INTERVENÇÃO DO PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES CARLOS CÉSAR NO SEMINÁRIO “Políticas Marítimas e Globalização” Angra do Heroísmo, 9 de Julho de 2007 -Senhor Comissário Europeu das Pescas e dos Assuntos do Mar -Senhor Presidente da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas da Europa -Senhor Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar -Senhoras e Senhores Conferencistas -Senhoras e Senhores Convidados Uma breve intervenção, começando, naturalmente, por saudar todos os participantes nesta Conferência, reiterando o gosto que -1- sentimos com a vossa presença nos Açores e formulando votos para que os trabalhos, que aqui terão lugar, decorram com o maior sucesso. A organização deste Seminário resulta de uma boa colaboração, que se tem vindo a verificar de forma cada vez mais sólida e profícua, entre o Governo dos Açores e a Conferência das Regiões Periféricas Marítimas da Europa. Não posso deixar de salientar, igualmente, que a realização deste evento nos Açores demonstra, da parte da nossa entidade parceira - a CRPM, uma lúcida compreensão do papel e da importância que as regiões ultraperiféricas podem ter, para a Europa, num conjunto variados de domínios, como é, precisamente, o caso das Políticas Marítimas. Num momento em que discute, justamente, ao nível da União, reformas institucionais urgentes e novos modelos de organização das instituições europeias que melhorem a sua eficácia, neste fórum e nesta oportunidade é importante reafirmar que a valorização política e institucional das regiões ultraperiféricas continua a ser importante para a coesão e a projecção do projecto europeu – justifica-se, por isso, a existência, junto da Direcção- -2- Geral de Política Regional, da Unidade de Coordenação das Questões Ligadas às RUP’s, pelo que seria reprovável qualquer opção de diluição desse âmbito institucional a pretexto de uma qualquer reorganização administrativa. Nesse sentido, de resto, manifestam-se todas as sete regiões ultraperiféricas europeias, que se voltam a reunir no próximo mês de Outubro na cidade do Funchal. Senhoras e Senhores Conferencistas e Convidados Após a realização, em 2006, em Ponta Delgada, do seminário “As Regiões e a Globalização”, é, de novo, esta temática que envolve o essencial da nossa reflexão - agora na relação que se estabelece com as Políticas Marítimas. Em todas essas envolvências, os Açores constituem um cenário privilegiado, quer porque, sendo simultaneamente ultraperiféricos em relação à Europa e centrais em relação ao diálogo transatlântico, constituem um território simbólico da globalização, quer porque, pela sua natureza marítima e arquipelágica, está no âmago da percepção dos desafios das políticas para os oceanos. Com efeito, sendo os Açores um arquipélago constituído por nove ilhas, o Mar constitui a base comum donde emergem os cumes da -3- nossa identidade. Outrora limite e fronteira, ou horizonte inacessível, o Mar é, hoje, para nós – como certamente para muitos cidadãos de outras regiões do Mundo - caminho de idas e de regressos, fonte de vidas e de preocupações, prolongamento da terra - da nossa terra, e, um património da humanidade enquanto recurso de sustentabilidade global. Os Açores, nesse contexto, foram pólo de convergência e de passagem de diferentes visões do Mundo e, em boa parte, na esteira da mundialização, continuam a sê-lo. Mais do que por causa de um calculado racionalismo, a atenção que damos aos assuntos do mar resulta de uma ligação afectiva e cúmplice – na verdade, “viver no mar”, como é o nosso caso, é diferente da atitude de “olhar o mar” e é mais parecido com a necessidade de “ver viver o mar”. Não temos dúvidas, infelizmente, que a vida no mar é cada vez mais difícil e que urge activar consciências e travar a irresponsabilidade de governos e de depredadores em geral. Saudamos todos os que compreendem essas emergências e ficamos preocupados com os que, inclusive aos níveis europeus de decisão, as ignoram ou as subestimam. À sua pequeníssima escala, os Açores procuram dar exemplos, enveredando pela definição de políticas que visam salvaguardar a -4- sustentabilidade da exploração deste recurso, ao mesmo tempo que, nomeadamente, através do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, apostam, decisivamente, no reforço da investigação científica e do conhecimento do meio marinho envolvente. Num trabalho de que nos orgulhamos, vamos estabelecendo a limitação das capturas no mar de determinadas espécies, decretando a proibição da utilização de artes de pesca lesivas do ambiente, promovendo a criação de áreas marinhas protegidas ou uma gestão cuidadosa dos stocks que se encontram nos nossos mares. Não simpatizamos, por isso, com orientações em que se liberalizam regimes de acessos de embarcações e procedimentos lesivos de pesca, particularmente em zonas económicas marítimas frágeis, como a Sub-Zona dos Açores, onde a União Europeia não tem qualquer actividade fiscalizadora e o seu Estado Membro, Portugal, tem poucos meios para a desenvolver. Não somos obcecados pela recuperação de fronteiras que os tempos diluíram em terra e nos mares. Somos conhecedores da inevitabilidade e da utilidade da vida em comum, somos sensíveis e adeptos da partilha de recursos, mas queremos incorporar, nesse sentido em que assumimos a globalização, o conhecimento do -5- potencial e do estado desses recursos marinhos, bem como a regulação disciplinada da sua utilização, a valorização dos seus fruidores responsáveis e a punição dos seus utilizadores intensivos e imponderados. Tudo isso exactamente porque a nossa zona marítima é tão nossa como é património natural da humanidade. Os mares e oceanos foram sempre considerados como uma vastidão passiva, e sempre na perspectiva da sua utilização, ora como fonte de recursos ora como corredor não degradável de navegação, com exclusão permanente da consideração da sua finitude. Confrontamo-nos hoje com a constatação e a necessidade sobrevivente de modificarmos a nossa visão e de atendermos rapidamente aos avisos da ciência e do bom senso, os quais determinam a adopção de um política coerente e global de relacionamento com o meio marinho. Gostaria muito, como português e europeu do Atlântico, que a Presidência do Conselho Europeu deste semestre, em colaboração com a Comissão Europeia - a qual se tem mostrado crescentemente sensível, tendo já trabalho feito - avançasse com definições concretas e vinculadoras nesse domínio. Gostaria, também, que, como o demonstra este Seminário nos Açores, a -6- adopção de tais politicas representasse um compromisso a uma escala cada vez mais vasta e integrada. Estou confiante que a convocação para esses novos desígnios é cada vez mais forte e mais convincente. Estamos cada vez mais despertos para a utilidade da concertação de politicas económicas e ambientais, como nas áreas da navegação marítima, do destino final de resíduos ou dos esforços de pescas. Estamos cada vez mais cientes que a investigação científica e o conhecimento dos mares são ferramentas indispensáveis à formação das decisões. Mas, é certo, temos cada vez menos tempo para as pormos em prática com garantias de sucesso. Este Seminário é uma peça modesta da construção desse esforço global; é mais um momento do debate e do diálogo necessários, no seguimento, aliás, do esforço que, particularmente, o Comissário Joe Borg, aqui presente, tem desenvolvido para a preparação de uma Politica Marítima Europeia. O bem comum é um trabalho comum: lembro, a propósito, as palavras do poeta inglês John Donne que, nos mares dos Açores, escreveu o poema The Calm: -7- “ No man is an Island, entire of itself; Every man is a piece of the Continent, A part of the main.” Então, bom trabalho. Muito obrigado pela vossa presença e contribuição. O PRESIDENTE DO GOVERNO DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Carlos César -8-