A GESTÃO CENTRADA NOS RESULTADOS
UM INSTRUMENTO DE TRABALHO, UM INSTRUMENTO DE DIÁLOGO.
AS IDEIAS CHAVES DA GESTÃO CENTRADA NOS RESULTADOS.(GAR).
“A gestão consiste em se organizar em função de um objetivo”
Joan Magretta, What Management Is, 2002
Faz alguns anos Desenvolvimento e Paz adotou um novo método de planejamento e gestão – a gestão
orientada pelos resultados - como ferramenta metodológica para concretizar sua escolha de trabalhar
dentro do quadro do programa “approche programa”. Estas decisões estratégicas visavam assegurar
uma qualidade melhor e um maior impacto ao nosso trabalho de solidariedade internacional e apoio
financeiro aos nossos parceiros, reforçar e aprofundar nossos laços e nosso diálogo com estes parceiros
e manifestar uma maior transparência e melhor prestação de contas (“imputabilidade”).
O Serviço dos programas de desenvolvimento, principal responsável do programa de apoio financeiro
aos nossos parceiros do Sul, utiliza desde já esta ferramenta.
É Essencial que tenhamos uma compreensão comum deste método de planejamento e gestão.
Queremos começar um diálogo com os parceiros sobre este método pare melhor esclarecer a base dos
nossos laços de solidariedade e facilitar nossos intercâmbios.
Neste documento, estamos apresentando nossa compreensão da gestão orientada pelos resultados e
de que maneira nós a vamos utilizar para que sirva a melhorar a qualidade do nosso trabalho e diálogo
com os nossos parceiros.
Para que o GAR nos seja útil, temos que entender seu espírito, suas idéias chaves, seus principais
mecanismos bem como seus limites.
Sobretudo, temos que adaptá-lo à nossa leitura do mundo e as nossas necessidades.
ROTEIRO DO DOCUMENTO
1) Origina, objetivo e cultura do GAR.
2) Perguntas difíceis mais cruciais.
3) O GAR e o programa de aproximação
4) Idéias chaves do GAR
5) Aprofundamento e refino da noção d resultados
6) Indicadores, como os escolher?
7) Benefícios do GAR na experiência do DP.
8) Dificuldades e desafios do GAR
9) O diálogo com os parceiros
Anexo: o ciclo da programação.
1- ORIGINA, OBJETIVO E CULTURA DO GAR.
______________________________________
O GAR utilizado com flexibilidade, no espírito da solidariedade internacional que anima DP é uma
ferramenta de trabalho poderosa e eficaz.
Mas se nós não o animamos da missão própria da DP o GAR pode se transformar numa fonte de trágico
desvio.
Nosso convívio com o método e a nossa apropriação dele no quadro da nossa visão própria é utilizá-lo
para melhorar a qualidade do nosso trabalho de solidariedade e diálogo com os nossos parceiros.
O GAR instrumento de trabalho e de diálogo
SPD – Développement et Paix
Junho 2004.
1
O GAR nasceu no quadro do que se chamou o “nouveau management” (nova gestão), em voga no setor
privado, nos anos 1950 e adotado um pouco cegamente pelo setor público (“O estado bem governado é
gerido como uma empresa”) Neste ambiente o GAR acentua a produtividade, a excelência, os
resultados, a eficaz, a delegação de poder e responsabilidades, a imputabilidade (prestação de contas)
etc.
Não é necessário rejeitar todos estes conceitos. Mas na sua primeira intenção eles estavam colocados
ao serviço de uma cultura empresarial e neoliberal. O estado era visto como uma empresa privada, um
fornecedor de serviços que subaluga suas tarefas, mas também sua imputabilidade política, os
programas e os serviços devem cobrir suas despesas, os cidadãos transformam-se em clientes e os
mais ricos tem acesso privilegiado aos melhores serviços etc. Fala-se a profusão de “reengenharia do
estado”, de PPP (parceria setor público – setor privado) de “imputabilidade” (outsourcing) de contrato
de imputabilidade.
