiros e preferem relacionamentos nos quais haja compreensão mútua. As necessidades de poder e associação geralmente estão ligadas ao sucesso gerencial. Os principais executivos, segundo esta teoria têm alta necessidade de poder e baixa necessidade de associação. 6.2.3. A Teoria da Expectativa A Teoria da Expectativa, formulada por Vroom (1964) afirma que o comportamento é resultado de escolhas conscientes entre várias alternativas, e que o objetivo dessas escolhas é sempre a maximização do prazer e a minimização do sofrimento. Atualmente, essa é uma das explicações mais aceitas acerca da motivação, apesar de algumas críticas (ROBBINS, 2002; CHIAVENATO, 2009). Para ele, as relações entre as pessoas e seus objetivos no trabalho não é tão simples quanto as outras teorias pressupõem. Para Vroom (1964), o desempenho dos funcionários de uma corporação é baseado em fatores individuais como personalidade, habilidades, conhecimento, experiência e destreza. Ainda, segundo ele, os indivíduos têm diferentes conjuntos de metas e podem ser motivados se possuírem certas expectativas. Ou seja, a força da tendência para agir de determinada maneira depende da intensidade da expectativa no resultado da ação, e da atração que o indivíduo sente sobre este resultado. De acordo com essa teoria, existe uma correlação positiva entre esforço e desempenho, e um desempenho favorável levará a uma recompensa desejável, que satisfaz uma necessidade. O desejo em satisfazer a necessidade é forte o suficiente para o esforço valer a pena. 34 A Teoria da Expectativa é estruturada em três aspectos. A valência, ou Relação Esforço-Desempenho, que se refere à relação do indivíduo que determinada quantidade de esforço vai levar ao desempenho desejado; a Expectativa, ou Relação desempenho-recompensa, ou seja, o grau que a pessoa acredita que seu desempenho levará ao resultado desejado, e dado que as pessoas têm níveis diferentes de expectativas, e cabe ao administrador identificar estes níveis; e, por fim, a Instrumentalidade, ou relação recompensas-meta pessoais que é a percepção das pessoas que as recompensas que receberão atendem às necessidades e metas pessoais, além da atração que as recompensas esperadas exercem sobre o indivíduo. Esses três fatores interagem, podendo ser descrita a sua interação da seguinte forma: motivação = [expectativa] X [instrumentalidade] X [valor] Ou seja, para que uma pessoa esteja motivada ela deve atribuir um valor à recompensa, acreditar que receberá esta recompensa e acreditar que tem condições de realizar aquela tarefa. Segundo Robbins (2002), a teoria da Expectativa explica porque trabalhadores não se sentem motivados em seus trabalhos e não fazem muito além do necessário a fim de manterem-se empregados, através da análise das três dimensões apresentadas. Segundo ele, os trabalhadores têm as noções de que o máximo de esforço dado pelo funcionário em seu trabalho não é revertido em reconhecimento quando analisado seu desempenho. Além desses fatores, para os trabalhadores, ainda que se tenha uma boa avaliação de desempenho, isso não resultará em uma recompensa além daquela que já se está acostumado. Para os trabalhadores em geral, segundo a teoria, as recompensas organizacionais são baixas, aquém daquilo que se esperava pelo desempenho demonstrado. E fechando o ciclo, a visão de que a recompensa não é atraente. Por exemplo, um trabalhador quer uma promoção, mas só recebe aumento de salário. Ou, em vez de aumento de salário, só recebe elogios. Além disso, existe a falsa noção de que os funcionários geralmente 35 desejam as mesmas coisas, o que é um erro. O que a teoria tem como aspecto principal é a individualização da motivação, ligada às três dimensões apresentadas. Pela complexidade de colocação em prática, a validação dessa teoria cientificamente, segundo Robbins (2002), é complicada, pois existem dificuldades até mesmo em replicar a metodologia original. Existem problemas metodológicos, de critérios e de medidas para avaliar as relações descritas. Seria muito difícil, dado que parte de pressupostos pessoais, avaliar diferentes pessoas sob a mesma metodologia ou eventuais medidas. Porém, tais limitações não a invalidam. A noção de que a recompensa pelo desempenho seria mais vantajosa acaba por influenciar as noções de motivação. 36 7. RESULTADOS Este item apresenta os resultados qualitativos e quantitaivos obtidos na pesqueisa de campo junto às secretarias de graduação do Centro de Ciências Extatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos. 7.1 Coordenações de Cursos As Coordenações de Curso são as entidades da universidade que cuidam dos assuntos relacionados a um determinado curso de graduação. Em seu Estatuto, a UFSCar afirma que “cada Coordenação de Curso é responsável pela gestão do processo de ensino-aprendizagem associado a um curso de graduação” (Art. 8°, parágrafo 2°). Essa coordenação é dirigid a por um conselho de graduação que envolve professores eleitos pelos alunos, funcionários e seus pares que ministram aulas a este curso, devendo ser vinculados a algum dos departamentos que oferecem disciplinas ao curso. Segundo o Regulamento Geral das Coordenações de Curso de Graduação da UFSCar, anexo à Portaria GR 662/03, de 05 de dezembro de 2003, as coordenações são compostas pelo coordenador, pelo vice-Coordenador e pelo Conselho de Graduação, formado por estes últimos como presidente e vice, respectivamente, e “por representantes docentes de cada uma das áreas de conhecimento ou campos de formação aos quais se vinculam disciplinas que integram o currículo pleno do curso em referência, na proporção de um representante por área ou campo e ainda, nos casos em que o próprio Conselho decidir, um representante geral do conjunto de todas as áreas ou campos”. Também é formado por representantes discentes das turmas de alunos do curso em referência, na proporção de um representante por turma e em turmas remanescentes e também pelo secretário da coordenação do curso, sem direito a voto. 37 7.1.1. Secretário da Coordenação As secretarias de coordenação, segundo o Regulamento Geral dos Cursos de Graduação da UFSCar, têm como funções exercer as atribuições do cargo definidas no Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos; responsabilizar-se pelos serviços de apoio pertinentes à Secretaria, visando ao bom funcionamento do curso; assessorar a Coordenação do curso nas tarefas administrativas e na implementação das deliberações do Conselho de Coordenação; organizar e manter o arquivo de documentos relacionados ao curso; atender os alunos em horários estabelecidos pela coordenação; divulgar ao conjunto de alunos do curso as ofertas de bolsas, estágios, empregos e demais informações de interesse do ensino de graduação; outras atribuições determinadas pela Coordenação do curso. As secretarias de coordenação da UFSCar são ocupadas por assistentes em administração ou auxiliares em administração contratados através de concurso público, pelo Regime Jurídico Único, e exercem as funções estabelecidas pela legislação e por suas chefias, conforme previsto. Segundo o Ofício 015/2005 da Coordenação Geral de Gestão de Pessoas, submetido à Subsecretaria de Assuntos Administrativos da Secretaria Executiva do Ministério da Educação, de 28 de novembro de 2005, o assistente em administração, maioria absoluta entre os secretários de coordenação de curso – apenas um entre os sete entrevistados é auxiliar em administração, e fez questão de frisar que desempenha papéis de assistente e não de auxiliar, e sobre isso trataremos nos resultados - tem como descrição sumária do cargo “Dar suporte 38 administrativo e técnico nas áreas de recursos humanos, administração, finanças e logística; atender usuários, fornecendo e recebendo informações; tratar de documentos variados, cumprindo todo o procedimento necessário referente aos mesmos; preparar relatórios e planilhas; executar serviços áreas de escritório. Assessorar nas atividades de ensino, pesquisa e extensão”. Mais especificamente, o assistente em administração deve tratar os documentos, preparar relatórios, formulários e planilhas, acompanhar os processos administrativos, atender os usuários - seja no local, seja à distância -, dar suporte administrativo e técnico na área de recursos humanos – envolvendo aí recrutamento, seleção, treinamento, controle, etc. -, dar suporte nas áreas de material, logística, patrimônio, orçamento, finanças, preparar minutas de contratos, convênios, secretariar eventos, reuniões, redigir e digitar documentos com redação oficial e várias outras atividades associadas à função. Entre os processos que ocorrem diariamente que identificamos no trabalho de secretarias de coordenações de curso estão: atendimento aos alunos e professores; atendimento ao público em geral, abrir, ler, responder e encaminhar correspondências eletrônicas e em papel; atender, encaminhar e responder chamadas telefônicas; receber e despachar malote; entre outros. Outros processos desenvolvidos pelas secretarias de curso da UFSCar, ainda que não sejam diários, são: auxiliar na matrícula dos calouros do curso quando a DICA solicitar; recepção aos calouros e preparação do material a ser entregue e preparação do catálogo do curso; elaborar a demanda de disciplinas e o horário do curso para o semestre seguinte e enviar ofícios para os departamentos com previsão de vagas e sugestão de horários das disciplinas do próximo semestre, além de confirmar com os departamentos a oferta do que foi solicitado; divulgação de datas importantes e de prioridade à coordenação, aos alunos e aos professores, orientar e auxiliar os alunos em relação a suas matrículas, auxiliar na organização e divulgação dos eventos do curso, auxiliar nos processos de transferência interna, externa como também nos processo de 39 equivalências de disciplinas, orientar e divulgar informações aos alunos sobre estágios, controlar bens patrimoniados, arquivar documentos, entre vários outros. 7.2. Resultados qualitativos Os resultados foram analisados de duas formas: caso a caso, de acordo com as respostas, caracterizando a secretaria de coordenação de curso à qual o servidor entrevistado está vinculado sem que esta seja discriminada e também quantativamente, por meio de análise estatística, a fim que fornecer um panorama geral da motivação nas secretarias de curso de graduação vinculados ao CCET. Tanto para a análise dos casos específicos quanto para a análise estatística dos resultados as secretarias serão categorizadas como secretarias A, B, C, D, E, F, G, H e I. Estes nomes foram atribuídos aleatoriamente aos cursos, a fim de preservar o anonimato dos servidores. Tal caracterização se dará com informações sobre número de alunos atendidos, quantidade de cursos atendidos, modalidade de cursos (Licenciatura e/ou Bacharelado e/ou Engenharia). Também, os servidores serão caracterizados pelo sexo, tempo que trabalham na UFSCar, cargo exercido (assistente em administração ou auxiliar em administração) e tempo que estão trabalhando na secretaria que estão atualmente vinculados. As perguntas referem-se a: motivação, fatores motivadores, esforço pessoal, recompensas e satisfação, além de suas perguntas abertas sobre o que desmotiva os servidores da UFSCar na opinião do entrevistado, assim como o que a UFSCar deve fazer a fim de motivar seus servidores. 40 7.2.1. Secretaria A A Secretaria A atende a um curso de engenharia que já existe na UFSCar há 34 anos, e que conta no primeiro semestre de 2010 com aproximadamente 400 alunos, segundo informações do próprio entrevistado. O secretário, trabalha na UFSCar há 32 anos, e está nesta coordenação há 28 anos. O servidor se sente, numa escala de 1 a 5, sendo 1 nada motivado e 5 muito motivado, com uma motivação 5. Para ele, os fatores que mais o motivam são salário, estabilidade, amizade e relacionamento e realização pessoal, no mesmo nível, e o status tem menor importância. De acordo com a Teoria de Maslow, tais fatores deveriam estar em níveis diferentes, mas segundo a Teoria ERG, isto é perfeitamente possível, dado que os seus três níveis (que abarcam os cinco da teoria de Maslow) podem ser satisfeitos simultaneamente. Já em relação à Teoria das Necessidades de McClelland, o servidor afirmou que realizar um bom trabalho (need to Achievement, nAch) e se relacionar bem (need for Affiliation, nAff) têm importância igual e maior que a necessidade de controlar os processos ao seu redor (need for Power, nPow). Este mesmo servidor mantém-se, numa escala de 1 a 5, em um nível 3 de satisfação sobre satisfação pessoal com seu trabalho, reconhecimento da chefia e salário recebido. Nas questões abertas, este servidor afirmou que, em sua opinião, os fatores que mais desmotivam os servidores da UFSCar são “a falta de apoio e reconhecimento dos superiores”, “salário defasado” e “falta de benefícios, prêmios e incentivos financeiros”. Para ele, a UFSCar, a fim de motivar seus servidores, deveria se atentar a “questão salarial”, “reconhecimento profissional”, “benefícios”, prêmios de incentivo”, “liberdade para organizar o próprio trabalho” e “aumento da responsabilidade, desafios e possibilidade de crescimento”. 