Análise do Nível de Desenvolvimento Socioeconômico da Região Norte de Minas Gerais Antes e Após a Implantação dos Perímetros Públicos de Irrigação Autoria: Paulo Ricardo da Costa Reis Resumo Constituindo-se numa proposta de promoção do desenvolvimento regional, a Política Nacional de Irrigação, por meio da agricultura irrigada, em especial pela construção de projetos públicos de irrigação, requer uma cuidadosa análise e monitoramento. O presente artigo teve como objetivo analisar os impactos da Política Nacional de Irrigação sobre o desenvolvimento socioeconômico dos municípios que compõem a região Note do estado de Minas Gerais, mais especificamente, dos municípios de Janaúba, Manga, Pirapora e Porteirinha. Além disso, procurou-se evidenciar as diferenças das condições socioeconômicas da população destes municípios mediante um conjunto de 17 variáveis, bem como hierarquizá-las segundo os fatores construídos. Como referencial teórico abordou-se as diretrizes e objetivos da Política Nacional de Irrigação, como um instrumento capaz de promover o desenvolvimento regional e avaliação de política e programa públicos. Buscando atingir o objetivo proposto utilizou-se dezessete variáveis socioeconômicas referentes ao ano de 1970 (antes da implantação dos projetos de irrigação) e 2000 (após a implantação) para os quarenta e quatro municípios da região Norte do estado de Minas Gerais. As variáveis foram selecionadas junto ao Ipeadata, banco de dados organizado pelo Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada. O estudo teve como modelo analítico a abordagem multivariada de dados. A análise fatorial foi utilizada para a redução das variáveis em fatores relacionados ao desenvolvimento das regiões, e empregou-se os escores fatoriais para indicar a posição relativa dos municípios em função do seu nível de desenvolvimento. Como resultados da pesquisa, identificou-se a formação de quatro fatores, a partir dos quais hierarquizou-se e analisou-se os municípios, antes da implantação dos projetos públicos de irrigação. Adicionalmente, identificou-se a formação de outros quatro fatores, a partir dos quais hierarquizou-se e analisou-se os municípios, após da implantação dos perímetros públicos de irrigação. A partir dos resultados, percebe-se, assim como apresentado no referencial teórico, que ocorreram mudanças expressivas nas condições socioeconômicas dos municípios do Norte de Minas Gerais. Verificou-se que a intensidade dos impactos diretos e indiretos dos projetos públicos de irrigação se manifestou de formas diferentes em relação aos fatores de desenvolvimento socioeconômico. Não obstante, deve ressaltar que torna se complexo definir quais impactos são oriundos da Política Nacional de Irrigação e especificar quais políticas contribuíram para o desenvolvimento regional. 1 1 Introdução A implementação do programa de irrigação pública no Brasil tinha como objetivo estimular o desenvolvimento da economia regional, a geração de empregos, o combate ao êxodo rural e migração e a diminuição da pobreza. Para orientar a execução do programa de irrigação pública brasileiro, o governo Federal por meio do Decreto-Lei nº 6.662 de 25 de junho de 1979, estabeleceu a Política Nacional de Irrigação e criou o Plano Nacional de Irrigação (PRONI, 1986), que além de apresentar as prioridades do poder público federal para a irrigação compatibilizadas com as prioridades regionais e das unidades federadas, também apresentava um caráter indicativo para elaboração dos planos e projetos de irrigação estaduais e municipais. As premissas básicas do PRONI eram aumentar a oferta de alimentos básicos, elevar os níveis da produção agrícola, reduzir o preço dos alimentos e auxiliar no controle da inflação, gerando um desenvolvimento equilibrado da economia, privilegiando as classes menos favorecidas (PRONI, 1986). No estado de Minas Gerais foi estabelecido o Plano Mineiro de Irrigação e Drenagem (PMID) que tinha como objetivo contribuir para o crescimento econômico-social do estado, por meio da criação de empregos, distribuição de renda, aumento da produção agrícola, melhoria do abastecimento interno e a formação de excedentes exportáveis (PMID, 1986). A construção de Projetos Públicos de Irrigação foi uma das principais ações da Política Nacional de Irrigação. Os projetos públicos de irrigação apresentam três fases até a sua plena operacionalização. Na primeira fase o projeto está em estudo, isto é, quando os aspectos técnicos de viabilidade e implantação ainda estão em análise e detalhamento. Na segunda fase, tem se a implantação, o que corresponde ao início das obras de construção da infraestrutura para o funcionamento do projeto. Na terceira e última fase, o projeto entra no estágio de produção e recebe o nome de perímetro irrigado. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba - CODEVASF (2010), existem vinte e três perímetros irrigados no Brasil em produção, seis projetos em fase de implantação e outros três em fase de estudo (Quadro 1). Em estudo Em implantação Em produção Canal do Sertão Pernambucano (BA/PE); Canal de Xingó (SE) e Jequitaí (MG) Jaíba I, II, III e IV (MG); Baixio de Irecê (BA); Marituba (AL); Jacaré-Curituba (SE); Salitre (BA) e Pontal (PE) Barreiras Norte (BA);Bebedouro (PE); Betume (SE); Boacica (AL); Ceraíma (BA); Cotiguiba/Pindoba (SE); Curaçá (BA); Estreito (BA); Piloto Formoso (BA); Formoso"A"e "H"(BA); Gorutuba (MG); Itiúba (AL); Jaíba (MG); Lagoa Grande (MG); Mandacaru (BA); Maniçoba (BA); Mirorós (BA); Nupeba/Riacho Grande (BA); Pirapora (MG); Propriá (SE); São Desidério/Barreiras Sul (BA); Senador Nilo Coelho (PE) e Tourão (BA) Fonte: Elaborado pelos autores a partir de informações da CODEVASF (2010). Quadro 1 - Situação atual dos projetos públicos de irrigação O Norte de Minas Gerais destaca-se pela concentração de projetos de públicos de irrigação, abrigando quatro (Gorutuba, Jaíba, Lagoa Grande e Pirapora) dos vinte e três perímetros irrigados no país. Além de um projeto em fase de estudo, o Projeto Jequitaí. A região Norte do estado de Minas Gerais está inserida na região do semiárido brasileiro, que caracteriza-se por uma ocupação inexpressiva e de baixa produtividade, decorrente de sua base técnica atrasada, somada a problemas climáticos, o que corrobora para a intensificação de movimentos migratórios em direção a regiões mais desenvolvidas. Diante deste cenário, é notória a importância dos investimentos realizados pelo poder público na região. No entanto, ainda é incipiente o número de estudos de avaliação de impacto dos projetos públicos de irrigação. Destaca-se, também, que foram e continuam sendo 2 aplicadas grandes somas de recursos nos projetos. Conforme levantamento da Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica (2005), os três principais perímetros públicos irrigados de Minas Gerais - Projeto Gorutuba, Projeto Jaíba e Projeto Pirapora, consumiram um montante de capital de superior a 1,5 bilhões reais. Como não existe, ainda, um consenso sobre os resultados da Política Nacional de Irrigação capaz de direcionar as ações do poder público e prestar contas a sociedade sobre os recursos aplicados nos projetos públicos de irrigação, muito se tem questionado sobre a necessidade de analisar o desenvolvimento socioeconômico das regiões e municípios beneficiados com a implantação dos projetos públicos de irrigação. Nessa direção, o presente trabalho se propõe avaliar os impactos socioeconômicos dos projetos públicos de Gorutuba, Jaíba, Lagoa Grande e Pirapora, implantados nos municípios de Porteirinha, Manga, Janaúba e Pirapora, respectivamente, procurando evidenciar os níveis de desenvolvimento alcançados, por estes municípios e pela região Norte do estado de Minas Gerais, mediante um conjunto de indicadores. A estrutura do artigo foi organizada em sete seções. Além desta, introdutória, tem-se a seção 2 que apresenta e contextualiza os quatro perímetros irrigados em produção na região Norte de Minas Gerais. A terceira contempla o referencial teórico sobre a Política Nacional de Irrigação e a avaliação de políticas e programas públicos. Na quarta, são apresentadas as variáveis e procedimentos metodológicos adotados, na quinta são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa e, na sexta seção, apresentam-se as considerações finais. 