RPPN Não Me Deixes
ELABORAÇÃO
Coordenação:
Ana Carolina Leite Cordeiro
Bióloga/UECE – CRBio nº. 46.633-5D
Ma. Gestão Ambiental de Recursos Hídricos
Equipe Técnica:
Cristiano Alves da Silva – Geógrafo/UECE
Caracterização Abiótica e geoprocessamento.
Ileane Oliveira Barros – Bióloga/UFC
George Machado Tabatinga Filho – Biólogo/UFC
Caracterização Botânica.
Fábio de Paiva Nunes – Biólogo/UFC
João Marcelo Holderbaum – Biólogo/UFC
Caracterização da Avifauna, Mastofauna e Herpetofauna
Samuel Victor da Silva Portela – Biólogo/UVA:
Caracterização Socioeconômica das comunidades de entorno da RPPN.
Hangley da Silva Félix - Estudante de Geografia/UECE
Estagiário da Associação Asa Branca
RPPN Não Me Deixes
APOIO
PARCERIA
Confederação Nacional de RPPN - CNRPPN
Associação Caatinga
RPPN Não Me Deixes
AGRADECIMENTOS
Às inúmeras pessoas e instituições que há anos contribuem de forma significativa para a
conservação da natureza através do incentivo à criação e gestão de reservas
particulares.
À primeira proprietária da RPPN Não Me Deixes, Raquel de Queiroz, pela idealização e
criação desta Unidade de Conservação; à Sra. Maria Luíza Salek, hoje proprietária e
responsável pela administração da propriedade, e ao seu filho, o Sr. Flávio Salek, pelo
apoio logístico e pelas inúmeras informações concedidas à equipe executora do projeto.
À Associação Caatinga pelas várias formas de contribuição técnico-institucionais, que
foram fundamentais para e execução deste projeto.
À Aliança da Caatinga, financiadora desse projeto, que contou ainda com o apoio da
MPX, empresa do grupo EBX.
E por fim, a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a elaboração desse
documento, seja no apoio logístico, nos levantamentos de campo (mateiros e caseiros)
ou na facilitação de informações de grande valor sociocultural.
RPPN Não Me Deixes
APRESENTAÇÃO
Este documento é resultante do projeto “Elaboração do Plano de Manejo da
RPPN Não Me Deixes” executado pela Associação dos Proprietários de RPPN do Estado
do Ceará – Asa Branca e apoiado pela Aliança da Caatinga através do Programa de
Incentivo à Conservação em Terras Privadas na Caatinga.
A iniciativa da proprietária em criar a RPPN Não Me Deixes foi de garantir a
proteção legal e integral dos atributos naturais da propriedade Fazenda Não Me Deixes,
onde 32,33% da propriedade foram convertidos em RPPN. O Plano de Manejo contribuirá
e orientará para a gestão e captação de recursos para a implementação das ações de
gestão da reserva previstas nos programas, além de possibilitar a conservação da
biodiversidade local com maior efetividade.
A possibilidade de implementar esses objetivos é de total interesse do
proprietário, gestor da RPPN que hoje é mantida exclusivamente através de recursos
próprios. Portanto, uma das expectativas do Plano de Manejo é consolidar um plano de
sustentabilidade da reserva, envolvendo também a captação de recursos externos no
sentido de viabilizar as ações propostas. Além disso, há a preocupação do proprietário
em adequar-se a legislação vigente que inclui o compromisso e a obrigação de elaborar e
aprovar um Plano de Manejo junto ao órgão ambiental responsável, neste caso o ICMBio.
Em definitiva, o Plano de Manejo da RPPN Não Me Deixes deverá servir de
referência e estímulo para as outras RPPN que estão em processo de criação nesta área,
fortalecendo a categoria das RPPN no Estado do Ceará e incentivando a criação de
Políticas Públicas mais efetivas para a conservação no Estado.
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RPPN Não Me Deixes
SUMÁRIO
A – INFORMAÇÕES GERAIS
1. ACESSO .....................................................................................................................................................19
2. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN ............................................................................21
3. FICHA-RESUMO DA RPPN .........................................................................................................................23
B - DIAGNÓSTICO
1. CARACTERIZAÇÃO DA RPPN .....................................................................................................................24
1.1. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES ABIÓTICOS .................................................................................................25
1.1. 1. CLIMA ........................................................................................................................................25
1.1.2. GEOLOGIA ....................................................................................................................................28
1.1.3. GEOMORFOLOGIA..........................................................................................................................30
1.1.4. SOLOS .........................................................................................................................................32
1.1.5. HIDROGRAFIA ...............................................................................................................................34
1.2. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES BIÓTICOS ...................................................................................................36
1.2.1. VEGETAÇÃO .................................................................................................................................36
1.2.1.1. FLORA E FITOFISIONOMIAS .........................................................................................................37
1.2.1.2. LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO ...........................................................................................44
1.2.1.2.1. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 1 .............................................................................46
1.2.1.2.2. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 2 .............................................................................48
1.2.1.2.3. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 3 .............................................................................50
1.2.1.2.4. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 4 .............................................................................53
1.2.1.2.5. DADOS FITOSSOCIOLÓGICOS DA PARCELA 5 .............................................................................55
1.2.2. FAUNA ........................................................................................................................................57
1.2.2.1. MASTOFAUNA......................................................................................................................57
1.2.2.2. AVIFAUNA ...........................................................................................................................60
1.2.2.3. HERPETOFAUNA ...................................................................................................................68
1.3. VISITAÇÃO ............................................................................................................................................74
1.4. PESQUISA E MONITORAMENTO.................................................................................................................75
1.5. OCORRÊNCIA DE FOGO ............................................................................................................................75
1.6. ATIVIDADES CONFLITANTES NA RPPN ........................................................................................................75
1.7. SISTEMA DE GESTÃO ...............................................................................................................................77
1.8. PESSOAL...............................................................................................................................................77
1.9. INFRAESTRUTURA ...................................................................................................................................77
1.10. EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS...................................................................................................................77
1.11. RECURSOS FINANCEIROS........................................................................................................................78
1.12. FORMAS DE COOPERAÇÃO .....................................................................................................................78
2. CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE .......................................................................................................79
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO...............................................................................................83
3.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ .............................................................................................83
3.2. PRESSÕES .............................................................................................................................................95
4. POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE .......................................................................................................97
5. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA ..............................................................................................................98
C - PLANEJAMENTO
1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO .................................................................................................... 100
2. ZONEAMENTO ....................................................................................................................................... 100
2.1. ZONA SILVESTRE ................................................................................................................................. 101
2.2. ZONA DE PROTEÇÃO ............................................................................................................................ 101
2.3. ZONA DE TRANSIÇÃO ........................................................................................................................... 102
3. PROGRAMAS DE MANEJO ..................................................................................................................... 104
3.1. PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................................ 105
3.2. PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO .............................................................................................. 109
3.3. PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO ......................................................................................... 111
3.4. PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA ....................................................................................... 112
D – INFORMAÇÕES FINAIS
1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................. 113
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RPPN Não Me Deixes
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01: CARTOGRAMA DE LOCALIZAÇÃO ................................................................................................. 19
FIGURA 02: CASA SEDE DA FAZENDA NÃO ME DEIXES.................................................................................... 22
FIGURA 03: MOSAICO DE FOTOS DA FAZENDA NÃO ME DEIXES. (FONTE: BEHR,2007). ................................ 24
FIGURA 04: ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT) MOSTRADA ATRAVÉS DAS IMAGENS DO
SATÉLITE METEOSAT-7. FONTE: (SILVA, 2006 APUD CEARÁ FUNCEME, 2006) ............................................... 26
FIGURA 05: VIÚVA-ALEGRE (CRYPTOSTEGIA GRANDIFLORA) PLANTA INVASORA NAS PROXIMIDADES DA
LAGOA DOS SEIXOS (COORDENADAS 4º48’ 53.86’ S 38º57’42.94”O)............................................................. 38
FIGURA 06: CANSANÇÃO BRANCO (JATROPHA URENS) NAS PROXIMIDADES DA LAGOA DOS SEIXOS
(COORDENADAS 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). .............................................................................................. 38
FIGURA 07: FLORES MASCULINAS NA INFLORESCÊNCIA DO VELAME (CROTON HELIOTROPIIFOLIUS) NAS
PROXIMIDADES DA LAGOA DOS SEIXOS (COORDENADAS 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). .............................. 38
FIGURA 08: HERBÁCEA (SIDA CILIARIS) NAS PROXIMIDADES DA LAGOA DOS SEIXOS (COORDENADAS
4º48’53.86’S 38º57’42.94”O) COORDENADAS 4º48’53.86’S 38º57’42.94”O). ............................................... 38
FIGURA 09: FLORES DA AMEIXA (XIMENIA AMERICANA) (COORDENADAS 4º48’57.09’S 38º57’50.22”O)..... 39
FIGURA 10: FRUTOS DA AMEIXA (XIMENIA AMERICANA) (COORDENADAS 4º48’57.09’S 38º57’50.22”O). ... 39
FIGURA 11: MARACUJÁ DO MATO (PASSIFLORA FOETIDA) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS
4º48’39.15”S 38º58’25.03”O). ........................................................................................................................ 39
FIGURA 12: HERBÁCEA (PIRIQUETA GUIANENSIS) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS 4º48’39.15”S
38º58’25.03”O)................................................................................................................................................ 39
FIGURA 13: HERBÁCEA (MELOCHIA PYRAMIDATA) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS 4º48’39.15”S
38º58’25.03”O)................................................................................................................................................ 39
FIGURA 14: HERBÁCEA (JAQUEMONTIA SP.) NA MARGEM DA ESTRADA (COORDENADAS 4º48’39.15”S
38º58’25.03”O)................................................................................................................................................ 39
FIGURA 15: ASPECTO GERAL DA PARCELA 1 (COORDENADAS 4º48'35.25"S 38º57'44.80"O). ....................... 47
FIGURA 16: SERRAPILHEIRA E GRAMÍNEAS NO SOLO DA PARCELA 1 (COORDENADAS 4º48'35.25"S
38º57'44.80"O). ............................................................................................................................................... 47
FIGURA 17: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 1. ......................................................................................... 47
FIGURA 18: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 1. ................................................................................... 48
FIGURA 19: PEREIRO (ASPIDOSPERMA PYRIFOLIUM) PLANTA COM FLORES E FRUTOS NA PARCELA 2
(COORDENADAS 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ............................................................................................... 48
FIGURA 20: DETALHE DA FLOR DO PEREIRO (ASPIDOSPERMA PYRIFOLIUM) NA PARCELA 2 (COORDENADAS
4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ........................................................................................................................... 48
FIGURA 21: ASPECTO GERAL DA PARCELA 2 (COORDENADAS 4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ......................... 49
FIGURA 22: GRANDE QUANTIDADE DE SERRAPILHEIRA NO SOLO DA PARCELA 2 (COORDENADAS
4°48'33.64'S 38°57'42.35'O). ........................................................................................................................... 49
FIGURA 23: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 2. ......................................................................................... 50
FIGURA 24: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 2. ................................................................................... 50
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RPPN Não Me Deixes
FIGURA 25: ÁREA COM MUITOS CIPÓS NA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ....... 51
FIGURA 26: SERRAPILHEIRA, PLÂNTULAS EM RECRUTAMENTO E ALGUMAS ÁRVORES MORTAS NA PARCELA
3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). .......................................................................................... 51
FIGURA 27: ÁREA ABERTA NA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ........................... 51
FIGURA 28: ASPECTO DO CAULE DO FREI JORGE (CORDIA TRICHOTOMA) NAS PROXIMIDADES DA PARCELA 3
(COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ............................................................................................. 51
FIGURA 29: ASPECTO DO CAULE DO CUMARU (AMBURANA CEARENSIS) NA PARCELA 3 (COORDENADAS
4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ......................................................................................................................... 51
FIGURA 30: ASPECTO DO CAULE DA EMBIRATANHA (PSEUDOBOMBAX MARGINATUM) NAS PROXIMIDADES
DA PARCELA 3 (COORDENADAS 4º48'32.97"S 38º57'43.49"O). ..................................................................... 51
FIGURA 31: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 3. ......................................................................................... 52
FIGURA 32: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 3. ................................................................................... 52
FIGURA 33: SOLO COBERTO POR SERRAPILHEIRA E GRANDE QUANTIDADE DE PLÂNTULAS EM
RECRUTAMENTO NA PARCELA 4 (COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). ........................................ 53
FIGURA 34: ÁREA SEMIABERTA NA PARCELA 4 (COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). .................. 53
FIGURA 35: CUPINZEIRO SOBRE UMA CATINGUEIRA (POINCIANELLA BRACTEOSA ) E UM MANDACARU
(CEREUS JAMACARU) NA PARCELA 4 (COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). ................................. 54
FIGURA 36: FLORES MASCULINAS DO PINHÃO MANSO (JATROPHA MOLISSIMA) NA PARCELA 4
(COORDENADAS 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O). ............................................................................................. 54
FIGURA 37: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 4. ......................................................................................... 54
FIGURA 38: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 4. ................................................................................... 55
FIGURA 39: ÁREA SEMIABERTA NA PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). ................... 55
FIGURA 40: SOLO COBERTO POR SERRAPILHEIRA E GRANDE QUANTIDADE DE PLÂNTULAS EM
RECRUTAMENTO NA PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S 38º57'44.69"O). ......................................... 55
FIGURA 41: CIPÓ CABEÇA DE NEGO (MALPIGHIACEAE 1) NA PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S
38º57'44.69"O). ............................................................................................................................................... 56
FIGURA 42: CIPÓ (MALPIGHIACEAE 2) PRÓXIMO À PARCELA 5 (COORDENADAS 4º48'36.97"S
38º57'44.69"O). ............................................................................................................................................... 56
FIGURA 43: ESTRUTURA VERTICAL DA PARCELA 5. ......................................................................................... 56
FIGURA 44: ESTRUTURA HORIZONTAL DA PARCELA 5. ................................................................................... 57
FIGURA 45: RAPOSA – CERDOCYON THOUS. ................................................................................................... 58
FIGURA 46: SOIM – CALLITHRIX JACCHUS. ...................................................................................................... 58
FIGURA 47: MAMBIRA – TAMANDUA TETRADACTYLA.................................................................................... 58
FIGURA 48: GRUPOS TRÓFICOS DAS AVES DA RPPN NÃO ME DEIXES. ........................................................... 61
FIGURA 49: USO DO HABITAT DAS ESPÉCIES DE AVES DA RPPN NÃO ME DEIXES. ......................................... 61
FIGURA 50: SENSITIVIDADE DAS ESPÉCIES DE AVES DA RPPN NÃO ME DEIXES.............................................. 62
FIGURA 51: PERIQUITO-DO-SERTÃO – ARATINGA CACTORUM; ESPÉCIE ENDÊMICA. .................................... 62
FIGURA 52: JACU VERDADEIRO – PENELOPE JACUCACA; ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO. ...................... 62
xiii
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 53: ARAPAÇU-GRANDE – DENDROCOLAPTES PLATYROSTRIS; ESPÉCIE DEPENDENTE DE AMBIENTES
FLORESTAIS. ..................................................................................................................................................... 63
FIGURA 54: FIGURA PICA-PAU-DOURADO – PICULUS CHRYSOCHLOROS - ESPÉCIE DEPENDENTE DE
AMBIENTES FLORESTAIS. ................................................................................................................................. 63
FIGURA 55: TEJU (TUPINAMBIS MERIANAE). .................................................................................................. 69
FIGURA 56: CURURU (CHAUNUS JIMI). ........................................................................................................... 69
FIGURA 57: CAÇOTE (LEPTODACTYLUS TROGLODYTES). ................................................................................. 70
FIGURA 58: COSTELINHA-DE-VACA (LIOPHIS DILEPIS). .................................................................................... 70
FIGURA 59: BREJADO NA PORÇÃO LESTE DA RPPN NÃO ME DEIXES. ............................................................. 72
FIGURA 60: PERERECA RASPA-CUIA (SCINAX X-SIGNATUS)............................................................................. 72
FIGURA 61: PSEUDOPALUDICOLA SP. .............................................................................................................. 72
FIGURA 62: SAPINHO-DE-AREIA (PLEURODEMA DIPLOLISTER) ....................................................................... 72
FIGURA 63: RÃ-MANTEIGA (DERMATONOTUS MUERLLERI). .......................................................................... 72
FIGURA 64: CALANGUINHO (CNEMIDOPHORUS OCELLIFER). ......................................................................... 73
FIGURA 65: TIJUBINA (AMEIVA AMEIVA). ....................................................................................................... 73
FIGURA 66: IGUANA (IGUANA IGUANA). ......................................................................................................... 73
FIGURA 67: PAPA-VENTO (ENYALIUS BIBRONII). ............................................................................................. 73
FIGURA 68 JIBÓIA (BOA CONSTRICTOR). ......................................................................................................... 73
FIGURA 69: COBRA-CIPÓ (LEPTOPHIS AHAETULLA). ....................................................................................... 73
FIGURA 70: COBRA-DE-DUAS-CABEÇAS (LEPOSTERNON POLYSTEGUN) MORTA NA RPPN NÃO ME DEIXES,
CONFUNDIDA COM UMA SERPENTE. .............................................................................................................. 74
FIGURA 71: VEGETAÇÃO DAS MARGENS DE UM CÓRREGO DEGRADA NO INTERIOR DA RPPN.
REPRESAMENTO DE ÁGUA PARA A LAVAGEM DE ROUPAS PELA COMUNIDADE, PRÓXIMA À ESTRADA QUE
SEGUE PARA A COMUNIDADE DE AREIAS. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .......................................................... 76
FIGURA 72: PRODUTOS QUÍMICOS UTILIZADOS NA LAVAGEM DAS ROUPAS (SABÃO E ÁGUA SANITÁRIA) NO
INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .................................................................. 76
FIGURA 73: RETIRADA DE VEGETAÇÃO PELAS COMUNIDADES DO ENTORNO DA FAZENDA NÃO ME DEIXES
PARA A ABERTURA DE TRILHAS NO INTERIOR DA RPPN (PRÓXIMA À ESTRADA QUE SEGUE PARA A
COMUNIDADE DE AREIAS). (FOTO: SAMUEL PORTELA). ................................................................................. 76
FIGURA 74: VISTA DA ENTRADA DA CASA SEDE DA FAZENDA NÃO ME DEIXES E A CASA DE UM DOS
MORADORES AO FUNDO. (FOTO: SAMUEL PORTELA). ................................................................................... 81
FIGURA 75: PLANTAÇÃO DE MILHO E FEIJÃO CONSORCIADOS NA FAZENDA NÃO ME DEIXES. (FOTO:
SAMUEL PORTELA). ......................................................................................................................................... 81
FIGURA 76: EVOLUÇÃO POPULACIONAL DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ – 1991/2007. FONTE: IBGE 2012. ..... 86
FIGURA 77: PIB POR SETOR DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. .............................................. 88
FIGURA 78: ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. .................... 91
FIGURA 79: DOCENTES POR SÉRIE NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. .................................... 92
FIGURA 80: NÚMERO DE ESCOLAS POR SÉRIE NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. ................. 93
xiv
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 81: MATRÍCULAS POR SÉRIE NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ. FONTE: IBGE 2012. ................................ 93
FIGURA 82: PÁSSARO CAPTURADO NO ENTORNO DA FAZENDA NÃO ME DEIXES (COMUNIDADE DA
FAZENDA JUNCO). (FOTO: SAMUEL PORTELA). ............................................................................................... 95
FIGURA 83: VESTÍGIO DE CAÇA NO INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES. COVA ABERTA PARA RETIRADA DE
TATU, PRÁTICA MUITO COMUM NA REGIÃO. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .................................................... 95
FIGURA 84: VESTÍGIO DE PASSAGEM DE ANIMAIS DOMÉSTICOS NO INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES.
FEZES PISOTEADAS DE CAVALOS EM TRILAS ABERTAS PELA PASSAGEM DOS ANIMAIS. (FOTO: SAMUEL
PORTELA). ........................................................................................................................................................ 96
FIGURA 85: ANIMAIS DOMÉSTICOS SOLTOS NO INTERIOR DA RPPN NÃO ME DEIXES. (FOTO: SAMUEL
PORTELA). ........................................................................................................................................................ 96
FIGURA 86: AGRICULTURA DE SEQUEIRO PRATICADA PELOS MORADORES DA FAZENDA NÃO ME DEIXES
NOS LIMITES IMEDIATOS DA RPPN. (FOTO: SAMUEL PORTELA). .................................................................... 96
FIGURA 87: RPPNS EM PROCESSO DE CRIAÇÃO PRÓXIMAS À RPPN NÃO ME DEIXES. ................................... 97
FIGURA 88: LOCALIZAÇÃO DA RPPN NÃO ME DEIXES NO MAPEAMENTO DO PROJETO “AVALIAÇÃO E AÇÕES
PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DO BIOMA CAATINGA – PROBIO” (2006). ....... 99
xv
RPPN Não Me Deixes
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Ficha resumo da RPPN Não Me Deixes. ......................................................................................... 23
TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará. ........................................... 40
TABELA 3: Georreferencimento e diversidade de espécies nas cinco parcelas de 10x10m na RPPN Não Me
Deixes, Quixadá, CE. ........................................................................................................................................ 44
TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Não Me Deixes. .................................. 45
TABELA 5: Lista da Mastofauna da RPPN Não Me Deixes. .............................................................................. 59
TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. .................................................................................... 63
TABELA 7: Listagem dos anfíbios registrados na RPPN não Me Deixes em maio de 2011. ............................. 70
TABELA 8: Listagem dos répteis registrados na RPPN não Me Deixes em maio de 2011. .............................. 71
TABELA 9: População Residente – 1991/2000/2010. ...................................................................................... 85
TABELA 10: Domicílios Particulares Permanentes por Situação e Média de Moradores – 2010. ................... 86
TABELA 11: Índices de Desenvolvimento. ....................................................................................................... 87
TABELA 12: População Extremamente pobre: (com rendimento domiciliar per capita mensal de até R$
70,00) – 2010. .................................................................................................................................................. 87
TABELA 13: Número de Empregos Formais – 2010. ........................................................................................ 88
TABELA 14: produto Interno Bruto – 2008. ..................................................................................................... 89
TABELA 15: Renda Domiciliar per capita (salário mínimo R$ 510,00) – 2010. ................................................ 89
TABELA 16: Profissionais de Saúde, Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) – 2010. ................................. 91
TABELA 17: Taxa de Analfabetismo Funcional para Pessoas com 15 anos ou mais – 2000/2010. ................. 92
TABELA 18: Domicílios Particulares Permanentes Segundo as Formas de Abastecimento de Água –
2000/2010. ...................................................................................................................................................... 94
TABELA 19: Domicílios Particulares Permanentes Segundo os Tipos de Esgotamento Sanitário - 2000/2010.
......................................................................................................................................................................... 94
TABELA 20: Domicílios Particulares Permanentes Segundo Energia Elétrica e Lixo Coletado - 2000/2010.... 95
xvi
RPPN Não Me Deixes
LISTA DE MAPAS
MAPA0 1 : Mapa de Localização e Acesso..............................................................................................
20
MAPA 02: Clima......................................................................................................................................
27
MAPA03: Geologia..................................................................................................................................
29
MAPA 04: Geomorfologia.......................................................................................................................
31
MAPA 05: Solos.......................................................................................................................................
33
MAPA 06: Hidrografia.............................................................................................................................
35
MAPA 07: Zoneamento...........................................................................................................................
103
xvii
RPPN Não Me Deixes
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ADA:
Ato Declaratório Ambiental
APP:
Área de Preservação Permanente
CCIR:
Certificado de Cadastro do Imóvel Rural
CREA:
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
CNRPPN:
Confederação Nacional das Reservas Particulares do Patrimônio Natural
CPF:
Cadastro de Pessoa Física
CONAMA:
Conselho Nacional do Meio Ambiente
FNMA:
Fundo Nacional do Meio Ambiente
FUNBIO:
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
FUNCEME:
Fundação Cearense de Meteorologia
IBAMA:
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio:
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IDACE:
Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará
INCRA:
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
ITR:
Imposto Territorial Rural
IUCN:
International Union for Conservation of Nature
MMA:
Ministério do Meio Ambiente
ONG:
Organização Não Governamental
PIB:
Produto Interno Bruto
PNMA:
Política Nacional do Meio Ambiente
PREVFOGO:
Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais
PSF:
Programa de Saúde da Família
RPPN:
Reserva Particular do Patrimônio Natural
SESA:
Secretaria Estadual de Saúde
SUDENE:
Superintendência Para o Desenvolvimento do Nordeste
UC:
Unidade de Conservação
UECE:
Universidade Estadual do Ceará
UFC:
Universidade Federal do Ceará
UVA:
Universidade Estadual Vale do Acaraú
xviii
RPPN Não Me Deixes
A – INFORMAÇÕES GERAIS
1. ACESSO
De acordo com o limite municipal do IBGE (2005), a RPPN Não Me Deixes
está localizada no município de Quixadá, Estado do Ceará, que pertence a Macrorregião
do Sertão Central Cearense, distante 135,24m da capital, entre as latitudes
04°46’38,29”S e 04°51’28,72”S e longitudes 38°56’32,0”O e 39°0’12,28”O (Datum
SAD69).
Figura 01: Cartograma de localização
Localizada na porção norte do Município de Quixadá, o acesso a RPPN Não
Me Deixes, partindo de Fortaleza no quilômetro 01 da rodovia estadual 060, é realizado
seguindo pela CE-060 por 132.18km até o entroncamento com uma estrada vicinal, nas
proximidades da localidade de Daniel Queiroz, deste segue pela estrada vicinal por
3,06m até a sede da Fazenda Não Me Deixes, propriedade onde está localizada a RPPN
de mesmo nome, conforme Mapa de Localização e Acesso (MAPA 01).
19
RPPN Não Me Deixes
20
RPPN Não Me Deixes
2. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN
A Fazenda Não Me Deixes está localizada no distrito de Daniel de Queiroz
no município de Quxadá, Estado do Ceará. Está distante, aproximadamente, 30 km da
sede do município. Possui uma área total de 928 hectares.
O velho Miguel Francisco de Queiroz, tio-avô de Daniel de Queiroz, pai de
Rachel e Maria Luiza (atual proprietária da Fazenda) era homem de muitas posses e
dono de quase todas as terras daquela região. A um dos sobrinhos ele deu um pedaço
do Junco (a fazenda sede), a parte que ficava do outro lado da estrada de ferro que
lhe cortava as terras. O sobrinho ficou lá algum tempo mas, seduzido pelas histórias
da riqueza da borracha no Amazonas, vendeu a terra e foi-se para o Norte. Tempos
depois, doente de malária, alquebrado e pobre, voltou ao sertão, E o tio lhe disse:
“Olhe, comprei de volta a terra que você vendeu. Vá cuidar do que você abandonou,
ponha na Fazenda o nome de “Não Me Deixes” e nunca mais saia de lá.” E assim foi.
Quando esse sobrinho morreu, como não tinha filhos, qa fazenda tornou a fazer parte
do Junco, já então com outro sobrinho, Daniel de Queiroz, de onde passou pro
herança a Rachel de Queiroz, anos depois, por iniciativa da escritora, parte da fazenda
foi transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN e, por sua
morte, a Fazenda passou a ser da sua irmã, Maria Luiza de Queiroz.
A atual proprietária informou que a reserva foi criada pela sua irmã no
intúito de garantir a conservação da exuberante vegetação de Caatinga da
propriedade, que garante um clima mais agradável mesmo nos períodos de estiagem,
e também para preservar as várias espécies de animais que ali habitam. Sendo a
criação da RPPN de ceráter perpétuo, todos estes atributos naturais teriam sua
existência essegurados.
A escritora Rachel de Queiroz e o seu esposo Oyama de Macedo
construíram a casa, sede da Fazenda Não Me Deixes, em 1955. Tijolos, portas e
janelas, além dos móveis, foram feitos com materiais retirados da própria fazenda. O
projeto da casa (FIGURA 02) foi da própria escritora, e era caracterizado por
elementos rústicos: cantareiras com potes de barro, o fogão era de lenha e mobília
artesanal, desenhada pela proprietária. Ela recorda até que fez uma maquete da
construção, com varas de mata-pasto, para mostrar como deveria ficar o telhado alto.
A escritora passava vários meses na fazenda, independentemente de ano seco ou
chuvoso.
A RPPN Não Me Deixes foi criada pela Portaria do IBAMA Nº 37-N de 16
de abril de 1999, no intúito de conservar a biodiversidade da Caatinga e garantir a
perpetuidade da preservação de uma éra significativa da Fazenda Não Me Deixes. A
21
RPPN Não Me Deixes
área apresenta boas condições de conservação da vegetação sendo usada como área
de soltura de aves nativas apreendidos pelo IBAMA em feiras e comércio irregular.
FIGURA 02: Casa sede da Fazenda Não Me Deixes. (Foto: Samuel Portela)
A RPPN, compreendida pela área da "Fazenda Não Me Deixes", tem
trezentos hectares (300 ha) e protege uma área de Caatinga arbórea e arbustiva,
sendo parte da fazenda destinada para uso agropecuário.
A seguir segue um comentário feito pela ecritora Rachel de Queiroz em
relação às solturas de aves na Fazenda Não Me Deixes:
(...) Tive a honra e a glória de receber na fazenda uma delegação do IBAMA que
vinha com dois carros carregados de pássaros em gaiolas, para os soltar nos ares
livres do Não Me Deixes. Acho que mereci essa honraria, pois sempre foi
preocupação minha, desde menina, soltar passarinho. Verdade que é meio
arriscado: os donos dos passarinhos são capazes de tudo contra alguém que libere
as suas presas. Mas a alegria de ver voando um pássaro, antes confinado a uma
gaiola, paga todos os riscos de represálias. (...)
Rachel de Queiroz em O Estado de S. Paulo, 30 set. 2000.
Hoje a Fazenda Não Me Deixes e a RPPN de mesmo nome é propriedade
da irmã mais nova da escritora, a Sra. Maria Luiza de Queiroz Salek, que nasceu em
1926 quando a escritora já tinha 16 anos. Ela teve sempre a amizade de irmã e os
cuidados de uma mãe da irmã mais velha. Estavam sempre juntas, inclusive na
literatura. A Sra. Maria Luíza, Dona Izinha, como é conhecida na fazenda, compartilha
três livros com a irmã, Rachel.
22
RPPN Não Me Deixes
3. FICHA-RESUMO DA RPPN
TABELA 1: Ficha resumo da RPPN Não Me Deixes.
FICHA-RESUMO DA RPPN NÃO ME DEIXES
Nome da RPPN
Nome do Imóvel
RPPN Não Me Deixes
Fazenda Não Me Deixes
Nome dos Proprietários e representantes
Maria Luiza de Queiroz Salek
Endereço da RPPN
Endereço para correspondência
Rodovia CE-060, Fazenda Não Me
Rua Rita Ludolf, 43 - AP.201 – Leblon, Rio
Deixes, Distrito de Daniel de Queiroz,
de Janeiro/RJ - CEP 22.440-060
Quixadá/CE – CEP 63.900-000
Telefone e email para contato
Município e Estado abrangido
(21) 2522.6078
Quixadá, Ceará
(21) 7100.0163
(88) 3412.1282
[email protected]
Área da propriedade
Área da RPPN
928,00ha
300,00ha
Coordenadas Sede UTM (SAD 69 –
Data e número do ato legal de criação
24S)
Portaria do IBAMA Nº 37-N de 16 de abril
9466000N/0502000E
de 1999.
Marcos e referências importantes
Distância do centro urbano mais
nos limites confrontantes
próximo
Unidade de Conservação Estadual:
Aproximadamente 06 Km
Monumento Natural Monólitos de
Quixadá
Meio principal de chegada à RPPN
Bioma
Terrestre/Automóvel
Caatinga
Atividades ocorrentes
Foram realizadas pesquisas para o plano de manejo (fauna, flora, meio físico e
socioeconômico). Ocorrem apenas atividades de proteção, fiscalização e pesquisa
científica.
23
RPPN Não Me Deixes
B - DIAGNÓSTICO
1. CARACTERIZAÇÃO DA RPPN
A RPPN Não Me Deixes possui 300 hectares e encontra-se inserida na
Fazenda Não Me Deixes a qual está localizada no município de Quixadá, Mesorregião
dos Sertões Cearenses. É um remanescente ainda preservado do Bioma Caatinga.
Bioma este que corresponde a aproximadamente 11% do território brasileiro. A
nomenclatura “Caatinga” é de origem indígena (Tupi-guarani) que significa “matabranca”, ou seja, termo que se refere ao período de estiagem desse Bioma em que as
folhas caem e ficam a mostra os galhos da vegetação.
A RPPN Não Me Deixes apresenta boas condições de conservação, e
propicia um ambiente para refúgio de muitas espécies normalmente encontradas no
Bioma Caatinga e pode ser considerada de relevante interesse sociocultural e
ambiental por conta das ações que serão desenvolvidas pelos seus proprietários e
principalmente pelo grau de conservação da vegetação presente na Reserva.
FIGURA 03: Mosaico de fotos da Fazenda Não Me Deixes.
24
RPPN Não Me Deixes
1.1. Caracterização dos fatores abióticos
A
geodiversidade
expressa
as
particularidades
do
meio
físico,
compreendendo as rochas, o relevo, o clima, os solos e as águas, subterrâneas e
superficiais. Tais atributos resultam da atuação cumulativa de processos geológicos
múltiplos e, por sua vez, condicionam a paisagem e propiciam a diversidade biológica
e cultural nela desenvolvidas, em permanente interação ao longo da evolução do
planeta.
O conhecimento da geodiversidade é essencial à abordagem criteriosa de
qualquer região. Por preceder a biodiversidade, ajuda a entender a dinâmica ambiental
vigente. Além disso, o subsolo pode conter recursos minerais, hídricos e energéticos,
cujo aproveitamento precisa ser devidamente equacionado, para não comprometer a
própria biodiversidade e a qualidade de vida dos seus habitantes.
1.1. 1. Clima
Localizada na região do semiárido cearense, no município de Quixadá, a
RPPN Não Me Deixes está inserida em uma região caracterizada por condições
climáticas de exceção em relação aos climas zonais, peculiares à faixa de latitudes
similares. Trata-se, por consequência, de um clima de posição azonal e de expressão
regional, afetando um espaço geográfico global com 700.000 a 800.000 km² de área,
denominado semiárido nordestino. (SOUZA, 2000).
De acordo com IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do
Ceará, a temperatura nesta região varia entre 26ºC e 28ºC, com pluviosidade anual de
838,1mm, concentrada principalmente entre os meses de fevereiro e abril, sendo o
mês de abril o de maior incidência de chuvas. Essa intensificação das chuvas neste
período é causada pela influência da ZCIT – Zona de Convergência Intertropical. De
acordo com Ceará. (CEARÁ, 1992 apud NIMER, 1977), no setor setentrional da região
Nordeste, a marcha estacional das chuvas, que representa o principal componente do
quadro climático da região, é regido pelo comportamento da ZCIT, onde durante o
período correspondente ao verão-outono o sistema de correntes perturbadas de oeste,
com pancadas de chuvas ocasionais, asseguram, quase exclusivamente, as máximas
pluviais (FIGURA 04). Já no inverno-primavera, com o aquecimento deste sistema,
essa região fica sob o domínio dos ventos anticiclonais de NE e de alta subtropical do
Atlântico Sul, ocorrendo então o período de estiagem.
25
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 04: Zona de convergência intertropical (ZCIT) mostrada através das imagens
do satélite METEOSAT-7. Fonte: (SILVA, 2006 apud CEARÁ FUNCEME, 2006)
Neste contexto, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos - FUNCEME, a RPPN Não Me Deixes está inserida em uma região
de clima Tropical Quente Semiárido (MAPA 02).
26
RPPN Não Me Deixes
1.1.2. Geologia
De acordo com o Atlas Geológico do Estado do Ceará (BRASIL.
CPRM/CEARÁ, 2003), a litológica da região onde está localizada a RPPN Não Me
Deixes apresenta três feições litológicas distintas, sendo uma sedimentar e duas
ígneas: (MAPA 03)