41 7.2.2. Secretaria B A secretaria B é vinculada a um curso de engenharia que existe há 34 anos na UFSCar, contando no primeiro semestre de 2010 com cerca de 600 alunos. O servidor, assistente em administração, está na UFSCar há 5 anos, e desde então trabalha na mesma secretaria. O servidor declarou que está em um nível 3 de motivação, numa escala de 1 a 5. Para ele, os fatores que mais o motivam a trabalhar são – do mais motivador ao menos motivador -, nesta ordem: estabilidade, salário, amizade e relacionamento, status e realização pessoal. Neste caso, nota-se uma hierarquia entre as necessidades atendidas pela função que exerce, não havendo uma que esteja em um nível igual ao outro. Porém, ao contrário do que entende a Teoria das Necessidades, a hierarquia descrita pelo servidor não obedece à ordem das necessidades descrita por Maslow. Ainda que não se tenha verificado o conhecimento da teoria pelo entrevistado, nota-se que de acordo com a pessoa, não existe para si o escalonamento que Maslow dizia ser inato neste caso. Para este servidor, configura-se como mais importante a necessidade de realização (nAch) como a mais importante, seguido pela necessidade de controle (nPow) e como de menor importância a necessidade de afiliação (nAch). Em relação às recompensas não apenas salariais, o servidor declara que está em um nível 2 de satisfação, entre um 1 e 5. Ou seja, sente-se pouco recompensado. Já em relação ao salário, sente-se em um nível 3, ou seja, está medianamente satisfeito. Em relação aos fatores que desmotivam os servidores da UFSCar, o servidor apresentou o que a seguir será transcrito:“O principal motivo que serve para desmotivar o serviço dentro da Universidade refere-se, pelo menos no meu caso, ao excesso de serviços, muitos dos quais não atribuídos à minha função, que devo executar no Departamento. Serviços da Coordenação, da chefia, da 42 secretaria de chefia, etc. que acabam sendo direcionados para o meu local de trabalho. A desmotivação torna-se maior ainda quando solicitamos um retorno por parte do Departamento como uma melhoria nas instalações da Secretaria e a mesma nega tal solicitação”. Ou seja: segundo o servidor, o principal fator de desmotivação são as condições de trabalho. Segundo a Teoria dos Dois Fatores, de Herzberg, as condições ambientais, hierárquicas, de garantias sociais e políticas da empresa constituem os fatores higiênicos, ou extrínsecos, com os quais plenamente satisfeitos se garante que os funcionários se motivam apenas pelos aspectos motivacionais ou intrínsecos (relacionados ao trabalho em si). Com estes fatores extrínsecos em situação precária, como caracteriza-se nesse caso, isso leva à desmotivação do servidor. Segundo o mesmo servidor, os funcionários são “os pilares para o funcionamento da Universidade”. Para ele, a UFSCar deve “reconhecer a importância do funcionário e promover discussões mais frequentes com os mesmos para analisar o nível de satisfação dos mesmos, os problemas que estes verificam em seu dia-a-dia e as possíveis soluções”. 7.2.3. Secretaria C A Secretaria C caracteriza-se por atender a dois cursos ao mesmo tempo, sendo um de Licenciatura, existente há 39 anos, e um de Bacharelado, existente há 34 anos. Os dois cursos somam juntos 382 alunos. A servidora, tem o cargo de auxiliar em administração, sendo o único nos sete entrevistados, e trabalha na UFSCar há 16 anos, sendo estes 16 nesta mesma secretaria de coordenação. Afirmou estar em um nível 4 de motivação, de 1 a 5. Para ela, salário, estabilidade, amizade e relacionamento e realização pessoal estão em um mesmo nível de importância, sendo que o status tem pouca importância. 43 Também, para ela, as necessidades de realização (nAch) e de afiliação (nAff) são mais importantes que a necessidade de controle (nPow), segundo a teoria das necessidades de McClelland. Também afirma que se sente recompensada em um nível 3 num nível geral, e também 3 em relação ao salário. Diferentemente do caso da Secretaria B, esta servidora afirmou não sofrer pressão alguma da chefia em relação às atividades e horários. Considera que isso se deve ao fato de ser correta nestes aspectos. Também afirma que “nunca tive meu salário atrasado, e não acho que recebo muito pouco por isso”. Segundo esta mesma servidora, o fato de ser auxiliar em administração não a impede de realizar um trabalho de assistente, até mesmo porque declara que possui curso superior. Transcreve-se, a seguir, a opinião da mesma acerca do que a UFSCar pode fazer a fim de motivar seus servidores: “No meu caso que sou auxiliar e tenho nível superior e faço tudo que uma assistente faria, com as mesmas responsabilidades, seria uma maneira de mudar o meu plano de carreira já que não tem mais nada que eu possa fazer para melhorar meu salário já estou no ultimo nível de escolaridade exigido no meu cargo. Ou talvez compensar isso no salário dando uma gratificação extra”. Tal sugestão será explorada nas sugestões, em um capítulo próximo. Porém, é importante notar que a servidora possui um nível de instrução dois níveis acima do cargo que desempenha. 7.2.4. Secretaria D Esta secretaria também serve a dois cursos, de bacharelado e licenciatura, existentes há 15 anos, com 116 alunos. O servidor, do sexo masculino, é assistente em administração e trabalha na UFSCar há 3 anos e 8 meses, desde então nesta secretaria. 