UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA BASES ACÚSTICO-ARTICULATÓRIAS PARA O APRIMORAMENTO DA PRONÚNCIA DE ALGUMAS CONSOANTES POR TEUTOFALANTES APRENDIZES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO RAFAEL ALVES DE OLIVEIRA João Pessoa - PB Março de 2013 RAFAEL ALVES DE OLIVEIRA BASES ACÚSTICO-ARTICULATÓRIAS PARA O APRIMORAMENTO DA PRONÚNCIA DE ALGUMAS CONSOANTES POR TEUTOFALANTES APRENDIZES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção do grau de Licenciado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa. Prof. Dr. Cirineu Cecote Stein, orientador João Pessoa – PB Março de 2013 Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal da Paraíba. Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). Oliveira, Rafael Alves de. Base acústico-articulatórias para o aprimoramento da pronúncia de algumas consoantes por teutofalantes aprendizes do português brasileiro. / Rafael Alves de Oliveira. - João Pessoa, 2013. 38f.:il. Monografia (Graduação em Letras) – Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Orientador: Prof. Dr. Cirineu Cecote Stein 1. Fonética articulatória. 2. Fonética acústica. 3. Português - Pronúncia. I. Título. BSE-CCHLA CDU 81’342 RAFAEL ALVES DE OLIVEIRA BASES ACÚSTICO-ARTICULATÓRIAS PARA O APRIORAMENTO DA PRONÚNCIA DE ALGUMAS CONSOANTES POR TEUTOFALANTES APRENDIZES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção do grau de Licenciado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa. Data de aprovação: _____/_____/______ Banca examinadora Prof. Dr. Cirineu Cecote Stein, DLCV, UFPB orientador Profª Drª Margarete von Mühlen Poll, DLCV, UFPB examinador Prof. Ms. José Wellisten Abreu de Souza, DLCV, UFPB examinador RESUMO Aprender os traços fonético-fonológicos de uma segunda língua (L2) é fundamental para se ter um bom comando dela (Lima Jr., 2010). Logo, seria bastante viável que os aprendizes de uma L2 desenvolvessem a capacidade de articular os fones que não estão presentes em sua língua materna (L1). Todavia, a intersecção entre os quadros fonêmicos entre línguas distintas propicia à projeção das características dos segmentos de sua L1 sobre a L2, aproximando ponto e/ou modo de articulação mais parecidos (ECKMAN, 2004). Assim, com base na pronúncia de teutofalantes aprendizes do Português Brasileiro, criou-se um corpus de dados sonoro para analisarmos, com base na fonética acústico-articulatória, os problemas mais incidentes, tais como a aspiração das consoantes oclusivas surdas ; o desvozeamento da oclusiva alveolar sonora e da fricativa alveolar sonora ; o apagamento da fricativa glotal e do tepe alveolar ; e a velarização da lateral alveolar, e, a partir desses problemas, foram criados exercícios fonético-articulatórios que visaram um melhor desempenho articulatório na pronúncia dos segmentos fônicos em questão. A coleta de dados para análise ocorreu em três etapas (pré-intervenção, durante a intervenção e pósintervenção), a fim de analisar o grau de evolução das estudantes alemãs aprendizes de PLE. Os resultados mostraram que os exercícios aplicados foram eficazes e que o ensino da pronúncia em sala de aula, aliado a fonética acústico-articulatória, é bastante importante para a evolução da pronúncia dos alunos. Palavras-chave: fonética articulatória; fonética acústica; português como língua estrangeira; pronúncia de teutofalantes; exercícios. ABSTRACT Learn the phonetics and phonological aspects of a second language (L2) is fundamental to have a good command of her (Lima Jr., 2010). Ergo, would be interesting that the L2 learners developed the ability of to articulate the phonemes that are not in their maternal language (L1). However, the phonemics table intersection between different languages provides a projection of the segments characteristics of his L1 through the L2, approaching point and manner of articulation more like. Based on the pronunciation of German speakers learning Brazilian Portuguese, was create an sonorous corpus data to analyses, based on acoustic and articulatory phonetics, the most incidence problems as the devoiced plosives aspirations; the voiced alveolar plosive and of the voiced fricative devoicing; the glotal fricative and of the alveolar tap erasing; and the palatal lateral approximant velarization, and based on this problems, were created articulatory phonetics exercises aiming a better articulatory performance when were pronounce the phonic segments questioned. The corpus data to be analyzed occurred in three ways (after intervention, during the intervention and before intervention), to analyses the evolution rate of the German students learning the PLE. The results shown that exercises applied were effective and that the pronunciation teaching in class, associated to the acoustic and articulatory phonetics, is very important to the student’s pronunciation evolution. Key-words: articulatory phonetics; acoustic phonetics; Portuguese as a foreign language; German speaker’s pronunciation; exercises. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação oscilográfica e espectrográfica de uma aspiração na palavra “tatu”, 7 Figura 2 – Representação oscilográfica e espectrográfica de um desvozeamento na palavra “cadela”, 8 Figura 3 – Representação oscilográfica e espectrográfica de um desvozeamento na palavra “gasosa”, 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Resultado dos exercícios articulatórios para a consoante oclusiva bilabial surda, 16 Tabela 2 – Resultado dos exercícios articulatórios para a consoante oclusiva alveolar surda, 17 Tabela 3 – Resultado dos exercícios articulatórios para a consoante oclusiva velar surda, 17 Tabela 4 – Resultado dos exercícios articulatórios para a consoante oclusiva alveolar sonora, 18 Tabela 5 – Resultado dos exercícios articulatórios para a consoante fricativa alveolar sonora, 19 Tabela 6 – Resultado dos exercícios articulatórios para o tap alveolar sonoro, 19 Tabela 7 – Resultado dos exercícios articulatórios para a consoante fricativa glotal surda, 20 Tabela 8 – Resultado dos exercícios articulatórios para a consoante lateral palatal, 21 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS L1 – língua materna L2 – segunda língua LE – língua estrangeira PLE – Português Língua Estrangeira F0 – frequência fundamental AvA – aluna alemã de nível avançado no curso de PLE, denominada A AvB – aluna alemã de nível avançado no curso de PLE, denominada B IntA – aluna alemã de nível intermediário no curso de PLE, denominada A IntB – aluna alemã de nível intermediário no curso de PLE, denominada B SUMÁRIO 0. INTRODUÇÃO..........................................................................................................9 1. A FONÉTICA ACÚSTICO-ARTICULATÓRIA E O ENSINO DA PRONÚNCIA . 