Área temática: Fitopatologia
CONTROLE QUÍMICO DA MANCHA DE RAMULARIA (Ramularia areola) EM ALGODOEIRO NO
MATO GROSSO
Daniel Cassetari Neto (UFMT / [email protected]), Andréia Quixabeira Machado (UNIVAG/GPACAB), Edson Ricardo de Andrade Júnior * (UFMT), Alessandro Andrade Costa (UFMT), Renan Krug*
(UFMT), Luciana Sousa Cassetari (UFLA).
RESUMO – Com objetivo de avaliar o efeito de diferentes fungicidas no controle da mancha de
ramularia (Ramularia areola) instalou-se o ensaio em campo no município de Campo Verde, MT,
utilizando a variedade FM 993. Foram avaliados 6 tratamentos contendo misturas de triazóis e
estrubirulinas, com 4 repetições, em blocos ao acaso. As aplicações dos fungicidas foram feitas em
intervalos de 15 dias, dos 40 aos 85 dias após o plantio. Foram realizadas 5 avaliações de severidade
(% de infecção) em intervalos de 15 dias. Todos os tratamentos mostraram-se eficientes na redução da
severidade da mancha de ramularia, sendo superiores à testemunha, com destaque para as misturas
Tebuconazole + Trifloxystrobin (600 mL/ha) e Prothioconazole + Trifloxystrobin (500 mL/ha).
Palavras-chave: algodão, mancha de ramularia, controle, fungicidas.
INTRODUÇÃO
O algodoeiro é uma das culturas anuais mais importantes no mundo, não apenas quanto ao
valor econômico, mas, também, em relação ao social. No Brasil, a maior área plantada está nos
cerrados dos estados de Mato Grosso, Bahia e Goiás (SUASSUNA et al., 2006).
O cerrado brasileiro consolidou-se como maior região produtora de algodão do Brasil. O
crescimento em área plantada e o aumento da produção trouxeram grandes benefícios em curto prazo
para os produtores da região. Todavia, essa expansão revelou novos problemas, tais como o aumento
da intensidade de doenças já relatadas e o surgimento de novas doenças. (ARAÚJO, 2003).
A produção nacional de algodão em caroço é de 3,7 milhões de toneladas, das quais a pluma
participa com 38,8%, ou seja, 1,4 milhão de toneladas. Essa produção supera em 34,5% a da safra
anterior. A produção de caroço de algodão é de 2,2 milhões de toneladas, superior em 32,9%, (554,7
mil toneladas) à da safra passada. A região Centro-Oeste, que participa com 64,6% da produção
nacional, terá um incremento de 45,3% (737,4 mil toneladas), o Mato Grosso, 47,0% (619,3 mil
toneladas), o Mato Grosso do Sul, 46,2%, (49,9 mil toneladas), e o Goiás, 38,4%, (74,3 mil toneladas)
(CONAB, 2007).
As principais doenças da parte aérea do algodão e o tombamento de plântulas, causado por
fungos associados às sementes e presentes no solo e em restos de cultura, constituem fatores
limitantes na obtenção de índices satisfatórios de produtividade, principalmente nas condições
edafoclimáticas do Centro-Oeste, no sistema de plantio direto e pelo curto intervalo de tempo entre a
colheita e o plantio da safra de algodão (WATCKINS, 1981; CASSETARI NETO et al., 2000).
A mancha de ramularia, causada por Ramularia areola Atk, considerada como doença de
ocorrência no final de ciclo da cultura, tem surgido nas fases iniciais da lavoura, sendo considerada
hoje uma das doenças de maior importância da cultura no cerrado brasileiro, visto que demanda o
maior número de aplicações de fungicidas na região (SUASSUNA et al., 2006).