NQc – Ambiente sedimentar – Coberturas sedimentares de espraiamento
aluvial: Sedimentos argilo-arenosos e areno-argilosos, de tons alaranjado,
avermelhado e amarelado; apresentam-se, em certos locais, cascalhosos
e
laterizados
na
base
(geralmente,
o
cimento
é
argiloso
e
ferruginoso)/fluvial.

PPad - Unidade algodões: Paragnaisses diversos, em parte de protólito
arcoseano, metabasaltos, anfibolitos, metaultramáficas
e
formações
ferríferas, por vezes associados a sheets e diques de ortognaisses
leucocráticos e mesotipos; adb – anfibiólitos e/ou anfibólio ganisses
associados, em parte a gnaisses dioríticos e metaultramafitos.

PPcc - Unidade Canindé: constituída de Paragnaisses em níveis distintos
de metamorfismo-migmatização, incluindo ortognaisses ácidos (p. ex: em
cogn) e rochas metabásicas: cβ - metagabros, anfibolitos com ou sem
granada, e gnaisses dioríticos, associados ou não a enderbitos; c1 -β
(ccs), formaçoes ferriferas (cfe) e ferro-manganesíferas, além de
metaultramáticas (c µ); cgnl - granulitos máficos, enderbitos e leptinitos; caf
- anfibólito gnaisses e/ou anfibolitos; PP(NP)cc - tratos onde são comuns
os jazidamentos estratóides e diquiformes de granitóides neoproterozóicos,
cinzentos e rosados, gnaissificados ou não e, em parte, facoidais.
28
RPPN Nâo Me Deixes
29
RPPN Não Me Deixes
1.1.3. Geomorfologia
A RPPN Não Me Deixes geomorfologicamente está localizada no domínio das
Depressões Sertanejas. Trata-se do domínio de maior abrangência espacial no estado do
Ceará, sendo a maior parte da área composta de litologias datadas do pré-Cambriano.
Tais formas de relevo exibem os reflexos de eventos tectônicos-estruturais
remotos. Traduzem, igualmente, a relação da morfologia com os fatores litológicos e as
evidências de flutuações climáticas Cenozóicas (SOUZA, 2000).
Neste contexto, a RPPN Não Me Deixes apresenta um relevo plano com
altimetria variando entre 200m e 220m de altitude. Sendo este relevo característico das
depressões periféricas derivadas dos processos denudacionais. (MAPA 04).
Dentre principais características desta unidade geomorfológica podem ser
destacadas as seguintes:

Acentuadas variações litológicas;

Trucamento indiscriminado das litologias por processos de morfogênese
mecânica;

Revestimento generalizado por caatingas que possuem pequena
espessura do manto de alteração das rochas;

Ocorrência frequente de pavimentos e paleopavimentos;