11 2. METODOLOGIA ........................................................................................................ 14 3. PROBLEMAS FONÉTICO-ARTICULATÓRIOS DETECTADOS EM TEUTOFALANTES APRENDIZES DO PB ............................................................ 15 3.1. Aspiração das oclusivas surdas ...................................................................... 15 3.2. Desvozeamento da oclusiva alveolar sonora ....................................................... 16 3.3. Desvozeamento da fricativa alveolar sonora ........................................................ 17 3.4. Apagamento da fricativa glotal surda .................................................................. 18 3.5. Apagamento do tap alveolar ................................................................................ 19 3.6. Velarização da lateral palatal ............................................................................... 19 4. EXERCÍCIOS APLICADOS A TEUTOFALANTES APRENDIZES DE PLE ......... 20 4.1. Exercícios para a não-aspiração em ............................................................... 20 4.1.1. Exercícios para a não-aspiração em .................................................................. 20 4.1.2. Exercícios para a não-aspiração em ................................................................... 20 4.1.3. Exercícios para a não-aspiração em .................................................................. 21 4.2. Exercícios para o não-desvozeamento em ........................................................... 21 4.3. Exercícios para o não-desvozeamento em ............................................................ 22 4.4. Exercícios para a conscientização do posicionamento de ................................... 23 4.5. Exercícios para articulação apropriada do ............................................................ 23 5. RESULTADOS ............................................................................................................ 25 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 32 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... ..33 8.ANEXOS...................................................................................................................32 0. INTRODUÇÃO Ao aprender uma segunda língua é fundamental que o aluno domine não só os aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos, mas também o seu sistema fonéticofonológico, a fim de saber articular com competência os fones da segunda língua (L2). Quanto melhor for a articulação sonora dos fonemas de uma língua distinta, menores serão as marcas dialetais que o identificará como estrangeiro. Um dos fatores principais que distinguem as línguas umas das outras são suas características fonético-fonológicas. Algumas línguas, a exemplo do português e do espanhol, apesar de serem bastante próximas, diferenciam-se, também, devido aos traços fonéticos especiais que cada uma tem. Os quadros fonêmicos das línguas, ainda que semelhantes, são acrescidos ou decrescidos em número de fonemas, apesar de na maioria das vezes terem os mesmos fones, a qualidade sonora (entenda-se por modo de articulação) distingue uma língua da outra. Essas características particulares de cada língua propicia a ocorrência de alguns problemas, a nível fonético-articulatório, em aprendizes de uma L2. Por uma tendência normal do aprendizado, aprendizes de uma nova língua, ao se depararem com um fone que não integra o sistema fonético-fonológico de sua língua materna (L1), projetam as características dos segmentos fônicos de sua L1 sobre a L2, realizando-os de forma semelhante ao de sua L1 que apresentam ponto e/ou modo de articulação parecidos (ECKMAN, 2004). Embora o ser humano seja capaz de reproduzir os sons de qualquer língua, quando adulto, sua capacidade sensório-motora diminui consideravelmente devido a um decréscimo de acuidade que é necessário para o estabelecimento de novas categorias fonético-fonológicas (ECKMAN, 2004 apud STEIN, 2011). Logo, existe uma maior propensão de crianças e jovens serem articulatoriamente mais hábeis em pronunciar qualquer tipo de fonema, de qualquer língua, do que um adulto. A intersecção entre as línguas torna o ensino da pronúncia um dos pré-requisitos primordiais quando se quer aprender uma L2. Entretanto, as pesquisas relacionadas ao campo fonético e direcionadas para o ensino de PLE têm sido escassas, e não visam, normalmente, metodologias que permitam o aperfeiçoamento e a articulação apropriados à realização de determinados segmentos fônicos. No âmbito da linha de pesquisa “A fonética e o ensino de Português como Língua Estrangeira”, no Grupo de Estudos em Fonética (GEFone), e com a participação dos alunos do Programa Linguístico-Cultural para Estudantes Internacionais (PLEI), da Universidade 9 Federal da Paraíba, analisamos algumas interferências fonético-fonológicas do alemão sobre a pronúncia de algumas consoantes do Português Brasileiro (PB), e sugerimos alguns exercícios, com base na fonética acústico-articulatória, que facilitam o aprendizado articulatório dessas consoantes. Esse estudo restringe-se às consoantes que apresentaram um maior número de inadequações articulatórias, como: a aspiração das consoantes oclusivas surdas ; o desvozeamento da oclusiva alveolar sonora e da fricativa alveolar sonora ; o apagamento da fricativa glotal e do tap alveolar ; e a velarização da lateral palatal . 