*
Bolsista PIBIC/CNPq
Os sintomas iniciais caracterizam-se por manchas deformadas de coloração branco-azulada
na face inferior das folhas mais velhas. Nas lesões mais velhas de formato angular, ocorre intensa
esporulação do patógeno, de coloração branca e aspecto pulverulento. As lesões multiplicam-se e
coalecem, tomando quase todo o limbo foliar e causando desfolha precoce (SUASSUNA et al., 2006).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de diferentes fungicidas no controle de mancha
de ramularia em algodoeiro no Mato Grosso.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi instalado na fazenda São Francisco, no município de Campo Verde, MT, em
27/01/2007 utilizando-se a cultivar FM 993.
Foram avaliadas as misturas dos ingredientes ativos Propiconazole + Trifloxystrobin (600
mL/ha), Tebuconazole + Trifloxystrobin (600 mL/ha), Prothioconazole + Trifloxystrobin (300 mL/ha),
Prothioconazole + Trifloxystrobin (400 mL/ha) e Prothioconazole + Trifloxystrobin (500 mL/ha). Foram
realizadas 4 aplicações dos fungicidas dos 40 aos 85 dias em intervalos de 15 dias. As avaliações de
severidade da mancha de ramularia foram realizadas de acordo com escala de notas (Tab. 1).
Os tratamentos foram aplicados através de pulverizações com CO2 costal, com barra de 2 m e
4 bicos tipo cone vazio, uma pressão de 50 psi e um volume de calda de 200 L/ha. As condições
climáticas estavam favoráveis no momento das pulverizações, com médias de umidade relativa do ar
em 92% e temperatura em 26ºC.
A adubação, calagem, o tratamento de sementes e o controle de pragas foram feitos de acordo
com as recomendações técnicas para a cultura.
O ensaio constou de 6 tratamentos dispostos em blocos ao acaso com 4 repetições. As
parcelas foram compostas por 5 linhas de 5,0 m de comprimento espaçadas de 0,90 m. Área útil
composta pelas 3 linhas centrais com 5,0 m de comprimento.
O contraste de médias para comparar os tratamentos nos parâmetros avaliados foi realizado
pelo teste de F. As médias entre os tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05).
Tabela 1. Escala de avaliação de severidade de mancha de ramularia em algodão (CASSETARI NETO
e MACHADO, 2000).
ESCALA
TIPO DE LESÃO E PORCENTAGEM DE ÁREA FOLIAR
0
Ausência de sintomas
1
Lesões pulverulentas em 5% da face inferior de folhas do terço inferior
2
Lesões pulverulentas em mais de 25% do terço inferior e 5% de ambas as faces de folhas
do terço médio
3
Lesões pulverulentas em mais de 25% dos terços médio e inferior e 5% de ambas as
faces de folhas do terço superior
4
Planta seca
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na instalação do ensaio aos 40 dias após o plantio foi observada severidade leve da mancha
de ramularia em toda a área com nível de infecção inferior a 1% (Tab. 2).
De acordo com Suassuna et al. (2006), o controle químico da mancha de ramularia se faz
necessário, devendo ter início assim que surgirem as primeiras lesões nas folhas mais velhas. Os
autores ainda comentam que este ponto é ideal para a aplicação de fungicidas, não permitindo a
esporulação do patógeno, retardando o início da epidemia e impedindo o aumento de inóculo no
campo.
Nas avaliações realizadas observou-se que todos os produtos avaliados reduziram a
severidade da mancha de ramularia em comparação à testemunha, destacando-se as misturas
Prothioconazole + Trifloxystrobin (500 mL/ha) e Tebuconazole + Trifloxystrobin (600 mL/ha) (Tab. 2).
Estes resultados confirmam a ampla eficiência de Prothioconazole no controle da mancha de
ramularia. Esta molécula deve ser considerada nos programas de manejo da mancha de ramularia.
Segundo Cassetari Neto e Machado (2005), níveis de infecção por Ramularia areola abaixo
de 25% da área foliar da planta não resultam em perdas de produtividade. Portanto, fungicidas que
alcancem níveis de controle próximos a este patamar devem ser considerados eficientes.