2 Perímetros Irrigados no Norte de Minas Dentre os vinte e três perímetros irrigados em operação no país, quatro estão localizados no Norte de Minas Gerais. Os quatro perímetros irrigados implantados na região apresentam características diferentes entre si. A Tabela 1 apresenta as principais características de cada um dos perímetros irrigados implantados na região, a partir de 1970. Tabela 1 - Principais perímetros públicos irrigados localizados no Norte de MG Gorutuba Jaíba Início do Funcionamento 1978 1975 Área Irrigável (ha) 5.286 44021 Produção Área Familiar - 2008 (R$) 9.903.528,00 53.504.973,00 Produção Área Empresarial - 2008 (R$) 13.071.534,00 54.070.898,00 Valor Total da Produção - 2008 (R$) 22.975.062,00 107.575.871,00 Custo da Implantação (R$) 412.685.438,46 1.060.466.841,14 Fonte: Secretaria de Infraestrutura Hídrica (2005) e Codevasf (2010). Lagoa Grande 1988 1.538 7.135.430,00 7.135.430,00 Sem informação Pirapora 1979 1.236 28.398.802,00 28.398.802,00 53.383.795,33 O primeiro projeto público de irrigação implantado na região foi o Projeto Jaíba, maior projeto de irrigação da América Latina e segundo maior do planeta. O Perímetro Irrigado do Jaíba foi implantado no município de Mangai, em 1975 e teve um custo de implantação superior a 1 bilhão de reais. A concepção do Projeto Jaíba teve início na década de 1960, através de estudos de viabilidade para agricultura irrigada na região. Na década de 1970, a RURALMINAS elaborou o primeiro plano de trabalho para o Jaíba, que previa a implantação do projeto de irrigação de Mocambinho. Posteriormente o governo de Minas Gerais elaborou um plano integrado de infra-estrutura (energia elétrica, estradas e núcleos de colonização). Aprovado pela União, o “Plano Integrado de Desenvolvimento da Região Nordeste de Minas Gerais” teve financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O objetivo do plano era a ocupação do vazio econômico e demográfico representado pela região, com cerca de 110.000 km², ampliando, por conseguinte, a fronteira agrícola. A partir de 1975, o projeto de irrigação do Jaíba passou a ter participação do Governo Federal, através da CODEVASF, com o propósito de irrigar uma área de 100.000 ha, 3 tornando-se o maior projeto de irrigação da América Latina. Atualmente estão em operação as etapas I e II do Projeto (JAÍBA I e II), com uma área ocupada de 44.782 ha (9.120 ha – lotes familiares; 35.382 ha – lotes empresariais), sendo 44.021 ha irrigáveis. De acordo com a Codevasf (2010), em 2008, o Projeto Jaíba apresentou uma produção no valor de 107.575.871 reais, sendo a agricultura familiar responsável por aproximadamente 50% do valor da produção total. A fruticultura irrigada é a principal cultura do projeto, representando 36% de toda a área plantada no ano de 2005, e desta as principais foram: banana 44,4%, manga 23% e limão 19%. Entre as culturas temporárias destacam-se milho, feijão, melancia, cebola e a produção de sementes. O segundo Perímetro Irrigado implantado na região foi o Gorutuba, que entrou em funcionamento em 1978 no município de Porteirinhaii, às margens do Rio Gorutuba. A condução e implantação da infra-estrutura do projeto foram assumidas pela CODEVASF. O Perímetro Irrigado do Gorutuba abrange uma área de 7.172 ha, dos quais 5.286 ha irrigáveis, divididos em duas áreas: uma empresarial (52 lotes); e outra de pequenos produtores (391 lotes). O perímetro destaca-se na agricultura familiar, visto que são 426 famílias trabalhando em áreas médias de 5 a 10 ha, produzindo, principalmente, banana, manga, acerola, citros, goiaba, uva, milho, maracujá, arroz, feijão, hortaliças e sementes. O volume de produção do perímetro, em 2008, gerou uma receita bruta de 22.975.062 reais, na qual os pequenos produtores tiveram uma participação de 43,1% contra 56,9% dos empresários (CODEVASF, 2010). Os outros dois perímetros irrigados da região possuem menor porte, possuindo lotes empresariais. O Projeto Pirapora, terceiro perímetro irrigado implantado na região, localiza-se no município de Pirapora na margem direita do rio São Francisco. A construção do Perímetro Irrigado Pirapora teve início em 1975 pela Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE), como a primeira experiência de agricultura irrigada no norte de Minas Gerais. Já em 1976 a CODEVASF assumiu a implantação do perímetro, inaugurado em 24 de novembro de 1978. De acordo com a CODEVASF (2010), o volume de produção do perímetro, em 2008, gerou uma receita bruta de 28.398.802 reais. Ressalta-se que, embora seja o menor projeto em extensão, o Perímetro Irrigado Pirapora apresentou o segundo maior valor de produção no ano de 2008. A fruticultura é a principal atividade do perímetro, com destaque para banana, citros e uva. A área cultivada com essas culturas, em 2008 foi 39%, 30% e 22%, respectivamente. As culturas temporárias ocuparam uma área inexpressiva - 0,4%. O último projeto implantado na região foi Perímetro Irrigado de Lagoa Grande localizado no município de Janaúba, na margem esquerda do Rio Gorutuba, próximo ao Perímetro Irrigado do Gorutuba, localizado na margem esquerda do mesmo rio. Conforme a CODEVASF (2010), em 2008, o Perímetro Irrigado de Lagoa Grande registrou uma produção no valor 7.135.430 reais, menor valor de produção dentre os perímetros irrigados da região. A fruticultura foi a principal atividade do projeto, com destaque para banana, presente em mais de 80% da área cultivada do perímetro, seguida dos cultivos de manga, limão e caju. As culturas temporárias ocuparam uma área pequena, menor que 1%. 