10 1. A FONÉTICA ACÚSTICO-ARTICULATÓRIA E O ENSINO DA PRONÚNCIA O ensino da pronúncia, até pouco tempo atrás, era descartado das salas de aula de PLE por dois motivos: ora por ser muito complexo, ora por não haver a necessidade do ensino explícito da pronúncia, por esta se valer de forma espontânea e/ou intuitiva (MORLEY, 1994, apud SILVEIRA & ROSSI, 2006). Atualmente, dominar os mecanismos de produção sonora da fala, bem como se conscientizar de como se processam os gestos articulatórios, é fundamental para que o aprendiz de L2 comande bem a língua que se aprende. Para Morley (1994, apud LIMA JR., 2012, p. 750), “uma pronúncia inteligível é um fator essencial da competência comunicativa”. Logo, uma má pronúncia prejudica as tentativas de comunicação, ocasionando mal-entendidos. Observa-se que aprendizes de uma L2 costumam permanecer, mesmo em níveis avançados, em um estágio intermediário entre sua L1 e a língua alvo. Selinker (1972) caracteriza esse estágio como interlíngua, muito comum em aprendizes hispanofalantes do português que acabam não atingindo uma pronúncia adequada da língua portuguesa, em sua variante brasileira, sem sofrer com as constantes interferências da L1 e do sistema linguístico em construção, caracterizando-se o Portunhol (COLIN RODEA, 1990 apud FERREIRA, 2001). Nesses casos, a proximidade fonêmica entre as línguas é um dos fatores que pode ocasionar esse tipo de problema. Eckman (2004) afirma que por necessidade de pronunciar um determinado som, o aprendiz de L2, de forma espontânea, adota um referencial de sua própria L1. Um bom exemplo dessa tendência natural seriam as consoantes que, no alemão, serão sempre aspiradas quando não precedidas por uma fricativa na mesma palavra ou quando não forem seguidas por uma sílaba nasal (KHOLER, 1999, p. 87). Essa regra não se aplica ao PB, pois não ocorre aspiração em nenhum ambiente fonológico. Desse modo, quando pronunciada a palavra por um aprendiz de PLE de origem alemã, ouviremos o símbolo fonético caracteriza a ocorrência da aspiração na palavra. A sobreposição entre os sistemas fonético-fonológicos das línguas evidenciarão fatores de intersecção no que diz respeito ao ponto e/ou modo de articulação. Logo, um falante, ao se deparar com um som estranho, tentará alguma estratégia que lhe permita saciar sua necessidade comunicativa. Dutra (2008, apud STEIN, 2010) identificou algumas estratégias utilizadas por anglofalantes aprendizes de espanhol. Esses, ao se depararem com a consoante lateral palatal , substituíram-na ou por uma lateral alveolar , ou por 11 uma lateral alveolar palatalizada , ou, ainda, por uma nasal alveolar. Outro exemplo é alguns fonemas do alemão estranhos ao português brasileiro (e vice-versa) como a fricativa palatal surda do alemão e a nasal palatal do português, respectivamente. Em palavras como “manhã”, uma estratégia utilizada por um falante alemão seria de combinar a consoante nasal alveolar a uma vogal anterior alta, o que surgiria um , ou, até mesmo, por influência ortográfica, utilizaria o com a consoante fricativa glotal , produzindo (STEIN, 2011b). Algumas consoantes são intrinsecamente difíceis de articular. Lamprecht (1990, apud STEIN, 2011b) descreve as etapas de aquisição das consoantes do PB por um nativo. As consoantes líquidas, compreendidas pelo tap alveolar, a consoante lateral alveolar e a consoante lateral palatal são as últimas consoantes adquiridas por um falante nativo, e as não laterais as mais complexas devido aos gestos articulatórios exigidos para a articulação sonora. Se o processo articulatório de um tap alveolar já é complexo e demorado para um falante nativo, imaginemos para um falante, que já está adaptado ao seu sistema linguístico, quão difícil é adquirir um fone que lhe é totalmente estranho. Nesses casos, o ensino da pronúncia exige muita paciência de quem ensina e um treinamento contínuo de quem esteja aprendendo, de forma que a pronúncia adequada seja automatizada. Silveira & Rossi (2006) analisaram as metodologias utilizadas na área responsável pelo ensino da pronúncia em vários materiais didáticos e as classificaram como superficiais, inconsistentes e limitadas, por não atenderem e/ou não esclarecerem algumas dificuldades reais e corriqueiras que, geralmente, alunos de PLE têm. As análises mostraram que apenas dois dos materiais didáticos escolhidos para pesquisa, no âmbito fonético-fonológico, apresentaram tópicos realmente interessantes, e que atendem, de certa forma, aos problemas recorrentes em aprendizes de PLE, como alguns contrastes consonantais entre e , entre e , entre e e consoantes específicas como e e outros pontos vocálicos. Entretanto, esses livros não estão voltados à especificidade do problema de cada língua, pois são elaborados de maneira generalizada e não se preocupam com as dificuldades existentes em outras línguas, uma vez que salas de PLE quase nunca serão homogêneas. Além disso, os livros apresentam apenas teorias de que o aprendiz precisa saber, mas não se aplicam exercícios que atinjam as necessidades articulatórias específicas. Há a necessidade, no âmbito fonético-articulatório, de o falante de L1 aprender como se deve pronunciar um determinado som que não integra seu sistema fonológico ou que não tem a mesma qualidade que o do seu. Essa necessidade será saciada, 12 apenas, quando aplicados exercícios que atentem ao nível articulatório. Exercícios fonético-articulatórios de pronúncia são essenciais para que o falante aprenda e automatize os gestos específicos da língua que se aprende, sem esquecer os problemas particulares de cada língua. Cada vez mais os professores de PLE ficam presos a metodologias que não são muito eficazes em relação ao ensino da pronúncia e, consequentemente, não sabem como mudar. Os dados apresentados por Silveira & Rossi (op. cit.) mostraram que existe a necessidade de o professor de PLE conhecer a fonética e a fonologia da(s) língua(s) alvo e que esse conhecimento é um investimento necessário na formação desses professores. Todavia, conseguir detectar os desvios fonético-articulatórios produzidos por aprendizes de uma língua estrangeira requer um conhecimento que vai além do fonético e do fonológico, apenas, mas também o conhecimento acústico-articulatório. Hoje em dia, o avanço, a popularização e a acessibilidade de instrumentos de análise acústica permitem que profissionais da área usem-nas como aliadas ao ensino de língua estrangeira (LE). Com análises espectrográficas, é possível diagnosticar alguns desvios perceptíveis na fala, tornando-os concretos e vistos a olho nu. 13 2. METODOLOGIA Com o intuito de identificar os problemas de pronúncia de alguns aprendizes de PLE, foram analisadas falas de quatro teutofalantes filiados ao Programa LinguísticoCultural para Estudantes Internacionais (PLEI), na Universidade Federal da Paraíba, nos níveis básico, pré-intermediário, intermediário e avançado. Todos os informantes têm como língua materna o alemão, sendo os três primeiros do sexo masculino e a última do sexo feminino. Este primeiro corpus de dados foi fornecido pelo GEFone (Grupo