RPPN Não Me Deixes ELABORAÇÃO Coordenação: Ana Carolina Leite Cordeiro Bióloga/UECE – CRBio nº. 46.633-5D Ma. Gestão Ambiental de Recursos Hídricos Equipe Técnica: Cristiano Alves da Silva – Geógrafo/UECE Caracterização Abiótica e geoprocessamento. Ileane Oliveira Barros – Bióloga/UFC George Machado Tabatinga Filho – Biólogo/UFC Caracterização Botânica. Fábio de Paiva Nunes – Biólogo/UFC João Marcelo Holderbaum – Biólogo/UFC Caracterização da Avifauna, Mastofauna e Herpetofauna Samuel Victor da Silva Portela – Biólogo/UVA: Caracterização Socioeconômica das comunidades de entorno da RPPN. Hangley da Silva Félix - Estudante de Geografia/UECE Estagiário da Associação Asa Branca RPPN Não Me Deixes APOIO PARCERIA Confederação Nacional de RPPN - CNRPPN Associação Caatinga RPPN Não Me Deixes AGRADECIMENTOS Às inúmeras pessoas e instituições que há anos contribuem de forma significativa para a conservação da natureza através do incentivo à criação e gestão de reservas particulares. À primeira proprietária da RPPN Não Me Deixes, Raquel de Queiroz, pela idealização e criação desta Unidade de Conservação; à Sra. Maria Luíza Salek, hoje proprietária e responsável pela administração da propriedade, e ao seu filho, o Sr. Flávio Salek, pelo apoio logístico e pelas inúmeras informações concedidas à equipe executora do projeto. À Associação Caatinga pelas várias formas de contribuição técnico-institucionais, que foram fundamentais para e execução deste projeto. À Aliança da Caatinga, financiadora desse projeto, que contou ainda com o apoio da MPX, empresa do grupo EBX. E por fim, a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a elaboração desse documento, seja no apoio logístico, nos levantamentos de campo (mateiros e caseiros) ou na facilitação de informações de grande valor sociocultural. RPPN Não Me Deixes APRESENTAÇÃO Este documento é resultante do projeto “Elaboração do Plano de Manejo da RPPN Não Me Deixes” executado pela Associação dos Proprietários de RPPN do Estado do Ceará – Asa Branca e apoiado pela Aliança da Caatinga através do Programa de Incentivo à Conservação em Terras Privadas na Caatinga. A iniciativa da proprietária em criar a RPPN Não Me Deixes foi de garantir a proteção legal e integral dos atributos naturais da propriedade Fazenda Não Me Deixes, onde 32,33% da propriedade foram convertidos em RPPN. O Plano de Manejo contribuirá e orientará para a gestão e captação de recursos para a implementação das ações de gestão da reserva previstas nos programas, além de possibilitar a conservação da biodiversidade local com maior efetividade. A possibilidade de implementar esses objetivos é de total interesse do proprietário, gestor da RPPN que hoje é mantida exclusivamente através de recursos próprios. Portanto, uma das expectativas do Plano de Manejo é consolidar um plano de sustentabilidade da reserva, envolvendo também a captação de recursos externos no sentido de viabilizar as ações propostas. Além disso, há a preocupação do proprietário em adequar-se a legislação vigente que inclui o compromisso e a obrigação de elaborar e aprovar um Plano de Manejo junto ao órgão ambiental responsável, neste caso o ICMBio. Em definitiva, o Plano de Manejo da RPPN Não Me Deixes deverá servir de referência e estímulo para as outras RPPN que estão em processo de criação nesta área, fortalecendo a categoria das RPPN no Estado do Ceará e incentivando a criação de Políticas Públicas mais efetivas para a conservação no Estado. x RPPN Não Me Deixes SUMÁRIO A – INFORMAÇÕES GERAIS 1. ACESSO .....................................................................................................................................................19 2. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN ............................................................................21 3. FICHA-RESUMO DA RPPN .........................................................................................................................23 B - DIAGNÓSTICO 1. CARACTERIZAÇÃO DA RPPN .....................................................................................................................24 1.1. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES ABIÓTICOS .................................................................................................25 1.1. 1. CLIMA ........................................................................................................................................25 1.1.2. GEOLOGIA ....................................................................................................................................28 1.1.3. GEOMORFOLOGIA..........................................................................................................................30 1.1.4. SOLOS .........................................................................................................................................32 1.1.5. HIDROGRAFIA ...............................................................................................................................34 1.2. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES BIÓTICOS ...................................................................................................36 1.2.1. VEGETAÇÃO .................................................................................................................................36 1.2.1.1. FLORA E FITOFISIONOMIAS .........................................................................................................37 1.2.1.2. LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO ...........................................................................................44 1.2.1.2.1. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 1 .............................................................................46 1.2.1.2.2. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 2 .............................................................................48 1.2.1.2.3. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 3 .............................................................................50 1.2.1.2.4. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 4 .............................................................................53 1.2.1.2.5. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 5 .............................................................................55 1.2.2. FAUNA ........................................................................................................................................57 1.2.2.1. MASTOFAUNA......................................................................................................................57 1.2.2.2. AVIFAUNA ...........................................................................................................................60 1.2.2.3. HERPETOFAUNA ...................................................................................................................68 1.3. VISITAÇÃO ............................................................................................................................................74 1.4. PESQUISA E MONITORAMENTO.................................................................................................................75 1.5. OCORRÊNCIA DE FOGO ............................................................................................................................75 1.6. ATIVIDADES CONFLITANTES NA RPPN ........................................................................................................75 1.7. SISTEMA DE GESTÃO ...............................................................................................................................77 1.8. PESSOAL...............................................................................................................................................77 1.9. INFRAESTRUTURA ...................................................................................................................................77 1.10. EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS...................................................................................................................77 1.11. RECURSOS FINANCEIROS........................................................................................................................78 1.12. FORMAS DE COOPERAÇÃO .....................................................................................................................78 2. CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE .......................................................................................................79 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO...............................................................................................83 3.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ .............................................................................................83 3.2. PRESSÕES .............................................................................................................................................95 4. POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE .......................................................................................................97 5. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA ..............................................................................................................98 C - PLANEJAMENTO 1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO .................................................................................................... 100 2. ZONEAMENTO ....................................................................................................................................... 100 2.1. ZONA SILVESTRE ................................................................................................................................. 101 2.2. ZONA DE PROTEÇÃO ............................................................................................................................ 101 2.3. ZONA DE TRANSIÇÃO ........................................................................................................................... 102 3. PROGRAMAS DE MANEJO ..................................................................................................................... 104 3.1. PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................................ 105 3.2. PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO .............................................................................................. 109 3.3. PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO ......................................................................................... 111 3.4. PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA ....................................................................................... 112 D – INFORMAÇÕES FINAIS 1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................. 113 xi RPPN Não Me Deixes LISTA DE FIGURAS FIGURA 01: CARTOGRAMA DE LOCALIZAÇÃO ................................................................................................. 19 FIGURA 02: CASA SEDE DA FAZENDA NÃO ME DEIXES.................................................................................... 22 FIGURA 03: MOSAICO DE FOTOS DA FAZENDA NÃO ME DEIXES. (FONTE: BEHR,2007). ................................ 24 FIGURA 04: ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT) MOSTRADA ATRAVÉS DAS IMAGENS DO SATÉLITE METEOSAT-7. FONTE: (SILVA, 2006 APUD CEARÁ FUNCEME, 2006) ............................................... 26 FIGURA 05: VIÚVA-ALEGRE (CRYPTOSTEGIA GRANDIFLORA) PLANTA INVASORA NAS PROXIMIDADES DA LAGOA DOS SEIXOS (COORDENADAS 4º48’ 53.86’ S 38º57’42.94”O)............................................................. 38 FIGURA 06: CANSANÇÃO BRANCO (JATROPHA URENS) NAS PROXIMIDADES DA LAGOA DOS SEIXOS (COORDENADAS 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). .............................................................................................. 38 FIGURA 07: FLORES MASCULINAS NA INFLORESCÊNCIA DO VELAME (CROTON HELIOTROPIIFOLIUS) NAS PROXIMIDADES DA LAGOA DOS SEIXOS (COORDENADAS 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). .............................. 38 FIGURA 08: HERBÁCEA (SIDA CILIARIS) NAS PROXIMIDADES DA LAGOA DOS SEIXOS (COORDENADAS 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O) COORDENADAS 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). ............................................... 38 FIGURA 09: FLORES DA AMEIXA (XIMENIA AMERICANA) (COORDENADAS 4º48’57.09’S 38º57’50.22”O)..... 39 FIGURA 10: FRUTOS DA AMEIXA (XIMENIA AMERICANA) (COORDENADAS 4º48’57.09’S 38º57’50.22”O). ... 39 FIGURA 11: MARACUJÁ DO MATO (PASSIFLORA FOETIDA) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS 4º48’39.15”S 38º58’25.03”O). ........................................................................................................................ 39 FIGURA 12: HERBÁCEA (PIRIQUETA GUIANENSIS) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS 4º48’39.15”S 38º58’25.03”O)................................................................................................................................................ 39 FIGURA 13: HERBÁCEA (MELOCHIA PYRAMIDATA) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS 4º48’39.15”S 38º58’25.03”O)................................................................................................................................................ 39 FIGURA 14: HERBÁCEA (JAQUEMONTIA SP.) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS 4º48’39.15”S 38º58’25.03”O)................................................................................................................................................ 39 FIGURA 15: ASPECTO GERAL DA PARCELA 1 (COORDENADAS 4º48'35.25"S 38º57'44.80"O). ....................... 47 FIGURA 16: SERRAPILHEIRA E GRAMÍNEAS NO SOLO DA PARCELA 1 (COORDENADAS 4º48'35.25"S 38º57'44.80"O). ............................................................................................................................................... 47 FIGURA 17: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 1. ......................................................................................... 47 FIGURA 18: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 1. ................................................................................... 48 FIGURA 19: PEREIRO (ASPIDOSPERMA PYRIFOLIUM) PLANTA COM FLORES E FRUTOS NA PARCELA 2 (COORDENADAS 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ............................................................................................... 48 FIGURA 20: DETALHE DA FLOR DO PEREIRO (ASPIDOSPERMA PYRIFOLIUM) NA PARCELA 2 (COORDENADAS 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ........................................................................................................................... 48 FIGURA 21: ASPECTO GERAL DA PARCELA 2 (COORDENADAS 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ......................... 49 FIGURA 22: GRANDE QUANTIDADE DE SERRAPILHEIRA NO SOLO DA PARCELA 2 (COORDENADAS 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ........................................................................................................................... 49 FIGURA 23: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 2. ......................................................................................... 50 FIGURA 24: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 2. ................................................................................... 50 xii RPPN Não Me Deixes FIGURA 25: ÁREA COM MUITOS CIPÓS NA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ....... 51 FIGURA 26: SERRAPILHEIRA, PLÂNTULAS EM RECRUTAMENTO E ALGUMAS ÁRVORES MORTAS NA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). .......................................................................................... 51 FIGURA 27: ÁREA ABERTA NA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ........................... 51 FIGURA 28: ASPECTO DO CAULE DO FREI JORGE (CORDIA TRICHOTOMA) NAS PROXIMIDADES DA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ............................................................................................. 51 FIGURA 29: ASPECTO DO CAULE DO CUMARU (AMBURANA CEARENSIS) NA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ......................................................................................................................... 51 FIGURA 30: ASPECTO DO CAULE DA EMBIRATANHA (PSEUDOBOMBAX MARGINATUM) NAS PROXIMIDADES DA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ..................................................................... 51 FIGURA 31: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 3. ......................................................................................... 52 FIGURA 32: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 3. ................................................................................... 52 FIGURA 33: SOLO COBERTO POR SERRAPILHEIRA E GRANDE QUANTIDADE DE PLÂNTULAS EM RECRUTAMENTO NA PARCELA 4 (COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). ........................................ 53 FIGURA 34: ÁREA SEMIABERTA NA PARCELA 4 (COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). .................. 53 FIGURA 35: CUPINZEIRO SOBRE UMA CATINGUEIRA (POINCIANELLA BRACTEOSA ) E UM MANDACARU (CEREUS JAMACARU) NA PARCELA 4 (COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). ................................. 54 FIGURA 36: FLORES MASCULINAS DO PINHÃO MANSO (JATROPHA MOLISSIMA) NA PARCELA 4 (COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). ............................................................................................. 54 FIGURA 37: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 4. ......................................................................................... 54 FIGURA 38: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 4. ................................................................................... 55 FIGURA 39: ÁREA SEMIABERTA NA PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). ................... 55 FIGURA 40: SOLO COBERTO POR SERRAPILHEIRA E GRANDE QUANTIDADE DE PLÂNTULAS EM RECRUTAMENTO NA PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). ......................................... 55 FIGURA 41: CIPÓ CABEÇA DE NEGO (MALPIGHIACEAE 1) NA PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). ............................................................................................................................................... 56 FIGURA 42: CIPÓ (MALPIGHIACEAE 2) PRÓXIMO À PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). ............................................................................................................................................... 56 FIGURA 43: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 5. ......................................................................................... 56 FIGURA 44: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 5. ................................................................................... 57 FIGURA 45: RAPOSA – CERDOCYON THOUS. ................................................................................................... 58 FIGURA 46: SOIM – CALLITHRIX JACCHUS. ...................................................................................................... 58 FIGURA 47: MAMBIRA – TAMANDUA TETRADACTYLA.................................................................................... 58 FIGURA 48: GRUPOS TRÓFICOS DAS AVES DA RPPN NÃO ME DEIXES. ........................................................... 61 FIGURA 49: USO DO HABITAT DAS ESPÉCIES DE AVES DA RPPN NÃO ME DEIXES. ......................................... 61 FIGURA 50: SENSITIVIDADE DAS ESPÉCIES DE AVES DA RPPN NÃO ME DEIXES.............................................. 62 FIGURA 51: PERIQUITO-DO-SERTÃO – ARATINGA CACTORUM; ESPÉCIE ENDÊMICA. .................................... 