3 Referencial Teórico 3.1 Política Nacional de Irrigação A prática de irrigação é capaz de promover importantes mudanças socioeconômicas, como a criação de empregos diretos, aumento da renda per capita, crescimento da demanda de bens e serviços, aumento do comércio e indústria e, por conseguinte, do nível de emprego 4 nestes setores, além da diminuição do êxodo rural e da melhoria nas condições de saúde, educação, habitação e lazer (BERNARDO, SOARES e MANTOVANI, 2005). Em contrapartida aos benefícios apresentados, a irrigação é uma atividade que também provoca impactos ambientais, tais como: modificação do meio ambiente, com consumo exagerado da disponibilidade hídrica da região, devido a um manejo inadequado; contaminação dos recursos hídricos; e salinização do solo nas regiões áridas e semiáridas, entre outros. A agricultura irrigada, atualmente, é a maior consumidora de água no país e no planeta. Estima-se que a atividade de irrigação consuma, anualmente, quase 63% do volume de recursos hídricos captados no Brasil; em dimensão mundial, estima-se aproximadamente 70% do volume total (RODRIGUES et al., 2004, citado por RODRIGUES et al., 2007). Em razão da potencialidade da agricultura irrigada e das características socioeconômicas e climáticas do vale do São Francisco e Parnaíba, o poder público, durante as décadas de 1950 a 1980, deu início a implementação da Política Nacional de Irrigação, realizando investimentos na infraestrutura econômica da região. A Política Nacional de Irrigação foi instituída pela Lei nº 6.662, de 25 de junho de 1979iii, e tinha como objetivo o aproveitamento racional de recursos de água e solos para a implantação e desenvolvimento da agricultura irrigada, obedecendo aos seguintes postulados básicos: (i) preeminência da função social e utilidade pública do uso da água e solos irrigáveis; (ii) estímulo e maior segurança às atividades agropecuárias, prioritariamente nas regiões sujeitas a condições climáticas adversas; (iii) promoção de condições que possam elevar a produção e a produtividade agrícolas; e (iv) atuação principal ou supletiva do Poder Público na elaboração, financiamento, execução, operação, fiscalização e acompanhamento de projetos de irrigação. Embora a Lei que instituiu a Política Nacional de Irrigação tenha sido aprovada em 1979, apenas em 1986 estabeleceu-se o Programa Nacional de Irrigação (PRONI), apresentando metas e objetivos para a política de irrigação. As premissas básicas do programa eram aumentar a oferta de alimentos básicos, elevar os níveis da produção agrícola, reduzir o preço dos alimentos e auxiliar no controle da inflação, gerando um desenvolvimento equilibrado da economia, privilegiando as classes menos favorecidas (PRONI, 1986). Além do PRONI as demais unidades da federação, também, poderiam elaborar seus respectivos programas de irrigação. O estado de Minas Gerais estabeleceu o Plano Mineiro de Irrigação e Drenagem (PMID) que tinha como objetivo contribuir para o crescimento econômico-social do estado, promovendo a geração de empregos, distribuição de renda, aumento da produção agrícola, melhoria do abastecimento interno e a formação de excedentes exportáveis (PMID, 1986). 3.2 Avaliação de Políticas e Programas Públicos A avaliação na administração pública significa determinar o mérito e a prioridade de um projeto de investimento ou de um projeto social, geralmente financiado com recursos públicos e direcionado para resolver um determinado problema econômico ou social (HOLANDA, 2003). O processo de avaliação de políticas públicas está associado a quatro conceitos básicos: eficiência, eficácia, efetividade e accountability, que atualmente são bastante discutidos tanto no setor público, quanto no acadêmico (ARRETCHE, 1998; COHEN e FRANCO, 2007; MATHIAS PEREIRA, 2007). O conceito de eficiência apresenta um caráter econômico e pode ser considerado a partir de duas perspectivas complementares. A primeira procura minimizar os custos e/ou meios requeridos para a geração dos resultados que são predeterminados; e a segunda procura aperfeiçoar a combinação de insumos para maximizar o resultado com o gasto total previamente fixado (ARRETCHE, 1998). Uma política ou programa é eficiente quando otimiza a relação custo/produto. Esse princípio de redução de custos da administração pública 5 se deve aos requisitos de natureza ética e à necessidade de gerir corretamente os recursos públicos, na busca de maximizar os resultados na aplicação dos mesmos e, dessa forma, eliminar os desperdícios (MATIAS-PEREIRA, 2007). A eficácia, por sua vez, é o grau em que se alcançam os objetivos e metas do programa na população beneficiada, em um determinado período de tempo, independentemente dos custos incorridos. O foco da análise de eficácia são suas metas e o tempo (ARRETCHE, 1998). Nesse sentido, o que importa nesses esforços é conseguir atingir os efeitos desejados (MATIAS-PEREIRA, 2007). A razão essencial de um programa é produzir mudanças em alguma parcela da realidade, ou atender a uma demanda da sociedade. A efetividade é a medida de impacto ou grau de alcance dos objetivos (ARRETCHE, 1998). Diz-se que a efetividade constitui a relação entre os resultados e os objetivos. Assim, a efetividade ocorre quando os bens e serviços resultantes de determinada ação alcançam resultados mais benéficos para a sociedade. Dessa forma, observa-se que os conceitos de eficiência, eficácia e efetividade representam um aperfeiçoamento na capacidade de autoregulação do Estado, tendo como referência o atendimento com qualidade das demandas da sociedade por parte de administração pública (MATIAS-PEREIRA, 2007). A Accountability, embora, seja um conceito bastante discutido, ainda não possui uma tradução para português, mas pode ser compreendido como um conjunto de mecanismos e procedimentos que levam os gestores públicos a prestar contas dos resultados de suas ações, garantindo-se maior transparência. Quanto maior a possibilidade de os cidadãos poderem discernir se os governantes estão agindo em função do interesse da coletividade, mais accountable é um governo (MATIAS-PEREIRA, 2007). Além destes conceitos básicos, outra característica importante quanto a avaliação de políticas públicas refere-se a suas classificações. Uma das primeiras classificações a se realizar a respeito de avaliação remete à diferenciação entre uma avaliação ex-ante e a ex-post facto (LOBO, 1998). Segundo a autora, a primeira sempre foi estimulada e induzida em programas para análises de custo-benefício, custo-efetividade, das taxas de retorno e outros. Já a avaliação ex-post facto é aquela que trabalha com impactos e processos, ou seja, ela deve ocorrer algum depois depois da implementação da política ou programa. De acordo com o World Bank (2006), a avaliação de impacto é a identificação sistemática dos efeitos, positivos ou negativos, esperados ou não, provocados por determinado programa ou projeto. A avaliação do impacto ajuda a compreender melhor em que medida as atividades atingem os sujeitos beneficiados. Apesar de simples definição, a avaliação, de forma prática, é uma técnica complexa, já que nem todos os métodos de avaliação são iguais. Cohen e Franco (2007) classificam a avaliação de impacto como um método de avaliação ex-post facto, que, de acordo com Ferro e Kassouf (2004), ocorre após a implementação do projeto e consiste na comparação de beneficiários observados com não-beneficiários, avaliando dessa maneira qual o impacto do projeto. Para White (2007, p. 1), as definições mais comuns para avaliação de impacto são: (a) avaliação dos impactos no bem-estar da população; (b) avaliação dos resultados diretos e indiretos, bem como dos resultados esperados e não esperados; (c) avaliação realizada após algum tempo (cinco ou dez anos) de modo a permitir que os impactos apareçam; e (d) uma avaliação que considera todas as intervenções de um determinado setor ou área geográfica. De acordo com o World Bank (2006), uma avaliação deve apresentar um sistema lógico