Deficiente capacidade de erosão linear em face da intermitência sazonal
dos cursos d’água, justificando a pequena amplitude altimétrica entre os
interflúvios e os fundos de vales;
Desenvolvimento de áreas de acumulação inundáveis a jusante das rampas
sedimentadas.
30
RPPN Não Me Deixes
31
RPPN Não Me Deixes
1.1.4. Solos
De acordo com Zoneamento Agrícola do Estado do Ceará do ano de 1988,
na porção norte da RPPN Não Me Deixes prevalece o solo Podizólico Vermelho
Amarelo Eutrófico; na região central predomina o Solo Bruno Não Cálcico; e na poção
sul o Regossolo Eutrófico.
Segundo a FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos do Ceará, os podzólicos vermelho-amarelo eutróficos compreendem solos
com horizonte B textural, não hidromórficos e com argila de atividade baixa. São, por
conseguinte, solos de média a alta fertilidade natural. Apresentam sequência de
horizontes A, Bt e C, com profundidade do A + Bt2, na maioria dos perfis, superior
a 150cm, exceto nos solos rasos.
No tocante ao solo bruno não cálcico, a FUNCEME define como solos com
horizonte B textural, não hidromórficos e com argila de atividade alta. São de alta
fertilidade natural, com alta saturação e soma de bases, reação moderadamente ácida
a, praticamente, neutra, ou mesmo moderadamente alcalina, bem como conteúdo
mineralógico que encerra quantidade significativa de minerais primários facilmente
decomponíveis, os quais constituem fontes de nutrientes para as plantas.
Já os regossolos possuem como principal característica solos profundos e
arenosos com presença considerável de minerais primários de fácil intemperização.
De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos,
(EMBRAPA, 2006), os solos podzólico vermelho-amarelo eutrófico e bruno não cálcico
pertencem à ordem dos Luvissolos, subordem Crônico e os regossolos a ordem dos
Neossolos, subordem Regolítico. (MAPA 5).
32
RPPN Não Me Deixes
33
RPPN Não Me Deixes
1.1.5. Hidrografia
Os sistemas hidrográficos na região onde está localizada a RPPN Não Me
Deixes, é caracterizado por uma drenagem exorréica dotada de rios intermitentes
sazonais.
No tocante às águas subterrâneas, devido às características de
impermeabilidade das rochas cristalinas, ocorre um favorecendo do escoamento
superficial, ficando as águas subterrâneas restritas à ocorrência de áreas diaclasadas
ou fraturadas.
É notório nesta região o caráter temporário da drenagem, com tendência
natural para o regime de rios efêmeros ou esporádicos, alimentados por chuvas
torrenciais ocorridas no período chuvoso.
Na porção norte da RPPN Não Me Deixes a água que escoa da chuva
neste período, formam lagoas naturais responsáveis por alimentar o Riacho da Pedra,
na Sub-bacia do Choró (Bacia Metropolitana) e a Lagoa do Seixo, onde nasce o
Riacho Mororó, um dos principais afluentes do Rio Sitiá que a montante é barrado
formando o Açude Pedra Branca.
Já na porção sul da RPPN, devido às características do solo, as chuvas
tendem a infiltrar e formar nascentes intermitentes que formam pequenos riachos que
alimentam o Riacho dos Caboclos, que assim como o Riacho Mororó, é um dos
principais afluentes do Rio Sitiá que a montante é barrado formando o Açude Pedra
Branca (MAPA 06).
34
RPPN Não Me Deixes
35
RPPN Não Me Deixes
1.2. Caracterização dos fatores bióticos
1.2.1. Vegetação
Para levantamento da flora foi realizada uma viagem de campo nos dias 05,
06 e 07 de novembro. Durante a estadia na reserva foram realizadas trilhas, sem
sistematização prévia, abrangendo o máximo possível da RPPN, acompanhadas por um
mateiro, o Sr. Evandro, que informou os nomes populares das espécies observadas.
Sempre que possível, as plantas foram fotografadas e tiveram ramos reprodutivos
coletados (inflorescências, flores e/ou frutos). As amostras foram posteriormente
prensadas para montagem de exsicatas com o objetivo de obter-se material de
comparação para facilitar a identificação das espécies. Os principais materiais utilizados
foram: GPS, máquina fotográfica, tesoura de poda, podão, fita métrica, prensa para
material botânico, sacos plásticos, cordões para delimitação das parcelas, cadernos de
campo para registro das informações e vara de medição para obter a altura das árvores.
A amostragem fitossociológica e de fisionomias da vegetação foi realizada no
mesmo período do levantamento florístico. Houve uma pré-seleção das áreas de sorteio
das parcelas, através de imagens de satélite, de modo que houvesse uma
representatividade da vegetação da RPPN, evitando, dessa maneira, que fossem
inclusas áreas de corpos hídricos ou rochosas. Posteriormente, foram sorteadas
aleatoriamente, montadas, com o auxílio de barbante, e analisadas parcelas de 10 x 10
metros, na área da RPPN, dentro das quais foram registrados valores de diâmetro e
altura de todas as árvores e arbustos que se adequassem ao critério de inclusão.
Nesse estudo foram incluídos indivíduos com perímetro maior que 9
centímetros e altura maior que 1 metro. A medida foi realizada na altura do solo uma vez
que a RPPN encontra-se em área de caatinga, comumente caracterizada por árvores de
pequeno porte e grande quantidade de arbustos. Nesse contexto, a medida na altura do
peito não seria adequada, pois a 1,30 do solo muitas das plantas encontradas poderiam
ter ramificações. O critério de medir apenas as maiores de um metro, evita a medida de
cactos globosos e bromeliáceas (MORO; MARTINS, 2011). Todas as parcelas foram
georreferenciadas para posterior zoneamento. O perímetro de cada indivíduo foi medido
com o auxílio de uma fita métrica e a altura estimada por comparação com uma vara de
alumínio composta por peças, de tamanhos conhecidos, que se encaixam permitindo a
regulação da altura e a comparação com esta característica das árvores. Cada ramo ao
nível do solo é considerado um indivíduo, entretanto, no presente levantamento quando
observada uma rebrota partindo de um mesmo indivíduo, mas que ao nível do solo já
36
RPPN Não Me Deixes
apresentava ramificação impedindo, desta maneira, a medição foram somados os
perímetros dos ramos e considerado apenas um indivíduo. Tal procedimento é comum
em levantamentos fitossociológicos e busca reduzir os erros de contabilizar um mesmo
indivíduo duas vezes ou indivíduos diferentes da mesma espécie como um só (MORO,
MARTINS, 2011).
Entre os parâmetros analisados a partir dos dados fitossociológicos obtidos
temos: número de indivíduos amostrados, densidades absoluta e relativa, frequências
absoluta e relativa, dominâncias (área basal) absoluta e relativa. Esses valores auxiliaram
na aquisição de informações tais como predominância de indivíduos, espécies mais
comuns, espécies raras e estrutura sucessional da comunidade. Os parâmetros foram
calculados utilizando-se o Microsoft Excel.
Para construção da lista de espécies invasoras foram consultados, entre
outros, a base de dados presente no site do Instituto Hórus (www.institutohorus.com.br) e
o checklist de plantas da caatinga. Para verificação da presença de espécies ameaçadas
de extinção foi consultada a “Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de
Extinção”, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, disponível no site do Ministério do
Meio Ambiente (www.mma.gov.br), foram descritas as principais fitofisionomias presentes
na RPPN e feitas sugestões para o plano de manejo.
1.2.1.1. Flora e fitofisionomias
Começamos a descrição da flora mostrando algumas espécies exóticas,
invasoras ou ruderias que ocorrem na área de estudo. Na FIGURA 05 observamos uma
espécie invasora que vem atualmente se difundindo bastante em áreas de caatinga, seu
nome é Viúva-alegre (Cryptostegia grandiflora). No centro da FIGURA 05 pode ser
observado um fruto aberto já sem suas sementes dispersas pelo vento. Com toda a sua
superfície composta por tricomas urticantes, capazes de provocar queimaduras ou
irritações na pela, podemos observar na FIGURA 06 o Cansanção (Cnidoscolus urens),
uma espécie arbustiva que ocorre em vários ecossistemas brasileiros, muitas vezes
ocorrendo naturalmente até mesmo em áreas urbanas antropizadas. Na sequência temos
duas espécies bastante ruderais e também comumente encontradas em áreas
antropizadas e até mesmo em terrenos urbanos abandonados, o Velame (Croton
heliotropiifolius) e uma espécie herbácea de nome popular desconhecido (Sida ciliaris)
(FIGURAS 07 e 08).
37
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 05: Viúva-alegre (Cryptostegia
FIGURA
grandiflora)
planta
(Jatropha urens) nas proximidades da
proximidades
da
(coordenadas
invasora
lagoa
nas
dos
4º48’
seixos
53.86’
S
lagoa
06:
dos
Cansanção
seixos
branco
(coordenadas
4º48’53.86’S 38º57’42.94”O).
38º57’42.94”O)
FIGURA
07:
Flores
masculinas
inflorescência
do
velame
heliotropiifolius)
nas
proximidades
lagoa
seixos
dos
na
(Croton
da
(coordenadas
4º48’53.86’S 38º57’42.94”O).
FIGURA 08: Herbácea (Sida ciliaris) nas
proximidades
da
lagoa
dos
seixos
(coordenadas
4º48’53.86’S
38º57’42.94”O)
coordenadas
4º48’53.86’S 38º57’42.94”O).
Devido ao período das coletas não foram observadas muitas espécies
arbóreas florescendo, como uma das poucas encontradas, podemos observar na
FIGURA 09 e 10 flores e frutos imaturos da espécie popularmente chamada de Ameixa
(Ximenia americana), a qual possui flores com odor característico, folhas dotadas de
espinhos nas axilas e frutos comestíveis quando maduros. As figuras consecutivas
evidenciam flores de quatro espécies de pequeno porte e típicas de áreas de caatinga:
Passiflora foetida (FIGURA 11), espécie conhecida popularmente como Maracujá-domato; Piriqueta guianensis (FIGURA 12), Melochia pyramidata (FIGURA 13); e
Jaquemontia sp. (FIGURA 14).
38
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 09: Flores da ameixa (Ximenia
FIGURA 10: Frutos da ameixa (Ximenia
americana)
americana) (coordenadas 4º48’57.09’S
(coordenadas
4º48’57.09’S
38º57’50.22”O).
38º57’50.22”O).
FIGURA 11: Maracujá do mato (Passiflora
FIGURA
foetida)
guianensis)
na
margem
da
(coordenadas
estrada
4º48’39.15”S
38º58’25.03”O).
FIGURA
13:
pyramidata)
na
(coordenadas
12:
na
(coordenadas
Herbácea
margem
(Piriqueta
da
estrada
4º48’39.15”S
38º58’25.03”O).
Herbácea
margem
da
(Melochia
FIGURA 14: Herbácea (Jaquemontia sp.)
estrada
na margem da estrada (coordenadas
4º48’39.15”S
4º48’39.15”S 38º58’25.03”O).
38º58’25.03”O).
39
RPPN Não Me Deixes
A lista obtida a partir de dados levantados na RPPN Não Me Deixes consta de
74 espécies citadas na TABELA 2. A maior representatividade de arbóreas e trepadeiras
em relação às herbáceas deve-se ao fato de que a coleta foi realizada no período seco,
quando as herbáceas não se encontram em estado vegetativo. Este fato também
dificultou a identificação de algumas espécies, de modo que 8 foram identificadas apenas
até família e 18 até gênero.
TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará.
NOME POPULAR ESPÉCIE
FAMÍLIA
HÁBITO
Melosa
Ruellia asperula (Nees) Lindou
Acanthaceae
Herbácea
Melosa
Ruellia sp.
Acanthaceae
Herbácea
Aroeira
Myracrodruon urundeuva Allemão
Anacardiaceae
Arbórea
Alamanda
Allamanda sp.
Apocynaceae
Trepadeira
Pereiro
Aspidosperma pyrifolium Mart.
Apocynaceae
Arbórea
Viúva-alegre
Cryptostegia grandiflora R. Br.
Apocynaceae
Trepadeira
S/N
Stilpnopappus trichospiroides Mart. ex DC.
Asteraceae
Herbácea
Cipó1
Bignoniaceae sp. 1
Bignoniaceae
Trepadeira
Cipó 2
Bignoniaceae sp. 2
Bignoniaceae
Trepadeira
Cipó 3
Bignoniaceae sp. 3
Bignoniaceae
Trepadeira
Bignoniaceae sp. 4
Bignoniaceae
Trepadeira
Pau d'arco roxo
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl.
Bignoniaceae
Arbórea
Pacotê
Cochlospermum vitifolium (Willd.) Spreng.
Bixaceae
Arbórea
Boraginaceae
Arbórea
Cipó laça
vaqueiro
Pau branco loro
Cordia glazioviana (Taub.) Gottschling & J.S.
Mill.
Pau branco preto
Cordia oncocalyx Allemão
Boraginaceae
Arbórea
Frei jorge
Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud.
Boraginaceae
Arbórea
S/N
Heliotropium sp.
Boraginaceae
Herbácea
Cipaúba
Boraginaceae sp. 1
Boraginaceae
Arbórea
Croatá
Bromelia sp.
Bromeliaceae
Suculenta
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett
Burseraceae
Arbórea
Imburana de
espinho
Suculenta/
Mandacaru
Cereus jamacaru DC.
Feijão brabo
Capparis sp.
Capparaceae
Mufumbo
Combretum leprosum Mart.
Combretaceae
Salsa
Ipomoea sp.
Convolvulaceae Trepadeira
Jitirana
Ipomoea bahiensis Willd. ex Roem. & Schult.
Convolvulaceae Trepadeira
Cactaceae
Arbórea
Arbórea/
Arbustiva
Arbórea
40
RPPN Não Me Deixes
TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará.
(continuação)
NOME POPULAR ESPÉCIE
FAMÍLIA
HÁBITO
S/N
Jaquemontia sp.
Convolvulaceae Trepadeira
Marmeleiro preto
Croton blanchetianus Baill.
Euphorbiaceae
Arbórea
Velame
Croton heliotropiifolius Kunth.
Euphorbiaceae
Arbustiva
Croton sp.
Euphorbiaceae
Arbórea
Jatropha mollissima (Pohl) Baill.
Euphorbiaceae
Arbórea
Jatropha urens L.
Euphorbiaceae
Arbustiva
Maniçoba
Manihot glaziovii Müll. Arg.
Euphorbiaceae
Arbórea
Purga de leite
Sapium lanceolatum (Müll. Arg.) Huber
Euphorbiaceae
Arbórea
Espinheiro
Acacia glomerosa Benth
Fabaceae
Arbórea
Cumaru
Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.
Fabaceae
Arbórea
Angico
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Fabaceae
Arbórea
Mororó
Bauhinia sp.
Fabaceae
Arbórea
Marizeira
Calliandra spinosa Ducke
Fabaceae
Arbórea
Feijão de porco
Canavalia sp.
Fabaceae
Trepadeira
Cunhã
Centrosema sp.
Fabaceae
Trepadeira
Fabaceae
Arbórea
Marmeleiro
branco
Pinhão
Cansanção
branco
Canafístula braba
Chamaecrista duckeana (P. Bezerra & Afr.
Fernandes) H.S. Irwin & Barneby
Pau violeta
Dalbergia cearensis Ducke
Fabaceae
Arbórea
Mucunã
Dioclea violaceae Mart. ex Benth
Fabaceae
Trepadeira
Jucá
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz
Fabaceae
Arbórea
Pau mocó
Luetzelburgia auriculata (Allemão) Ducke
Fabaceae
Arbórea
Sabiá
Mimosa caesalpiniifolia Benth.
Fabaceae
Arbórea
Malícia de boi
Mimosa sp. 1
Fabaceae
Arbustiva
Unha de gato
Mimosa sp. 2
Fabaceae
Arbórea
Jurema preta
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.
Fabaceae
Arbórea
Jurema branca
Piptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke
Fabaceae
Arbórea
Surucucu
Piptadenia viridiflora (Kunth) Benth.
Fabaceae
Arbórea
Fabaceae
Arbórea
Catanduba
Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow & R.
W. Jobson
Catingueira
Poincianella bracteosa (TUL.) L.P.Queiroz
Fabaceae
Arbórea
Matapasto
Senna sp. 1
Fabaceae
Herbácea
Junco
Senna sp. 2
Fabaceae
Arbórea
São joão
Senna sp. 3
Fabaceae
Arbórea
Bamburral
Hyptis suaveolens (L.) Poit.
Lamiaceae
Herbácea
S/N
Cuphea campestris Mart. ex Koehne
Lythraceae
Herbácea
41
RPPN Não Me Deixes
TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Não Me Deixes, Quixadá, Ceará.
(continuação)
NOME POPULAR ESPÉCIE
FAMÍLIA
HÁBITO
Cabeça de nego
Malpighiaceae sp. 1
Malpighiaceae
Trepadeira
Cipó branco
Malpighiaceae sp. 2
Malpighiaceae
Trepadeira
Saca-rolha
Helicteres sp.
Malvaceae
Arbustiva
S/N
Melochia pyramidata L.
Malvaceae
Herbácea
Malvaceae
Arbórea
Embiratanha
Pseudobombax marginatum (A. St.-Hil., Juss. &
Cambess.) A. Robyns
Malva
Sida ciliaris L.
Malvaceae
Herbácea
S/N
Waltheria rotundifolia Schrank
Malvaceae
Herbácea
Nyctaginaceae
Arbórea
Olacaceae
Arbórea
João mole
Ameixa
Guapira graciliflora (Mart. ex J.A. Schmidt)
Lundell
Ximenia americana L.
Maracujá do mato Passiflora foetida L.
Juazeiro
Vassoura de
botão
Ziziphus joazeiro Mart.
Spermacoce verticillata L.
Passifloraceae Trepadeira
Rhamnaceae
Arbórea
Rubiaceae
Herbácea
Canapum
Cardiospermum corindum L.
Sapindaceae
Trepadeira
Malva
Piriqueta guianensis N. E. Br.
Turneraceae
Herbácea
Chumbinho
Lantana camara L.
Verbenaceae
Arbustiva
S/N
Stachytarpheta sp.
Verbenaceae
Arbustiva
Houve predominância de leguminosas com 23 e euphorbiaceas com 7
espécies, como é comum em áreas de caatinga (SAMPAIO, 1995). Entretanto, houve
contribuição significativa das famílias Bignoniaceae, Boraginaceae e Malvaceae com 5
espécies cada uma.
Na família Bignoniaceae apenas uma espécie é arbórea o Pau d’árco roxo
(Tabebuia impetiginosa), as demais são cipós que após algumas chuvas esporádicas
estavam em plena floração, tal como o Cipó laça vaqueiro (Bignoniaceae sp. 4).
Entre as boragináceas o destaque foi para as arbóreas de grande porte
representadas pelo Pau branco loro (Cordia glazioviana), Pau branco preto (Cordia
oncocalyx), Frei jorge (Cordia trichotoma) e Cipaúba (Boraginaceae sp. 1), tais espécies,
embora frequentes em áreas de caatinga, não costumam ser encontradas com tanta
abundância em uma mesma área, além do que as duas primeiras tem distribuição
restrita, sendo o Pau branco preto (C. oncocalyx) endêmico da caatinga.
Na família Malvacea, 3 das 5 espécies são herbáceas que, devido a chuvas
ocasionais ocorridas na área, apresentavam-se com flores no período da viagem de
42
RPPN Não Me Deixes
campo. Este fato reforça a importância de ocorrerem coletas ao longo do ano, em
diferentes períodos, de modo a ter uma maior representatividade de herbáceas na lista
florística.
O Pereiro (Aspidosperma pyrifolium) e a Ameixa (Ximenia americana)
também encontravam-se em plena floração na época da viagem de campo, bem como
alguns cipós da família Malpighiaceae, entre eles um conhecido na área por Cabeça de
nego (Malpighiaceae sp. 1). A Aroeira (Myracrodruon urundeuva), espécie presente na
área,
consta
na
lista
do
IBAMA
como
ameaçada
de
extinção
(http://www.ibama.gov.br/documentos/lista-de-especies-ameacadas-de-extincao), ocorre
grande pressão sobre esta espécie devido ao uso medicinal de sua casca e utilização da
madeira.
Pela presença de espécies típicas tais como: Catingueira (Poincianella
bracteosa), Jucá (Libidibia ferrea), Pereiro (Aspidosperma pyrifolium), Marmeleiro (Croton
blanchetianus), Juazeiro (Ziziphus joazeiro), Cumaru (Amburana cearensis), Imburanade-espinho (Comiphora leptophloeos), Aroreira (Myracrodruon urundeuva), Pau-branco
preto (Cordia oncocalyx) entre outras, além da fisionomia característica observada,
podemos considerar a área composta por caatinga arbórea a arbustiva dependendo da
área observada dentro da RPPN.
A vegetação na RPPN apresenta espécies típicas de caatinga (savana
estépica sensu (VELOSO, 1991), Algumas árvores de grande porte o que caracteriza um
bom estado de conservação da área. O solo é coberto por serrapilheira resultante da
renovação das folhas o que contribui também para o estabelecimento de novas plantas.
Não foi possível observar o estrato herbáceo visto que, embora tivessem
ocorrido algumas chuvas esporádicas, a viagem foi realizada no período seco, quando as
plantas herbáceas se encontram representadas quase exclusivamente pelo banco de
sementes do solo. Isso decorre do fato de que na caatinga essas plantas completam todo
o ciclo reprodutivo no período chuvoso. Algumas, entretanto, foram encontradas em
áreas mais abertas, beiras de estradas e proximidades das regiões habitadas no entorno
da área da RPPN.
Embora, de maneira geral, a área encontre-se em bom estado de
conservação, foram observadas muitas árvores mortas, cipós, plântulas e rebrotas o que
significa que em maior ou menor grau houve um impacto na área gerando um estágio
sucessional secundário. O predomínio do Marmeleiro preto (Croton blanchetianus),
encontrado em todas as parcelas amostradas e em grande número de indivíduos também
nos fornece indícios de regeneração na comunidade, uma vez que esta é uma espécie
considerada pioneira, comum em locais que estão se recuperando após alterações
ambientais. O Sr. Evandro informou que alguns locais eram roçados há décadas atrás e
43
RPPN Não Me Deixes
que em algumas áreas havia entrada de gado. Além disso, ocorre plantio de culturas
como milho e feijão, muito próximo à região da RPPN. Nesses locais a vegetação nativa
é retirada, às vezes com o uso do fogo, que acrescenta o risco de incêndios. Essas
atividades provocam modificações na comunidade vegetal e podem afetar as áreas do
entorno da RPPN.
1.2.1.2. Levantamento fitossociológico
De acordo com a TABELA 3, que traz as coordenadas das parcelas e o
número de espécies e indivíduos encontrados nestas, podemos afirmar que a parcela
com maior quantidade de espécies e indivíduos foi a quatro, com 13 e 42,
respectivamente.
TABELA 3: Georreferencimento e diversidade de espécies nas cinco parcelas de 10x10m
na RPPN Não Me Deixes, Quixadá, CE.
Parcela
Coordenadas
Número de espécies
Número de indivíduos
1
4º48'35.25" 38º57'44.80"
11
37
2
4°48'33.64" 38°57'42.35"
10
31
3
4º48'32.97" 38º57'43.49"
10
39
4
4º48'34.41" 38º57"41.92"
13
42
5
4º48'36.97" 38º57'44.69"
5
30
Na TABELA 4 temos os dados fitossociológicos que indicam a predominância
em número de indivíduos do Marmeleiro preto (Croton blanchetianus), foram medidos 71
indivíduos desta espécie nas parcelas. Os seguintes, em número de indivíduos, foram
Unha de gato (Mimosa sp. 2) com 22, Cipaúba (Boraginaceae sp. 1) com 17, Catingueira
(Poincianella bracteosa) com 15 e Mofumbo (Combretum leprosum) com 11. O
Marmeleiro preto (C. blanchetianus) também foi a espécie com maior área basal 2257
cm² representando 22,42% da área basal total, entretanto, este valor está associado ao
grande número de indivíduos e não ao grande porte destes. Esta espécie é considerada
indicadora de sucessão secundária, sendo pioneira em casos de recuperação de áreas
que foram alteradas por impactos ambientais. A sua dominância indica uma possível
alteração na área da reserva, provavelmente submetida a impactos antrópicos. Seguindo
em ordem decrescente de área basal temos Catingueira (P. bracteosa) com 1731 cm²,
Cipaúba (Boraginaceae sp. 1) com 1229 cm², Mofumbo (C. leprosum) com 1203 cm² e
Unha de gato (Mimosa sp. 2) com 678 cm². Todavia, esses altos valores de áreas basais
44
RPPN Não Me Deixes
refletem mais a soma de muitos indivíduos do que o grande porte de cada um, haja vista
que ocorre uma sobreposição entre as espécies mais numerosas e com os maiores
valores de área basal. Para ter uma idéia mais clara disso ao dividir a área basal pelo