de Estudos em Fonética) e após sua análise, com a ajuda do programa computacional de análise acústica Praat (BOERSMA & WEERNICK, 2006), focamos apenas algumas consoantes que apresentaram maior número de ocorrência de impropriedades, como a aspiração das consoantes oclusivas surdas ; o desvozeamento da oclusiva alveolar sonora e da fricativa alveolar sonora ; o apagamento da fricativa glotal e do tap alveolar ; e a velarização da lateral palatal , e, em seguida, produzimos alguns exercícios para a readequação dos gestos articulatórios durante a fala dos aprendizes alemães de PLE. Os exercícios articulatórios específicos elaborados para cada fone problemático foram ministrados duas vezes por semana, para quatro (4) teutofalantes dos níveis intermediário e avançado, do curso de português para estrangeiros do PLEI, num período de três meses (dezembro a março). O material para coleta do corpus constituiu-se em uma leitura contínua de 51 frases (Anexo 1), em que as estudantes puderam externar seus problemas particulares antes, durante e depois da aplicação dos exercícios articulatórios. Para as gravações, foram utilizados um notebook, para a observação dos slides com as frases, um gravador SONY ICD-PX312, e um microfone SONY ECM-MS907. As gravações aconteceram em três momentos: a primeira, antes da aplicação dos exercícios (pré-intervenção); a segunda, no meio da aplicação dos exercícios (durante a intervenção); e a terceira, ao final da aplicação de todos os exercícios (pós-intervenção). Assim, foi possível distinguir o que, de fato, as informantes aprenderam durante a aplicação dos exercícios ou o que já sabiam antes deles. Essa análise comparativa permitiu constatar se as estudantes adquiriram alguma melhora efetiva em suas pronúncias através dos exercícios. 14 3. PROBLEMAS FONÉTICO-ARTICULATÓRIOS TEUTOFALANTES APRENDIZES DO PB DETECTADOS EM Como já mencionado, de forma a atender suas necessidades comunicativas, os falantes empregam estratégias articulatórias quando um fone lhe parece estranho. Assim, identificamos várias dessas estratégias empregadas por teutofalantes aprendizes do PB através das análises dos dados feitas pelo Grupo de Estudos em Fonética (GEFone). Nosso estudo foca, apenas, as consoantes que apresentaram um maior número de inadequações articulatórias, e, são elas: a aspiração das consoantes oclusivas surdas ; o desvozeamento da oclusiva alveolar sonora e da fricativa alveolar sonora ; o apagamento da fricativa glotal e do tap alveolar ; e a velarização da lateral palatal . 3.1. Aspiração das oclusivas surdas Apesar de entre quadros fonêmicos do PB e do alemão haver uma similitude no que diz respeito às consoantes oclusivas surdas, existe um fator que as distinguem: a qualidade sonora dessas consoantes. No PB, geralmente, não existe nenhuma aspiração em qualquer que seja o ambiente fonológico que estiverem empregadas . Já em relação ao alemão, segundo Kholer (1999, p. 87), sofrerão uma aspiração natural da língua quando estiverem em posição inicial de sílaba, sendo que não precedidas por uma fricativa na mesma palavra ou quando não seguidas por uma sílaba nasal e, acrescenta ainda que, essa aspiração ocorrerá com maior intensidade quando vier antes de uma vogal acentuada, e mais fraca em palavras funcionais acentuadas. Na figura abaixo, o diacrítico representa uma aspiração realizada por uma falante de alemão aprendiz de PLE, ao pronunciar a palavra “tatu”. A aspiração ocorre no espectrograma entre a barra de oclusão de e a vogal maior que a que ocorre, normalmente, quando um falante nativo pronuncia a mesma palavra. 15 Fig. 1. Oscilograma e espectrograma da palavra “tatu” pronunciada por um aprendiz teutofalante de PLE, no nível intermediário (IntA), na coleta de dados realizada pré-intervenção. A caracterização da aspiração é representada pelo diacrítico [h], como o da fricativa glotal, por ser semelhante à mesma fricção que ocorre com a consoante. 3.2. Desvozeamento da oclusiva alveolar sonora As particularidades dos fonemas de cada língua são o que as distinguem uma da outra. No PB, as consoantes oclusivas sonoras, a priori, não sofrem desvozeamento. Os dados coletados dos teutofalantes indicaram que a consoante oclusiva alveolar sonora sofre desvozeamento, mesmo em níveis avançados. Sons vozeados são representados por uma curva chamada frequência fundamental ou F0, no Praat. Espectrograficamente, a curva da F0 (representada no espectrograma por um traço azul na vertical) deve aparecer sempre para sons que são fonologicamente vozeados. Quando há a ausência desse traço nessa circunstância ocasiona um desvozeamento, como podemos observar na palavra “cadela”, na figura 2. 16 Fig. 2. Oscilograma e espectrograma da palavra “cadela”, por uma informante de nível avançado de PLE (AvB), na coleta de dados pré-intervenção. Note-se a ausência da F0 da consoante oclusiva alveolar sonora. 3.3. Desvozeamento da fricativa alveolar sonora Talvez a explicação mais evidente de consoantes fonologicamente vozeadas serem desvozeadas é o de se requerer um esforço maior na produção da fala do que outros segmentos (OHALA, 1983 apud SMITH, 1997). Consoantes fricativas sonoras, assim como todas as consoantes sonoras, exigem uma pressão subglotal maior que a oral para manter a vibração das pregas vocais, o que caracteriza a sonoridade. Segundo Smith (1997), embora a pressão oral deva ser mantida baixa para manter o vozeamento, se a constrição oral estiver alargada, a queda da pressão sobre a constrição oral será tão lenta que gerará um fluxo de ar turbulento, originando as fricativas. Todo esse percurso articulatório exige do falante que, por muitas vezes, em sua própria L1, recorra à simplificação: ao permitir que a passagem de ar oral e subglotal caia ao não ampliar a passagem oral. Em nossa coleta de dados, observamos o desvozeamento corriqueiro da consoante fricativa alveolar sonora. A realização espectrográfica do desvozeamento em , figura 2, fica quase tão igual a da consoante fricativa alveolar surda. O que ocorre, espectrograficamente, é o aparecimento apenas de uma fricção muito longa, característica em fricativas alveolares surdas, e a ausência de uma barra de sonoridade. 