Esta visão esta cultura e este entendimento não são os de DP.
No entanto, o GAR apresenta dois grandes benefícios:

Ele orienta o planejamento sobre os resultados quer dizer para nós sobre o
desenvolvimento, entendido como mudanças sociais no sentido amplo
(econômicas, sociais, políticas, culturais) que queremos instaurar na
sociedade.Ele nos força a nomear explicitamente sob forma de resultados
esperados ou vislumbrados, as mudanças que a nossa ação pretende atingir e
elaborar o plano estratégico em função da busca e realização destes
resultados/mudanças sociais.

Ele tem também as vantagens de qualquer método sistemático: rigor,
profundidade, eficaz, vantagens, conseguidos ao preço de bastante esforço.
Estas vantagens e benefícios são a nossa justificativa em adotar o GAR, todavia com duas observações:
2-

Se a gente não adaptar o GAR à natureza específica do nosso trabalho, se não
injetamos no seu vocabulário nossa visão, ai será o GAR que nos penetrará de
sua cultura, e nos levará num desvio bem longe do nosso destino e objetivos
próprios. Ou conseguimos domesticar o GAR ou ele nos escravizará.

O GAR não é a nova técnica milagre do desenvolvimento.Por um lado, já
trabalhávamos antes do GAR, e bem O GAR é fecundo co prolongamento e
aperfeiçoamento do nosso acumulado e nossa identidade. Por outro lado o GAR
é uma ferramenta e estas duas palavras tem sua importância: ele é uma
ferramenta entre outras e é somente isso: uma ferramenta.
PERGUNTAS DIFÍCEIS, MAS CRUCIAIS.
O GAR não é uma simples técnica ou receita de programação Ele “informa” nosso trabalho quer
dizer ele o estrutura.
Por isso, as questões determinantes não são de ordem técnica, mas estratégica.
Qual é nosso projeto, nossa finalidade?
Qual é a nossa analise e leitura da realidade de hoje.
Que mudanças ou resultados queremos produzir?
Quem vai definir os resultados ou mudanças a atingir?
Quais vão ser as nossas estratégias básicas para almejar os resultados planejados?
Quem define estas estratégias?
Como vamos saber que estamos na boa direção?
Como saberemos que temos atingido os resultados procurados?
Havemos de sempre ter presentes estas preocupações quando abordaremos as noções chaves
do CAR e ainda mais quando o utilizaremos para organizar nosso trabalho.
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3- O GAR e O PROGRAMA DE APPROACH
___________________________________________
O GAR e o programa de aproximação completam-se e encontram-se nos esforços feitos por
DP, já ha vários anos, para melhorar a qualidade e a eficácia do seu trabalho de solidariedade
e desenvolvimento.
O projeto de aproximação consistia em apoiar projetos mais ou menos justapostos, em função
de vários critérios de seleção, através dos quais o utilizador tinha traduzido sua visão de
desenvolvimento.
Este programa insiste na integração dos esforços e ações numa ou mais estratégias de
conjunto, no quadro de um planejamento global e coordenado a fim de realizar várias
mudanças sociais consideradas como a maneira mais em acordo com a concretização da
missão e visão de DP no contexto mundial atual.
Da parte da DP o programa de aproximação não rejeita o apoio à projetos, mas estes devem
estar ligados às estratégias de mudanças estruturais apontadas por DP num pais,ou numa
região ou um determinado setor.
Do lado dos parceiros, os projetos ou programas concretamente apoiados por DP têm que se
inserir em ações ou movimentos globais (nacionais, regionais, continentais ou mundiais.) que
tenham possibilidade de realizar de maneira eficaz as estratégias escolhidas pela DP.
Neste quadro, as iniciativas de DP e as dos seus parceiros não serão utilizadas nem por DP,
nem pelos parceiros a favor delas mesmas.Pelo contrário, elas se atraem feitas imã,
sustentam-se uma a outra, entram em interação e trabalham em sinergia elas escolhem o
sustento mutuo, porque elas tem a mesma análise e a mesma visão, porque elas partilham os
mesmos objetivos e as mesmas estratégias.