que avalie impactos inesperados através de argumentos plausíveis por meio de indicadores, utilizando-os como ferramenta de comparação. Assim, é preciso, de acordo com procedimentos estatísticos aceitáveis, mensurar como a intervenção impactou e beneficiou a população alvo. 6 4 Metodologia 4.1 Área de Estudo A região Norte do estado de Minas Gerais, a qual é objeto deste estudo, está inserida no semiárido brasileiro, que se caracteriza como uma das regiões mais pobres do país. Em razão de suas características, principalmente, as climáticas e socioeconômicas, a partir da década de 1970 com a implementação da Política Nacional de Irrigação, a região foi beneficiada com a implantação de quatro dos vinte e três projetos públicos de irrigação em produção no país. Os municípios beneficiados com a construção dos perímetros irrigados foram Janaúba (Perímetro Irrigado de Lagoa Grande), Manga (Perímetro Irrigado do Jaíba), Pirapora (Perímetro Irrigado de Pirapora) e Porteirinha que recebeu a implantação do Perímetro Irrigado do Gorutuba. Na década de 1970, período anterior a implantação dos projetos públicos de irrigação, o Norte de Minas Gerais era formado por 44 municípios. Após a Constituição de 1988 ocorreu um intenso processo de emancipação municipal em todo o país, em decorrência desse processo o número de municípios da região passou de 44 no ano de 1970, para 89 municípios, em 2000. Em razão desta mudança, para tratamento dos dados, optou-se por reagrupar os municípios emancipados aos municípios de origem, ou seja, os dados municípios emancipados foram agregados aos seus municípios de origem, para que a análise fosse realizada sob as mesmas condições, anteriores a implantação dos perímetros irrigados, isto é, com apenas 44 municípios. 4.2 Variáveis e Fonte de Dados De acordo com Rosado, Rossato e Lima (2009), o desenvolvimento alcançado por determinada município ou região possui caráter multidimensional. Neste sentido, para caracterizá-lo de forma abrangente torna-se necessário analisar um grande número de variáveis que representem as dimensões econômicas, sociais, demográficas e de infraestrutura, dentre outras. Para representar as condições socioeconômicas e o nível de desenvolvimento dos municípios da região Norte do Estado de Minas Gerais, antes e após a implantação dos projetos públicos de irrigação selecionou-se 17 variáveis referentes aos anos de 1970 e 2000. As variáveis utilizadas foram selecionadas a partir de variáveis sugeridas em trabalhos similares, como o de Soares et al. (1999) e Rosado, Rossato e Lima (2009). A saber: X1: Densidade demográfica (habitantes/km2); X2: Taxa de urbanização (população urbana/população total); X3: Número de domicílios com iluminação elétrica (unidades); X4: Número de domicílios com instalações sanitárias rede geral (unidades); X5: Número de domicílios com água canalizada rede geral (unidades); X6: Número de pessoas ocupadas (Rural); X7: Número de pessoas ocupadas (Urbana); X8: Índice de Desenvolvimento Humano - IDH Educação; X9: Índice de Desenvolvimento Humano - IDH Longevidade; X10: Índice de Desenvolvimento Humano - IDH Renda; X11: Esperança de vida ao nascer - Ano; X12: Mortalidade infantil (por mil nascidos vivos); X13: Percentual de Pobreza - pessoas pobres (%); X14: Renda - desigualdade - Índice L de Theil; X15: PIB Agropecuária per capita (mil reais); 7 X16: PIB Indústria per capita (mil reais); X17: PIB Serviço per capita (mil reais). As variáveis foram coletadas junto ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEADATA). 4.3 Análise Fatorial A análise fatorial é um conjunto de técnicas estatísticas que procura explicar a correlação entre as variáveis observadas, simplificando os dados pela redução do número de variáveis necessárias para descrevê-los (Pestana & Gageiro, 2005). Segundo Hair et al. (2005), a análise fatorial é utilizada para sintetizar as informações de um grande número de variáveis em um número reduzido de variáveis ou fatores. De acordo com Mingoti (2005), o objetivo da análise fatorial é descrever o comportamento de determinado conjunto de variáveis a partir da estrutura de dependência entre elas, por meio de um número menor de variáveis denominadas fatores. As variáveis mais correlacionadas se combinam num mesmo fator, sendo estas independentes daquelas que compõem outro fator, ou seja, os fatores não são correlacionados entre si. Para realização da análise fatorial utilizou-se o método de extração de fatores denominado Método das Componentes Principais (com rotação ortogonal, de modo a serem independentes uns dos outros), o método de rotação escolhido foi o Varimax. O método dos componentes principais faz com que o primeiro fator contenha o maior percentual de explicação da variância total, o segundo fator tenha o segundo maior percentual e, assim, sucessivamente. O modelo fatorial obtido após uma análise fatorial explicita, teoricamente, a estrutura de fatores latentes responsáveis pelas correlações observadas entre as variáveis originais. Naturalmente, o modelo assume que existe um número de fatores inferiores ao número de variáveis originais que são capazes de explicar uma porcentagem elevada da variância total das variáveis originais. As regras do eigenvalue (raiz característica) superior a um e Screeplot são geralmente utilizadas para decidir o número mínimo de fatores necessários para explicar uma proporção considerável da variância total dos dados originais. Contudo, estas regras apenas ajudam a selecionar os fatores necessários para explicar a variância-covariância observada e nada dizem sobre a qualidade do modelo fatorial deduzido (MAROCO, 2007). Para avaliar a validade da análise fatorial, utilizou-se o critério Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), o Teste de Bartlett e a percentagem de variância total explicada pelos fatores. O KMO e o Teste de Bartlett são dois procedimentos estatísticos que permitem medir a qualidade das correlações entre as variáveis de modo a prosseguir com a análise fatorial. O KMO próximo a 1 indica coeficientes de correlação parciais pequenos, enquanto valores próximos de zero indicam que a análise fatorial é uma opção inaceitável, porque existe uma correlação fraca entre as variáveis. Todos os cálculos foram efetuados no programa SPSS 15.0 (Statistical Package of Social Science), em versão licenciada. 5 Resultados Esta seção foi dividida em duas etapas. A primeira teve como objetivo evidenciar as diferenças das condições socioeconômicas e os níveis de desenvolvimento dos 44 municípios da região Norte do Estado de Minas Gerais, mediante um conjunto de indicadores, referentes ao ano de 1970, período anterior a implantação dos projetos públicos de irrigação. Buscou-se também fazer uma hierarquização destes municípios no contexto geral da região, ressaltando, principalmente, as características socioeconômicas dos municípios de Janaúba, Manga, 8 Pirapora e Porteirinha que foram beneficiados diretamente com a implantação dos projetos públicos de irrigação. Na segunda etapa repetiram-se os procedimentos adotados na primeira, mas com os dados referentes ao ano 2000, isto é, após implantação dos projetos, com o objetivo de verificar os seus impactos socioeconômicos sobre a região. Além disso, procurou-se analisar as mudanças ocorridas nos municípios beneficiados pelos perímetros irrigados, bem como investigar se as mesmas podem ser associadas as ações da Política Nacional de Irrigação. 