TAXA
TAXA DE
DE JUROS:
JUROS:
de onde veio e para onde nos leva
Taxas de juros e inflação são alternativas para a valorização da moeda
A taxa de juros é foco constante de atenção do público em geral. De maneira
simplista, pode ser definida como sendo o preço da moeda. Caso exista grande
quantidade de moeda em circulação, ocorre queda na taxa de juros, sendo o
inverso também verdadeiro.
Mas quem determina a quantidade de moeda ofertada no mercado? A decisão
sobre a quantidade de moeda ofertada no mercado é tomada pela autoridades
monetárias. Um dos instrumentos utilizados para controlar a oferta de
demanda é a negociação de títulos públicos no mercado. O governo, buscando
enxugar a liquidez, ou seja, tirar moeda de circulação, vende títulos às
instituições financeiras e em troca recebe moedas. Por sua vez, os títulos
comprados pelas instituições financeiras são convertidos em portfólios de
diversas formas e ofertados aos clientes.
Mas qual é o problema em elevar ou manter elevada a taxa de juros? Acontece
que quando se eleva a taxa de juros inevitavelmente ocorre uma retração no
crescimento econômico, aumentando a pobreza do país e de sua população.
Carlos Ilton Cleto
Analisando a situação atual da economia do país,
pode-se concluir que o governo deveria aumentar a
liquidez do sistema, reduzindo a taxa de juros.
Todavia, um aumento da liquidez pode estimular um
aquecimento inflacionário (para muitos economistas
a liquidez monetária é o principal condicionante da
inflação1 ). Existem muitas teorias e versões para
explicar a inflação, como por exemplo: inflação de
demanda, inflação de custos, inflação monetária,
inflação estrutural e inflação inercial. Apesar das
várias teorias, ela pode ser definida como sendo
“uma elevação generalizada, contínua e persistente
do nível de preços”.
Outro fenômeno econômico relacionado à moeda
e à liquidez é o câmbio. As duas formas extremas
de manifestação do câmbio são: câmbio livre ou
flexível e câmbio fixo. Existem, todavia, outras
formas mistas adotadas, tais como o regime de bandas
cambiais e a flutuação suja1 . Mas, qual o motivo de se
pretender adquirir outra moeda, no nosso caso o dólar? O
principal é a necessidade de importar (transação que requer
moeda internacional) e o fato de o dólar ser considerado
uma moeda estável, portanto muitas vezes utilizado como
ativo para proteção e especulações financeiras.
Logicamente, quando se emite moeda nacional, ela sofre
desvalorização. Quando são emitidos títulos, atraem-se
dólares especulativos e valoriza-se a moeda nacional,
apesar do aumento do endividamento.
Contas Públicas
Neste ponto outra questão vem à tona. Se tanto a
emissão de moeda quanto a venda de títulos (dívida) trazem
efeitos perniciosos, que motivo leva o governo a realizálas? A resposta é que, de forma semelhante a uma empresa,
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nacionais, fazendo com que os preços destes caiam.
Duas facetas devem ser consideradas no que
tange à valorização da moeda nacional. A primeira
relaciona-se ao fato de que a valorização
possibilita a entrada de produtos importados,
expondo as empresas nacionais a novos
concorrentes, podendo ter efeitos benéficos, caso
as empresas se modernizem e consigam
equivaler-se à concorrência, ou maléficos, caso
estas empresas sejam varridas pela concorrência
internacional. Outro aspecto inerente ao real forte
é que as divisas (moeda estrangeira), que
garantem a moeda nacional valorizada, têm
parcela de capital especulativo, que caminha ao
sabor do vento em busca de maiores ganhos,
podendo “fugir” do país diante de qualquer ameaça
Pode-se dizer que, no Brasil, entre os anos 30 e 70 como crises internacionais (a exemplo do que
(salvo engano) o governo foi o grande promotor do ocorreu recentemente com a Argentina). A busca
capitalismo, realizando investimentos que estimularam a por dólar faz com que este tenha uma rápida
produção e o crescimento. No entanto, como valorização, encarecendo o preço dos produtos
importados (inclusive insumos).
conseqüência, isto trouxe
déficits, acúmulo da Teoricamente, o governo deveria manter Dessa forma, os preços sobem,
gerando inflação (custos), apesar
dívida e inflação. A partir
o
orçamento
equilibrado,
ou
seja,
de os juros continuarem altos.
da chamada década
não gastar mais do que arrecada
Pode-se dizer que o aqui exposto
perdida (anos 80), o ideal
demonstra brevemente o que
do governo brasileiro tem
sido outro, concentrando todos os seus esforços no combate vem ocorrendo com a economia brasileira ao longo
à inflação. Para tanto, desde 1994, tem optado por emitir deste último ano.
títulos e tirar moeda do mercado. Pelo lado do orçamento
(Política Fiscal) corta gastos e busca aumentar a
arrecadação, gerando um Orçamento Primário positivo
(que não leva em conta o pagamento de juros), de algo
em torno de 3,0% do Produto Interno, enquanto o
orçamento operacional (que leva em conta o pagamento
Para o modelo econômico atualmente adotado,
dos juros da dívida) continua deficitário, justamente em
a saída passa por três caminhos: o primeiro segue
decorrência do pagamento de juros.