número de indivíduos a espécie que obteve maior valor foi o Pau d’árco (Tabebuia
impetiginosa), seguida por João mole (Guapira graciliflora), Catingueira (P. bracteosa),
Mofumbo
(C.
leprosum)
e
Catanduba
(Pityrocarpa
moniliformis).
Dos
cinco
representantes com maiores valores, três não estavam entre os mais abundantes e nem
entre as espécies com área basal maior, o que indica que estas são as espécies com
indivíduos de maior porte na área. Foram observados indivíduos de grande porte entre
espécies de crescimento lento, o que indica um bom estado de conservação. Então,
temos possivelmente uma área bem conservada, mas que está sofrendo algumas
pressões, tais como corte para uso da madeira como lenha e pastejo de gado o que fica
evidente pela dominância do Marmeleiro preto.
TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Não Me Deixes.
* N = abundância absoluta de indivíduos; N % = Abundância relativa; Fr = freqüência de ocorrência das
espécies nas parcelas de 100m² (%) variando de 20 quando ocorrentes em apenas uma parcela a 100
quando observas em todas as parcelas; AB = área basal em cm²; AB % = porcentagem de área basal.
Nome popular
Cipó laçavaqueiro
Pau d'arco
Bignoniaceae sp. 2
Bignoniaceae
1
0,56
20
62
0,62
Bignoniaceae
1
0,56
20
306
3,04
impetiginosa
(%)
Fr
AB
AB
Família
Tabebuia
N
N
Espécie
%
Cipaúba
Boraginaceae sp. 1
Boraginaceae
17
9,55
60
1229 12,21
Pau branco loro
Cordia glazioviana
Boraginaceae
9
5,06
80
491
4,88
Mandacaru
Cereus jamacaru
Cactaceae
5
2,81
60
457
4,54
Mofumbo
Combretum leprosum Combretaceae
11
6,18 100 1203 11,95
Marmeleiro preto Croton blanchetianus
Marmeleiro
Euphorbiaceae 71 39,89 100 2257 22,42
Croton sp.
Euphorbiaceae
3
1,69
20
77
0,76
Pinhão
Jatropha mollissima
Euphorbiaceae
1
0,56
20
18
0,18
Maniçoba
Manihot glaziovii
Euphorbiaceae
2
1,12
20
80
0,79
Cumaru
Amburana cearensis
Fabaceae
5
2,81
40
453
4,50
Fabaceae
4
2,25
40
131
1,30
branco
Canafístula
Chamaecrista
duckeana
45
RPPN Não Me Deixes
TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Não Me Deixes.
(continuação)
* N = abundância absoluta de indivíduos; N % = Abundância relativa; Fr = freqüência de ocorrência das
espécies nas parcelas de 100m² (%) variando de 20 quando ocorrentes em apenas uma parcela a 100
quando observas em todas as parcelas; AB = área basal em cm²; AB % = porcentagem de área basal.
Nome popular
Espécie
Família
Mucunã
Dioclea violaceae
Fabaceae
1
Unha de gato
Mimosa sp. 2
Fabaceae
Jurema branca
Piptadenia
stipulaceae
Pityrocarpa
Catanduba
moniliformis
Poincianella
Catingueira
bracteosa
N
N
(%)
0,56
Fr
20
AB
AB
%
8
0,08
22 12,36 80
678
6,73
Fabaceae
2
1,12
40
153
1,52
Fabaceae
2
1,12
40
198
1,97
Fabaceae
15
8,43 100 1731 17,19
Cipó branco
Malpighiaceae sp. 2
Malpighiaceae
3
1,69
40
30
0,30
João mole
Guapira graciliflora
Nyctaginaceae
3
1,69
60
507
5,04
Total
178
10069
Com relação à frequência de ocorrência nas parcelas apenas três espécies
foram encontradas em todas, o que pode significar uma distribuição homogênea destas.
Entre elas temos o Marmeleiro preto (C. blanchetianus), a Catingueira (P. bracteosa) e o
Mofumbo (C. leprosum).
1.2.1.2.1. Dados fitossociológicos da parcela 1
A parcela 1, como se percebe na FIGURA 15, foi delimitada em uma área
semiaberta que apresentava poucas herbáceas, principalmente devido à pequena
representação de tal grupo durante o período seco. Havia grande deposição de
serrapilheira (FIGURA 16), resultante principalmente da queda das folhas das arbóreas
caducifólias. Essa deposição é importante para a proteção do solo contra erosão e
agregação de nutrientes. Gramíneas esparsas também podiam ser observadas no local.
46
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 15: Aspecto geral da parcela 1
FIGURA 16: Serrapilheira e gramíneas no
(coordenadas
solo
4º48'35.25"S
38º57'44.80"O).
da
parcela
1
(coordenadas
4º48'35.25"S 38º57'44.80"O).
Como pode ser observado na FIGURA 17, houve predomínio da classe de
altura de 4 a 6 metros agrupando 13 indivíduos. Nove indivíduos ficaram entre seis e oito
metros de altura e a classe seguinte, entre oito e dez metros, abrangeu oito indivíduos.
Quatro, ficaram entre dez e doze metros, dois indivíduos entre dois e quatro metros e
apenas um foi menor que dois metros. Com relação aos perímetros, todos os indivíduos
amostrados tiveram entre nove e quarenta centímetros de perímetro. Portanto, nesta
parcela os indivíduos, em sua maioria, são jovens, como fica claro na concentração
destes nas menores classes de valores de perímetro. Outro ponto a ser ressaltado, é que
perece existir uma tendência a maior investimento em altura do que em diâmetro
(FIGURA 18) por parte das espécies vegetais. Além do pequeno porte, o destaque do
Marmeleiro preto (Croton blanchetianus) como principal espécie encontrada na parcela,
com doze dos trinta e sete indivíduos mensurados, leva à suposição de que a área se
encontra em estado de recuperação após alterações ocorridas devido à característica
dela como pioneira.
FIGURA 17: Estrutura vertical da parcela 1.
47
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 18: Estrutura horizontal da parcela 1.
1.2.1.2.2. Dados fitossociológicos da parcela 2
Nas FIGURAS 19 e 20, pode ser vista a floração do Pereiro (Aspidosperma
pyrifolium). Como é destacado nas figuras, ocorre produção de grande quantidade de
flores e sincronização na floração dos indivíduos. Esta espécie é bem comum na caatinga
e foi observada no limite da parcela.
FIGURA
19:
(Aspidosperma
FIGURA 20: Detalhe da flor do Pereiro
pyrifolium) planta com flores e frutos na
(Aspidosperma pyrifolium) na parcela 2
parcela
(coordenadas
2
Pereiro
(coordenadas
38°57'42.35'O).
4°48'33.64'S
4°48'33.64'S
38°57'42.35'O).
Nas FIGURAS 21 e 22 podem ser observados alguns aspectos da parcela 2.
A área na qual a parcela 2 se localiza, apresenta vegetação semiaberta, com muita
serrapilheira depositada sobre o solo, apresentando algumas plântulas de espécies
arbóreas em desenvolvimento, capim em alguns lugares e árvores mortas. As árvores
48
RPPN Não Me Deixes
encontravam-se com folhas, embora fosse período seco e a maioria delas seja
caducifólia, devido a algumas chuvas ocorridas na região no período anterior à viagem.
A presença de muitas espécies arbóreas jovens, que nem sequer atingiram
os parâmetros mínimos para serem contabilizadas, ou seja, eram menores que um metro
de altura ou apresentavam menos que nove centímetros de perímetro, apresentaram-se
significativa. E nesta parcela, assim como na anterior havia predomínio do Marmeleiro
preto (Croton blanchetianus), representando dezessete dos trinta e um indivíduos
amostrados. Essas duas observações indicam que a área apresenta-se em estágio de
regeneração.
FIGURA 21: Aspecto geral da parcela 2
FIGURA
(coordenadas
serrapilheira
38°57'42.35'O).
4°48'33.64'S
22:
Grande
no
(coordenadas
solo
quantidade
da
parcela
de
2
4°48'33.64'S
38°57'42.35'O).
As FIGURAS 23 e 24 representam a distribuição vertical e horizontal dos
indivíduos mensurados na parcela 2. Como é possível observar, existe uma concentração
entre as classes de menores valores de altura. Embora apenas um indivíduo tenha
menos que dois metros, essa concentração é evidente nas classes de dois a quatro e de
quatro a seis metros de altura, ambas englobando 12 indivíduos. Quatro e dois indivíduos
se distribuíram, respectivamente, nas classes de seis a oito e de oito a dez metros de
altura. E nenhum atingiu mais de dez metros de altura. O que indica uma predominância
de indivíduos jovens. A estrutura horizontal reforça essa indicação, pois os indivíduos, em
sua maioria, tiveram perímetro menor que dois centímetros. Nove indivíduos tiveram
entre vinte e quarenta e apenas um, mais de 40 centímetros de perímetro. Todas essas
informações reforçam a hipótese de que a área foi submetida a impactos ambientais que
alteraram a estrutura e organização da comunidade vegetal.
49
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 23: Estrutura vertical da parcela 2.
FIGURA 24: Estrutura horizontal da parcela 2.
1.2.1.2.3. Dados fitossociológicos da parcela 3
Como pode ser observado nas FIGURAS 25, 26 e 27, a parcela 3 foi
delimitada em uma área composta por vegetação aberta, com muitos cipós, foram
observadas algumas árvores mortas, o solo estava coberto com serrapilheira e havia
muitas plântulas e indivíduos jovens de espécies arbóreas em desenvolvimento. Nas
proximidades da parcela havia alguns indivíduos de grande porte como o Frei jorge
(Cordia
trichotoma),
observado
na
FIGURA
28.
Alguns
representantes
bem
característicos da caatinga também foram observados nas proximidades como o Cumaru
(Amburana cearensis) e a Embiratanha (Pseudobombax marginatum), presentes nas
FIGURAS 29 e 30.
50
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 25: Área com muitos cipós na
FIGURA 26: Serrapilheira, plântulas em
parcela
recrutamento e algumas árvores mortas
3
(coordenadas
4º48'32.97"S
38º57'43.49"O).
na parcela 3 (coordenadas 4º48'32.97"S
38º57'43.49"O).
FIGURA 27: Área aberta na parcela 3
FIGURA 28: Aspecto do caule do Frei
(coordenadas
jorge
4º48'32.97"S
38º57'43.49"O).
(Cordia
trichotoma)
nas
proximidades da parcela 3 (coordenadas
4º48'32.97"S 38º57'43.49"O).
FIGURA 29: Aspecto do caule do Cumaru
FIGURA
(Amburana
3
Embiratanha
4º48'32.97"S
marginatum)
cearensis)
(coordenadas
38º57'43.49"O).
na
parcela
30:
Aspecto
do
caule
da
(Pseudobombax
nas
proximidades
da
parcela 3 (coordenadas 4º48'32.97"S
38º57'43.49"O).
51
RPPN Não Me Deixes
As FIGURAS 31 e 32 referem-se à representação das distribuições vertical e
horizontal da parcela 3. Nenhum indivíduo apresentou altura menor que dois metros,
embora a concentração deles tenha sido nas classes de valores inferiores de altura, a
maioria se agrupou entre dois e seis metros. Poucos representantes se distribuíram nas
demais classes, havendo apenas dois representantes entre 10 e 12 e também maiores
que 12 metros. Com relação ao perímetro, a maioria dos espécimes mensurados
apresentou este parâmetro menor que 20 centímetros, houve uma boa representatividade
também na classe de 20 a 40 centímetros, sendo esta composta por 14 representantes.
As demais classes foram compostas por poucos (de 40 a 60 e de 60 a 80 centímetros) ou
nenhum indivíduo (de 80 a 100 e maiores que 100 centímetros). Novamente encontramos
uma predominância de indivíduos de pequeno porte, entretanto nesta parcela foram
observados alguns mais velhos que possivelmente são a fonte de sementes e propágulos
para a regeneração da área através da germinação e desenvolvimento de novos
indivíduos.
FIGURA 31: Estrutura vertical da parcela 3.
FIGURA 32: Estrutura horizontal da parcela 3.
52
RPPN Não Me Deixes
1.2.1.2.4. Dados fitossociológicos da parcela 4
A vegetação na parcela 4 é semiaberta e o solo coberto com bastante
serrapilheira, como pode ser observado nas FIGURAS 33 e 34. Foram observados
também indivíduos jovens de espécies arbóreas e indivíduos grandes, mais velhos,
espaçados.
FIGURA
33:
Solo
coberto
por
FIGURA 34: Área semiaberta na parcela
serrapilheira e grande quantidade de
4
plântulas em recrutamento na parcela 4
38º57"41.92"O).
(coordenadas
(coordenadas
4º48'34.41"S
4º48'34.41"S
38º57"41.92"O).
Esta foi a parcela com maior número, tanto de espécies quanto de indivíduos.
Foi observado Cumaru (Amburana cearensis) de grande porte morto dentro da parcela.
Segundo informações do senhor Evandro a árvore não resistiu à ação de pessoas que,
em busca de capturar uma colmeia de abelhas nativas, atearam fogo na planta. Essa
ação, assim como a retirada de madeira das cascas das árvores sem os devidos
cuidados, pisoteio da área pelo homem e animais domésticos, caça de polinizadores
(como no caso das abelhas nativas) ou animais dispersores de sementes, entre outros
podem alterar as funções da comunidade vegetal causando impactos no ambiente como
um todo.
Foram observados também nessa área alguns Mandacarus de grande porte
(Cereus jamacaru) e um grande cupinzeiro sobre um Mandacaru e uma Catingueira
(Poincianella bracteosa) como pode ser visto na FIGURA 35. Havia também um grande
formigueiro próximo à área da parcela 4, e o Pinhão manso (Jatropha molissima) estava
em período de floração (FIGURA 36).
53
RPPN Não Me Deixes
FIGURA
35:
Cupinzeiro
sobre
uma
FIGURA 36: Flores masculinas do Pinhão
Catingueira (Poincianella bracteosa ) e um
manso (Jatropha molissima) na parcela 4
Mandacaru (Cereus jamacaru) na parcela 4
(coordenadas
(coordenadas 4º48'34.41"S 38º57"41.92"O).
4º48'34.41"S
38º57"41.92"O).
De acordo com o que pode ser verificado nas FIGURAS 37 e 38, onde temos
a representação gráfica da estrutura vertical e horizontal da comunidade vegetal, esta
parcela apresenta tanto indivíduos jovens quanto mais velhos de grande porte. A maior
concentração destes ficou entre quatro e seis metros, alguns foram maiores que dez,
chegando a quinze metros de altura, valor incomum para espécies da caatinga, que
comumente apresentam baixa estatura quando comparada com formações florestais.
Nove espécimes ficaram entre dois e quatro metros e nenhum foi menor que dois metros.
Com relação ao perímetro, houve concentração dos indivíduos em valores de quarenta
centímetros ou menores. Poucos ficaram entre 40 e 80, e nenhum teve mais que 80
centímetros de perímetro.
FIGURA 37: Estrutura vertical da parcela 4.
54
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 38: Estrutura horizontal da parcela 4.
1.2.1.2.5. Dados fitossociológicos da parcela 5
A vegetação na parcela 5 era semiaberta, com muitas espécies arbóreas em
estágios iniciais de desenvolvimento e abundante serrapilheira sobre o solo, como
observa-se nas FIGURAS 39 e 40.
FIGURA 39: Área semiaberta na parcela
FIGURA
5
serrapilheira e grande quantidade de
(coordenadas
38º57'44.69"O).
4º48'36.97"S
40:
Solo
coberto
por
plântulas em recrutamento na parcela 5
(coordenadas
4º48'36.97"S
38º57'44.69"O).
A deposição de serrapilheira traz muitos benefícios, entre eles permite a
ciclagem rápida de nutrientes e sua disponibilidade nas camadas superficiais do solo
além de auxiliar na retenção de umidade. Segundo informações do senhor Evandro esta
área havia sido um roçado há mais de 30 anos. É possível que tal fato tenha relação com
esta ser a parcela com menor diversidade, apresentando apenas 5 espécies arbóreas
com o critério mínimo para inclusão nos dados fitossociológicos.
55
RPPN Não Me Deixes
Alguns cipós estavam em plena floração como vemos nas FIGURAS 41 e 42,
estes são pertencentes à família Malpighiaceae. Os cipós são mais comuns em áreas de
vegetação aberta ou naquelas que apresentam clareiras, comumente decorrentes da
morte de indivíduos de grande porte, ou ainda, nas que se apresentam em estágios
iniciais de sucessão, seja pelo começo da colonização do ambiente ou pela regeneração
de uma comunidade atingida por impactos ambientais.
FIGURA 41:
(Malpighiaceae
(coordenadas
Cipó cabeça de nego
1)
na
parcela
5
4º48'36.97"S
FIGURA 42: Cipó (Malpighiaceae 2)
próximo
à
parcela
5
(coordenadas
4º48'36.97"S 38º57'44.69"O).
38º57'44.69"O).
Observando as FIGURAS 43 e 44, representativos da estrutura vertical e
horizontal da parcela 5, podemos notar que a distribuição das alturas foi concentrada
entre quatro e seis metros. Nenhum indivíduo foi menor que dois metros e poucos foram
maiores que seis. No gráfico com os valores de perímetro apresentados pelas espécies
vegetais, houve concentração nos menores que 20 centímetros, no qual se agruparam
dezessete indivíduos. Seguido por doze, inclusos entre vinte e quarenta centímetros.
Apenas um indivíduo teve o perímetro maior que quarenta. Esses dados mostram que
predominam indivíduos pequenos, ainda em estágios iniciais de desenvolvimento, sendo
possível que a área esteja em recuperação após a interferência ocorrida na vegetação
pelo plantio de culturas em décadas anteriores.
FIGURA 43: Estrutura vertical da parcela 5.
56
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 44: Estrutura horizontal da parcela 5.
1.2.2. Fauna
1.2.2.1. Mastofauna
Mesmo apresentando características que dificultam a sobrevivência dos
mamíferos num ambiente árido, (OLIVEIRA et al. 2003) relaciona 143 espécies de
mamíferos para o bioma caatinga (10 endêmicas), número próximo do cerrado (159),
mas bem distante do número encontrado para a mata atlântica (229) por (FONSECA et
al. 1996). Esses números podem ser maiores segundo (MMA, 2002): 148 para a
caatinga, 195 para o cerrado e 250 para a mata atlântica.
(OLIVEIRA et al. 2003) afirma que enquanto algumas espécies estão bem
distribuídas na caatinga, outras se encontram bem restritas a certas áreas, formando
comunidades de mamíferos geograficamente distintas dentro da caatinga. Esse resultado
mostra a importância de se inventariar até mesmo pequenas áreas e a criação de
unidades de conservação na caatinga. Afirma também que o centro do Ceará é uma área
potencialmente relevante para a conservação de mamíferos da caatinga, mas por não
possuir informações publicadas, torna-se uma área prioritária para inventários
mastozoológicos.
O fato de grande parte das pesquisas sobre a fauna da caatinga ter sido
concentrada em alguns pontos, geralmente próxima aos limites da caatinga e em
enclaves mésicos, aumenta a necessidade de mais inventários e criação de unidades de
conservação no centro do Ceará, onde se localiza a Depressão Sertaneja Setentrional.
57
RPPN Não Me Deixes
O levantamento da mastofauna da RPPN Não Me Deixes foi realizado através
de busca em campo dentro da propriedade e no seu entorno nos dias 20 a 24 de maio de
2011, e entrevistas com moradores locais.
No total, 19 espécies foram registradas como existentes dentro na RPPN e
uma no entorno, totalizando 20 espécies. A espécie considerada como existente no
entorno foi a onça-parda (Puma concolor), incluindo relatos de sua existência em cidades
próximas, como Quixeramobim e Chorozinho. Essa espécie, junto com o gato-do-mato
Leopardus tigrinus, são as duas espécies de mamíferos ameaçadas de extinção (MMA,
2003) registradas na área.
Apesar de não constar como ameaçadas, nove espécies da RPPN sofrem
grande ameaça devida a caça na região: Cassaco (Didelphis albiventris), Tatu (Dasypus
novemcinctus), Peba (Euphractus sexcinctus), Mambira (Tamandua tetradactyla), Punaré
(Thrichomys apereoides), Preá (Galea spixii), Mocó (Keredon rupestris), Jirita (Conepatus
semistriatus) e Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira). Acredita-se que essas
espécies estão desaparecendo localmente devido a essa atividade, além da perda de
hábitat. (TABELA 5).
FIGURA 45: Raposa – Cerdocyon thous.
FIGURA 46: Soim – Callithrix jacchus.
FIGURA 47: Mambira – Tamandua tetradactyla.
58
RPPN Não Me Deixes
TABELA 5: Lista da Mastofauna da RPPN Não Me Deixes.
Nome científico
Nome popular
DIDELPHIDAE
Didelphis albiventris
Cassaco
Gracilinanus agilis
Catita
DASYPODIDAE
Dasypus novemcinctus
Tatu
Euphractus sexcinctus
Peba
MYRMECOPHAGIDAE
Tamandua tetradactyla
Mambira
CEBIDAE
Callithrix jacchus
Soim
Cebus libidinosus
Macaco-prego
CRICETIDAE
Wiedomys pyrrhorhinos
Rato-nariz-vermelho
ECHIMYIDAE
Thrichomys apereoides
Punaré
CAVIDAE
Galea spixii
Preá
Kerodon rupestris
Mocó
PHYLLOSTOMIDAE
Desmodus rotundus
Morcego-vampiro
FELIDAE
Leopardus tigrinus
Gato-do-mato
Puma yagouaroundi
Gato-mourisco
Puma concolor
Onça-parda
CANIDAE
Cerdocyon thous
Raposa
MUSTELIDAE
Eira Barbara
Papa-mel
MEPHITIDAE
Conepatus semistriatus
Jirita
PROCYONIDAE
Procyon cancrivorus
Guaxinim
CERVIDAE
Mazama gouazoubira
Veado-catingueiro
59
RPPN Não Me Deixes
1.2.2.2. Avifauna
Mesmo com algumas aves típicas da caatinga descritas no século XVIII, até a
década de 1820 era impensada uma associação específica de um grupo de aves com o
bioma (PACHECO & BAUER, 2000). Com a vinda da corte portuguesa ao Brasil e a
abertura dos portos, viajantes naturalistas não portugueses puderam entrar no Brasil,
fazendo diversas expedições pela caatinga. Uma evidência desse fato é que grandes
psitacídeos endêmicos da caatinga só foram descritos depois dessa década
(Anodorhynchus leari e Cyanopsitta spixii)
A caatinga possui 347 espécies de aves (PACHECO & BAUER, 2000).
Considerando os brejos florestados e Campos rupestres, ambientes isolados dentro da
caatinga, esse número chega a 510 espécies (SILVA et. al, 2003). Isso representa
aproximadamente 30% das espécies registradas no Brasil. Também, o bioma caatinga é
considerado por (CRACRAFT, 1985), como um centro de endemismo para aves.
As aves são fundamentais para o equilíbrio das relações entre plantas e
animais, pois diversas plantas têm sua dispersão de sementes dependentes das aves.
Além disso, várias famílias de aves possuem espécies polinizadoras, principalmente
Trochilidae e Thraupidae (ROCCA, 2008). Grande parte das aves atua como controladora
de insetos, sendo diversas espécies insetívoras e outras que complementam sua dieta
com artrópodos.
Da mesma forma que algumas plantas dependem de aves para polinização e
dispersão de sementes, várias espécies de aves dependem de espécies vegetais epífitas
(principalmente Araceae, Bromeliaceae, Cactaceae) que oferecem diversos recursos
como flores, néctar, sementes, frutos, matérias e locais de nidificação, água para
consumo e limpeza corporal. Aproximadamente um quinto das famílias de aves possui
representantes que utilizam recursos disponibilizados por plantas epífitas, principalmente
na Mata Atlântica. (CESTARI, 2009).
O levantamento ornitológico da RPPN Não Me Deixes foi realizado através de
busca em campo (visual e auditivo) dentro da propriedade e no seu entorno nos dias 20 a
24 de maio de 2011, incluindo busca por aves com atividade noturna.
Durante o levantamento, 112 espécies de aves de 42 famílias foram
registradas na área (TABELA 6). Esse número representa aproximadamente 22% das
espécies da caatinga e 32% das espécies da caatinga desconsiderando os brejos
florestados e Campos rupestres.
As famílias predominantes foram Tyrannidae (16), Columbidae (6), Cuculidae