O programa de aproximação permite situar os projetos e programas dentro de uma rede
integrada de alianças baseadas numa visão estratégica global e nas mudanças estruturais
necessárias para induzir a participação das pessoas, das comunidades, como atores na sua
própria historia de desenvolvimento, em solidariedade uns com os outros.
O GAR aparece, então como o instrumento que tire o programa de aproximação do domínio
dos sonhos e das pias intenções para colocá-lo na realidade da ação organizada, eficaz e
mensurável, quer dizer realmente avaliável e avaliada.
IDEIAS CHAVES DO GAR.
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O quadro a seguir presente as idéias chaves do GAR tais quais adaptadas por DP para suas
necessidades.
IDEIAS CHAVES
Resultados
um resultado é uma
mudança produzido
nas nossas condições
de vida,ou nas
condições de vida da
sociedade.
Realidades novas que
melhoram a nossa
sorte e a das nossas
irmãs e irmãos
humanos.
COMENTÀRIOS
Em que, esta noção de resultado distingue o GAR de métodos anteriores?
Estas colocam o acento nas atividades realizadas, nas energias gastas e
nos esforços utilizados na ação.
O GAR coloca o acento nos resultados, quer dizer nos produtos da nossa
ação e nossos esforços e seu impacto.
Entre uma agencia de financiamento e os responsáveis de um
programa/projeto, existe um entendimento (implícito ou explicito) pelo
qual o grupo compromete-se a realizar o que a agencia apóia
financeiramente.No GAR, este acordo será sobre os resultados e a
contribuição necessária das duas partes para alcançá-los. No momento
do planejamento, trata-se de resultados esperados.(procurados,
desejados).; no momento da avaliação e do relatório trata-se de
resultados atingidos ou realizados.
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O GAR coloca o acento sobre os resultados esperados, mas a evolução
das sociedades, às vezes é imprevisível.
E existe, às vezes, tanto resultado inesperado quanto de esperados. As
vezes nossa ação produz resultados que nós não queríamos ou que não
esperamos, podem ser positivos ou negativos. Precisa prestar atenção a
eles. É necessário acompanhar estes dois tipos de resultados.
Indicadores de
produção
(rendimento)
Um indicador é um meio de medir, olhando do ponto de vista da
qualidade, quantidade, e oportunidade os resultados realmente atingidos
na ação,comparando com os resultados esperados na hora do
planejamento.
1) Os indicadores são estados de fato, ou situações novas que indicam
que um resultado ou mudança esperada aconteceu.
Exemplo:
* Resultado esperado: os canadenses e as canadenses
entendem melhor a interdependia dos povos e a integram
conscientemente no seu modo de viver (solidariedade expressa em
termos concretos)
* Indicador qualitativo: as pessoas fazem gestos e ações de
solidariedade que não faziam antes (e podemos mostrar que isto é o
resultado da nossa ação; ver mais adiante imputabilidade e desempenho
(performance)
* Indicador quantitativo: a coleta de dinheiro aumentou de 10%;
10.000 pessoas a mais assinaram a petição.
Estes indicadores são formulados como fatos acontecidos.
2. É necessário identificar os indicadores desde o início, quando
começa um projeto ou um programa, em mesmo tempo que se está
definindo os resultados que eles vão ter que medir. Para isto deve se
descrever o estado atual que serve de ponto de partida, Deve-se
também identificar as fontes de informação a respeito dos indicadores.
Quem nos dirá, e como, se os indicadores foram realizados? Daí a
importância, entre outras coisas dos relatórios dos nossos parceiros, das
visitas no terreno bem preparadas e orientadas sobre os resultados e
indicadores.
3. O recolhimento da informação a respeito dos indicadores acontece de
maneira mais ou menos continua ele será sintetizado regularmente, e
não somente no fim do programa. O que exige um sistema de coleta dos
dados.