62 FIGURA 52: JACU VERDADEIRO – PENELOPE JACUCACA; ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO. ...................... 62 xiii RPPN Não Me Deixes FIGURA 53: ARAPAÇU-GRANDE – DENDROCOLAPTES PLATYROSTRIS; ESPÉCIE DEPENDENTE DE AMBIENTES FLORESTAIS. ..................................................................................................................................................... 63 FIGURA 54: FIGURA PICA-PAU-DOURADO – PICULUS CHRYSOCHLOROS - ESPÉCIE DEPENDENTE DE AMBIENTES FLORESTAIS. ................................................................................................................................. 63 FIGURA 55: TEJU (TUPINAMBIS MERIANAE). .................................................................................................. 69 FIGURA 56: CURURU (CHAUNUS JIMI). ........................................................................................................... 69 FIGURA 57: CAÇOTE (LEPTODACTYLUS TROGLODYTES). ................................................................................. 70 FIGURA 58: COSTELINHA-DE-VACA (LIOPHIS DILEPIS). .................................................................................... 70 FIGURA 59: BREJADO NA PORÇÃO LESTE DA RPPN NÃO ME DEIXES. ............................................................. 72 FIGURA 60: PERERECA RASPA-CUIA (SCINAX X-SIGNATUS)............................................................................. 72 FIGURA 61: PSEUDOPALUDICOLA SP. .............................................................................................................. 72 FIGURA 62: SAPINHO-DE-AREIA (PLEURODEMA DIPLOLISTER) ....................................................................... 72 FIGURA 63: RÃ-MANTEIGA (DERMATONOTUS MUERLLERI). .......................................................................... 72 FIGURA 64: CALANGUINHO (CNEMIDOPHORUS OCELLIFER). ......................................................................... 73 FIGURA 65: TIJUBINA (AMEIVA AMEIVA). ....................................................................................................... 73 FIGURA 66: IGUANA (IGUANA IGUANA). ......................................................................................................... 73 FIGURA 67: PAPA-VENTO (ENYALIUS BIBRONII). ............................................................................................. 73 FIGURA 68 JIBÓIA (BOA CONSTRICTOR). ......................................................................................................... 73 FIGURA 69: COBRA-CIPÓ (LEPTOPHIS AHAETULLA). ....................................................................................... 73 FIGURA 70: COBRA-DE-DUAS-CABEÇAS (LEPOSTERNON POLYSTEGUN) MORTA NA RPPN NÃO ME DEIXES, CONFUNDIDA COM UMA SERPENTE. .............................................................................................................. 74 FIGURA 71: VEGETAÇÃO DAS MARGENS DE UM CÓRREGO DEGRADA NO INTERIOR DA RPPN. REPRESAMENTO DE ÁGUA PARA A LAVAGEM DE ROUPAS PELA COMUNIDADE, PRÓXIMA À ESTRADA QUE SEGUE PARA A COMUNIDADE DE AREIAS. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .......................................................... 76 FIGURA 72: PRODUTOS QUÍMICOS UTILIZADOS NA LAVAGEM DAS ROUPAS (SABÃO E ÁGUA SANITÁRIA) NO INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .................................................................. 76 FIGURA 73: RETIRADA DE VEGETAÇÃO PELAS COMUNIDADES DO ENTORNO DA FAZENDA NÃO ME DEIXES PARA A ABERTURA DE TRILHAS NO INTERIOR DA RPPN (PRÓXIMA À ESTRADA QUE SEGUE PARA A COMUNIDADE DE AREIAS). (FOTO: SAMUEL PORTELA). ................................................................................. 76 FIGURA 74: VISTA DA ENTRADA DA CASA SEDE DA FAZENDA NÃO ME DEIXES E A CASA DE UM DOS MORADORES AO FUNDO. (FOTO: SAMUEL PORTELA). ................................................................................... 81 FIGURA 75: PLANTAÇÃO DE MILHO E FEIJÃO CONSORCIADOS NA FAZENDA NÃO ME DEIXES. (FOTO: SAMUEL PORTELA). ......................................................................................................................................... 81 FIGURA 76: EVOLUÇÃO POPULACIONAL DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ – 1991/2007. FONTE: IBGE 2012. ..... 86 FIGURA 77: PIB POR SETOR DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. .............................................. 88 FIGURA 78: ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. .................... 91 FIGURA 79: DOCENTES POR SÉRIE NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. .................................... 92 FIGURA 80: NÚMERO DE ESCOLAS POR SÉRIE NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. ................. 93 xiv RPPN Não Me Deixes FIGURA 81: MATRÍCULAS POR SÉRIE NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. ................................ 93 FIGURA 82: PÁSSARO CAPTURADO NO ENTORNO DA FAZENDA NÃO ME DEIXES (COMUNIDADE DA FAZENDA JUNCO). (FOTO: SAMUEL PORTELA). ............................................................................................... 95 FIGURA 83: VESTÍGIO DE CAÇA NO INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES. COVA ABERTA PARA RETIRADA DE TATU, PRÁTICA MUITO COMUM NA REGIÃO. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .................................................... 95 FIGURA 84: VESTÍGIO DE PASSAGEM DE ANIMAIS DOMÉSTICOS NO INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES. FEZES PISOTEADAS DE CAVALOS EM TRILAS ABERTAS PELA PASSAGEM DOS ANIMAIS. (FOTO: SAMUEL PORTELA). ........................................................................................................................................................ 96 FIGURA 85: ANIMAIS DOMÉSTICOS SOLTOS NO INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES. (FOTO: SAMUEL PORTELA). ........................................................................................................................................................ 96 FIGURA 86: AGRICULTURA DE SEQUEIRO PRATICADA PELOS MORADORES DA FAZENDA NÃO ME DEIXES NOS LIMITES IMEDIATOS DA RPPN. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .................................................................... 96 FIGURA 87: RPPNS EM PROCESSO DE CRIAÇÃO PRÓXIMAS À RPPN NÃO ME DEIXES. ................................... 97 FIGURA 88: LOCALIZAÇÃO DA RPPN NÃO ME DEIXES NO MAPEAMENTO DO PROJETO “AVALIAÇÃO E AÇÕES PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DO BIOMA CAATINGA – PROBIO” (2006). ....... 99 xv RPPN Não Me Deixes LISTA DE TABELAS TABELA 1: Ficha resumo da RPPN Não Me Deixes. ......................................................................................... 23 TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará. ........................................... 40 TABELA 3: Georreferencimento e diversidade de espécies nas cinco parcelas de 10x10m na RPPN Não Me Deixes, Quixadá, CE. ........................................................................................................................................ 44 TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Não Me Deixes. .................................. 45 TABELA 5: Lista da Mastofauna da RPPN Não Me Deixes. .............................................................................. 59 TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. .................................................................................... 63 TABELA 7: Listagem dos anfíbios registrados na RPPN não Me Deixes em maio de 2011. ............................. 70 TABELA 8: Listagem dos répteis registrados na RPPN não Me Deixes em maio de 2011. .............................. 71 TABELA 9: População Residente – 1991/2000/2010. ...................................................................................... 85 TABELA 10: Domicílios Particulares Permanentes por Situação e Média de Moradores – 2010. ................... 86 TABELA 11: Índices de Desenvolvimento. ....................................................................................................... 87 TABELA 12: População Extremamente pobre: (com rendimento domiciliar per capita mensal de até R$ 70,00) – 2010. .................................................................................................................................................. 87 TABELA 13: Número de Empregos Formais – 2010. ........................................................................................ 88 TABELA 14: produto Interno Bruto – 2008. ..................................................................................................... 89 TABELA 15: Renda Domiciliar per capita (salário mínimo R$ 510,00) – 2010. ................................................ 89 TABELA 16: Profissionais de Saúde, Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) – 2010. ................................. 91 TABELA 17: Taxa de Analfabetismo Funcional para Pessoas com 15 anos ou mais – 2000/2010. ................. 92 TABELA 18: Domicílios Particulares Permanentes Segundo as Formas de Abastecimento de Água – 2000/2010. ...................................................................................................................................................... 94 TABELA 19: Domicílios Particulares Permanentes Segundo os Tipos de Esgotamento Sanitário - 2000/2010. ......................................................................................................................................................................... 94 TABELA 20: Domicílios Particulares Permanentes Segundo Energia Elétrica e Lixo Coletado - 2000/2010.... 95 xvi RPPN Não Me Deixes LISTA DE MAPAS MAPA0 1 : Mapa de Localização e Acesso.............................................................................................. 20 MAPA 02: Clima...................................................................................................................................... 27 MAPA03: Geologia.................................................................................................................................. 29 MAPA 04: Geomorfologia....................................................................................................................... 31 MAPA 05: Solos....................................................................................................................................... 33 MAPA 06: Hidrografia............................................................................................................................. 35 MAPA 07: Zoneamento........................................................................................................................... 103 xvii RPPN Não Me Deixes LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES ADA: Ato Declaratório Ambiental APP: Área de Preservação Permanente CCIR: Certificado de Cadastro do Imóvel Rural CREA: Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia CNRPPN: Confederação Nacional das Reservas Particulares do Patrimônio Natural CPF: Cadastro de Pessoa Física CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente FNMA: Fundo Nacional do Meio Ambiente FUNBIO: Fundo Brasileiro para a Biodiversidade FUNCEME: Fundação Cearense de Meteorologia IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IDACE: Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ITR: Imposto Territorial Rural IUCN: International Union for Conservation of Nature MMA: Ministério do Meio Ambiente ONG: Organização Não Governamental PIB: Produto Interno Bruto PNMA: Política Nacional do Meio Ambiente PREVFOGO: Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais PSF: Programa de Saúde da Família RPPN: Reserva Particular do Patrimônio Natural SESA: Secretaria Estadual de Saúde SUDENE: Superintendência Para o Desenvolvimento do Nordeste UC: Unidade de Conservação UECE: Universidade Estadual do Ceará UFC: Universidade Federal do Ceará UVA: Universidade Estadual Vale do Acaraú xviii RPPN Não Me Deixes A – INFORMAÇÕES GERAIS 1. ACESSO De acordo com o limite municipal do IBGE (2005), a RPPN Não Me Deixes está localizada no município de Quixadá, Estado do Ceará, que pertence a Macrorregião do Sertão Central Cearense, distante 135,24m da capital, entre as latitudes 04°46’38,29”S e 04°51’28,72”S e longitudes 38°56’32,0”O e 39°0’12,28”O (Datum SAD69). Figura 01: Cartograma de localização Localizada na porção norte do Município de Quixadá, o acesso a RPPN Não Me Deixes, partindo de Fortaleza no quilômetro 01 da rodovia estadual 060, é realizado seguindo pela CE-060 por 132.18km até o entroncamento com uma estrada vicinal, nas proximidades da localidade de Daniel Queiroz, deste segue pela estrada vicinal por 3,06m até a sede da Fazenda Não Me Deixes, propriedade onde está localizada a RPPN de mesmo nome, conforme Mapa de Localização e Acesso (MAPA 01). 19 RPPN Não Me Deixes 20 RPPN Não Me Deixes 2. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN A Fazenda Não Me Deixes está localizada no distrito de Daniel de Queiroz no município de Quxadá, Estado do Ceará. Está distante, aproximadamente, 30 km da sede do município. Possui uma área total de 928 hectares. O velho Miguel Francisco de Queiroz, tio-avô de Daniel de Queiroz, pai de Rachel e Maria Luiza (atual proprietária da Fazenda) era homem de muitas posses e dono de quase todas as terras daquela região. A um dos sobrinhos ele deu um pedaço do Junco (a fazenda sede), a parte que ficava do outro lado da estrada de ferro que lhe cortava as terras. O sobrinho ficou lá algum tempo mas, seduzido pelas histórias da riqueza da borracha no Amazonas, vendeu a terra e foi-se para o Norte. Tempos depois, doente de malária, alquebrado e pobre, voltou ao sertão, E o tio lhe disse: “Olhe, comprei de volta a terra que você vendeu. Vá cuidar do que você abandonou, ponha na Fazenda o nome de “Não Me Deixes” e nunca mais saia de lá.” E assim foi. Quando esse sobrinho morreu, como não tinha filhos, qa fazenda tornou a fazer parte do Junco, já então com outro sobrinho, Daniel de Queiroz, de onde passou pro herança a Rachel de Queiroz, anos depois, por iniciativa da escritora, parte da fazenda foi transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN e, por sua morte, a Fazenda passou a ser da sua irmã, Maria Luiza de Queiroz. A atual proprietária informou que a reserva foi criada pela sua irmã no intúito de garantir a conservação da exuberante vegetação de Caatinga da propriedade, que garante um clima mais agradável mesmo nos períodos de estiagem, e também para preservar as várias espécies de animais que ali habitam. Sendo a criação da RPPN de ceráter perpétuo, todos estes atributos naturais teriam sua existência essegurados. A escritora Rachel de Queiroz e o seu esposo Oyama de Macedo construíram a casa, sede da Fazenda Não Me Deixes, em 1955. Tijolos, portas e janelas, além dos móveis, foram feitos com materiais retirados da própria fazenda. O projeto da casa (FIGURA 02) foi da própria escritora, e era caracterizado por elementos rústicos: cantareiras com potes de barro, o fogão era de lenha e mobília artesanal, desenhada pela proprietária. Ela recorda até que fez uma maquete da construção, com varas de mata-pasto, para mostrar como deveria ficar o telhado alto. A escritora passava vários meses na fazenda, independentemente de ano seco ou chuvoso. A RPPN Não Me Deixes foi criada pela Portaria do IBAMA Nº 37-N de 16 de abril de 1999, no intúito de conservar a biodiversidade da Caatinga e garantir a perpetuidade da preservação de uma éra significativa da Fazenda Não Me Deixes. A 21 RPPN Não Me Deixes área apresenta boas condições de conservação da vegetação sendo usada como área de soltura de aves nativas apreendidos pelo IBAMA em feiras e comércio irregular. FIGURA 02: Casa sede da Fazenda Não Me Deixes. (Foto: Samuel Portela) A RPPN, compreendida pela área da "Fazenda Não Me Deixes", tem trezentos hectares (300 ha) e protege uma área de Caatinga arbórea e arbustiva, sendo parte da fazenda destinada para uso agropecuário. A seguir segue um comentário feito pela ecritora Rachel de Queiroz em relação às solturas de aves na Fazenda Não Me Deixes: (...) Tive a honra e a glória de receber na fazenda uma delegação do IBAMA que vinha com dois carros carregados de pássaros em gaiolas, para os soltar nos ares livres do Não Me Deixes. Acho que mereci essa honraria, pois sempre foi preocupação minha, desde menina, soltar passarinho. Verdade que é meio arriscado: os donos dos passarinhos são capazes de tudo contra alguém que libere as suas presas. Mas a alegria de ver voando um pássaro, antes confinado a uma gaiola, paga todos os riscos de represálias. (...) Rachel de Queiroz em O Estado de S. Paulo, 30 set. 2000. Hoje a Fazenda Não Me Deixes e a RPPN de mesmo nome é propriedade da irmã mais nova da escritora, a Sra. Maria Luiza de Queiroz Salek, que nasceu em 1926 quando a escritora já tinha 16 anos. Ela teve sempre a amizade de irmã e os cuidados de uma mãe da irmã mais velha. Estavam sempre juntas, inclusive na literatura. A Sra. Maria Luíza, Dona Izinha, como é conhecida na fazenda, compartilha três livros com a irmã, Rachel. 22 RPPN Não Me Deixes 3. FICHA-RESUMO DA RPPN TABELA 1: Ficha resumo da RPPN Não Me Deixes. FICHA-RESUMO DA RPPN NÃO ME DEIXES Nome da RPPN Nome do Imóvel RPPN Não Me Deixes Fazenda Não Me Deixes Nome dos Proprietários e representantes Maria Luiza de Queiroz Salek Endereço da RPPN Endereço para correspondência Rodovia CE-060, Fazenda Não Me Rua Rita Ludolf, 43 - AP.201 – Leblon, Rio Deixes, Distrito de Daniel de Queiroz, de Janeiro/RJ - CEP 22.440-060 Quixadá/CE – CEP 63.900-000 Telefone e email para contato Município e Estado abrangido (21) 2522.6078 Quixadá, Ceará (21) 7100.0163 (88) 3412.1282 [email protected] Área da propriedade Área da RPPN 928,00ha 300,00ha Coordenadas Sede UTM (SAD 69 – Data e número do ato legal de criação 24S) Portaria do IBAMA Nº 37-N de 16 de abril 9466000N/0502000E de 1999. Marcos e referências importantes Distância do centro urbano mais nos limites confrontantes próximo Unidade de Conservação Estadual: Aproximadamente 06 Km Monumento Natural Monólitos de Quixadá Meio principal de chegada à RPPN Bioma Terrestre/Automóvel Caatinga Atividades ocorrentes Foram realizadas pesquisas para o plano de manejo (fauna, flora, meio físico e socioeconômico). Ocorrem apenas atividades de proteção, fiscalização e pesquisa científica. 23 RPPN Não Me Deixes B - DIAGNÓSTICO 1. CARACTERIZAÇÃO DA RPPN A RPPN Não Me Deixes possui 300 hectares e encontra-se inserida na Fazenda Não Me Deixes a qual está localizada no município de Quixadá, Mesorregião dos Sertões Cearenses. É um remanescente ainda preservado do Bioma Caatinga. Bioma este que corresponde a aproximadamente 11% do território brasileiro. A nomenclatura “Caatinga” é de origem indígena (Tupi-guarani) que significa “matabranca”, ou seja, termo que se refere ao período de estiagem desse Bioma em que as folhas caem e ficam a mostra os galhos da vegetação. A RPPN Não Me Deixes apresenta boas condições de conservação, e propicia um ambiente para refúgio de muitas espécies normalmente encontradas no Bioma Caatinga e pode ser considerada de relevante interesse sociocultural e ambiental por conta das ações que serão desenvolvidas pelos seus proprietários e principalmente pelo grau de conservação da vegetação presente na Reserva. FIGURA 03: Mosaico de fotos da Fazenda Não Me Deixes. 24 RPPN Não Me Deixes 1.1. Caracterização dos fatores abióticos A geodiversidade expressa as particularidades do meio físico, compreendendo as rochas, o relevo, o clima, os solos e as águas, subterrâneas e superficiais. Tais atributos resultam da atuação cumulativa de processos geológicos múltiplos e, por sua vez, condicionam a paisagem e propiciam a diversidade biológica e cultural nela desenvolvidas, em permanente interação ao longo da evolução do planeta. O conhecimento da geodiversidade é essencial à abordagem criteriosa de qualquer região. Por preceder a biodiversidade, ajuda a entender a dinâmica ambiental vigente. Além disso, o subsolo pode conter recursos minerais, hídricos e energéticos, cujo aproveitamento precisa ser devidamente equacionado, para não comprometer a própria biodiversidade e a qualidade de vida dos seus habitantes. 