(6), Furnariidae (5), Picidae (5) e Thamnophilidae (5). O resultado é reflexo da aridez do
ambiente, já que essas famílias são constituídas na sua maioria por aves que suportam
60
RPPN Não Me Deixes
muito calor e costumam habitar áreas mais abertas. Analisando os grupos tróficos, os
insetívoros (59) foram predominantes, seguidos dos carnívoros (15) e frugívoros (11).
Para o bioma caatinga, esse resultado era o esperado, devido à baixa produtividade de
frutos que servem de alimento para as aves. Os insetívoros são maioria por terem
alimento mais abundante, seguido dos carnívoros, que se alimentam de lagartos, cobras,
pequenos mamíferos e peixes (FIGURA 48).
FIGURA 48: Grupos tróficos das aves da RPPN Não Me Deixes.
Quanto ao uso do hábitat, as espécies de aves podem ser divididas em três
categorias:
dependentes,
espécies
que
só
ocorrem
em
ambientes
florestais;
semidependentes, espécies que ocorrem nos mosaicos formados pelo contato entre
florestas e formações vegetais abertas ou semiabertas; e independentes, espécies que
ocorrem apenas em vegetações abertas.
Mais da metade das espécies apresentou algum tipo de dependência aos
ambientes florestais, sendo 14% (16) dependentes e 38% semidependentes. O resultado
obtido demonstra a importância em se manter a mata nativa e a criação de programas de
reflorestamento (FIGURA 49).
FIGURA 49: Uso do habitat das espécies de aves da RPPN Não Me Deixes.
As aves são sensíveis aos distúrbios causados por ações antrópicas. Essa
sensitividade pode ser dividida em alta, média e baixa (FIGURA 50). Apenas uma
61
RPPN Não Me Deixes
espécie apresentou alta sensitividade (Penelope jacucaca), e somente 26% (29)
apresentaram sensitividade média. Mais da metade das espécies registradas são
consideradas de baixa sensitividade (82), sendo mais resistentes às ações humanas.
Foram registradas nove espécies que sofrem pressão de caça e outras dezessete que
são utilizadas no comércio ilegal de aves silvestres. Somente duas espécies ameaçadas
de extinção (MMA, 2003) foram registradas, o pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus
limae) e o jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca).
FIGURA 50: Sensitividade das espécies de aves da RPPN Não Me Deixes.
FIGURA 51: Periquito-do-sertão – Aratinga cactorum; Espécie endêmica.
FIGURA 52: Jacu verdadeiro – Penelope jacucaca; Espécie ameaçada de extinção.
62
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 53: Arapaçu-grande –
FIGURA 54: Figura Pica-pau-dourado
Dendrocolaptes
– Piculus chrysochloros - Espécie
Espécie
platyrostris;
dependente
de
dependente de ambientes florestais.
ambientes florestais.
TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes.
*Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro
(oni), Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I);
Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de
dados indiretos.
Família
Espécie
G.
trófico
Uso do
habitat
Sensitivid
ade
Ameaç
a
CRACIDAE
Penelope jacucaca
fru
D
A
C
ANATIDAE
Dendrocygna viduata
fru
I
B
C
Nomonyx dominica
fru
I
M
C
PODICIPEDIDAE
Podilymbus podiceps
ins
I
M
ARDEIDAE
Tigrisoma linetaum
car
I
M
Butorides striata
car
I
B
Bubulcus ibis
ins
I
B
Ardea Alba
car
I
B
Egretta thula
car
I
B
Cathartes aura
det
I
B
Cathartes burrovianus
det
I
M
Coragyps atratus
det
I
B
Heterospizias
car
I
B
car
I
B
CATHARTIDAE
ACCIPITRIDAE
meridionalis
Rupornis magnirostris
63
RPPN Não Me Deixes
TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação)
*Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det),
Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S),
Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*)
registros obtidos através de dados indiretos.
Família
FALCONIDAE
Espécie
Caracara plancus
Herpetotheres
G.
trófico
car
Uso do
habitat
I
Sensitivid
ade
B
car
S
B
Ameaç
a
cachinnans
ARAMIDAE
Aramus guarauna
car
I
B
C
RALLIDAE
Gallinula galeata
ins
I
B
C
Porphyrio martinica
ins
I
B
C
CARIAMIDAE
Cariama cristata
car
I
B
C
CHARADRIIDAE
Vanellus chilensis
ins
I
B
JACANIDAE
Jacana jacana
ins
I
B
COLUMBIDAE
Columbina minuta
gra
I
B
Columbina talpacoti
gra
I
B
Columbina squamatta
gra
I
B
Columbina picui
gra
I
B
Zenaida auriculata
gra
I
B
C
Leptotila verreauxi
gra
S
B
C
Aratinga cactorum
fru
S
M
T
Forpus
fru
I
B
T
Piaya cayana
ins
S
B
Coccyzus
ins
S
B
Crotophaga major
ins
S
M
Crotophaga ani
ins
I
B
Guira guira
ins
I
B
Tapera naevia
ins
I
B
Megascops
car
S
B
car
S
B
Athene cunicularia
car
I
M
Nyctibius griseus
ins
S
B
PSITTACIDAE
xanthopterygius
CUCULIDAE
melacoryphus
STRIGIDAE
choliba
Glaucidium
brasilianum
NYCTIBIIDAE
64
RPPN Não Me Deixes
TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação)
*Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra),
Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D),
Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B);
Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos.
Família
Espécie
G.
Uso do
Sensitivid Ameaç
trófico
habitat
ade
a
CAPRIMULGIDAE Hydropsalis albicollis
ins
S
B
Hydropsalis parvula
ins
I
B
APODIDAE
Tachornis squamatta
ins
I
B
TROCHILIDAE
Eupetomena
nec
I
B
nec
I
B
Chlorostilbon lucidus
nec
S
B
Amazilia fimbriata
nec
S
B
TROGONIDAE
Trogon curucui
fru
D
M
ALCENIDAE
Megaceryle torquata
car
I
B
Chloroceryle
car
S
B
macroura
Chrysolampis
mosquitus
amazona
BUCCONIDAE
Nystalus maculatus
ins
S
M
PICIDAE
Picumnus limae
ins
D
M
Veniliornis
ins
S
B
ins
D
M
Celeus flavecens
ins
D
M
Campephilus
ins
D
M
ins
S
M
ins
S
M
ins
S
B
ins
D
B
ins
S
B
passerinus
Piculus
chrysochlorus
melanoleucus
THAMNOPHILIDA
Formicivora
E
melanogaster
Herpsilochmus
sellowi
Thamnophilus
capistratus
Thamnophilus
pelzelni
Taraba major
65
RPPN Não Me Deixes
TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação)
*Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra),
Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D),
Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B);
Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos.
Família
Espécie
G.
Uso do
Sensitivid Ameaç
trófico
habitat
ade
a
DENDROCOLAPT Sittasomus
ins
D
M
IDAE
griseicapillus
Dendroplex
ins
S
B
ins
I
M
ins
D
M
ins
S
B
ins
S
M
ins
I
M
ins
I
B
ins
S
M
ins
S
B
ins
D
M
ins
D
B
ins
S
B
ins
S
M
picus
Lepidocolaptes
angustirostris
Dendrocolaptes
platyrostris
FURNARIIDAE
Furnarius
leucopus
Pseudoseisura
cristata
Certhiaxis
cinammomeus
Synallaxis
albescens
Synallaxis
scutata
TITYRIDAE
Pachyramphus
polychopterus
Pachyramphus
validus
RYNCHOCYCLID
Tolmomyias
AE
flaviventris
Todyrostrum
cinereum
Hemitriccus
margaritaceiventer
66
RPPN Não Me Deixes
TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação)
*Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra),
Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D),
Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B);
Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos.
Família
Espécie
G.
Uso do
Sensitivid Ameaç
trófico
habitat
ade
a
TYRANNIDAE
Elaenia flavogaster
fru
S
B
Legatus leucophaius
ins
S
B
Myiarchus ferox
ins
S
B
Myiarchus tyrannulus
ins
S
B
Casiornis fuscus
ins
D
M
Pitangus sulphuratus
ins
I
B
Machetornis rixosa
ins
I
B
Myiodinastes
ins
D
B
ins
S
B
Myiozetetes similis
ins
S
B
Tyrannus
ins
I
B
Fluvicola nengeta
ins
I
B
Arundinicola
ins
I
M
ins
D
B
Cychlaris gujanensis
ins
S
B
Vireo olivaceus
ins
D
B
Cyanocorax
oni
S
M
ins
I
B
Troglodytes musculus
ins
I
B
Cantorchilus
oni
D
B
ins
S
M
maculatus
Megarhynchus
pitangua
melancholicus
leucocephala
Cnemotriccus
fuscatus
VIREONIDAE
CORVIDAE
T
cyanopogon
HIRUNDINIDAE
Tachycineta
albiventer
TROGLODYTIDA
E
longirostris
POLIOPTILIDAE
Polioptilia
plumbea
67
RPPN Não Me Deixes
TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Não Me Deixes. (continuação)
*Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra),
Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D),
Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B);
Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos.
Família
Espécie
G.
Uso do
Sensitivid Ameaç
trófico
habitat
ade
a
TURDIDAE
Turdus rufiventris
oni
I
B
T
Turdus leucomelas
oni
S
B
T
Turdus
oni
S
B
T
T
amaurochalinus
MIMIDAE
Mimus saturninus
oni
I
B
COEREBIDAE
Coereba flaveola
nec
S
B
THRAUPIDAE
Lanio pileatus
fru
S
B
T
Tangara sayaca
fru
S
B
T
Paroaria dominicana
fru
I
B
T
Ammodramus
gra
I
B
Volatinia jacarina
gra
I
B
T
Sporophila lineola
gra
I
B
T
Sporophila albogularis
gra
I
M
T
Icterus pyrrhopterus
oni
S
M
T
Agelaioides
oni
I
B
T
Sturnella superciliaris
oni
I
B
T
Euphonia chlorotica
fru
S
B
T
EMBERIZIDAE
humeralis
ICTERIDAE
fringillarius
FRINGILIDAE
1.2.2.3. Herpetofauna
Ao contrário do que se acreditava, a caatinga é um bioma rico em espécies e
com grande número de endemismos. Segundo (RODRIGUES et al. 2003), a caatinga
com características típicas do semiárido apresenta 167 espécies da herpetofauna, sendo
48 anuros, 3 cecílias, 47 lagartos, 10 anfisbenídeos, 52 serpentes, 4 quelônios e 3
crocodilianos. Entretanto, de 2004 até 2011, em função da descrição de novas espécies,
novas
alocações
genéricas
e
outras modificações de
ordem
taxonômica
ou
nomenclatural, houve um acréscimo de aproximadamente 200 espécies para a lista da
herpetofauna brasileira. Assim, o número de espécies da herpetofauna da caatinga
também deve ter crescido. Sem contar com os brejos de altitude e outras variações
68
RPPN Não Me Deixes
florestais presentes nos domínios morfoclimáticos da caatinga, que elevariam
consideravelmente esse número.
Os répteis da Caatinga representam um grupo com grande quantidade de
endemismo. Segundo (OLMOS, 2011), das 10 anfisbenas registradas no bioma, cinco
são endêmicas, enquanto 21 dos 47 lagartos registrados seriam endêmicos. Porém, as
serpentes e quelônios ainda carecem de inventários e precisam ser mais bem estudados.
Os anfíbios também necessitam de mais estudos do ponto de vista
taxonômico e de seus padrões de endemismo. A distribuição de muitos táxons é pouco
conhecida, sendo de difícil determinar uma lista de espécies endêmicas do bioma
(OLMOS, 2011).
Muitas espécies, como gias do gênero Leptodactylus, sapos Rhinella, os
pequenos Dermatonotus muelleri e Pleurodema diplolistris, e o sapo-de-chifres
Ceratophrys joazeirensis apresentam estratégia de estivar em galerias escavadas nos
solos durante o período seco, algumas vezes a grandes profundidades, emergindo com
as chuvas e reproduzindo-se em grande quantidade enquanto há disponibilidade de água
e alimento. Para os anfíbios da Caatinga há uma grande pressão seletiva para aproveitar
ao máximo os períodos chuvosos, que podem ser curtos e irregulares (OLMOS, 2011).
O levantamento da herpetofauna da RPPN Não Me Deixes foi realizado
através de levantamento de dados secundários, e em campo, através de buscas ativas,
observações e informações adicionais coletadas através de entrevistas com moradores
locais em maio de 2011. As espécies comumente encontradas na RPPN são
consideradas de ampla distribuição da caatinga, como os lagartos Tupinambis merianae,
Tropidurus hispidus e Phyllopezus pollicaris, as serpentes Liophis dilepis, Pseudoboa
nigra e Boa constrictor, e os anfíbios Chaunus jimi, Leptodactylus labyrinthicus e
Leptodactylus troglodytes (FIGURAS 55, 56, 57 e 58).
FIGURA 55: Teju (Tupinambis merianae).
FIGURA 56: Cururu (Chaunus jimi).
69
RPPN Não Me Deixes
FIGURA
57:
Caçote
(Leptodactylus
troglodytes).
FIGURA
58:
Costelinha-de-vaca
(Liophis
dilepis).
O levantamento da herpetofauna da RPPN Não Me Deixes apresentou um
total de 09 espécies de anfíbios distribuídas em seis famílias de duas ordens (TABELA 7)
e 23 espécies de répteis, distribuídas em cinco famílias de lagartos (10 spp.), quatro de
serpentes (13 spp.) e somente um anfisbêneo (TABELA 8).
TABELA 7: Listagem dos anfíbios registrados na RPPN Não Me Deixes em maio de
2011.
Família
Espécie
Nome Popular
Ordem Anura
BUFONIDAE
Rhinella jimi
Cururu
Rhinella granulosa
Cururuzinho
CYCLORAMPHIDAE
Proceratophrys cristiceps
Sapo Boi
LEIUPERIDAE
Physalaemus albifrons
Sapinho
Physalaemus cuvieri
Sapinho
LEPTODACTYLIDAE Leptodactylus troglodytes
Caçote
HYLIDAE
Hypsiboa raniceps
Perereca
Scinax x-signata
Rãzinha
Dermatonotus muelleri
Rã-manteiga
MICROHYLIDAE
70
RPPN Não Me Deixes
TABELA 8: Listagem dos répteis registrados na RPPN Não Me Deixes em maio de 2011.
Família
Espécie
Nome Popular
Boa constrictor
Jibóia; Cobra de veado
Epicrates cenchria
Salamanta
Leptodeira annulata
Cobra Dormideira
Liophis dilepis
Costelinha-de-vaca
Leptophis ahaetulla
Cobra-cipó
Oxybelis aeneus
Cobra cipó bicuda
Oxyrhopus trigeminus
Falsa Coral
SERPENTES
BOIDAE
COLUBRIDAE
Corre
campo;
Philodryas nattereri
Tabuleiro
Philodryas olfersii
Cobra Verde
Spilotes pullatus
Caninana
ELAPIDAE
Micrurus sp.
Coral Verdadeira
VIPERIDAE
Bothrops erythromelas
Jararaca
Crotalus durissus
Cascavel
IGUANIDAE
Iguana iguana
Iguana
GEKKONIDAE
Briba brasiliana
Briba
Gymnodactylus geckoides
Briba
Lygodactylus klugei
Briba
Cobra
de
LAGARTOS
GYMNOPHTHALMIDA
Micrablepharus
E
maximilliani
Lagarto-do-rabo-azul
TEIIDAE
Ameiva ameiva
Tijubina
Cnemidophorus ocellifer
Lagartixa
Tupinambis merianae
Tejo
Tropidurus hispidus
Calango
Tropidurus semitaeniatus
Calango Listrado
TROPIDURIDAE
ANFISBENÍDEOS
Cobra-de-duas-cabeças/cobraAMPHISBAENIDAE
Leposternon polystegun
cega
A RPPN apresenta diversos recursos hídricos, boa parte deles intermitentes.
A maior parte dos registros de anfíbios foi feita nos brejos alagados presentes na RPPN,
como o representado na FIGURA 59.
71
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 59: Brejado na porção leste da RPPN Não Me Deixes.
Nestes ambientes foi possível registrar espécies tais como Scinax x-signatus
(FIGURA 60) e Pseudopaludicola sp. (FIGURA 61) Já em áreas abertas, destacou-se o
Pleurodema diplolister (FIGURA 62) e em áreas abertas e o Dermatonotus muerlleri
(FIGURA 63) na serapilheira da caatinga arbustiva-arbórea.
FIGURA 60: Perereca raspa-cuia (Scinax x-
FIGURA 61: Pseudopaludicola sp.
signatus).
FIGURA 62: Sapinho-de-areia (Pleurodema
FIGURA
diplolister)
muerlleri).
63:
Rã-manteiga
(Dermatonotus
Dentre os lagartos registrados na RPPN, destaque para os registros de
Micrablepharus maximilliani (FIGURA 64), Cnemidophorus ocellifer (FIGURA 65), Iguana
iguana (FIGURA 66) e Enyalius bibronii (FIGURA 67).
72
RPPN Não Me Deixes
FIGURA
64:
Calanguinho
(Cnemidophorus
FIGURA 65: Tijubina (Ameiva ameiva).
ocellifer).
FIGURA 66: Iguana (Iguana iguana).
FIGURA 67: Papa-vento (Enyalius bibronii).
Entre as serpentes, pouco registro foi feito, e a lista foi complementada por
entrevistas com moradores locais. Destaque para os registros de Boa constrictor
(FIGURA 68) e Leptophis ahaetulla (FIGURA 69).
FIGURA 68 Jibóia (Boa constrictor).
FIGURA 69: Cobra-cipó (Leptophis ahaetulla).
73
RPPN Não Me Deixes
O único registro da família Amphisbaenidae na RPPN Não Me Deixes foi da
espécie Leposternon polystegun (FIGURA 70), também conhecido por cobra-de-duascabeças ou cobra-cega, registrado morto por moradores locais. Este registro indica o
desconhecimento da população sobre a RPPN e a necessidade de proteção de sua
fauna associada. Segundo depoimentos locais, serpentes são vistas como ameaças
(incluindo a anfisbênea acima citada, confundida com serpente), muitas delas nãopeçonhentas, mortas em seus ambientes naturais, vítimas da falta de conhecimento.
Portanto, um trabalho de educação ambiental envolvendo moradores da região,
destacando a fauna da RPPN e a sua importância para o ecossistema é fundamental.
FIGURA 70: cobra-de-duas-cabeças (Leposternon polystegun) morta na RPPN Não Me
Deixes, confundida com uma serpente.
1.3. Visitação
Atualmente foram constatadas atividades de visitação na RPPN para alguns
dos pontos notáveis, mas não com objetivos turísticos, uma vez que esta UC não
apresenta estrutura para tal atividade e não é de interesse dos proprietários expandir a
visitação para a área da RPPN. A visitação ocorre mais frequentemente na Fazenda Não
Me Deixes, por conta da sua casa sede construída pela escritora Raquel de Queiroz que
e mantida com suas características originais e que se tornou um patrimônio cultural para
o Município de Quixadá e para todo o Estado do Ceará.
74
RPPN Não Me Deixes
1.4. Pesquisa e Monitoramento
A área da RPPN Não Me Deixes é um remanescente da biodiversidade do
bioma caatinga sendo explorada cientificamente por pesquisadores de instituições de
ensino e ONGs que buscam fazer levantamentos, principalmente, de fauna e flora da
região e também, para a elaboração deste documento que consiste no Plano de Manejo
da RPPN Não Me Deixes.
Ainda não existe uma rotina de monitoramento na reserva e, até o momento
em que estavam sendo feitos os estudos para a elaboração deste Plano de Manejo, o
monitoramento é realizado pelos moradores e por órgãos ambientais federais de forma
esporádica.
1.5. Ocorrência de Fogo
Durante os estudos para a elaboração deste documento, pode-se constatar
que na RPPN Não Me Deixes não há ocorrência recente de fogo, apenas alguns
vestígios de árvores com troncos queimados. Contudo foi observado que na Fazenda,
algumas áreas haviam sido queimadas, principalmente no intuito de limpá-las para o
cultivo de culturas de sequeiro. Esta prática, embora já tenha sido extinta na propriedade
pode ser um grande risco para a integridade da RPPN, haja vista que em algumas
localidades do entorno da reserva, ainda praticam as queimadas antes do plantio.
1.6. Atividades Conflitantes na RPPN
De acordo com dados obtidos em campo e com moradores das comunidades
de entorno, existe alguma atividade de caça e extração de madeira, especialmente pelas
bordas da propriedade e que podes afetar a integridade da RPPN.
A prática apresentada nas FIGURAS 71 e 72 contamina os recursos hídricos
devido ao uso de produtos químicos (sabão e água sanitária) e contribui para o
assoreamento dos mesmos devido à retirada da vegetação que proeje o solo contra o
impacto direto da água da chuva e o escoamento de sedimentos para a calha do recurso
hídrico.
75
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 71: Vegetação das margens de
FIGURA 72: Produtos químicos utilizados
um córrego degrada no interior da RPPN.
na lavagem das roupas (sabão e água
Represamento de água para a lavagem
sanitária) no interior da RPPN Não Me
de roupas pela comunidade, próxima à
Deixes. (Foto: Samuel Portela).
estrada que segue para a comunidade de
areias. (Foto: Samuel Portela).
A abertura de trilhas no interior da RPPN (FIGURA 73) facilita a entrada de
pessoas não autorizadas, que muitas vezes adentram na reserva no intuito de caçar
animais e retirar madeira, principalmente para a obtenção de lenha.
FIGURA 73: Retirada de vegetação pelas comunidades do entorno da Fazenda Não Me
Deixes para a abertura de trilhas no interior da RPPN (próxima à estrada que segue para
a comunidade de areias). (Foto: Samuel Portela).
76
RPPN Não Me Deixes
1.7. Sistema de Gestão
Por residirem em domicílio diverso da RPPN, os proprietários procedem a
gestão da UC através dos caseiros e suas famílias que habitam a Fazenda Não Me
Deixes. Estes moradores são responsáveis pela administração da manutenção e
quaisquer atividades referentes à Fazenda e RPPN, seguindo orientações dos
proprietários.
1.8. Pessoal
Na RPPN Não Me Deixes, ainda não possui uma equipe específica para os
seus trabalhos de fiscalização e gestão. Estas demandas serão discutidas no Capítulo
destinado aos programas. Até o momento estas atividades voltadas para a manutenção,
fiscalização e gestão da RPPN são realizadas de forma esporádica pelos moradores da
Fazenda Não Me Deixes.
1.9. Infraestrutura
A RPPN Não Me Deixes não possui infraestrutura instalada, apenas as
cercas de estacas e arames nas partes que coincidem com os limites da fazenda, ou
seja, só é cercada a parte voltada para o exterior da fazenda, não havendo delimitações
nas áreas voltadas para o interior.
A RPPN é cortada por algumas trilhas rústicas, algumas feitas pela constante
passagem de moradores. Estas trilhas favorecem o transito de animais e podem ajudar
no monitoramento da área pelos moradores e ou gerente da fazenda. Todo o restante da
infraestrutura da propriedade e instalada na Fazenda Não Me Deixes.
1.10. Equipamentos e Serviços
Até o momento a RPPN Não Me Deixes não conta com equipamentos
destinados aos trabalhos na reserva, contudo para as atividades de pesquisa científica, é
disponibilizada, após autorização da proprietária, a casa sede da Fazenda Não Me
Deixes para hospedar e dar suporte aos pesquisadores. Também são disponibilizados
77
RPPN Não Me Deixes
alguns funcionários da Fazenda para auxiliar a equipe na preparação da alimentação e
nos serviços domésticos durante os períodos em que estas estiverem hospedadas.
1.11. Recursos Financeiros
Todos os esforços de apoio financeiro desta RPPN partem principalmente de
investimentos privados de seus proprietários e de editais de apoio à gestão de RPPNs,
como por exemplo, os editais do Programa de Apoio à Conservação em Terras Privadas
da Caatinga (Aliança da Caatinga), financiadora deste Plano de Manejo, que assim com
outras 4 (quatro) RPPNs receberam um recurso de R$20.000,00 para a elaboração de
seus Planos de Manejo.
1.12. Formas de Cooperação
Para a realização das pesquisas e elaboração deste documento foram
estabelecidas parceria com as Associações Asa Branca e Caatinga, bem como pelo
segundo Edital da Aliança da Caatinga, patrocinado pela MPX, empresa diversificada de
energia com negócios complementares em geração elétrica e exploração e produção de
gás natural na América do Sul, membro do Grupo EBX, responsável pelo financiamento
do Segundo Edital da Aliança da Caatinga. Estes editais de apoio são comumente
fomentados por instituições públicas e privados, podendo ser acessados no futuro para
financiar a implementação deste Plano de Manejo.
Desta forma, A RPPN Não Me Deixes possui três possibilidades de receita,
conforme os itens abaixo.
- A primeira possibilidade de receita é a proveniente de fundos, financiamentos e
doações, tais como:

Fundo Nacional do Meio Ambiente (www.mma.gov.br)
Criado pela Lei 7.797 de 10 de julho de 1989, o Fundo Nacional do Meio
Ambiente (FNMA) tem por missão contribuir, como agente financiador e por meio da
participação social, para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA). Desde sua criação o FNMA apoia projetos ambientais em todo o país, tendo
investido mais de cem milhões de reais distribuídos entre mais de mil projetos aprovados.

Aliança da Caatinga (http://www.acaatinga.org.br/index.php/alianca/)
78
RPPN Não Me Deixes
A Aliança da Caatinga desenvolve desde 2007 o Programa de Incentivo à
Conservação em Terras Privadas na Caatinga, que tem como estratégia três
componentes principais: (1) o apoio à criação e gestão (plano de manejo) de reservas
particulares e adequação ambiental de propriedades rurais; (2) fortalecimento da rede de
associações de proprietários de RPPN e (3) a identificação e implementação de políticas
e mecanismos que incentivem a criação e manutenção de reservas particulares.

Fundação O Boticário de Conservação da Natureza (www.fbpn.org.br)
O Programa de Incentivo à Conservação da Natureza tem por objetivo
financiar projetos que contribuam efetivamente para a conservação da natureza no Brasil,
através do apoio a ações de: manejo de unidades de conservação, conservação e
manejo de espécies ameaçadas, fiscalização e proteção ambiental, valorização e manejo
de
áreas
verdes
urbanas,
restauração
de
ecossistemas,
desenvolvimento
e
implementação de políticas públicas e legislação ambiental e pesquisa aplicada em
ecologia e conservação da natureza.