4. A avaliação e os relatórios tratam diretamente dos indicadores e
indiretamente dos resultados, de fato se os indicadores são realizados,
pode-se razoavelmente,deduzir que os resultados sonhados foram
atingidos. Daí a expressão “indicadores de rendimento”.
Note: o relatório comporte mais que os indicadores e resultados
esperados; ele trata também dos resultados inesperados, as novidades
aprendidas (o saber adquirido) as performances e as perspectivas de
futuro.
Cadeia
causalidade
de Este conceito é central no espírito de quem concebeu o GAR, mas ele não
tem lugar na visão e concepção de DP.
Utilizar o GAR em gestão de programa no espírito de quem o concebeu e
da maioria dos seus promotores e formadores consiste essencialmente á
determinar a cadeia de causalidade que leva de uma ação (um
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programa)a seus resultados esperados (produtos ,impacto social). Este
entendimento vem de uma concepção mecanicista, reducionista, mágica
da transformação das sociedades, da ação social, do desenvolvimento
dos povos, as vezes esta visão do desenvolvimento fica inconsciente nos
partidários do método na sua pureza e rigidez.
Mas para nós o desenvolvimento não é um encadeamento de causa a
efeito.Ele é uma dinâmica, um campo de forças, onde se confrontam
forças não só diversas e múltiplas, mas as vezes antagônicas. O
desenvolvimento é o resultado do jogo de muitas interseções cujas
várias escapam do nosso controle. Nossa ação consiste, na realidade a
reforçar ações ou atores sociais que trabalham pela dignidade humana, a
justiça social, os direitos humanos, a paz, a liberdade, a democracia!
GESTÃO
RISCOS
É a experiência e não a ideologia que ensina (saber adquirido) quais são
as alavancas da ação (forças, atores sociais etc.) capazes de influir de
maneira eficaz no percurso do desenvolvimento.
DOS Uma visão dinâmica do desenvolvimento reforça a noção e a prática da
gestão de riscos. Os resultados não estão garantidos, porque não existe
uma cadeia de causalidade linear na evolução das sociedades. Existe
riscos (possibilidades) que os resultados esperados não aconteçam. Estes
riscos são, na realidade condições naturais desfavoráveis ou ações de
outros atores sociais que tentam influenciar o andamento dos
acontecimentos para que eles caminhem numa outra direção.
IMPUTABILIDADE
(prestação de
contas
responsabilidade)
A gestão de riscos consiste em ver/pré-ver seja as situações que tem
mais chance de fazer descarrilar os programas, seja as ações de dois ou
três atores que vão tentar produzir resultados bastante diferentes ou até
desfavoráveis daqueles que nós queremos. Não basta identificar estes
riscos, é preciso também detalhar as estratégias previstas para prevenilos.Há de monitorar estes componentes do programa, bem como
qualquer outro, depois avaliá-los e integrá-los ao relatório. Se
necessário, devemos alertar nossos parceiros, convidando-os a levar
estes elementos em conta.
1. Somos imputáveis (devedores, responsáveis de realizar, prestar
contas sobre) resultados que nos comprometemos a atingir. Cada grupo
ou pessoa tem que identificar diante de quem eles são responsáveis ou
imputáveis.
2. Para sermos responsáveis, temos, entre outras coisas definir (nos
engajar a realizar) resultados realistas e sobre os quais temos controle e
influencia importante.
3) Coloca-se a questão da apropriação ou da reivindicação dos
resultados, não podemos nos apropriar dos resultados dos outros.Mas
somente dos resultados que provêm da nossa ação própria. Em relação
aos nossos parceiros, nossos resultados são as mudanças acontecendo
na organização ou ação deles, graças à nossa ação direta sobre eles.Mas
podemos, também reivindicar uma parte dos seus resultados de
desenvolvimento, como também uma importante contribuição nos
resultados oriundos da ação das coalizões, alianças, consórcios etc, nos
quais temos uma real participação.
PERFORMANCE
4) Os relatórios vão falar dos resultados e dos seus indicadores.
A performance diz respeito à eficaz e eficiência dos programas e ações
de DP.
A eficaz designe:
O grau de realização dos resultados.