1.1. 1. Clima Localizada na região do semiárido cearense, no município de Quixadá, a RPPN Não Me Deixes está inserida em uma região caracterizada por condições climáticas de exceção em relação aos climas zonais, peculiares à faixa de latitudes similares. Trata-se, por consequência, de um clima de posição azonal e de expressão regional, afetando um espaço geográfico global com 700.000 a 800.000 km² de área, denominado semiárido nordestino. (SOUZA, 2000). De acordo com IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, a temperatura nesta região varia entre 26ºC e 28ºC, com pluviosidade anual de 838,1mm, concentrada principalmente entre os meses de fevereiro e abril, sendo o mês de abril o de maior incidência de chuvas. Essa intensificação das chuvas neste período é causada pela influência da ZCIT – Zona de Convergência Intertropical. De acordo com Ceará. (CEARÁ, 1992 apud NIMER, 1977), no setor setentrional da região Nordeste, a marcha estacional das chuvas, que representa o principal componente do quadro climático da região, é regido pelo comportamento da ZCIT, onde durante o período correspondente ao verão-outono o sistema de correntes perturbadas de oeste, com pancadas de chuvas ocasionais, asseguram, quase exclusivamente, as máximas pluviais (FIGURA 04). Já no inverno-primavera, com o aquecimento deste sistema, essa região fica sob o domínio dos ventos anticiclonais de NE e de alta subtropical do Atlântico Sul, ocorrendo então o período de estiagem. 25 RPPN Não Me Deixes FIGURA 04: Zona de convergência intertropical (ZCIT) mostrada através das imagens do satélite METEOSAT-7. Fonte: (SILVA, 2006 apud CEARÁ FUNCEME, 2006) Neste contexto, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME, a RPPN Não Me Deixes está inserida em uma região de clima Tropical Quente Semiárido (MAPA 02). 26 RPPN Não Me Deixes 1.1.2. Geologia De acordo com o Atlas Geológico do Estado do Ceará (BRASIL. CPRM/CEARÁ, 2003), a litológica da região onde está localizada a RPPN Não Me Deixes apresenta três feições litológicas distintas, sendo uma sedimentar e duas ígneas: (MAPA 03) NQc – Ambiente sedimentar – Coberturas sedimentares de espraiamento aluvial: Sedimentos argilo-arenosos e areno-argilosos, de tons alaranjado, avermelhado e amarelado; apresentam-se, em certos locais, cascalhosos e laterizados na base (geralmente, o cimento é argiloso e ferruginoso)/fluvial. PPad - Unidade algodões: Paragnaisses diversos, em parte de protólito arcoseano, metabasaltos, anfibolitos, metaultramáficas e formações ferríferas, por vezes associados a sheets e diques de ortognaisses leucocráticos e mesotipos; adb – anfibiólitos e/ou anfibólio ganisses associados, em parte a gnaisses dioríticos e metaultramafitos. PPcc - Unidade Canindé: constituída de Paragnaisses em níveis distintos de metamorfismo-migmatização, incluindo ortognaisses ácidos (p. ex: em cogn) e rochas metabásicas: cβ - metagabros, anfibolitos com ou sem granada, e gnaisses dioríticos, associados ou não a enderbitos; c1 -β (ccs), formaçoes ferriferas (cfe) e ferro-manganesíferas, além de metaultramáticas (c µ); cgnl - granulitos máficos, enderbitos e leptinitos; caf - anfibólito gnaisses e/ou anfibolitos; PP(NP)cc - tratos onde são comuns os jazidamentos estratóides e diquiformes de granitóides neoproterozóicos, cinzentos e rosados, gnaissificados ou não e, em parte, facoidais. 28 RPPN Nâo Me Deixes 29 RPPN Não Me Deixes 1.1.3. Geomorfologia A RPPN Não Me Deixes geomorfologicamente está localizada no domínio das Depressões Sertanejas. Trata-se do domínio de maior abrangência espacial no estado do Ceará, sendo a maior parte da área composta de litologias datadas do pré-Cambriano. Tais formas de relevo exibem os reflexos de eventos tectônicos-estruturais remotos. Traduzem, igualmente, a relação da morfologia com os fatores litológicos e as evidências de flutuações climáticas Cenozóicas (SOUZA, 2000). Neste contexto, a RPPN Não Me Deixes apresenta um relevo plano com altimetria variando entre 200m e 220m de altitude. Sendo este relevo característico das depressões periféricas derivadas dos processos denudacionais. (MAPA 04). Dentre principais características desta unidade geomorfológica podem ser destacadas as seguintes: Acentuadas variações litológicas; Trucamento indiscriminado das litologias por processos de morfogênese mecânica; Revestimento generalizado por caatingas que possuem pequena espessura do manto de alteração das rochas; Ocorrência frequente de pavimentos e paleopavimentos; Deficiente capacidade de erosão linear em face da intermitência sazonal dos cursos d’água, justificando a pequena amplitude altimétrica entre os interflúvios e os fundos de vales; Desenvolvimento de áreas de acumulação inundáveis a jusante das rampas sedimentadas. 30 RPPN Não Me Deixes 31 RPPN Não Me Deixes 1.1.4. Solos De acordo com Zoneamento Agrícola do Estado do Ceará do ano de 1988, na porção norte da RPPN Não Me Deixes prevalece o solo Podizólico Vermelho Amarelo Eutrófico; na região central predomina o Solo Bruno Não Cálcico; e na poção sul o Regossolo Eutrófico. Segundo a FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos do Ceará, os podzólicos vermelho-amarelo eutróficos compreendem solos com horizonte B textural, não hidromórficos e com argila de atividade baixa. São, por conseguinte, solos de média a alta fertilidade natural. Apresentam sequência de horizontes A, Bt e C, com profundidade do A + Bt2, na maioria dos perfis, superior a 150cm, exceto nos solos rasos. No tocante ao solo bruno não cálcico, a FUNCEME define como solos com horizonte B textural, não hidromórficos e com argila de atividade alta. São de alta fertilidade natural, com alta saturação e soma de bases, reação moderadamente ácida a, praticamente, neutra, ou mesmo moderadamente alcalina, bem como conteúdo mineralógico que encerra quantidade significativa de minerais primários facilmente decomponíveis, os quais constituem fontes de nutrientes para as plantas. Já os regossolos possuem como principal característica solos profundos e arenosos com presença considerável de minerais primários de fácil intemperização. De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, (EMBRAPA, 2006), os solos podzólico vermelho-amarelo eutrófico e bruno não cálcico pertencem à ordem dos Luvissolos, subordem Crônico e os regossolos a ordem dos Neossolos, subordem Regolítico. (MAPA 5). 32 RPPN Não Me Deixes 33 RPPN Não Me Deixes 1.1.5. Hidrografia Os sistemas hidrográficos na região onde está localizada a RPPN Não Me Deixes, é caracterizado por uma drenagem exorréica dotada de rios intermitentes sazonais. No tocante às águas subterrâneas, devido às características de impermeabilidade das rochas cristalinas, ocorre um favorecendo do escoamento superficial, ficando as águas subterrâneas restritas à ocorrência de áreas diaclasadas ou fraturadas. É notório nesta região o caráter temporário da drenagem, com tendência natural para o regime de rios efêmeros ou esporádicos, alimentados por chuvas torrenciais ocorridas no período chuvoso. Na porção norte da RPPN Não Me Deixes a água que escoa da chuva neste período, formam lagoas naturais responsáveis por alimentar o Riacho da Pedra, na Sub-bacia do Choró (Bacia Metropolitana) e a Lagoa do Seixo, onde nasce o Riacho Mororó, um dos principais afluentes do Rio Sitiá que a montante é barrado formando o Açude Pedra Branca. Já na porção sul da RPPN, devido às características do solo, as chuvas tendem a infiltrar e formar nascentes intermitentes que formam pequenos riachos que alimentam o Riacho dos Caboclos, que assim como o Riacho Mororó, é um dos principais afluentes do Rio Sitiá que a montante é barrado formando o Açude Pedra Branca (MAPA 06). 34 RPPN Não Me Deixes 35 RPPN Não Me Deixes 1.2. Caracterização dos fatores bióticos 1.2.1. Vegetação Para levantamento da flora foi realizada uma viagem de campo nos dias 05, 06 e 07 de novembro. Durante a estadia na reserva foram realizadas trilhas, sem sistematização prévia, abrangendo o máximo possível da RPPN, acompanhadas por um mateiro, o Sr. Evandro, que informou os nomes populares das espécies observadas. Sempre que possível, as plantas foram fotografadas e tiveram ramos reprodutivos coletados (inflorescências, flores e/ou frutos). As amostras foram posteriormente prensadas para montagem de exsicatas com o objetivo de obter-se material de comparação para facilitar a identificação das espécies. Os principais materiais utilizados foram: GPS, máquina fotográfica, tesoura de poda, podão, fita métrica, prensa para material botânico, sacos plásticos, cordões para delimitação das parcelas, cadernos de campo para registro das informações e vara de medição para obter a altura das árvores. A amostragem fitossociológica e de fisionomias da vegetação foi realizada no mesmo período do levantamento florístico. Houve uma pré-seleção das áreas de sorteio das parcelas, através de imagens de satélite, de modo que houvesse uma representatividade da vegetação da RPPN, evitando, dessa maneira, que fossem inclusas áreas de corpos hídricos ou rochosas. Posteriormente, foram sorteadas aleatoriamente, montadas, com o auxílio de barbante, e analisadas parcelas de 10 x 10 metros, na área da RPPN, dentro das quais foram registrados valores de diâmetro e altura de todas as árvores e arbustos que se adequassem ao critério de inclusão. Nesse estudo foram incluídos indivíduos com perímetro maior que 9 centímetros e altura maior que 1 metro. A medida foi realizada na altura do solo uma vez que a RPPN encontra-se em área de caatinga, comumente caracterizada por árvores de pequeno porte e grande quantidade de arbustos. Nesse contexto, a medida na altura do peito não seria adequada, pois a 1,30 do solo muitas das plantas encontradas poderiam ter ramificações. O critério de medir apenas as maiores de um metro, evita a medida de cactos globosos e bromeliáceas (MORO; MARTINS, 2011). Todas as parcelas foram georreferenciadas para posterior zoneamento. O perímetro de cada indivíduo foi medido com o auxílio de uma fita métrica e a altura estimada por comparação com uma vara de alumínio composta por peças, de tamanhos conhecidos, que se encaixam permitindo a regulação da altura e a comparação com esta característica das árvores. Cada ramo ao nível do solo é considerado um indivíduo, entretanto, no presente levantamento quando observada uma rebrota partindo de um mesmo indivíduo, mas que ao nível do solo já 36 RPPN Não Me Deixes apresentava ramificação impedindo, desta maneira, a medição foram somados os perímetros dos ramos e considerado apenas um indivíduo. Tal procedimento é comum em levantamentos fitossociológicos e busca reduzir os erros de contabilizar um mesmo indivíduo duas vezes ou indivíduos diferentes da mesma espécie como um só (MORO, MARTINS, 2011). Entre os parâmetros analisados a partir dos dados fitossociológicos obtidos temos: número de indivíduos amostrados, densidades absoluta e relativa, frequências absoluta e relativa, dominâncias (área basal) absoluta e relativa. Esses valores auxiliaram na aquisição de informações tais como predominância de indivíduos, espécies mais comuns, espécies raras e estrutura sucessional da comunidade. Os parâmetros foram calculados utilizando-se o Microsoft Excel. Para construção da lista de espécies invasoras foram consultados, entre outros, a base de dados presente no site do Instituto Hórus (www.institutohorus.com.br) e o checklist de plantas da caatinga. Para verificação da presença de espécies ameaçadas de extinção foi consultada a “Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção”, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, disponível no site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br), foram descritas as principais fitofisionomias presentes na RPPN e feitas sugestões para o plano de manejo. 1.2.1.1. Flora e fitofisionomias Começamos a descrição da flora mostrando algumas espécies exóticas, invasoras ou ruderias que ocorrem na área de estudo. Na FIGURA 05 observamos uma espécie invasora que vem atualmente se difundindo bastante em áreas de caatinga, seu nome é Viúva-alegre (Cryptostegia grandiflora). No centro da FIGURA 05 pode ser observado um fruto aberto já sem suas sementes dispersas pelo vento. Com toda a sua superfície composta por tricomas urticantes, capazes de provocar queimaduras ou irritações na pela, podemos observar na FIGURA 06 o Cansanção (Cnidoscolus urens), uma espécie arbustiva que ocorre em vários ecossistemas brasileiros, muitas vezes ocorrendo naturalmente até mesmo em áreas urbanas antropizadas. Na sequência temos duas espécies bastante ruderais e também comumente encontradas em áreas antropizadas e até mesmo em terrenos urbanos abandonados, o Velame (Croton heliotropiifolius) e uma espécie herbácea de nome popular desconhecido (Sida ciliaris) (FIGURAS 07 e 08). 37 RPPN Não Me Deixes FIGURA 05: Viúva-alegre (Cryptostegia FIGURA grandiflora) planta (Jatropha urens) nas proximidades da proximidades da (coordenadas invasora lagoa nas dos 4º48’ seixos 53.86’ S lagoa 06: dos Cansanção seixos branco (coordenadas 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). 38º57’42.94”O) FIGURA 07: Flores masculinas inflorescência do velame heliotropiifolius) nas proximidades lagoa seixos dos na (Croton da (coordenadas 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). FIGURA 08: Herbácea (Sida ciliaris) nas proximidades da lagoa dos seixos (coordenadas 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O) coordenadas 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). Devido ao período das coletas não foram observadas muitas espécies arbóreas florescendo, como uma das poucas encontradas, podemos observar na FIGURA 09 e 10 flores e frutos imaturos da espécie popularmente chamada de Ameixa (Ximenia americana), a qual possui flores com odor característico, folhas dotadas de espinhos nas axilas e frutos comestíveis quando maduros. As figuras consecutivas evidenciam flores de quatro espécies de pequeno porte e típicas de áreas de caatinga: Passiflora foetida (FIGURA 11), espécie conhecida popularmente como Maracujá-domato; Piriqueta guianensis (FIGURA 12), Melochia pyramidata (FIGURA 13); e Jaquemontia sp. (FIGURA 14). 38 RPPN Não Me Deixes FIGURA 09: Flores da ameixa (Ximenia FIGURA 10: Frutos da ameixa (Ximenia americana) americana) (coordenadas 4º48’57.09’S (coordenadas 4º48’57.09’S 38º57’50.22”O). 38º57’50.22”O). FIGURA 11: Maracujá do mato (Passiflora FIGURA foetida) guianensis) na margem da (coordenadas estrada 4º48’39.15”S 38º58’25.03”O). FIGURA 13: pyramidata) na (coordenadas 12: na (coordenadas Herbácea margem (Piriqueta da estrada 4º48’39.15”S 38º58’25.03”O). Herbácea margem da (Melochia FIGURA 14: Herbácea (Jaquemontia sp.) estrada na margem da estrada (coordenadas 4º48’39.15”S 4º48’39.15”S 38º58’25.03”O). 38º58’25.03”O). 39 RPPN Não Me Deixes A lista obtida a partir de dados levantados na RPPN Não Me Deixes consta de 74 espécies citadas na TABELA 2. A maior representatividade de arbóreas e trepadeiras em relação às herbáceas deve-se ao fato de que a coleta foi realizada no período seco, quando as herbáceas não se encontram em estado vegetativo. Este fato também dificultou a identificação de algumas espécies, de modo que 8 foram identificadas apenas até família e 18 até gênero. TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará. NOME POPULAR ESPÉCIE FAMÍLIA HÁBITO Melosa Ruellia asperula (Nees) Lindou Acanthaceae Herbácea Melosa Ruellia sp. Acanthaceae Herbácea Aroeira Myracrodruon urundeuva Allemão Anacardiaceae Arbórea Alamanda Allamanda sp. Apocynaceae Trepadeira Pereiro Aspidosperma pyrifolium Mart. Apocynaceae Arbórea Viúva-alegre Cryptostegia grandiflora R. Br. Apocynaceae Trepadeira S/N Stilpnopappus trichospiroides Mart. ex DC. Asteraceae Herbácea Cipó1 Bignoniaceae sp. 1 Bignoniaceae Trepadeira Cipó 2 Bignoniaceae sp. 2 Bignoniaceae Trepadeira Cipó 3 Bignoniaceae sp. 3 Bignoniaceae Trepadeira Bignoniaceae sp. 4 Bignoniaceae Trepadeira Pau d'arco roxo Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Bignoniaceae Arbórea Pacotê Cochlospermum vitifolium (Willd.) Spreng. Bixaceae Arbórea Boraginaceae Arbórea Cipó laça vaqueiro Pau branco loro Cordia glazioviana (Taub.) Gottschling & J.S. Mill. Pau branco preto Cordia oncocalyx Allemão Boraginaceae Arbórea Frei jorge Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. Boraginaceae Arbórea S/N Heliotropium sp. Boraginaceae Herbácea Cipaúba Boraginaceae sp. 1 Boraginaceae Arbórea Croatá Bromelia sp. Bromeliaceae Suculenta Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett Burseraceae Arbórea Imburana de espinho Suculenta/ Mandacaru Cereus jamacaru DC. Feijão brabo Capparis sp. Capparaceae Mufumbo Combretum leprosum Mart. Combretaceae Salsa Ipomoea sp. Convolvulaceae Trepadeira Jitirana Ipomoea bahiensis Willd. ex Roem. & Schult. Convolvulaceae Trepadeira Cactaceae Arbórea Arbórea/ Arbustiva Arbórea 40 RPPN Não Me Deixes TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará. (continuação) NOME POPULAR ESPÉCIE FAMÍLIA HÁBITO S/N Jaquemontia sp. Convolvulaceae Trepadeira Marmeleiro preto Croton blanchetianus Baill. Euphorbiaceae Arbórea Velame Croton heliotropiifolius Kunth. Euphorbiaceae Arbustiva Croton sp. Euphorbiaceae Arbórea Jatropha mollissima (Pohl) Baill. Euphorbiaceae Arbórea Jatropha urens L. Euphorbiaceae Arbustiva Maniçoba Manihot glaziovii Müll. Arg. Euphorbiaceae Arbórea Purga de leite Sapium lanceolatum (Müll. Arg.) Huber Euphorbiaceae Arbórea Espinheiro Acacia glomerosa Benth Fabaceae Arbórea Cumaru Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm. Fabaceae Arbórea Angico Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Fabaceae Arbórea Mororó Bauhinia sp. Fabaceae Arbórea Marizeira Calliandra spinosa Ducke Fabaceae Arbórea Feijão de porco Canavalia sp. Fabaceae Trepadeira Cunhã Centrosema sp. Fabaceae Trepadeira Fabaceae Arbórea Marmeleiro branco Pinhão Cansanção branco Canafístula braba Chamaecrista duckeana (P. Bezerra & Afr. Fernandes) H.S. Irwin & Barneby Pau violeta Dalbergia cearensis Ducke Fabaceae Arbórea Mucunã Dioclea violaceae Mart. ex Benth Fabaceae Trepadeira Jucá Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz Fabaceae Arbórea Pau mocó Luetzelburgia auriculata (Allemão) Ducke Fabaceae Arbórea Sabiá Mimosa caesalpiniifolia Benth. Fabaceae Arbórea Malícia de boi Mimosa sp. 1 Fabaceae Arbustiva Unha de gato Mimosa sp. 2 Fabaceae Arbórea Jurema preta Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Fabaceae Arbórea Jurema branca Piptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke Fabaceae Arbórea Surucucu Piptadenia viridiflora (Kunth) Benth. Fabaceae Arbórea Fabaceae Arbórea Catanduba Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow & R. W. Jobson Catingueira Poincianella bracteosa (TUL.) L.P.Queiroz Fabaceae Arbórea Matapasto Senna sp. 1 Fabaceae Herbácea Junco Senna sp. 2 Fabaceae Arbórea São joão Senna sp. 3 Fabaceae Arbórea Bamburral Hyptis suaveolens (L.) Poit. Lamiaceae Herbácea S/N Cuphea campestris Mart. ex Koehne Lythraceae Herbácea 41 RPPN Não Me Deixes TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará. (continuação) NOME POPULAR ESPÉCIE FAMÍLIA HÁBITO Cabeça de nego Malpighiaceae sp. 1 Malpighiaceae Trepadeira Cipó branco Malpighiaceae sp. 2 Malpighiaceae Trepadeira Saca-rolha Helicteres sp. Malvaceae Arbustiva S/N Melochia pyramidata L. Malvaceae Herbácea Malvaceae Arbórea Embiratanha Pseudobombax marginatum (A. St.