E o que o governo tem feito para financiar seu déficit? por uma expectativa otimista que vem sendo
Atualmente, prioriza a emissão de títulos (dívida), em vez frustrada desde 1994, que acredita em um fluxo
de emitir moeda, respeitando assim as metas inflacionárias de capital, não especulativo, na forma de
determinadas pelo FMI. A emissão de títulos traz dois investimentos diretos, feitos por empresas que
alicerces para as pretensões do governo. Primeiro, como já venham a se instalar no país, aumentando a
dito, a taxa de juros alta reduz a demanda, já que o consumo produção e a arrecadação do governo.
e o investimento caem. Como resultado, os preços no curto
O segundo caminho não exclui o primeiro, mas a
prazo diminuem ou, ao menos, não aumentam. Porém, há cada momento torna-se mais caro e inviável. Trataum desestímulo à produção, e a economia deixa de crescer,
se de um estrangulamento fiscal, ou seja, menores
podendo gerar recessão e desemprego. O segundo efeito
trazido pelos juros altos está relacionado à atração de gastos e transferências (fiscais) por parte do governo
capitais externos, que valorizam a moeda nacional frente e uma maior tributação, gerando assim um superávit
ao dólar e possibilitam adquirir produtos importados com primário, grande o suficiente para equilibrar o
maior facilidade, diminuindo a demanda por produtos orçamento operacional. Esta fórmula, além de
o governo tem entradas e saídas de caixa. As entradas são
representadas pela venda de produtos e serviços públicos e
pela coleta de tributos. As saídas do governo passam pela
manutenção da própria atividade governamental, pelos
investimentos e, infelizmente, pelo pagamento de juros sobre
os títulos emitidos. Teoricamente, o governo deveria manter
o orçamento equilibrado, ou seja, não gastar mais do que
arrecada. Porém, diferentemente das empresas, não deve
almejar superávits, pois se isso ocorrer significa que foi
exagerado em sua arrecadação, ou deixou de trazer
benefícios à sociedade.
Déficits, Dívidas e Inflação
Ambiente Econômico
Caminhos
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desagradável, só resolverá o problema se o país metas inflacionárias maiores. É necessário compreender
conseguir “zerar” o orçamento operacional. Caso que o modelo econômico, que caminha por metas
contrário, a cada fechamento de “caixa” negativo inflacionárias mais elásticas, passa por renegociações de
acumula-se a dívida, que induz a um ciclo de acordos já firmados com o Fundo Monetário Internacional
crescimento do endividamento. É como se a inflação (FMI), que podem ou não ser concretizados.
fosse controlada à custa de uma dívida crescente. Dessa
Quando se pensa em metas inflacionárias maiores, não
forma, não se estaria resolvendo o problema, mas sim se está idealizando o melhor dos mundos, pois todos sabem
postergando-o, pois existiria uma inflação disfarçada dos malefícios da inflação; porém, esta é uma saída
em dívida pública.
dolorosa ante a um remédio que não tem curado a doença,
A última alternativa passa pela monetização de mas sim disfarçado a febre. Muitos seriam os desafios
parte da dívida e/ou pelo financiamento do déficit desta opção, como por exemplo o de adotar um patamar e
através da emissão de moeda. Com isto o país deixaria uma gradualidade que não estimulassem a inercialidade
de absorver novas
inflacionária. A qualquer
Ou o país opta por um modelo que passa manifestação de descontrole
dívidas, encerrando o
ciclo de endividamento, pelos juros elevados e provável recessão caberia, ao menos temporae conseguiria reduzir a
riamente, o retorno ao remédio
ou por metas inflacionárias maiores
taxa de juros, estimuamargo dos juros.
lando a produção e o crescimento. Como subproduto
Estes são os caminhos possíveis a trilhar, e é a partir
desta opção, haveria um aquecimento inflacionário, da escolha de um deles que estaremos determinando
tanto pelo aumento da demanda quanto pela quanto tempo falta para o futuro.
desvalorização da moeda nacional.
Não se trata de ser apologista da inflação, mas, de
uma maneira ou outra, algumas opções devem ser
adotadas, entendendo que para cada uma delas cabe
uma renúncia. Ou seja: ou o país opta por um modelo
que passa pelos juros elevados e provável recessão,
Ilton Cleto é economista, mestre em Desenvolvimento
que pode ser duradoura (e já tem sido), acumulando Carlos
Econômico pela UFPR, doutorando em Gestão de Negócios pela UFSC
dívidas que podem ou não serem sanadas, ou opta por e professor da FAE Business School. E-mail: [email protected]
NOTAS
1Concorda-se que a liquidez contribui para a inflação inercial, porém não se pode atribuir-lhe a responsabilidade única pela elevação
de preços.
...
2Entende-se como flutuação suja a adoção do câmbio flutuante, porém com intervenção das autoridades para a obtenção de determinada
cotação. Difere do fixo por ser passível de flutuação e difere do flutuante pelo fato de sofrer intervenção das autoridades responsáveis pela
política econômica.
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TAXA DE JUROS: de onde veio e para onde nos leva TAXA