III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014
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Insetos Visitantes Florais e Potenciais Polinizadores da Aceroleira (Malpighia
Emarginata Dc, Malphighiaceae) em Plantas Encontradas em Quintais na Zona
Urbana de Colatina-ES.
J. B. Boti 1,*; B. R. Oliveira2; M. L. Oliveira3
1
Biólogo, MSc Entomologia;
Biólogo, MSc Ecologia;
3
Professor do Ifes Santa Teresa-ES
*
E-mail para correspondência: ([email protected]).
2
Introdução
A aceroleira é uma planta de porte médio caracterizando-se por apresentar flores róseas e
brancas com glândulas de óleo e pólen, que são os recursos florais oferecidos aos seus
polinizadores, com um diâmetro de 2,0 a 2,5 cm, apresentando cinco pétalas e cinco sépalas
produzindo pequenos frutos drupáceos vermelhos ricos especialmente em vitamina C,
conhecidos popularmente como acerola ou cereja das Antilhas. Segundo Simão (1971) a
referida espécie é originária da região do Caribe, tendo sido introduzida na Flórida e Cuba
por volta de 1903. É produzida em escala comercial na Venezuela, Porto Rico e Havaí e
chegando ao Brasil somente por volta de 1950, atualmente é encontrada em todos os
estados brasileiros (Gonzaga Neto & Soares, 1994).
A família Malpighiaceae apresenta flores hermafroditas, pentâmeras, androceu com dez
estames, ovário súpero e tricarpelar (Joly, 1977). Observa-se uma baixa autopolinização na
família e o vento desempenha pouco ou nenhum papel na polinização dessa espécie
frutífera, sendo então dependente de agentes polinizadores para transportar os grãos de
pólen para os estigmas das flores (Freitas et al., 1999).
Existem na literatura dados controversos sobre os insetos visitantes florais e seus
potenciais polinizadores, não havendo consenso sobre as regiões de cultivo desta espécie
frutífera, demandando-se de estudos regionais mais detalhados sobre o assunto.
Todas as pesquisas relacionadas com polinização de espécies frutíferas são de extrema
importância, principalmente em locais isolados como os centros urbanos brasileiros que
apresentam ecossistemas acentuadamente degradados pelo homem, pois nesses locais,
existem poucos registros na literatura dos visitantes florais e potenciais polinizadores dessa
espécie frutífera.
O presente estudo teve como objetivo verificar a riqueza de espécies de insetos e os
potenciais polinizadores da aceroleira em seis plantas encontradas em diferentes quintais
na zona urbana de Colatina.
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BOTI ET AL: INSETOS VISITANTES FLORAIS
Material e Métodos
O estudo foi realizado no centro urbano de Colatina-Espirito Santo, cidade de porte médio
com aproximadamente 130 mil habitantes (19º32’S e 40º38’W), no período de setembro a
novembro de 2013, em seis aceroleiras de dois a três metros de altura, localizadas em
quintais do centro urbano de Colatina, distanciando-se de 300 a 800 metros uma planta da
outra.
No primeiro mês as plantas receberam água para estimular a produção de flores, e nos
meses seguintes, o comportamento dos insetos forrageando nas flores, foram observados
com auxílio de binóculo, sendo também cronometrado o tempo de permanência destes nas
flores e depois coletados, utilizando-se uma rede entomológica nos períodos matutino entre
6 e 11 horas e vespertino entre 13 e 17 horas. A seguir, os insetos foram depositados em
câmera mortífera com algodão e éter, em sequência, esses insetos foram identificados no
laboratório, com auxílio de estereomicroscópio, separando-os em famílias e etiquetados
para posteriormente serem conduzidos ao museu de entomologia da UFV-MG para a
identificação em espécies.
Resultados e Discussão
Foram coletados 67 espécimes de insetos visitantes florais, sendo que a maior ocorrência
de visitas se deu no período matutino com 49 indivíduos coletados.
Tabela 1 - Espécies visitantes florais e potenciais polinizadores da aceroleira coletados em
quintais do centro urbano de Colatina-ES.
Família
Espécie
Nº de indivíduos
coletados
Apidae (Abelhas)
Centris aenea Lepeletier
4
Centris analis Friese
5
Centris inermis Friese
3
Centris tarsata Smith
11
Centris sp.
2
Epicharis flava Friese
1
Plebeia sp.
6
Tetragonisca angustula Latreille
6
Tetrapedia sp.
4
Trigona spinipes Fabricius
8
Sirphidae (Díptero)
Ornidia obesa L.
7
Muscidae (Mosca Caseira)
Musca domestica L.
8
Vespidae (Vespas)
Polybia paulista Friese
2
Dentre os espécimes, destacou-se as abelhas (Apidae) com 50 indivíduos, seguida de
outros visitantes como dípteros (Sirphidae) com 07 indivíduos, mosca caseira (Muscidae)
III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014
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com oito indivíduos e vespas (Vespidae) com 02 indivíduos, conforme apresentado na
Tabela 1.