-Hil., Juss. & Cambess.) A. Robyns Malva Sida ciliaris L. Malvaceae Herbácea S/N Waltheria rotundifolia Schrank Malvaceae Herbácea Nyctaginaceae Arbórea Olacaceae Arbórea João mole Ameixa Guapira graciliflora (Mart. ex J.A. Schmidt) Lundell Ximenia americana L. Maracujá do mato Passiflora foetida L. Juazeiro Vassoura de botão Ziziphus joazeiro Mart. Spermacoce verticillata L. Passifloraceae Trepadeira Rhamnaceae Arbórea Rubiaceae Herbácea Canapum Cardiospermum corindum L. Sapindaceae Trepadeira Malva Piriqueta guianensis N. E. Br. Turneraceae Herbácea Chumbinho Lantana camara L. Verbenaceae Arbustiva S/N Stachytarpheta sp. Verbenaceae Arbustiva Houve predominância de leguminosas com 23 e euphorbiaceas com 7 espécies, como é comum em áreas de caatinga (SAMPAIO, 1995). Entretanto, houve contribuição significativa das famílias Bignoniaceae, Boraginaceae e Malvaceae com 5 espécies cada uma. Na família Bignoniaceae apenas uma espécie é arbórea o Pau d’árco roxo (Tabebuia impetiginosa), as demais são cipós que após algumas chuvas esporádicas estavam em plena floração, tal como o Cipó laça vaqueiro (Bignoniaceae sp. 4). Entre as boragináceas o destaque foi para as arbóreas de grande porte representadas pelo Pau branco loro (Cordia glazioviana), Pau branco preto (Cordia oncocalyx), Frei jorge (Cordia trichotoma) e Cipaúba (Boraginaceae sp. 1), tais espécies, embora frequentes em áreas de caatinga, não costumam ser encontradas com tanta abundância em uma mesma área, além do que as duas primeiras tem distribuição restrita, sendo o Pau branco preto (C. oncocalyx) endêmico da caatinga. Na família Malvacea, 3 das 5 espécies são herbáceas que, devido a chuvas ocasionais ocorridas na área, apresentavam-se com flores no período da viagem de 42 RPPN Não Me Deixes campo. Este fato reforça a importância de ocorrerem coletas ao longo do ano, em diferentes períodos, de modo a ter uma maior representatividade de herbáceas na lista florística. O Pereiro (Aspidosperma pyrifolium) e a Ameixa (Ximenia americana) também encontravam-se em plena floração na época da viagem de campo, bem como alguns cipós da família Malpighiaceae, entre eles um conhecido na área por Cabeça de nego (Malpighiaceae sp. 1). A Aroeira (Myracrodruon urundeuva), espécie presente na área, consta na lista do IBAMA como ameaçada de extinção (http://www.ibama.gov.br/documentos/lista-de-especies-ameacadas-de-extincao), ocorre grande pressão sobre esta espécie devido ao uso medicinal de sua casca e utilização da madeira. Pela presença de espécies típicas tais como: Catingueira (Poincianella bracteosa), Jucá (Libidibia ferrea), Pereiro (Aspidosperma pyrifolium), Marmeleiro (Croton blanchetianus), Juazeiro (Ziziphus joazeiro), Cumaru (Amburana cearensis), Imburanade-espinho (Comiphora leptophloeos), Aroreira (Myracrodruon urundeuva), Pau-branco preto (Cordia oncocalyx) entre outras, além da fisionomia característica observada, podemos considerar a área composta por caatinga arbórea a arbustiva dependendo da área observada dentro da RPPN. A vegetação na RPPN apresenta espécies típicas de caatinga (savana estépica sensu (VELOSO, 1991), Algumas árvores de grande porte o que caracteriza um bom estado de conservação da área. O solo é coberto por serrapilheira resultante da renovação das folhas o que contribui também para o estabelecimento de novas plantas. Não foi possível observar o estrato herbáceo visto que, embora tivessem ocorrido algumas chuvas esporádicas, a viagem foi realizada no período seco, quando as plantas herbáceas se encontram representadas quase exclusivamente pelo banco de sementes do solo. Isso decorre do fato de que na caatinga essas plantas completam todo o ciclo reprodutivo no período chuvoso. Algumas, entretanto, foram encontradas em áreas mais abertas, beiras de estradas e proximidades das regiões habitadas no entorno da área da RPPN. Embora, de maneira geral, a área encontre-se em bom estado de conservação, foram observadas muitas árvores mortas, cipós, plântulas e rebrotas o que significa que em maior ou menor grau houve um impacto na área gerando um estágio sucessional secundário. O predomínio do Marmeleiro preto (Croton blanchetianus), encontrado em todas as parcelas amostradas e em grande número de indivíduos também nos fornece indícios de regeneração na comunidade, uma vez que esta é uma espécie considerada pioneira, comum em locais que estão se recuperando após alterações ambientais. O Sr. Evandro informou que alguns locais eram roçados há décadas atrás e 43 RPPN Não Me Deixes que em algumas áreas havia entrada de gado. Além disso, ocorre plantio de culturas como milho e feijão, muito próximo à região da RPPN. Nesses locais a vegetação nativa é retirada, às vezes com o uso do fogo, que acrescenta o risco de incêndios. Essas atividades provocam modificações na comunidade vegetal e podem afetar as áreas do entorno da RPPN. 1.2.1.2. Levantamento fitossociológico De acordo com a TABELA 3, que traz as coordenadas das parcelas e o número de espécies e indivíduos encontrados nestas, podemos afirmar que a parcela com maior quantidade de espécies e indivíduos foi a quatro, com 13 e 42, respectivamente. TABELA 3: Georreferencimento e diversidade de espécies nas cinco parcelas de 10x10m na RPPN Não Me Deixes, Quixadá, CE. Parcela Coordenadas Número de espécies Número de indivíduos 1 4º48'35.25" 38º57'44.80" 11 37 2 4°48'33.64" 38°57'42.35" 10 31 3 4º48'32.97" 38º57'43.49" 10 39 4 4º48'34.41" 38º57"41.92" 13 42 5 4º48'36.97" 38º57'44.69" 5 30 Na TABELA 4 temos os dados fitossociológicos que indicam a predominância em número de indivíduos do Marmeleiro preto (Croton blanchetianus), foram medidos 71 indivíduos desta espécie nas parcelas. Os seguintes, em número de indivíduos, foram Unha de gato (Mimosa sp. 2) com 22, Cipaúba (Boraginaceae sp. 1) com 17, Catingueira (Poincianella bracteosa) com 15 e Mofumbo (Combretum leprosum) com 11. O Marmeleiro preto (C. blanchetianus) também foi a espécie com maior área basal 2257 cm² representando 22,42% da área basal total, entretanto, este valor está associado ao grande número de indivíduos e não ao grande porte destes. Esta espécie é considerada indicadora de sucessão secundária, sendo pioneira em casos de recuperação de áreas que foram alteradas por impactos ambientais. A sua dominância indica uma possível alteração na área da reserva, provavelmente submetida a impactos antrópicos. Seguindo em ordem decrescente de área basal temos Catingueira (P. bracteosa) com 1731 cm², Cipaúba (Boraginaceae sp. 1) com 1229 cm², Mofumbo (C. leprosum) com 1203 cm² e Unha de gato (Mimosa sp. 2) com 678 cm². Todavia, esses altos valores de áreas basais 44 RPPN Não Me Deixes refletem mais a soma de muitos indivíduos do que o grande porte de cada um, haja vista que ocorre uma sobreposição entre as espécies mais numerosas e com os maiores valores de área basal. Para ter uma idéia mais clara disso ao dividir a área basal pelo número de indivíduos a espécie que obteve maior valor foi o Pau d’árco (Tabebuia impetiginosa), seguida por João mole (Guapira graciliflora), Catingueira (P. bracteosa), Mofumbo (C. leprosum) e Catanduba (Pityrocarpa moniliformis). Dos cinco representantes com maiores valores, três não estavam entre os mais abundantes e nem entre as espécies com área basal maior, o que indica que estas são as espécies com indivíduos de maior porte na área. Foram observados indivíduos de grande porte entre espécies de crescimento lento, o que indica um bom estado de conservação. Então, temos possivelmente uma área bem conservada, mas que está sofrendo algumas pressões, tais como corte para uso da madeira como lenha e pastejo de gado o que fica evidente pela dominância do Marmeleiro preto. TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Não Me Deixes. * N = abundância absoluta de indivíduos; N % = Abundância relativa; Fr = freqüência de ocorrência das espécies nas parcelas de 100m² (%) variando de 20 quando ocorrentes em apenas uma parcela a 100 quando observas em todas as parcelas; AB = área basal em cm²; AB % = porcentagem de área basal. Nome popular Cipó laçavaqueiro Pau d'arco Bignoniaceae sp. 2 Bignoniaceae 1 0,56 20 62 0,62 Bignoniaceae 1 0,56 20 306 3,04 impetiginosa (%) Fr AB AB Família Tabebuia N N Espécie % Cipaúba Boraginaceae sp. 1 Boraginaceae 17 9,55 60 1229 12,21 Pau branco loro Cordia glazioviana Boraginaceae 9 5,06 80 491 4,88 Mandacaru Cereus jamacaru Cactaceae 5 2,81 60 457 4,54 Mofumbo Combretum leprosum Combretaceae 11 6,18 100 1203 11,95 Marmeleiro preto Croton blanchetianus Marmeleiro Euphorbiaceae 71 39,89 100 2257 22,42 Croton sp. Euphorbiaceae 3 1,69 20 77 0,76 Pinhão Jatropha mollissima Euphorbiaceae 1 0,56 20 18 0,18 Maniçoba Manihot glaziovii Euphorbiaceae 2 1,12 20 80 0,79 Cumaru Amburana cearensis Fabaceae 5 2,81 40 453 4,50 Fabaceae 4 2,25 40 131 1,30 branco Canafístula Chamaecrista duckeana 45 RPPN Não Me Deixes TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Não Me Deixes. (continuação) * N = abundância absoluta de indivíduos; N % = Abundância relativa; Fr = freqüência de ocorrência das espécies nas parcelas de 100m² (%) variando de 20 quando ocorrentes em apenas uma parcela a 100 quando observas em todas as parcelas; AB = área basal em cm²; AB % = porcentagem de área basal. Nome popular Espécie Família Mucunã Dioclea violaceae Fabaceae 1 Unha de gato Mimosa sp. 2 Fabaceae Jurema branca Piptadenia stipulaceae Pityrocarpa Catanduba moniliformis Poincianella Catingueira bracteosa N N (%) 0,56 Fr 20 AB AB % 8 0,08 22 12,36 80 678 6,73 Fabaceae 2 1,12 40 153 1,52 Fabaceae 2 1,12 40 198 1,97 Fabaceae 15 8,43 100 1731 17,19 Cipó branco Malpighiaceae sp. 2 Malpighiaceae 3 1,69 40 30 0,30 João mole Guapira graciliflora Nyctaginaceae 3 1,69 60 507 5,04 Total 178 10069 Com relação à frequência de ocorrência nas parcelas apenas três espécies foram encontradas em todas, o que pode significar uma distribuição homogênea destas. Entre elas temos o Marmeleiro preto (C. blanchetianus), a Catingueira (P. bracteosa) e o Mofumbo (C. leprosum). 1.2.1.2.1. Dados fitossociológicos da parcela 1 A parcela 1, como se percebe na FIGURA 15, foi delimitada em uma área semiaberta que apresentava poucas herbáceas, principalmente devido à pequena representação de tal grupo durante o período seco. Havia grande deposição de serrapilheira (FIGURA 16), resultante principalmente da queda das folhas das arbóreas caducifólias. Essa deposição é importante para a proteção do solo contra erosão e agregação de nutrientes. Gramíneas esparsas também podiam ser observadas no local. 46 RPPN Não Me Deixes FIGURA 15: Aspecto geral da parcela 1 FIGURA 16: Serrapilheira e gramíneas no (coordenadas solo 4º48'35.25"S 38º57'44.80"O). da parcela 1 (coordenadas 4º48'35.25"S 38º57'44.80"O). Como pode ser observado na FIGURA 17, houve predomínio da classe de altura de 4 a 6 metros agrupando 13 indivíduos. Nove indivíduos ficaram entre seis e oito metros de altura e a classe seguinte, entre oito e dez metros, abrangeu oito indivíduos. Quatro, ficaram entre dez e doze metros, dois indivíduos entre dois e quatro metros e apenas um foi menor que dois metros. Com relação aos perímetros, todos os indivíduos amostrados tiveram entre nove e quarenta centímetros de perímetro. Portanto, nesta parcela os indivíduos, em sua maioria, são jovens, como fica claro na concentração destes nas menores classes de valores de perímetro. Outro ponto a ser ressaltado, é que perece existir uma tendência a maior investimento em altura do que em diâmetro (FIGURA 18) por parte das espécies vegetais. Além do pequeno porte, o destaque do Marmeleiro preto (Croton blanchetianus) como principal espécie encontrada na parcela, com doze dos trinta e sete indivíduos mensurados, leva à suposição de que a área se encontra em estado de recuperação após alterações ocorridas devido à característica dela como pioneira. FIGURA 17: Estrutura vertical da parcela 1. 47 RPPN Não Me Deixes FIGURA 18: Estrutura horizontal da parcela 1. 1.2.1.2.2. Dados fitossociológicos da parcela 2 Nas FIGURAS 19 e 20, pode ser vista a floração do Pereiro (Aspidosperma pyrifolium). Como é destacado nas figuras, ocorre produção de grande quantidade de flores e sincronização na floração dos indivíduos. Esta espécie é bem comum na caatinga e foi observada no limite da parcela. FIGURA 19: (Aspidosperma FIGURA 20: Detalhe da flor do Pereiro pyrifolium) planta com flores e frutos na (Aspidosperma pyrifolium) na parcela 2 parcela (coordenadas 2 Pereiro (coordenadas 38°57'42.35'O). 4°48'33.64'S 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). Nas FIGURAS 21 e 22 podem ser observados alguns aspectos da parcela 2. A área na qual a parcela 2 se localiza, apresenta vegetação semiaberta, com muita serrapilheira depositada sobre o solo, apresentando algumas plântulas de espécies arbóreas em desenvolvimento, capim em alguns lugares e árvores mortas. As árvores 48 RPPN Não Me Deixes encontravam-se com folhas, embora fosse período seco e a maioria delas seja caducifólia, devido a algumas chuvas ocorridas na região no período anterior à viagem. A presença de muitas espécies arbóreas jovens, que nem sequer atingiram os parâmetros mínimos para serem contabilizadas, ou seja, eram menores que um metro de altura ou apresentavam menos que nove centímetros de perímetro, apresentaram-se significativa. E nesta parcela, assim como na anterior havia predomínio do Marmeleiro preto (Croton blanchetianus), representando dezessete dos trinta e um indivíduos amostrados. Essas duas observações indicam que a área apresenta-se em estágio de regeneração. FIGURA 21: Aspecto geral da parcela 2 FIGURA (coordenadas serrapilheira 38°57'42.35'O). 4°48'33.64'S 22: Grande no (coordenadas solo quantidade da parcela de 2 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). As FIGURAS 23 e 24 representam a distribuição vertical e horizontal dos indivíduos mensurados na parcela 2. Como é possível observar, existe uma concentração entre as classes de menores valores de altura. Embora apenas um indivíduo tenha menos que dois metros, essa concentração é evidente nas classes de dois a quatro e de quatro a seis metros de altura, ambas englobando 12 indivíduos. Quatro e dois indivíduos se distribuíram, respectivamente, nas classes de seis a oito e de oito a dez metros de altura. E nenhum atingiu mais de dez metros de altura. O que indica uma predominância de indivíduos jovens. A estrutura horizontal reforça essa indicação, pois os indivíduos, em sua maioria, tiveram perímetro menor que dois centímetros. Nove indivíduos tiveram entre vinte e quarenta e apenas um, mais de 40 centímetros de perímetro. Todas essas informações reforçam a hipótese de que a área foi submetida a impactos ambientais que alteraram a estrutura e organização da comunidade vegetal. 49 RPPN Não Me Deixes FIGURA 23: Estrutura vertical da parcela 2. FIGURA 24: Estrutura horizontal da parcela 2. 1.2.1.2.3. Dados fitossociológicos da parcela 3 Como pode ser observado nas FIGURAS 25, 26 e 27, a parcela 3 foi delimitada em uma área composta por vegetação aberta, com muitos cipós, foram observadas algumas árvores mortas, o solo estava coberto com serrapilheira e havia muitas plântulas e indivíduos jovens de espécies arbóreas em desenvolvimento. Nas proximidades da parcela havia alguns indivíduos de grande porte como o Frei jorge (Cordia trichotoma), observado na FIGURA 28. Alguns representantes bem característicos da caatinga também foram observados nas proximidades como o Cumaru (Amburana cearensis) e a Embiratanha (Pseudobombax marginatum), presentes nas FIGURAS 29 e 30. 50 RPPN Não Me Deixes FIGURA 25: Área com muitos cipós na FIGURA 26: Serrapilheira, plântulas em parcela recrutamento e algumas árvores mortas 3 (coordenadas 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). na parcela 3 (coordenadas 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). FIGURA 27: Área aberta na parcela 3 FIGURA 28: Aspecto do caule do Frei (coordenadas jorge 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). (Cordia trichotoma) nas proximidades da parcela 3 (coordenadas 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). FIGURA 29: Aspecto do caule do Cumaru FIGURA (Amburana 3 Embiratanha 4º48'32.97"S marginatum) cearensis) (coordenadas 38º57'43.49"O). na parcela 30: Aspecto do caule da (Pseudobombax nas proximidades da parcela 3 (coordenadas 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). 51 RPPN Não Me Deixes As FIGURAS 31 e 32 referem-se à representação das distribuições vertical e horizontal da parcela 3. Nenhum indivíduo apresentou altura menor que dois metros, embora a concentração deles tenha sido nas classes de valores inferiores de altura, a maioria se agrupou entre dois e seis metros. Poucos representantes se distribuíram nas demais classes, havendo apenas dois representantes entre 10 e 12 e também maiores que 12 metros. Com relação ao perímetro, a maioria dos espécimes mensurados apresentou este parâmetro menor que 20 centímetros, houve uma boa representatividade também na classe de 20 a 40 centímetros, sendo esta composta por 14 representantes. As demais classes foram compostas por poucos (de 40 a 60 e de 60 a 80 centímetros) ou nenhum indivíduo (de 80 a 100 e maiores que 100 centímetros). Novamente encontramos uma predominância de indivíduos de pequeno porte, entretanto nesta parcela foram observados alguns mais velhos que possivelmente são a fonte de sementes e propágulos para a regeneração da área através da germinação e desenvolvimento de novos indivíduos. FIGURA 31: Estrutura vertical da parcela 3. FIGURA 32: Estrutura horizontal da parcela 3. 52 RPPN Não Me Deixes 1.2.1.2.4. Dados fitossociológicos da parcela 4 A vegetação na parcela 4 é semiaberta e o solo coberto com bastante serrapilheira, como pode ser observado nas FIGURAS 33 e 34. Foram observados também indivíduos jovens de espécies arbóreas e indivíduos grandes, mais velhos, espaçados. FIGURA 33: Solo coberto por FIGURA 34: Área semiaberta na parcela serrapilheira e grande quantidade de 4 plântulas em recrutamento na parcela 4 38º57"41.92"O). (coordenadas (coordenadas 4º48'34.41"S 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). Esta foi a parcela com maior número, tanto de espécies quanto de indivíduos. Foi observado Cumaru (Amburana cearensis) de grande porte morto dentro da parcela. Segundo informações do senhor Evandro a árvore não resistiu à ação de pessoas que, em busca de capturar uma colmeia de abelhas nativas, atearam fogo na planta. Essa ação, assim como a retirada de madeira das cascas das árvores sem os devidos cuidados, pisoteio da área pelo homem e animais domésticos, caça de polinizadores (como no caso das abelhas nativas) ou animais dispersores de sementes, entre outros podem alterar as funções da comunidade vegetal causando impactos no ambiente como um todo. Foram observados também nessa área alguns Mandacarus de grande porte (Cereus jamacaru) e um grande cupinzeiro sobre um Mandacaru e uma Catingueira (Poincianella bracteosa) como pode ser visto na FIGURA 35. Havia também um grande formigueiro próximo à área da parcela 4, e o Pinhão manso (Jatropha molissima) estava em período de floração (FIGURA 36). 53 RPPN Não Me Deixes FIGURA 35: Cupinzeiro sobre uma FIGURA 36: Flores masculinas do Pinhão Catingueira (Poincianella bracteosa ) e um manso (Jatropha molissima) na parcela 4 Mandacaru (Cereus jamacaru) na parcela 4 (coordenadas (coordenadas 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). De acordo com o que pode ser verificado nas FIGURAS 37 e 38, onde temos a representação gráfica da estrutura vertical e horizontal da comunidade vegetal, esta parcela apresenta tanto indivíduos jovens quanto mais velhos de grande porte. A maior concentração destes ficou entre quatro e seis metros, alguns foram maiores que dez, chegando a quinze metros de altura, valor incomum para espécies da caatinga, que comumente apresentam baixa estatura quando comparada com formações florestais. Nove espécimes ficaram entre dois e quatro metros e nenhum foi menor que dois metros. Com relação ao perímetro, houve concentração dos indivíduos em valores de quarenta centímetros ou menores. Poucos ficaram entre 40 e 80, e nenhum teve mais que 80 centímetros de perímetro. FIGURA 37: Estrutura vertical da parcela 4. 54 RPPN Não Me Deixes FIGURA 38: Estrutura horizontal da parcela 4. 1.2.1.2.5. Dados fitossociológicos da parcela 5 A vegetação na parcela 5 era semiaberta, com muitas espécies arbóreas em estágios iniciais de desenvolvimento e abundante serrapilheira sobre o solo, como observa-se nas FIGURAS 39 e 40. FIGURA 39: Área semiaberta na parcela FIGURA 5 serrapilheira e grande quantidade de (coordenadas 38º57'44.69"O). 4º48'36.97"S 40: Solo coberto por plântulas em recrutamento na parcela 5 (coordenadas 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). A deposição de serrapilheira traz muitos benefícios, entre eles permite a ciclagem rápida de nutrientes e sua disponibilidade nas camadas superficiais do solo além de auxiliar na retenção de umidade. Segundo informações do senhor Evandro esta área havia sido um roçado há mais de 30 anos. É possível que tal fato tenha relação com esta ser a parcela com menor diversidade, apresentando apenas 5 espécies arbóreas com o critério mínimo para inclusão nos dados fitossociológicos. 