O grau de influencia que nos pertence na sua realização (legitimidade
da reivindicação de resultados)
A capacidade provada de gerir os riscos.
Estamos falando da performance dos programas ou da organização na
realização de seus programas. O GAR não é um método de avaliação das
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pessoas.
Fala-se de performance provada com a ajuda de “indicadores de
performance.” (que se devem distinguir dos indicadores de rendimento).
Trata-se de atividades e esforços desenvolvidas para influir no
andamento das decisões, na escolha dos alvos e estratégias, nos fatores
determinantes para a produção dos resultados. Trata-se de atividades
aptas a demonstrar nossa performance.
A performance diz também respeito à eficiência o que na linguagem
empresarial quer dizer a “relação custo/benefício”, a relação
“qualidade/custos”. No nosso caso, somos capazes de produzir bons
resultados,com esforços, prazos, orçamento razoáveis? Temos também
de ficar conscientes que no âmbito do desenvolvimento. Uma mudança
em profundidade anda de braços dados com o tamanho do tempo.
A eficiência situa-se nos níveis dos resultados multiplicadores e dos
resultados de gestão (ver o nº secção 5)
Por outro lado, para nós o alvo do desenvolvimento são as pessoas e
comunidades que apoiamos nos seus esforços de tornar-se os atores
autônomos da sua história. As noções de eficaz e eficiência são neste
caso, instrumentos a utilizar com prudência e inteligência.
Neste contexto de performance a noção de excelência toma toda a sua
força.Vários sociólogos e psicólogos, nas instituições mostraram que se a
procura da perfeição e da qualidade parece inata e positiva no ser
humano, a busca da performance e excelência á todo custo, engendrou
efeitos nocivos, perversos tanto para a organização quanto par os que ali
trabalham.
Entre os defeitos da excelência ou da performance, encontra-se sua
incapacidade de deixar espaço aos fracassos aparentes, e deles tirar
lições; o perigo de querer satisfazer os financiadores mais do que servir
ao povo pobre; o risco de adotar programas facilmente visíveis, vistosos,
em vez de enfrentar os difíceis desafios do desenvolvimento (justiça,
equidade, direitos humanos, preservação do meio
ambiente,democratização.) etc. A excelência e a performance deixam
pouco espaço aos riscos enfrentados deliberadamente, em vista de
produzir o novo e o diferente, aos riscos de iniciativas e experiências
novas e às lições que delas se pode tirar.
GESTÃO
Pode parecer redundante precisar que o GAR (gestão por resultados) nos
leva à gestão. Mas, às vezes, o obvio nos escapa. Para alguns o GAR é
um método de planejamento ou de programação, outros o reduzem à
uma técnica de produção de relatórios. Mas o GAR é:
Um caminho de aproximação
Uma disciplina
De planejamento e
De gestão.
Trata-se de pensar, organizar, e gerir uma organização, suas ações e
seus programas, seu pessoal e suas rendas em função da realização das
mudanças sociais definidos como sendo resultados a atingir. O GAR não
suplante a visão e a missão do organismo, ele oferece ferramentas para
realizá-las de maneira mais eficaz, ele as traduz em resultados concretos
a serem perseguidos, dentro de um prazo definido, que pode ser
desdobrado em várias etapas, na sua execução.
Gestão é muito mais que supervisão ou controle, ela consiste em se
organizar em função de um projeto de vida (to organize purposefully)
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5 - APROFUNDAMENTO E REFINO (REFINAMENTO) DA NOÇÃO DE RESULTADO
_________________________________________________________
Já definimos o que é um resultado: uma mudança na realidade.
Existe diversas “categorias” de resultado conforme o tipo de realidade que queremos mudar e
vários níveis segundo a profundidade ou a amplitude das mudanças procuradas e o tempo
necessário para conseguí-las.
1.1. As três categorias de resultados.
______________________________
5.1.1 Os resultados de desenvolvimento (R-D): mudanças para melhor nas condições de
vida, a qualidade do meio ambiente, a situação econômica, o exercício do poder, a consciência
e o saber do povo (no sul e no Canadá) etc.