5.1 O Norte de Minas Antes dos Perímetros Irrigados A análise fatorial para as variáveis referentes ao ano de 1970 resultou na extração de quatro fatores com raiz características maiores que um e que respondem, em conjunto, por 84,86% da variância total dos dados, conforme visualizado na Tabela 2. As variáveis utilizadas apresentaram bom ajustamento representado pelo resultado do teste de KMO, com coeficiente de 0,756 e consistência estatística representada pelo teste esferidade de Bartlett, significativo, a 1% de probabilidade. Tabela 2 - Fatores obtidos pelo Método dos Componentes Principais (1970) Fator Raiz Cacteristítica F1 6,64 F2 3,20 F3 3,18 F4 1,41 Variância Explicada pelo Fator (% ) 39,07 18,80 18,69 8,30 Variância Acumulada (% ) 39,07 57,87 76,56 84,86 Fonte: Resultados da pesquisa. Na Tabela 3 são apresentadas as cargas fatoriais com valor superior a 0,50, buscando evidenciar as variáveis mais fortemente associadas a determinado fator. Percebe-se que o Fator 1 (F1) tem correlação positiva e alta com as variáveis número de pessoas ocupadas na área urbana, número de domicílios com energia elétrica, número de domicílios com água canalizada rede geral, PIB Indústria per capita (mil reais), número de domicílios com instalações sanitárias rede geral, PIB Serviço per capita (mil reais) e densidade demográfica (habitantes/km2). Isto sugere que o Fator 1 está mais estreitamente relacionado com todas as variáveis que captam as condições de moradia da população dos municípios do Norte de Minas Gerais e capacidade de geração de riqueza e emprego nas atividades desenvolvidas na área urbana destes municípios, além da densidade demográfica, que mede a ocupação do município. É importante observar que, se o F1 de determinado município for positivo e alto, significa que este é intensamente povoado, apresenta boas condições de moradia e elevada capacidade de econômica nas atividades desenvolvidas na área urbana. No segundo fator (F2), predominaram as variáveis que captam o nível de saúde e condições de vida nos municípios norte mineiros, o que foi constituído pelas variáveis esperança de vida ao nascer (ano), IDH – Longevidade que apresentaram alta correlação positiva, também compõe o fator F2 a variável mortalidade infantil (por mil nascidos vivos), que apresentou correlação alta e negativa. Assim, quanto maior este fator, melhores serão as condições de saúde e mais longevidade terá a população dos municípios. O terceiro fator (F3) apresentou correlação positiva e alta com IDH educação, IDH renda, taxa de urbanização e correlação negativa alta com as variáveis percentual de pessoas pobres e número de pessoas ocupadas no campo. Em razão disto, decorre que quanto maior este fator, maior será a proporção de pessoas residindo na cidade e melhores serão as condições de educação e renda da população. O último fator considerado (F4) apresenta correlação positiva e alta com índice L de Theil e PIB agropecuária per capita. Assim, quanto maior este indicador, maior será a 9 importância da atividade agropecuária para a economia dos municípios, não obstante, maior será a desigualdade na distribuição de renda. Tabela 3 - Cargas fatoriais após a Rotação Ortogonal (1970) Variáveis Número de pessoas ocupadas (Urbana) Número de domicílios com iluminação elétrica Número de domicílios com água canalizada rede geral PIB Indústria per capita (mil reais) Número de domicílios com instalações sanitárias rede geral PIB Serviço per capita (mil reais) Densidade demográfica (habitantes/km2) Esperança de vida ao nascer - Ano Índice de Desenvolvimento Humano - Longevidade Mortalidade infantil (por mil nascidos vivos) Índice de Desenvolvimento Humano - Educação Percentual de Pobreza - pessoas pobres (%) Índice de Desenvolvimento Humano - Renda Taxa de urbanização (população urbana/população total) Número de pessoas ocupadas (Rural) Renda - desigualdade - Índice L de Theil PIB Agropecuária per capita (mil reais) Fatores 1 0,975 0,973 0,965 0,930 0,919 0,625 0,605 2 3 4 0,990 0,990 -0,988 0,831 -0,736 0,707 0,695 -0,658 0,788 0,743 Fonte: Resultados da pesquisa. 5.1.1 Hierarquização dos Municípios (1970) Na hierarquização dos 44 municípios da região Norte de Minas Gerais em 1970, utilizaram-se os escores dos quatro fatores, uma vez que estes explicam 39,07%, 18,80%, 18,69 e 8,30%, respectivamente, da variância total. Na Tabela 4 apresenta-se os escores de cada município em ordem de melhor desempenho nos fatores F1, F2, F3 e F4. Ressalta-se que os escores calculados são sempre medidos em uma escala ordinal e, por isto, só podem indicar a posição relativa dos municípios. A partir dos dados da Tabela 4, percebe-se que os municípios de Montes Claros (5,910), Pirapora (1,065), Januária (0,857), Bocaiúva (0,518) e Salinas (0,488) apresentaram valores positivos e altos para F1. Isso indica que, esses são os municípios mais povoados, com as melhores condições de moradia e elevada capacidade de econômica nas atividades desenvolvidas na área urbana, dentre os municípios do Norte de Minas Gerais. Por outro lado, os cinco municípios mais despovoados e com as piores condições de moradia e com as atividades econômicas urbanas menos expressivas foram: Francisco Dumont (-0,791), Lassance (-0,758), Santa Fé de Minas (-0,655), Ibiaí (-0,600) e Juramento (-0,536). Em relação ao fator 2 (Tabela 4), nota-se que os municípios de Brasília de Minas (1,919), Itacambira (1,766), Francisco Dumont (1,614), Santa Fé de Minas (1,578) e Bocaiúva (1,523) apresentaram os níveis mais satisfatórios de condições de saúde e expectativa de vida, enquanto os municípios de Pirapora (-1,928), São Romão (-1,692), Janaúba (-1,366), Monte Azul (-1,237) e Jequitaí (-1,171) apresentaram pior situação. No fator F3, os municípios com o melhor desempenho foram Pirapora (3,664), Francisco Dumont (1,940), Várzea da Palma (1,458), Lassance (1,161) e Buritizeiro (0,948), enquanto Rio Pardo de Minas (-1,859), São João do Paraíso (-1,723), São Francisco (-1,301), São João da Ponte (-1,236) e Salinas (-1,072) tiveram os piores resultados neste fator, isto é, menor taxa de urbanização e piores níveis de educação e renda. Com relação ao quarto e último fator F4, os municípios de Mirabela (3,136), Capitão Enéas (2,555) Manga (1,429), Francisco Sá (1,339), São João da Ponte (1,318) apresentaram 10 os valores mais elevados para o PIB agropecuária per capita, no entanto também apresentaram as maiores desigualdade na distribuição de renda, pois o fator apresenta correlação positiva e alta com índice L de Theil e PIB agropecuária per capita. De outro lado, os municípios de Cristália (-1,729), Botumirim (-1,537), Itacarambi (-1,155), Santa Fé de Minas (-1,154) e Grão Mogol (-1,082) apresentaram os piores desempenho no fator F4. Tabela 4 - Classificação dos municípios pelos fatores F1, F2, F3 e F4 (1970) Ranking 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 Município Montes Claros Pirapora Januária Bocaiúva Salinas São Francisco Brasília de Minas Porteirinha Rio Pardo de Minas Espinosa Francisco Sá Janaúba Montalvânia Varzelândia São João da Ponte Monte Azul Coração de Jesus São João do Paraíso