44 Segundo suas respostas, se sente muito motivado no trabalho, e coloca como fatores preponderantes em sua motivação a estabilidade (nível 5, de 1 a 5), em primeiro lugar, seguido da amizade e relacionamento (4), e em um nível mais baixo salário, status e realização pessoal (3). Segundo suas respostas, acredita que realizar um bom trabalho (nAch) é o fator mais motivador de seu trabalho, seguido pela necessidade de controle (nPow) e em último lugar a necessidade de filiação (nAff). Se sente recompensado em um nível 3, de 1 a 5, tanto quanto a reconhecimento e satisfação como em questões salariais. Este servidor considera seu tempo de trabalho na UFSCar ainda pouco para formar uma opinião mais sólida do que poderia desmotivá-lo, mas acredita que o principal fator “é a falta de reconhecimento quando um serviço é bem executado”, e que reconhecer isso seria uma forma de motivar os funcionários. 7.2.5. Secretaria E Esta secretaria refere-se a um curso de engenharia, existente na UFSCar desde 1978, completando 32 anos em 2010, que possui hoje 350 alunos. A secretaria é exercida por uma servidora, do sexo feminino com 17 anos de trabalho na UFSCar, estando há 15 anos nesta mesma coordenação. Para esta servidora, salário, amizade e relacionamento e realização pessoal se equivalem como preponderantes na motivação para o trabalho. A estabilidade aparece em um patamar mais baixo, com o status tendo pouca importância para sua motivação. Também, a ela, realizar um bom trabalho (nAch) e se relacionar bem no ambiente (nAff) têm grande importância, tendo muito pouca importância o controle dos processos e pessoas ao redor (nPow). Segundo suas respostas, de 1 a 5, ela se sente recompensada em um nível 4 em geral, porém em um nível quanto à questão salarial. 45 Em sua opinião, os motivos que mais desmotivam os servidores da UFSCar são os materiais de trabalho, em sua opinião “de péssima qualidade”, e que a unidade em que trabalha “não pode comprar os materiais necessários com a verba que é destinada à Coordenação, sendo que o material de consumo nem sempre é o que se necessita”. Porém, preferiu não responder o que a UFSCar deve fazer a fim de motivar mais os seus servidores. 7.2.6. Secretaria F Esta secretaria atende a dois cursos, sendo um de bacharelado em ciência, que já é oferecido há 35 anos, e outro em engenharia, oferecido há 18 anos, sendo que estes dois cursos possuem juntos cerca de 500 alunos atendidos por esta coordenação. A servidora, do sexo feminino, trabalha na UFSCar há 26 anos, sendo 16 nesta secretaria de coordenação. Ela se considera motivada em um nível 4, de 1 a 5, mas faz questão de frisar que esta motivação já foi 5 no passado. Para ela, a estabilidade é o fator mais importante de motivação em seu trabalho, seguido de realização pessoal e amizade e relacionamento um pouco abaixo, sendo bem menos importante, segundo ela, o salário e o status. Além disso, para ela, é mais importante para sua motivação realizar um bom trabalho (nAch) e se relacionar bem e ser aceito no local de trabalho (nAff) do que controlar os processos ao seu redor (nPow). Se sente recompensada num nível 4, de 1 a 5, acerca de todos os aspectos que considera recompensadores, mas em um nível 2 quanto a seu salário. Em sua opinião o que mais desmotiva os trabalhadores da UFSCar é “a falta de reconhecimento pelo trabalho, o excesso de trabalho, os períodos de pico de trabalho, a falta de outro funcionário para dividir o trabalho, e o fato de acumular o trabalho, mas o salário continuar o mesmo”. Salta aos olhos que a servidora descreveu como desmotivadores, de acordo com a Teoria dos Dois Fatores, fatores extrínsecos e intrínsecos ao mesmo tempo. Para ela, a UFSCar a 46 fim de motivar mais os seus servidores necessita identificar onde há sobrecarga de trabalho e aumentar o número de servidores, ou então compensar isto que considera uma “sobrecarga” de trabalho financeiramente, com o pagamento de uma gratificação ou bolsa. 7.2.7. Secretaria G Esta secretaria atende a dois cursos, um de bacharelado existente há 32 anos e um de licenciatura, há 19 anos, tendo esses cursos 326 alunos. O secretário, do sexo masculino, trabalha há 2 anos na UFSCar, os 2 nesta secretaria. Caracteriza como sua motivação para o trabalho em 5, numa escala de 1 a 5. Para ele, os aspectos que mais o motivam são realização pessoal, amizade e relacionamento, sendo menos importante salário, estabilidade e status. Apesar de fugir do escopo das perguntas, o entrevistado fez questão de comentar todas as respostas, e afirmou que há 10 anos tinha um salário maior do que hoje, e que a estabilidade não o motiva tanto, pois já pediu demissão da USP, mesmo estável, por não gostar do ambiente. Para ele, realizar um bom trabalho é mais importante que se relacionar bem e ser aceito no seu local de trabalho, e o que tem menos importância é controlar as pessoas e processos ao seu redor. Ele se considera recompensado em um nível 4, de 1 a 5, quanto a reconhecimento e satisfação e na questão salarial. A opinião deste servidor quanto à desmotivação dos trabalhadores da UFSCar se deve ao que chama de alienação. Sua resposta será transcrita: “O Servidor Público de uma forma geral, vive um mundo à parte, isso devido à estabilidade e a certeza de que seu salário estará depositado no final do 47 mês. Devido a isso e uma série de outros fatores, sempre esta alienado ao mundo externo à Universidade. A partir daí volta-se única e exclusivamente para a preocupação com salário esquecendo-se da finalidade de seu trabalho que é o atendimento ao público, entre outros. Penso que a principal desmotivação do servidor está ligada à falta de comprometimento com o que faz, notamos isso quando precisamos de um atendimento em outro departamento (dentro ou fora da UFSCar), é difícil achar a pessoa no local, o atendimento muitas vezes é incompleto, sem cortesia, até parece que está fazendo um favor em atendê-lo. Outro fator de desmotivação é a falta de uma cobrança pelo serviço a ser prestado (como nas empresas privadas) e por último é preciso saber se o servidor está fazendo o que gosta.” Este servidor, ao contrário do que se observou em outras respostas, colocou como principal fator de desmotivação a própria situação dos servidores públicos, que têm estabilidade na carreira. Para ele, o que é encarado como um motivo de motivação acaba por criar uma desmotivação advinda do acomodamento natural da garantia de não ser demitido, e isso leva a falta de comprometimento. Porém, apresenta um erro de conceito e de conhecimento do caráter do serviço público, ao propor cobrança por serviços prestados. Este servidor elencou quatro fatores como sugestão para motivar os servidores da UFSCar, que serão também transcritos: “1) Saber se cada servidor está fazendo o que gosta ou tem afinidade e se está capacitado para fazê-lo da melhor forma. 