5.1.2 Os resultados de fortalecimento organizacional (RP) mudanças (no sentido de
consolidação, reforço, melhoria) nos programas, nas estratégias de ação, os caminhos, o
desenvolvimento do nosso membrship, da coleta de dinheiro, das atividades de sensibilização
do público etc. Nossos programas tornam-se prenhes de futuro, são mais capazes de produzir
resultados de desenvolvimento. Trata-se do reforço das capacidades de ação da organização
ou do grupo.
5.1.3. Resultados de gestão (RG) mudanças (no sentido reforço, consolidação, melhoria) nas
capacidades institucionais (das pessoas, estruturas, funcionamento etc) e na gestão das
finanças em vista de produzir melhores resultados de desenvolvimento e melhores resultados
multiplicadores.
Às vezes é difícil distinguir entre um resultado multiplicador e um resultado de gestão.
Os resultados de desenvolvimento dizem respeito à realidade social que queremos mudar. Os
resultados multiplicadores e de gestão concernem nossa própria organização que pretendemos
melhorar e fortalecer.
Como agencia de financiamento e de apoio às parceiros do Sul, DP considera com justa razão
que os resultados multiplicadores e de gestão dos nossos parceiros são resultados de
desenvolvimento da DP quando estas mudanças acontecem como fruto de um real diálogo
entre DP e seus parceiros.
5.2. Os três níveis de resultados.
Segundo o GAR, na compreensão dos níveis de resultados há dois aspectos: a natureza dos
resultados, e o espaço de tempo durante o qual eles se manifestam.
5.2.1. Os “extrants” são as conseqüências imediatas, visíveis, tangíveis, das atividades do
projeto/programa. Trata-se de curto prazo: de um a dois anos.
5.2.2. Os efeitos a respeito da realização concreta dos objetivos ao médio prazo do
projeto/programa. No espírito da cadeia de causalidade os efeitos são o produto cumulativo
dos extrants. Eles se manifestam no médio prazo: de três a cinco anos
5.2.3. Os impactos são efeitos mais amplos, mais profundos, com um prazo maior dos
projetos/programas. Eles concernem a realização do ou dos objetivos do programa integrado.
Eles são o produto cumulativo dos efeitos. São resultados de longo prazo: de cinco a dez anos.
Para DP, o desenvolvimento não prove de determinismo mecanicista. O encadeamento dos
“extrants,
efeitos,
impactos”
não
é
automático.
E para nós a escala do tempo acompanha a profundidade das mudanças que queremos induzir,
ela se calcula, as vezes em decênios mais do que em anos
DP tem uma visão de longo prazo alicerçada pela esperança, pela “paciência histórica” pela
convicção que um projeto de sociedade alternativa é possível. O longo prazo é a marca
registrada de DP, um valor agregado de DP. Este longo prazo não significa que reportamos
sempre a mais tarde a realização dos nossos objetivos; ele manifesta a profundidade e a
amplidão das mudanças almejadas e é postulado pela durabilidade (o enraizamento, a
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permanência) buscada destas mudanças. Mas exatamente por isso estas mudanças de longo
prazo (impactos) têm que ser traduzidas em mudanças a curto e médio prazo (extrants) e
efeitos que são etapas concretas para o alcance dos nossos objetivos.
6 – OS INDICADORES
_______________________
O indicador e um dado objetivo ou subjetivo que pode ser verificado, nomeado de antemão (no
momento do planejamento) que permite de verificar nossas ações e nossas estratégias
produzem os resultados esperados ou caminha nesta direção.
Existem indicadores qualitativos e indicadores quantitativos
* Os indicadores qualitativos “exprimem as percepções os julgamentos as opiniões ou
atitudes. Eles comportam as mudanças de sensibilidade, satisfação influência, conscientização,
compreensão, da percepção da utilidade ou do pertence, de estabilidade, de crescimento, de
utilização do saber, do grau de abertura da qualidade da participação, da natureza do dialogo,
do sentimento do bem estar, etc”.