Manga Várzea da Palma Grão Mogol Mato Verde Rubelita Itacarambi Taiobeiras Ubaí Riacho dos Machados Águas Vermelhas Engenheiro Navarro Jequitaí Mirabela Buritizeiro Cristália Claro dos Poções São Romão Lagoa dos Patos Itacambira Capitão Enéas Botumirim Juramento Ibiaí Santa Fé de Minas Lassance Francisco Dumont F1 5,910 1,065 0,857 0,518 0,488 0,479 0,311 0,266 0,235 0,180 0,112 0,096 0,090 0,034 -0,006 -0,006 -0,006 -0,028 -0,067 -0,116 -0,161 -0,175 -0,215 -0,240 -0,271 -0,302 -0,336 -0,363 -0,368 -0,377 -0,417 -0,417 -0,445 -0,466 -0,476 -0,495 -0,497 -0,524 -0,529 -0,536 -0,600 -0,655 -0,758 -0,791 Município Brasília de Minas Itacambira Francisco Dumont Santa Fé de Minas Bocaiúva Juramento Botumirim Espinosa Coração de Jesus Francisco Sá Montes Claros Mirabela Cristália Lassance Águas Vermelhas Taiobeiras Rubelita Rio Pardo de Minas Lagoa dos Patos Ubaí Mato Verde São João da Ponte Grão Mogol Ibiaí Salinas Varzelândia Engenheiro Navarro Capitão Enéas São Francisco São João do Paraíso Januária Várzea da Palma Montalvânia Manga Itacarambi Buritizeiro Porteirinha Claro dos Poções Riacho dos Machados Jequitaí Monte Azul Janaúba São Romão Pirapora F2 1,919 1,766 1,614 1,578 1,523 1,410 1,164 1,155 0,973 0,788 0,701 0,694 0,636 0,583 0,517 0,480 0,439 0,375 0,087 0,068 0,039 -0,147 -0,285 -0,290 -0,322 -0,333 -0,360 -0,449 -0,461 -0,468 -0,501 -0,771 -0,771 -0,772 -0,869 -0,967 -1,089 -1,096 -1,161 -1,171 -1,237 -1,366 -1,692 -1,928 Município Pirapora Francisco Dumont Várzea da Palma Lassance Buritizeiro Santa Fé de Minas Jequitaí Capitão Enéas Engenheiro Navarro Juramento Lagoa dos Patos Montes Claros Bocaiúva Mato Verde Claro dos Poções Mirabela São Romão Taiobeiras Ibiaí Águas Vermelhas Rubelita Ubaí Botumirim Janaúba Francisco Sá Itacambira Manga Brasília de Minas Coração de Jesus Cristália Montalvânia Espinosa Monte Azul Itacarambi Januária Riacho dos Machados Porteirinha Grão Mogol Varzelândia Salinas São João da Ponte São Francisco São João do Paraíso Rio Pardo de Minas F3 3,664 1,940 1,458 1,161 0,948 0,937 0,855 0,836 0,737 0,689 0,664 0,568 0,406 0,305 0,281 0,277 0,115 0,110 0,028 0,001 -0,040 -0,047 -0,050 -0,063 -0,118 -0,199 -0,231 -0,350 -0,353 -0,463 -0,539 -0,581 -0,606 -0,664 -0,713 -0,789 -0,944 -1,009 -1,028 -1,072 -1,236 -1,301 -1,723 -1,859 Município Mirabela Capitão Enéas Manga Francisco Sá São João da Ponte Juramento Janaúba Salinas Claro dos Poções Montalvânia Rubelita Brasília de Minas Itacambira Taiobeiras Coração de Jesus Porteirinha Lassance Bocaiúva Engenheiro Navarro Ibiaí Januária São Francisco Pirapora Mato Verde São João do Paraíso Espinosa Várzea da Palma Montes Claros Jequitaí Ubaí Riacho dos Machados Rio Pardo de Minas Monte Azul Águas Vermelhas Buritizeiro São Romão Lagoa dos Patos Varzelândia Francisco Dumont Grão Mogol Santa Fé de Minas Itacarambi Botumirim Cristália F4 3,136 2,555 1,429 1,339 1,318 1,243 1,202 1,180 0,516 0,507 0,434 0,321 0,272 0,248 0,222 0,111 0,095 0,039 -0,025 -0,030 -0,056 -0,079 -0,159 -0,211 -0,224 -0,255 -0,326 -0,368 -0,375 -0,442 -0,511 -0,514 -0,659 -0,678 -0,803 -0,859 -0,875 -0,991 -1,071 -1,082 -1,154 -1,155 -1,537 -1,729 Fonte: Resultados da pesquisa. Com relação aos municípios que seriam beneficiados com a implantação dos projetos públicos de irrigação, nota-se que Pirapora era o município com melhor desempenho no fator F1, ocupando a segunda posição no ranking. Deve-se, observar que os aspectos relacionados a densidade demográfica e capacidade de geração de riqueza e emprego foram os que mais contribuíram para que Pirapora apresentasse bom desempenho no fator. O município de Porteirinha apresentou o segundo melhor desempenho neste fator, ocupando a oitava posição, Janaúba ocupava décima segunda posição e Manga que ocupava a décima nona classificação. 11 Ressalta-se que, dentre os 4 municípios beneficiados com a implantação dos perímetros irrigados, apenas Manga apresentou escore negativo no fator F1, isto indica que, Manga apresentava a menor densidade demográfica, a economia urbana menos desenvolvida e as piores condições de moradia. No fator F2, destaca-se o baixo desempenho apresentado pelos municípios estudados, principalmente, em Pirapora, que apresentou as piores condições de saúde e o menor índice de longevidade dentre os municípios da região. Os municípios de Janaúba, Porteirinha e Manga ocupavam a quadragésima segunda, trigésima sétima, e trigésima quarta posição, respectivamente. Com relação a taxa de urbanização e os níveis de educação e renda (F3), observa-se classificações diversas, com o município de Pirapora apresentando a maior taxa de urbanização da região e os melhores indicadores de educação e renda dentre os municípios do Norte de Minas. O município de Porteirinha apresentou o pior desempenho dentre quatro municípios que receberiam os investimentos da Política Nacional de Irrigação, ocupando a trigésima sétima posição. Os municípios de Janaúba e Manga ocupavam a vigésima quarta e vigésima sétima posição, respectivamente. No fator F4, que permite analisar a importância da atividade agropecuária para a economia dos municípios e sua relação com a desigualdade na distribuição de renda, nota-se que apenas o município de Pirapora, dentre os que receberam perímetros irrigados, apresentou desempenho negativo neste fator F4, ocupando a vigésima terceira posição. Os municípios de Porteirinha, Janaúba e Manga ocupavam a décima sexta, sétima e terceira posição, respectivamente. 5.2 O Norte de Minas após a implantação dos Perímetros Irrigados Assim como realizado com os dados referentes ao ano de 1970, efetuou-se análise fatorial para as variáveis referente ao ano de 2000 que resultou na extração de quatro fatores que respondem, em conjunto, por 85,03% da variância total dos dados, conforme visualizado na Tabela 5. O teste de KMO apresentou um com coeficiente de 0,744 e consistência estatística representada pelo teste esferidade de Bartlett, significativo, a 1% de probabilidade. Tabela 5 - Fatores obtidos pelo Método dos Componentes Principais (2000) Fator F1 F2 F3 F4 Raiz Cacteristítica Variância Explicada pelo Fator (% ) 4,94 29,08 4,66 27,41 3,12 18,34 1,73 10,19 Variância Acumulada (% ) 29,08 56,49 74,83 85,03 Fonte: Resultados da pesquisa. A Tabela 6 apresenta as cargas fatoriais com valor superior a 0,50. O fator F1 permite dimensionar os aspectos como a industrialização e o acesso a educação e renda nos municípios do Norte de Minas Gerais. Este fator está relacionado as variáveis IDH educação, IDH renda, PIB industria per capita, taxa de urbanização e densidade demográfica todas estas variáveis apresentam correlação positiva alta com o fator F1. Além disso, o fator F1 apresenta alta correlação negativa com as variáveis percentual de pobreza, ou seja, quanto maior forem as demais variáveis que compõem F1 menor será o percentual de pessoas pobres nos municípios. O fator F2 encontra-se positivamente correlacionado com as variáveis número de domicílios com instalações sanitárias rede geral, número de domicílios com iluminação elétrica, número de domicílios com água canalizada rede geral e número de pessoas ocupadas na área urbana. Isto evidencia que fator caracteriza as condições de moradia dos municípios e a geração de emprego na área urbana dos municípios. 