2) Incentivar os servidores a se capacitarem para a função (já está sendo feito), porém com mais intensidade e com vantagens não só salariais mas com prêmios, viagens, etc... 3) Propor um plano de carreira, visando compensação salarial, mas para isso a avaliação deveria levar em conta o que eu disse anteriormente (atendimento, conhecimento, cortesia, simpatia, interesse, eficácia, etc.). 48 4) Procurar fazer atividades para a comunidade UFSCar onde fossem promovidos passeios de bicicleta, passeios a pé, viagens de final de semana para locais aprazíveis, exercícios leves voltados aos familiares dos funcionários, festas comemorativas com gincanas, etc...atendendo desta forma ao lazer que é muito importante e que de certa forma torna a vida mais feliz e motivada.” O servidor lembra um importante fator de motivação: saber se o servidor faz o que gosta. Porém, ao mesmo tempo, novamente apresenta desconhecimento do caráter público da UFSCar ao propor premiações além das previstas em lei. Isso se deve, talvez, a uma confusão entre aspectos da iniciativa privada que não têm exequibilidade num órgão público, mas que teriam eficácia no setor privado. 7.2.8. Secretaria H A secretaria H atende um único curso, de engenharia, que completou 40 anos em 2010, e que conta com 416 alunos. Trata-se de uma secretaria administrada por uma assistente em administração, que trabalha há 16 anos nesta mesma coordenação, desde que entrou na UFSCar. A servidora sente-se motivada em 4, numa escala de 1 a 5. Para ela, nesta ordem decrescente, os fatores que mais a motivam são: estabilidade, salário, status, realização pessoal e por último amizade e relacionamento. Para ela, realizar um bom trabalho é o fator mais importante para a motivação pessoal, seguido por controlar os processos ao redor e por último se relacionar bem e ser bem aceita em seu local de trabalho. A funcionária se sente recompensada no geral num nível 4, de 1 a 5. Já quanto à questão salarial, diz sentir-se satisfeita num nível 3. Quanto aos fatores que desmotivam os servidores da UFSCar, a servidora deu a seguinte resposta: 49 “Os fatos que mais desmotivam alguns dos servidores da UFSCar é a falta de interesse pelo bem estar dos funcionários. Nos aqui somos apenas um ATIVO PERMANENTE, que cumpre com muitas suas obrigações sem receber um reconhecimento, valorização, de ninguém que ocupa cargos acima dos nossos. Às vezes, encontramos muita dificuldade para executar nossas tarefas, pois dependemos de outras repartições que deveriam nos dar apoio, no entanto, dificultam o quanto pode para repassar as atividades. Às vezes demoram muito para solicitar uma tarefa e nos dá muito pouco tempo para executá-las. As dificuldades para conseguir alguma informação são muito grandes, e quase sempre temos que nos virar sozinhos. Outra coisa é a impressão que a sociedade tem de nós. Acham que não fazemos nada aqui e ganhamos muito, quando na verdade é o contrário. Isso se deve ao fato de que nós precisamos lutar muito para conseguir um pouco”. Vê-se que, segundo a servidora, as condições de trabalho não são boas e o reconhecimento é muito baixo, além de não haver colaboração entre as diversas instâncias da universidade. Segundo ela, para motivar mais os funcionários, a UFSCar deve investir mais em treinamento. E novamente cita a falta de colaboração, dessa vez entre os servidores. Sua resposta teve um tom de desabafo: “A UFSCar deveria fazer um treinamento nos novos funcionários, para que os mesmos pudessem desempenhar melhor suas funções. Quando entramos aqui, não recebemos informação de ninguém, devido à grande rivalidade que existe entre os funcionários mais antigos. A Universidade deveria também lutar com os poderes superiores para que nossos salários fossem melhores e que tivéssemos um Fundo de Garantia como antes, que recebêssemos pelas horas extras feitas quando do início dos períodos letivos. Que tivéssemos progressão de cargo conforme o tempo de serviço, como os Docentes recebem. Que tivéssemos uma assistência médica mais eficiente, pois nem vacina contra o Tétano não é mais dada aqui, temos que procurar Postos de Saúde fora daqui. Existem 50 empresas do setor Privado que mantém Clínicas com todos os atendimentos. Eu acho que a UFSCar também teria que fazer o mesmo.” É possível analisar que um motivo de desmotivação encontra-se na falta de colaboração entre os próprios funcionários, ou seja, as dificuldades já nascem no próprio nicho ao qual o servidor está inserido. A questão salarial, as faltas de perspectiva de carreira e assistência médica também aparecem como pontos em que, segundo a entrevistada, a universidade deveria fazer alterações a fim de melhor motivar seus servidores. 7.2.9. Secretaria I A Secretaria I atende a dois cursos que estão no segundo ano de existência na UFSCar, sendo que ambos juntos contam com cerca de 180 alunos. O secretário é um assistente em administração, do sexo masculino, que tem 8 meses de trabalho na UFSCar e nessa secretaria. O servidor encontra-se, em sua opinião, motivado em um nível 2 de motivação, de 1 a 5. Para ele, o fator mais importante de motivação é a estabilidade que o trabalho oferece, seguido pelo salário. Para ele, status, realização pessoal, amizade e relacionamento estão no mesmo nível de importância. Ainda, segundo o servidor, o fator mais importante para sua motivação é realizar um bom trabalho, seguido por controle dos processos e pessoas (nPow) e relacionamento e aceitação (nAff), estando estes dois no mesmo nível. Para ele, numa escala de 1 a 5, se sente recompensado num nível, levando em conta todos os aspectos. Porém, no aspecto salarial, diz-se satisfeito em um nível 2, de 1 a 5. Salta aos olhos que, mesmo sendo um funcionário novo em relação, por exemplo, à servidora