55 RPPN Não Me Deixes Alguns cipós estavam em plena floração como vemos nas FIGURAS 41 e 42, estes são pertencentes à família Malpighiaceae. Os cipós são mais comuns em áreas de vegetação aberta ou naquelas que apresentam clareiras, comumente decorrentes da morte de indivíduos de grande porte, ou ainda, nas que se apresentam em estágios iniciais de sucessão, seja pelo começo da colonização do ambiente ou pela regeneração de uma comunidade atingida por impactos ambientais. FIGURA 41: (Malpighiaceae (coordenadas Cipó cabeça de nego 1) na parcela 5 4º48'36.97"S FIGURA 42: Cipó (Malpighiaceae 2) próximo à parcela 5 (coordenadas 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). 38º57'44.69"O). Observando as FIGURAS 43 e 44, representativos da estrutura vertical e horizontal da parcela 5, podemos notar que a distribuição das alturas foi concentrada entre quatro e seis metros. Nenhum indivíduo foi menor que dois metros e poucos foram maiores que seis. No gráfico com os valores de perímetro apresentados pelas espécies vegetais, houve concentração nos menores que 20 centímetros, no qual se agruparam dezessete indivíduos. Seguido por doze, inclusos entre vinte e quarenta centímetros. Apenas um indivíduo teve o perímetro maior que quarenta. Esses dados mostram que predominam indivíduos pequenos, ainda em estágios iniciais de desenvolvimento, sendo possível que a área esteja em recuperação após a interferência ocorrida na vegetação pelo plantio de culturas em décadas anteriores. FIGURA 43: Estrutura vertical da parcela 5. 56 RPPN Não Me Deixes FIGURA 44: Estrutura horizontal da parcela 5. 1.2.2. Fauna 1.2.2.1. Mastofauna Mesmo apresentando características que dificultam a sobrevivência dos mamíferos num ambiente árido, (OLIVEIRA et al. 2003) relaciona 143 espécies de mamíferos para o bioma caatinga (10 endêmicas), número próximo do cerrado (159), mas bem distante do número encontrado para a mata atlântica (229) por (FONSECA et al. 1996). Esses números podem ser maiores segundo (MMA, 2002): 148 para a caatinga, 195 para o cerrado e 250 para a mata atlântica. (OLIVEIRA et al. 2003) afirma que enquanto algumas espécies estão bem distribuídas na caatinga, outras se encontram bem restritas a certas áreas, formando comunidades de mamíferos geograficamente distintas dentro da caatinga. Esse resultado mostra a importância de se inventariar até mesmo pequenas áreas e a criação de unidades de conservação na caatinga. Afirma também que o centro do Ceará é uma área potencialmente relevante para a conservação de mamíferos da caatinga, mas por não possuir informações publicadas, torna-se uma área prioritária para inventários mastozoológicos. O fato de grande parte das pesquisas sobre a fauna da caatinga ter sido concentrada em alguns pontos, geralmente próxima aos limites da caatinga e em enclaves mésicos, aumenta a necessidade de mais inventários e criação de unidades de conservação no centro do Ceará, onde se localiza a Depressão Sertaneja Setentrional. 57 RPPN Não Me Deixes O levantamento da mastofauna da RPPN Não Me Deixes foi realizado através de busca em campo dentro da propriedade e no seu entorno nos dias 20 a 24 de maio de 2011, e entrevistas com moradores locais. No total, 19 espécies foram registradas como existentes dentro na RPPN e uma no entorno, totalizando 20 espécies. A espécie considerada como existente no entorno foi a onça-parda (Puma concolor), incluindo relatos de sua existência em cidades próximas, como Quixeramobim e Chorozinho. Essa espécie, junto com o gato-do-mato Leopardus tigrinus, são as duas espécies de mamíferos ameaçadas de extinção (MMA, 2003) registradas na área. Apesar de não constar como ameaçadas, nove espécies da RPPN sofrem grande ameaça devida a caça na região: Cassaco (Didelphis albiventris), Tatu (Dasypus novemcinctus), Peba (Euphractus sexcinctus), Mambira (Tamandua tetradactyla), Punaré (Thrichomys apereoides), Preá (Galea spixii), Mocó (Keredon rupestris), Jirita (Conepatus semistriatus) e Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira). Acredita-se que essas espécies estão desaparecendo localmente devido a essa atividade, além da perda de hábitat. (TABELA 5). FIGURA 45: Raposa – Cerdocyon thous. FIGURA 46: Soim – Callithrix jacchus. FIGURA 47: Mambira – Tamandua tetradactyla. 58 RPPN Não Me Deixes TABELA 5: Lista da Mastofauna da RPPN Não Me Deixes. Nome científico Nome popular DIDELPHIDAE Didelphis albiventris Cassaco Gracilinanus agilis Catita DASYPODIDAE Dasypus novemcinctus Tatu Euphractus sexcinctus Peba MYRMECOPHAGIDAE Tamandua tetradactyla Mambira CEBIDAE Callithrix jacchus Soim Cebus libidinosus Macaco-prego CRICETIDAE Wiedomys pyrrhorhinos Rato-nariz-vermelho ECHIMYIDAE Thrichomys apereoides Punaré CAVIDAE Galea spixii Preá Kerodon rupestris Mocó PHYLLOSTOMIDAE Desmodus rotundus Morcego-vampiro FELIDAE Leopardus tigrinus Gato-do-mato Puma yagouaroundi Gato-mourisco Puma concolor Onça-parda CANIDAE Cerdocyon thous Raposa MUSTELIDAE Eira Barbara Papa-mel MEPHITIDAE Conepatus semistriatus Jirita PROCYONIDAE Procyon cancrivorus Guaxinim CERVIDAE Mazama gouazoubira Veado-catingueiro 59 RPPN Não Me Deixes 1.2.2.2. Avifauna Mesmo com algumas aves típicas da caatinga descritas no século XVIII, até a década de 1820 era impensada uma associação específica de um grupo de aves com o bioma (PACHECO & BAUER, 2000). Com a vinda da corte portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos, viajantes naturalistas não portugueses puderam entrar no Brasil, fazendo diversas expedições pela caatinga. Uma evidência desse fato é que grandes psitacídeos endêmicos da caatinga só foram descritos depois dessa década (Anodorhynchus leari e Cyanopsitta spixii) A caatinga possui 347 espécies de aves (PACHECO & BAUER, 2000). Considerando os brejos florestados e Campos rupestres, ambientes isolados dentro da caatinga, esse número chega a 510 espécies (SILVA et. al, 2003). Isso representa aproximadamente 30% das espécies registradas no Brasil. Também, o bioma caatinga é considerado por (CRACRAFT, 1985), como um centro de endemismo para aves. As aves são fundamentais para o equilíbrio das relações entre plantas e animais, pois diversas plantas têm sua dispersão de sementes dependentes das aves. Além disso, várias famílias de aves possuem espécies polinizadoras, principalmente Trochilidae e Thraupidae (ROCCA, 2008). Grande parte das aves atua como controladora de insetos, sendo diversas espécies insetívoras e outras que complementam sua dieta com artrópodos. Da mesma forma que algumas plantas dependem de aves para polinização e dispersão de sementes, várias espécies de aves dependem de espécies vegetais epífitas (principalmente Araceae, Bromeliaceae, Cactaceae) que oferecem diversos recursos como flores, néctar, sementes, frutos, matérias e locais de nidificação, água para consumo e limpeza corporal. Aproximadamente um quinto das famílias de aves possui representantes que utilizam recursos disponibilizados por plantas epífitas, principalmente na Mata Atlântica. (CESTARI, 2009). O levantamento ornitológico da RPPN Não Me Deixes foi realizado através de busca em campo (visual e auditivo) dentro da propriedade e no seu entorno nos dias 20 a 24 de maio de 2011, incluindo busca por aves com atividade noturna. Durante o levantamento, 112 espécies de aves de 42 famílias foram registradas na área (TABELA 6). Esse número representa aproximadamente 22% das espécies da caatinga e 32% das espécies da caatinga desconsiderando os brejos florestados e Campos rupestres. As famílias predominantes foram Tyrannidae (16), Columbidae (6), Cuculidae (6), Furnariidae (5), Picidae (5) e Thamnophilidae (5). O resultado é reflexo da aridez do ambiente, já que essas famílias são constituídas na sua maioria por aves que suportam 60 RPPN Não Me Deixes muito calor e costumam habitar áreas mais abertas. Analisando os grupos tróficos, os insetívoros (59) foram predominantes, seguidos dos carnívoros (15) e frugívoros (11). Para o bioma caatinga, esse resultado era o esperado, devido à baixa produtividade de frutos que servem de alimento para as aves. Os insetívoros são maioria por terem alimento mais abundante, seguido dos carnívoros, que se alimentam de lagartos, cobras, pequenos mamíferos e peixes (FIGURA 48). FIGURA 48: Grupos tróficos das aves da RPPN Não Me Deixes. Quanto ao uso do hábitat, as espécies de aves podem ser divididas em três categorias: dependentes, espécies que só ocorrem em ambientes florestais; semidependentes, espécies que ocorrem nos mosaicos formados pelo contato entre florestas e formações vegetais abertas ou semiabertas; e independentes, espécies que ocorrem apenas em vegetações abertas. Mais da metade das espécies apresentou algum tipo de dependência aos ambientes florestais, sendo 14% (16) dependentes e 38% semidependentes. O resultado obtido demonstra a importância em se manter a mata nativa e a criação de programas de reflorestamento (FIGURA 49). FIGURA 49: Uso do habitat das espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. As aves são sensíveis aos distúrbios causados por ações antrópicas. Essa sensitividade pode ser dividida em alta, média e baixa (FIGURA 50). Apenas uma 61 RPPN Não Me Deixes espécie apresentou alta sensitividade (Penelope jacucaca), e somente 26% (29) apresentaram sensitividade média. Mais da metade das espécies registradas são consideradas de baixa sensitividade (82), sendo mais resistentes às ações humanas. Foram registradas nove espécies que sofrem pressão de caça e outras dezessete que são utilizadas no comércio ilegal de aves silvestres. Somente duas espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003) foram registradas, o pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae) e o jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca). FIGURA 50: Sensitividade das espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. FIGURA 51: Periquito-do-sertão – Aratinga cactorum; Espécie endêmica. FIGURA 52: Jacu verdadeiro – Penelope jacucaca; Espécie ameaçada de extinção. 62 RPPN Não Me Deixes FIGURA 53: Arapaçu-grande – FIGURA 54: Figura Pica-pau-dourado Dendrocolaptes – Piculus chrysochloros - Espécie Espécie platyrostris; dependente de dependente de ambientes florestais. ambientes florestais. TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. *Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro (oni), Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos. Família Espécie G. trófico Uso do habitat Sensitivid ade Ameaç a CRACIDAE Penelope jacucaca fru D A C ANATIDAE Dendrocygna viduata fru I B C Nomonyx dominica fru I M C PODICIPEDIDAE Podilymbus podiceps ins I M ARDEIDAE Tigrisoma linetaum car I M Butorides striata car I B Bubulcus ibis ins I B Ardea Alba car I B Egretta thula car I B Cathartes aura det I B Cathartes burrovianus det I M Coragyps atratus det I B Heterospizias car I B car I B CATHARTIDAE ACCIPITRIDAE meridionalis Rupornis magnirostris 63 RPPN Não Me Deixes TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação) *Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos. Família FALCONIDAE Espécie Caracara plancus Herpetotheres G. trófico car Uso do habitat I Sensitivid ade B car S B Ameaç a cachinnans ARAMIDAE Aramus guarauna car I B C RALLIDAE Gallinula galeata ins I B C Porphyrio martinica ins I B C CARIAMIDAE Cariama cristata car I B C CHARADRIIDAE Vanellus chilensis ins I B JACANIDAE Jacana jacana ins I B COLUMBIDAE Columbina minuta gra I B Columbina talpacoti gra I B Columbina squamatta gra I B Columbina picui gra I B Zenaida auriculata gra I B C Leptotila verreauxi gra S B C Aratinga cactorum fru S M T Forpus fru I B T Piaya cayana ins S B Coccyzus ins S B Crotophaga major ins S M Crotophaga ani ins I B Guira guira ins I B Tapera naevia ins I B Megascops car S B car S B Athene cunicularia car I M Nyctibius griseus ins S B PSITTACIDAE xanthopterygius CUCULIDAE melacoryphus STRIGIDAE choliba Glaucidium brasilianum NYCTIBIIDAE 64 RPPN Não Me Deixes TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação) *Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos. Família Espécie G. Uso do Sensitivid Ameaç trófico habitat ade a CAPRIMULGIDAE Hydropsalis albicollis ins S B Hydropsalis parvula ins I B APODIDAE Tachornis squamatta ins I B TROCHILIDAE Eupetomena nec I B nec I B Chlorostilbon lucidus nec S B Amazilia fimbriata nec S B TROGONIDAE Trogon curucui fru D M ALCENIDAE Megaceryle torquata car I B Chloroceryle car S B macroura Chrysolampis mosquitus amazona BUCCONIDAE Nystalus maculatus ins S M PICIDAE Picumnus limae ins D M Veniliornis ins S B ins D M Celeus flavecens ins D M Campephilus ins D M ins S M ins S M ins S B ins D B ins S B passerinus Piculus chrysochlorus melanoleucus THAMNOPHILIDA Formicivora E melanogaster Herpsilochmus sellowi Thamnophilus capistratus Thamnophilus pelzelni Taraba major 65 RPPN Não Me Deixes TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação) *Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos. Família Espécie G. Uso do Sensitivid Ameaç trófico habitat ade a DENDROCOLAPT Sittasomus ins D M IDAE griseicapillus Dendroplex ins S B ins I M ins D M ins S B ins S M ins I M ins I B ins S M ins S B ins D M ins D B ins S B ins S M picus Lepidocolaptes angustirostris Dendrocolaptes platyrostris FURNARIIDAE Furnarius leucopus Pseudoseisura cristata Certhiaxis cinammomeus Synallaxis albescens Synallaxis scutata TITYRIDAE Pachyramphus polychopterus Pachyramphus validus RYNCHOCYCLID Tolmomyias AE flaviventris Todyrostrum cinereum Hemitriccus margaritaceiventer 66 RPPN Não Me Deixes TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação) *Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos. Família Espécie G. Uso do Sensitivid Ameaç trófico habitat ade a TYRANNIDAE Elaenia flavogaster fru S B Legatus leucophaius ins S B Myiarchus ferox ins S B Myiarchus tyrannulus ins S B Casiornis fuscus ins D M Pitangus sulphuratus ins I B Machetornis rixosa ins I B Myiodinastes ins D B ins S B Myiozetetes similis ins S B Tyrannus ins I B Fluvicola nengeta ins I B Arundinicola ins I M ins D B Cychlaris gujanensis ins S B Vireo olivaceus ins D B Cyanocorax oni S M ins I B Troglodytes musculus ins I B Cantorchilus oni D B ins S M maculatus Megarhynchus pitangua melancholicus leucocephala Cnemotriccus fuscatus VIREONIDAE CORVIDAE T cyanopogon HIRUNDINIDAE Tachycineta albiventer TROGLODYTIDA E longirostris POLIOPTILIDAE Polioptilia plumbea 67 RPPN Não Me Deixes TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação) *Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos. Família Espécie G. Uso do Sensitivid Ameaç trófico habitat ade a TURDIDAE Turdus rufiventris oni I B T Turdus leucomelas oni S B T Turdus oni S B T T amaurochalinus MIMIDAE Mimus saturninus oni I B COEREBIDAE Coereba flaveola nec S B THRAUPIDAE Lanio pileatus fru S B T Tangara sayaca fru S B T Paroaria dominicana fru I B T Ammodramus gra I B Volatinia jacarina gra I B T Sporophila lineola gra I B T Sporophila albogularis gra I M T Icterus pyrrhopterus oni S M T Agelaioides oni I B T Sturnella superciliaris oni I B T Euphonia chlorotica fru S B T EMBERIZIDAE humeralis ICTERIDAE fringillarius FRINGILIDAE 1.2.2.3. Herpetofauna Ao contrário do que se acreditava, a caatinga é um bioma rico em espécies e com grande número de endemismos. Segundo (RODRIGUES et al. 2003), a caatinga com características típicas do semiárido apresenta 167 espécies da herpetofauna, sendo 48 anuros, 3 cecílias, 47 lagartos, 10 anfisbenídeos, 52 serpentes, 4 quelônios e 3 crocodilianos. Entretanto, de 2004 até 2011, em função da descrição de novas espécies, novas alocações genéricas e outras modificações de ordem taxonômica ou nomenclatural, houve um acréscimo de aproximadamente 200 espécies para a lista da herpetofauna brasileira. Assim, o número de espécies da herpetofauna da caatinga também deve ter crescido. Sem contar com os brejos de altitude e outras variações 68 RPPN Não Me Deixes florestais presentes nos domínios morfoclimáticos da caatinga, que elevariam consideravelmente esse número. Os répteis da Caatinga representam um grupo com grande quantidade de endemismo. Segundo (OLMOS, 2011), das 10 anfisbenas registradas no bioma, cinco são endêmicas, enquanto 21 dos 47 lagartos registrados seriam endêmicos. Porém, as serpentes e quelônios ainda carecem de inventários e precisam ser mais bem estudados. Os anfíbios também necessitam de mais estudos do ponto de vista taxonômico e de seus padrões de endemismo. A distribuição de muitos táxons é pouco conhecida, sendo de difícil determinar uma lista de espécies endêmicas do bioma (OLMOS, 2011). Muitas espécies, como gias do gênero Leptodactylus, sapos Rhinella, os pequenos Dermatonotus muelleri e Pleurodema diplolistris, e o sapo-de-chifres Ceratophrys joazeirensis apresentam estratégia de estivar em galerias escavadas nos solos durante o período seco, algumas vezes a grandes profundidades, emergindo com as chuvas e reproduzindo-se em grande quantidade enquanto há disponibilidade de água e alimento. Para os anfíbios da Caatinga há uma grande pressão seletiva para aproveitar ao máximo os períodos chuvosos, que podem ser curtos e irregulares (OLMOS, 2011). O levantamento da herpetofauna da RPPN Não Me Deixes foi realizado através de levantamento de dados secundários, e em campo, através de buscas ativas, observações e informações adicionais coletadas através de entrevistas com moradores locais em maio de 2011. As espécies comumente encontradas na RPPN são consideradas de ampla distribuição da caatinga, como os lagartos Tupinambis merianae, Tropidurus hispidus e Phyllopezus pollicaris, as serpentes Liophis dilepis, Pseudoboa nigra e Boa constrictor, e os anfíbios Chaunus jimi, Leptodactylus labyrinthicus e Leptodactylus troglodytes (FIGURAS 55, 56, 57 e 58). FIGURA 55: Teju (Tupinambis merianae). FIGURA 56: Cururu (Chaunus jimi). 69 RPPN Não Me Deixes FIGURA 57: Caçote (Leptodactylus troglodytes). FIGURA 58: Costelinha-de-vaca (Liophis dilepis). O levantamento da herpetofauna da RPPN Não Me Deixes apresentou um total de 09 espécies de anfíbios distribuídas em seis famílias de duas ordens (TABELA 7) e 23 espécies de répteis, distribuídas em cinco famílias de lagartos (10 spp.), quatro de serpentes (13 spp.) e somente um anfisbêneo (TABELA 8). TABELA 7: Listagem dos anfíbios registrados na RPPN Não Me Deixes em maio de 2011. Família Espécie Nome Popular Ordem Anura BUFONIDAE Rhinella jimi Cururu Rhinella granulosa Cururuzinho CYCLORAMPHIDAE Proceratophrys cristiceps Sapo Boi LEIUPERIDAE Physalaemus albifrons Sapinho Physalaemus cuvieri Sapinho LEPTODACTYLIDAE Leptodactylus troglodytes Caçote HYLIDAE Hypsiboa raniceps Perereca Scinax x-signata Rãzinha Dermatonotus muelleri Rã-manteiga MICROHYLIDAE 70 RPPN Não Me Deixes TABELA 8: Listagem dos répteis registrados na RPPN Não Me Deixes em maio de 2011. Família Espécie Nome Popular Boa constrictor Jibóia; Cobra de veado Epicrates cenchria Salamanta Leptodeira annulata Cobra Dormideira Liophis dilepis Costelinha-de-vaca Leptophis ahaetulla Cobra-cipó Oxybelis aeneus Cobra cipó bicuda Oxyrhopus trigeminus Falsa Coral SERPENTES BOIDAE COLUBRIDAE Corre campo; Philodryas nattereri Tabuleiro Philodryas olfersii Cobra Verde Spilotes pullatus Caninana ELAPIDAE Micrurus sp. Coral Verdadeira VIPERIDAE Bothrops erythromelas Jararaca Crotalus durissus Cascavel IGUANIDAE Iguana iguana Iguana GEKKONIDAE Briba brasiliana Briba Gymnodactylus geckoides Briba Lygodactylus klugei Briba Cobra de LAGARTOS GYMNOPHTHALMIDA Micrablepharus E maximilliani Lagarto-do-rabo-azul TEIIDAE Ameiva ameiva Tijubina Cnemidophorus ocellifer Lagartixa Tupinambis merianae Tejo Tropidurus hispidus Calango Tropidurus semitaeniatus Calango Listrado TROPIDURIDAE ANFISBENÍDEOS Cobra-de-duas-cabeças/cobraAMPHISBAENIDAE Leposternon polystegun cega A RPPN apresenta diversos recursos hídricos, boa parte deles intermitentes. A maior parte dos registros de anfíbios foi feita nos brejos alagados presentes na RPPN, como o representado na FIGURA 59. 