12 Com relação ao fator F3, percebe-se, que o mesmo equivale ao fator F2 obtido em 1970, isto é, o F3 é composto pelas mesmas variáveis que formaram o fator F2 em 1970. Assim, o fator F3 assinala o nível de saúde e longevidade da população dos municípios do Norte de Minas Gerais. O quarto e último fator F4 apresenta correlação negativa e alta com o PIB agropecuária per capita e correlação positiva com o número pessoas ocupada na área rural. Assim, quanto menor o PIB agropecuária per capita, maior o número de pessoas trabalhando no campo. Tabela 6 - Cargas fatoriais após a Rotação Ortogonal (2000) Variáveis Índice de Desenvolvimento Humano - Renda Percentual de Pobreza - pessoas pobres (%) PIB Indústria per capita (mil reais) Taxa de urbanização (população urbana/população total) PIB Serviço per capita (mil reais) Índice de Desenvolvimento Humano - Educação Densidade demográfica (habitantes/km2) Número de domicílios com instalações sanitárias rede geral Número de domicílios com iluminação elétrica Número de domicílios com água canalizada rede geral Número de pessoas ocupadas (Urbana) Mortalidade infantil (por mil nascidos vivos) Índice de Desenvolvimento Humano - Longevidade Esperança de vida ao nascer - Ano PIB Agropecuária per capita (mil reais) Número de pessoas ocupadas (Rural) Fatores 1 0,844 -0,838 0,825 0,803 0,795 0,754 0,590 2 3 4 0,937 0,937 0,932 0,931 -0,971 0,969 0,969 -0,883 0,523 Fonte: Resultados da pesquisa. Destaca-se, que o fator F4 legitima características importantes da atividade agropecuária desenvolvida na região estudada. Na maioria dos municípios do Norte de Minas Gerais predomina a agricultura familiar de sequeiro, que se caracteriza pela dependência das condições climáticas, e a pecuária em grandes extensões territoriais. De um modo geral, o Norte de Minas Gerais possui atividade agropecuária pouco intensiva em capital, com baixo nível de tecnologia e baixa produtividade. 5.2.1 Hierarquização dos Municípios (2000) O processo de classificação dos municípios da região Norte de Minas Gerais em 2000, seguiu os mesmos padrões adotados para o ano de 1970. Foram utilizados os escores dos quatro fatores obtidos. Na Tabela 7 é apresentada a classificação do desempenho dos municípios nos fatores F1, F2, F3 e F4 obtidos para as variáveis referentes ao ano 2000. Os municípios de Pirapora (3,907), Várzea da Palma (2,912), Montes Claros (1,442), Capitão Enéas (1,132) e Buritizeiro (0,911) são os municípios mais industrializados da região e com as melhores condições de educação e renda, enquanto os municípios de São João do Paraíso (-1,411), Januária (-1,364), Rio Pardo de Minas (-1,124), Itacambira (-1,037) e Varzelândia (-1,029) apresentaram os menores índices de industrialização e as piores condições de educação e renda. Com relação, as condições de moradia e a geração de emprego na área urbana dos municípios norte mineiros, representadas pelo fator F2, os municípios de Montes Claros (6,031), Januária (0,619) e Porteirinha (0,462), Monte Azul (0,386), São Francisco (0,374). Os 13 municípios que apresentaram os piores índices para o fator F2 foram Várzea da Palma (-1,178), Pirapora (-0,775), Capitão Enéas (-0,724), Engenheiro Navarro (-0,634) e Rubelita (-0,606). Tabela 7 - Classificação dos municípios pelos fatores F1, F2, F3 e F4 (2000) Ranking 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 Município Pirapora Várzea da Palma Montes Claros Capitão Enéas Buritizeiro Claro dos Poções Francisco Dumont Águas Vermelhas Taiobeiras Jequitaí Janaúba Bocaiúva Lassance São Romão Juramento Lagoa dos Patos Engenheiro Navarro Ibiaí Santa Fé de Minas Mato Verde Mirabela Francisco Sá Montalvânia Ubaí Espinosa Salinas Riacho dos Machados Itacarambi Botumirim Coração de Jesus Porteirinha Monte Azul Manga Cristália Rubelita São João da Ponte Brasília de Minas São Francisco Grão Mogol Varzelândia Itacambira Rio Pardo de Minas Januária São João do Paraíso F1 3,907 2,912 1,442 1,132 0,911 0,619 0,571 0,545 0,487 0,419 0,401 0,349 0,320 0,297 0,282 0,186 0,178 0,078 0,003 -0,027 -0,036 -0,038 -0,067 -0,235 -0,238 -0,366 -0,386 -0,406 -0,443 -0,445 -0,447 -0,467 -0,627 -0,670 -0,688 -0,789 -0,792 -0,934 -0,974 -1,029 -1,037 -1,124 -1,364 -1,411 Município Montes Claros Januária Porteirinha Monte Azul São Francisco Manga Rio Pardo de Minas Salinas Janaúba Lassance Brasília de Minas Bocaiúva Coração de Jesus Buritizeiro Itacambira Juramento Varzelândia Francisco Sá Espinosa Riacho dos Machados São João da Ponte Itacarambi Grão Mogol Águas Vermelhas Claro dos Poções Santa Fé de Minas Taiobeiras São João do Paraíso Ubaí São Romão Francisco Dumont Lagoa dos Patos Mirabela Montalvânia Mato Verde Botumirim Cristália Jequitaí Ibiaí Rubelita Engenheiro Navarro Capitão Enéas Pirapora Várzea da Palma F2 6,031 0,619 0,462 0,386 0,374 0,369 0,312 0,312 0,279 0,188 0,146 0,106 0,038 0,027 0,004 -0,025 -0,034 -0,036 -0,071 -0,090 -0,119 -0,122 -0,127 -0,128 -0,162 -0,216 -0,217 -0,222 -0,225 -0,268 -0,287 -0,306 -0,315 -0,322 -0,322 -0,459 -0,531 -0,562 -0,570 -0,606 -0,634 -0,724 -0,775 -1,178 Município Engenheiro Navarro Ibiaí Jequitaí Bocaiúva São João do Paraíso Cristália Itacambira Grão Mogol Montes Claros Botumirim Rubelita Francisco Sá São Francisco Pirapora Várzea da Palma Coração de Jesus Brasília de Minas Januária Janaúba São João da Ponte Juramento Varzelândia Lassance Lagoa dos Patos São Romão Capitão Enéas Ubaí Mato Verde Claro dos Poções Espinosa Salinas Taiobeiras Mirabela Montalvânia Porteirinha Manga Itacarambi Monte Azul Francisco Dumont Buritizeiro Santa Fé de Minas Águas Vermelhas Rio Pardo de Minas Riacho dos Machados F3 1,795 1,732 1,631 1,506 1,472 1,274 1,179 0,879 0,857 0,825 0,819 0,578 0,500 0,405 0,377 0,374 0,346 0,260 0,236 0,205 0,144 0,042 0,028 -0,006 -0,053 -0,064 -0,093 -0,178 -0,218 -0,398 -0,535 -0,594 -0,638 -0,738 -0,928 -1,000 -1,152 -1,182 -1,253 -1,459 -1,569 -1,618 -1,673 -2,114 Município Pirapora Rubelita Januária Rio Pardo de Minas São Francisco Várzea da Palma Espinosa Brasília de Minas São João do Paraíso Salinas São João da Ponte Taiobeiras Montalvânia Mato Verde Itacarambi Porteirinha Janaúba Mirabela Manga Monte Azul Coração de Jesus Montes Claros Varzelândia Capitão Enéas Bocaiúva Cristália Ubaí Jequitaí Grão Mogol Botumirim Engenheiro Navarro Águas Vermelhas Riacho dos Machados São Romão Ibiaí Francisco Dumont Francisco Sá Santa Fé de Minas Lagoa dos Patos Buritizeiro Claro dos Poções Juramento Itacambira Lassance F4 1,909 1,381 1,333 1,230 1,209 1,123 1,095 1,064 0,980 0,886 0,874 0,675 0,639 0,575 0,555 0,392 0,359 0,283 0,185 0,086 0,081 0,070 -0,007 -0,049 -0,087 -0,181 -0,284 -0,300 -0,330 -0,346 -0,387 -0,419 -0,424 -0,458 -0,516 -0,651 -0,715 -0,907 -1,289 -1,380 -1,538 -1,800 -2,113 -2,803 Fonte: Resultados da pesquisa. O fator 3 que demonstra o nível de saúde e a longevidade da população apresentou os melhores índices nos municípios de Engenheiro Navarro (1,795), Ibiaí (1,732), Jequitaí (1,631), Bocaiúva (1,506) e São João do Paraíso (1,472). Os municípios que apresentaram os piores índices no fator foram: Riacho dos Machados (-2,114), Rio Pardo de Minas (-1,673), Águas Vermelhas (-1,618), Santa Fé de Minas (-1,569) e Buritizeiro (-1,459). O fator F4 apresenta correlação negativa e alta com o PIB agropecuária per capita e