da secretaria H, ele aponta motivos semelhantes de desmotivação, como falta de treinamento: “A falta de motivação está relacionada à falta de desafios, a pouca oportunidade para o aprendizado (eu mesmo tive que 51 aprender tudo sozinho em minha função, pois não tive nenhum tipo de treinamento) e o pouco espaço para a inovação”. Segundo ele, outro motivo que o desmotiva é a falta de reconhecimento em relação à instrução dos servidores. Quanto a isso, ele segue: “No meu caso, como graduado e pós-graduando em Gestão pública, sinto que é ainda pior, pois preencho uma função aquém das minhas capacidades e me sinto travado dentro de um sistema onde é impeditivo propor e implementar mudanças que, no entanto, possibilitariam uma ruptura com a burocracia vigente, gerando enormes resultados a partir da alteração de pequenas posturas. Sinto que muitos colegas têm este mesmo sentimento”. O fato do secretário possuir graduação e pós-graduação em Gestão Pública pode qualificar as opiniões do entrevistado como uma análise mais elaborada de sua própria situação e da UFSCar. E, em relação ao que a UFSCar poderia fazer para melhor motivar seus funcionários, cita treinamentos e cursos, além da possibilidade de melhor utilizar os recursos humanos, além de sugestões quanto a mudanças nas rotinas administrativas. Segue transcrita a sua resposta: “Treinamentos e cursos (em matéria de cursos de capacitação, isso já vem começando a mudar), oportunidades de trabalho temático (pessoas de setores diferentes se unindo em torno de um projeto comum – como programas de inovação e gestão estratégica, forças-tarefa, grupos de estudo e avaliação, comissões ou outras atividades não convencionais, de cunho artístico, social, esportivo e cultural –, gerando maior integração em atividades diferentes da rotina comum de trabalho nos departamentos), ascensão por meritocracia (limites da legislação de pessoal), etc.”. Este servidor é um exemplo – o que podemos ver pelas respostas – pela sua formação e capacitação, que a desmotivação pode ser fruto de uma subutilização das capacidades individuais. 7.3. Resultados Quantitativos 52 Optou-se por fazer uma análise estatística dos resultados, a fim de obter um panorama quantitativo dos servidores analisados e com isso analisar não especificamente caso a caso, mas traçar um perfil dos servidores. O método adotado foi a análise descritiva. 7.3.1. Caracterização dos servidores O tempo de serviço prestado na UFSCar pelos servidores entrevistados é de 13 anos em média. Cerca de 25% dos respondentes tem tempo de trabalho na universidade de 15 a 17 anos e outros 25% de 4 a 15 anos. A Tabela 1 apresenta o detalhamento estatístico destas informações. TEMPO DE TRABALHO NA UFSCAR N Média 9 13,11 Desvio Padrão 11 Mínimo 1 Primeiro Quartil 4 Mediana 15 Terceiro Quartil 17 Máximo 32 Tabela 1 Tempo de trabalho dos entrevistados na UFSCar. 53 Figura 4. Box Plot do tempo de serviço prestado na UFSCar. Quando levamos em conta o trabalho em coordenação do curso, os respondentes têm o tempo médio de 11,33 anos. Além disso, 25% dos servidores analisados têm de 15 ou 16 anos de trabalho em coordenação e 50% deles de 15 a 28 anos de trabalho em coordenação. Isso mostra que, na média, são servidores experientes que vêm realizando o trabalho nas coordenações de curso analisadas Tabela 2. Tabela 2 Medidas descritivas do tempo de serviço na coordenação do curso N Média 9 11,33 Desvio Padrão 8,91 Mínimo 1 Primeiro Quartil 4 Mediana 15 Terceiro Quartil 16 Máximo 28 . 54 Em relação ao sexo percebe-se certo equilíbrio. Cerca 55% dos servidores é do sexo masculino, e 45% feminino. A grande maioria, 89%, são assistentes e o restante é auxiliar. Portanto, na média, pode-se observarque a maior parte dos servidores que desempenham a função de secretário de coordenações de curso do CCET é de assistentes administrativos experientes, com bastante tempo de UFSCar e em seus postos de trabalho, em sua maior parte, homens. 7.3.2. Caracterização da motivação dos servidores As perguntas em relação à motivação dos servidores já foi amplamente descritas no grupo de subitens 7.2, onde analisamos caso a caso. Estas respostas foram agrupadas para traçar o perfil médio destes servidores. Porém, antes devemos ponderar um problema ocorrido quando das respostas. Foi instruído aos respondentes que nas questões 3.2 e 3.3 do questionário, elas deveriam marcar de 1 a 5 ou 1 a 3, respectivamente sendo um valor a cada item da pergunta, sem repetir os valores. Porém, muitos atribuíram valores iguais a diferentes itens, o que acabou causando um certo problema na análise, uma vez que não se pode traçar um perfil linear dos motivos. Contudo, em vez de refazer as entrevistas, decidiu-se manter desta forma a fim de mostrar que vários dos fatores tinham valores iguais à motivação dos funcionários segundo os mesmos. 7.3.2.1. Fatores que motivam a trabalhar Quando questionados sobre a importância de alguns fatores na motivação do trabalho, sendo a pergunta: “Entre os seguintes fatores que o motivam a trabalhar, marque de 1 a 5, sendo 1 de menor importância e 5 o de maior importância:” o motivo com menor importância é o Status, pois este obteve aprovação de apenas 40%. 55 Ainda no motivo Status, nenhum entrevistado deu importância 4 ou 5 obtendo então média de importância 2. O Salário apresentou uma média de 3,33 de importância, de 0 a 5, tendo aprovação de 67%. Já a realização pessoal teve uma média um pouco superior, de 3,44, com aprovação de 69% dos entrevistados. Já os motivos estabilidade e relacionamento obtiveram as maiores aprovações, com 76% e 78%, respectivamente. Para o relacionamento, 66,66% dos entrevistados deram importância 4 ou 5. Já para a estabilidade, 55,55% deram importância 4 ou 5. Status Realização Pessoa Salário Estabilidade Relacionamento N % N % N % N % N % 0 0 1 11,11 0 0 3 33,33 1 11,11 1 2 22,22 0 0 1 11,11 3 33,33 1 11,11 2 3 33,33 3 33,33 2 22,22 3 33,33 2 22,22 3 3 33,33 1 11,11 3 33,33 0 0 3 33,33 4 1 11,11 4 44,44 3 33,33 0 0 2 22,22 5 100 9 100 9 100 9 100 9 100 Total 9 Tabela 3 Análise descritiva das respostas dadas à pergunta 3.2 do Questionário. A Tabela 4 apresenta o percentual de aprovação de cinco fatores considerados importantes para a motivação dos servidores da UFSCar. Questão Média Salário Estabilidade Relacionamento Status Realização Pessoal 3,33 3,78 3,89 2 3,44 % de aprovação 67% 76% 78% 40% 69% 56 Tabela 4 Média e porcentagem da aprovação dos fatores. Desses resultados do questionário, de perguntas baseadas na Teoria de Maslow e ERG, pode-se concluir que os servidores dão pouca importância ao status que trabalhar na UFSCar pode oferecer, e que o salário e a realização pessoal são fatores não preponderantes. Já a estabilidade no emprego, dado que são servidores contratados pelo Regime Jurídico Único, e o relacionamento que têm nesse emprego são mais importantes do que os outros fatores possíveis. 