71 RPPN Não Me Deixes FIGURA 59: Brejado na porção leste da RPPN Não Me Deixes. Nestes ambientes foi possível registrar espécies tais como Scinax x-signatus (FIGURA 60) e Pseudopaludicola sp. (FIGURA 61) Já em áreas abertas, destacou-se o Pleurodema diplolister (FIGURA 62) e em áreas abertas e o Dermatonotus muerlleri (FIGURA 63) na serapilheira da caatinga arbustiva-arbórea. FIGURA 60: Perereca raspa-cuia (Scinax x- FIGURA 61: Pseudopaludicola sp. signatus). FIGURA 62: Sapinho-de-areia (Pleurodema FIGURA diplolister) muerlleri). 63: Rã-manteiga (Dermatonotus Dentre os lagartos registrados na RPPN, destaque para os registros de Micrablepharus maximilliani (FIGURA 64), Cnemidophorus ocellifer (FIGURA 65), Iguana iguana (FIGURA 66) e Enyalius bibronii (FIGURA 67). 72 RPPN Não Me Deixes FIGURA 64: Calanguinho (Cnemidophorus FIGURA 65: Tijubina (Ameiva ameiva). ocellifer). FIGURA 66: Iguana (Iguana iguana). FIGURA 67: Papa-vento (Enyalius bibronii). Entre as serpentes, pouco registro foi feito, e a lista foi complementada por entrevistas com moradores locais. Destaque para os registros de Boa constrictor (FIGURA 68) e Leptophis ahaetulla (FIGURA 69). FIGURA 68 Jibóia (Boa constrictor). FIGURA 69: Cobra-cipó (Leptophis ahaetulla). 73 RPPN Não Me Deixes O único registro da família Amphisbaenidae na RPPN Não Me Deixes foi da espécie Leposternon polystegun (FIGURA 70), também conhecido por cobra-de-duascabeças ou cobra-cega, registrado morto por moradores locais. Este registro indica o desconhecimento da população sobre a RPPN e a necessidade de proteção de sua fauna associada. Segundo depoimentos locais, serpentes são vistas como ameaças (incluindo a anfisbênea acima citada, confundida com serpente), muitas delas nãopeçonhentas, mortas em seus ambientes naturais, vítimas da falta de conhecimento. Portanto, um trabalho de educação ambiental envolvendo moradores da região, destacando a fauna da RPPN e a sua importância para o ecossistema é fundamental. FIGURA 70: cobra-de-duas-cabeças (Leposternon polystegun) morta na RPPN Não Me Deixes, confundida com uma serpente. 1.3. Visitação Atualmente foram constatadas atividades de visitação na RPPN para alguns dos pontos notáveis, mas não com objetivos turísticos, uma vez que esta UC não apresenta estrutura para tal atividade e não é de interesse dos proprietários expandir a visitação para a área da RPPN. A visitação ocorre mais frequentemente na Fazenda Não Me Deixes, por conta da sua casa sede construída pela escritora Raquel de Queiroz que e mantida com suas características originais e que se tornou um patrimônio cultural para o Município de Quixadá e para todo o Estado do Ceará. 74 RPPN Não Me Deixes 1.4. Pesquisa e Monitoramento A área da RPPN Não Me Deixes é um remanescente da biodiversidade do bioma caatinga sendo explorada cientificamente por pesquisadores de instituições de ensino e ONGs que buscam fazer levantamentos, principalmente, de fauna e flora da região e também, para a elaboração deste documento que consiste no Plano de Manejo da RPPN Não Me Deixes. Ainda não existe uma rotina de monitoramento na reserva e, até o momento em que estavam sendo feitos os estudos para a elaboração deste Plano de Manejo, o monitoramento é realizado pelos moradores e por órgãos ambientais federais de forma esporádica. 1.5. Ocorrência de Fogo Durante os estudos para a elaboração deste documento, pode-se constatar que na RPPN Não Me Deixes não há ocorrência recente de fogo, apenas alguns vestígios de árvores com troncos queimados. Contudo foi observado que na Fazenda, algumas áreas haviam sido queimadas, principalmente no intuito de limpá-las para o cultivo de culturas de sequeiro. Esta prática, embora já tenha sido extinta na propriedade pode ser um grande risco para a integridade da RPPN, haja vista que em algumas localidades do entorno da reserva, ainda praticam as queimadas antes do plantio. 1.6. Atividades Conflitantes na RPPN De acordo com dados obtidos em campo e com moradores das comunidades de entorno, existe alguma atividade de caça e extração de madeira, especialmente pelas bordas da propriedade e que podes afetar a integridade da RPPN. A prática apresentada nas FIGURAS 71 e 72 contamina os recursos hídricos devido ao uso de produtos químicos (sabão e água sanitária) e contribui para o assoreamento dos mesmos devido à retirada da vegetação que proeje o solo contra o impacto direto da água da chuva e o escoamento de sedimentos para a calha do recurso hídrico. 75 RPPN Não Me Deixes FIGURA 71: Vegetação das margens de FIGURA 72: Produtos químicos utilizados um córrego degrada no interior da RPPN. na lavagem das roupas (sabão e água Represamento de água para a lavagem sanitária) no interior da RPPN Não Me de roupas pela comunidade, próxima à Deixes. (Foto: Samuel Portela). estrada que segue para a comunidade de areias. (Foto: Samuel Portela). A abertura de trilhas no interior da RPPN (FIGURA 73) facilita a entrada de pessoas não autorizadas, que muitas vezes adentram na reserva no intuito de caçar animais e retirar madeira, principalmente para a obtenção de lenha. FIGURA 73: Retirada de vegetação pelas comunidades do entorno da Fazenda Não Me Deixes para a abertura de trilhas no interior da RPPN (próxima à estrada que segue para a comunidade de areias). (Foto: Samuel Portela). 76 RPPN Não Me Deixes 1.7. Sistema de Gestão Por residirem em domicílio diverso da RPPN, os proprietários procedem a gestão da UC através dos caseiros e suas famílias que habitam a Fazenda Não Me Deixes. Estes moradores são responsáveis pela administração da manutenção e quaisquer atividades referentes à Fazenda e RPPN, seguindo orientações dos proprietários. 1.8. Pessoal Na RPPN Não Me Deixes, ainda não possui uma equipe específica para os seus trabalhos de fiscalização e gestão. Estas demandas serão discutidas no Capítulo destinado aos programas. Até o momento estas atividades voltadas para a manutenção, fiscalização e gestão da RPPN são realizadas de forma esporádica pelos moradores da Fazenda Não Me Deixes. 1.9. Infraestrutura A RPPN Não Me Deixes não possui infraestrutura instalada, apenas as cercas de estacas e arames nas partes que coincidem com os limites da fazenda, ou seja, só é cercada a parte voltada para o exterior da fazenda, não havendo delimitações nas áreas voltadas para o interior. A RPPN é cortada por algumas trilhas rústicas, algumas feitas pela constante passagem de moradores. Estas trilhas favorecem o transito de animais e podem ajudar no monitoramento da área pelos moradores e ou gerente da fazenda. Todo o restante da infraestrutura da propriedade e instalada na Fazenda Não Me Deixes. 1.10. Equipamentos e Serviços Até o momento a RPPN Não Me Deixes não conta com equipamentos destinados aos trabalhos na reserva, contudo para as atividades de pesquisa científica, é disponibilizada, após autorização da proprietária, a casa sede da Fazenda Não Me Deixes para hospedar e dar suporte aos pesquisadores. Também são disponibilizados 77 RPPN Não Me Deixes alguns funcionários da Fazenda para auxiliar a equipe na preparação da alimentação e nos serviços domésticos durante os períodos em que estas estiverem hospedadas. 1.11. Recursos Financeiros Todos os esforços de apoio financeiro desta RPPN partem principalmente de investimentos privados de seus proprietários e de editais de apoio à gestão de RPPNs, como por exemplo, os editais do Programa de Apoio à Conservação em Terras Privadas da Caatinga (Aliança da Caatinga), financiadora deste Plano de Manejo, que assim com outras 4 (quatro) RPPNs receberam um recurso de R$20.000,00 para a elaboração de seus Planos de Manejo. 1.12. Formas de Cooperação Para a realização das pesquisas e elaboração deste documento foram estabelecidas parceria com as Associações Asa Branca e Caatinga, bem como pelo segundo Edital da Aliança da Caatinga, patrocinado pela MPX, empresa diversificada de energia com negócios complementares em geração elétrica e exploração e produção de gás natural na América do Sul, membro do Grupo EBX, responsável pelo financiamento do Segundo Edital da Aliança da Caatinga. Estes editais de apoio são comumente fomentados por instituições públicas e privados, podendo ser acessados no futuro para financiar a implementação deste Plano de Manejo. Desta forma, A RPPN Não Me Deixes possui três possibilidades de receita, conforme os itens abaixo. - A primeira possibilidade de receita é a proveniente de fundos, financiamentos e doações, tais como: Fundo Nacional do Meio Ambiente (www.mma.gov.br) Criado pela Lei 7.797 de 10 de julho de 1989, o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) tem por missão contribuir, como agente financiador e por meio da participação social, para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Desde sua criação o FNMA apoia projetos ambientais em todo o país, tendo investido mais de cem milhões de reais distribuídos entre mais de mil projetos aprovados. Aliança da Caatinga (http://www.acaatinga.org.br/index.php/alianca/) 78 RPPN Não Me Deixes A Aliança da Caatinga desenvolve desde 2007 o Programa de Incentivo à Conservação em Terras Privadas na Caatinga, que tem como estratégia três componentes principais: (1) o apoio à criação e gestão (plano de manejo) de reservas particulares e adequação ambiental de propriedades rurais; (2) fortalecimento da rede de associações de proprietários de RPPN e (3) a identificação e implementação de políticas e mecanismos que incentivem a criação e manutenção de reservas particulares. Fundação O Boticário de Conservação da Natureza (www.fbpn.org.br) O Programa de Incentivo à Conservação da Natureza tem por objetivo financiar projetos que contribuam efetivamente para a conservação da natureza no Brasil, através do apoio a ações de: manejo de unidades de conservação, conservação e manejo de espécies ameaçadas, fiscalização e proteção ambiental, valorização e manejo de áreas verdes urbanas, restauração de ecossistemas, desenvolvimento e implementação de políticas públicas e legislação ambiental e pesquisa aplicada em ecologia e conservação da natureza. ONGs Internacionais The Nature Conservancy – TNC (www.tnc.org.br) Conservation International – CI (www.conservation.org.br) World Wildlife Fund – WWF (www.wwf.org.br) - A segunda possibilidade de receita é a proveniente de isenção de taxas (ex: Imposto Territorial Rural-ITR). - A terceira possibilidade de receita é proveniente de recursos do proprietário. 2. CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE A Fazenda Não Me Deixes (FIGURA 74), representa um remanescente ainda preservado do Bioma Caatinga, tendo em vista que a propriedade de 928 ha (novecentos e vinte oito hectares), é recoberta parcialmente por uma Unidade de Conservação, a RPPN Não Me Deixes, criada pela Portaria do IBAMA Nº 37-N de 16 de abril de 1999, que possui 300 ha (trezentos hectares) em boas condições de conservação, o que sugere ser um ambiente propício para refúgio de muitas espécies normalmente encontradas no Bioma Caatinga. 79 RPPN Não Me Deixes A RPPN Não Me Deixes não contempla visitas com fins turísticos e educacionais no seu interior, apenas no interior da Fazenda Não Me Deixes, onde podem ser contemplados os limites da RPPN. Por ser a mais conhecida RPPN do Estado do Ceará, conhecimento este que se deu por conta do histórico da Fazenda Não Me Deixes e da popularidade de sua antiga proprietária, a escritora Raquel de Queiroz, a Fazenda possui uma boa frequência visitantes que têm conhecimento do perfil conservacionista da família criadora e mantenedora da Reserva que é uma joia do Bioma Caatinga presente nesta propriedade e apenas pode ser contemplada pelos visitantes, não sendo permitida a entrada destes na sua área. Na Fazenda Não Me Deixes existem 11 casas de alvenaria construídas, sendo nove destas destinadas para abrigar os trabalhadores da fazenda. No período em que foram realizados os levantamentos de campo, havia oito famílias residindo no local e uma das casas encontrava-se desocupada. Estas famílias são responsáveis pela manutenção das atividades realizadas na fazenda (trabalhos domésticos na casa sede, vigilância, agricultura, pecuária, manutenção das estradas, cercas e outras infraestruturas). Estas casas possuem fossas sépticas, energia elétrica e em sua maioria, utilizam como matriz energética para o preparo da alimentação a lenha, coletada na fazenda, e o gás butano. Na parte produtiva da Fazenda Não Me Deixes são comuns as práticas agropastoris em que podemos citar a criação de gado para a produção de leite e a agricultura de sequeiro realizada pelos moradores da fazenda. A fazenda possui um curral, onde são colocados os bovinos (57 animais), os quais são criados para a produção de leite e derivados, contudo, na maior pare do tempo estes animais permanecem soltos no interior da fazenda. São criados ainda aproximadamente 45 caprinos e quatro equinos e dois gados muar (burros). A área da fazenda e cortada por uma estrada que liga a localidade denominada Fazenda Junco, localizada no distrito de Daniel da Queiroz, à localidade denominada Primavera a qual faz contato com o limite da Fazenda Não Me Deixes. Por encontrar-se em uma área distante da sede municipal, a Fazenda Não Me Deixes, assim como a RPPN, não possui coleta de lixo realizada rotineiramente pela prefeitura municipal. O lixo produzido na área da Fazenda é coletado pelos moradores e em seguida enterrado ou queimado em áreas desabitadas e longe da RPPN. Vale salientar que o lixo produzido é oriundo das famílias que moram na fazenda, não havendo produção de lixo nas áreas situadas no interior da RPPN. Este fato vai de encontro aos objetivos da RPPN, pois esta prática além de contribuir para a 80 RPPN Não Me Deixes contaminação do solo e poluição do ar pode ser o estopim para um incêndio na área da Reserva. Durante os levantamentos de campo foram realizadas entrevistas com 8 moradores (chefes de famílias) da fazenda para que se pudesse traçar o perfil socioeconômico das famílias ali residentes e avaliar o conhecimento destes em relação à RPPN. A seguir seguem os resultados das entrevistas. FIGURA 74: Vista da entrada da casa sede da Fazenda Não Me Deixes e a casa de um dos moradores ao fundo. (Foto: Samuel Portela). No tocante ao perfil dos entrevistados pode-se constatar que 6 eram do sexo masculino e em sua maioria (5) tinham idade superior a 60 anos, sendo os demais com idades entre 21 e 60 anos. Todos os entrevistados afirmaram serem agricultores e cultivam durante a quadra chuvosa (agricultura de sequeiro) as culturas de milho e feijão (FIGURA 75), apenas para subsistência. Nas casas onde residem os entrevistados, em 2 dos casos, moram 2 pessoas. A mesma quantidade (2) ocorre para as casas com 3 e mais de 4 pessoas. Apenas 1 casa reside um único morador e uma outra casa residem 4 pessoas. FIGURA 75: Plantação de milho e feijão consorciados na Fazenda Não Me Deixes. (Foto: Samuel Portela). 81 RPPN Não Me Deixes Nas casas dos entrevistados, em 7 e 6 casos, possuem energia elétrica e fossas sépticas respectivamente. E a matriz energética para o preparo da alimentação é oriunda, em 7 dos casos, do gás de cozinha e a lenha, sendo esta última adquirida no interior da Fazenda Não Me Deixes. Apenas um dos entrevistados utiliza apenas a lenha como matriz energética. Em relação ao grau de instrução dos entrevistados, foi observado que 5 dos entrevistados são analfabetos, 2 possuem o Ensino Fundamental incompleto e 1 é apenas alfabetizados. A renda dos entrevistados, em 7 casos, era de até um salário mínimo e apenas 1 tinham rendimentos entre dois e cinco salários mínimos. No que diz respeito à relação dos entrevistados com a área da RPPN Não Me Deixes foi constatado que todos eles tinham conhecimento da existência da reserva e em a metade (4) dos entrevistados haviam observado alguma mudança no local após a criação da RPPN em 1999, citando, por exemplo: a diminuição da caça, do corte de madeira e a invasão da propriedade por caçadores. Segundo os entrevistados estas mudanças ocorreram por conta da fiscalização do IBAMA e principalmente devido às orientações dos proprietários em relação à gestão da propriedade. Quando indagados se faziam algum uso do espaço da RPPN, todos os entrevistados afirmaram não utilizarem a área para nenhuma de suas atividades, e que não tinham conhecimento de nenhuma atividade que pudesse está causando a degradação ambiental da área. 7 dos entrevistados afirmaram também que não tinham conhecimento de atividades de educação ambiental realizadas com as comunidades do entorno ou mesmo com os próprios moradores da fazenda. Apenas 1 deles afirmou que eram realizadas reuniões com os moradores para tratar de questões relacionadas ao lixo produzido na fazenda. Com relação à caça na área compreendida pela RPPN 7 dos entrevistados afirmaram não ter conhecimento desta atividade na reserva, contudo, 1 dos entrevistados afirmou que ainda existia caça na reserva e que esta era praticada pelos próprios moradores da fazenda e que o animal mais caçado era o tatu, ou peba, como é conhecido na região. No que diz respeito à ocorrência de queimadas na região, 5 dos entrevistados afirmaram que estas ainda ocorrem bastante e principalmente nos meses de outubro e novembro, mas que na área da fazenda esta prática havia sido eliminada. Quando questionados se era possível conciliar a ocupação urbana no entorno da RPPN com a preservação ambiental da mesma, 7 dos entrevistados responderam que sim e para que isto ocorra basta que práticas como a caça, o desmatamento, as 82 RPPN Não Me Deixes queimadas sejam eliminadas e que haja uma fiscalização mais efetiva na área pelos órgãos responsáveis. Já um dos entrevistados afirmou que não é possível conciliar, pois toda ocupação traz consigo degradação de alguma forma. Em relação ao poder público foi perguntado aos entrevistados se eles tinham conhecimento de alguma ação proposta que envolvesse o local onde residiam, e 7 dos entrevistados afirmaram não terem conhecimento de nenhuma ação, contudo, um deles afirmou que havia possibilidade de construção, pelo governo federal, de uma linha de ferro que cortaria a área da RPPN, no caso a Transnordestina, um braço do transporte ferroviário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que vai ligar, em forma de um Y, o município de Eliseu Martins aos portos de Pecém, em Fortaleza (CE) e Suape, em Recife (PE), e tem como objetivo o escoamento da produção da soja, milho, arroz e algodão e mineral do sul do Piauí, norte de Tocantins e o Oeste da Bahia com destino ao mercado estrangeiro. Ainda em relação ao poder público, foi perguntado aos entrevistados se eles já haviam sido convidados por alguma instituição para participar de decisões ou discussões que envolvessem o espaço da RPPN e todos eles afirmaram que não. Já em relação à ocorrência de fiscalização da RPPN por órgãos ambientais, 5 dos entrevistados afirmaram não ter conhecimento da presença dos mesmos na propriedade e os 3 restante afirmaram já ter visto estes órgãos fiscalizadores e que a frequência com que eles visitavam a área era de aproximadamente 15 dias. Por fim, quando questionados quanto o que poderia ser feito pelo poder público para intensificar a preservação da RPPN, todos os entrevistados citaram a intensificação da fiscalização no local. 