17 Fig.3. Oscilograma e espectrograma da palavra “gasosa” pronunciada na coleta de dados préintervenção, por uma informante alemã do nível avançado, AvA. 3.4. Apagamento da fricativa glotal surda Apesar de constituir os quadros fonológicos do inglês e do espanhol, a fricativa glotal surda, em sua qualidade sonora do PB, é potencialmente complexa para hispanofalantes e anglofalantes (DUTRA, 2008 apud STEIN, 2011b). Para os teutofalantes, essa dificuldade é parecida, mas por se tratar de uma questão ortográfica. Ao pronunciar a palavra “rato”, em português, os alemães empregam a consoante fricativa uvular sonora - , presente em seu sistema fonológico, porque as palavras que começam com a letra “r” em posição inicial de sílaba tônica (ex.: rasse, reise, garage), no alemão, são pronunciadas com o fonema . A fricativa glotal surda do alemão só aparece em palavras iniciadas com a letra “h”, como em hatten, hütten. Os dados coletados mostraram uma incidência muito grande de desvios relacionados à produção sonora da fricativa glotal surda. Do nível básico ao avançado, existe a ocorrência muito constante de apagamentos e substituição das fricções. A fricativa glotal possui uma representação espectrográfica típica caracterizada pela ausência de periodicidade do sinal sonoro, constatando-se apenas uma imagem semelhante à de um ruído. 18 3.5. Apagamento do tap alveolar A dificuldade de se adquirir as habilidades para a pronúncia do tap alveolar para um falante nativo já implica em um esforço considerável em relação ao de absorver os outros fonemas, já que, segundo Lamprecht (op. cit. apud STEIN, 2011b), é uma das últimas a ser aprendida pelo falante. No PB, o tap alveolar aparece, regularmente, em posição intervocálica ou em encontros consonantais, exceto em alguns lugares específicos do sul do Brasil, em que aparecem em posição de coda (CALLOU & LEITE, 2000). O tap alveolar não integra o sistema fonológico do alemão e, valendo-se disso, os teutofalantes aprendizes de PLE, ao se deparar com esse fonema, empregam diversas estratégias, que em nossas análises identificamos como: a substituição pela fricativa glotal surda, o apagamento, a lateralização ou a substituição por um trill. Acusticamente, o tap alveolar intervocálico caracteriza-se por um filete bem claro devido à oclusão, em relação às vogais. 3.6. Velarização da lateral palatal As consoantes laterais distinguem-se por uma oclusão em algum ponto ao longo da linha médio-sagital do trato vocal em que a passagem de ar seja liberada de um lado ou em ambos os lados dessa oclusão. Ocorre para articulação de uma consoante lateral palatal um contato entre o dorso da língua e o palato duro (STEIN, 2011a). No sistema fonológico do alemão, não há a presença da aproximante lateral palatal, e, portanto, alguns aprendizes se utilizam de alguns mecanismos articulatórios. Diante de uma palavra como “alho” – – usará de estratégias que lhe são articulatoriamente permitidas, como o uso de uma lateral alveolar ; ou uma velarização, como . É certo que nem sempre será realizada como deve, no PB, pois os falantes nativos empregam outras formas a fim de torná-la mais fácil de gesticular. No PB, também se pronuncia como e/ou . 19 4. EXERCÍCIOS APLICADOS A TEUTOFALANTES APRENDIZES DE PLE Com base nos estudos realizados e nos desvios detectados, com a ajuda da fonética acústico-articulatória, foram elaborados alguns exercícios que ofereceram uma maior facilidade na pronúncia de alguns desvios detectados com maior número de ocorrência em teutofalantes aprendizes de PLE, os quais veremos a seguir: 4.1. Exercícios para a não-aspiração em Os exercícios para a não-aspiração emforam realizados em dias diferentes. 4.1.1. Exercícios para a não-aspiração em a) A primeira etapa consistiu-se em um exercício articulatório, em que os alunos deveriam comprimir os lábios e soprar com força a letra “p”, por várias vezes. Em seguida, ininterruptamente, os alunos deveriam pronunciar a letra “p” aliada às vogais do PB (ex.: pa - pe – pi – po – pu); b) logo após o exercício articulatório, foram estipuladas outras três etapas: a primeira se estabeleceu uma sequência de palavras, cujo “p” estava em posição inicial de palavra ou em posição intervocálica (ex.: pato; capote), em diferentes ambientes vocálicos; na segunda e na terceira etapa, estipulou-se uma sequência de até cinco frases que variaram gradativamente em número de fonemas (ex.: A pata comeu o pote de cupuaçu). 4.1.2. Exercícios para a não-aspiração em a) Para , seguiu-se o procedimento parecido ao de , só que, desta vez, pediu-se ao aluno para que, com a língua relaxada, posicionasse-a atrás dos dentes superiores e, em 20 seguida, abrisse e fechasse a boca, de forma que a língua voltasse para trás dos dentes superiores, sem que fosse emitido som. A partir do último exercício, os alunos deveriam emitir o som de , seguido das vogais (ex.: ta – te – ti - to – tu); b) após o exercício acima, fez-se uma associação da palavra “station”, em alemão, e “estação”, em português, para que se percebesse que, em ambas as línguas, nesse ambiente fonológico, não existe aspiração e que é pronunciado com a mesma intensidade tal como na sua língua, mas que se aplica, no PB, quando “t” vier em posição inicial de palavra, ou em posição intervocálica, ou, até mesmo, em encontros consonantais. Segundo Kholer (1999), a aspiração não ocorre quando as oclusivas sonoras são antecedidas por uma fricativa ou seguidas por uma consoante nasal; c) aplicou-se um exercício prático para fixação, com dois graus de dificuldade, estipulado através da quantidade de palavras em que o ocorresse em diferentes ambientes fonológicos, podendo chegar até quatro palavras numa mesma frase (ex.: O tatu comeu batata e patê). 4.1.3. Exercícios para a não-aspiração em a) Aplicou-se um exercício articulatório para o reconhecimento da pronúncia de . O aluno deveria colocar o dorso da língua no palato duro (céu da boca), e, em seguida faria a abertura e o fechamento da boca, de forma que o dorso da língua sempre fosse de encontro ao palato duro. Para treinar o movimento, pediu-se ao aluno que pronunciasse a sequência “ca – que – qui – co – cu”; b) foram aplicados, em seguida, os mesmos procedimentos dos exercícios de fixação anteriormente descritos, com palavras (ex.: casa, buquê, caqui) e, posteriormente, frases foneticamente balanceadas, com grau de dificuldade variando em número de fonemas (ex.: O coco e o caqui são de Cuba). 