7.3.2.2. Fatores para motivação no trabalho Analisou-se os fatores de motivação no trabalho dos servidores através da seguinte pergunta: “Entre os três fatores a seguir descritos, em uma escala de 1 a 3, quais têm maior importância para a sua motivação no trabalho, sendo o 1 menor importância e 3 maior importância”, pergunta essa baseada na Teoria das Necessidades, de McClelland. Observou-se que todos entrevistados deram importância máxima para “realizar um bom trabalho”, que corresponde à necessidade de realização, ou o “need do Achievement” (nAch) que corresponde às pessoas a buscar a realização pessoal através do desejo de fazer algo melhor e mais eficientemente do que alguém que já tenha feito. Além disso, nenhum entrevistado deu importância 3 no fator “controlar os processos e pessoas ao redor”, que corresponde ao "Need to Power” (nPow) na teoria de McClelland, sendo este o fator que obteve a menor porcentagem de aprovação dos entrevistados, ou seja, este fator obteve nota de importância baixa com relação aos outros fatores. 57 Por fim, 44,44% dos entrevistados deu importância 3 para o fator “relacionar-se bem e ser bem aceito no local de trabalho”, correspondente ao fator de necessidade de afiliação, ou “need for Affiliation” (nAff). As Tabelas 5 e 6 apresentam estes resultados. 1 2 3 Total Relacionar-se bem e ser bem aceito no local de trabalho (nAff) N % 3 33,33 2 22,22 4 44,44 9 100 Controlar os processos e pessoas ao seu redor (nPow) N % 4 44,44 5 55,56 0 0 9 100 Realizar um bom trabalho (nAch) N 0 0 9 9 % 0 0 100 100 Tabela 5 Análise descritiva das respostas dadas à questão 3.3 do questionário. Questão Média Relacionar-se bem e ser bem aceito no local de trabalho (nAff) Controlar os processos e pessoas ao seu redor (nPow) Realizar um bom trabalho (nAch) 2,11 % de aprovação 70% 1,56 3 52% 100% Tabela 6 Média e porcentagem de aprovação dos fatores da Teoria das necessidades de McClelland. Portanto, entre os três fatores descritos por McCleland que mais motivam os servidores das coordenações do CCET, o que mais é aprovado é realizar um bom trabalho e fazê-lo bem, mais do que relacionar-se bem. Ainda mais do que a necessidade de controlar o seu ambiente de trabalho, que se caracteriza como o menos importante fator de realização no trabalho de acordo com a teoria das necessidades de McClelland. Pode-se até analisar como a atribuição a este último fator como de pouca importância pelo fato das secretarias serem geralmente pequenas, muitas vezes com apenas o próprio servidor como o quadro total dela, e por tal este fator não é nem mesmo percebido. 58 8. CONCLUSÃO A análise da motivação dos servidores da UFSCar, mais especificamente dos servidores das coordenações de cursos ligados ao CCET – objetivo deste trabalho – deve ser encarada como apenas um quadro dentre vários que podem e devem ser analisados pela administração da Universidade para melhor motivar seus servidores. O objetivo é melhorar as condições de trabalho e aumentar a produtividade, entre outras possibilidades. Também, com isso, poder identificar a fonte de alguns dos problemas que podem advir da falta de motivação dos servidores. Após o estudo das teorias sobre a administração dos recursos humanos e sobre a motivação humana, especificamente no trabalho e que possam ser aplicados na UFSCar, foi realizada uma análise que indicou o grau de motivação dos servidores do CCET neste momento. O curso de graduação pode ser encarado como a principal atividade oferecida por uma universidade pública como a UFSCar. Por tal, as coordenações de curso são o contato principal entre a administração da UFSCar e a maioria de seus usuários. Uma motivação melhor e como consequência uma eficiência maior pode levar a UFSCar a transparecer a qualidade que lhe é característica no ensino também em sua administração. Além disso, um aumento na motivação pode aumentar o comprometimento dos servidores quanto a seu empregador. Isso somado à eficiência pode levar a uma maior produtividade, à otimização da utilização de recursos. Outro fator que uma melhor motivação pode oferecer é a melhoria da saúde dos servidores, o que leva a uma qualidade de vida melhor aos funcionários e a menos afastamentos por motivos de saúde. Os servidores das coordenações de curso do CCET são motivados para o trabalho, fato comprovado pelas análises com o que foi analisado tanto quantitativas como qualitativas. Porém, observou-se que esta motivação não é 59 plena. Alguns dos motivos para essa satisfação não ser plena, ou tender a uma maior motivação, advém, segundo esta análise, em grande parte pelos motivos descritos pelos próprios servidores, onde através do questionário puderam descrever alguns dos problemas que creem serem motivadores e também o que poderia, segundo os mesmos, ser feito para que a motivação dos aumentasse. Pode-se identificar através das análises alguns fatores que podem ser objeto de estudo para uma posterior melhoria na UFSCar. Por exemplo, percebese que a capacitação dos servidores ao trabalho que vão desempenhar, antes mesmo da capacitação através de cursos específicos. Ensinar ao servidor o que e como ele deve fazer uma tarefa de trabalho seria uma forma de evitar conflitos administrativos entre as instâncias da UFSCar também seria muito interessantes e teria resultados sobre a motivação dos servidores. Padronizar uma série de procedimentos. Isto levaria a uma motivação dos servidores, como se viu, pois lhes ofereceria melhores condições de trabalho. Outro fator que pode ser analisado como crucial a fim de melhor