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO 3.1. Caracterização do município de Quixadá Histórico municipal O município de Quixadá tem como uma de suas características marcantes as formações rochosas, os monólitos, nos mais diversos formatos que "quebram" a aparente monotonia da paisagem sertaneja. É também conhecida por ser a terra de escritores como Jader de Carvalho e Rachel de Queiroz que, apesar de ter nascido em Fortaleza, capital do Ceará, possuía uma relação muito forte com a cidade, visitando-a 83 RPPN Não Me Deixes constantemente, quando se hospedava em sua Fazenda Não Me Deixes, que herdou de seu pai, Daniel de Queiroz O nome Quixadá é uma palavra derivada de alguma das línguas indígenas faladas no território cearense antes do descobrimento. Contudo, há grandes controvérsias. Em alguns documentos antigos figura como Queixadá, Quixedá. Para Paulino Nogueira, em seu livro Vocabulário Indígena em Uso na Província do Ceará, presume que o nome vem da tribo Tapuia dos Quixaras, também conhecida com Quixadás. Segundo Carl von Martius, é derivada de Quixeurá, que significa "Oh! Eu sou o Senhor, Qui = oh, Xé = eu e Uará = senhor, tendo-se corrompido em Quixadá. Para Teodoro Sampaio, em seu livro “O Tupi na Geografia Nacional”, disse que a palavra pertence à língua cariri e que, por não haver qualquer registros, não é possível afirmar significado exato. Thomaz Pompeu Sobrinho atribuiu, em princípio, a esse topônimo a origem tupicomo Quichaitá, com a seguinte interpretação: Qui = ponta, Chai = gancho ou torcida e Ita = pedra, donde se conclui: pedra da ponta encurvada ou torcida. Essas interpretações estão relacionadas à paisagem quixadaense onde existem pedras singulares como, por exemplo, a "Galinha Choca", conhecida anteriormente como "Bico de Arara", além disso, segundo o autor, também pode ser a corruptela da palavra queixada ou quintal de rocha. Eusébio de Sousa também diz ser o vocábulo de origemtupi-guarani que significa pedra da ponta curvada. Os antigos habitantes falavam em Curral de Pedra, haja vista a localização da cidade que de fato, está cercada de pedras. Originalmente, a região foi habitada pelos índios Kanindé e Janipapo pertencentes ao grupo dos Tapuias, resistindo á invasão portuguesa no início do século XVII, sendo "pacificados" em 1705, quando Manuel Gomes de Oliveira e André Moreira Barros ocuparam as terras quixadaenses. Estes grupos indígenas resistiram até 1760, pois os conflitos entre índios e colonos, ocasionados pelo desenvolvimento da pecuária desde 1705, praticamente extinguiram essas tribos. A colonização da área compreendida atualmente pelo município de Quixadá ocorreu através da penetração pelo rio Jaguaribe, seguindo seu afluente o rio Banabuiú e depois o rio Sitiá, cujo objetivo principal era a conquista de terras para a pecuária de corte e leiteira. A primeira escritura pública da região foi a do Mosteiro Beneditino, hoje Casa de Repouso São José, na Serra do Estêvão, onde hoje é o distrito de Dom Maurício, em 1641. Manuel da Silva Lima, alegando ter descoberto dois olhos d'água, obteve uma sesmaria. Essas terras, inicialmente de Carlos Azevedo, eram o "Sítio Quixedá" adquirido por compra conforme escritura de 18 de dezembro de 1728. 84 RPPN Não Me Deixes Em seguida, a propriedade foi vendida a José de Barros Ferreira em 1747 por duzentos e cinquenta mil réis. Oito anos depois, José de Barros, construiu casas de morada, capela e curral, lançando assim as bases da atual cidade de Quixadá, sendo considerado, portanto, o legítimo fundador da cidade. A fazenda prosperou e se transformou em distrito do município de Quixeramobim. A partir do século XIX, com a instalação da estrada de ferro que ligava o Cariri à Fortaleza ocorreu forte urbanização do município. Esta também foi fortemente influenciada pela produção de algodão exportado para a Inglaterra, que nesta época vivia a Revolução Industrial. A Freguesia de Quixadá foi criada pela Lei provincial n° 1.305, de 5 de novembro de 1869. Em de 27 de outubro de 1870a Lei provincial n° 1.347 criou o Município de Quixadá desmembrando-o de Quixeramobim e sendo elevado à categoria de vila. Com o projeto e a construção do Açude, a vila passa a receber ainda mais imigrantes vindo de diversas regiões (estimados em 30.000), além disso, diversas estradas foram construídas. Este processo acelera a urbanização, fazendo com que em 17 de agosto de 1889 a vila recebesse foros de cidade pela Lei provincial n.º 2.166. Deste sua emancipação até hoje, teve cinquenta e três governos municipais, sendo o fazendeiro Laurentino Belmonte de Queiroz, o primeiro prefeito no período de 1871 a 1873. Dados populacionais O município de Quixadá sofreu uma redução na população entre os anos de 1991 e 2000, como se pode observar na TABELA 9, devido aos desmembramentos de alguns distritos nesta época. Contudo se compararmos com o censo de 2010 nota-se um aumento na população em aproximadamente 10.000 habitantes. Em relação às zonas habitadas, pode-se observar que houve um aumento considerável do número de habitantes na zona urbana em relação à zona rural entre os anos de 1991 e 2010. TABELA 9: População Residente – 1991/2000/2010. 85 RPPN Não Me Deixes Em relação ao número de domicílios particulares pode-se observar a grande disparidade entre a quantidade de domicílios urbanos (16.123) e rurais (6.050), reforçando os dados da tabela anterior que mostra uma maior concentração de habitantes na zona urbana do município. (TABELA 10). TABELA 10: Domicílios Particulares Permanentes por Situação e Média de Moradores – 2010. Quixadá pode ser considerado um município de porte médio em função da sua população de 80.604 habitantes (2010), o que representa 0,93% da população do estado. Seu crescimento demográfico anual é de 0,5% (2006-2007), no entanto, quando a população atual é confrontada com os dados dos censos de 1970 (98.509 habitantes) e de 1991 (72.292 habitantes) e das estimativas para 1996 (64.442 habitantes) observa-se o declínio da população. Isto se deve, basicamente, aos desmembramentos dos distritos de Banabuiú e Ibaretama em 1988 e de Choró em 1993. Abaixo A FIGURA 76 mostra evolução da população do município de Quixadá entre os anos de 1991 e 2007. FIGURA 76: evolução populacional do município de Quixadá – 1991/2007. Fonte: IBGE 2012. 86 RPPN Não Me Deixes Índices de desenvolvimento O município de Quixadá apresenta uma colocação consideravelmente boa no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH entre os municípios cearenses ocupando a vigésima primeira colocação, de acordo com os dados de 2000 do IPECE/PNUD (TABELA 11). TABELA 11: Índices de Desenvolvimento. A população considerada extremamente pobre do município de Quixadá chega a perfazer mais de 20% da população, aproximadamente 16.788 pessoas (TABELA 12), sendo estes distribuídos, quase que equitativamente, nas zonas rurais e urbanas do município. TABELA 12: População Extremamente pobre: (com rendimento domiciliar per capita mensal de até R$ 70,00) – 2010. Economia Quixadá é um dos centros comerciais mais expressivos do Ceará, para onde afluem as comunidades das cidades vizinhas. A maior fonte de empregabilidade é a administração pública, com mais de 2 mil funcionários, seguidos pelo comércio e serviços, como podemos observar na TABELA 13, a seguir. 87 RPPN Não Me Deixes TABELA 13: Número de Empregos Formais – 2010. As principais atividades econômicas (FIGURA 77) estão relacionadas à prestação de serviços e ao comércio. Estas atividades são responsáveis por mais de 70% do PIB municipal além de ocupar aproximadamente 59% da população economicamente ativa (deste montante, 51% são trabalhadores autônomos do setor informal). O comércio do município está concentrado no Centro da cidade onde recebe semanalmente centenas de moradores das áreas rurais e de municípios vizinhos como Choró, Banabuiú, Ibicuitinga eIbaretama. FIGURA 77: PIB por setor do município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012. Em seguida vem a agropecuária e a indústria, sendo a primeira representada principalmente pela avicultura, bovinocultura leiteira e ovinocaprinocultura. Esta última está associada à presença de agentes expressivos na região, como, por exemplo, a 88 RPPN Não Me Deixes Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado do Ceará (Acocece), composta pelos médios e grandes produtores, um frigorífico com tecnologia para beneficiar a carne dos ovinos e caprinos e ainda aspectos climáticos da região. Em relação à indústria, o município possui pequenas indústrias alimentícias, tecelagens e calçadistas. Entre as grandes instalações industriais existe uma fábrica de calçados além de uma usina de biodiesel com capacidade de 157 mil litros/dia, ou 57 milhões litros/ano localizada no distrito de Juatama. A seguir, na TABELA 14 seguem os dados municipais em relação ao PIB por setor do ano de 2008. TABELA 14: produto Interno Bruto – 2008. Como se pode observar na TABELA 14, o setor de serviços é responsável por mais de 70% do PIB municipal, fazendo com que o município de Quixadá ocupe o quadragésimo sexto lugar no ranking cearense. TABELA 15: Renda Domiciliar per capita (salário mínimo R$ 510,00) – 2010. 89 RPPN Não Me Deixes A TABELA 15 nos mostra que mais de 18.000 pessoas, de um total de 22.124, possuem renda até um salário mínimo, o que representa mais de 80% da população economicamente ativa. Turismo O município de Quixadá apresenta grande potencial turístico, embora pouco explorado. Dentre as atividades turísticas se destaca o ecoturismo devido à beleza de suas paisagens, e a possibilidade de práticas de esportes radicais como o vôo livre (parapente e asa-delta), off Road, trekking, orientação, montanhismo e rapel. O município oferece ainda várias opções de visitação, como por exemplo: Açude do Cedro, Pedra da Galinha Choca, Santuário N. Senhora. Imaculada Rainha do Sertão, Chalé da Pedra, Lagoa dos Monólitos, Morro do Urucu, Pedra do Cruzeiro, Serra do Estevão, Trilha da Barriguda, Trilha do Olho d'Água, Trilha do Boqueirão, Trilha Cabeça do Gigante, Fazenda Magé, Museu Jacinto de Sousa e a RPPN Não Me Deixes. Cultura O município de Quixadá possui vários atrativos culturais dentre ele destacamse o Museu Histórico Jacinto de Sousa, o Centro Cultural Rachel de Queiroz, o teatro e o anfiteatro. O centro cultural oferece oficinas de audiovisual, música, teatro e artes plásticas. Também conta com o Memorial Rachel de Queiroz onde fica o atual chalé da pedra, o qual foi restaurado e equipado com peças e artefatos da escritora. Dentre os eventos religiosos, destaca-se a romaria de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão. Saúde De acordo com os dados do IBGE 2010, o município de Quixadá conta com 36 estabelecimentos de saúde, sendo 1 estadual, 29 municipais e 6 privados, situação semelhante se comparada ao Estado do Ceará, como demonstrado no FIGURA 78. 90 RPPN Não Me Deixes FIGURA 78: Estabelecimentos de saúde do município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012. O município conta ainda com 583 profissionais de saúde, sendo a maioria deles, agentes comunitários de saúde e outros profissionais de nível médio, como consta na TABELA 16, a seguir. TABELA 16: Profissionais de Saúde, Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) – 2010. Educação O município de Quixadá apresentava no ano 2000 aproximadamente 14.300 analfabetos, entre as pessoas com 15 anos de idade ou mais (total 45.481). Estes dados nos mostram uma taxa de analfabetismo funcional de 31, 59%. Já no ano de 2010, houve uma redução desta taxa, reduzindo proporcionalmente o número de analfabetos no município, como mostra a TABELA 17, a seguir. 91 RPPN Não Me Deixes TABELA 17: Taxa de Analfabetismo Funcional para Pessoas com 15 anos ou mais – 2000/2010. De acordo com os dados do (INEP 2009), o município de Quixadá possuía 789 docentes, distribuídos entre a pré-escola, o ensino fundamental e o médio, sendo o ensino fundamental o nível escolar com maior número de profissionais. O FIGURA 79 mostra a quantidade de professores por série no município de Quixadá. FIGURA 79: Docentes por série no município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012. Em relação ao número de escolas por série, o município possui (INEP, 2009) 140 escolas, sendo 57 pré-escolas, 74 de ensino fundamental e 9 de ensino médio (FIGURA 80). 92 RPPN Não Me Deixes FIGURA 80: Número de escolas por série no município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012. O município apresentou em relação ao número de matrículas (INEP, 2009), um total de 21.690 matrículas, sendo 2.524 na pré-escola, 14.735 no ensino fundamental e 4.432 no ensino médio (FIGURA 81). FIGURA 81: Matrículas por série no município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012. Em relação ao ensino superior o município de Quixadá possui cinco instituições de ensino superior e uma de ensino técnico. São elas: Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (Unidade acadêmica da UECE); Faculdade Católica Rainha do Sertão; Campus avançado da Universidade Federal do Ceará; Universidade Estadual Vale do Acaraú; e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. 93 RPPN Não Me Deixes Infraestrutura De acordo como os dados do IBGE (2010), o município de Quixadá possui aproximadamente 22.124 domicílios particulares com abastecimento de água, sendo a maioria (15.718) ligada à rede geral de abastecimento, número que representa 71,05% dos domicílios, como demonstrado na TABELA 18. TABELA 3: Domicílios Particulares Permanentes Segundo as Formas de Abastecimento de Água – 2000/2010. Dentre estes 22.124 domicílios, a maioria (47,13%) possui sistema de esgotamento direcionado para a rede geral ou pluvial e apenas 6% possuem fossas sépticas (TABELA 19). TABELA 4: Domicílios Particulares Permanentes Segundo os Tipos de Esgotamento Sanitário - 2000/2010. Em relação ao fornecimento de energia elétrica e coleta de lixo, dos 22.124 domicílios, 98,92% possuem fornecimento de energia elétrica e 69,87 têm o lixo coletado regularmente (TABELA 20). 94 RPPN Não Me Deixes TABELA 50: Domicílios Particulares Permanentes Segundo Energia Elétrica e Lixo Coletado - 2000/2010. 3.2. Pressões Durante os levantamentos de campo foram observadas algumas práticas que põem em risco a integridade da RPPN por estarem ameaçando a biodiversidade local. A seguir seguem as imagens das pressões sofridas pela RPPN Não Me Deixes e as respectivas observações realizadas durante os levantamentos de campo na reserva. As FIGURAS 82 e 83 comprovam que na região ainda há capturas de animais silvestres, prática que compromete a biodiversidade local. Muitas vezes estes animais são capturados em áreas de refúgio, onde ainda há uma vegetação conservada, e fontes de alimentos para suprir a demanda dos animais que ali se abrigam como é o caso da RPPN Não Me Deixes. FIGURA 82: Pássaro capturado no FIGURA 83: Vestígio de caça no interior entorno da Fazenda Não Me Deixes da RPPN Não Me Deixes. Cova aberta (comunidade da Fazenda Junco). (Foto: para retirada de tatu, prática muito Samuel Portela). comum na região. (Foto: Samuel Portela). As FIGURAS 84 e 85 comprovam a existência de animais soltos no interior da Fazenda Não Me Deixes, fato que compromete a estabilidade da cobertura vegetal e a 95 RPPN Não Me Deixes qualidade dos solos do local. Isto se dá devido ao pisoteio dos animais, que por sua vez, compactam o solo impedindo o surgimento de vegetação e a pastagem realizada por eles diminui a quantidade de novas espécies vegetais que venham a crescer na área. FIGURA 84: Vestígio de passagem de FIGURA 85: Animais domésticos soltos animais domésticos no interior da RPPN no interior da RPPN Não Me Deixes. Não Me Deixes. Fezes pisoteadas de (Foto: Samuel Portela). Cavalos em trilas abertas pela passagem dos animais. (Foto: Samuel Portela). A FIGURA 86 apresenta o desenvolvimento de atividade agrícola, denominada agricultura de sequeiro, realizada pelos moradores da Fazenda Não Me Deixes. Este tipo de cultivo, na maioria das vezes utiliza o fogo para fazer a limpeza da área que será semeada, submetendo a área da fazenda e da RPPN à possíveis incêndios florestais. FIGURA 86: Agricultura de sequeiro praticada pelos moradores da Fazenda Não Me Deixes nos limites imediatos da RPPN. (Foto: Samuel Portela). 96 RPPN Não Me Deixes 4. POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE A Fazenda Não Me Dixes está localizada em uma zona apontada como área importante para estudos científicos do Bioma Caatinga. Um fator fundamental para proteção da RPPN nesta propriedade se traduz pelo favorecimento da conexão entre algumas UCs da mesma categoria que estão sendo criadas na região (FIGURA 87), situadas a poucos quilômetros (Fazenda Magé, Fazenda Fonseca e Fazenda Califórnia). FIGURA 87: RPPNs em processo de criação próximas à RPPN Não Me Deixes. A conectividade com outras áreas permite o fluxo de organismos e gênico, e assim, a manutenção de processos importantes para a comunidade, além de aumentar tanto a defesa da área contra usos prejudiciais e a quanto à resiliência natural do ambiente. Alguns fatores são essenciais para que as reservas sejam áreas de grande diversidade e representativas da fauna e flora locais, entre eles temos como principais o tamanho e a possibilidade de conexão com áreas preservadas vizinhas, que podem ser auxiliados pelo estabelecimento de corredores ecológicos. Com áreas maiores é diminuído o efeito de borda que se refere a alterações 97 RPPN Não Me Deixes maiores nas regiões de limite entre as áreas de reserva e outras nas quais são realizadas atividades como agricultura e pecuária, por exemplo. Quanto menor a área, maior a possibilidade dessas atividades afetarem a preservação, como fica claro pela invasão do gado em locais nos quais não existe cerca e a propagação de incêndios depois de brocas realizadas em terras vizinhas antes do plantio. A conexão entre áreas através de corredores ecológicos permite o fluxo de organismos e, portanto, gênico. Aumenta por exemplo, a dispersão de pólen e semente pelos animais, garantindo aumento na diversidade genética vegetal. Essa ligação permite também o fluxo de animais que assim tem um território maior aumentando as possibilidades de refúgio e recursos alimentares. A área da RPPN é dividida atualmente em duas partes, as quais podem ser conectadas futuramente pela aquisição de novas áreas do entorno pela administração da RPPN. Em relação ao entorno, sendo uma reserva, com fauna e flora protegida, a RPPN pode funcionar como área fonte de biodiversidade, ajudando a manter os estoques de sementes de plantas nativas, naturalmente dispersas para outras áreas de caatinga, assim como servindo como áreas para reprodução e refúgio para a fauna silvestre. 5. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA Diante de tudo que foi explicitado neste documento, fica clara a importância desta Reserva na árdua tarefa de contribuir para a manutenção da diversidade e da qualidade ambiental. O significado de uma área protegida dentro de um bioma tão submetido a pressões e alterações antrópicas como a caatinga torna-se maior ainda. A presença de espécies endêmicas de flora como o Pau-branco (Auxemma oncocalyx) e ameaçadas de extinção (MMA, 2008) como a Aroeira (Myracrodruon urundeuva), e de fauna como pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae) e o jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca) espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003), juntamente com as diversas relações ecológicas existentes entre os vários organismos, alteradas quando ocorrem perturbações ambientais, seria o bastante para dimensionar o significado desta reserva. Entretanto, podemos agregar o valor da melhor qualidade de vida das populações humanas que habitam nas proximidades. Além de termos, dessa maneira, recursos preservados para as gerações futuras. A RPPN Não Me Deixes está inserida em uma área classificada como de prioridade extremamente alta, de acordo com o mapeamento do projeto “Avaliação e 98 RPPN Não Me Deixes Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga – PROBIO1” (MMA, 2006) (FIGURA 88). FIGURA 88: Localização da RPPN Não Me Deixes no Mapeamento do projeto “Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga – PROBIO” (MMA, 2006). Como pode ser observada na FIGURA 88, a localização da RPPN Não Me Deixes é estratégica do ponto de vista ambiental, pois além de está localizada em uma área classificada como de prioridade extremamente alta, essa reserva se estende em direção a outra área classificada como de prioridade extremamente alta, no município de Itapiúna, favorecendo a conexão entre essas regiões, servindo como corredor ecológico e facilitando o fluxo gênico, além de ajudar na regeneração de outras áreas do entorno. Desta forma, baseado na diversidade biológica levantada nesta propriedade, observa-se que esse ambiente possui grande relevância para manutenção do ecossistema local, bem como refúgio para as espécies ameaçadas, já que a RPPN Fazenda Não Me Deixes é detentora de grandes porções de mata em preservada. 1 O Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO tem por objetivo a identificação de ações prioritárias e disseminação de informações sobre diversidade biológica brasileira. 