4.2. Exercícios para o não-desvozeamento em 21 a) Apresentou-se uma tabela de pares correlatos, com o intuito de que o aluno percebesse a diferença de pronunciação entre um som vozeado, , e o desvozeado, , (ex.: tia/dia; tato/dado); b) logo após, foram sugeridos alguns exercícios de fixação, que, desta vez, consistiram-se em apenas frases que variavam em grau de dificuldade de números de fonemas em que o ocorresse em ambientes fonológicos variados. 4.3. Exercícios para o não-desvozeamento em a) Exercício articulatório em que os estudantes deveriam posicionar a língua próxima a região acima dos dentes superiores (região alveolar) e, lentamente, deveriam soprar o ar dos pulmões, o que os faria produzir o som de (fricativa alveolar surda). Em seguida, pediu-se que os alunos juntassem a consoante “s” à vogal “a”, produzindo “sa – sa – sa – sa – sa – sa”, assim, várias vezes. Esse exercício permitiu que eles percebessem que estão pronunciando uma consoante que não possui nenhuma vibração das cordas vocais, apenas um sopro. Agora, os alunos deveriam fazer o mesmo procedimento articulatório para a produção do som de , mas que tentassem produzir o som que se assemelha ao que as abelhas produzem (azoino). Neste momento, alertou-se ao aluno que o som produzido é semelhante ao da fricativa alveolar sonora. b) num segundo momento, fez-se a comparação de uma palavra do alemão com uma do português brasileiro em que houvesse a consoante fricativa alveolar sonora (ex.: reise (viajar) – rezar). Essa comparação permitiu reforçar de como se deve pronunciar corretamente. c) por último, foram aplicados exercícios de fixação. Neste, é necessário que o professor explique quando “s” terá som de “z” e quando o próprio “z” terá som de fricativa alveolar surda . A primeira etapa constituiu-se de palavras em que “s” e “z” aparecessem em posição intervocálica ou em início de frase e, obviamente, tivessem som de [z]. A segunda etapa constituiu-se de frases já com, pelo menos, duas palavras com o fonema alvo, que vão aumentando até quatro, gradativamente. 22 4.4. Exercícios para a conscientização do posicionamento de a) Salientou-se que a pronuncia desse fonema equivale ao “r” do PB em posição inicial ou em posição final de sílaba e, também, ao dígrafo “rr” e exemplificou-se. Nesse momento, pediu-se para fazer uma comparação entre palavras do português e do alemão como “rato” e “hatten”, cujas pronúncias de “r” (em “rato”) e “h” (em “hatten”) são equivalentes ao mesmo fonema. b) foi feita a aplicação dos exercícios para o aprimoramento vocálico, que se consistiram em: (1) posicionar a língua atrás dos dentes inferiores, pressionando-a; (2) pronunciar a palavra “bar”, sem retirar a língua detrás dos dentes inferiores; (3) relaxar a língua e, novamente, pronunciar a palavra “bar”, sem a necessidade de a língua permanecer, durante a pronúncia da palavra, atrás dos dentes inferiores (sendo interessante que se mude a palavra para “porta” ou qualquer outra em que “r” esteja em posição final ou inicial de sílaba tônica). c) aplicou-se o exercício prático de fixação com frases constituídas a partir de duas palavras do fonema em questão, aumentaram em até quatro, gradualmente (ex.: O arquétipo foi arrastado por Rute). 4.5. Exercícios para articulação apropriada do a) Primeiramente, fez-se a distinção entre os /R/ no PB com palavras parecidas ortograficamente, como “carro” e “caro”. Logo depois, conscientizou-se que o tepe alveolar é produzido quando o “r” estiver em posição intervocálica (ex.: parede) ou em encontros consonantais (ex.: prato). b) em seguida, foram aplicados os exercícios articulatórios que consistiram em quatro etapas: na primeira, dever-se-ia deixar os lábios relaxados e próximos, inspirar e soprar até que houvesse uma vibração dos lábios (esse movimento é similar ao que bebês produzem, que, no Brasil, chama-se “besourinho”); na segunda etapa, pediu-se que os alunos produzissem o som de “la - la - la - la - la - la”, aumentando a velocidade gradualmente; na terceira etapa, pediu-se que colocassem a língua atrás dos dentes superiores ou, até mesmo, 23 no palato duro, até que fosse realizada uma vibração da língua; e, por fim, na quarta etapa, pediu-se que fosse produzido o som de “ra – ra – ra – ra – ra - ra”, paulatinamente. c) aplicou-se um exercício de fixação com três graus de dificuldade, estipulado através da quantidade de palavras em que o tepe alveolar ocorresse, chegando até quatro palavras numa mesma frase (ex.: A parede da garagem é preta). 4.6. Exercícios para a não-velarização em a) Aplicação de exercício que visou o aprimoramento articulatório, ao qual foi solicitada a pronúncia da palavra “alio”, o aluno deveria por a língua encostando-a um pouco acima dos dentes superiores. Em seguida, pediu-se para que se posicionasse o dorso da língua no palato duro e pronunciasse a palavra “alio” novamente. Por fim, seguindo as orientações anteriores, repetiu-se a palavra “alio” cinco vezes consecutivas, afim de que o falante chegasse à pronúncia de “alho”. b) utilizou-se de dois exercícios práticos para fixação, constituídos de cinco frases, em que o nível de dificuldade variou de uma (ex.: A folha verde caiu) até duas (ex.: O palhaço joga bilhar). 24 5. RESULTADOS As gravações para coleta de dados foram realizadas em três etapas: pré-intervenção (gravação feita antes de os alunos terem qualquer contato com as aulas de aprimoramento articulatório), durante a intervenção (gravação feita durante as aulas de aprimoramento articulatório) e pós-intervenção (gravação realizada depois de todas as aulas de aprimoramento articulatório terem sido realizadas). Essa divisão permitiu que fossem comparados os problemas particulares existentes em cada um dos informantes antes, durante e depois das aulas. A coleta foi realizada com quatro estudantes cuja língua nativa era o alemão, do gênero feminino, sendo duas de nível intermediário e duas do nível avançado em português. De acordo com a tabela 1, os exercícios aplicados às informantes alemãs1 obtiveram resultados bastante satisfatórios, em relação à primeira gravação e à última. Os erros diminuíram em até 100% (cem por cento). É válido observar que a informante IntA (intermediário A) não apresentou nenhum problema articulatório com o fonema em nenhuma das palavras analisadas acusticamente. Fone: Nº de Palavras 21 Gravação Erros (E) /Acertos (A) Pré-intervenção E A Durante a intervenção E A Pós-intervenção E A IntA 0 (0%) 21(100%) 0 (0%) 21(100%) 0 (0%) 21 (100%) IntB 8 (39%) 13 (61%) 0 (0%) 21(100%) 1 (4%) 20 (96%) AvA 3 (14%) 18 (86%) 4 (19%) 17 (81%) 0 (0%) 21 (100%) AvB 5 (23%) 16 (77%) 12 (58%) 9 (42%) 0 (0%) 21 (100%) Tabela 1: Resultado dos exercícios articulatórios para a não-aspiração da consoante oclusiva bilabial surda, somando as três coletas de dados realizadas. 