motivar os servidores é o reconhecimento, e este pode advir de várias frentes é o reconhecimento. A falta de reconhecimento dos superiores pode ser objeto de algum tipo de trabalho de conscientização por parte da Secretaria Geral de Recursos Humanos da UFSCar, dado que é uma reclamação recorrente. Apesar de ser algo intrínseco e poder ser encarado como algo cultural, uma campanha de conscientização dos funcionários quanto ao reconhecimento daqueles que trabalham consigo, tanto superiores como servidores do mesmo nível e subalternos. É visível que este tipo de mudança afetaria sensivelmente a motivação dos servidores. O salário também aparece como uma questão que afeta a motivação dos servidores. Sabe-se que a questão salarial foge à alçada de atuação da Universidade de forma autônoma, e que a única forma seria através de gestões sobre o Ministério da Educação e o Ministério do Planejamento. Outra ação que poderia ser eficiente é um melhor aproveitamento das 60 capacidades dos servidores através de um diagnóstico das habilidades pessoais de cada um. Isto pode ser objeto de uma ação baseada na Gestão por Competências. A idéia PE que os servidores trabalhem naquilo que sabem fazer melhor Além disso, outra ação que poderia ser estudada é uma maior autonomia a estes funcionários, a fim de que não ficassem restritos às atribuições que lhe são dadas por suas chefias. Com isso, além de ter maior controle sobre aquilo que administram, podem ter a possibilidade de inovar em seu trabalho, e com isso poder, de alguma forma, contribuir com esta experiência para uma melhora nos procedimentos de toda a UFSCar. Para isso, se pode analisar um aumento também das responsabilidades dos servidores de coordenações de cursos, a fim de poderem planejar seu trabalho e administrar de forma mais autônoma em relação aos coordenadores de curso, que poderiam, desta forma, se atentarem mais às questões acadêmicas, deixando a administração a cargo do secretário. Essas ações administrativas são conhecidas como enriquecimento das tarefas e produzem um efeito muito positivo sobre a motivação dos trabalhadores. O enriquecimento das tarefas pode ser realizado de duas formas : o enriquecimento horizontal, no qual o trabalhador alterna sua atividade com outra de igual nível de dificuldade e o enriquecimento vertical, em que a nova tarefa exige mudanças mais intensas e, consequentemente, maior responsabilidade. Evidentemente, nessa sugerida situação, os efeitos sobre a motivação são maiores. Conclui-se, portanto, que apesar da motivação destes servidores da UFSCar estar razoável, é possível melhorar. Acreditamos que o panorama encontrado e analisado nesta monografia é uma boa amostra do que se pode ser encontrado em demais nichos de trabalho na UFSCar, e que isso deve ser objeto de estudo, a fim de dar embasamento a ações da administração superior, mormente a Secretaria Geral de Recursos Humanos para se melhorar a motivação dos funcionários. 61 Referências ARGYRIS, C. Organization of the future, Sage Professional Papers, Administrative and Policy Study Series, no 03-006, Vol. 1. BRESSER PEREIRA, L. C. Estratégia e estrutura para um novo estado. Revista Economia Política, v.7, n. 3(67), p. 27, jul-set. 1997. CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas. 3. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. GELLERMAN, S. Motivação e Produtividade. São Paulo: Melhoramentos, 1976. GLASSER, I. Homelessness in Global Perspective. New York: G.K.Hall & Co., 1994. LOVELOCK, C.; WRIGHT, L. Serviços, Marketing e Gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. MASLOW, A. Introdução à Psicologia do Ser. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1966. MORETTIN, P. A.; BUSSAB, W. de O. Estatística Básica. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. ROBBINS, S. Comportamento Organizacional. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. Portaria GR No. 662/03. Regulamento Geral das Coordenações de Curso de Graduação da UFSCar, Reitoria, São Carlos, 5 dez. 2003. VROOM, Victor H. Work and motivation. New York: John Wiley & Sons, 1964. 62 APÊNDICE 1 1. Caracterização do servidor 1.1. Sexo ( ) M ( )F 1.2. Há quanto tempo trabalha na UFSCar: ______________ 1.3. Há quanto tempo trabalha nesta coordenação de curso: ____________ 1.4. Qual o seu cargo: ( )Auxiliar ( )Assistente ( )Secretário Executivo ( ) Outros 2. Caracterização do Curso 2.1. Existe mais de um curso atendido pela secretaria ( ) Sim ( )Não [Se sim, quantos (__)] 2.2. O(s) curso(s) é(são) de: ( )Engenharia ( )Bacharelado ( )Licenciatura ( )Licenciatura e Bacharelado ( ) Engenharia e Bacharelado 2.3.: Quantidade aproximada de alunos atendidos pela coordenação:_____ 3. Motivação acerca do trabalho 3.1. Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 nada motivado e 5 muito motivado, o quanto você se sente motivado em sua função: ____ 3.2. Entre os seguintes motivos que o motivam a trabalhar, marque de 1 a 5, sendo 1 de menor importância e 5 o de maior importância: 3.2.1 Salário ( ) 3.2.2 Estabilidade ( ) 3.2.3 Amizade e relacionamento ( ) 3.2.3 Status ( ) 3.2.3 Realização pessoal ( ) 3.3 Entre os três fatores a seguir descritos, em uma escala de 1 a 3, quais têm maior importância para a sua motivação no trabalho, sendo o 1 menor importância e 3 maior importância. 3.3.1 3.3.2 3.3.3 ( ) Realizar um bom trabalho ( ) Controlar os processos e pessoas ao seu redor ( ) Se relacionar bem e ser bem aceito em seu local de trabalho 3.4.1 Entre 1 e 5, sendo 1 pouco esforço e 5 muito esforço, o quanto você dispende em seu trabalho, em sua opinião:____ 3.4.2 Entre 1 e 5, sendo 1 pouca recompensa e 5 muita recompensa, o quanto você se sente recompensado em seu trabalho (sendo esta recompensa referente não apenas ao salário, mas também a reconhecimento da chefia e satisfação pessoal): ____ 3.4.3 Em sua opinião, entre 1 e 5, sendo 1 pouco satisfeito e 5 muito satisfeito, o quanto você se sente satisfeito com o salário que você recebe em seu trabalho: ___ 4. Em sua opinião, quais os motivos que mais desmotivam os servidores da UFSCar? (Responda em até 20 linhas) 5. Em sua opinião, o que a UFSCar poderia fazer a fim de motivar mais os seus servidores? (Responda em até 20 linhas) 63