ONGs Internacionais
The Nature Conservancy – TNC (www.tnc.org.br)
Conservation International – CI (www.conservation.org.br)
World Wildlife Fund – WWF (www.wwf.org.br)
- A segunda possibilidade de receita é a proveniente de isenção de taxas (ex: Imposto
Territorial Rural-ITR).
- A terceira possibilidade de receita é proveniente de recursos do proprietário.
2. CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE
A Fazenda Não Me Deixes (FIGURA 74), representa um remanescente ainda
preservado do Bioma Caatinga, tendo em vista que a propriedade de 928 ha (novecentos
e vinte oito hectares), é recoberta parcialmente por uma Unidade de Conservação, a
RPPN Não Me Deixes, criada pela Portaria do IBAMA Nº 37-N de 16 de abril de 1999,
que possui 300 ha (trezentos hectares) em boas condições de conservação, o que
sugere ser um ambiente propício para refúgio de muitas espécies normalmente
encontradas no Bioma Caatinga.
79
RPPN Não Me Deixes
A RPPN Não Me Deixes não contempla visitas com fins turísticos e
educacionais no seu interior, apenas no interior da Fazenda Não Me Deixes, onde podem
ser contemplados os limites da RPPN. Por ser a mais conhecida RPPN do Estado do
Ceará, conhecimento este que se deu por conta do histórico da Fazenda Não Me Deixes
e da popularidade de sua antiga proprietária, a escritora Raquel de Queiroz, a Fazenda
possui uma boa frequência visitantes que têm conhecimento do perfil conservacionista da
família criadora e mantenedora da Reserva que é uma joia do Bioma Caatinga presente
nesta propriedade e apenas pode ser contemplada pelos visitantes, não sendo permitida
a entrada destes na sua área.
Na Fazenda Não Me Deixes existem 11 casas de alvenaria construídas,
sendo nove destas destinadas para abrigar os trabalhadores da fazenda. No período em
que foram realizados os levantamentos de campo, havia oito famílias residindo no local e
uma das casas encontrava-se desocupada. Estas famílias são responsáveis pela
manutenção das atividades realizadas na fazenda (trabalhos domésticos na casa sede,
vigilância,
agricultura,
pecuária,
manutenção
das
estradas,
cercas
e
outras
infraestruturas).
Estas casas possuem fossas sépticas, energia elétrica e em sua maioria,
utilizam como matriz energética para o preparo da alimentação a lenha, coletada na
fazenda, e o gás butano.
Na parte produtiva da Fazenda Não Me Deixes são comuns as práticas
agropastoris em que podemos citar a criação de gado para a produção de leite e a
agricultura de sequeiro realizada pelos moradores da fazenda. A fazenda possui um
curral, onde são colocados os bovinos (57 animais), os quais são criados para a
produção de leite e derivados, contudo, na maior pare do tempo estes animais
permanecem soltos no interior da fazenda. São criados ainda aproximadamente 45
caprinos e quatro equinos e dois gados muar (burros).
A área da fazenda e cortada por uma estrada que liga a localidade
denominada Fazenda Junco, localizada no distrito de Daniel da Queiroz, à localidade
denominada Primavera a qual faz contato com o limite da Fazenda Não Me Deixes.
Por encontrar-se em uma área distante da sede municipal, a Fazenda Não
Me Deixes, assim como a RPPN, não possui coleta de lixo realizada rotineiramente pela
prefeitura municipal. O lixo produzido na área da Fazenda é coletado pelos moradores e
em seguida enterrado ou queimado em áreas desabitadas e longe da RPPN. Vale
salientar que o lixo produzido é oriundo das famílias que moram na fazenda, não
havendo produção de lixo nas áreas situadas no interior da RPPN. Este fato vai de
encontro aos objetivos da RPPN, pois esta prática além de contribuir para a
80
RPPN Não Me Deixes
contaminação do solo e poluição do ar pode ser o estopim para um incêndio na área da
Reserva.
Durante os levantamentos de campo foram realizadas entrevistas com 8
moradores (chefes de famílias) da fazenda para que se pudesse traçar o perfil
socioeconômico das famílias ali residentes e avaliar o conhecimento destes em relação à
RPPN. A seguir seguem os resultados das entrevistas.
FIGURA 74: Vista da entrada da casa sede da Fazenda Não Me Deixes e a casa de um
dos moradores ao fundo. (Foto: Samuel Portela).
No tocante ao perfil dos entrevistados pode-se constatar que 6 eram do sexo
masculino e em sua maioria (5) tinham idade superior a 60 anos, sendo os demais com
idades entre 21 e 60 anos.
Todos os entrevistados afirmaram serem agricultores e cultivam durante a
quadra chuvosa (agricultura de sequeiro) as culturas de milho e feijão (FIGURA 75),
apenas para subsistência. Nas casas onde residem os entrevistados, em 2 dos casos,
moram 2 pessoas. A mesma quantidade (2) ocorre para as casas com 3 e mais de 4
pessoas. Apenas 1 casa reside um único morador e uma outra casa residem 4 pessoas.
FIGURA 75: Plantação de milho e feijão consorciados na Fazenda Não Me Deixes. (Foto:
Samuel Portela).
81
RPPN Não Me Deixes
Nas casas dos entrevistados, em 7 e 6 casos, possuem energia elétrica e
fossas sépticas respectivamente. E a matriz energética para o preparo da alimentação é
oriunda, em 7 dos casos, do gás de cozinha e a lenha, sendo esta última adquirida no
interior da Fazenda Não Me Deixes. Apenas um dos entrevistados utiliza apenas a lenha
como matriz energética.
Em relação ao grau de instrução dos entrevistados, foi observado que 5 dos
entrevistados são analfabetos, 2 possuem o Ensino Fundamental incompleto e 1 é
apenas alfabetizados.
A renda dos entrevistados, em 7 casos, era de até um salário mínimo e
apenas 1 tinham rendimentos entre dois e cinco salários mínimos.
No que diz respeito à relação dos entrevistados com a área da RPPN Não Me
Deixes foi constatado que todos eles tinham conhecimento da existência da reserva e em
a metade (4) dos entrevistados haviam observado alguma mudança no local após a
criação da RPPN em 1999, citando, por exemplo: a diminuição da caça, do corte de
madeira e a invasão da propriedade por caçadores. Segundo os entrevistados estas
mudanças ocorreram por conta da fiscalização do IBAMA e principalmente devido às
orientações dos proprietários em relação à gestão da propriedade.
Quando indagados se faziam algum uso do espaço da RPPN, todos os
entrevistados afirmaram não utilizarem a área para nenhuma de suas atividades, e que
não tinham conhecimento de nenhuma atividade que pudesse está causando a
degradação ambiental da área.
7 dos entrevistados afirmaram também que não tinham conhecimento de
atividades de educação ambiental realizadas com as comunidades do entorno ou mesmo
com os próprios moradores da fazenda. Apenas 1 deles afirmou que eram realizadas
reuniões com os moradores para tratar de questões relacionadas ao lixo produzido na
fazenda.
Com relação à caça na área compreendida pela RPPN 7 dos entrevistados
afirmaram não ter conhecimento desta atividade na reserva, contudo, 1 dos entrevistados
afirmou que ainda existia caça na reserva e que esta era praticada pelos próprios
moradores da fazenda e que o animal mais caçado era o tatu, ou peba, como é
conhecido na região.
No que diz respeito à ocorrência de queimadas na região, 5 dos entrevistados
afirmaram que estas ainda ocorrem bastante e principalmente nos meses de outubro e
novembro, mas que na área da fazenda esta prática havia sido eliminada.
Quando questionados se era possível conciliar a ocupação urbana no entorno
da RPPN com a preservação ambiental da mesma, 7 dos entrevistados responderam que
sim e para que isto ocorra basta que práticas como a caça, o desmatamento, as
82
RPPN Não Me Deixes
queimadas sejam eliminadas e que haja uma fiscalização mais efetiva na área pelos
órgãos responsáveis. Já um dos entrevistados afirmou que não é possível conciliar, pois
toda ocupação traz consigo degradação de alguma forma.
Em relação ao poder público foi perguntado aos entrevistados se eles tinham
conhecimento de alguma ação proposta que envolvesse o local onde residiam, e 7 dos
entrevistados afirmaram não terem conhecimento de nenhuma ação, contudo, um deles
afirmou que havia possibilidade de construção, pelo governo federal, de uma linha de
ferro que cortaria a área da RPPN, no caso a Transnordestina, um braço do transporte
ferroviário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que vai ligar, em forma de um Y, o
município de Eliseu Martins aos portos de Pecém, em Fortaleza (CE) e Suape, em Recife
(PE), e tem como objetivo o escoamento da produção da soja, milho, arroz e algodão e
mineral do sul do Piauí, norte de Tocantins e o Oeste da Bahia com destino ao mercado
estrangeiro.
Ainda em relação ao poder público, foi perguntado aos entrevistados se eles
já haviam sido convidados por alguma instituição para participar de decisões ou
discussões que envolvessem o espaço da RPPN e todos eles afirmaram que não. Já em
relação à ocorrência de fiscalização da RPPN por órgãos ambientais, 5 dos entrevistados
afirmaram não ter conhecimento da presença dos mesmos na propriedade e os 3
restante afirmaram já ter visto estes órgãos fiscalizadores e que a frequência com que
eles visitavam a área era de aproximadamente 15 dias.
Por fim, quando questionados quanto o que poderia ser feito pelo poder
público para intensificar a preservação da RPPN, todos os entrevistados citaram a
intensificação da fiscalização no local.
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO
3.1. Caracterização do município de Quixadá
Histórico municipal
O município de Quixadá tem como uma de suas características marcantes as
formações rochosas, os monólitos, nos mais diversos formatos que "quebram" a aparente
monotonia da paisagem sertaneja. É também conhecida por ser a terra de escritores
como Jader de Carvalho e Rachel de Queiroz que, apesar de ter nascido em Fortaleza,
capital do Ceará, possuía uma relação muito forte com a cidade, visitando-a
83
RPPN Não Me Deixes
constantemente, quando se hospedava em sua Fazenda Não Me Deixes, que herdou de
seu pai, Daniel de Queiroz
O nome Quixadá é uma palavra derivada de alguma das línguas indígenas
faladas no território cearense antes do descobrimento. Contudo, há grandes
controvérsias. Em alguns documentos antigos figura como Queixadá, Quixedá. Para
Paulino Nogueira, em seu livro Vocabulário Indígena em Uso na Província do Ceará,
presume que o nome vem da tribo Tapuia dos Quixaras, também conhecida com
Quixadás. Segundo Carl von Martius, é derivada de Quixeurá, que significa "Oh! Eu sou o
Senhor, Qui = oh, Xé = eu e Uará = senhor, tendo-se corrompido em Quixadá.
Para Teodoro Sampaio, em seu livro “O Tupi na Geografia Nacional”, disse
que a palavra pertence à língua cariri e que, por não haver qualquer registros, não é
possível afirmar significado exato. Thomaz Pompeu Sobrinho atribuiu, em princípio, a
esse topônimo a origem tupicomo Quichaitá, com a seguinte interpretação: Qui = ponta,
Chai = gancho ou torcida e Ita = pedra, donde se conclui: pedra da ponta encurvada ou
torcida. Essas interpretações estão relacionadas à paisagem quixadaense onde existem
pedras singulares como, por exemplo, a "Galinha Choca", conhecida anteriormente como
"Bico de Arara", além disso, segundo o autor, também pode ser a corruptela da palavra
queixada ou quintal de rocha. Eusébio de Sousa também diz ser o vocábulo de
origemtupi-guarani que significa pedra da ponta curvada. Os antigos habitantes falavam
em Curral de Pedra, haja vista a localização da cidade que de fato, está cercada de
pedras.
Originalmente, a região foi habitada pelos índios Kanindé e Janipapo
pertencentes ao grupo dos Tapuias, resistindo á invasão portuguesa no início do século
XVII, sendo "pacificados" em 1705, quando Manuel Gomes de Oliveira e André Moreira
Barros ocuparam as terras quixadaenses. Estes grupos indígenas resistiram até 1760,
pois os conflitos entre índios e colonos, ocasionados pelo desenvolvimento da pecuária
desde 1705, praticamente extinguiram essas tribos.
A colonização da área compreendida atualmente pelo município de Quixadá
ocorreu através da penetração pelo rio Jaguaribe, seguindo seu afluente o rio Banabuiú e
depois o rio Sitiá, cujo objetivo principal era a conquista de terras para a pecuária de
corte e leiteira.
A primeira escritura pública da região foi a do Mosteiro Beneditino, hoje Casa
de Repouso São José, na Serra do Estêvão, onde hoje é o distrito de Dom Maurício, em
1641. Manuel da Silva Lima, alegando ter descoberto dois olhos d'água, obteve uma
sesmaria. Essas terras, inicialmente de Carlos Azevedo, eram o "Sítio Quixedá" adquirido
por compra conforme escritura de 18 de dezembro de 1728.
84
RPPN Não Me Deixes
Em seguida, a propriedade foi vendida a José de Barros Ferreira em 1747 por
duzentos e cinquenta mil réis. Oito anos depois, José de Barros, construiu casas de
morada, capela e curral, lançando assim as bases da atual cidade de Quixadá, sendo
considerado, portanto, o legítimo fundador da cidade. A fazenda prosperou e se
transformou em distrito do município de Quixeramobim.
A partir do século XIX, com a instalação da estrada de ferro que ligava o
Cariri à Fortaleza ocorreu forte urbanização do município. Esta também foi fortemente
influenciada pela produção de algodão exportado para a Inglaterra, que nesta época vivia
a Revolução Industrial. A Freguesia de Quixadá foi criada pela Lei provincial n° 1.305, de
5 de novembro de 1869. Em de 27 de outubro de 1870a Lei provincial n° 1.347 criou o
Município de Quixadá desmembrando-o de Quixeramobim e sendo elevado à categoria
de vila.
Com o projeto e a construção do Açude, a vila passa a receber ainda mais
imigrantes vindo de diversas regiões (estimados em 30.000), além disso, diversas
estradas foram construídas. Este processo acelera a urbanização, fazendo com que em
17 de agosto de 1889 a vila recebesse foros de cidade pela Lei provincial n.º 2.166.
Deste sua emancipação até hoje, teve cinquenta e três governos municipais,
sendo o fazendeiro Laurentino Belmonte de Queiroz, o primeiro prefeito no período de
1871 a 1873.
Dados populacionais
O município de Quixadá sofreu uma redução na população entre os anos de
1991 e 2000, como se pode observar na TABELA 9, devido aos desmembramentos de
alguns distritos nesta época. Contudo se compararmos com o censo de 2010 nota-se um
aumento na população em aproximadamente 10.000 habitantes. Em relação às zonas
habitadas, pode-se observar que houve um aumento considerável do número de
habitantes na zona urbana em relação à zona rural entre os anos de 1991 e 2010.
TABELA 9: População Residente – 1991/2000/2010.
85
RPPN Não Me Deixes
Em relação ao número de domicílios particulares pode-se observar a grande
disparidade entre a quantidade de domicílios urbanos (16.123) e rurais (6.050),
reforçando os dados da tabela anterior que mostra uma maior concentração de
habitantes na zona urbana do município. (TABELA 10).
TABELA 10: Domicílios Particulares Permanentes por Situação e Média de Moradores –
2010.
Quixadá pode ser considerado um município de porte médio em função da
sua população de 80.604 habitantes (2010), o que representa 0,93% da população do
estado. Seu crescimento demográfico anual é de 0,5% (2006-2007), no entanto, quando
a população atual é confrontada com os dados dos censos de 1970 (98.509 habitantes) e
de 1991 (72.292 habitantes) e das estimativas para 1996 (64.442 habitantes) observa-se
o declínio da população. Isto se deve, basicamente, aos desmembramentos dos distritos
de Banabuiú e Ibaretama em 1988 e de Choró em 1993. Abaixo A FIGURA 76 mostra
evolução da população do município de Quixadá entre os anos de 1991 e 2007.
FIGURA 76: evolução populacional do município de Quixadá – 1991/2007. Fonte: IBGE
2012.
86
RPPN Não Me Deixes
Índices de desenvolvimento
O município de Quixadá apresenta uma colocação consideravelmente boa no
ranking do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH entre os municípios cearenses
ocupando a vigésima primeira colocação, de acordo com os dados de 2000 do
IPECE/PNUD (TABELA 11).
TABELA 11: Índices de Desenvolvimento.
A população considerada extremamente pobre do município de Quixadá
chega a perfazer mais de 20% da população, aproximadamente 16.788 pessoas
(TABELA 12), sendo estes distribuídos, quase que equitativamente, nas zonas rurais e
urbanas do município.
TABELA 12: População Extremamente pobre: (com rendimento domiciliar per capita
mensal de até R$ 70,00) – 2010.
Economia
Quixadá é um dos centros comerciais mais expressivos do Ceará, para onde
afluem as comunidades das cidades vizinhas. A maior fonte de empregabilidade é a
administração pública, com mais de 2 mil funcionários, seguidos pelo comércio e
serviços, como podemos observar na TABELA 13, a seguir.
87
RPPN Não Me Deixes
TABELA 13: Número de Empregos Formais – 2010.
As principais atividades econômicas (FIGURA 77) estão relacionadas à
prestação de serviços e ao comércio. Estas atividades são responsáveis por mais de
70% do PIB municipal além de ocupar aproximadamente 59% da população
economicamente ativa (deste montante, 51% são trabalhadores autônomos do setor
informal). O comércio do município está concentrado no Centro da cidade onde recebe
semanalmente centenas de moradores das áreas rurais e de municípios vizinhos como
Choró, Banabuiú, Ibicuitinga eIbaretama.
FIGURA 77: PIB por setor do município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012.
Em seguida vem a agropecuária e a indústria, sendo a primeira representada
principalmente pela avicultura, bovinocultura leiteira e ovinocaprinocultura. Esta última
está associada à presença de agentes expressivos na região, como, por exemplo, a
88
RPPN Não Me Deixes
Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado do Ceará (Acocece), composta
pelos médios e grandes produtores, um frigorífico com tecnologia para beneficiar a carne
dos ovinos e caprinos e ainda aspectos climáticos da região.
Em relação à indústria, o município possui pequenas indústrias alimentícias,
tecelagens e calçadistas. Entre as grandes instalações industriais existe uma fábrica de
calçados além de uma usina de biodiesel com capacidade de 157 mil litros/dia, ou 57
milhões litros/ano localizada no distrito de Juatama.
A seguir, na TABELA 14 seguem os dados municipais em relação ao PIB por
setor do ano de 2008.
TABELA 14: produto Interno Bruto – 2008.
Como se pode observar na TABELA 14, o setor de serviços é responsável por
mais de 70% do PIB municipal, fazendo com que o município de Quixadá ocupe o
quadragésimo sexto lugar no ranking cearense.
TABELA 15: Renda Domiciliar per capita (salário mínimo R$ 510,00) – 2010.
89
RPPN Não Me Deixes
A TABELA 15 nos mostra que mais de 18.000 pessoas, de um total de
22.124, possuem renda até um salário mínimo, o que representa mais de 80% da
população economicamente ativa.
Turismo
O município de Quixadá apresenta grande potencial turístico, embora pouco
explorado. Dentre as atividades turísticas se destaca o ecoturismo devido à beleza de
suas paisagens, e a possibilidade de práticas de esportes radicais como o vôo livre
(parapente e asa-delta), off Road, trekking, orientação, montanhismo e rapel. O município
oferece ainda várias opções de visitação, como por exemplo: Açude do Cedro, Pedra da
Galinha Choca, Santuário N. Senhora. Imaculada Rainha do Sertão, Chalé da Pedra,
Lagoa dos Monólitos, Morro do Urucu, Pedra do Cruzeiro, Serra do Estevão, Trilha da
Barriguda, Trilha do Olho d'Água, Trilha do Boqueirão, Trilha Cabeça do Gigante,
Fazenda Magé, Museu Jacinto de Sousa e a RPPN Não Me Deixes.
Cultura
O município de Quixadá possui vários atrativos culturais dentre ele destacamse o Museu Histórico Jacinto de Sousa, o Centro Cultural Rachel de Queiroz, o teatro e o
anfiteatro. O centro cultural oferece oficinas de audiovisual, música, teatro e artes
plásticas. Também conta com o Memorial Rachel de Queiroz onde fica o atual chalé da
pedra, o qual foi restaurado e equipado com peças e artefatos da escritora. Dentre os
eventos religiosos, destaca-se a romaria de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão.
Saúde
De acordo com os dados do IBGE 2010, o município de Quixadá conta com
36 estabelecimentos de saúde, sendo 1 estadual, 29 municipais e 6 privados, situação
semelhante se comparada ao Estado do Ceará, como demonstrado no FIGURA 78.
90
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 78: Estabelecimentos de saúde do município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012.
O município conta ainda com 583 profissionais de saúde, sendo a maioria
deles, agentes comunitários de saúde e outros profissionais de nível médio, como consta
na TABELA 16, a seguir.
TABELA 16: Profissionais de Saúde, Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) – 2010.
Educação
O município de Quixadá apresentava no ano 2000 aproximadamente 14.300
analfabetos, entre as pessoas com 15 anos de idade ou mais (total 45.481). Estes dados
nos mostram uma taxa de analfabetismo funcional de 31, 59%. Já no ano de 2010, houve
uma redução desta taxa, reduzindo proporcionalmente o número de analfabetos no
município, como mostra a TABELA 17, a seguir.
91
RPPN Não Me Deixes
TABELA 17: Taxa de Analfabetismo Funcional para Pessoas com 15 anos ou mais –
2000/2010.
De acordo com os dados do (INEP 2009), o município de Quixadá possuía
789 docentes, distribuídos entre a pré-escola, o ensino fundamental e o médio, sendo o
ensino fundamental o nível escolar com maior número de profissionais. O FIGURA 79
mostra a quantidade de professores por série no município de Quixadá.
FIGURA 79: Docentes por série no município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012.
Em relação ao número de escolas por série, o município possui (INEP, 2009)
140 escolas, sendo 57 pré-escolas, 74 de ensino fundamental e 9 de ensino médio
(FIGURA 80).
92
RPPN Não Me Deixes
FIGURA 80: Número de escolas por série no município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012.
O município apresentou em relação ao número de matrículas (INEP, 2009),
um total de 21.690 matrículas, sendo 2.524 na pré-escola, 14.735 no ensino fundamental
e 4.432 no ensino médio (FIGURA 81).
FIGURA 81: Matrículas por série no município de Quixadá. Fonte: IBGE 2012.
Em relação ao ensino superior o município de Quixadá possui cinco
instituições de ensino superior e uma de ensino técnico. São elas:
 Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (Unidade
acadêmica da UECE);
 Faculdade Católica Rainha do Sertão;
 Campus avançado da Universidade Federal do Ceará;
 Universidade Estadual Vale do Acaraú; e
 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
93
RPPN Não Me Deixes
Infraestrutura
De acordo como os dados do IBGE (2010), o município de Quixadá possui
aproximadamente 22.124 domicílios particulares com abastecimento de água, sendo a
maioria (15.718) ligada à rede geral de abastecimento, número que representa 71,05%
dos domicílios, como demonstrado na TABELA 18.
TABELA 3: Domicílios Particulares Permanentes Segundo as Formas de Abastecimento
de Água – 2000/2010.
Dentre estes 22.124 domicílios, a maioria (47,13%) possui sistema de
esgotamento direcionado para a rede geral ou pluvial e apenas 6% possuem fossas
sépticas (TABELA 19).
TABELA 4: Domicílios Particulares Permanentes Segundo os Tipos de Esgotamento
Sanitário - 2000/2010.
Em relação ao fornecimento de energia elétrica e coleta de lixo, dos 22.124
domicílios, 98,92% possuem fornecimento de energia elétrica e 69,87 têm o lixo coletado
regularmente (TABELA 20).
94
RPPN Não Me Deixes
TABELA 50: Domicílios Particulares Permanentes Segundo Energia Elétrica e Lixo
Coletado - 2000/2010.
3.2. Pressões
Durante os levantamentos de campo foram observadas algumas práticas que
põem em risco a integridade da RPPN por estarem ameaçando a biodiversidade local. A
seguir seguem as imagens das pressões sofridas pela RPPN Não Me Deixes e as
respectivas observações realizadas durante os levantamentos de campo na reserva.
As FIGURAS 82 e 83 comprovam que na região ainda há capturas de animais
silvestres, prática que compromete a biodiversidade local. Muitas vezes estes animais
são capturados em áreas de refúgio, onde ainda há uma vegetação conservada, e fontes
de alimentos para suprir a demanda dos animais que ali se abrigam como é o caso da
RPPN Não Me Deixes.
FIGURA
82:
Pássaro
capturado
no
FIGURA 83: Vestígio de caça no interior
entorno da Fazenda Não Me Deixes
da RPPN Não Me Deixes. Cova aberta
(comunidade da Fazenda Junco). (Foto:
para retirada de tatu, prática muito
Samuel Portela).
comum na região. (Foto: Samuel Portela).
As FIGURAS 84 e 85 comprovam a existência de animais soltos no interior da
Fazenda Não Me Deixes, fato que compromete a estabilidade da cobertura vegetal e a
95
RPPN Não Me Deixes
qualidade dos solos do local. Isto se dá devido ao pisoteio dos animais, que por sua vez,
compactam o solo impedindo o surgimento de vegetação e a pastagem realizada por eles
diminui a quantidade de novas espécies vegetais que venham a crescer na área.
FIGURA 84: Vestígio de passagem de
FIGURA 85: Animais domésticos soltos
animais domésticos no interior da RPPN
no interior da RPPN Não Me Deixes.
Não Me Deixes. Fezes pisoteadas de
(Foto: Samuel Portela).
Cavalos em trilas abertas pela passagem
dos animais. (Foto: Samuel Portela).
A FIGURA 86 apresenta o desenvolvimento de atividade agrícola,
denominada agricultura de sequeiro, realizada pelos moradores da Fazenda Não Me
Deixes. Este tipo de cultivo, na maioria das vezes utiliza o fogo para fazer a limpeza da
área que será semeada, submetendo a área da fazenda e da RPPN à possíveis
incêndios florestais.
FIGURA 86: Agricultura de sequeiro praticada pelos moradores da Fazenda Não Me
Deixes nos limites imediatos da RPPN. (Foto: Samuel Portela).
96
RPPN Não Me Deixes
4. POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE
A Fazenda Não Me Dixes está localizada em uma zona apontada como área
importante para estudos científicos do Bioma Caatinga. Um fator fundamental para
proteção da RPPN nesta propriedade se traduz pelo favorecimento da conexão entre
algumas UCs da mesma categoria que estão sendo criadas na região (FIGURA 87),
situadas a poucos quilômetros (Fazenda Magé, Fazenda Fonseca e Fazenda Califórnia).
FIGURA 87: RPPNs em processo de criação próximas à RPPN Não Me Deixes.
A conectividade com outras áreas permite o fluxo de organismos e gênico, e
assim, a manutenção de processos importantes para a comunidade, além de aumentar
tanto a defesa da área contra usos prejudiciais e a quanto à resiliência natural do
ambiente.
Alguns fatores são essenciais para que as reservas sejam áreas de grande
diversidade e representativas da fauna e flora locais, entre eles temos como principais o
tamanho e a possibilidade de conexão com áreas preservadas vizinhas, que podem ser
auxiliados pelo estabelecimento de corredores ecológicos.
Com áreas maiores é diminuído o efeito de borda que se refere a alterações
97
RPPN Não Me Deixes
maiores nas regiões de limite entre as áreas de reserva e outras nas quais são realizadas
atividades como agricultura e pecuária, por exemplo. Quanto menor a área, maior a
possibilidade dessas atividades afetarem a preservação, como fica claro pela invasão do
gado em locais nos quais não existe cerca e a propagação de incêndios depois de brocas
realizadas em terras vizinhas antes do plantio.
A conexão entre áreas através de corredores ecológicos permite o fluxo de
organismos e, portanto, gênico. Aumenta por exemplo, a dispersão de pólen e semente
pelos animais, garantindo aumento na diversidade genética vegetal. Essa ligação permite
também o fluxo de animais que assim tem um território maior aumentando as
possibilidades de refúgio e recursos alimentares.
A área da RPPN é dividida atualmente em duas partes, as quais podem ser
conectadas futuramente pela aquisição de novas áreas do entorno pela administração da
RPPN. Em relação ao entorno, sendo uma reserva, com fauna e flora protegida, a RPPN
pode funcionar como área fonte de biodiversidade, ajudando a manter os estoques de
sementes de plantas nativas, naturalmente dispersas para outras áreas de caatinga,
assim como servindo como áreas para reprodução e refúgio para a fauna silvestre.
5. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA
Diante de tudo que foi explicitado neste documento, fica clara a importância
desta Reserva na árdua tarefa de contribuir para a manutenção da diversidade e da
qualidade ambiental. O significado de uma área protegida dentro de um bioma tão
submetido a pressões e alterações antrópicas como a caatinga torna-se maior ainda. A
presença de espécies endêmicas de flora como o Pau-branco (Auxemma oncocalyx) e
ameaçadas de extinção (MMA, 2008) como a Aroeira (Myracrodruon urundeuva), e de
fauna como pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae) e o jacu-verdadeiro (Penelope
jacucaca) espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003), juntamente com as diversas
relações ecológicas existentes entre os vários organismos, alteradas quando ocorrem
perturbações ambientais, seria o bastante para dimensionar o significado desta reserva.
Entretanto, podemos agregar o valor da melhor qualidade de vida das populações
humanas que habitam nas proximidades. Além de termos, dessa maneira, recursos
preservados para as gerações futuras.
A RPPN Não Me Deixes está inserida em uma área classificada como de
prioridade extremamente alta, de acordo com o mapeamento do projeto “Avaliação e
98
RPPN Não Me Deixes
Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga – PROBIO1”
(MMA, 2006) (FIGURA 88).
FIGURA 88: Localização da RPPN Não Me Deixes no Mapeamento do projeto “Avaliação
e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga –
PROBIO” (MMA, 2006).
Como pode ser observada na FIGURA 88, a localização da RPPN Não Me
Deixes é estratégica do ponto de vista ambiental, pois além de está localizada em uma
área classificada como de prioridade extremamente alta, essa reserva se estende em
direção a outra área classificada como de prioridade extremamente alta, no município de
Itapiúna, favorecendo a conexão entre essas regiões, servindo como corredor ecológico e
facilitando o fluxo gênico, além de ajudar na regeneração de outras áreas do entorno.
Desta forma, baseado na diversidade biológica levantada nesta propriedade,
observa-se que esse ambiente possui grande relevância para manutenção do
ecossistema local, bem como refúgio para as espécies ameaçadas, já que a RPPN
Fazenda Não Me Deixes é detentora de grandes porções de mata em preservada.
1
O Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO tem por objetivo a
identificação de ações prioritárias e disseminação de informações sobre diversidade biológica brasileira.
99
RPPN Não Me Deixes
C - PLANEJAMENTO
1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO
A Reserva Particular do Patrimônio Natural, de acordo com a Lei 9.985/2000
em seu Art. 21 estabelece que é uma área privada gravada com perpetuidade que tem
por objetivo conservar a diversidade biológica na qual são permitidos a pesquisa
cientifica, a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais. Para que isso
seja possível é necessário um planejamento para atender as demandas sem agredir a
biodiversidade da área. A partir dos levantamentos bióticos e abióticos da área e seu
entorno foi possível estabelecer alguns objetivos para a RPPN Não Me Deixes.
Os objetivos específicos da RPPN Não Me Deixes são:

Proteger as paisagens naturais de notável beleza cênica, bem como os recursos
hídricos presentes na área, responsáveis pela recarga hídrica de lagoas naturais e
açudes da propriedade, bem como dos corpos hídricos da região;

Preservar as fitofisionomias de Caatinga existentes na área da RPPN Não Me Deixes,
compostas por Caatinga arbustiva e Caatinga arbórea e as espécies de flora
endêmicas e ameaçadas presente na área como o Pau-branco (Auxemma oncocalyx)
e ameaçadas de extinção (MMA, 2008) como a Aroeira (Myracrodruon urundeuva);

Proteger espécies da fauna, principalmente as espécies raras e/ou ameaçadas de
extinção presentes na RPPN como pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae), o
jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca), os felinos Gato-do-mato (Leopardus tigrinus) e
Onça parda (Puma concolor), espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003);

Proporcionar a pesquisa científica no intuito de ampliar o conhecimento sobre os
recursos naturais da RPPN e região.
2. ZONEAMENTO
O zoneamento é o ordenamento territorial da unidade de conservação e
estabelece usos diferenciados para cada área, de acordo com as características físicas,
geológicas e estruturais, bem como suas potencialidades e especificidades, como
atrativos culturais, belezas cênicas. Então, para o gestor, o principal objetivo do
zoneamento ambiental é servir como um guia da UC, ou seja, um instrumento que
100
RPPN Não Me Deixes
permite integrar o uso limitado da RPPN com a conservação e manutenção da
integridade da reserva em longo prazo.
Para o desenvolvimento do zoneamento da RPPN Não Me Deixes foram
delimitadas áreas com finalidades específicas de uso e ocupação com o propósito de
aumentar o grau de proteção da UC, através da determinação de normas de uso nas
áreas internas e circunvizinhas. Então, seguem as categorias destacadas e apresentadas
no Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para RPPNs (MMA, 2004).
2.1. Zona Silvestre
Área considerada de extrema importância. Apresenta poucos indícios de
alterações e possui alto grau de conservação, que se destina à preservação da
biodiversidade local, monitoramento e pesquisas científicas, além de servir como banco
natural de sementes para processos naturais de sucessão secundária na zona de
regeneração. Está presente nas porções centrais das duas áreas que compõem a RPPN
e corresponde a aproximadamente 1/3 (um terço) da área da RPPN, ou seja, 92,40ha.
Nestas áreas foram observados o maior número de espécies de fauna e os mais bem
conservados fragmentos de vegetação, possibilitando melhores condições de abrigo para
os animais. Estes critérios permitiram a indicação destas áreas para serem delimitadas
como Zona de Silvestre.
Não será permitido na Zona Silvestre:

Poluição sonora;

Presença de animais domésticos;

Visitas de pessoas não autorizadas;

Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de quaisquer
outros produtos naturais sem a devida autorização do órgão ambiental
competente ou do proprietário;

Soltura de animais e plantio de espécies exóticas;

Invasões ou instalação de assentamentos.
2.2. Zona de Proteção
Áreas com poucas intervenções antrópicas, destinadas à pesquisa,
monitoramento da biodiversidade, proteção dos recursos naturais, bem como
101
RPPN Não Me Deixes
contribuírem para dispersão das espécies em áreas que se encontram em estádio de
regeneração. É composta pelas áreas que circundam e protegem a Zona Silvestre, está
presente nas duas áreas que compõem a RPPN e corresponde a aproximadamente 2/3
(dois terços) da área da RPPN, ou seja, 196,10ha.
Não será permitido na Zona de Proteção:

Quaisquer atividades ou intervenções antrópicas que comprometam a
preservação ambiental, processos naturais e a evolução do ecossistema;

Visitação, com exceção de pesquisadores com permissão do gestor da
unidade e do órgão ambiental competente;

Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de produtos
naturais sem a devida autorização do órgão ambiental competente ou do
proprietário;

Soltura de animais e plantio de espécies exóticas;

Invasões ou instalação de assentamentos.
Por esses motivos, tal área necessita de uma fiscalização intensa a fim de
coibir as pressões antrópicas.
2.3. Zona de Transição
Consiste em uma faixa de 10m ao longo do perímetro da reserva, ocupando
uma área de 11,40ha. Representa a área responsável por promover o amortecimento de
intervenções antrópicas e contribuir com a integridade da RPPN.
Não será permitido na Zona de Transição:

Qualquer tipo de visitação sem o acompanhamento do gestor ou monitor
da RPPN;

Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de produtos
naturais sem a devida autorização dos órgãos ambientais competentes;

Pesquisas sem autorização do órgão ambiental competente e do
proprietário;

Soltura de animais e plantio de espécies exóticas;

Invasões ou instalação de assentamentos;

Remoção da cobertura vegetal para plantio de culturas de subsistência.
102
RPPN Não Me Deixes
103
RPPN Não Me Deixes
3. PROGRAMAS DE MANEJO
Os Programas de Manejo têm como objetivos gerar diretrizes e agrupar
atividades para uma adequada gestão da RPPN. A estrutura do Plano de Manejo em
programas permite que as atividades sejam descritas em grupos temáticos, facilitando a
gestão e o manejo da RPPN.
Os programas descritos são os de Administração, Proteção e Fiscalização,
Pesquisa e Monitoramento e Sustentabilidade Econômica.
Cada programa constará da seguinte estrutura:

Objetivos e Resultados Esperados: são as situações positivas e desejadas;

Atividades, Subatividades e Normas: são as ações a serem desenvolvidas e
acompanhadas de normas específicas;
Para a distinção das atividades e normas em cada programa e subprograma,
deve-se considerar a legenda de marcadores abaixo:
1. Atividade
1.1 Sub-atividade
 Norma
Normas Gerais da RPPN Não Me Deixes
 Os projetos específicos de pesquisa e monitoramento deverão ser elaborados e
desenvolvidos, preferencialmente, sob orientação de profissionais especializados;
 São proibidas a caça e coleta de espécimes da fauna e da flora, ressalvadas aquelas
com
finalidades
científicas,
desde
que
autorizadas
pelos
proprietários
e,
obrigatoriamente, pelo ICMBio;
 Atividades que apresentem indícios de danos à RPPN deverão ser suspensas para
avaliação, bem como para elaboração e adesão de procedimentos corretivos;
 São proibidos o ingresso e a permanência na RPPN, de pessoas portando armas,
materiais ou instrumentos destinados ao corte, caça ou quaisquer outras atividades
prejudiciais à fauna, flora ou recursos naturais;
 É proibida a entrada de animais domésticos na RPPN.
 Sugere-se o controle ou a erradicação de animais domésticos (gatos e cachorros
predadores de animais nativos) no interior da RPPN utilizando métodos legais e
apropriados.
104
RPPN Não Me Deixes
3.1. Programa de Administração
OBJETIVO
O principal objetivo deste programa é organizar e facilitar o processo de
gestão e gerenciamento adequado da RPPN.
Nota:
Tendo em vista os principais objetivos da RPPN Não Me Deixes - pesquisa e
monitoramento para a conservação da biodiversidade - a sua gestão apropriada
demandará, minimamente, um funcionário (que pode ser o próprio proprietário ou o
gerente da Fazenda Não Me Deixes) e um ponto de apoio específico, que poderá ser na
própria sede da Fazenda Não Me Deixes. A gestão da RPPN estará sob a
responsabilidade desse funcionário, que deve atuar de acordo com o disposto nesse
plano de manejo.
RESULTADOS ESPERADOS

Pessoas que trabalham na RPPN capacitadas;

Rotinas de serviço estabelecidas;

Orçamentos anuais elaborados;

Sinalização implantada.
ATIVIDADES E NORMAS
GESTÂO
1. Designar pessoa responsável pela gestão da RPPN
 O gestor da reserva deverá ser capacitado e munido de conhecimentos suficientes
sobre a área e os procedimentos legais de gestão.
2. Designar responsável (is) pela execução das atividades relacionadas à proteção,
fiscalização e manejo de recursos da RPPN
 Este (s) responsável (is) deverá (ão) desempenhar as atividades listadas nos
respectivos Programas de Manejo, além de suprir de mão-de-obra todas as demandas
cotidianas da RPPN;
105
RPPN Não Me Deixes
 Este (s) responsável (is) deverá (ão) agendar as expedições de campo de pesquisas,
controlar o fluxo de pessoas no interior da RPPN e desenvolver e manter sistema de
armazenamento de informações, ou seja, o acervo da RPPN, que será composto por:

Documentação relativa à UC, como portaria do IBAMA, ADA, CCIR, ITR,
eventuais laudos e pareceres técnicos, etc.;

Projetos e respectivas autorizações de pesquisas, relatórios, publicações
científicas, materiais audiovisuais, etc.;

Convênios, acordos de cooperação técnica, termos de parcerias e outros
instrumentos formais de cooperação técnica e científica;

Manter infraestrutura de apoio a pesquisas e monitoramento, como alojamento
para pesquisadores, trilhas, etc.
 Em caso de contratações, estas deverão ser realizadas conforme a legislação
trabalhista.
3. Capacitar os funcionários que trabalham na Fazenda Não Me Deixes e RPPN no
desenvolvimento das atividades
 Os funcionários deverão ser capacitados em temas relacionados à função de guardaparque;
 Unir-se com os demais proprietários de RPPNs e chefes de UCs do município e
adjacências, visando à realização dos cursos de forma conjunta, constituindo uma boa
estratégia para a redução os custos e para o compartilhando experiências.
4. Aderir a rotinas e escalas de serviço
 Para a proteção e fiscalização deverão ser consideradas as demandas de serviço em
diferentes épocas sujeitas aos seguintes fatores: a) riscos de incêndios, b) períodos mais
propícios para apanha de animais e caça, c) rondas e segurança intensificada, d)
acompanhamento de técnicos, pesquisadores no desenvolvimento de pesquisas, dentre
outros;
 Para o funcionamento do sistema de proteção, fiscalização e manejo de recursos,
deverão ser adquiridos equipamentos e materiais específicos para este fim. A relação de
equipamentos pode ser consultada no item 22 deste programa.
5. Elaborar o orçamento prevendo todas as despesas para atender a estrutura e
demandas da RPPN
 O orçamento deverá ser elaborado anualmente.
106
RPPN Não Me Deixes
6. Estabelecer parcerias com a Prefeitura Municipal de Quixadá e Prefeituras dos
municípios vizinhos
 O gestor da RPPN deverá se articular para participar de conselhos e outros grupos,
caso existam.
7. Estabelecer parcerias para o desenvolvimento das atividades da RPPN
 Deverão ser estabelecidas parcerias com os vizinhos, RPPNs da região, ONGs,
instituições
de
pesquisa,
Prefeituras
Municipais,
Instituições
Governamentais
Ambientalistas, dentre outras, objetivando fortalecer a RPPN, além de obter apoio técnico
e troca de experiências, o que poderá reduzir custos.
8. Integrar a RPPN às Redes de Reservas Particulares
 A RPPN Não Me Deixes se manterá incorporada à Associação de Proprietários de
RPPNs do Estado do Ceará - Asa Branca – e à Confederação Nacional de RPPNs CNRPPN.
PESQUISA
9. Monitorar as pesquisas científicas realizadas na RPPN
 A realização de pesquisa deverá ter autorização dos proprietários e do ICMBio,
conforme legislação vigente;
 As coletas de material biológico deverão ser autorizadas pelo proprietário e pelo órgão
ambiental competente;
 Os procedimentos deverão levar em conta o mínimo impacto ao ambiente e sua
dinâmica, respeitando sempre as restrições estabelecidas pelo zoneamento da RPPN;
 As pesquisas deverão ser coordenadas por profissionais especializados nas
respectivas áreas de abordagem;
10. Estabelecer parceria com instituições de pesquisa
 Alunos de graduação e pós-graduação, bem como pesquisadores em geral, poderão
realizar suas pesquisas na RPPN. As universidades podem ser parceiras, colaborando
com informações científicas.
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RPPN Não Me Deixes
INFRAESTRUTURA
11. Implantar infraestrutura para atender as demandas da RPPN
 Deverão ser consideradas as APPs, respeitando os limites estabelecidos na legislação
ambiental vigente;
 A infraestrutura deverá ser implantada mediante projeto específico;
 Os projetos deverão prever todos os impactos possíveis, principalmente erosões e
contaminação das águas subterrâneas e superficiais;
 As infraestruturas serão instaladas privilegiando o sombreamento natural, as curvas de
nível e, de preferência, utilizando materiais e a mão-de-obra local;
 Todo o conjunto seguirá um padrão estético e harmônico com o ambiente circundante,
considerando as características histórico-culturais da região;
 Deverá ser prevista a disposição adequada de resíduos de construção e outros
resíduos;
 Deverá ser promovida a manutenção regular de toda a infraestrutura e equipamentos.
12. Implantar e manter a cerca nos limites da RPPN
 Deverão ser utilizados cinco fios de arame farpado, sendo o último fio composto de
arame liso, à aproximadamente 50 cm do chão, facilitando o fluxo de animais silvestres.
13. Implantar a sinalização na área de acesso
 A sinalização deverá ser de dois tipos: indicativa e informativa. A indicativa deverá
orientar a população sobre a existência de uma reserva no local. A informativa tem a
função de ilustrar (mapas e fotos) e informar/interpretar, por meio de painéis, por
exemplo, os dados da RPPN e da região, tais como dados da flora e fauna, bem como
histórico/culturais;
 Para os dois casos, deverão ser priorizados materiais rústicos e harmônicos ao meio
ambiente.
14. Implantar marcos nos limites da RPPN com a área remanescente da
propriedade
 Todos os vértices mapeados no memorial descritivo da RPPN, correspondentes aos
limites da reserva com a área remanescente da Fazenda Não Me Deixes, devem ser
materializados por meio de marcos de concreto.
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RPPN Não Me Deixes
EQUIPAMENTOS
15. Adquirir, utilizar e manter equipamentos e materiais permanentes para a RPPN
 Os materiais de segurança e apoio ao combate a incêndios serão de boa qualidade e
armazenados em depósito específico;
 Deverá ser organizado e mantido um inventário atualizado de todo o patrimônio, bem
como uma rotina de manutenção;
 Todos os produtos que vierem acompanhados de manual deverão ter suas indicações
de usos praticados obrigatoriamente pelos usuários, visando sua otimização e
durabilidade.
16. Adquirir equipamentos e materiais permanentes de apoio às atividades de
primeiros socorros, proteção e fiscalização, tais como:
a. Proteção e fiscalização - calças e jaquetas resistentes, camisas identificando
as pessoas da RPPN, botas, chapéus, luvas de couro, cantis, lanternas,
canivetes, facões, radio comunicadores e kit primeiros socorros.
b. Combate a incêndios florestais - equipamentos individuais (EPIs), abafadores,
enxadas, facões, bombas costais, dentre outros.
 É obrigatória a adoção de uniformes e equipamentos de segurança específicos para
as atividades de proteção e fiscalização, garantindo o conforto e segurança dos
funcionários;
 Para evitar acidentes é necessário o uso de botas de couro ou borracha e luvas de
couro, principalmente quando o funcionário estiver manuseando diretamente com
entulhos ou materiais estocados. Essas providências reduziriam sensivelmente a
quantidade de acidentes, principalmente com animais peçonhentos;
 A validade dos medicamentos que compõem o kit de primeiros socorros deverá ser
constantemente revisada.
3.2. Programa de Proteção e Fiscalização
OBJETIVO
O Programa visa garantir a proteção dos ecossistemas e a manutenção da
biodiversidade.
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RPPN Não Me Deixes
RESULTADOS ESPERADOS
 Rondas periódicas de fiscalização implantadas;
 Sistema de Prevenção e combate a incêndios implantados;
 Trilhas rústicas para a fiscalização abertas.
ATIVIDADES E NORMAS
1. Realizar rondas periódicas de fiscalização
1.1 Realizadas rondas periódicas de combate à caça e à coleta ilegal de plantas nas
trilhas desativadas e limites da propriedade;
 Durante as rondas, os responsáveis não deverão abordar os infratores, caso os
encontrem, e sim passar as informações para O ICMBio e a SEMACE, bem como para
a polícia.
 O (s) responsável (is) pela realização das rondas deverá (ão) ser capacitado (s) para o
desempenho das atividades.
2. Implementar o sistema de combate a incêndios
2.1 Firmar parceria com a brigada de incêndio que atende na região para combater
eventuais focos de incêndio, através do órgão ambiental competente;
2.2 Estabelecer contato com os proprietários vizinhos à RPPN, visando alertá-los do risco
do uso do fogo e do risco de incêndios na Reserva;
2.3 Denunciar queimadas não autorizadas no entorno da reserva à SEMACE e ao
Sistema
Nacional
de
Prevenção
e
Combate
aos
Incêndios
Florestais
(PREVFOGO/IBAMA);
 O funcionário responsável pela RPPN deverá ser capacitado para atuar no combate a
eventuais focos de incêndio, com o apoio do PREVFOGO/IBAMA;
 Deverão ser utilizados aceiros como medida de contenção em caso de incêndios;
3. Estabelecer parceria com o ICMBio e SEMACE
 O ICMBio e a SEMACE deverão ser informados sobre todas as ameaças à RPPN e
deverão ser solicitadas, sempre que necessárias, ações de fiscalização no seu entorno;
 A RPPN poderá integrar-se aos programas de governo desenvolvidos na região.
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RPPN Não Me Deixes
3.3. Programa de Pesquisa e Monitoramento
OBJETIVO
Conhecer melhor e de forma progressiva os recursos naturais e culturais da
RPPN e seu entorno, bem como desenvolver tecnologias para a utilização racional dos
recursos naturais e sua conservação ambiental, registrando e avaliando os resultados de
quaisquer fenômenos e alterações naturais ou induzidas na UC e seu entorno, que
permitam melhorias constantes e progressivas para um melhor manejo e proteção da
área.
RESULTADOS ESPERADOS
 Sistema de monitoramento de pesquisas implantado;
 Sistema de Informações Geográficas – SIG da RPPN implantado.
ATIVIDADES E NORMAS
1. Incentivar a realização de pesquisas científicas
 A realização de pesquisas científicas por parte de instituições acadêmicas e
conservacionistas de interesse da RPPN deverá ser incentivada;
 A elaboração de um Sistema de Informação Geográfica – SIG, composto por todos os
dados levantados durante os estudos para a elaboração do plano de manejo, bem como
informações geradas em pesquisas futuras, deverá ser formulado.
2. Criar um banco de dados e monitorar as pesquisas científicas realizadas na
RPPN
 Todos os estudos serão precedidos de um projeto de pesquisa e de um termo de
compromisso, disciplinando a conduta, o uso das instalações e manuseio adequado dos
equipamentos da propriedade e firmando a obrigatoriedade de entrega dos resultados
finais;
 Cópias de todas as pesquisas realizadas deverão ser arquivadas, incrementando o
acervo da RPPN, bem como cadastradas num banco de dados;
 Os proprietários, bem como os responsáveis por gerir a RPPN, deverão fornecer aos
pesquisadores dados de pesquisas já disponíveis sobre a área, otimizando as
oportunidades de aprofundamento das informações geradas anteriormente.
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RPPN Não Me Deixes
3.4. Programa de Sustentabilidade Econômica
OBJETIVO
O Programa de Sustentabilidade Econômica tem como objetivo apresentar
diretrizes gerais para a avaliação das atividades econômicas a serem desenvolvidas para
a aplicação de investimentos na RPPN.
RESULTADOS ESPERADOS

Acesso a recursos garantidos;

Plano de Manejo implementado;

Sustentabilidade da RPPN assegurada.
ATIVIDADES E NORMAS
1. Acessar recursos de editais de apoio à conservação em terras privadas
1.1.
Consultar periodicamente sites de instituições públicas e privadas que apoiam
financeiramente projetos voltados para a conservação ambiental;
1.2.
Submeter projetos voltados para melhoria da gestão da RPPN, incremento de
infraestrutura, pesquisa científica, entre outros, à fundos de apoio a projetos de
caráter ambiental;
1.3.
Buscar parcerias com empresas locais, a fim de alavancar recursos para a
implementação de ações prevista no plano de Manejo da RPPN.
 A busca por recursos para a implementação das ações previstas para a RPPN deverá
ser realizada constantemente, para que se possa garantir a sustentabilidade da UC.
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RPPN Não Me Deixes
D – INFORMAÇÕES FINAIS
1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Minerais do Ceará. Fortaleza, 2003. Superintendência Regional de Fortaleza. CD-ROM.
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Diretrizes. Fortaleza: SEMACE, 1992.
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Hórus na Internet, Prática, Trabalhos em andamento. Disponível em:
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2000.
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Ambiente, Brasília.404p.
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Manejo para RPPN. 2004.
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