As abelhas Centris realizavam um vôo muito rápido entre as flores, com duração de menos
de 0,5 segundos, e em seguida, coletavam óleo localizado na base do cálice floral, e com
muitos pólen encontrados em seu corpo, cobria-se toda a parte reprodutiva da flor,
tocando-se várias vezes o estigma floral. As moscas Ornidia foram freqüentes no período
matutino e coletavam somente pólen de algumas flores, com duração de 0,5 segundos no
pouso, também tocando o estigma em todas as flores visitadas, pois no laboratório,
verificou-se que no corpo dessas moscas foram observados muitos pólen.
As abelhas de menor porte (Plebeia, Tetragonisca, Tetrapedia e Trigona) permaneceram
maior tempo de pouso na flor, 1,5 minutos, porém, devido ao comportamento destas na
flor, não foi observado o contato destas com o estigma floral. Os demais visitantes florais
observados (moscas caseiras e vespas) permaneceram maior tempo na flor, mas não foi
encontrado pólen em seus corpos. As moscas caseiras, com média de 3,5 minutos, apenas
pousavam na base da flor e as vespas com 2,5 minutos de pouso entre as pétalas, apenas
raspavam o material resinoso destas.
Analisando os resultados, observamos que pela freqüência nas flores, entre 6 e 10 horas, e
pelo comportamento forrageador das abelhas Centris e da mosca Ornidia, bem como, pelo
número de indivíduos observados e coletados pela manhã, podem ser considerados os
potenciais polinizadores da aceroleira representadas por essas plantas encontradas nos
quintais do centro urbano de Colatina, pois não foi observado nesse estudo a presença de
abelhas generalistas como Apis mellifera L. visitando as flores dessas plantas.
A frequência constante das abelhas Centris sp nas flores é citada por Camargo & Mazucato
(1984), quando relataram que as abelhas fêmeas procuram por óleos produzidos na base
externa das sépalas florais da aceroleira para sua alimentação, criação das larvas,
compactação e impermeabilização das paredes das células de cria.
No presente estudo foram observadas poucas espécies de abelhas visitantes florais em
relação a outros estudos localizados em ecossistemas próximos a fragmentos florestais.
Vilhena & Augusto (2007) realizaram um trabalho em Uberlândia-MG, próximo a
vegetação nativa e encontraram 25 espécies de abelhas na aceroleira, sendo 21 espécies
polinizadoras efetivas dessa espécie frutífera. Acredita-se que esse fato pode estar
associado ao ambiente onde estas plantas estão inseridas e também pelos recursos florais
oferecidos aos visitantes, principalmente óleos florais e pólen. Acreditamos que no
ecossistema urbano, por se tratar de ambiente extremamente degradado pelo homem, com
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ruídos intensos, trânsito acentuado e pouca oferta de recursos florais oferecido, possa estar
relacionado com a pouca ocorrência desses insetos visitantes da aceroleira.
Conclusão
Observamos com esse estudo, que dentre as espécies de insetos observados e coletados no
centro urbano de Colatina, destacamos as abelhas solitárias Centris, que enquanto
visitantes florais, devido ao seu forrageamento e a freqüência constante nas flores para
coleta do óleo floral e pólen oferecidos pela aceroleira, são considerados os potenciais
polinizadores dessa espécie frutífera nos centros urbanos.
Acreditamos que este estudo possa fornecer subsídios para pesquisas mais detalhadas sobre
a polinização, frutificação e a entomofauna visitante da aceroleira em ecossistemas críticos
como é o caso dos centros urbanos, pois atualmente observamos que é cada vez mais
crescente encontrar espécies vegetais frutíferas em quintais de centros urbanos; observa-se
também que é extremamente importante a preservação da vegetação nativa, principalmente
a mata ciliar do Rio Doce no entorno da cidade, que contribui para o aumento de insetos
polinizadores das plantas encontradas nos quintais, que além de representar uma opção de
manejo ecológico, beleza cênica e educação ambiental nas cidades, contribui também para
a preservação da biodiversidade.
Literatura Citada
Freitas, B. M.; Alves, J. E.; Brandão, G. F. & Araújo, Z. B. 1999. Pollination requirements
of West Indian cherry (Malpighia emarginata) and its putative pollinators, Centris
bees, in NE Brazil. Journal of Agricultural Science. Cambridge. v. 133, p. 303-311.
Gonzaga Neto, L. & Soares, J. M. 1994. Acerola para exportação: Aspéctos técnicos da
produção. Brasília-DF, Embrapa – SPI, 43p.
Joly, A. B. 1977. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. São Paulo: Companhia Editora
Nacional. 4ª ed, p.413.
Simão, S. 1971. Cereja das Antilhas. In: Simão, S. Manual de Fruticultura. São Paulo-SP,
Ed. Agronômica Ceres.
Vilhena, A. M. G. F. & Augusto, S. C. 2007. Polinizadores da aceroleira Malpighia
emarginata DC (Malpighiaceae) em área de cerrado no triângulo mineiro.
Bioscience Journal, Uberlândia, v. 23, Supplement 1, p. 14-23.
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