1 Entenda-se por estudantes de nacionalidade alemã, cuja língua nativa também é o alemão; teutofalantes. 25 A tabela 2 apresenta os resultados dos exercícios para a não-aspiração consoante oclusiva alveolar surda. As informantes IntA e IntB (intermediário B) obtiveram os melhores resultados, com cerca de 95% (por cento) de acertos, das 21 palavras, entre a primeira e a última gravação. A informante AvA (avançado A) permaneceu com o número de erros e acertos, em relação entre as gravações pré e pós-intervenção. Apenas a informante AvB (avançado B) não apresentou grau de evolução entre as gravações. Fone: Nº de Palavras Gravação Erros (E) /Acertos (A) 21 Pré-intervenção E Durante a intervenção A Pós-intervenção E A E A IntA 7 (33%) 14 (66%) 9 (43%) 12 (57%) 3 (14%) 18 (86%) IntB 11 (53%) 10 (47%) 8 (39%) 13 (61%) 3 (14%) 18 (86%) AvA 3 (14%) 18 (86%) 4 (19%) 17 (81%) 3 (14%) 18 (86%) AvB 11 (53%) 10 (47%) 12 (58%) 9 (42%) 11 (53%) 10 (47%) Tabela 2: Resultado dos exercícios articulatórios para a não-aspiração da consoante oclusiva alveolar surda, somando as três coletas de dados realizadas. Para a não-aspiração em oclusivas velares surdas, os resultados obtidos mostram-se satisfatórios, como é possível observar na tabela 3. Todas as informantes obtiveram um resultado adequado em suas pronúncias, comparando-se a primeira e a última coleta de dados. A informante IntA foi quem mais evoluiu, saindo de 33%, na primeira coleta de dados, para 81% de acertos, na última coleta. 26 Fone: Nº de Palavras Gravação Erros (E) /Acertos (A) 21 Pré-intervenção E A Durante a intervenção Pós-intervenção E A E A IntA 14 (66%) 7 (33%) 3 (14%) 18 (86%) 4 (19%) 17 (81%) IntB 9 (42%) 12 (58%) 4 (19%) 17 (81%) 5 (23%) 16 (77%) AvA 8 (39%) 13 (61%) 6 (29%) 15 (71%) 2 (9%) 19 (91%) AvB 15 (71%) 6 (29%) 16 (77%) 5 (23%) 5 (23%) 16 (77%) Tabela 3: Resultado dos exercícios articulatórios para a não-aspiração da consoante oclusiva velar surda, somando as três coletas de dados realizadas. A tabela 4 abaixo mostra os resultados dos exercícios articulatórios aplicados para o não-desvozeamento da consoante oclusiva alveolar sonora. Como é possível observar, apenas a informante AvA não obteve melhoria na pronúncia de . Todas as outras informantes tiveram resultados satisfatórios que vão de ≅ 76% até ≅ 95% de acertos. Fone: Nº de Palavras Gravação Erros (E) /Acertos (A) 21 Pré-intervenção E A Durante a intervenção E A Pós-intervenção E A IntA 7 (33%) 14 (66%) 15 (71%) 6 (29%) 1 (4%) 20 (96%) IntB 9 (42%) 12 (58%) 2 (9%) 19 (91%) 2 (9%) 19 (91%) AvA 10 (47%) 11 (53%) 7 (33%) 14 (66%) 13 (61%) 8 (39%) AvB 18 (86%) 14 (66%) 7 (33%) 3 (14%) 7 (33%) 14 (66%) Tabela 4: Soma dos resultados das três coletas de dados realizadas para o não-desvozeamento da consoante oclusiva alveolar sonora. 27 Na tabela 5, verificamos que, nos exercícios para o não-desvozemento da consoante fricativa alveolar sonora, apenas a informante AvA não apresentou uma melhora satisfatória em relação à primeira e à última coleta de dados. Todas as demais chegaram a um nível de aproximadamente ≅ 95% (por cento) de acertos. Fone: Nº de Palavras Gravação Erros (E) /Acertos (A) 21 Pré-intervenção Durante a intervenção Pós-intervenção E A E A E A IntA 20 (96%) 1 (4%) 5 (23%) 16 (77%) 1 (4%) 20 (96%) IntB 13 (61%) 8 (39%) 7 (33%) 14 (66%) 2 (9%) 19 (91%) AvA 15 (71%) 6 (29%) 13 (61%) 8 (39%) 13 (61%) 8 (39%) AvB 15 (71%) 6 (29%) 12 (58%) 9 (42%) 7 (33%) 14 (66%) Tabela 5: Resultado dos exercícios articulatórios para a não-desvozeamento da consoante fricativa alveolar sonora, somando as três coletas de dados realizadas. Com exceção da informante IntB, que não conseguiu adequar o ponto e modo de articulação do tap alveolar, e das informantes IntA e AvB, que não apresentaram nenhum problema articulatório com a consoante, a informante AvA conseguiu diminuir gradativamente em número de erros, passando de ≅ 87% para 100% de acertos, em relação as gravações realizadas pré-intervenção e pós-intervenção. Possível observar os dados na tabela 6. 28 Fone: Nº de Palavras Gravação Erros (E) /Acertos (A) 14 Pré-intervenção Durante a intervenção Pós-intervenção E A E A E A IntA 0 (0%) 14(100%) 0 (0%) 14(100%) 0 (0%) 14 (100%) IntB 14(100%) 0(0%) 13(92%) 1 (8%) 14(100%) 0 (0%) AvA 2 (15%) 12 (85%) 1 (8%) 13 (92%) 0 (0%) 14 (100%) AvB 0 (0%) 14(100%) 0 (0%) 14(100%) 0 (0%) 14 (100%) Tabela 6: Resultados dos exercícios de aprimoramento articulatório para a adequação correta do ponto e modo do tap alveolar, somando as três coletas de dados realizadas. Na tabela 7, é possível observar os resultados de adequação do ponto e modo de articulação da fricativa glotal surda. A informante AvB obteve maior eficácia em sua pronúncia, em relação a coleta de dados de pré-intervenção e pós-intervenção, chegando a 100% em número de acertos. A informante IntA regrediu em número de acertos em relação à primeira gravação realizada, passando de 95% de acertos para 80%. A informante AvA melhorou em número de acertos, passando de 45% para 60%, o que já apresenta uma melhora aceitável. Apenas a informante IntB continuou sem apresentar problemas desde a coleta realizada pré-intervenção. 29 Fone: Nº de Palavras Gravação Erros (E) /Acertos (A) 20 Pré-intervenção Durante a intervenção Pós-intervenção E A E A E A IntA 1 (5%) 19 (95%) 4 (20%) 16 (80%) 4 (20%) 16 (80%) IntB 0 (0%) 20(100%) 0 (0%) 20(100%) 0 (0%) 20 (100%) AvA 13 (55%) 9 (45%) 12 (60%) 8 (40%) 8 (40%) 12 (60%) AvB 3 (15%) 17 (85%) 2 (10%) 18 (90%) 0 (0%) 20 (100%) Tabela 7: Resultados dos exercícios de aprimoramento articulatório para o melhoramento do posicionamento articulatório em fricativas glotais surdas, somando as três coletas de dados realizadas. É possível observar resultados bastante satisfatórios quanto aos exercícios realizados para a não-anteriorização da consoante lateral palatal. Todas as informantes obtiveram um grande desenvolvimento de pronúncia dessas consoantes, que saíram de ≅ 33% para 100% de acertos. Fone: Nº de Palavras Gravação Erros (E) /Acertos (A) 15 Pré-intervenção E A Durante a intervenção E A Pós-intervenção E A IntA 8 (54%) 7 (46%) 4 (27%) 11 (73%) 5 (33%) 10 (66%) IntB 6 (40%) 9 (60%) 1 (7%) 14 (93%) 0 (0%) 15 (100%) AvA 10 (77%) 5 (33%) 6 (40%) 9 (60%) 2 (14%) 13 (86%) AvB 9 (60%) 6 (40%) 9 (60%) 2 (14%) 13 (86%) 6 (40%) Tabela 8: Resultados dos exercícios para não-anteriorização da consoante lateral palatal, somando as três coletas de dados realizadas. 