99 RPPN Não Me Deixes C - PLANEJAMENTO 1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO A Reserva Particular do Patrimônio Natural, de acordo com a Lei 9.985/2000 em seu Art. 21 estabelece que é uma área privada gravada com perpetuidade que tem por objetivo conservar a diversidade biológica na qual são permitidos a pesquisa cientifica, a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais. Para que isso seja possível é necessário um planejamento para atender as demandas sem agredir a biodiversidade da área. A partir dos levantamentos bióticos e abióticos da área e seu entorno foi possível estabelecer alguns objetivos para a RPPN Não Me Deixes. Os objetivos específicos da RPPN Não Me Deixes são: Proteger as paisagens naturais de notável beleza cênica, bem como os recursos hídricos presentes na área, responsáveis pela recarga hídrica de lagoas naturais e açudes da propriedade, bem como dos corpos hídricos da região; Preservar as fitofisionomias de Caatinga existentes na área da RPPN Não Me Deixes, compostas por Caatinga arbustiva e Caatinga arbórea e as espécies de flora endêmicas e ameaçadas presente na área como o Pau-branco (Auxemma oncocalyx) e ameaçadas de extinção (MMA, 2008) como a Aroeira (Myracrodruon urundeuva); Proteger espécies da fauna, principalmente as espécies raras e/ou ameaçadas de extinção presentes na RPPN como pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae), o jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca), os felinos Gato-do-mato (Leopardus tigrinus) e Onça parda (Puma concolor), espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003); Proporcionar a pesquisa científica no intuito de ampliar o conhecimento sobre os recursos naturais da RPPN e região. 2. ZONEAMENTO O zoneamento é o ordenamento territorial da unidade de conservação e estabelece usos diferenciados para cada área, de acordo com as características físicas, geológicas e estruturais, bem como suas potencialidades e especificidades, como atrativos culturais, belezas cênicas. Então, para o gestor, o principal objetivo do zoneamento ambiental é servir como um guia da UC, ou seja, um instrumento que 100 RPPN Não Me Deixes permite integrar o uso limitado da RPPN com a conservação e manutenção da integridade da reserva em longo prazo. Para o desenvolvimento do zoneamento da RPPN Não Me Deixes foram delimitadas áreas com finalidades específicas de uso e ocupação com o propósito de aumentar o grau de proteção da UC, através da determinação de normas de uso nas áreas internas e circunvizinhas. Então, seguem as categorias destacadas e apresentadas no Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para RPPNs (MMA, 2004). 2.1. Zona Silvestre Área considerada de extrema importância. Apresenta poucos indícios de alterações e possui alto grau de conservação, que se destina à preservação da biodiversidade local, monitoramento e pesquisas científicas, além de servir como banco natural de sementes para processos naturais de sucessão secundária na zona de regeneração. Está presente nas porções centrais das duas áreas que compõem a RPPN e corresponde a aproximadamente 1/3 (um terço) da área da RPPN, ou seja, 92,40ha. Nestas áreas foram observados o maior número de espécies de fauna e os mais bem conservados fragmentos de vegetação, possibilitando melhores condições de abrigo para os animais. Estes critérios permitiram a indicação destas áreas para serem delimitadas como Zona de Silvestre. Não será permitido na Zona Silvestre: Poluição sonora; Presença de animais domésticos; Visitas de pessoas não autorizadas; Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de quaisquer outros produtos naturais sem a devida autorização do órgão ambiental competente ou do proprietário; Soltura de animais e plantio de espécies exóticas; Invasões ou instalação de assentamentos. 2.2. Zona de Proteção Áreas com poucas intervenções antrópicas, destinadas à pesquisa, monitoramento da biodiversidade, proteção dos recursos naturais, bem como 101 RPPN Não Me Deixes contribuírem para dispersão das espécies em áreas que se encontram em estádio de regeneração. É composta pelas áreas que circundam e protegem a Zona Silvestre, está presente nas duas áreas que compõem a RPPN e corresponde a aproximadamente 2/3 (dois terços) da área da RPPN, ou seja, 196,10ha. Não será permitido na Zona de Proteção: Quaisquer atividades ou intervenções antrópicas que comprometam a preservação ambiental, processos naturais e a evolução do ecossistema; Visitação, com exceção de pesquisadores com permissão do gestor da unidade e do órgão ambiental competente; Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de produtos naturais sem a devida autorização do órgão ambiental competente ou do proprietário; Soltura de animais e plantio de espécies exóticas; Invasões ou instalação de assentamentos. Por esses motivos, tal área necessita de uma fiscalização intensa a fim de coibir as pressões antrópicas. 2.3. Zona de Transição Consiste em uma faixa de 10m ao longo do perímetro da reserva, ocupando uma área de 11,40ha. Representa a área responsável por promover o amortecimento de intervenções antrópicas e contribuir com a integridade da RPPN. Não será permitido na Zona de Transição: Qualquer tipo de visitação sem o acompanhamento do gestor ou monitor da RPPN; Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de produtos naturais sem a devida autorização dos órgãos ambientais competentes; Pesquisas sem autorização do órgão ambiental competente e do proprietário; Soltura de animais e plantio de espécies exóticas; Invasões ou instalação de assentamentos; Remoção da cobertura vegetal para plantio de culturas de subsistência. 102 RPPN Não Me Deixes 103 RPPN Não Me Deixes 3. PROGRAMAS DE MANEJO Os Programas de Manejo têm como objetivos gerar diretrizes e agrupar atividades para uma adequada gestão da RPPN. A estrutura do Plano de Manejo em programas permite que as atividades sejam descritas em grupos temáticos, facilitando a gestão e o manejo da RPPN. Os programas descritos são os de Administração, Proteção e Fiscalização, Pesquisa e Monitoramento e Sustentabilidade Econômica. Cada programa constará da seguinte estrutura: Objetivos e Resultados Esperados: são as situações positivas e desejadas; Atividades, Subatividades e Normas: são as ações a serem desenvolvidas e acompanhadas de normas específicas; Para a distinção das atividades e normas em cada programa e subprograma, deve-se considerar a legenda de marcadores abaixo: 1. Atividade 1.1 Sub-atividade Norma Normas Gerais da RPPN Não Me Deixes Os projetos específicos de pesquisa e monitoramento deverão ser elaborados e desenvolvidos, preferencialmente, sob orientação de profissionais especializados; São proibidas a caça e coleta de espécimes da fauna e da flora, ressalvadas aquelas com finalidades científicas, desde que autorizadas pelos proprietários e, obrigatoriamente, pelo ICMBio; Atividades que apresentem indícios de danos à RPPN deverão ser suspensas para avaliação, bem como para elaboração e adesão de procedimentos corretivos; São proibidos o ingresso e a permanência na RPPN, de pessoas portando armas, materiais ou instrumentos destinados ao corte, caça ou quaisquer outras atividades prejudiciais à fauna, flora ou recursos naturais; É proibida a entrada de animais domésticos na RPPN. Sugere-se o controle ou a erradicação de animais domésticos (gatos e cachorros predadores de animais nativos) no interior da RPPN utilizando métodos legais e apropriados. 104 RPPN Não Me Deixes 3.1. Programa de Administração OBJETIVO O principal objetivo deste programa é organizar e facilitar o processo de gestão e gerenciamento adequado da RPPN. Nota: Tendo em vista os principais objetivos da RPPN Não Me Deixes - pesquisa e monitoramento para a conservação da biodiversidade - a sua gestão apropriada demandará, minimamente, um funcionário (que pode ser o próprio proprietário ou o gerente da Fazenda Não Me Deixes) e um ponto de apoio específico, que poderá ser na própria sede da Fazenda Não Me Deixes. A gestão da RPPN estará sob a responsabilidade desse funcionário, que deve atuar de acordo com o disposto nesse plano de manejo. RESULTADOS ESPERADOS Pessoas que trabalham na RPPN capacitadas; Rotinas de serviço estabelecidas; Orçamentos anuais elaborados; Sinalização implantada. ATIVIDADES E NORMAS GESTÂO 1. Designar pessoa responsável pela gestão da RPPN O gestor da reserva deverá ser capacitado e munido de conhecimentos suficientes sobre a área e os procedimentos legais de gestão. 2. Designar responsável (is) pela execução das atividades relacionadas à proteção, fiscalização e manejo de recursos da RPPN Este (s) responsável (is) deverá (ão) desempenhar as atividades listadas nos respectivos Programas de Manejo, além de suprir de mão-de-obra todas as demandas cotidianas da RPPN; 105 RPPN Não Me Deixes Este (s) responsável (is) deverá (ão) agendar as expedições de campo de pesquisas, controlar o fluxo de pessoas no interior da RPPN e desenvolver e manter sistema de armazenamento de informações, ou seja, o acervo da RPPN, que será composto por: Documentação relativa à UC, como portaria do IBAMA, ADA, CCIR, ITR, eventuais laudos e pareceres técnicos, etc.; Projetos e respectivas autorizações de pesquisas, relatórios, publicações científicas, materiais audiovisuais, etc.; Convênios, acordos de cooperação técnica, termos de parcerias e outros instrumentos formais de cooperação técnica e científica; Manter infraestrutura de apoio a pesquisas e monitoramento, como alojamento para pesquisadores, trilhas, etc. Em caso de contratações, estas deverão ser realizadas conforme a legislação trabalhista. 3. Capacitar os funcionários que trabalham na Fazenda Não Me Deixes e RPPN no desenvolvimento das atividades Os funcionários deverão ser capacitados em temas relacionados à função de guardaparque; Unir-se com os demais proprietários de RPPNs e chefes de UCs do município e adjacências, visando à realização dos cursos de forma conjunta, constituindo uma boa estratégia para a redução os custos e para o compartilhando experiências. 4. Aderir a rotinas e escalas de serviço Para a proteção e fiscalização deverão ser consideradas as demandas de serviço em diferentes épocas sujeitas aos seguintes fatores: a) riscos de incêndios, b) períodos mais propícios para apanha de animais e caça, c) rondas e segurança intensificada, d) acompanhamento de técnicos, pesquisadores no desenvolvimento de pesquisas, dentre outros; Para o funcionamento do sistema de proteção, fiscalização e manejo de recursos, deverão ser adquiridos equipamentos e materiais específicos para este fim. A relação de equipamentos pode ser consultada no item 22 deste programa. 5. Elaborar o orçamento prevendo todas as despesas para atender a estrutura e demandas da RPPN O orçamento deverá ser elaborado anualmente. 106 RPPN Não Me Deixes 6. Estabelecer parcerias com a Prefeitura Municipal de Quixadá e Prefeituras dos municípios vizinhos O gestor da RPPN deverá se articular para participar de conselhos e outros grupos, caso existam. 7. Estabelecer parcerias para o desenvolvimento das atividades da RPPN Deverão ser estabelecidas parcerias com os vizinhos, RPPNs da região, ONGs, instituições de pesquisa, Prefeituras Municipais, Instituições Governamentais Ambientalistas, dentre outras, objetivando fortalecer a RPPN, além de obter apoio técnico e troca de experiências, o que poderá reduzir custos. 8. Integrar a RPPN às Redes de Reservas Particulares A RPPN Não Me Deixes se manterá incorporada à Associação de Proprietários de RPPNs do Estado do Ceará - Asa Branca – e à Confederação Nacional de RPPNs CNRPPN. PESQUISA 9. Monitorar as pesquisas científicas realizadas na RPPN A realização de pesquisa deverá ter autorização dos proprietários e do ICMBio, conforme legislação vigente; As coletas de material biológico deverão ser autorizadas pelo proprietário e pelo órgão ambiental competente; Os procedimentos deverão levar em conta o mínimo impacto ao ambiente e sua dinâmica, respeitando sempre as restrições estabelecidas pelo zoneamento da RPPN; As pesquisas deverão ser coordenadas por profissionais especializados nas respectivas áreas de abordagem; 10. Estabelecer parceria com instituições de pesquisa Alunos de graduação e pós-graduação, bem como pesquisadores em geral, poderão realizar suas pesquisas na RPPN. As universidades podem ser parceiras, colaborando com informações científicas. 107 RPPN Não Me Deixes INFRAESTRUTURA 11. Implantar infraestrutura para atender as demandas da RPPN Deverão ser consideradas as APPs, respeitando os limites estabelecidos na legislação ambiental vigente; A infraestrutura deverá ser implantada mediante projeto específico; Os projetos deverão prever todos os impactos possíveis, principalmente erosões e contaminação das águas subterrâneas e superficiais; As infraestruturas serão instaladas privilegiando o sombreamento natural, as curvas de nível e, de preferência, utilizando materiais e a mão-de-obra local; Todo o conjunto seguirá um padrão estético e harmônico com o ambiente circundante, considerando as características histórico-culturais da região; Deverá ser prevista a disposição adequada de resíduos de construção e outros resíduos; Deverá ser promovida a manutenção regular de toda a infraestrutura e equipamentos. 12. Implantar e manter a cerca nos limites da RPPN Deverão ser utilizados cinco fios de arame farpado, sendo o último fio composto de arame liso, à aproximadamente 50 cm do chão, facilitando o fluxo de animais silvestres. 13. Implantar a sinalização na área de acesso A sinalização deverá ser de dois tipos: indicativa e informativa. A indicativa deverá orientar a população sobre a existência de uma reserva no local. A informativa tem a função de ilustrar (mapas e fotos) e informar/interpretar, por meio de painéis, por exemplo, os dados da RPPN e da região, tais como dados da flora e fauna, bem como histórico/culturais; Para os dois casos, deverão ser priorizados materiais rústicos e harmônicos ao meio ambiente. 14. Implantar marcos nos limites da RPPN com a área remanescente da propriedade Todos os vértices mapeados no memorial descritivo da RPPN, correspondentes aos limites da reserva com a área remanescente da Fazenda Não Me Deixes, devem ser materializados por meio de marcos de concreto. 108 RPPN Não Me Deixes EQUIPAMENTOS 15. Adquirir, utilizar e manter equipamentos e materiais permanentes para a RPPN Os materiais de segurança e apoio ao combate a incêndios serão de boa qualidade e armazenados em depósito específico; Deverá ser organizado e mantido um inventário atualizado de todo o patrimônio, bem como uma rotina de manutenção; Todos os produtos que vierem acompanhados de manual deverão ter suas indicações de usos praticados obrigatoriamente pelos usuários, visando sua otimização e durabilidade. 16. Adquirir equipamentos e materiais permanentes de apoio às atividades de primeiros socorros, proteção e fiscalização, tais como: a. Proteção e fiscalização - calças e jaquetas resistentes, camisas identificando as pessoas da RPPN, botas, chapéus, luvas de couro, cantis, lanternas, canivetes, facões, radio comunicadores e kit primeiros socorros. b. Combate a incêndios florestais - equipamentos individuais (EPIs), abafadores, enxadas, facões, bombas costais, dentre outros. É obrigatória a adoção de uniformes e equipamentos de segurança específicos para as atividades de proteção e fiscalização, garantindo o conforto e segurança dos funcionários; Para evitar acidentes é necessário o uso de botas de couro ou borracha e luvas de couro, principalmente quando o funcionário estiver manuseando diretamente com entulhos ou materiais estocados. Essas providências reduziriam sensivelmente a quantidade de acidentes, principalmente com animais peçonhentos; A validade dos medicamentos que compõem o kit de primeiros socorros deverá ser constantemente revisada. 3.2. Programa de Proteção e Fiscalização OBJETIVO O Programa visa garantir a proteção dos ecossistemas e a manutenção da biodiversidade. 109 RPPN Não Me Deixes RESULTADOS ESPERADOS Rondas periódicas de fiscalização implantadas; Sistema de Prevenção e combate a incêndios implantados; Trilhas rústicas para a fiscalização abertas. ATIVIDADES E NORMAS 1. Realizar rondas periódicas de fiscalização 1.1 Realizadas rondas periódicas de combate à caça e à coleta ilegal de plantas nas trilhas desativadas e limites da propriedade; Durante as rondas, os responsáveis não deverão abordar os infratores, caso os encontrem, e sim passar as informações para O ICMBio e a SEMACE, bem como para a polícia. O (s) responsável (is) pela realização das rondas deverá (ão) ser capacitado (s) para o desempenho das atividades. 2. Implementar o sistema de combate a incêndios 2.1 Firmar parceria com a brigada de incêndio que atende na região para combater eventuais focos de incêndio, através do órgão ambiental competente; 2.2 Estabelecer contato com os proprietários vizinhos à RPPN, visando alertá-los do risco do uso do fogo e do risco de incêndios na Reserva; 2.3 Denunciar queimadas não autorizadas no entorno da reserva à SEMACE e ao Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PREVFOGO/IBAMA); O funcionário responsável pela RPPN deverá ser capacitado para atuar no combate a eventuais focos de incêndio, com o apoio do PREVFOGO/IBAMA; Deverão ser utilizados aceiros como medida de contenção em caso de incêndios; 3. Estabelecer parceria com o ICMBio e SEMACE O ICMBio e a SEMACE deverão ser informados sobre todas as ameaças à RPPN e deverão ser solicitadas, sempre que necessárias, ações de fiscalização no seu entorno; A RPPN poderá integrar-se aos programas de governo desenvolvidos na região. 110 RPPN Não Me Deixes 3.3. Programa de Pesquisa e Monitoramento OBJETIVO Conhecer melhor e de forma progressiva os recursos naturais e culturais da RPPN e seu entorno, bem como desenvolver tecnologias para a utilização racional dos recursos naturais e sua conservação ambiental, registrando e avaliando os resultados de quaisquer fenômenos e alterações naturais ou induzidas na UC e seu entorno, que permitam melhorias constantes e progressivas para um melhor manejo e proteção da área. RESULTADOS ESPERADOS Sistema de monitoramento de pesquisas implantado; Sistema de Informações Geográficas – SIG da RPPN implantado. ATIVIDADES E NORMAS 1. Incentivar a realização de pesquisas científicas A realização de pesquisas científicas por parte de instituições acadêmicas e conservacionistas de interesse da RPPN deverá ser incentivada; A elaboração de um Sistema de Informação Geográfica – SIG, composto por todos os dados levantados durante os estudos para a elaboração do plano de manejo, bem como informações geradas em pesquisas futuras, deverá ser formulado. 2. Criar um banco de dados e monitorar as pesquisas científicas realizadas na RPPN Todos os estudos serão precedidos de um projeto de pesquisa e de um termo de compromisso, disciplinando a conduta, o uso das instalações e manuseio adequado dos equipamentos da propriedade e firmando a obrigatoriedade de entrega dos resultados finais; Cópias de todas as pesquisas realizadas deverão ser arquivadas, incrementando o acervo da RPPN, bem como cadastradas num banco de dados; Os proprietários, bem como os responsáveis por gerir a RPPN, deverão fornecer aos pesquisadores dados de pesquisas já disponíveis sobre a área, otimizando as oportunidades de aprofundamento das informações geradas anteriormente. 111 RPPN Não Me Deixes 3.4. Programa de Sustentabilidade Econômica OBJETIVO O Programa de Sustentabilidade Econômica tem como objetivo apresentar diretrizes gerais para a avaliação das atividades econômicas a serem desenvolvidas para a aplicação de investimentos na RPPN. RESULTADOS ESPERADOS Acesso a recursos garantidos; Plano de Manejo implementado; Sustentabilidade da RPPN assegurada. ATIVIDADES E NORMAS 1. Acessar recursos de editais de apoio à conservação em terras privadas 1.1. Consultar periodicamente sites de instituições públicas e privadas que apoiam financeiramente projetos voltados para a conservação ambiental; 1.2. Submeter projetos voltados para melhoria da gestão da RPPN, incremento de infraestrutura, pesquisa científica, entre outros, à fundos de apoio a projetos de caráter ambiental; 1.3. Buscar parcerias com empresas locais, a fim de alavancar recursos para a implementação de ações prevista no plano de Manejo da RPPN. A busca por recursos para a implementação das ações previstas para a RPPN deverá ser realizada constantemente, para que se possa garantir a sustentabilidade da UC. 112 RPPN Não Me Deixes D – INFORMAÇÕES FINAIS 1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. CPRM. Ministério de Minas e Energia. 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