* Os indicadores quantitativos “têm um valor numérico: os números de pessoas e
mulheres o postes de direções, o percentual de rapazes e meninas que freqüenta a escola, o
nível de renda por ano dos homens e das mulheres, etc”.
Um indicador pode ser qualitativo e quantitativo ao mesmo tempo (por exemplo, o fato
de fazer uma lei e regimentos na área dos direitos humanos e quantitativo; o conteúdo e a
eficácia da lei e qualitativo). Deve então ser avaliado nesses dois planos. Existe uma margem
de liberdade na designação dos indicadores conforme o aspecto que queremos sublinhar.
Três indicadores por grande resultados bastam largademente. Pelo menos uma tem quer ser
qualitativo. Já que “qualificar” não vem de um espírito contábil ou de uma visão simplista.
Não se pode medir todos os resultados. Só medimos os principais.
Os indicadores têm que ser escolhidos em função de sua eficaz e da nossa capacidade de
verificá-los, eles tem que estar ao nosso alcance, bem próximos da gente.
Como se escolhe um indicador?
COMO ESCOLHER OS INDICADORES?
1- Identificar com precisão o resultado que se quer medir.
2- Verificar se atualmente dentro do programa existem vários indicadores para medir
este resultado. Em caso afirmativo ir logo às seis perguntas seguintes. Se não faça uma
tempestade de idéias para encontroar possíveis indicadores que permitem mensurar
este resultado.
3- Para cada indicador responda as perguntas seguintes.
3.1- O indicador mede realmente este resultado?
3.1.2- Este indicador pode indicar quando, mais ou menos, a mudança aconteceu?
3.1.3- Este indicador vai nos dar informações que vão nos permitir tomar decisões?
3.1.4- Existem fontes de informações confiáveis e accessíveis para este indicador?
3.1.5- Temos a possibilidade de pagar por este indicador e as fontes de informações
pertinentes?
3.1.6- Este indicador vai permitir de transmitir facilmente e sem grande contestação o
estado do resultado?
4- Respondendo sim a estas perguntas, vocês podem usar o indicador; vocês confirmam
as fontes de informação. Quanto é possível, vocês recolhem as informações de maneira
regular. Vocês reservam um tempo para redigir pedaços de relatório.
5- Tendo respondido não a uma das perguntas vocês rejeitam este indicador.
7 – BENEFÍCIOS DO GAR NA EXPERIÊNCIA DA DP
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DP adotou o GAR não por pressões exteriores, mais porque queríamos nosso trabalho e nossa
ação. E o GAR nos pareceu um bom instrumento para isso a condição de adaptá-lo às nossas
necessidades, à nossa maneira de ver o mundo e utilizá-lo de maneira inteligente.
Apos vários anos de uso e de aprendizado nos perguntamos quais eram estas
vantagens.
7.1- O GAR nos permite (nos obriga) nomear com mais precisão os resultados
(mudanças sociais, projeto de saciedade) que queremos conquistar.
7.2- O GAR nos permite conhecer melhor o nosso próprio trabalho e de nos centrar
sobre o essencial; vemos as pessoas mudarem. Falamos menos de atividades e mais de
transformação social.
7.3- O GAR exige e promove a analise. Ele nos leva a termos uma visão de conjunto.
7.4- O GAR nos conduze a procurar alavancas de poder e de ação para operar as
mudanças desejadas.
7.5- O GAR nos oferece um melhor instrumento de comunicação e de sensibilização.
7.6- O GAR nos da possibilidade de dialogar com os nossos parceiros suprindo o
essencial. Estes percebem que nos interessamos ao seu trabalho é que damos importância a
suas realizações. Por sua vez eles entendem melhor o DP. Tudo isto nos aproxima e fortalece
nossa relação.
7.7- O GAR nos leva a nos dar indicadores para medir o progresso em direção dos
resultados, ele permite de modificar nossas estratégia e programas, se necessário. Ele nos
oferece a possibilidade de sermos mais estratégicos nas nossas escolhas e de progredir no
programa por aproximação.