30 Ao observarmos os dados coletados, é perceptível o grau de evolução na fala das informantes. Os dados do anexo 2 mostram que houve melhoras que chegaram a até 100%, nas gravações pós-intervenção, o que demonstra que é sim possível que um falante aprendiz de português consiga desenvolver um grau de excelência em sua pronúncia. Também é possível observar que algumas informantes, em algumas determinadas consoantes, não obtiveram melhoras e se enquadraram em um caso particular de estacionamento, ou seja, mesmo com as aulas de aprimoramento consonantal, essas informantes não conseguiram sequer diminuir as ocorrências de problemas nas consoantes em questão. Outras, ao invés de progredir, regrediram; caso particular de apenas uma informante, a IntA, para a consoante fricativa glotal surda. Em suma, o anexo 2 retrata quatro tipos de casos particulares distintos: o primeiro é o de evolução, em que as informantes, na maioria das vezes, conseguiram obter números de acertos em grau de excelência, assim tornando suas pronúncias efetivas; o segundo é o de estacionamento, com apenas duas ocorrências, em que a informante manteve seu número de erros ou acertos igual entre a pré-intervenção e pós-intervenção; o terceiro é o de regressão, em que o informante não conseguiu progredir em número de acertos, ao contrário, regrediu; o quarto e último caso é o de constância, em que a informante não apresentou nenhum erro entre a primeira e a última gravação. 31 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A fonética acústico-articulatória é uma forte aliada ao ensino de PLE, face à possibilidade de se materializar os problemas que os aprendizes não conseguem perceber. A construção dos exercícios fonético-articulatórios, como os vistos no capítulo 4, ainda que modestos, surtiram resultados satisfatórios, na medida em que se conseguiu elevar as pronúncias da maioria das informantes alemãs, para quase todos os fones, a níveis de excelência. Esses exercícios são um exemplo de como a fonética acústico-articulatória pode auxiliar os professores de PLE no ensino da pronúncia em sala de aula. Os exercícios podem ser aproveitados, além do alemão, para muitas outras línguas, como o francês, o espanhol e o inglês, por possuírem problemas similares ou iguais, o que é bastante vantajoso para os professores de PLE, por quase nunca haver homogeneidade nessas salas de aula. Segundo Lima Jr (2010), resultados positivos têm sido obtidos com a realização de, pelo menos, 15 minutos de ensino explícito da pronúncia em sala de aula. Dutra (2008) também ressalta a dedicação de pelo menos 10% da carga horária total dos cursos de L2 ao ensino da pronúncia, com atividades específicas para os alunos, que, tendo uma maior reflexão de como os fonemas são articulados, podem desfrutar de resultados efetivos em um curto espaço de tempo. É necessário que se leve em consideração a disposição e disciplina do aluno em aprender como realmente são articulados os fones na língua alvo e a sua conscientização de praticar nos diálogos cotidianos na L2, a fim de que a articulação desses fonemas seja automatizada. 32 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOERSMA, P.; WEENINK, D. Praat: doing phonetics by computer (Versão 4.5.01) [Programa computacional]. 2006. Disponível em: <http://www.praat.org/>. CALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000. DUTRA, A. Aquisição do português como língua estrangeira: fenômenos de variações no âmbito fonológico. 2008. 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A pipa engalhou nas pólas e no cipó do ipê. A pata comeu o pote de cupu? O tupi papudo achou o apito, o sapato e o capô. O pêlo adiposo deixa a pele oleosa? Na capela tinha o rodapé e o capote puro. O tatu comeu batata e patê. Tico mora em um aterro matoso. Até o teto em Parati é feito de telha. Enquanto o tolo tirava catota o catita tocava bateria. O manitô usou uma toca e um paletó para fazer batuque. A tábua e o tubo servem como instrumentos em Gravatá. Jogamos croqué com uma raquete. O coco e o caqui são de Cuba. Cacá, o periquito, fez cocô no chão. O cabo trouxe numa sacola um quilo de queijo e de abricó. Foi sacado dez reais para comprar o baiacu. No acume do acomodo tinha uma queda d’água. O código de entrada era a baqueta, o buquê. O idoso joga com um dado cedido. Cadê a dúvida sobre o vodu? O doce de jaborandi veio na dose certa. O abadá ainda estava no cadáver. Adote uma cadela, ganhe uma dívida. José colocou o dedo no adubo. O cadete comprou um canindé da década passada. A Julia do judô tem borogodó. A bazuca era gasosa. Hoje, a zaga estava uma zorra. O munguzá de vovó está azedo. O zelo do casebre grise é nota zero. O zíper do casado estava aberto. O zote tem o zurro de um jumento. A visita do curuzu causou frenesi. O chipanzé causou um abrazô no casório do Bozó. O birô que compramos foi barato. Comemos cará, purê e farofa no jantar. O garoto careca de Mossoró bateu a cabeça na parede. A tartaruga foi ferida com um bisturi e, também, o canguru e o jacaré. Mamãe pediu para eu agarrar o rato. Na barriga do guirri tinha uma verruga. 35 Tio Sérgio levou o serrote, o marreco e o rodo embora. O pierrô do cerrado dançou forró comendo um delicioso carrê. O irré pousou na roda da carreta do rude Seu Barroso. Reto na riba do rio não se pode pisar fora do rego. Não entendi lhufas do que a lhama falou. O orelhudo encontra-se ilhado. Foi trabalhoso, mas colhi as cenouras. O versalhês está cheio de pilhéria. Ajoelhar e dar cambalhota é impossível na velhice. Ajoelhou no ilhó e, cheio de lheguelhé, leu o bilhete. Anexo 1: Lista das frases utilizadas para as coletas de dados. As palavras em negrito foram utilizadas para a formação do corpus. 36 Fone Número de Palavras 21 21 21 21 21 14 20 15 Gravação 1ª 3ª 1ª 3ª 1ª 3ª 1ª 3ª 1ª 3ª 1ª 3ª 1ª 3ª 1ª 3ª IntA 100% 100% 66% 86% 33% 81% 66% 96% 4% 96% 100% 100% 95% 80% 46% 66% IntB 61% 96% 47% 86% 58% 77% 58% 91% 39% 91% 0% 0% 100% 100% 60% 100% AvaA 86% 100% 86% 86% 61% 91% 53% 39% 29% 39% 85% 100% 45% 60% 33% 86% AvaB 77% 100% 47% 47% 29% 77% 14% 66% 29% 66% 100% 100% 85% 100% 40% 86% Anexo 2: Análise comparativa com o percentual de acertos nas coletas de dados de pré-intervenção (1ª) e pós-intervenção (3ª). 37 38