Os resultados obtidos neste experimento mostram que o controle químico da mancha de
ramularia no algodoeiro avaliado nas condições do Mato Grosso tem sido possível, devido à eficiência
de fungicidas sistêmicos.
O uso alternado de fungicidas com diferentes princípios ativos é fundamental em uma
estratégia anti-resistência uma vez que este patossistema é bastante favorável ao surgimento de
isolados resistentes (SUASSUNA et al., 2006).
Tabela 2. Severidade da mancha de ramularia em algodão FM 993 submetido a controle químico.
Campo Verde, MT. 2007.
Severidade da mancha de ramularia (% de infecção)
Tratamentos
(doses mL p.c/ha)
Testemunha
Propiconazole + Trifloxystrobin (600)
Tebuconazole + Trifloxystrobin (600)**
Prothioconazole + Trifloxystrobin (300)**
Prothioconazole + Trifloxystrobin (400)**
Prothioconazole + Trifloxystrobin (500)**
DMS
CV (%)
40 *
<1
<1
<1
<1
<1
<1
-
54
5,8 c
2,9 ab
2,6 ab
3,4 ab
3,5 ab
2,4 a
1,02
13,09
67
10,5 c
4,4 ab
3,6 ab
4,9 ab
3,0 ab
2,4 a
2,12
19,21
82
16,1 b
6,0 a
5,2 a
5,5 a
4,1 a
3,6 a
2,85
18,30
96
30,1 c
10,6 b
7,6 ab
9,9 b
8,9 b
5,8 a
2,62
9,38
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey (5%)
* dias após a emergência
** Adição de Aureo = 0,25 % v/v (500mL/ha)
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos e nas condições em que foi conduzido este experimento
podemos concluir que todos os fungicidas avaliados foram eficientes no controle da mancha de
ramularia e as misturas Prothioconazole + Trifloxystrobin (500 mL/ha) e Tebuconazole + Trifloxystrobin
(600 mL/ha) proporcionaram maior redução da severidade da doença no algodoeiro.
CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO
1. Oferecer ao produtor uma nova opção de tratamento químico para a redução dos danos
provocados por Ramularia areola em lavouras de algodão;
2. Permitir a utilização de moléculas alternativas em programas de manejo da mancha de ramularia
visando à redução dos riscos do desenvolvimento de populações de patógenos resistentes aos
fungicidas recomendados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, A.E. Algodão em perigo. Revista Cultivar – Grandes Culturas. Caderno Técnico. n.54, p.310. 2003.
CASSETARI NETO, D.; MACHADO, A.Q. Diagnose e controle de doenças do algodão. Cuiabá:
UFMT/FAMEV. 2000. 55p.
CASSETARI NETO, D.; MACHADO, A.Q. Doenças do algodoeiro diagnose e controle. Várzea
Grande. UNIVAG/UFMT. 2005. 47p.
CASSETARI NETO, D.; MACHADO, R.S.S.; FARIA, A.Y.K.; LEITE, J.J.; VIEIRA, D.A.;
ZAMBENEDETTI, E.B.; METELLO, S.; MACHADO, A.Q. Avaliação de fungicidas no controle de
doenças em algodão no Mato Grosso. Fitopatologia Brasileira. v.25, Suplemento, p.363. 2000.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Sétimo levantamento de avaliação da
safra 2006/2007. Abril/2007, 20p.
SUASSUNA, N.D.; CHITARRA, L.G.; ASMUS, G.L.; INOMOTO, M.M. Manejo de doenças do
algodoeiro. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2006. 24p. (Embrapa Algodão. Circular Técnica, 97).
WATCKINS, G.M. (ed) Compendium of cotton diseases. St. Paul, MN, APS Press, 1981. 87p.
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(Ramularia areola) em algodoeiro no Mato Grosso. Alunos