Nós, taxonomistas: por que demoramos tanto?
Daniell R. R. Fernandes
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Laboratório de Sistemática e Ecologia de
Invertebrados do Solo, Manaus, AM, Brasil. Email: [email protected]
Uma das perguntas que um taxonomista mais escuta em sua carreira é “por que
você demora tanto?”. De fato, a taxonomia não é uma ciência rápida, na qual um
olhar superficial sobre o organismo já nos leva a uma resposta. Por trás desse
contexto há uma série de questões envolvidas, uma das principais é a
responsabilidade na identificação do táxon. Em geral, o material recebido por nós
é proveniente de coleta em hospedeiro, coleta em armadilhas, coleta esporádica e
material proveniente de coleção entomológica ou museu. Entretanto, uma série de
entraves prejudica uma rápida resposta ao solicitante. Entre eles: a) falta de
material que auxilie a identificação do táxon, já que vários grupos não possuem
chaves de identificação atualizadas e a descrição das espécies em vários casos é
precária (com descrições antigas, curtas e com pouca informação); b) grupo alvo
do especialista (muitas vezes o taxonomista recebe material de outros grupos
(famílias, subfamílias ou gêneros para os quais não possui aptidão para a
identificação); c) falta de tempo do especialista (o taxonomista também se dedica
aos seus trabalhos particulares, outras identificações, orientações (em caso de
docentes), elaboração de dissertações e teses (em caso de alunos de pósgraduação), família, etc.). Como exemplo do quão demorada é esta tarefa, foi a
elaboração da tese intitulada “Fauna de Ichneumonidae (Hymenoptera:
Ichneumonoidea) em um agroecossistema cafeeiro no Estado de São Paulo”, com
objetivo de verificar a biodiversidade de grupo neste agroecossistema, com uso
de armadilhas. A triagem do material começou ainda durante o mestrado (20072009), com a separação dos Hymenoptera e posteriormente dos Ichneumonidae.
Já no doutorado (2009-2012) com os insetos devidamente montados, deu-se
inicio as identificações. Primeiramente em nível de subfamília (16 subfamílias),
onde seis destas foram enviadas para outros especialistas. Posteriormente foi
realizada a identificação genérica e por fim específica. Apenas 34% deste material
puderam ser identificados em nível de espécie. Os motivos para este fato foram
os mencionados anteriormente. Nesse contexto, a atividade do taxonomista é
muitas vezes árdua, pouco reconhecida e não remunerada. Para solucionar esse
quadro, e diminuir o tempo de resposta, várias ações devem ser repensadas e
discutidas a fim de manter um meio termo entre nosso trabalho e a resposta ao
solicitante.
Palavras-chave: biodiversidade, parasitoide, taxonomia.
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