7.8- O GAR nos obriga a enunciar mais claramente os riscos bem como os fatores de
sucesso e assim nos dar a possibilidade de intervir neles.
7.9 – O GAR nos permite gerir nossos programas. Nos tornamos mais metódicos no
acompanhamento e na avaliação. Além disto temos mais facilidade para identificar quais são
os parceiros que trabalham de verdade, em prol da mudança social. O GAR também nos
permite produzir novas ferramentas que melhoraram a qualidade de nosso trabalho.
7.10- O GAR nos obriga a praticar uma maior imputabilidade.
7.11- Uma vez o programa elaborado, temos uma excelente bússola para enfrentar a
atualidade e as conjunturas, em freqüentes mudanças guardando a direção para o porto nosso
objetivo. Temos um esquema interpretativo e integrador da atualidade.
7.12- O GAR da uma motivação maior para o trabalho. Vemos melhor o sentido do que
estamos fazendo.
8- DIFICULDADES E DESAFIOS DO GAR
_______________________________________
O GAR como qualquer método tem riscos e dificuldades.
Ele pede energia tempo e dinheiro. Tem que consagrá-lhe esforços razoáveis e evitar que ele
tira os esforços que devemos consagrar a realização dos programas.
Ele pode nos levar à burocracia; à substituir a ação estratégica eficaz por documentos e
papeis.
Ele pode nos dar uma visão simplista do desenvolvimento e da ação.
Pode nos levar a desrespeitar nossos parceiros exigindo deles coisas exageradas.
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9- O DIÁLOGO COM OS NOSSOS PARCEIROS
_________________________________________
O dialogo a respeito do GAR com os nossos parceiros tem vários objetivos.
O dialogo deve visar essencialmente o trabalho de transformação social que queremos realizar
em comum acordo. Neste sentido o GAR centrado nas mudanças sociais que os nossos
programas querem produzir, torna-se uma ferramenta preciosa de dialogo sobre o essencial da
solidariedade.
Já que utilizamos o GAR como instrumento de trabalho de base, desejamos assegurar junto a
nossos parceiros que poderemos obter deles a informação necessária ao nosso trabalho, sem
os sobrecarregar.
E como a utilização do GAR nos ajuda a fortalecer o nosso trabalho, desejamos partilhar nossa
experiência com os nossos parceiros convidando-los a adotar (adaptar) o GAR ou se inspirar
dele. Devemos então descobrir de que maneira, nos será possível apoiá-los nesse esforço.
Como o GAR é atualmente utilizado de tantas maneiras, desejamos clarificar com os nossos
parceiros a nossa visão e a nossa maneira de utilizar o GAR.
Procuramos um dialogo franco e aberto no qual cada um fica consciente das necessidades e
das possibilidades do outro e as respeita.
ANEXOS - O CICLO DA PROGRAMAÇÃO
____________________________________
O GAR faz parte de conjunto de instrumentos exigidos pelo ciclo dinâmico da
programação, à título de exemplo, algumas destas ferramentas.
FASE
FERRAMENTAS
1- Planejamento: concepção ou
 Sistema ou processo de programação.
elaboração do programa.
 A analise de conjuntura.
 Lições tiradas da avaliação da fase anterior.
 Documento do programa.
2- Realização
Somos executores ou financiadores? Ações e ferramentas variam
conforme o caso.
 A ferramenta de base e o documento de programa.
 O protocolo fixando as responsabilidades de cada parte.
 Planos ou projetos de operações setoriais ou geográficas e
planos de ação individual.
3Acompanhamento
e
 Quadro de rendimento.
monitoramento
 Sistema de coleta de informação.
 Visita no terreno.
 Relatórios.
4Avaliação
de
percurso, A avaliação parece olhar o passado e de fato, trata-se de julgar as
continua depois final.
realizações passadas: Será que os programas produziram os frutos
esperados? Mais seu objetivo profundo é olhar para o futuro. Tratase de tirar lições da experiência e de lançar a fase de
planejamento.
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