correlação positiva com o número pessoas ocupada na área rural. Assim, um escore elevado neste fator evidencia uma atividade agropecuária de baixa produtividade, pouco intensiva em capital e tecnologia e pouco expressiva em relação às demais atividades econômicas. Os maiores índices em F4 foram apresentados pelos municípios de Pirapora (1,909), Rubelita (1,381), Januária (1,333), Rio Pardo de Minas (1,230) e São Francisco (1,209), 14 enquanto os municípios de Lassance (-2,803), Itacambira (-2,113), Juramento (-1,800), Claro dos Poções (-1,538) e Buritizeiro (-1,380) apresentaram os maiores valores para o PIB agropecuária per capita e um menor número de pessoas ocupadas no campo. Isso indica que, a atividade agropecuária desenvolvimento nestes municípios seja relativamente mais desenvolvida que a praticada nos demais municípios da região. Destaca-se, que os resultados da análise fatorial demonstram alterações nos fatores que evidenciam o nível desenvolvimento socioeconômico dos municípios na região norte de Minas Gerais. Os resultados indicam que o município de Pirapora apresentou os melhores índices de industrialização e as melhores condições de educação e renda da região. O município de Janaúba apresentou o segundo melhor desempenho ocupando a décima primeira posição. Os municípios de Porteirinha e Manga apresentaram escores negativos neste fator, ocupando a trigésima primeira e a trigésima terceira posição. Isto indica que, estes municípios possuem níveis insatisfatórios de industrialização, educação e renda. Com relação às condições de moradia e a geração de emprego na área urbana, destacase o desempenho alcançado pelos municípios de Porteirinha, Manga e Janaúba, que ocupavam a terceira, a sexta e a nona posição, respectivamente. Por outro lado, o município de Pirapora, que apresentou um das piores condições de moradia do Norte de Minas Gerais. Esse fato pode estar relacionado com a concentração da população na área urbana deste município. As pessoas buscam, nas cidades, oportunidades que são geradas pela expansão industrial; entretanto, o resultado é uma superpopulação que as cidades não conseguem absorver de modo desejável, resultando em problemas de moradia, saneamento etc. No fator F3, único que se repetiu, mantendo as mesmas características nos dois períodos analisados. Ressalta-se, o desempenho de Pirapora, que apresentou as piores condições de saúde e o menor índice de longevidade da região em 1970 e em 2000 alcançou o melhor desempenho dentre os quatro municípios analisados, ocupando a décima quarta posição. O município de Janaúba também apresentou uma melhora expressiva neste fator saindo da quadragésima segunda, em 1970, para a décima nona em 2000. As classificações dos municípios de Manga e Porteirinha não apresentaram evolução significativa de 1970 para 2000. O fator F4 permite analisar os impactos diretos da implantação dos perímetros irrigados na região, uma vez que os projetos deveriam impactar diretamente sobre a atividade agropecuária dos municípios beneficiados. Devido às características da região o fator apresentou correlação negativa e alta com o PIB agropecuária per capita e correlação positiva com o número pessoas ocupada na área rural. Assim, os municípios com atividade agropecuária mais desenvolvida são aqueles que apresentaram os menores índices para o fator e os municípios com atividade agropecuária de baixa produtividade, pouco intensiva em capital e tecnologia e pouco expressiva em relação às demais atividades econômicas apresentaram os índices mais elevados no fator. Neste sentido, destaca-se o município de Pirapora apresentou o valor mais elevado par o fator, isto indica que o PIB agropecuária per capita é pouco expressivo na economia do município. Apesar do resultado negativo, deve-se compreender que o município de Pirapora possui a menor extensão territorial da região, além de uma taxa de urbanização próxima a 100%. Assim, o Perímetro Irrigado de Pirapora que é o menor projeto da região caracteriza como principal responsável pelo PIB agropecuária e pela ocupação da mão de obra rural do município. Com relação aos municípios de Manga, Janaúba e Porteirinha, nota-se que os mesmo apresentaram desempenho intermediário, com índices baixos no fator embora positivos. Com exceção de Janaúba que possui apenas área empresarial, os municípios de Manga e Porteirinha apresentaram um grande número de pessoas trabalhando no meio rural. Este 15 resultado pode ser explicado pelo fato dos perímetros irrigados possuírem um grande número de lotes de colonos, onde é praticada a agricultura familiar. 7 Considerações Finais Considerando o escopo da Política Nacional de Irrigação, fica claro seu objetivo em busca da equidade social bem como do desenvolvimento regional em áreas desfavorecidas. Assim, os projetos públicos de irrigação têm assumido um papel estratégico na economia regional, em função de sua capacidade de contribuir para uma adequada oferta interna de alimentos e matérias-primas agrícolas e para o aumento das exportações. Ao se analisar o desenvolvimento socioeconômico de uma determinada região é preciso pensar o território como um sistema que sofre influência de diversas variáveis e que se relaciona com outros sistemas territoriais de mesma e de maior escala. Assim, procurou-se neste artigo analisar o nível de desenvolvimento socioeconômico da região Norte de Minas Gerais, principalmente, dos municípios de Janaúba, Manga, Pirapora e Porteirnha beneficiados diretamente pela implantação dos projetos públicos de irrigação. A análise possibilitou identificar a existência de fatores que permitem a discriminação do desenvolvimento socioeconômico dos municípios norte mineiros. A partir de dezessete variáveis socioeconômicas selecionadas foram gerados quatro fatores, para os períodos de 1970 (antes da implantação dos projetos) e 2000 (após implantação). A partir dos resultados, percebe-se, assim como apresentado no referencial teórico, que ocorreram mudanças expressivas nas condições socioeconômicas da região. Destaca-se, o nível de industrialização de Pirapora e Janaúba, a melhoria nas condições de Janaúba, Manga e Porteirinha, o avanço dos municípios de Pirapora e Janaúba em relação as condições de saúde e longevidade. Embora, tenha-se buscado analisar criteriosamente as mudanças socioeconômicas ocorrida nos municípios norte mineiros, percebe-se a complexidade para associar estas mudanças a implantação dos perímetros irrigados na região e identificar quais políticas contribuíram para as mudanças socioeconômicas ocorridas na região. 7 Referências ARRETCHE, M. T. S. Tendências no Estudo Sobre Avaliação. In: RICO, E. M. (Org.). Avaliação de Políticas Sociais: Uma questão em debate. In: RICO, E. M. Avaliação de Políticas Sociais: Uma questão em debate. 1. ed. São Paulo: Cortez, 1998. p. 29 - 41. BANCO MUNDIAL – Departamento de Avaliação das Operações do Banco Mundial. Monitorização & Avaliação: Algumas ferramentas, métodos e abordagens. Relatório. Washington, D.C., 2004. Relatório Impresso. BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de irrigação. 7. ed. Viçosa: UFV, 2005. 611p. BRASIL. LEI Nº 6.662, DE 25 DE JUNHO DE 1979, Dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação. 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